Lista de filmes 2000

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FILMES 2000 MONTEIRO JÚNIOR Péssimo * Fraco * * Bom * * * Ótimo * * * * Excelente * * * * * 1 - A PREMONIÇÃO * - In Dreams - 98 min - dir. Neil Jordan - 1999 - Suspense - No Cinema Vez por outra, um grande diretor nos decepciona com um filme inteiramente descartável. Mas quem poderia imaginar que viesse uma bomba doméstica do conceituado diretor de Entrevista com o Vampiro? É, “seu” Jordan, o senhor errou feio ao decidir narrar de maneira altamente delirante a história de Claire, uma mulher atormentada por estranhas visões, que de repente descobre estar mentalmente ligada a um terrível psicopata. O roteiro muito mal estruturado nos leva a uma peregrinação pelas visões da personagem, que sempre tem ligação com o enredo, e suas conseqüências com a realidade. Uma história tão malfeita que chega a ser besta e previsível, sem nenhuma reviravolta empolgante e nenhum pingo de consistência. Nos sentimos impotentes diante dos acontecimentos, pois sabemos o que vai acontecer logo em seguida e nada podemos fazer; nem nada muda: do mesmo jeitinho que as visões de Claire nos são mostradas, acontece. Dessa forma, ficamos sabemos o final bem antes. Os atores são outra tragédia, parecem que vão rir nas melhores cenas. O filme conta ainda com o maluco beleza Robert Downey Jr, Aidan Quinn e Stephen Rea, como o psiquiatra com cara de peixe morto. Bem, “seu” Jordan, vá conversar com os vampiros. O senhor se dá melhor com eles. 2 - JOANA D’ARC * * * - Idem/The Messenger: TheHistoryofJoanofArc - 141 min - dir. Luc Besson - 1999 - Drama - No Cinema A modelo Milla Jovovich ficou bem conhecida depois de interpretar o Quinto Elemento no filme de mesmo nome. Luc Besson gostou da moça e entre outras coisas a escalou de imediato para seu último filme: a famosa história da camponesa que corta os cabelos como um homem para liderar o exército francês contra a dominação inglesa. Com mais detalhes, Joana passa a infância recebendo mensagens de Deus para livrar a França da Inglaterra. O delfim (John Malkovich, convincente) acredita na moça e financia um grande exército para que ela se mande para Orleans, território francês disputado com o inimigo. Vencida a batalha, com muito drama e sacrifício, o rei é coroado e em seguida trai Joana, vendendo-a para os ingleses. Lá, ela é julgada por heresia e termina queimada em uma fogueira. Isso todo mundo já conhece. A visão de Besson dá margem a várias interpretações, muito surrealismo, sangue e lágrimas. É uma versão muito pessoal da trágica heroína francesa, portanto pode não agradar muita gente, uma vez que Deus (ou a própria consciência de Joana para os céticos), interpretado por Dustin Hoffman, nos corrompe contrariando toda a história, e faz de Joana uma mulher

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confusa e até mesmo egoísta. O filme tem cara de épico, uma estupenda fotografia e grandes cenas de batalha, mas não chega a ser um, talvez pelo fato de sua tamanha pessoalidade na terceira e última parte. O que fica é uma boa diversão histórica, visual e emocional. 3 - CRIME VERDADEIRO * * - True Crime - 128 min - dir. Clint Eastwood - 1999 - Drama Clint Eastwood parece estar mesmo velho, pois seus últimos filmes têm sido uma decadência. Como diretor até que leva jeito; o problema são os roteiros que tem escolhido. Aqui ele faz um jornalista mulherengo que, depois que acontece um terrível acidente de carro, fica encarregado de entrevistar um homem no corredor da morte. Até aí tudo bem. É quando ele tem um palpite: o cara é inocente. No mesmo dia, ele descobre coisas que ninguém sacou durante seis anos. É mole? O filme dá mais espaço para os dramas pessoais do que para a própria história, o que prejudica enormemente a diversão, e o que o personagem descobre é tão óbvio que não cola. O faro do jornalista pode estar bem afiado, mas o do diretor não. 4 - BEM AMADA * * * - Beloved - 171 min - dir. Jonathan Demme - 1998 - Drama Uma casa assombrada pelo espírito de um bebê morto; uma mulher atormentada por um passado doloroso, até o dia em que chega uma jovem moça chamada Beloved para atenuar ainda mais conflitos não-enterrados pelo tempo. Um roteiro esticado e personagens complexos, num filme denso, do diretor de O Silêncio dos Inocentes. A direção segura de Demme nos conduz à história de uma família marcada pela crueldade de sua época, tendo como pano de fundo o sobrenatural. Atuações primordiais num elenco encabeçado por Oprah Winfrey e Danny Glover. Por vezes chocante, chegamos a conclusão de que o passado realmente não morre. 5 - O ÓDIO * * * * - La Haine - 95 min - dir. Mathieu Kassovitz - 1995 - PeB - Drama Num bairro de Paris marcado pela violência, rapaz encontra uma arma perdida e resolve se vingar, matando um tira, caso o amigo, em coma depois de uma ofensiva policial na noite anterior, morra. Interessante filme europeu sobre o caminho do ódio e suas terríveis conseqüências. Há, claro, o personagem pacifista, metáforas sobre o assunto  por sinal, bem boladas  e um final imprevisível e impactante. Obrigatório para fãs do cinema independente europeu.

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6 - TEMPESTADE DO SÉCULO * * * - Stephen King’s Storm of the Century - 266 min - dir. Graig R. Baxley - 1999 - Terror O cenário é perfeito para Stephen King narrar sua história de terror: na pequena ilha Little Tall os moradores estão prestes a encarar uma terrível tempestade, o que pode ser um bom motivo para pânico  mesmo com um abrigo contra a chuva que cabe umas trezentas pessoas. É mesmo? Claro que não. O verdadeiro medo surge com a chegada de um estranho forasteiro, quando começam a acontecer estranhas mortes entre seus poucos habitantes. “Dêem o que eu quero e eu irei embora”, essa é frase com que temos de conviver durante mais de quatro horas de filme, num ritmo ágil que por vezes enrola mais do que o necessário. É bom ter na cabeça para não se decepcionar: o fim deixa um certo rancor. Mas tudo bem. Em se tratando de Stephen King pode ter certeza que ele não nos deixa na mão. Afinal, sustos e muito suspense durante quatro horas não é para qualquer um. 7 - O REI DA ÁGUA * * * - The Waterboy - 89 min - dir. Frank Coraci - 1998 - Comédia Adam Sandler é o Waterboy - ou Garoto da Água - idiota que da noite para o dia vira mania do futebol americano. Filho de uma mãe repressora, interpretada por uma inspiradíssima Kathy Bates, seu estrondoso sucesso se dá por suas explosões emocionais na hora certa. Roteiro leve e besta, que acaba se tornando uma diversão de muitas risadas. O tipo de filme que é bom enquanto dura, porém fácil de se esquecer. 8 - ROMANCE * * * - Romance X - 95 min - dir. Catherine Breillat - 1998 - Drama Professora insatisfeita com a negação de fogo do marido se dispõe a traí-lo para encontrar o prazer que está faltando. Porém, o amor por ele a persegue. Mesmo que esta síntese não seja tão interessante, vale a pena dar uma espiada nesta densa história sobre uma mulher confusa a procura de si mesma, tentando se conciliar com seu corpo. A intimidade das cenas torna o filme um tanto erótico - o sexo é realmente explícito mas de uma naturalidade tão natural e bem encenada que nem de longe é nojento. A narrativa lenta dá espaço para reflexões muito íntimas e nos faz explorar bem de perto os mistérios da sedução e do prazer.

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9 - STIGMATA * * * - Idem - 103 min - dir. Rupert Wainwright- 1999 - Suspense - No Cinema Tudo começa com uma estátua que chora sangue numa cidadezinha no Brasil - isso mesmo! - chamada Belo Quinto. Em seguida vamos a Nova York, onde a cabeleira Frankie Page (Patricia Arquette) começa a apresentar stigmas - as chagas de Jesus Cristo crucificado - pelo corpo. Gabriel Byrne é o padre-cientista do Vaticano encarregado de estudar o fenômeno e que irá se deparar com o inesperado. Um visual perfeito para um roteiro bem estruturado segue à risca os clichês do gênero. Há cenas que lembram muito, até demais, clássicos como O Exorcista, embora se tenha certeza de que o diretor deve ter vindo do mundo dos videoclipes. O filme chega a ousar ao questionar o abuso autoritário da Igreja Católica, com um novo Evangelho escrito por Jesus que a Igreja não mede esforços para mantê-lo em segredo, mas não vai muito longe. Ainda temos a boa atuação do veterano Jonathan Price como um inescrupuloso arcebispo do Vaticano. 10 - A TRAPAÇA * * * * - The Spanish Prisoner - 112 min - dir. David Mamet - 1998 - Suspense “O Prisioneiro Espanhol”, é como assina originalmente David Mamet, o mago hollywoodiano das tramas morais intricadas. Joe Ross (Campbell Scott) teve uma idéia brilhante e está prestes a fechar um acordo milionário com a empresa onde trabalha e, quem sabe, subir na vida. Quando ele conhece o misterioso Jimmy Dell (Steven Martin, quem diria!), entretanto, passa a suspeitar que querem lhe passar a perna e acaba se vendo num perigoso jogo de assassinato e desconfiança. Assim como o personagem, suspeitamos de cada pessoa que desfila pela tela, num roteiro engenhoso e que não poupa reviravoltas. Um suspense de primeira, em que devemos ter bastante atenção nos detalhes - um desvio de olhar pode ser letal para o entendimento da história. Quem não quiser usar a cabeça, vá atrás de um filme descartável, como Lenda Urbana, só para citar um exemplo. Existem outros, claro. Muitos. 11 - A HISTÓRIA DE NÓS DOIS * * * - The Story of Us - 94 min - dir. Rob Reiner - 1999 - Comédia Romântica - No Cinema Katie e Ben estão passando por um período difícil. O casamento não é mais o mesmo: brigas constantes - e por besteiras -, desconfiança... Chega a um certo ponto em que, com os filhos num acampamento distante e cada um em seu próprio canto de solidão, repassam toda a sua história, seus altos e baixos, para decidirem o rumo de suas vidas. E tudo só indica uma solução: o divórcio. Rob Reiner (que também atua) volta ao estilo Harry e Sally e, mesmo não se igualando a este, consegue divertir com a divergência dos protagonistas. Tá na cara que eles se amam, mas só vêem os defeitos um do outro e não as qualidades. As interpretações exageradas de Bruce Willis (que já havia

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trabalhado com o diretor em O Anjo da Guarda) e Michelle Pfeiffer atenuam ainda mais a infantilidade de seus personagens numa dose até que aceitável e convincente. O filme tem um roteiro bestinha mas até sensível, como a seqüência em que toda a vida do casal é nos apresentada em cenas alternantes com um linda música de fundo. Tem um gosto de mel e é fácil de se assistir, mas pena que dure pouco. 12 - O GRANDE LEBOWSKI * * * * - The Big Lebowski - 117 min - dir. Joel Coen - 1998 - Comédia O filme começa com o narrador da história tentando introduzir o personagem principal e acabando por perder o fio da meada. Só por isso já dar para se ter uma noção da loucura que estar por vir. Jeff Bridges é o Dude, um doidão ativo na maconha e viciado no boliche. Seu verdadeiro nome é Jeff Lebowski, e, apesar de estranho, nada tem demais até que ele é confundido com outro Jeff Lebowski: os caras invadem sua casa e cobram a dívida extraída por sua mulher, Bunny. Só que Dude nem mulher tem e, além de meterem sua cabeça na privada, mijam no seu precioso tapete. Injuriado, descobre que seu xará é um milionário e vai até a mansão do homem tirar algumas satisfações e, aproveitando o embalo, pedir uma indenização para o tapete, que “dava sentido à sala”. Os irmãos Coen poderiam muito bem ter ido por outro caminho, mais convencional; em vez disso, meteram o personagem na maior das confusões quando Bunny - a mulher do grande Lebowski - é seqüestrada e Dude fica encarregado de “fazer a troca”: entregar o dinheiro e receber a garota. Não é bem isso o que acontece, e a verdadeira confusão ainda nem começou. Os diálogos e as situações irônicas (marca dos autores) estão bem afiadas. Esta nova loucura de Ethan e Joel pode não se igualar à sua obra maior, Fargo, mas a diversão com o devastador humor negro deles é mais que garantida. Uma trama enrolada até o pescoço que não poupa o expectador a mais de uma cena memorável. Assim como seus outros filmes, tudo gira em torno do “imprevisível cômico”. Aqui nada é realmente levado a sério e os atores estão perfeitos. Há também, para dar o clima, personagens caricatos, como Walter, o paranóico veterano do Vietnã interpretado por John Goodman, pois no final tudo não passa de uma comédia, e das grandes. 13 - ASSASSINOS POR NATUREZA * * * - Natural Born Killers - 119 min - dir. Oliver Stone - 1994 - Aventura Um dos filmes mais violentos já concebidos em Hollywood. Um pivô para rebeldia, crimes e muitos processos contra seu polêmico realizador, Oliver Stone. Mickey e Mallory Knox é um casal nada comum: depois que Mickey mata os pais dela, os dois partem para uma eterna fuga pelas estradas americanas, deixando um rastro de atrocidades que expande sua fama a cada dia. Um obcecado tira consegue prendê-los. Um ano na prisão, várias mortes e um diretor enlouquecido. Robert Downey Jr é o inescrupuloso repórter Wayne Gale, que leva a cabo a idéia de fazer um programa de TV ao vivo com Mickey, tornando-os superstars. O diretor estava bem inspirado quando pegou a história originalmente escrita por Quentim Tarantino e fez uma direção altamente alucinada e surreal, alternando colorido e preto e branco, dando à violência, já no ex-

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tremo do chocante, um impacto ainda maior. Há uma lista enorme de pessoas que não podem assistir a este louco espetáculo. Assassinos por Natureza é subversivo, instigante e revoltante, mas é uma tremenda comédia. Uma violência tão exagerada que chega a ser cômica, embora nos faça ficar arrependidos por esse sentimento. Uma boa dica para a análise de como surgem os psicopatas. É, entretanto, uma forte crítica à própria violência mostrada, à maneira como a mídia e o cinema transformam tudo em um grande show de audiência. Não haveria uma maneira menos radical de se falar disso? 14 - BARRADOS NO SHOPPING * * * - Mallrats - 94 min - dir. Kevin Smith - 1995 - Comédia Dois amigos levam o fora de suas respectivas namoradas e resolvem matar a mágoa perambulando por um shopping center, um lugar muito convencional para esse tipo de coisa. Entre encontro e desencontros, contracenam com famosos, como Stan Lee, criador dos X-Men, e figuras hilárias, como a irreverente dupla Jay e Silent Bob. Kevin Smith já provou que sabe o que faz em Procura-se Amy. Aqui ele faz uma divertida brincadeira com o mundo dos quadrinhos, coisa que parece dominar, e aproveita para homenagear Star Wars com o personagem de Silent Bob (ele mesmo), que acredita possuir o poder mental dos Jedi. Inteligente e às vezes sarcástico, uma diversão pra maiores. 15 - COM 007 SÓ SE VIVE DUAS VEZES * * * - You Live Only Twice - 114 min - dir. Lewis Gilbert - 1967 - Aventura Dado como morto, o agente 007 vai ao Japão investigar o misterioso desaparecimento de um foguete americano antes que comece uma guerra entre a Rússia e os Estados Unidos. James Bond está aqui com seu melhor intérprete, Sean Connery, numa trama bem bolada que honra a tradição desse mulherengo espião inglês. O filme se concentra mais nas conquistas infinitas dele - perdermos a conta de quantos beijos ele dar - no que em apimentar ainda mais a história com bastante reviravoltas. No entanto, é uma grande aventura, mais que agradável para os menos exigentes. 16 - A VIDA DE BRIAN * * * * - Monty Python’s Life of Brian - 93 min - dir. Terry Jones - 1979 - Comédia Dogma, o novo filme de Kevin Smith, causou escândalo entre os católicos ultraconservadores antes mesmo de ser lançado nos EUA. Imagine o que este A Vida de Brian não provocou há mais de vinte anos atrás. O excêntrico grupo Monty Python foi ao cúmulo do sarcasmo contra a religião ao contar a história de Brian de Nazaré, nascido no mesmo dia que Jesus Cristo num estábulo vizinho, que, contra a sua vontade, acaba sendo confundido com o Messias. A Última Tentação de Cristo, do polêmico Martin Scorsese, é fichinha se comparado ao primoroso, e ateu, roteiro deste Brian, onde nada é levado a sério e tudo é motivo para piada, principalmente religiosa. O Pilatos aqui, para se ter uma idéia da loucura, é um sujeito que é motivo de deboche por não saber

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pronunciar a letra “r”. Engraçado de morrer de rir, é um programa mais que ousado, e para poucas pessoas. 17 - O PADRE * * * - Priest - 97 min - dir. Antonia Bird - 1994 - Drama Polêmico filme sobre um jovem padre atormentado às voltas com seu homossexualismo e com as horroridades de um mundo cada vez mais decadente. É a igreja criticando a própria igreja. Cenas e diálogos fortes, que causaram furor em muita gente. Não é um filme fácil de assistir, sendo muitas vezes revoltante, que ganha ponto na incrível competência dos atores. Tudo aqui é discutido, colocando em divã vários tabus sagrados que literalmente são quebrados ao meio. Robert Carlyle (Ou Tudo Ou Nada e O Mundo Não é o Bastante) marca forte presença como o amante do padre. Ousado, muito ousado. 18 - A CONVERSAÇÃO * * * * - The Conversation - 113 min - dir. Francis Ford Coppola - 1974 - Drama Brilhante trama moral que gira em torno de Harry Caul, um expert em grampear conversas, que entra num dilema pessoal ao ver que pode comprometer a vida de dois jovens espionados. Ele se recusa a entregar a fita com a suposta conversa dos dois ao contratante, prevendo que isso poderá resultar em assassinato. Francis Ford Coppola cria um clima tenso do início ao fim, mas não faz seu primoroso roteiro virar um thriller, o erro da maioria dos diretores. É mais um estudo sobre paranóia e loucura, e chega a questionar a própria espionagem, através da grande interpretação de Gene Hackman. Há ainda a fria atuação de Harrison Ford e uma pequena participação de Robert Duvall. O final é surpreendente. 19 - HELLRAISER - A HERANÇA MALDITA * - Hellraiser - Bloodline - dir. Alan Smithee - 1996 - Terror O personagem-título aparece para acertar as contas com o último descendente de um inventor que criou uma maldita caxinha que abre as portas do inferno. Agora, junto com a Princesa do Inferno, ele quer que todas as portas sejam abertas para sempre. Terror com uma produção regular, mas sem um pingo de criatividade. Pinhead - ou Cabeça de Prego - demora a aparecer, e é dele que sai os clichês mais óbvios já vistos em um filme do gênero. Enfim, um programa totalmente dispensável e não-recomendável.

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20 - PRISIONEIROS DA PAIXÃO * * - Talk of Angels - 96 min - dir. Nick Hamm - 1998 - Drama Jovem irlandesa vai a Espanha ser governanta em uma casa, um pouco antes do início da Guerra Civil Espanhola. Acaba se apaixonando pelo filho casado do patrão e despertando o amor de uma outra mulher. A produção é caprichada e os atores convencem. Poderia ser um bom filme se o roteiro fosse menos superficial e os amores menos platônicos. O que fica são personagens que parecem não gostar de seguir seus instintos, tornando-os maduros (ou inseguros) até demais. A história termina e ficamos com gosto de nada. 21 - O OUTRO LADO DA NOBREZA * * * * - Restoration - 113 min - dir. Michael Hoffman - 1995 - Drama Robert Downey Jr é Robert Merivel, um jovem médico que depois de curar Lulu, a cadela do rei Charles II, passa a ser médico permanente da corte, tendo uma vida de luxo e prazeres. Depois de adquirir total confiança em Merivel, o rei o obriga a casar-se com sua amante, lady Celia. É apenas uma jogada estratégia para continuarem se vendo, só que acontece a única coisa que o médico não podia: ele se apaixona por lady Celia. Merivel perde tudo e vai enfrentar o período mais duro de sua vida. Esta é a história de um homem em busca de si mesmo - como tantas outras -, mas contada a partir de um roteiro muito interessante e aproveitador de fatos históricos, no caso aqui o Renascimento. Os conflitos do médico são acirrados pela peste que está assolando a região, atenuando ainda mais seu reencontro, sua saída das trevas para a luz. Os atores estão perfeitos, principalmente Sam Neill e Ian Mckellen. Meg Ryan é outra grande surpresa do filme, que conta ainda com as participações de David Thewlis e Hugh Grant. Vencedor dos Oscars de Melhor Figurino e Melhor Direção de Arte. Indispensável e imperdível. 22 - CASTELO RÁ-TIM-BUM - O FILME * * * - Idem - 108 min - dir. Cao Hamburger - 1999 - Infantil - No Cinema Uma das produções brasileiras mais bem aproveitadas com um orçamento alto para nossos padrões. Castelo Rá-Tim-Bum - o Filme parece um material importado, mas não é. Foi feito aqui mesmo. A paz do castelo e seus habitantes, Morgana (Rosi Campos), dr. Victor (Sérgio Mamberti), o pequeno Nino (o excelente Diegho Kozievitch) e outras memoráveis criaturas, é ameaçada com a chegada da bruxa Losângela (Marieta Severo), banida há mil anos do Conselho Universal dos Bruxos. Prestes a acontecer um alinhamento entre os planetas do sistema solar, ela rouba o livro de magia de Morgana com a ajuda de dois idiotas (Pascoal da Conceição e Matheus Nachtergaele) que querem tomar o castelo de seus donos. Salvar a todos fica a cargo de Nino e seus novos amigos. O diretor faz uma direção bastante ágil e segura, com um bom aproveitamento de atores e imagens. É muito diferente da série de TV, uma vez que

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aqueles cenários televisivos dão lugar a um castelo de verdade e um clima bastante sombrio, com efeitos especiais caprichados. A marcha original também foi alterada, mas o filme não foge de ser uma diversão alegre e educativa. Será a nova cara do cinema nacional começando a aparecer? 23 - ANNA E O REI * * * - Anna and the King - 140 min - dir. Andy Tennant - 1999 - Aventura - No Cinema Jodie Foster é a professora inglesa que vai ao Sião educar os filhos do rei. Viúva e com um filho para criar, ela encontrará sessenta e oito alunos, uma cultura totalmente diferente e um rei tirano e conservador, que está passando por uma terrível crise. A professora ousa desrespeitar a autoridade de Vossa Majestade para modernizar o país, ao mesmo tempo em que o deixa encantado. Um romance os espera? A resposta? Só mesmo assistindo a esta produção luxuosa com uma história já contada várias vezes, até mesmo em desenho animado, baseada no musical O Rei e Eu. O diretor Tennant (E Agora, meu Amor? e Para Sempre Cinderela) pegou a mesma premissa de seu último filme - recontar histórias clássicas ao seu modo e com um pouco de humor - e quase escorregou na casca da banana. Além de esticado, parece tudo um tanto superficial, até mesmo pelos modos sianeses de antigamente. Entretanto, apesar de uma cena extremamente revoltante e desnecessária, a diversão se garante com a boa atuação de Foster e uma trama de traição. No entanto, Chow Yun-Fat (ator de filmes de ação) é quem se destaca como o rei. 24 - VÍRUS * * - Virus - 99 min - dir. John Bruno - 1999 - Ficção - No Cinema Nós somos o vírus do universo. É esse o ponto de partida dessa história sem pé nem cabeça. A embarcação liderada por Donald Sutherland e Jamie Lee Curtis intercepta um navio russo abandonado, antes usado para se comunicar com o satélite Mir, e resolvem investigar o seu conteúdo já na ganância de tomar o navio e faturar milhões. Quando os computadores começam a agir sozinhos, percebem que há alguém - ou algo - no lugar além deles. Uma nuvem cósmica toma conta do navio, disposta a criar uma raça robótica e destruir o homem? Que diabos de filme é esse? Mesmo com efeitos especiais de primeira, muitos sustos (um a cada dez minutos) e alguns astros no elenco, como William Baldwin, de Atração Explosiva, não chega a ser uma boa diversão, graças a um roteiro absurdo e sem nexo. Os produtores de T2 quebraram a cara com essa sessão de clichês contínuos. O diretor até que é competente, mas às vezes parece perdido no próprio navio. Muita das cenas, principalmente a absurda seqüência final, são dignas de várias risadas. Assim não dá mais para confiar no cinema de Hollywood. Não mesmo.

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25 - VESTIDA PARA MATAR * * * - Dressed to Kill - 105 min - dir. Brian De Palma - 1980 - Suspense Katie Miller é uma mulher sexualmente frustrada com o casamento. Depois de ser rejeitada por seu psiquiatra (Michael Caine), ela escolhe o primeiro cara que vê para se satisfazer de verdade. Até aí ficamos duvidando do filme e de seu diretor, pois a história parece se definir em torno de alguém em busca de aventuras sexuais. Mas o diretor em questão é discípulo direto do Mestre do Suspense. É claro que algo está faltando. Após uma tarde inteira de prazer, Katie entra em pânico ao descobrir que seu parceiro desconhecido - não há um diálogo sequer entre os dois - havia contraído uma doença venérea e que ela podia estar contaminada. Porém, aos trinta minutos de filme, ela é literalmente arremessada para fora da trama quando uma misteriosa mulher a mata com uma navalha. Já viram essa história antes? Provavelmente com uma sutileza maior e um sangue chocolate. Honrando a melhor tradição hitchcockiana e criando seu próprio estilo, De Palma fez um intrigante suspense, muito bem estruturado, cheio de cenas memoráveis e (quase) imprevisíveis e alguns sustos genuínos. A câmera do diretor nos deixa totalmente vulneráveis aos conflitos dos personagens e somos facilmente enganados por uma diretriz rápida e segura. Sem mais rodeios, é uma senhora homenagem ao mestre Hitch, em particular Psicose. Um filme único, tenso e complexo, entretanto, não mais criativo que sua fonte de inspiração. 26 - O COLECIONADOR DE OSSOS * * * - The Bone Collector - 118 min - dir. Phillip Noyce - 1999 - Suspense - No Cinema Eficiente thriller que segue à risca a fórmula de “caça a serial killer”, tema já usado, abusado e estragado pelo cinema norte-americano, com uma pequena diferença (talvez nem tanta. Está lembrado de Copycat?): o protagonista vivido por Denzel Washington não sai da cama. Ele é Lincoln Rhyme, um perito criminal brilhante com doze livros no currículo paralisado depois de um grave acidente que, junto com Amelia (a bela e talentosa Angelina Jolie), irá “correr” - quem corre é a moça, sempre conectada com Rhyme - atrás de um perigoso assassino que anda à solta pelas ruas de Manhattan e sempre deixa estranhas pistas no local do crime. A direção segura de Phillip Noyce (Perigo Real e Imediato) tenta esconder as falhas do roteiro e garante uma boa diversão. A história demora para se organizar e tomar um rumo concreto. O clímax final não empolga e termina parecendo óbvio ou besta demais. Enfim, é mais um enredo sobre um psicopata louco para ser pego pela polícia, e se a intenção era deixar o filme ao lado de clássicos do gênero, como Seven e O Silêncio dos Inocentes, então o resultado foi mais que desastroso. Dá para curtir bem o suspense, se não se importar muito com a profunda superficialidade dos personagens mal-estruturados e inacabados. Referências? Só se for o novo estilo de fazer sexo: com os dedos.

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27 - PELA VIDA DE UM AMIGO * * * - Return to Paradise - 112 min - dir. Joseph Ruben - 1998 - Drama Três amigos vivem tudo o que tem para viver numas inesquecíveis férias na Malásia: mulheres, confusões e muita droga. Terminada a curtição, todos voltam para suas vidas normais. Entretanto, dois anos depois, dois que moram em Nova York se reencontram ao saber que o terceiro está preso na Malásia por porte de haxixe (encontraram 140 g com ele) desde aquela época. A situação é delicada: uma pessoa com mais de 100 g de haxixe é considerada um traficante, de acordo com as leis de lá, tendo com pena a morte. A única solução é os dois amigos voltarem e assumirem parte da droga, assim a pena é reduzida e cada um pega de três a seis anos de cadeia. Obs: eles têm apenas uma semana para decidirem largar tudo e voltar antes do cara ser enforcado. Este filme consegue a proeza de não virar um melodrama, graças ao bom elenco, a direção segura de Ruben, que em nenhum momento deixa a peteca cair, e a um roteiro bem arquitetado e equilibrado emocionalmente. Anne Heche (junta novamente com Vince Vaughn, seu algoz na recriação de Psicose) faz a advogada que tenta por todos os meios convencer os rapazes a salvar a vida do amigo. Recomendável. 28 - O CORRUPTOR * * * - The Corruptor - 110 min - dir. James Foley - 1999 - Ação O astro de Boogie Nights, Mark Wahlberg, faz um jovem policial idealista que se junta ao tenente vivido por Chow Yun-Fat para combater o crime organizado em Chinatown, ao mesmo tempo em que passa a conviver com a corrupção dentro da própria polícia. Bons atores secundários e um roteiro de clichês garantem a sessão explosiva. A visão alucinada de Foley (O Segredo) nos coloca dentro da ação, mas mesmo assim não inova em nada. Um filme como qualquer outro do gênero, com muitas explosões e tiroteios e uma trama bem montada. O final peca por deixar ao léu questões que mereciam um bom fechamento emocional. 29 - O HOMEM BICENTENÁRIO * * * - Bicentennial Man - 131 min - dir. Chris Columbs - 1999 - Ficção - No Cinema Da última vez que o diretor Chris Columbs trabalhou com Robin Williams, o fez se maquiar como uma velha setentona em Uma Babá Quase Perfeita. Dessa vez a coisa foi um pouco mais exagerada: ele se transforma em um robô doméstico. Baseado em um famoso livro, do escritor Isaac Asimov, acompanhamos a jornada de duzentos anos de Andrew, um simpático robô que logo vai demonstrando ser especial e possuir características humanas, para se tornar um homem. E é uma longa jornada pelas evoluções da vida, num futuro já muito batido, mas que não deixa de ser fascinante, até o impossível romance entre o robô e a neta da filha caçula de seu patrão, Richard (Sam Neil), o qual quando velho concede-lhe a liberdade. Uma bonita fábula sobre uma máquina que deseja ser gente e sentir as mais simples sensações e prazeres que às vezes não nos damos

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conta da importância de senti-los, com um grande visual e um elenco da ponta da orelha. No entanto, quem se destaca mesmo é Williams, perfeito como o obcecado Andrew, principalmente na primeira parte do filme, em que parece realmente um robô sentimental. Daí por diante, é um verdadeiro show de interpretação, compondo um personagem bastante vivido mas ingênuo, ocultando as diversas falhas do roteiro. Segundo o filme, ainda se farão piadas sobre o Titanic daqui a séculos. Bem, depois de ver a vida de um homem de duzentos, vemos o quantos devemos aproveitar nosso “pequeno” tempo como simples mortais. 30 - VIVENDO NO LIMITE * * * - Bringing Out the Dead - 120 min - dir. Martin Scorsese - 1999 - Drama - No Cinema Nicholas Cage é um paramédico de emergência cuja rotina noturna acompanhamos durante três dias pelas ruas de Nova York no início da década de 90. Estressado por nunca mais ter salvo ninguém, passa a ver o rosto de uma garota de 18 anos que morreu em seus braços em cada pessoa que perambula pelas calçadas, ao mesmo tempo em que se apaixona pela filha de um senhor à beira da morte (Patricia Arquette). O diretor Scorsese mostra que tem fôlego de sobra e dirige o roteiro do seu velho amigo Paul Schrader de maneira um tanto atípica e delirante. É um filme não muito convencional; no mínimo é interessante, mas não chega a ser surpreendente, uma vez que não possui um enredo específico. Cage brilha em seu personagem - um homem à beira da paranóia numa realidade pra lá de alucinada - e tem como companheiros John Goodman, Ving Rhames e Tom Sizemore. Martin Scorsese já fez melhor, mas tudo bem. Ninguém é perfeito, não é mesmo? 31 - NÓ NA GARGANTA * * * - The Butcher Boy - 109 min - dir. Neil Jordan - 1997 - Drama Neil Jordan volta à Irlanda, sua terra natal, para narrar as desventuras de Francie Brady, um excêntrico garoto de onze anos com uma pedra no sapato: a megera vizinha. Francie não perde uma boa oportunidade para aprontar e vive se metendo nas situações mais inusitadas. Motivo para isso ele tem de sobra: uma família desestruturada. O pai, um músico decadente, é um alcoólatra e a mãe vive entre a casa e hospitais psiquiátricos e termina por cometer suicídio. Depois de ir parar num reformatório e receber aparições da Virgem Maria, Francie cometerá muita loucura para dar a volta por cima, num mundo sem linha divisória entre realidade e fantasia. Grandes interpretações, como a de Stephen Rea como o pai, numa filme que tem tudo de louco e chega a ser subversivo, mas que diverte à beça. Eamonn Owens é Francie e carrega a loucura nas costas com uma competência incrível. A tradução de Butcher Boy é açougueiro. Adivinhe por quê. Só mesmo vendo o filme para ver o que um menino um tanto adoidado é capaz de fazer.

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32 - A PRAIA * * - The Beach - 117 min - dir. Danny Boyle - 2000 - Aventura - No Cinema Leonardo DiCaprio, sumido desde Titanic e O Homem da Máscara de Ferro, encarna Richard, um jovem viajante em busca de emoções e novas aventuras. Em Bangcoc hospeda-se em um hotel de terceira e conhece Daffy (Robert Carlyle), um estranho homem que delira com um paraíso perfeito. Segundo ele, existe uma ilha secreta ainda intocada onde tudo o que se cultiva é o prazer. Antes de cortar os pulsos, Daffy deixa o mapa da suposta praia que mudou sua vida. Junto com um casal que havia acabado de conhecer, Richard parte para uma jornada em busca do desconhecido. A Praia é realmente o paraíso que procurava: logo na chegada dão de cara com uma imensa plantação de maconha; mas é do outro lado da ilha vive uma pequena comunidade em total harmonia com uma natureza virgem e primitiva. Em meio a uma sociedade caótica, aquele parece ser o lugar mais belo do mundo. Richard já não pensa em voltar e, mesmo cultivando um amor proibido, está em paz e se divertindo à beça. No entanto, o paraíso se transforma em inferno quando percebe-se que tudo o que importa mesmo é ocultar ao máximo a existência da ilha, mesmo que para isso mortes tenham que ocorrer. O diretor Danny Boyle parece ter sofrido da Síndrome de Hollywood. Seu primeiro filme, Cova Rasa, mostrava alguém disposto a inovar. O auge veio com Trainspotting Sem Limites, um filme realmente contundente e polêmico. Decaiu um pouco com Por Uma Vida Menos Ordinária, mas ainda assim manteve o pique artístico do melhor estilo do cinema independente. Só que pegou um astro e um roteiro um tanto interessante, talvez na tentativa de melhorar ou mudar sua concepção, e o resultado não teve o mesmo êxito de seus filmes anteriores. Isso leva a perceber que Boyle não tem cara de grande público. Seus projetos não levam jeito para produções encabeçadas por apenas um nome e muito aguardadas. Um orçamento baixo e atores não muito conhecidos podem resultar em filmes surpreendentes e brilhantes - os nomes acabaram de ser citados. Mas não botemos toda a culpa no diretor, afinal de contas, A Praia não é um fracasso total e sua direção está de primeira. DiCaprio demonstra o bom ator que é, apesar de sua cara de garoto na puberdade. Na verdade, estamos falando de um filme de aventura, mas que não vai de encontro com nenhuma “armadilha” do gênero. Esse é o aspecto inovador da fita. Trata-se de uma aventura pessoal, interna, de um personagem só. Uma experiência atípica que não reserva lugar para romantismo, heróis e vilões caricatos, e sim para desejo, traição, dor e abandono. Em alguns momentos, chega a ser uma crítica à sua própria concepção ao mostrar que a alegria não pode ser ameaçada (um dos habitantes do local, ferido por um tubarão e agonizando em dor, é levado para bem longe e largado no meio do mato só para que o resto possa continuar se divertindo). Quando Richard começa a enlouquecer sozinho na floresta, vemos que o diretor de Trainspotting está mesmo ali e disposto a nos levar para um final imprevisível e impactante. É aí que o roteiro peca: num desfecho quase decepcionante e fora de hora. E a conclusão? Por que os personagens são como são? Se A Praia mudou a vida de algum deles, isso não parece nítido na tela. A história termina de um modo muito convencional e fica aquela coisa no ar de que faltou algo: um fim. Porém, A Praia, o filme, nos traz grandes cenas, como a da cachoeira, do tubarão que fala e de Richard dentro de um videogame, o que valoriza muito o filme. Danny Boyle quase chegava lá. Tomara que ele

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retome suas raízes na Escócia e que essa “síndrome de astro no elenco” tenha sido apenas um resfriado. E dos leves. 33 - TRÊS REIS * * * * - Three Kings - 115 min - dir. David O. Russell - 1999 - Aventura - No Cinema O cenário é a Guerra do Golfo, vista sob um ângulo ousado, onde, dias após o presidente George Bush ter assinado o cessar-fogo, alguns soldados americanos da operação Tempestade do Deserto encontram um mapa escondido com um prisioneiro iraquiano. Logo se dão conta de que se trata da exata localização do bunker onde Saddam Hussein havia escondido todo o ouro roubado do Kuwait e a notícia logo se espalha. É aí que entra em ação o capitão Archie Gates, que dribla uma repórter oportunista e passa a liderar a tropa composta por Troy Barlow (Mark Wahlberg), Chief Elgin (Ice Cube) e Conrad Vig (Spike Jonze). Em pleno fim de conflito, os quatro soldados partem em uma verdadeira caça ao tesouro pelo território iraquiano com o lema: “Se Saddam roubou do Kuwait, então nós podemos roubar de Saddam”. O roteiro do próprio diretor nos faz penetrar nos problemas da guerra em busca de uma coisa teoricamente absurda, mas praticamente aceitável e pra lá de genial, fazendo desse “o filme de guerra mais original de todos os tempos”. Clichês críticos a parte, Três Reis é sem dúvida o filme que estava faltando no gênero, ressuscitando até sua conterrânea - a sátira política. No melhor estilo de um cinema independente de luxo, a câmera afiada de Russell não se perde e nem pára de se movimentar, é ação pura. George Clooney está mais que perfeito na pele do cínico capitão, mostrando o ator versátil, e astro, que ele é. E a história não dá trégua a ninguém, cada segundo e cada bala não são à toa, e a cada nova surpresa que nos é apresentada ficamos ainda mais empolgados para ir adiante. Isso tudo sem falar nas mais desconcertantes cenas de Três Reis, onde uma vaca explode bem na nossa cara e vemos uma bala atravessar internamente o corpo humano (cena essa que o diretor jurou ter feito com um cadáver de verdade e teve que desmentir logo em seguida), e isso é apenas o começo da fita. Nem um pouco original, hein? 34 - O PEQUENO STUART LITTLE * * * * - Stuart Little - 84 min - dir. Rob Minkoff - 1999 - Infantil - No Cinema Durante várias décadas, Mickey Mouse, personagem criado por Watt Disney, foi o rei dos camundongos. Parecia não haver nenhum páreo para ele, até que surge o pequeno Stuart, um ratinho totalmente computadorizado que imita gestos e feições humanas como alguém de verdade, ou seja, na tela ele é real. O ponto de partida do filme é o casal Little (Geena Davis e Hugh Laurie) se preparando para adotar uma criança e assim dar um irmãozinho para o pequeno George (Jonathan Lipnicki, o garotinho esperto de Jerry Maguire). Tudo parece normal, até que eles saem do orfanato com Stuart, numa atitude muito natural. A alegria do novo membro da família é reduzida quando ele conhece Snowbell, o gato da casa - que logo à primeira vista tenta comer o bichinho e é obrigado a cuspi-lo - e nota que George não vai nem um pouco com a sua cara (ou o seu

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focinho, talvez). Com uma força de vontade inspiradora, Stuart vai tentar se incorporar aos humanos, driblando as dificuldades que aparecem no seu caminho. Logo em sua primeira aparição, o ratinho já consegue conquistar todo o público com seu carisma transbordante. A perfeição nos detalhes, como pêlos, roupas - que ficam desengonçadas e amaçadas como em uma pessoal real -, torna Stuart um verdadeiro marco na animação gráfica. Nem precisaria uma grande história para garantir o sucesso do personagem, no entanto é o roteiro quem anda lado a lado com o ratinho. Adaptado da história de E. B. White, M. Night Shyamalan (diretor e roteirista de O Sexto Sentido), que coassina o roteiro, mostra que não entende apenas de fantasmas e mostra o seu lado infantil e sensível, dando ênfase à questão do preconceito, de como alguém diferente encara o mundo ao seu redor, mostrando o vazio interior que deve ser preenchido. A direção de Rob Minkoff (um dos diretores do belíssimo desenho O Rei Leão) nos coloca num ângulo a partir dos olhos de uma criança, para atenuar a consciente ingenuidade do enredo, e até mesmo a partir dos olhos de um pequeno animal. Tudo isso, acompanhados por um desenvolvimento inteligente - que em certo momento nos deixa empolgados - e grandes seqüências de tirar o fôlego, faz de O Pequeno Stuart Little uma diversão para todas as idades, um ligeiro momento para se esquecer de todos os problemas da vida real. Uma fábula que encanta e emociona, além da linda mensagem sobre o valor da amizade e da família que o filme ensina. 35 - A DAMA OCULTA * * * * - The Lady Vanishes - 93 min - dir. Alfred Hitchcock - 1938 - PeB - Suspense Verdadeira pérola do suspense hitchcockiano. Em plena viagem de trem para a Inglaterra, velha senhora desaparece misteriosamente, intrigando uma jovem inglesa que a acompanhava. O mistério está no fato de que nenhum passageiro parece tê-la visto entrar no trem; a moça, que havia recebido uma forte pancada na cabeça, pode apenas ter imaginado tudo. Só que os vestígios de uma conspiração dentro do próprio trem são muito visíveis. Hitchcock se mostra aqui em pleno domínio da trama, com uma direção precisa, sempre dando pistas para o expectador mas sem escorregar em sua própria armadilha. Grandes reviravoltas e seqüências geniais - a melhor é quando o protagonista fica pendurado fora do trem enquanto outro vem em sua direção -, sempre com diálogos carregados de humor, num filme de primeira, em que é o expectador quem brinca de Sherlock Homes. 36 - O SOL POR TESTEMUNHA * * * - Plein Soleil - 112 min - dir. René Clement - 1959 - Suspense Um expert em falsificar assinaturas e imitar vozes é enviado por um milionário até a Itália com a missão de trazer o seu filho, que curte a vida ao lado da belíssima namorada, de volta para os Estados Unidos. Porém, os dois acabam se tornando amigos. Tom Ripley - o falsificador - bola e executa o crime perfeito: matar o riquinho e assumir a sua identidade. Trama engenhosa, adaptada do romance de Patricia Highsmith, com grandes atuações, destacando-se Alain Delon como Ripley. A direção caprichada de Re-

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né Clement atenua de forma segura as seqüências de suspense. Um filme denso e empolgante, que sempre tem algum truque escondido na manga para a última hora, com personagens complexos que poderiam ter sido muito mais explorados. Possui um certo charme peculiar em relação ao romance entre os protagonistas e um final imprevisível e brilhante. Bem acima da média. 37 - MARNIE CONFISSÕES DE UMA LADRA * * * * - Marnie - 130 min - dir. Alfred Hitchcock - 1964 - Suspense São poucos os filmes que conseguem unir, sem se perder no meio, romance e suspense, e Marnie - Confissões de uma Ladra é um exemplo clássico disso. Sean Connery faz seu personagem típico - o charmoso encantador - que se apaixona por sua misteriosa secretária e resolve casar com ela depois que descobre que a mesma é uma ladra convulsiva. Sem o usual humor maneiro de seus filmes, Hitchcock compôs uma obra um tanto “pesada”, mas que carrega sua marca registrada. Ele soube de maneira brilhante fundir um clima romântico - não muito convencional, diga-se de passagem - com aquele suspense psicológico em torno da personagem-título, bem interpretada por Tippi Hedren, mãe de Melanie Griffith. Personagem essa que no decorrer da trama vai se mostrando cada vez mais complexa e traumatizada com o seu passado obscuro. Cativante do início ao fim, com um desfecho exorcizador. 38 - REGRAS DA VIDA * * * * - The Cider House Rules - 2 Oscars - 130 min - dir. Lasse Hallström - 1999 - Drama - No Cinema O diretor sueco Lasse Hallström (Gilbert Grape - Aprendiz de Sonhador) não teve nenhuma pressa ao filmar este comovente drama sobre a trajetória de Homer Wells (o talentoso Tobey Maguire), um órfão que, depois de ser devolvido por duas famílias, passa a viver no orfanato sob a tutela do dr. Larch (Michael Caine, vencedor ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante), que lhe ensina todos os ofícios da profissão, na esperança de que o garoto seja o seu substituto. Já crescido, e sendo um médico nato, porém, ao contrário de seu tutor, contra o aborto, Homer não parece satisfeito com a vida que o médico escolheu para ele e embarca em uma viagem rumo à ampliação de seus horizontes junto com o casal Wally (Paul Rudd) e Candy (a gata Charlize Theron). A história ganha contornos de drama romântico quando Homer passa a trabalhar como catador de maçãs numa rica fazenda, Wally parte a guerra e ele se apaixona por Candy. O roteiro de John Irving, adaptado do livro de sua autoria, prima a sensibilidade entre os personagens e a história, mas sem escorregar no melodrama e escapando do rótulo de “filme lacrimoso demais”. Hallström soube de maneira experiente abordar todos os temas da história e fez um programa completo, uma bela volta no tempo aos duros anos 40 - plena Segunda Guerra Mundial - sob um ângulo totalmente nostálgico e pacifista. Regras da Vida pode até parecer convencional demais, com início, meio e um fim que termina no mesmo lugar aonde começou, mas esconde uma história sensível e cativante, com uma trilha sonora intocável. Um belo filme sobre alguém que precisava viver

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antes de qualquer outra coisa, descobrindo o “mundo real” e vendo que às vezes algumas regras precisam ser quebradas. Quebradas para o melhor, claro. 39 - À ESPERA DE UM MILAGRE * * * * - The Green Mile - 188 min - dir. Frank Darabont - 1999 - Drama - No Cinema Durante as três horas de duração, o expectador sente as mais variadas sensações, quase todas, coisa muito rara de se conseguir em um único filme. À Espera de um Milagre sem dúvida consegue esse êxito e muito mais. O diretor Darabont (do excelente Um Sonho de Liberdade) passou oito semanas adaptando a incrível história de Stephen King e lapidou um roteiro de dar água na boca. Tudo começa com Paul Edgecomb já bem velhinho e vivendo em um asilo. Seu rosto parece triste e todo santo dia ele cumpre a rotina de andar pela floresta ali perto e subir até uma velha cabana. De repente, assistindo a um velho filme, Paul começa a chorar e nesse mesmo dia confidencia a sua amiga as lembranças do ano de 1935. Foi o ano em que Paul teve sua mais forte infecção urinária, e também foi o ano em que conheceu John Coffey, um gigante condenado à morte pelo brutal assassinato de duas garotinhas. Claro que sua chegada à Milha Verde - apelido dado ao Bloco E por causa da cor do piso, onde Paul é o chefe dos guardas do corredor da morte - causa a princípio um certo receio, visto o tamanho do sujeito e o crime que ele pode ter cometido. Mas logo essa impressão desaparece ao verem que tem um coração mole, morre de medo do escuro e às vezes chora. Quando Paul presencia um milagre feito por John - ele simplesmente cura o guarda de sua infecção - começa a questionar se o gigante seria realmente inocente. Tom Hanks brilha e dá um show de interpretação na pele do sensível guarda Paul. No entanto, é o grandão Michael Clarke Duncan (indicado ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante) quem rouba cada uma das cenas em que aparece, interpretando na dose perfeita seu incomum personagem com poderes sobrenaturais. Quem, além de todos, merece aplausos mesmo é Frank Darabont. Ele fez uma obra extensa, que na maioria das vezes se passa em um único cenário, e com uma calma a ponto de explorar cada personagem, mas sem parecer claustrofóbica ou monótona. Muito pelo contrário, a história nos guia facilmente para a cena seguinte e nos faz mergulhar nela de corpo e alma. Á Espera de um Milagre é digno de ser visto várias vezes, pois tem uma abordagem direta, mas sempre deixando a interrogação no ar para tudo se responder no surpreendente final. Uma obra emocionante, e ao mesmo tempo dura de se assistir, que não deixa escapar nenhum simples detalhe e conta com cenas de execução na cadeira elétrica de cutucar os olhos de qualquer mortal que nunca chegou nem perto de um presídio de verdade.

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40 - INSTINTO * * * - Instinct - 123 min - dir. Jon Turteltaub - 1999 - Suspense O excelente Cuba Gooding, Jr interpreta um jovem e ambicioso psiquiatra que se encarrega de fazer uma avaliação em Ethan Powell (Anthony Hopkins), um antropólogo que passou dois anos perdido na selva vivendo com gorilas e terminou por cometer alguns assassinatos. Em sua busca pela verdade, ele terá seus preceitos e sua vida mudados pelas idéias do antropólogo. Thriller psicológico um tanto modesto e que não foge do convencional, mas com um roteiro que mantêm o interesse até o fim. Hopkins, como sempre, mostra-se um ator muito experiente e bastante à vontade com seu personagem primitivado e nos faz questionar várias coisas, como o “controle” que acreditamos ter e a própria civilização. O filme ainda conta com as atuações de Donald Sutherland, da bela Maura Tierney (de O Mentiroso) e de um talentoso elenco secundário. 41 - EDTV * * * * - Idem - 122 min - dir. Ron Howard - 1999 - Comédia Matthew McConaughey é Ed, um sujeito comum, balconista de uma videolocadora, que topa ter seu dia-a-dia transmitido ao vivo pela televisão e acaba virando um ídolo da noite para o dia nos EUA. É simplesmente impossível ver este filme sem se lembrar de O Show de Truman, pois ambos beberam na mesma fonte. Mas engana-se quem pensa que EDtv se abala por causa dessa “pequena coincidência”. Muito pelo contrário, o filme é uma comédia hilária e original, que explora de maneira genial todas as suas possibilidades, e chega a ser uma crítica direta à sua própria concepção. A imbecilidade dos americanos é mostrada para quem quiser ver num roteiro brilhante e na grande direção de Ron Howard (Apollo 13 e O Preço de um Resgate), sem falar no elenco de astros, como Woody Harrelson, Martin Landau e o também diretor Rob Reiner. É ver, morrer de rir e se surpreender. 42 - TRÊS É DEMAIS * * * * - Rushmore - 92 min - dir. Wes Anderson - 1998 - Comédia A coisa mais importante na vida de Max Fisher é Rushmore, o colégio de elite onde estuda. Só que ele está prestes a ser expulso de lá, pois, por ter muitas atividades extracurriculares e as notas lá embaixo, está bem perto de ser reprovado. Seu mundo vira de cabeça para baixo quando se apaixona pela professora Margaret Cross (Olivia Williams) e decide construir um aquário gigante para ela. No entanto, Max não contava que teria como rival o magnata sr. Herman Blume (Bill Murray), pai de dois de seus colegas. Apesar do título um tanto equivocado, este é um filme pequeno que surpreende pelo roteiro original, com uma história enxuta e genial, e pela perfeita caracterização dos personagens. Os diálogos e as situações são demais, sempre mantendo-se num nível aceitável. Bill Murray está ótimo, disputando feito criança com um garoto de 15 anos. Jason Schwartzman, que interpreta Max, tem talento de sobra e compôs um persona-

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gem sem igual. Três é Demais é um filme único e cativante, em que “tudo é permitido quando o amor é a guerra”. 43 - O TALENTOSO RIPLEY * * * - The Talented Mr. Ripley - 139 min - dir. Anthony Minghella - 1999 - Suspense - No Cinema Matt Damon faz o personagem-título, um homem com um talento especial para forjar assinaturas e imitar vozes, que antes fora de Alain Delon no filme de René Clement, O Sol por Testemunha. Tom Ripley vai à Itália tentar convencer Dickie Greenleaf (Jude Law, de Gattaca) a voltar com ele para os Estados Unidos, e com isso ganhar uma boa gratificação do pai do rapaz. Uma vez amigos, Tom o mata e assume a sua identidade. O roteiro de Anthony Minghella (diretor de O Paciente Inglês, vencedor do Oscar) segue o enredo original, mas com várias diferenças do filme anterior. Os personagens parecem mais ambíguos, principalmente Ripley, que demonstra claramente sua homossexualidade. Seus sentimentos em relação à Dickie são um ponto forte do filme, embora não traga nenhuma vantagem à história, que às vezes parece enrolada e esticada demais, um tanto indecisa entre o drama e o suspense. Algumas coisas simplesmente não colam, e o final, comparado ao impacto do desfecho de O Sol por Testemunha, é quase decepcionante. O elenco ainda conta com Gwyneth Paltrow como Marge, a namorada de Dickie. Aqui a regra é válida: o original é muito melhor. 44 - O INFORMANTE * * * * - The Insider - 160 min - dir. Michael Mann - 1999 - Drama - No Cinema Al Pacino brilha na pele de Lowell Bergman, produtor-investigador do programa 60 Minutes. Ele é o cara que acha a pessoa que daria uma grande história e a convence a conceder uma entrevista ao apresentador Mike Wallace, prometendo isso e aquilo outro. Sua vida termina se cruzando com a de Jeffrey Wigand (Russell Crowe), um alto executivo de uma indústria tabagista que acabara de ser demitido sem nenhuma razão aparente. Com a filha asmática e sofrendo pressões externas, Wigand decide conceder uma entrevista ao programa denunciando a empresa em que trabalhava, alegando que sabiam o tempo todo dos riscos que o cigarro faz à saúde mas omitiram isso, mesmo sabendo que isso implicaria em quebrar o contrato de sigilo que firmou com a empresa e ter seus benefícios todos anulados. Contundente drama de primeira categoria, baseado na história real de Jeffrey Wigand, o “maior traidor da indústria tabagista”, com um roteiro impecável, mostrando de maneira sólida e realista os bastidores da notícia e a reviravolta louca na vida de um homem comum. O diretor Michael Mann faz aqui a melhor direção de sua carreira, conduzindo a história de maneira brilhante e nos colocando bem no meio dos dramas do filme. Mas quem realmente cativa o expectador é Russell Crowe (indicado ao Oscar de Melhor Ator), brilhantemente perfeito na composição de seu personagem. É ele quem transmite todas as emoções do filme sem parecer um ator, e sim o próprio personagem. O Informante se insurge com um dos melhores fil-

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mes-denúncia já realizados em muito tempo, e todos os méritos a ele são mais que justos. Filmaço! 45- NAS PROFUNDEZAS DO MAR SEM FIM * * * - The Deep end of Ocean - 105 min - dir. Ulu Grosbard - 1998 - Drama Não espere grande coisa deste modesto drama, pois ele pode decepcionar quem procura algo mais contundente e emocionante. Tudo bem, não há muitas queixas contra Michelle Pfeiffer. Ela até que convence na pele da mãe que tem o filho de três anos desaparecido e sua vida praticamente destruída. Nove anos depois, ela o encontra e a família passa por um delicado processo de readaptação. Baseado no livro de Jacquelyn Mitchard, o roteiro de Stephen Schiff poderia ter aproveitado muito mais os dramas da história em vez de ficar entalado apenas no drama central. Algumas situações não colam e os diálogos batidos às vezes se atropelam e se misturam à várias questões de uma vez só. É aí que reside outro defeito do filme. Não ficamos totalmente familiarizados com as relações entre os personagens, não os conhecemos direito. Mesmo assim, há bons momentos para um rápido passatempo de domingo à tarde. 46 - O SUSPEITO DA RUA ARLINGTON * * * * - Arlington Road - 117 min - dir. Mark Pellington - 1999 - Suspense Qual o real significado da palavra paranóia? Até que ponto a obsessão de um homem pode estar perto da verdade? Assim como em A Conversação, este trata de um tema parecido, só que tendo o terrorismo como pano de fundo. O começo não podia ser mais impactante: o professor viúvo que dá aula de terrorismo interpretado por Jeff Bridges encontra um menino perambulando no meio da rua segurando o braço completamente estraçalhado por queimaduras. Depois de lhe prestar socorro e o levar às pressas ao hospital mais próximo, acaba fazendo amizade com os pais do garoto (Tim Robbins e Joan Cusack), que por coincidência moram em frente à sua casa. Só que tudo muda quando ele começa a suspeitar que o pai pode ser na verdade um terrorista. A partir daí o filme é um thriller de tirar o fôlego completamente imprevisível. Os atores estão perfeitos e a direção deixa o expectador a flor da pele. Prepara-se para passar quase duas horas sem se mover e com o estômago parecendo com um liqüidificador, graças a um brilhante roteiro cheio de surpresas e um final que dispensa comentários. Um filme para quem tem nervos de aço. 47 - TUDO SOBRE MINHA MÃE * * * * - Todo Sobre Mi Madre - 1 Oscar - 105 min - dir. Pedro Almodóvar - 1999 - Drama - No Cinema O diretor Almodóvar não perde nenhuma oportunidade de contar uma boa história com seu toque bizarro e carregado de humor negro. É o caso deste Tudo Sobre Minha Mãe, vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro deste ano, onde é bem explorado o mundo da prostituição e das drogas. Personagens estranhos e irreverentes aos

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nossos olhos se cruzam com a história de Manuela, cujo filho Esteban, aspirante a escritor, sempre teve um grande desejo: saber tudo sobre o pai que não conheceu. No dia do seu aniversário de dezessete anos, o rapaz é atropelado enquanto corria atrás de um autógrafo de uma famosa atriz e termina por morrer. Com o seu mundo completamente destroçado, Manuela volta à Barcelona, dezoito anos depois de de lá ter partido, à procura do pai de seu filho, a travesti Lola, ao mesmo tempo em que vive novas amizades e procura um motivo para continuar vivendo. Uma produção de primeira, conduzida brilhantemente pelo diretor espanhol, que consegue falar de assuntos delicados sem que seu humor vire piadas machistas. Almodóvar escreveu um roteiro simples, mas sensível e bem bolado, com um belo final. Diálogos autênticos e atuações primordiais fazem de Todo Sobre Mi Madre um filme que deve ser visto e apreciado. 48 - 13o ANDAR * * - The Thirteenth Floor - 100 min - dir. Josef Rusnak - 1999 - Suspense No 13o andar de um prédio aparentemente comum, existe um verdadeiro emaranhado de computadores com um sistema inovador: uma realidade virtual onde os habitantes são inteiramente modelados nos seres humanos reais, ou seja, eles pensam, trabalham, transam; enfim, vivem vidas normais como todo mundo, numa simulação gráfica de Los Angeles de 1937, sem saber a verdade sobre tudo isso. Quando o dono do projeto é brutalmente assassino depois de descobrir algo perturbador, a suspeita cai sobre o seu fiel empregado Douglas Hall, que não se lembra aonde estava na hora do crime. Para desvendar o que aconteceu e tenta provar sua inocência para si mesmo, ele precisará entrar na simulação atrás de pistas, o que pode ser muito perigoso. Ao misturar ficção-científica com suspense, o diretor Rusnak quase escorrega na casca da banana com um tema complexo - a consciência dentro da virtualidade - mas sem a importância devida. O que poderia ser um filme mais que interessante, logo se transforma em uma sessão contínua de clichês e repetições. Mesmo quando chega a certo ponto em que o expectador não sabe mais o que é real e não é, o desenvolvimento não cola tanto. Da última vez em que duvidamos da nossa realidade, o impacto foi cem vezes maior e os efeitos eram de deixar o queixo cair. Alguém ainda se lembra de um certo Matrix? 49 - HURRICANE - O FURACÃO * * * - The Hurricane - 115 min - dir. Norman Jewison - 1999 - Drama - No Cinema Denzel Washington arrecadou o Globo de Ouro e uma indicação ao Oscar com sua grande interpretação do personagem-título, Rubin “Hurricane” Carter, um pugilista que nos anos 60 foi condenado à prisão perpétua por um crime que não cometeu. Na cela, escreve um livro autobiográfico como uma forma de canalizar seu ódio e contar sua história, e este é o ponto de partida do filme. O adolescente Lesra (o promissor Vicellous Reon Shannon), que mora no Canadá estudando para entrar na faculdade, lê o livro e vê seu mundo ganhar novos horizontes, passando a se corresponder com Rubin por cartas. Ele é o responsável pela volta do Hurricane humano, derrubando suas defesas de ódio e reunindo um pequeno grupo disposto a trazer o passado à tona e lutar para

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que a verdadeira justiça seja feita. O veterano diretor Norman Jewison conduz a história de maneira comportada, mas consegue captar a essência do espírito humano, fazendo uma obra sensível e contundente ao mesmo tempo, mostrando o que o preconceito é capaz de fazer com a vida de uma pessoa. Baseado na história de Carter, mesmo sendo um filme previsível e sem muito destaque, é uma boa experiência cinematográfica e humana. 50 - BELEZA AMERICANA * * * * - American Beauty - 5 Oscars - 121 min - dir. Sam Mendes - 1999 - Drama - No Cinema O grande vencedor do Globo de Ouro e do Oscar de Melhor Filme justifica toda a “babação” em cima dele assim que o vemos. É um filme que mexe com a gente em todos os sentidos. Com um roteiro tão bom e corrosivo nas mãos, qualquer diretor renomado tremeria nas bases com medo de fazer feio, mas Sam Mendes, já consagrado nos palcos ingleses e que aqui estréia como diretor, surpreende a qualquer um que entenda ou não dessa função na realização de um filme. Sua visão, perfeitamente posicionada e articulada, parece estar muito acima das emoções de uma cena. A impressão que temos é de um autocontrole fora do comum. É tanto que uma simples discussão de família com pratos sendo lançados contra a parede - é capaz de nos fazer explodir, mas a câmera não se agita, não há cortes rápidos, não sai do seu magnífico controle. Nessas condições, qualquer ator teria realmente que se garantir por si só para convencer o público do seu talento, exatamente como uma peça de teatro. Agora entra o nosso terceiro astro: Kevin Spacey. Quem consegue esquecer do frio serial killer de Seven ou de sua brilhante performance em Os Suspeitos? É, esse é o cara ideal para “vestir a roupa” de Lester Burnham, um pacato sujeito cuja a melhor parte do seu dia é se masturbar no banheiro. Com uma vida tão suburbana e comum, submisso à mulher, uma vendedora de imóveis, e com todos os sonhos desfeitos, é de se esperar que Lester morra de desgosto de uma hora para outra. Justamente é essa a impressão que se tem quando, logo no início, o triste personagem se apresenta, comenta um pouco sobre sua vida e diz que em menos de um ano estará morto. Talvez ele já esteja morto, só que ele ainda não sabe disso. É quando Lester se apaixona pela amiga da filha Jane e acorda do “coma” em que vivia que resolve dar um basta a toda essa situação: ele larga o emprego, compra o carro dos seu sonhos, passa a malhar e a fumar maconha na garagem. Radical? Pode até ser. Mas ao mesmo tempo em que essa transformação acontece, a mulher (Annette Bening, um tanto exagerada) resolve relaxar arrumando um amante e a filha se descobre objeto de desejo de Rick Fitts, filho de um militar linha-dura e obcecado em filmar a “beleza do mundo”. Sem dúvida alguma, Beleza Americana é estranhamente original e perturbador. Um retrato perfeito da destruição moral, não só do american way of life, como da sociedade como um todo. Por essas e outras razões, o filme é um programa obrigatório para quem acha que sua vida não é o que você queria. Mas cuidado com as conseqüências de se acordar do “coma”. Um final que consegue ser impactante e poético ao mesmo tempo nos faz pensar que nada daquilo era para ter acontecido. A vida não é tão justa quando acordamos do verdadeiro “coma” apenas quando percebemos o quanto os valores foram dilacerados e só restaram os miolos. Vemos, então, o quanto essa verdade se faz presente em nossa vida e em cada um dos complexos personagens que ficaram

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marcados para sempre. Por que, se na hora da sua morte, no último segundo, você ver toda a sua vida passar diante dos seus olhos, e esse último segundo se repetir como se ele fosse um oceano de tempo, você se dará conta de que terá a eternidade para se arrepender e lamentar a gratidão que nunca terá. Mesmo que você não saiba do que eu estou falando, não se preocupe. Um dia você saberá. 51 - ECOS DO ALÉM * * * - Stir of Echoes - 99 min - dir. David Koepp - 1999 - Terror - No Cinema Agora toda vez que nos depararmos com filmes em que pessoas aparentemente comuns conseguem ver gente morta vamos automaticamente nos lembrar de O Sexto Sentido. É justamente o que acontece com este Ecos do Além, no qual durante todo o decorrer da trama ficamos comparando as situações entre os dois filmes. Não podemos dizer que as produções desse gênero daqui para frente serão cópias do primeiro aqui citado. Não, elas podem (e vão) variar e mostrar o tema por diversos ângulos, mas dificilmente conseguirão atingir a perfeição (assustadoramente simples) de O Sexto Sentido. Assim como Poltergeist - o Fenômeno, que ao se falar em assombrações em um lugar (casa, apartamento) é indiscutivelmente quase sempre citado, O Sexto Sentido está condenado a também servir de referência máxima quando o assunto for espíritos que se comunicam com vivos. Aqui a história se passa em um bairro calmo e decente. Depois de ser hipnotizado pela cunhada, o personagem vivido por Kevin Bacon vê o espírito de uma garota desaparecida há seis meses. Obcecado, ele parte em busca da verdade do que realmente aconteceu, a fim de também ajudar o filho, que a vê constantemente. Esta é a segunda incursão como diretor do roteirista de Jurassic Park, como uma câmera bem posicionada e disposta a nos pregar vários sustos. Baseado no romance de Richard Matheson, o desenvolvimento não possui um fio condutor muito esclarecido e nos leva a um final (quase) decepcionante. Salva-se o clima tenso e seqüências para quem tem nervos de aço. Esqueça o convencionalismo e as referências a outros filmes do gênero e aproveite o que Ecos do Além tem de melhor: a seqüência bárbara da hipnose e a paranóia do protagonista, que chega a cavar todo o quintal atrás do corpo da garota. 52 - O MISTÉRIO DO No. 17 * * * * - Number Seventeen - 60 min - dir. Alfred Hitchcock - 1932 - PeB - Suspense Em uma noite de ventania, homem entra em uma velha mansão e se depara com um cadáver nas escadas. Este é o fio condutor desta pequena obra inglesa do diretor Hitchcock, que se mostra com uma câmera brilhantemente agitada e cheia de truques. Com um humor bastante afiado, rapidamente a história dá várias reviravoltas, sempre mudando sua concepção, mas sem se perder em nenhum momento. Seguido pelo interesse e pela genialidade de uma história simples e rápida, que não peca na originalidade, o expectador é levado à frenética seqüência do trem em velocidade máxima. Apenas para fãs de Hitch e de filmes antigos.

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53 - THE LODGER * * * * - Idem - 65 min - dir. Alfred Hitchcock - 1926 - PeB - Suspense Com The Lodger estamos nos primórdios da obra hitchcockiana e do próprio cinema. Em seu terceiro filme, o diretor caracteriza a Londres atormentada por um terrível serial killer, que sempre ataca às terças-feiras e tem preferências por louras. Nossa suspeita cai sobre um estranho homem que aluga um quarto num pensionato, justamente onde mora uma jovem modelo (loira), noiva do investigador do caso. Sendo um filme mudo, Hitchcock domina as imagens e prende a atenção do expectador até o final, que consegue driblar todas as nossas expectativas de maneira convincente. Os momentos de tensão já antecipava o genial diretor que estava surgindo e que é hoje referência máxima do gênero e possui vários seguidores. Obrigatório para fãs. 54 - INTERLÚDIO * * * * - Notorious - 101 min - dir. Alfred Hitchcock - 1946 - PeB - Suspense Dessa vez, Hitchcock vai ao Brasil (ou pelo menos simula) para contar a história da filha de um alemão condenado por trair os EUA, convencida a ir ao Rio como uma agente para descobrir segredos de um espião nazista. Excelente mistura de espionagem e romance, no melhor estilo do mestre. O casal central - a estonteante Ingrid Bergman e o galã Gary Grant - estão em perfeita sintonia e consegue, cada um, sobressair-se com seu personagem. Um filme completo, com um roteiro primoroso de Ben Hecht, que prende a atenção do início ao fim. Aliás, uma cena final perfeita e com grande estilo. Imperdível para quem curte o suspense clássico de Hitch. 55 - AGENTE SECRETO * * * - Secret Agent - 86 min - dir. Alfred Hitchcock - 1936 - PeB - Suspense Em plena Primeira Guerra Mundial, agente do Serviço Secreto tem a morte forjada para ir a Suíça em missão secreta. Hitchcock mostra mais uma vez sua obsessão pelas histórias de espionagem e que, melhor do que ninguém, entende do assunto. Mesmo sendo um filme sem um brilho maior, Agente Secreto é bastante interessante, com grandes reviravoltas, mas que peca num final que tenta ser moralmente correto. Humor e romance completam uma boa sessão à Lá Hitchcock.

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56 - MEU MARCIANO FAVORITO * * * - My Favorite Martian - 93 min - dir. Donald Petrie - 1999 - Comédia Baseado no clássico seriado de TV, conta a louca história de um marciano biruta (Christopher Lloyd) que cai na Terra e se mete em grandes confusões junto com o repórter Tim O’Hara (Jeff Daniels), enquanto tenta consertar sua nave. Comédia despretensiosa bem ao gosto dos menos exigentes, com uma trama leve e bem contada e bons efeitos especiais. Mesmo não saindo da média, é um programa aconselhado para quem deseja dar boas risadas e relaxar um pouco. Vale ainda pelas presenças de Elizabeth Hurley e Daryl Hannah. 57 - OLHOS ABERTOS * * * - Wide Awake - 86 min - dir. M. Night Shyamalan - 1998 - Comédia Antes de deixar milhões de pessoas perplexas com O Sexto Sentido, o indiano Shyamalan já demonstrava ter uma sensibilidade aguçada em histórias de garotinhos com estranhos conflitos à sua volta. Aqui tudo gira em torno de um menino de dez anos que, após a morte do avô, passa a questionar a vida após a morte e parte numa inusitada missão que lhe rende grandes confusões: encontrar Deus. Aparentemente, Olhos Abertos é um filme comum e não promete muita coisa. Mas a partir do desenvolvimento da trama, vemos que o diretor sabe o que está fazendo, ou seja, identificando nossas vidas com o seu filme. Assim como O Sexto Sentido, há detalhes sutis que nos pegam de surpresa no final. Aliás, a revelação da última cena é simplesmente surpreendente e emocionante. Não há quem consiga ficar indiferente e sentir um alívio interior ao seu término. A mensagem é clara: olhos abertos, pois tudo o que procuramos pode simplesmente estar à nossa volta. 58 - ERIN BROCKOVICH UMA MULHER DE TALENTO * * * - Erin Brockovich - 140 min - dir. Steven Soderbergh - 2000 - Drama - No Cinema Julia Roberts precisou ser dirigida por um diretor de verdade para nos surpreender com a melhor atuação de sua carreira até agora. Não que Steven Spielberg ou Neil Jordan não sejam também “diretores de verdade”. Muito pelo contrário. Mas Steven Soderbergh realmente conseguiu deixar Julia perfeita no papel de uma mulher comum e determinada. Ela é a personagem-título, divorciada duas vezes e mãe de três. Numa atitude um tanto desesperada, consegue um emprego numa pequena firma de advocacia. Mexendo ali e aqui, acaba descobrindo um caso de poluição da água da cidade de Hinkley por um certo tipo de cromo prejudicial à saúde e várias famílias com sérios problemas por conta disso. De repente, há em suas mãos um processo gigantesco contra uma empresa multibilionária que usava o cromo para evitar corrosão das torres de sua usina vizinha à cidade. Apesar de certas coisas não colarem e o roteiro não ir além

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de uma história bem contada, misturando drama e humor em doses equilibrantes, a direção de Soderbergh, além da atuação de Julia, claro, é o que se pode aproveitar em toda sua melhor amplitude. Um cara que preza uma imagem arrojada, artística, como no cinema independente, consegue transformar o pior dos roteiros num filme belo e assistível. Mesmo sem um roteiro páreo ao de Irresistível Paixão, seu último grande filme, Soderbergh consegue fazer de Erin Brockovich um filme belo e assistível. Baseado em uma história real. 59 - 10 COISAS QUE EU ODEIO EM VOCÊ * * * - Ten Things I Hate About You - 97 min - dir. Gil Junger - 1999 - Comédia Sabe aquele filme que você começa a assistir sem muita vontade e acaba se empolgando e gostando da história? É o caso deste 10 Coisas que eu Odeio em Você. Houve muita crítica negativa em torno dele por ser uma versão adolescente da peça A Megera Domada, de Shakespeare, mas o fato é que isso não diminui em nada essa comédia colegial de morrer de rir. A história gira em torno de duas irmãs completamente diferentes uma da outra. Elas vivem sob a exagerada autoridade do pai, um médico que acha que sabe tudo sobre a adolescência. Até que este baixa a ordem: a caçula pode namorar, mas só quando a outra também arrumar um namorado. O problema é que ela é uma verdadeira megera odiada por todos, até mesmo pelo paranóico professor de literatura inglesa. Convencer alguém com juízo a sair com a temida garota será uma missão bastante difícil e cheia de altas confusões. Um elenco carismático, situações inspiradas e um acompanhamento musical nota dez, além de infinitas citações a Shakespeare, garante uma diversão para curtir de verdade. É só não se importar muito com algumas “inconveniências” do roteiro, como aquele final bem previsível mas que todo mundo gosta. 60 - O ÚLTIMO PORTAL * * * - The Ninth Gate - 127 min - dir. Roman Polanski - 1999 - Terror - No Cinema O diretor do perturbador O Bebê de Rosemary volta ao gênero que o consagrou mas não consegue atingir o mesmo êxito. Johnny Depp é Dean Corso, uma espécie de “detetive de livros raros” que é contratado por um misterioso colecionador de livros demoníacos para autenticar um, do qual se acredita ter poderes para invocar o próprio demônio e, quem sabe, adquirir seus serviços. Logo Dean começa a perceber que está em um jogo mortal e que cada vez mais fica difícil voltar atrás. Sem dúvida é um filme intrigante, em que o expectador é guiado por um caminho sem volta. As reviravoltas são um tanto previsíveis até um certo momento, fazendo a trama parecer meio morna. Mas o expectador vai em frente, intrigado com uma história bem montada, e chega a um ponto em que ele se descobre perguntando: “O que o protagonista quer?” A resposta fica muito clara no fim. Não percebemos que ele aos poucos se corrompia por algo que no começo não acreditava. Talvez essa seja a mensagem da história, mas nunca se sabe o que se passa pela cabeça de Polanski (a atitude da protagonista Rosemary na última cena do filme é de opinião bastante relativa). No entanto, O Último Portal não é

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nem um pouco descartável. Claro que é muito convencional - tem o herói cético, o vilão misterioso e manipulador e a garota vinda do nada que está sempre pronta para dar uma ajudinha, embora seja melhor desconfiar de seus verdadeiros interesses - mas tem aquele clima denso que só Polanski sabe fazer. E olha que ele faz bem 61 - MENINOS NÃO CHORAM * * * * - Boys Don’t Cry - 1 Oscar - 116 min - dir. Kimberly Pierce - 1999 - Drama - No Cinema Há certos filmes que muita gente torce o nariz dizendo que é ruim apenas por não aceitar o que está sendo nos mostrado. Isso se chama preconceito. E nos pegamos com esse sentimento neste surpreendente Meninos não Choram. A história gira em torno de Teena Brandon (Hilary Swank), uma garota com uma séria crise de identidade sexual que se faz passar por homem para conquistar as garotas. Acobertada pelo primo, Teena (ou melhor, Brandon) foge para a pequena cidade de Falls City, onde se junta a uma turma da pesada e acaba se apaixonando por Lana (Chloë Sevigny, do também polêmico Kids). As conseqüências de um amor quase impossível explodem em ódio, preconceito e morte. É um filme sobre alguém não aceito pela sociedade e procurando se encontrar e mudar de vida. Hilary Swank foi merecedora do Oscar que arrebatou, numa interpretação forte e autêntica. Ela realmente nos convence na pele de seu amargo personagem, que deseja apenas ser feliz. Com cenas fortes e um realismo cruel, a diretora Kimberly Pierce dá um belo soco no estômago do expectador que espera encontrar algo mais light e com um sentido moral que possa ser engolido sem arranhar a garganta. Vemos aqui o outro lado da “sociedade perfeita” e o sofrimento de alguém “diferente”. Só por isso, Boys Don’t Cry já valeria a pena ser visto - por quem tem coragem e estômago, claro. Baseado na história real de Teena Brandon. 62 - GAROTA, INTERROMPIDA * * * - Girl, Interrupted - 1 Oscar - 127 min - dir. James Mangold - 1999 - Drama - No Cinema Parecia que nos anos 60 quase tudo podia servir de motivo para uma pessoa ser considerada com “distúrbios mentais”. É o que acontece com Susanna Kayser (Wiona Rider), que por tomar aspirina demais termina indo parar no Hospital Psiquiátrico Claymoore considerada como suicida. A princípio, ela se sente como um peixe fora d’água naquele lugar cheio de lunáticas. Aos poucos, Susanna vai se ambientando a sua ala e fazendo várias amigas, entre elas Lisa (Angelina Jolie, Globo e Oscar de Atriz Coadjuvante), com quem parece ter uma grande afinidade. Não há como não dizer que esta é uma versão feminina de Um Estranho no Ninho. Antes fosse, pois o diretor Mangold (Cop Land) tratou de deixar bem agradável uma história que poderia ser claustrofóbica e mais realista. Wiona Rider cativa o expectador com sua “personalidade fronteiriça”, ou seja, do mesmo jeito do resto do mundo. Garota, Interrompida trata de mulheres se ajudando e se descobrindo e podemos tirar várias mensagens positivas dele. Dar uma de doido faz bem de vez em quando. Baseado em uma história verdadeira.

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63 - GLADIADOR * * * * - Gladiator - 154 min - dir. Ridley Scott - 2000 - Aventura - No Cinema Existe um intervalo de quase quatro décadas desde o último grande épico desfilar pelos cinemas e Gladiador. Isso mesmo, o novo filme de Ridley Scott entra para o hall das grandes aventuras romanas. Um diretor tão conceituado como ele, dono de clássicos como Alien, o 8o Passageiro e Blade Runner, não precisava se esforçar muito para dar prazer à platéia, se bem que seus últimos filmes foram uma queda brutal de autoestima por parte dos espectadores. Com Gladiador, Scott compõe mais um clássico para sua coleção, que ainda conta com Thelma & Louise. Um filme que merece ser visto no mínimo três vezes para poder se avaliar com precisão toda a riqueza de imagens proporcionada pela DreamWorks, a fantástica fábrica de sonhos de Steven Spielberg e seus associados. Mas não é só de imagens que se faz um épico, e sim de um ator e um roteiro épico. Infelizmente não podemos contar mais com Charlton Heston ou Kirk Douglas, mas temos alguém à altura, um dos melhores atores já surgidos ultimamente: Russell Crowe. Quem o começou a notar em LA - Cidade Proibida e torceu por ele em O Informante, no qual fez de Al Pacino um zero à esquerda, sabe muito bem disso. Agora vem o terceiro e fundamental quesito para a construção de um filme épico: o roteiro. Se a história não for acima de todas as médias, não é épico e sim um gasto tremendamente em vão. Em Gladiador, Crowe é o general Maximus, tratado como o filho pelo imperador Marcus Aurélius, um homem já velho e cansado de tentar deixar Roma do jeito que era há muito tempo, um paraíso, e confidencia ao seu general, depois de uma vitória gloriosa, que este deverá substituí-lo pelo bem do Império Romano. Só que Commodus, filho do imperador, descobre os planos do pai e o assassina, tomando seu lugar e decretando logo a morte de Maximus, que consegue fugir mas não salvar sua mulher e seu filho. Desiludido com tudo, é vendido como escravo e se torna gladiador. Exalando todo o seu ódio dentro da arena, começa a ser venerado pela plebe e ter sua fama espalhada. Isso o dará a oportunidade de ficar cara a cara com Commodus e jurar vingança. Com um realismo impressionante, as cenas de luta são magníficas. Ver os gladiadores derramando sangue enquanto a multidão vai ao delírio nas arquibancadas do Coliseu é emocionante. Um impacto visual para ninguém botar defeito. Depois do final tocante, quando surgem os créditos, ficamos com a certeza de que acabamos de ver um épico de verdade e torcendo que isso vire moda e que outro surja bem rapidinho. 64 - O CÉU DE OUTUBRO * * * * - October Sky - 108 min - dir. Joe Johnston - 1999 - Aventura O futuro de Homer era o mesmo de mais da metade dos jovens de sua pequena cidade: ir trabalhar nas minas, o coração financeiro do lugar. Uma bela noite de outubro de 1957, a vida de Homer muda ao presenciar o satélite artificial russo Spnutnik, o primeiro a ser lançado para o espaço, cruzar o céu. A mesma cena que milhões de pessoas viram ao mesmo tempo fez de Homer uma pessoa determinada a construir foguetes, mesmo que esse sonho se choque com a realidade de seu pai, John, que também trabalha como supervisor nas minas e quer o filho como seu substituto. Um elenco jo-

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vem de primeira, numa história agradável de se ver, diverte e emociona. Um filme tocante, que lembra muito Conta Comigo, embora não tenham quase nada em comum. O diretor Johnston (Jumanji) conduz com sensibilidade e competência sem cair na pieguice. Um filme que todos devem ver por acreditar nos sonhos e mostrar que eles podem se tornar reais. Hoje, Homer Hickam trabalha como engenheiro na NASA, treinando astronautas para missões nos Ônibus Espaciais. Isso mesmo, o filme é baseado na história do protagonista. Indispensável. 65 - O MUNDO DE ANDY * * * * - Man on the Moon - 118 min - dir. Milos Forman - 1999 - Drama - No Cinema Não espere ver Jim Carrey interpretando o comediante Andy Kaufman, o sujeito que inseriu um novo conceito para humor no final dos anos 70 e início dos 80 e morreu precocemente de câncer em 84. Em O Mundo de Andy, é o próprio Kaufman que nos conta sua história. Mesmo quem nunca ouviu falar de Andy Kaufman pode se surpreender com a solidez da composição de Carrey. Não é nem um pouco exagero dizer que ele, em segundo papel dramático, encarna o adoidado comediante, sem dúvida na melhor atuação de sua carreira. Assim como aconteceu com seu Truman, Jim Carrey arrebatou o Globo de Ouro, mas quanto ao Oscar... nenhuma indicação. Injustiças à parte, o importante é que Jim está mostrando o grande ator que é. O mestre nas cinebiografias, Milos Forman, soube recriar bem a época e seus estilos, dando ao filme um tom louco assim como era seu protagonista. A mesma dupla de roteiristas de O Povo contra Larry Flynt mostra que se garante mesmo na hora de escrever o texto. A roqueira Courtney Love novamente participa de mais um filme de Forman, mas não se destaca tanto como a namorada viciada e aidética de Flynt. Mas O Mundo de Andy é todo de Jim Carrey e sua perfeita incorporação. Enfim, uma bela homenagem a alguém que só queria confundir a cabeça dos espectadores. Ele conseguiu, tanto na vida real como no filme.

66 - MAGNÓLIA * * * * - Magnolia - 188 min - dir. Paul Thomas Anderson - 1999 - Drama - No Cinema O diretor de Boogie Nights surpreende com este drama de histórias paralelas que ao acaso acabam se intercruzando. Acompanhamos um dia na vida de dez personagens e seus dramas aparentemente banais pelo subúrbio de Los Angeles. Temos o velho Earl Partridge (Jason Robards) em seu leito de morte pedindo ao seu enfermeiro Phil (Philip Seymour Hoffman) para localizar o filho, com quem não fala há muito tempo. No caso aqui, vamos direto para a história de Frank Mackey (Tom Cruise, indicado ao Oscar e ganhador do Globo de Ouro de Ator Coadjuvante), um guru machista que fez fama com seu curso de como dominar o sexo feminino. William H. Macy é Donnie Smith, um exgaroto prodígio amargurado com a vida e apaixonado por um barman de aparelho nos dentes. Após ser despedido da loja onde era vendedor, resolve assaltá-la para pagar uma cirurgia de correção dentária. Sua vida vai se cruzar com a do policial Jim Kurring

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(John C. Reilly), o narrador das reflexões cotidianas, que subitamente se apaixona pela viciada Claudia (a até agora desconhecida e talentosa Melora Walters), filha do apresentador de TV Jimmy Gator (Philip Baker Hall). Seu programa de perguntas e respostas O Que Sabem as Crianças é o mais velho da televisão e está em conflito em pleno ar quando o pequeno gênio Jeremy Blackman (Stanley Spector), prestes a atingir o recorde do programa, se recusa a responder as perguntas por não o deixarem ir ao banheiro. Temos ainda a desesperada mulher de Partridge, Linda (Juliana Moore), que deseja mudar o testamento de Earl por se descobrir apaixonada por ele, e a triste e sofrida Rose Gator (Melinda Dillon), que tenta segurar as pontas quando descobre que o marido Jimmy está com câncer. Só uma terrível revelação pode fazê-la abandonar o marido nesse momento difícil. É impressionante ver como o diretor e roteirista Anderson consegue não se perder entre esse emaranhado de situações. Tudo acontece num ritmo quase louco, mas com sentindo. O diretor tem controle de tudo e faz com que cada história não atrapalhe a outra e eleva a tensão de todas praticamente ao mesmo tempo. É realmente um impacto ver de repente todos os personagens cantando uma das músicas que compõem a trilha sonora do filme. Só mesmo um impressionante chuva de sapos isso mesmo! - para dar uma conclusão perfeita para Magnólia, que, por incrível que pareça, não acaba terminando tudo em pizza. Um filme bem diferente, uma experiência bastante aproveitável, um final otimista. P.T. Anderson tem talento. Alguém duvida disso? 67 - PÂNICO NO LAGO * * * - Lake Placid - 82 min - dir. Steve Miner - 1999 - Aventura Se você não estiver de importante para fazer e quiser arriscar em uma diversão com bons atores e uma história simples dê uma espiada neste Pânico no Lago. É um descendente direto de Anaconda, embora seja um pouquinho melhor. O filme gira em torno de um crocodilo de nove metros que anda fazendo vítimas em um lago no Estado do Maine. Bill Pullman lidera a equipe de caça ao monstro, que acredita-se ter se deslocado da Ásia até ali a nado. O grupo ainda conta com a bela e sumida Bridget Fonda como uma paleontóloga e Oliver Platt como um excêntrico zoólogo amante de crocodilos. Desligue o cérebro e engula os clichês. 68 - LIMBO * * * * - Idem - 126 min - dir. John Sayles - 1999 - Drama Existe um lugar entre o Céu e o Inferno chamado Limbo, para onde vão as almas dos justos e das crianças mortas sem batismo. Para John Sayles, o Limbo é o lugar ideal para três pessoal se encontrarem e criarem o seu lugar no mundo. O pescador amargurado com a perda de dois homens, uma bela cantora que não tem muita sorte no amor e sua filha adolescente que de tanto mudar de vida acaba sendo rotulada de problemática são os personagens perfeitos para se perderam numa floresta depois de inesperados acontecimentos. Sayles é magnífico como roteirista. Ele sabe mais do que ninguém testar seus personagens e manipular seus sentimentos, e Limbo é um filme de sentimen-

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tos. O desfecho inesperado causa uma onda de reflexões e deixa-o ainda mais poético, numa linguagem em que a rima não tem vez. 69 - MISSÃO: MARTE * * - Mission to Mars - 112 min - dir. Brian De Palma - 2000 - Ficção - No Cinema O ano é 2020. A NASA consegue um feito histórico ao mandar a primeira equipe espacial para o planeta vermelho colher o máximo de dados possíveis. Um ano depois, algo estranho e inesperado acontece e uma segunda equipe, liderada por Tim Robbins e Gary Sinise, é enviada à Marte em missão de resgate. Não espere uma grande e espetacular aventura espacial nessa nova (e inédita) empreitada do diretor Brian De Palma, caso o contrário a decepção virá em dobro ou até mesmo em triplo. É de se estranhar como um diretor tão conceituado, descendente do mestre Hitchcock, ousou se aventurar na ficção científica e acabou tropeçando no próprio erro. Na sua tentativa de fazer um filme cerebral, em ritmo lento e com várias referências a clássicos do gênero, como 2001 - Uma Odisséia no Espaço, De Palma confeccionou uma experiência monótona e quase sem nenhuma consistência. Pode acreditar: mais de 50% do filme é inteiramente descartável e chega a dar sono. Só melhora quando, já em terras avermelhadas, começam a aparecer indícios da origem da vida na Terra. O que deveria ser um resgate, acaba se transformando numa expedição em busca de explicação para nós mesmos. E tudo é esclarecido, numa bela seqüência recriando o que de fato aconteceu. Apesar de um tanto absurdo, dá para engolir o sentido mitológico exposto pelos magníficos efeitos especiais. Em outras palavras, traduz o que seria o encontro do homem com um deus alienígena, do qual herdamos seu DNA. A direção de De Palma oscila entre vários gêneros e isso prejudica várias cenas de impacto emotivo. Uma simples busca por um buraco na nave de resgate se transforma num verdadeiro suspense ao estilo de outros filmes do diretor. Coisas assim levam a crer que Brian De Palma não sabia direito o que estava fazendo. Mas tudo bem, pois o principal atrativo de Missão: Marte é sem dúvida o seu visual, de um realismo impressionante. Impressionante mesmo. 70 - O PRIMEIRO DIA * * * - Idem - 75 min - dir. Walter Salles e Daniela Thomas - 1999 - Drama A trajetória e o encontro entre João, um fugitivo da polícia, e a depressiva Maria, inconformada com o abandono do namorado, no telhado de um prédio em plena virada de milênio se torna uma verdadeira aula do melhor cinema nacional nas mãos de Walter Salles (consagrado com Central do Brasil) e Daniela Thomas. Os dois já haviam trabalhado juntos e aqui surpreendem pela solidez das imagens e atuações, em uma história bem concebida, narrada de forma concisa e impressionante. O Primeiro Dia é um trabalho genuíno, com uma estética admirável e uma produção bem acima da média. Um filme muito mais que eficiente. O problema é que ele dá uma simbologia pacifista à chegada do ano 2000, mas logo no primeiro dia após o milênio vemos que tudo continua do mesmo jeito de sempre.

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71 - UM COPO DE CÓLERA * * - Idem - 70 min - dir. Aluizio Abranches - 1998 - Drama É um tanto difícil acompanhar o raciocínio deste filme de Aluizio Abranches, protagonizado por Alexandre Borges e Julia Lemmertz, casados na vida real. Dividido em duas partes, temos as cenas de sexos e de nudez mais tórridas e explícitas do atual cinema brasileiro para logo em seguida sermos jogados bem no meio do ódio e da cólera momentânea entre os dois amantes, numa fazenda longe de qualquer vestígio de civilização. A câmera morta de Abranches faz do começo do filme um tédio total e os diálogos são tão inteligíveis quanto o próprio sentido da história, adaptada do conto de Raduan Nassar. Se a pornografia do conteúdo fosse assumida, até que seria um bom filme. O final diz tudo e ao mesmo tempo não diz nada. 72 - THOMAS CROWN - A ARTE DO CRIME * * * - The Thomas Crown Affair - 113 min - dir. John McTiernan - 1999 - Aventura O novo James Bond, Pierce Brosnan, é Thomas Crown, um milionário solteiro e complicado, que precisa ir ao analista desabar seus problemas. Problemas? Alguém assim pode ter algum problema? Bem, o hobby do sujeito não é nem um pouco convencional: roubar pinturas caras e sair normalmente pela entrada. Quem brinca com fogo acaba se queimando, não é mesmo? Depois de roubar um quadro de 100 milhões de dólares, a seguradora envia a experta Catherine Banning (Rene Russo, em cenas de nudez de tirar o fôlego) para ajudar a polícia a investigar o caso. Ela saca logo as manhas de Crown e fica ao seu encalço, mas acaba se apaixonando por ele. Precisa dizer mais alguma coisa? Uma história ágil e cheia de surpresas e muito romantismo, bem conduzida por McTiernan. A ótima química entre os dois protagonistas garantem ainda mais a divisão. Só faltou mesmo Brosnan se apresentar como “Crown. Thomas Crown”, mas esse é outro filme. 73 - GIA: FAMA E DESTRUIÇÃO * * * - Gia - 1 min - dir. Michael Cristofer - 1997 - Drama Telefilme que conta a trajetória da badalada modelo do título, desde traços da infância, sua descoberta, seu complicado caso amoroso com uma maquiadora, seu auge e sua decadência por causa das drogas, até descobrir-se com AIDS. A interpretação de Angelina Jolie (que lhe valeu um merecido Globo de Ouro) está bem acima da média, com uma característica forte do outro lado da complicada modelo e cenas de sexo e nudez picantes. É um filme bem conduzido, mesmo deixando perceber sua intenção de documentário, e ousado por mostrar que a verdadeira magia da moda é apenas um conto de fadas. Mesmo drogada e em estado decadente, os fotógrafos conseguem tirar uma ótima fotografia da modelo para a capa de alguma revista. Isso é a moda.

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74 - DOGMA * * * * - Idem - 128 min - dir. Kevin Smith - 1999 - Comédia Matt Damon e Ben Affleck são, respectivamente, Loki e Bartleby, dois anjos renegados por Deus e expulsos do Paraíso para vagarem eternamente pela insólita região de Wisconsim, EUA. Desesperados para voltarem para casa, descobrem uma saída: se passarem pelo arco de uma igreja no dia que ela completa seu centenário terão todos os seus pecados literalmente perdoados. Confiantes, eles partem em uma viagem para New Jersey, deixando para trás um bom número de matanças em nome do Senhor. Só que toda moeda tem seu outro lado. Se os anjos alcançarem seu objetivo, provarão que o Criador é falível, pondo em risco direto a total existência da humanidade. Num momento em que Deus se encontra desaparecido, Sua “Voz”, Metatron (Alan Rickman), contata a última descendente de Jesus Cristo, Bethany (Linda Fiorentino), que trabalha em uma clínica de aborto, para interpelar os anjos antes que seja tarde demais. Para isso, ela contará com a ajuda de dois profetas - a irreverente dupla Jay e Silent Bob - e a do 13o Apóstolo (Chris Rock), injuriado por ter ficado de fora da Bíblia pelo fato de ser negro. Com um humor acima do normal e uma inteligência cômica sem comparação, Kevin Smith nos embebeda com esta fábula divertida e bastante original. As citações a outros filmes, como o seu favorito, Star Wars, estão afiadas. Diálogos sarcásticos e situações de ironia incontestável fazem de Dogma seu melhor trabalho até agora. Em relação à toda polêmica em torno da história, é pura besteira. O filme faz uma crítica amena à Igreja Católica, mas sempre deixando visível sua intenção de diversão de primeira qualidade, além de nos fazer refletir sobre a nossa própria fé e nos fazer querer renovála e ampliá-la ainda mais. Realmente, Smith é o novo e sério candidato ao trono dos diretores e roteiristas de comédia. Mas não qualquer comédia, e sim aquela com o humor negro ultrapassando todos os limites, onde tudo é um ótimo motivo para uma piada bem escrochada. E ele não deixa escapar nada. Dogma é uma comédia antológica e cheia de grandes surpresas. Uma baita sessão para quem deseja boa diversão sem nenhum compromisso com a realidade. Para o improvável expectador que se sentir ameaçado, é só seguir as instruções do início do filme: não leve a sério. É isso aí. Amplie sua filosofia de vida e seu modo de encarar uma comédia. Das melhores. 75 - SEGUNDAS INTENÇÕES * * - Cruel Intentions - 98 min - dir. Roger Kumble - 1999 - Drama Esta versão adolescente do mesmo livro que deu origem a Ligações Perigosas até que surpreende pela competência e pelo modo não muito convencional de contar a história. Kathryn e Sebastian são meio-irmãos que adoram brincar de jogos sexuais nada inofensivos. A última aposta: a filha certinha do novo diretor do colégio. Ela é o novo objeto de desejo do rapaz, uma missão quase impossível. Caso ele não consiga tirar sua virgindade, perderá seu belo Jaguar preto conversível 1956 para a irmãzinha manipuladora. Agora, caso ganhe a aposta e mantenha intocável seu status de sedutor de primeira linha, terá a meio-irmã como prêmio, inteirinha e em sua melhor forma. Segundas Intenções é um filme bastante sensual e excitante, com um jovem elenco de primeira. Mesmo sendo a milésima versão da mesma história, consegue manter o interesse pelo

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modo como ela conseguiu se encaixar no tempo presente e como o diretor/roteirista fez esse feito sem escorregar em sua própria armadilha. Claro, é quase impossível não lembrar do filme de Stephen Frears ou do de Milos Forman, mas o tom adolescente dá a este vida e característica próprias. É uma grande pena que o final trágico que acompanha as outras versões não combine quase nada com a promessa inicial de Segundas Intenções. Filme adolescente com lição de moral dura e desnecessária (como é o caso aqui) não cheira bem... 76 - MISSÃO: IMPOSSÍVEL 2 * * * - M:I2 - Mission: Impossible 2 - 126 min - dir. John Woo - 2000 - Aventura - No Cinema Sem dúvida nenhuma, M:I2 supera em muito o seu antecessor. Aquele clima de suspense à Lá Hitchcock criado por Brian De Palma em 1996 dá lugar a um verdadeiro “filme de ação”, em seu mais puro sentido. Tom Cruise (em sua melhor forma) é mais uma vez o espião Ethan Hunt, que é tirado de suas dedicadas férias nas montanhas para recuperar um vírus mortal das mãos de Sean Ambrose (Dougray Scott, o príncipe de Para Sempre Cinderela), um agente renegado que pretende tornar-se bilionário com tal ameaça. Para isso, Hunt contará com a ajuda da bela ladra Nyah Hall (Thandie Newton), ex-namorada de Ambrose e por quem se apaixona logo no início do filme. Tirando a concepção simples e batida, Missão: Impossível 2 é uma sessão de cair o queixo. O responsável por essa proeza é o chinês John Woo (A Outra Face), o mestre dos “filmes de ação”. As cenas mais eletrizantes são de fazer o expectador pular e ficar à flor da pele. São inacreditáveis, desde a perseguição inicial de carro até Cruise montar numa moto e fazer piruetas de todos os jeitos possíveis (ou não) sobre ela. A câmera de Woo é, sem exagero, perfeita. Ele consegue nos fazer girar em torno da ação e captar o close perfeito para liberar toda a nossa adrenalina. As lutas também são um show de coreografia, uma mistura de todos os gêneros para nos conceber a melhor e mais inacreditável ação cinematográfica hollywoodiana. Mesmo que as reviravoltas do roteiro pareçam apenas enrolar a trama, M:I2, como diversão, é nota 10. Um típico filme para se torcer pelo herói até o último momento, e até mesmo quando a história acaba. Woo é mesmo um gênio do movimento. Imagine ele pegando um ótimo roteiro de uma aventura de James Bond? É, quem viver verá (ou não).

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77 - EVEREST * * * * - Idem - 44 min - dir. Greg MacGillivray, David Breashears e Stephen Hudson - 1998 - Documentário Acompanhamos a dura expedição de uma equipe de alpinistas até o topo do Monte Everest, vendo suas conquistas e seus fracassos e as tragédias que cruzam o seu caminho. Narrado por Liam Neeson, este documentário de primeira categoria contém uma riqueza de imagens e qualidade impressionantes. É como sermos arremessados aos desafios do frio e do cansaço sem sair de casa. Avalanches, tempestades de gelo, paisagens aéreas de cair o queixo, um pouco de História, tem de tudo um pouco aqui. Uma fascinante viagem ao pico mais alto do mundo. 78 - JOGOS, TRAPAÇAS E DOIS CANOS FUMEGANTES * * * * - Lock, Stock and Two Smoking Barrels - 105 min - dir. Guy Ritchie - 1998 - Comédia Quatro amigos se metem numa confusão dos diabos após acarretarem uma dívida de 500 mil libras, em uma partida de pôquer, com um perigoso mafioso da área. Com apenas uma semana para pagar a dívida, eles planejam assaltar uma gangue vizinha no momento em que esta dá um golpe milionário em um grupo de traficantes. Filme inglês com ótimo elenco e um roteiro extraordinário. O estreante Guy Ritchie mostra um talento inigualável, dono de um humor fantástico. Várias seqüências de videoclip tornam o filme ainda mais inovador e com cara de cinema alternativo. Chega a certo ponto da história em que parecemos estar diante de uma clássica tragicomédia inglesa. Surpreendente do início ao fim. 79 - QUERO SER JOHN MALKOVICH * * * * - Being John Malkovich - 112 min - dir. Spike Jonze - 1999 - Comédia - No Cinema No cinema, hoje em dia, é um pouco difícil assistir a um filme muito bom e muito original ao mesmo tempo. São um ou dois por ano. Podemos citar O Show de Truman, Clube da Luta, Três Reis, entre algumas raras pérolas que surgem de surpresa para nos tirar da monotonia do cinema norte-americano. Quero Ser John Malkovich é com certeza um dessas pérolas. Esquisito, doentio, perturbador (em certos trechos), inimaginável. Faltam adjetivos para essa estréia de Spike Jonze (indicado para Melhor Diretor), que sem dúvida ainda vai desafiar a compreensão de muita gente. John Cusack é um manipulador de marionetes fracassado por causa da modernidade tecnológica. A incessante pedido de sua mulher (Cameron Diaz, feia como nunca), ele arruma um emprego como arquivista no sétimo andar e meio de um enorme edifício. Entre suas tentativas de agradar o chefe de mais de cem anos de idade e conquistar sua conquistar sua colega de trabalho (Catherine Keener, indicada para Melhor Atriz Coadjuvante), acaba descobrindo uma portinhola em sua sala que dá acesso direto a quinze minutos no cérebro de

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John Malkovich, sendo em seguida arremessado do outro lado da cidade. Você já quis ser outra pessoa? Ver o mundo através de outros olhos? Uma baita experiência, não é mesmo? Pensando nisso, o arquivista e sua futura amante põem um anúncio no jornal e passam a alugar o cérebro do ator por duzentos dólares. O roteiro de Charlie Kaufman (outra indicação ao Oscar) era teoricamente “infilmável”, mas praticamente uma grande história, cheio das mais inesperadas surpresas (o que aconteceria se Malkovich entrasse em seu próprio cérebro?). O romance entre as duas mulheres da história através de John Malkovich é simplesmente brilhante. O clima surreal, que atenua significativamente a obsessão dos personagens, dá a Spike Jonze a oportunidade perfeita de fazer de sua câmera um personagem dentro da trama, no meio de todo o caos psicológico e toda a loucura que desfilam diante de nossos olhos por quase duas horas consecutivas. Realmente, Quero Ser John Malkovich é uma experiência diferente, que vai além da simples diversão de ver um grande filme de arte alternativo. Tomara que essa tendência vire moda, e que mais filmes ousem desafiar as leis físicas, como este fez. 80 - ALTO CONTROLE * * * - Pushing Tin - 123 min - dir. Mike Newell - 1999 - Comédia À primeira vista, este filme não tem nada de especial. A história de dois controladores de tráfego aérea que criam uma birra infantil um com o outro, pondo o trabalho e suas vidas pessoas em perigo parece mais um daqueles filmes bestas e descartáveis. E seria, não fosse pela direção dentro do ritmo e do elenco envolvido. John Cusack está muito bem em seu personagem, que aos poucos vai perdendo o controle das coisas e de si mesmo, ao lado de um misterioso e interessante Billy Bob Thornton. Um simpático passatempo, que ainda conta com Cate Blanchett e Angelina Jolie. É só não esperar grande coisa. 81 - OS PICARETAS * * * * - Bowfinger - 96 min - dir. Frank Oz - 1999 - Comédia Prepare-se para rir como nunca. Steve Martin é um diretor de cinema de segunda categoria que reúne uma equipe de desajeitados para filmar o roteiro de seu contador. O único grande problema é: o astro Kit Ramsey (Eddie Murphy) está no momento indisponível. Mas para (quase) tudo se tem um jeito. Eles passam a filmar o ator escondido para depois inseri-lo no filme sem que ninguém perceba nada. Quando Kit se interna por algum tempo para tratar de sua paranóia em relação a extraterrestres invadindo a Terra, o diretor arruma um sósia (novamente Eddie Murphy) para dar continuidade às filmagens. Uma das comédias mais engraçadas e geniais sobre cinema que Hollywood já produziu. Steven Martin, além de excelente ator, mostra-se um roteirista de primeira categoria. Junta-se ainda o diretor Frank Oz e tem-se diversão mais que garantida. Eddie Murphy arrasa em seu papel duplo, junto com um hilariante elenco secundário. Quem espera por uma comédia besta, vai se surpreender e morrer de rir do início ao fim.

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82 - PÂNICO 3 * * * * - Scream 3 - 116 min - dir. Wes Craven - 2000 - Terror - No Cinema Não é nenhum exagero dizer que Wes Craven pode ser considerado o mestre dos filmes de terror, afinal foi único da safra das décadas de 70/80, que tinha nomes como Tobe Hooper, Tom Holland e Roger Corman (John Carpenter não vale), que continua fazendo seus filmes serem grandes sucessos no cinema e em vídeo. Ele praticamente ressuscitou o terror adolescente com a série Pânico, que, resumidamente, narra três fases na vida de Sidney Prescott (Neve Campbell) após o brutal assassinato de sua mãe. Nesta terceira e última parte, o pesadelo fantasiado volta no set de filmagem de “A Punhalada 3”, terceiro filme baseado no massacre de Woodsboro e no campus universitário do filme anterior, onde os atores do filme estão sendo apunhalados de acordo com a seqüência de mortes do roteiro. Quando Sidney começa a ter alucinações com o espírito da mãe e recebe a “ameaça telefônica”, que é a marca registrada da série, ela resolve encarar o terror novamente ao lado do policial Dewey e da repórter oportunista Gale Weathers (David e Courtney Cox Arquette, agora casados na vida real). Assim como nos dois primeiros filmes, as regras da conclusão de uma trilogia são dadas - tudo pode acontecer -, fazendo aquele espírito de autocrítica continuar vigorando e divertindo. É bom saber bem a história dos filmes anteriores, pois aqui toda a verdade do passado é finalmente revelada, e realmente é uma grande surpresa. Craven nos prega incontáveis sustos e conduz bem uma história no mínimo interessante, além de ser a mais humorada das três partes. Não é um filme surpreendente, mas merece quatro estrelinhas por nos divertir bastante com os velhos clichês do gênero e fechar muito bem a série, sendo até mesmo convincente. Pânico 3 conclui uma das séries mais divertidas do cinema e com êxito. Agora é esperar que outra surja. Apenas de três, pois ninguém tem mais saco para não-sei-quantos Jasons e Freddy Kruegers. 83 - DINOSSAURO * * * * - Dinosaur - 82 min - dir. Ralph Zondag e Eric Leighton - 2000 - Infantil - No Cinema A Disney conseguiu um feito: fez um dos mais belos filmes que já tivemos o prazer de ver pelas telas dos cinemas. Aladar, um iguanodonte de bom coração e único sobrevivente de um ataque de carnotauro, cresce em paz numa ilha habitada por lêmures, até uma devastadora chuva de meteoros dar fim ao lugar e à metade do planeta. Aladar e seus amigos acabam se juntando a uma manada de dinossauros em busca da Área dos Ninhos, o último paraíso na Terra. Na difícil viagem, que lhe reserva grandes desafios, nosso protagonista entra em conflito com Kron, o líder dawinista do grupo, por querer ajudar duas velhas senhoras, Baylene e Eema, que não podem acompanhar o ritmo de caminhada. O realismo das imagens é surpreendente e assustador. A técnica de unir cenários reais com uma brilhante computação gráfica é uma inovação de cair o queixo de crianças e adultos. Parece realmente que estamos vendo dinossauros de verdade, com a única diferença deles falarem e demonstrarem sentimentos humanos. Apesar do roteiro ficar bem atrás da atração visual, Dinossauro é uma experiência única e gratifi-

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cante: há seqüências frenéticas e bonitas mensagens. A beleza das tomadas aéreas é algo indescritível. Terminando, a Disney nos proporcionou uma bela e fascinante viagem no tempo, a um mundo que só existe no cinema. Palmas para o Mickey e seu império. Estamos muito agradecidos. 84 - UM TIRO DE MISERICÓRDIA * * * - State of Grace - 133 min - dir. Phil Joanou - 1990 - Policial Depois de doze anos sem se verem, dois amigos se reencontram num bairro violento de Nova Iorque, controlado por mafiosos da pesada. Um é delinqüente e o outro um tira disfarçado. Acabam vivendo dias de muita tensão. Embora esta resenha não pareça grande coisa, Um Tiro de Misericórdia é um filme bastante interessante e que deve ser visto, com uma trama bem armada e uma grande intensidade dramática graças ao elenco de estrelas, como Sean Penn, Gary Oldman, Ed Harris, Robin Wright Penn, John C. Reilly. Destaca-se de outros filmes do gênero por saber muito bem tratar e expor sentimentos, como culpa, ódio e amor. Aqui, a última bala é a que conta. 85 - AMOR À QUEIMA ROUPA * * * - True Romance - 120 min - dir. Tony Scott - 1993 - Ação Embora a direção de Scott seja a mesma de sempre, o roteiro e o elenco garantem o interesse e diversão. Rapaz (Christian Slater), filho de ex-policial, apaixona-se por garota de programa (Patricia Arquette), assassina o cafetão dela (Gary Oldman) e foge com meio milhão de dólares em cocaína de um mafioso barra-pesada. Já deu para perceber a tremenda confusão que começa quando o casal vai para Califórnia e tenta vender a droga para um produtor de cinema. Muito sangue e tiros recheiam este “romance verdadeiro”, como o título em inglês sugere. Parece uma mistura de Bonnie & Clyde com Assassinos por Natureza. No final, percebemos que é apenas uma história de amor e que tudo acaba em pizza. Do melhor sabor, claro. 86 - BOM DIA, VIETNÃ * * * * - Good Morning, Vietnam - 120 min - dir. Barry Lewinson - 1987 - Drama Robin Williams surpreende na pele de um disc-jóquei irreverente que assume um horário na rádio do exército em Saigon em plena Guerra do Vietnã. Entre uma piada e outra, ele aproveita para fazer críticas à política, ao exército americano e (por que não?) à própria guerra. Sem dúvida, Barry Lewinson fez um dos melhores filmes já feitos, sobre essa guerra em particular, ao lado de Nascido em 4 de Julho, de Oliver Stone. O roteiro mescla comédia, drama e guerra na medida exata, transformando o filme num pequeno clássico. É uma visão restrita da guerra, mas que parece abranger toda ela. As tiradas musicais do DJ são de primeira, tentando amenizar o sofrimento e o tédio do conflito. Grandes interpretações do elenco secundário num filme obrigatório.

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87 - TITAN * * * * - Titan A.E. - 94 min - dir. Don Bluth e Gary Goldman - 2000 - Ficção - No Cinema Os dois diretores do belíssimo desenho Anastasia provam aqui que realmente são bons no que fazem. Quinze anos após a literal destruição da Terra, o jovem Cale é um dos poucos humanos que restaram no Universo. Ele é encontrado pelo capitão Joseph Korso, que precisa de sua ajuda para achar Titan, uma gigantesca nave visionária, projetada pelo pai do rapaz, capaz de assegurar a sobrevivência da espécie humana. Terão como inimigo os terríveis Drej, espécie reinante na galáxia feita de pura energia, que desejam destruir a nave. Com um roteiro de primeira e um visual emudecedor, este desenho de ficção chega a ser uma parada obrigatória pela intensa diversão que proporciona. Todo o filme é de tirar o fôlego. Seqüências inacreditáveis rodeiam toda a história. Um trabalho de cair o queixo pela beleza das imagens, mesmo se tratando de apenas de um desenho. As músicas rock/pop lembram muito outro cult do gênero, Heavy Metal Universo em Fantasia, embora Titan seja mais censura livre e mais bem elaborado. Como se não bastasse a proeza de ser visualmente perfeito e ter uma das melhores direções já vistas em um desenho, a história é cheia de reviravoltas e sacadas inteligentes. Enfim, uma aventura espacial para ninguém botar defeito. 88 - TRAZIDO PELO MAR * * * - Swept from the Sea - 114 min - dir. Beeban Kidron - 1997 - Romance Sir Ian McKellen é o narrador desta bela história de amor sobre um náufrago russo (Vincent Perez) que se apaixona por uma bela e misteriosa camponesa (Rachel Weisz) num vilarejo litorâneo inglês. Juntos vão enfrentar o ódio e o preconceito dos habitantes do lugar. Uma produção caprichada e uma condução que deixa a história fluir por si só, num filme aparentemente sem muitas surpresas mas bonito de se ver e com um elenco muito esforçado garantem o fácil entretenimento. O fim trágico realça o romantismo e o suave melancolismo do roteiro. 89 - UM ROSTO SEM PASSADO * * - Johnny Handsome - 91 min - dir. Walter Hill - 1989 - Policial Mickey Rourke é um ladrão deformado que, depois de cair numa cilada, tem o melhor amigo assassinado e vai preso. Na prisão, submete-se a uma cirurgia de reconstrução facial e sai em liberdade condicional com uma nova identidade, na esperança de começar uma vida diferente. Mas o passado fala mais alto e ele traça um plano de vingança contra aqueles que o traíram. O diretor Hill conduz com a seriedade de sempre uma história interessante mas que despenca em clichês da metade para o final. O desenvolvimento pouco criativo da fita prejudica o resultado. O filme conta ainda com a bela Elizabeth McGovern, Forest Whitaker, Lance Henriksen e Morgan Freeman, desonesto como nunca.

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90 - SABOTAGEM * * * - Sabotage / A Women Alone - 76 min - dir. Alfred Hitchcock - 1936 - PeB - Suspense Dono de um cinema na Londres dos anos 30 comete sabotagens para um sujeito misterioso, que deseja iniciar o caos na cidade. Esta pérola da fase inglesa do mestre contém a tensão suficiente de um bom suspense clássico. A simplicidade do roteiro deixa o diretor e sua infalível câmera bastante à vontade para nos proporcionar mais uma grata experiência cinematográfica, com aquele humor de sempre. O final conta com algumas surpresas e uma tragédia. 91 - O PATRIOTA * * * - The Patriot - 164 min - dir. Roland Emmerich - 2000 - Drama - No Cinema Já era a hora do diretor Emmerich provar que leva a sério aquilo o que faz. Depois de brincar de cinema com filmes de ficção científicas nada originais e inteiramente descartáveis, com Independence Day e Godzilla, ele ousou se aventurar em um filme sério e - surpresa! - surpreende. Mel Gibson é Benjamin Martin, um fazendeiro viúvo e pacifista, que tenta seguir em paz com sua vida ao lado dos sete filhos. Só que os tempos não são nem um pouco de calmaria. As colônias americanas estão dispostas a iniciar uma terrível guerra contra a Inglaterra em prol de sua independência, a qual Martin é literalmente obrigado a participar junto com o filho mais velho depois que sua família é posta em perigo. O roteiro de Robert Rodat (O Resgate do Soldado Ryan) arma brilhantemente uma trama de vingança, fazendo o protagonista viver uma guerra bem particular, mesmo que a causa fale mais alto. A direção de Emmerich flui com uma naturalidade surpreendente e segue direitinho do início ao fim, tornando O Patriota um filme belo e fácil de se ver. A produção é outro ponto alto, com batalhas bem encenadas e o uso (quase) discreto de efeitos especiais. Gibson comprova que é um dos melhores atores americanos, com seu personagem que muda de temperamento como as fases da lua. O elenco secundário também se destaca, embora sejam quase todos desconhecidos. Já o patriotismo, aqui ele levado ao extremo como nunca antes visto. É só não ligar muito para isso, nem para os momentos feitos sob medida para o expectador se emocionar, e curtir a boa sessão histórica. 92 - MALCOM X * * * * - Idem - 192 min - dir. Spike Lee - 1992 - Drama Não haveria diretor melhor que Spike Lee para narrar com competência e sabedoria a trajetória de Malcom Little (Denzel Washington, que ganhou uma mais que justa indicação ao Oscar), um grande líder negro que fez história nas décadas de 50/60 depois de sair da prisão. Lee, que também atua, criou uma obra completa, em que fica bem caracterizada a vida e morte do personagem-título e a obsessão dos negros pelos

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os brancos e vice-versa, assim como a sociedade e os acontecimentos marcantes da época. Um filme que merece ser visto e apreciado. 93 - SONHOS DE UMA NOITE DE VERÃO * * * - A Midsumer Night’s Dream - 116 min - dir. Michael Hoffman - 1999 - Comédia Romântica Um elenco de astros se reúne neste divertido filme do mesmo diretor de O Outro Lado da Nobreza. Aqui, várias intrigas amorosas se cruzam em uma floresta encantada por fadas e duendes atrapalhados no século XIX. Essa clássica peça de Shakespeare foi transporta por Hoffman para o cinema com muita magia e aquele tom de fábula. É um filme deslumbrante e muito competente. Entre os atores estão Kevin Kline, Sophie Marceau, Rupert Everest, Christian Bale e Michele Pfeiffer, como a Rainha das Fadas. 94 - BATES MOTEL * - Idem - 95 min - dir. Richard Rothstein - 1987 - Suspense De todas as distorções ou homenagens já feitas ao clássico de Hitchcock, Psicose, esta sem dúvida deve ser a pior delas. Alex é uma pessoa estranha e insociável, cheios de traumas e abusos na infância. Passa vinte e sete anos internado num hospício, onde torna-se grande amigo de Norman Bates. Quando este morre, Alex herda o velho e assombrado motel, para onde vai tentar reconstruir sua vida após ser liberado pelos médicos. Este telefilme tenta recriar o clima e a tensão que deixou muita gente roendo as unhas em 1960 e escorrega feio no próprio erro. O roteiro é altamente besta e imprevisível, além de não ter senso de coisa alguma. Um filme que serve apenas para sujar o nome do primeiro grande psicopata do cinema americano. Aqui, nem o pai de Bates escapa da vergonha. 95 - VIDA DE SOLTEIRO * * * - Singles - 99 min - dir. Cameron Crowe - 1992 - Comédia Romântica O diretor e roteirista Crowe soube muito bem fazer sua caracterização do adultoadolescente que sempre parece indeciso diante da vida à sua frente. Vida de Solteiro retrata uma ciranda de paixões e desencontros pela cidade de Seatle, embalado ao som de muito pop e rock’n’roll. Dois casais se destacam: Matt Dillon é um roqueiro e Bridget Fonda, sua namorada mal usada e Scott Campbell e Kyra Sedgwick, como o casal maduro da história. Um filme com um bom astral e um roteiro inteligente. Boa pedida para uma manhã de domingo.

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96 - MINHA VIDA DE CACHORRO * * * * - Mit Liv Som Hund - 100 min - dir. Lasse Hallström - 1985 - Drama Pode ser até um tanto exagerado dar quatro estrelas para esse filme sueco de baixo orçamento, mas o fato é que o trabalho que consagrou o diretor Hallström nos Estados Unidos consegue nos cativar do início ao fim. O personagem aqui é Ingemar, um garoto travesso e filósofo nato, que é obrigado a se separar do irmão mais velho e da cadela de estimação para ir passar um tempo com o tio numa cidadezinha no interior da Suécia por conta da mãe doente. A sensibilidade com a qual a história é narrada chega a impressionar. Quem já assistiu a Gilbert Grape e Regras da Vida sabe muito bem da sabedoria deste sueco em contar uma boa história. Personagens de todos os tipos e um clima acentuado de nostalgia num filme raro e que rezamos para não acabar nunca. Quando o belo final fecha esta sensível experiência de vida e descobrimento, ficamos com uma enorme vontade de ver tudo de novo, assim como a nossa vida. 97 - TENTAÇÃO FATAL * - Teaching Mrs. Tingle - 96 min - dir. Kevin Williamson - 1999 - Suspense Em toda a nossa vida escolar, sempre há aquele(a) professor(a) que nos amedronta mais que o Bicho Papão. Aquele tipo que sempre pega no nosso pé só para nos ver tremer nas bases. Quem nunca pensou em pegar essa pessoa e dar uma bela e nem um pouco suave lição nela? Com essa idéia na cabeça, o consagrado roteirista de Pânico achou que era a hora de se aventurar pelos campos da direção. Escorregou feio na própria ambição. Tanto sua fraca câmera quanto seu roteiro besta amargam qualquer expectador que não exija muita coisa de um simples filme de suspense medíocre. Poucos dias antes da formatura, três estudantes resolvem prestar contas com Mrs. Tingle, a professora mais megera e sem coração que já passou pelo cinema, e acabam fazendo-a de refém em sua própria casa. O desenvolvimento dessa trama subversiva e que deveria nos deixar empolgados é uma grande piada de mau gosto. Besta e completamente descartável, Tentação Fatal conseguiu dar uma lição: o ego deve vir bem atrás da criatividade. 98 - 60 SEGUNDOS * * * - Gone in Sixty Seconds - 117 min - dir. Dominic Sena - 2000 - Aventura - No Cinema O produtor Jerry Buckheimer tem a cara dos filmes que produz, rápidos como um foguete em que o cérebro é um instrumento totalmente desnecessário. Aqui, rapidez é o que não falta e ele volta a trabalhar com Nicholas Cage, astro de A Rocha. Cage é um ex-ladrão de carros aposentado, que largou toda a sua antiga vida para viver tranqüila e honestamente como frentista. Mas ele é obrigado a voltar à ativa depois que seu irmão mais novo, também do ramo, mete-se com um perigoso chefão de Long Beach. Para salvar-lhe a pele, reúne às pressas sua velha equipe para em uma só noite roubar cinqüenta carros. A direção de Sena (Kalifórnia - Uma Jornada ao Inferno) tem fôlego su-

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ficiente para acompanhar a trama. A fotografia do filme é outra coisa a se notar, muito bem adequada para um desenfreado videoclip. O roteiro simples, sem muitas surpresas e previsível incomodará os mais exigentes, mas, cá pra nós, não se deve esperar muito, além de um bom acompanhamento musical pop, desse tipo de filme. O melhor de 60 Segundos, sem dúvida, é a perseguição final de carro ao intrépido personagem de Nicholas Cage. No elenco secundário, estão Angelina Jolie, Robert Dulvall e Delroy Lindo. 99 - TENHA FÉ * * * * - Keeping the Faith - 127 min - dir. Edward Norton - 2000 - Comédia Romântica - No Cinema Muitos comentam e a crítica confirma: Edward Norton é um dos melhores atores, senão o melhor, de sua geração. Prova absoluta disso é este Tenha Fé, que, além de atuar, marca sua promissora estréia como diretor. Ele e Ben Stiller são os melhores amigos de todo o sempre. Um é padre e o outro rabino, solteiros convictos, que passam por uma fase boa em suas vidas e carreiras na atual Nova York. As coisas começam a mudar com a chegada da bela Jenna Elfman, que interpreta a grande amiga de infância dos dois, agora uma poderosa executiva. Inicia-se então um incomum triângulo amoroso. Mesmo com um enredo simples, este filme surpreende pelo modo como trata dos temas envolvidos. Muito simpático, é feito sob medida para se rir de leve durante toda a história e se identificar com a vida dos protagonistas. Stiller é o responsável pelas cenas mais engraçadas, mas Norton é quem brilha quando aparece. Diálogos bastante inteligentes, que são irônicos e maduros na hora em que devem ser. Este é um ponto alto do filme: o roteiro prossegue até o fim de forma adulta e convincente, tendo alguns toques de magias necessários. Um belo trabalho, sem dúvida. 100 - X-MEN - O FILME * * * - X-Men - 104 min - dir. Bryan Singer - 2000 - Ficção - No Cinema Esta é, sem dúvida nenhuma, uma das adaptações dos quadrinhos mais aguardadas da história desde os anos 70, quando os X-Men, uma nova evolução do homo sapiens dotada de extraordinários poderes que variam de indivíduo para indivíduo, atracaram nas bancas de jornais de todo o mundo. Eles são mutantes, odiados pela humanidade mas que dispuseram-se a protegê-la dos que desejam sua total extinção, sob o comando do telepata pacifista Charles Xavier. O diretor Bryan Singer, responsável pelo excelente Os Suspeitos e pelo perturbador O Aprendiz, jura nunca haver lido nenhuma revista desses anti-heróis até ser convocado para transpo-los para o cinema. O trabalho de Singer era fazer um filme que agradasse tanto ao fãs dos X-Men quanto aos que nunca leram sequer uma linha sobre eles. Se levarmos em conta os 54,5 milhões de dólares arrecadados só na semana de estréia do filme, então é certeza absoluta afirmar que o diretor cumpriu sua missão. Começamos na Polônia em 1944, plena 2a Guerra Mundial, quando o jovem judeu Eric Lensher, que mais tarde se tornaria Magneto, é separado de sua família e incrivelmente entorta um imenso portão de ferro. Pulamos diretamente para um futuro não muito distante, onde transcorre a trama do filme. En-

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quanto o senador Kelly (Bruce Davison) lidera uma campanha de registro de mutantes e causa tumulto no congresso, a jovem Vampira (Anna Paquin), que fugiu de casa por ter descoberto seus poderes mutantes  absorver a energia vital de quem toca  ao beijar o namorado e deixá-lo em coma por três semanas, encontra o protagonista da história, Wolverine (Hugh Jackman), brigando em um bar em troca de dinheiro. Os dois são atacados pelo terrível Dentes-de-Sabre (nos quadrinhos ele é o inimigo número 1 de Wolverine e aqui não passa de um mero capanga de Magneto), do qual são salvos pelos X-Men Ciclope e Tempestade (James Mardsen e Halle Berry) e levados para a Escola para Jovem Superdotados do Professor Xavier (Patrick Stewart). Do lado dos vilões, estão Mística (Rebecca Romijn-Stamon), Groxo (Ray Park, o Darth Maul de A Ameaça Fantasma) e Dentes-de-Sabre (o grandão Tyler Mane), liderados por Magneto (Sir. Ian Mckellen), que possui um catastrófico poder sobre o magnetismo. Ex-amigo de Xavier, este mutante é extremamente vingativo e, ao contrário do outro, acredita na supremacia de seus “irmãos” sobre a espécie humana, que deverá ser conquistada em uma guerra que estaria por vir. Para isso, Magneto traça um plano devastador envolvendo um importante encontro de líderes mundiais da ONU. Até a metade da fita, XMen - O Filme mostra-se bastante interessante, mas morno para quem espera por uma baita aventura de seqüências eletrizantes ininterruptas. Melhora quando Magneto põe seu mirabolante plano em prática. O roteiro enxuto surpreende por tratar também de temas sensíveis como preconceito, medo, rejeição, fuga, coisas que são comuns em nossa sociedade hoje em dia. Apesar de em algumas partes o filme parecer nos agradar como um todo, fica a dever muito daquilo que deveria ser “a aventura” e não “uma aventura dos X-Men”. O visual é arrojado, efeito especiais incríveis e tal, porém não chega nem perto de ser algo espetacular. Talvez o roteiro seja um importante fator de influência. A história é legal e muito bem amarrada, não deixa nada ao léu e contém algumas grandes surpresas... Mas é condensada demais. Muito simples e previsível. Até uma criança escreveria algo como o que filme mostra. Deixa bem claro o nervosismo dos produtores por trás de cada cena, cada diálogo, reduzidos ao máximo (até mesmo os poderes dos mutantes ficaram contidos). O clima criado por Bryan Singer e sua direção segura e bem orquestrada fazem disso apenas detalhes. Mas são detalhes que se notam. Poderia ser algo mais devastador e impactante? Sim, com certeza. Em vez disso, criaram uma história pequena, certinha, que finge satisfazer o público, mas que na verdade nem chega a se igualar à nossa expectativa. É quase correto dizer que foi o mesmo que houve com Star Wars - Episódio I, outro filme “hiperaguardado” que decepcionou milhões de fãs. Bem, depois de tudo o que foi dito aqui, parece até que X-Men é uma total decepção, mas na verdade não é. O intérprete do desmemoriado Wolverine, o australiano Jackman, é um verdadeiro achado. Com adamatium implantando cirurgicamente para reforçar seu esqueleto, um incrível fator de cura e garras de ferro que saltam de seus antebraços, Wolverine é uma verdadeira arma mortal. Embora suas lutas sejam poucas, uma contra Mística e outra contra Dentes-de-Sabre, dá para se ter uma noção de que o cara, dono de uma ironia sem igual e “caído” pela namorada de Ciclope, Jean Grey (Famke Janssen), não está para brincadeira. É dele as cenas mais engraçadas da fita, além de ser um dos personagens mais humanos. Apesar de tudo, X-Men - O Filme é uma diversão mais que recomendável para matar a ansiedade de ver ali em carne e osso os heróis mais rentáveis dos quadrinhos, em uma adaptação que supera quase todas já feitas. Sendo apenas esse o motivo de dar uma espiada no filme, então os detalhes registrados aqui passarão completamente despercebidos.

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101 - AFINADO NO AMOR * * * - The Wedding Singer - 97 min - dir. Frank Coraci - 1998 - Comédia Romântica O ano é 1985. Robbie (Adam Sandler) é um cantor de casamentos que entra na maior fossa após ser abandonado no altar pela noiva. Mas o destino o faz se apaixonar por uma garçonete caipira (Drew Barrymore, bonitinha) que está de casamento marcado com um recém-ricaço de Wall Street. Desde o início já sabemos o final dessa história, mas o carisma do elenco, o clima do filme e as tiradas do roteiro nos fazem querer ir até o fim, sem aquele sentimento besta de estar assistindo a um filme assumidamente mel com açúcar. Sandler e Barrymore formam um casal muito simpático. As músicas dos anos 80 são outro pretexto para alugar Afinado no Amor. 102 - ATRAÍDOS PELO DESTINO * * * - It Could Happen to You - 103 min - dir. Andrew Bergman - 1994 - Comédia Romântica Policial mais que honesto (Nicholas Cage) vê sua vida mudar repentinamente ao ganhar na loteria e dividir o prêmio de 4 milhões com uma bela garçonete (Bridget Fonda). O diretor Bergman (Striptease) fez aqui um belo filme, com um roteiro inteligente e boas atuações. Atraídos pelo Destino é aquele tipo de filme em que o expectador, sem querer, se vê atraído pela história e pelo clima divertido dela. É como um conto de fadas bastante moderno, e torna-se ainda mais impressionante saber que foi baseado é um fato verídico ocorrido na cidade de Nova York. Uma boa pedida para relaxar a mente e curtir um romance ao acaso. 103 - PREMONIÇÃO * * * - Final Destination - 97 min - dir. James Wong - 2000 - Terror - No Cinema Dos “filhotes” da geração Pânico, este talvez seja o mais interessante deles. Jovem estudante está prestes a viajar para a França em uma excursão do colégio. A bordo do avião, tem uma premonição do mesmo explodindo logo após a decolagem. É o que acontece, não sem antes ele sair da aeronave arrastando mais seis pessoas. Quando os sobreviventes começam a morrer misteriosamente, descobrem que haviam simplesmente enganado a Morte, que traça um novo “destino final” para cada um deles. A tensão do começo vem anunciando um filme daqueles. Até que Premonição não decepciona tanto. Há os velhos clichês de sempre e todo aquele blá blá blá comercial de um peixe que deve ser bem vendido. No entanto, o roteiro que, apesar de alguns buracos, não derrapa muito e que formula uma trama que tem rumo e o clima assustador garantem uma boa diversão, oscilando entre um bom suspense e um terror nem tanto devastador. Um filme muito competente, que cumpre bem o seu papel e conta ainda com uma pe-

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quena participação de Tony Todd, o Candyman. Bem, a Morte pode não ser infalível, mas ela é certa. 104 - INSPETOR BUGIGANGA * * * - Inspector Gadget - 78 min - dir. David Kellogg - 1999 - Comédia O desenho animado do Inspetor Bugiganga é pela primeira vez transposto para o cinema em um filme enxuto e bastante divertido. O eterno garoto Matthew Broderick interpreta o guarda de segurança John Brown, amado por todos, principalmente pela sua sobrinha, mas infeliz por não ser um policial de verdade. Após se acidentar gravemente durante uma perseguição, John vira cobaia do Projeto Bugiganga, o qual visa à criação de um policial robótico “faz-tudo”. Nasce então o inspetor mais famoso da cidade, que precisa de apenas uma chance para ser realmente levado a sério. Rupert Everest é o vilão dr. Claw, arquinimigo de Bugiganga, que adora tramar coisas diabólicas junto com seu perverso gatinho. Num ritmo bem agitado, e sendo bastante fiel ao clima do desenho, Inspetor Bugiganga, o filme, apesar de toda a sua infantilidade, acaba se tornando um bom divertimento para quem ainda guarda aquele espírito de criança. Só não exagere na dose. 105 - A COR DO DINHEIRO * * * - The Color of Money - 1 Oscar - 117 min - dir. Martin Scorsese - 1987 - Drama Paul Newman arrecadou merecidamente um Oscar de Melhor Ator pela sua brilhante atuação como Eddie Felson, um ex-jogador de bilhar que vê sua vida recomeçar com o jovem talentoso e arrogante Vincent (Tom Cruise), o qual o toma como seu pupilo, na esperança de lhe ensinar tudo o que deve saber sobre a arte do jogo e de ganhar dinheiro. Cruise não fica nem um pouco atrás e surpreende em seu personagem. Scorsese narra com uma direção bem caprichada e cheia de truques. Um filme bastante interessante, que conta ainda com a bela atuação de Mary Elizabeth Mastrantonio e as participações de John Turturro e Forrest Whittaker. Obrigatório. 106 - EU TU ELES * * * - Idem - 102 min - dir. Andrucha Waddington - 2000 - Comédia - No Cinema Regina Casé impressiona em sua atuação contida como Darlene, uma nordestina forte e batalhadora que consegue botar três maridos para conviver em uma mesma casa: o folgado e ranzinza Osias (Lima Duarte), o apaixonado e carinhoso Zezinho (Stênio Garcia) e o mais jovem e viril de todos, Ciro (Luiz Carlos Vasconcelos). A incrível história da protagonista  muito real  poderia descambar para algo bastante irregular, se não fossem uma direção segura e um belo roteiro que consegue equilibrar comédia e drama com toques de sensibilidade e sem cair na pieguice. A câmera de Waddington realça significamente a sobriedade do sertão sem nos fazer agonizar e capta bem as emoções que ocorrem na tela. É um filme feito de belas imagens para se guardar na

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memória e possui uma linda fotografia. Eu Tu Eles é sem dúvida uma sessão indispensável e surpreendente, pois tem como objetivo apenas divertir com uma história bastante incomum, com uma produção caprichada. É o cinema nacional mostrando-se vigoroso e muito competente. Bem acima da média. 107 - DE CASO COM O ACASO * * * * - Slinding Doors - 99 min - dir. Peter Howitt - 1998 - Romance Gwyneth Paltrow interpreta Helen, uma publicitária londrina que, no mesmo dia em que é despedida da empresa onde trabalha e cheio de machistas, passa a ser duas pessoas diferentes em vidas paralelas. Isso mesmo. Enquanto uma pega o metrô, por uma fração de segundos, e flagra o namorado com uma amante, para logo em seguida se apaixonar por um sujeito super-engraçado, com a outra acontece justamente o contrário. Dava muito bem para ser mais específico em relação às duas histórias que se intercruzam ao acaso, mas isso poderia estragar o prazer e a surpresa de se assistir a este De Caso com o Acaso, que pode ser resumido como uma história de amores, mentiras e traições contada sob um ponto de vista nada convencional. O roteiro do próprio diretor é inteligente o bastante para não tentar ser original como um todo, mas apenas um pouco diferente e bastante divertido. Muito bem amarrado, acima de tudo é um filme que exige uma certa concentração do expectador para que este não perca nenhum detalhe e nem se perda no meio das duas tramas. Surpreendente. 108 - MAR EM FÚRIA * * * - The Perfect Storm - 129 min - dir. Wolfgang Petersen - 2000 - Aventura - No Cinema George Clooney é o líder da embarcação pesqueira Andrea Gail, que, por causa da fraca pescaria da última temporada, resolve convocar novamente sua equipe e navegar mais uma vez atrás de peixe. Aos poucos, o Andrea Gail vai se afastando em direção ao leste, para uma região de vida marinha abundante. Com a missão cumprida, é hora de voltar para casa. Porém, no meio do caminho, eles pegam o encontro entre várias tempestades: a tempestade perfeita. Mesmo sendo alertado, o capitão e sua tripulação resolvem tentar atravessar a tormenta, e a partir daí temos os mais espetaculares gráficos envolvendo um terrível mar em fúria. A recriação da verídica história ocorrida em 1991 é um verdadeiro show de efeitos especiais de cair o queixo. Esqueça o roteiro (que literalmente foi esquecido pelos produtores) e esqueça George Clooney e o resto do elenco, que inclui Mark Wahlberg, Diane Lane, Mary Elizabeth Mastrantonio, John C. Reilly. O verdadeiro astro aqui, sem dúvida, é a própria tempestade. Incríveis rajadas de vento, ondas gigantescas, um barco à deriva bem no centro do inferno, tudo com um realismo emudecedor  uma real interação entre atores e computação gráfica , digno ao menos de uma indicação ao Oscar. Mar em Fúria realmente consegue fazer o expectador se sentir dentro de todo aquele caos e desespero. Se esse feito não foi graças ao competente diretor nem aos atores envolvidos, então um viva à tempestade mais que perfeita.

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109 - A PRINCESA ENCANTADA E O SEGREDO DO CASTELO * * * - Swan Princess and the Secret of the Castle - 71 min - dir. Richard Rich - 1997 - Infantil O terrível feiticeiro Clavius seqüestra a Rainha, mãe do príncipe Derek, para distrai-lo enquanto penetra no Castelo do Lago do Cisne a fim de roubar as “artes proibidas”. A princesa Odete e seus amigos estão de volta neste desenho animado sem o mesmo brilho de seu antecessor mas bastante divertido. O início mostra o casal da história passando por uma crise, uma visão interessante que pode vir depois das juras de amor e do “e viveram felizes para sempre”. Com ótimas mensagens, as crianças curtem à beça, e os mais grandinhos também. 110 - RUTH EM QUESTÃO * * * * - Citizen Ruth - 104 min - dir. Alexander Payne - 1996 - Comédia Ruth é uma viciada que está grávida pela quinta vez e é acusada de tentativa de assassinato ao feto ao ser presa cheirando algum produto químico de limpar alguma coisa. Para piorar, ela acaba se vendo no centro de um conflito nacional entre os contra e os a favor do aborto. Laura Dern surpreende no papel da protagonista louca nesta comédia genial que faz uma crítica às militanças feministas e religiosas e ganha ponto ao se mostrar neutro às duas correntes. Aqui, o expectador é o juiz, embora seja melhor não julgar e sim aproveitar o ótimo e divertido programa. 111 - O MAPA DO MUNDO * * * * - A Map of the World - 125 min - dir. Scott Eliott - 1999 - Drama Sigourney Weaver é uma dedicada dona-de-casa que vê seu mundo se desmanchar quando a filha caçula de uma amiga afoga-se no lago de sua casa-fazenda. Prestes a ter um colapso nervoso, ela é presa sob a acusação de abuso infantil. Sensível filme sobre como superar o passado e manter o controle diante de situações muito difíceis. Interpretações sensacionais de Weaver, Julianne Moore e um grande elenco, muito bem dirigidos pelo diretor Eliott. Uma verdadeira aula de sentimentos. Ainda se destaca David Strathaim, como o marido da personagem principal.

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112 - O PROFESSOR ALOPRADO II: A FAMÍLIA KLUMP * * * - Nutty Professor II - The Klumps - 106 min - dir. Peter Segal - 2000 - Comédia - No Cinema Eddie Murphy volta a interpretar vários personagens, nesta divertida continuação do filme de 1996. Ele é Sherman e todo o resto da irônica família Klump. Aqui o “grande” cientista está trabalhando numa fórmula capaz de tornar as pessoas e outros animais temporariamente mais jovens, ao mesmo tempo em que tem um bonito relacionamento com a prof. Denise Gaines (Janet Jackson). Mas Sherman vive em constante conflito com o gene malandro de Buddy Love (sua personalidade magra e rebelde), e em certo momento do filme ele arrisca a própria vida para se livrar desse “problema”. Só que um acidente acontece e Buddy Love torna-se real, infernizando ainda mais o pobre cientista. Espere muita piada suja e fedorenta neste Professor Aloprado II. Eddie Murphy consegue dar conta do recado com oito personagens e garante vários risos. O desenvolvimento um tanto enrolado e algumas inconveniências do roteiro são alguns detalhes negativos mas que devem passar despercebidos ao expectador menos exigente. Um bom passatempo sem nenhum compromisso moral. 113 - PIXOTE - A LEI DO MAIS FRACO * * * * - Idem - 130 min - dir. Hector Babenco - 1980 - Drama O diretor Babenco pinta um retrato cru e nu do outro lado da sociedade ao narrar a história do garoto Pixote e os amigos que ele faz no Reformatório, do qual fogem para ir ao Rio de Janeiro vender droga. O realismo e a solidez de imagens e atuações, como a de Marília Pêra, como uma prostituta carioca, tornam o filme um dos melhores já realizados sobre o tema. É até chocante ver o quanto cedo os meninos de rua perdem sua inocência. Uma trama muito bem delineada, que pode incomodar pelos assuntos expostos com muita naturalidade, como o estupro e o homossexualismo. Um registro magnífico da sociedade brasileira da época, que não muito incrivelmente continua sendo bastante atual ainda hoje. Parada obrigatória. 114 - REVELAÇÃO * * * - What Lies Beneath - 129 min - dir. Robert Zemeckis - 2000 - Suspense - No Cinema Um ano após um terrível acidente de carro, Claire (Michelle Pfeiffer) tenta recomeçar uma vida mais tranqüila ao lado do marido Norman (Harrison Ford), um cientista obcecado pelo trabalho. A filha única vai estudar em uma universidade distante, portanto o casal está sozinho em casa pela primeira vez. Para enganar a tristeza da solidão, Claire dá uma de James Stewart em Janela Indiscreta ao ficar intrigada com o sumiço repentino de sua vizinha. Mas este é apenas o fio condutor para ela descobrir que a casa em que mora está sendo assombrada pelo espírito de uma jovem estudante. Não se deixe enganar: este filme não é tão ruim quanto aparenta ser. Tudo bem, nota zero

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no quesito originalidade para o argumento de Steven Spielberg, uma espécie de “leve inspiração” de Poltergeist. Mas o que importa mesmo aqui é como consagrado diretor Robert Zemeckis conseguiu fazer dessa história aparentemente simples e batida uma sessão divertida e bastante assustadora. Assustadora mesmo. Misturando grandes posicionamentos de câmera e discretos efeitos especiais, o diretor criou o clima perfeito para deixar o espectador roendo as unhas inquieto do começo ao fim. O casal de atores principais não ganham nenhuma queixa. Suas interpretações estão divinas, melhor não poderia. No entanto, é Zemeckis o verdadeiro astro de seu filme. Filmado no intervalo de Cast Away, seu novo drama épico com Tom Hanks, o responsável pela brilhante trilogia De Volta para o Futuro assumiu Revelação como um verdadeiro thriller, nada além disso, e tratou de se divertir aplicando todos clichês de direção cabíveis na trama. O resultado foi um trabalho de primeira qualidade, variando de Hitchcock a Wes Craven, fundido, claro, ao seu próprio estilo. O expectador fica completamente vulnerável para ter seus batimentos cardíacos acelerados à mil com os sustos que o diretor nos prega, no melhor estilo Pânico, só que muito mais intenso e impactante. Mesmo o roteiro sendo uma xerox de vários filmes de terror já vistos, possui algumas reviravoltas interessantes, porém um final altamente previsível. Além de desfrutar de uma das melhores direções de thrillers do Milênio, temos a grande oportunidade de ver Harrison Ford em um papel totalmente diferente do que está acostumado a fazer. A máscara de herói de ação correto literalmente cai aqui para dar lugar a... Melhor não contar mais nada. Apenas pode-se ter a certeza de que, indo assistir a Revelação, o expectador estará em muito boas mãos... e em muitos bons sustos. 115 - CUBO * * * - Cube - 90 min - dir. Vincenzo Natali - 1998 - Suspense Atualmente no cinema, um filme precisa ter uma história bizarra e inimaginável para ser considerado original. E esta pérola aqui não foge à regra. Um grupo de pessoas completamente estranhas entre si acordam em um complexo e gigantesco labirinto de cubos sem nenhum motivo aparente. Das seis portas que dão ao próximo compartimento, apenas uma não contém uma armadilha fatal. A questão é: existe uma saída? Narrado com muita competência e com um elenco desconhecido mas bastante talentoso, Cubo é o tipo de filme sem explicação lógica. Surreal e bem amarrado, o roteiro cria uma atmosfera bastante complexa, o que exige uma boa interpretação do expectador. Cheio de surpresas, peca por compor os personagens de acordo com as necessidades da trama e personalizar o vilão como uma das pessoas envolvidas que simplesmente tem muito a esconder. O jogo de gato e rato é o mesmo dos thrillers de suspense, apenas o ambiente é diferente e inovador. No entanto, Cubo é uma boa opção para sair da mesmice.

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116 - LOUCOS DO ALABAMA * * * - Crazy in Alabama - 112 min - dir. Antonio Bandeiras - 1999 - Comédia Quem diria que Antonio Bandeiras, além de ser um grande ator, fosse se sair um diretor de primeira? Loucos do Alabama marca sua surpreendente estréia na direção. No verão de 1965, enquanto o garoto Peejoe vive na pele o conflito entre brancos e negros no Alabama, sua excêntrica tia Lucille (Melanie Griffith, mulher do diretor), aspirante a atriz, mata o marido e parte para a Califórnia atrás do sucesso levando a cabeça dele dentro de uma caixa. Bandeiras mostra-se dono de uma técnica apurada para narrar com ritmo adquirida de tantos diretores de renome que já o dirigiram. Com um roteiro cativante, que mistura comédia e drama sensível, o novo diretor fez um filme prazeroso de se assistir, com imagens bonitas e um ótimo aproveitamento das atuações envolvidas. Um belo trabalho, que tem muito a nos ensinar, como o valor da liberdade e igualdade. 117 - MICKEY OLHOS AZUIS * * * - Mickey Blue Eyes - 102 min - dir. Kelly Makin - 1999 - Comédia Romântica Hugh Grant interpreta um leiloeiro que vê sua vida virar uma confusão ao descobrir que o pai de sua noiva é um gângster ligado com a máfia. A princípio, são pequenos favores paro o sogro envolvendo lavagem de dinheiro. Piora mesmo quando acidentalmente ele se envolve em um assassinato e tem de se passar por mafioso, batizado de Big Little Mickey Blue Eyes. Comédia romântica despretensiosa e bastante divertida. Grant mostra que é o melhor ator desse gênero, encarnando a eterna caricatura do inglês charmoso e bastante atrapalhado e contracenando ao lado de James Caan e Jeannie Tripplehorn. Roteiro bem amarrado e hilário, que em alguns momentos lembra muito Máfia no Divã. Vale o aluguel. 118 - HURLYBURLY * * - Idem - 122 min - dir. Anthony Drazan - 1998 - Drama Um grupo de amigos que moram em Hollywood convivem entre si, cada um com seus conflitos amorosos e existenciais. Este é o tipo de filme que atrai a curiosidade por causa do elenco, nomes como Sean Penn, Kevin Spacey, Meg Ryan, Anna Paquin, Robin Wright Penn, e o expectador pode amargar seu erro se não estiver bem preparado. Hurlyburly é um verdadeiro alvoroço de diálogos descartáveis e situações inverossímeis. No entanto, é um prato cheio para um ator mostrar que é realmente bom e treinar sua arte. No final, chega-se à conclusão de que é um filme desnecessário, visto os nomes de peso que compõem o elenco.

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119 - O HOTEL DE UM MILHÃO DE DÓLARES * * * - The Million Dollar Hotel - 122 min - dir. Wim Wenders - 2000 - Drama Mel Gibson interpreta um agente especial do FBI que usa métodos nada ortodoxos para investigar a morte do filho de um magnata da televisão em um hotel habitado por malucos de todos os jeitos. Com a história de Bono, líder da banda U2, o diretor Wenders fez um trabalho até mesmo esquisito, cheio de figuras excêntricas, mas em certo ponto poético, graças às reflexões pós-morte de Tom Tom, interpretado por Jeremy Davies, de O Resgate do Soldado Ryan. É ele quem brilha ao lado de Milla Jovovich, que faz uma prostituta por quem Tom Tom é perdidamente apaixonado. O resto é loucura em cima de loucura, num filme bastante eficiente e agradável. 120 - O AUTO DA COMPADECIDA * * * * - Idem - 104 min - dir. Guel Arraes - 1999/2000 - Comédia - No Cinema Esta é a versão cinematográfica da genial minissérie exibida pela Rede Globo em janeiro de 99. Com uma hora a menos do original da televisão, fica ainda mais gostoso acompanhar as travessuras de João Grilo e Chicó numa cidadezinha do sertão nordestino, desde a confusão feita para o padre benzer a cachorra da mulher do padeiro ao julgamento dos personagens principais diante de Deus e do diabo. Da obra de Ariano Suassuna, o diretor Guel Arraes adaptou para as telas de maneira bastante inteligente e fez um filme altamente divertido e cheio de críticas nada sutis. O padre e o bispo interesseiros são um exemplo. O ator Matheus Nachtergaele prova que é um dos melhores atores brasileiros de sua geração ao lado de Shelton Melo, formando a dupla principal do filme. O Auto da Compadecida se insurge como um dos mais promissores e rentáveis trabalhos do novo cinema nacional e impressiona tanto pela história quanto pela qualidade técnica da produção. Um trabalho de primeira. Pode acreditar: é de morrer de rir. Quem ainda não teve o prazer de assisti-lo, vai se surpreender com a inteligência dos diálogos e situações e com várias outras surpresas. Para quem já viu, o conselho é aquele velho clichê de televisão batido: vale a pena ver de novo. 121 - BOSSA NOVA * * * - Idem - 95 min - dir. Bruno Barreto - 1999 - Comédia Romântica O consagrado diretor Bruno Barreto faz da cidade do Rio de Janeiro um verdadeiro cartão postal romântico ao narrar os encontros e desencontros do advogado Pedro Paulo (Antônio Fagundes) e a professora de inglês Mary Ann (Amy Irving, mulher do diretor). Roteiro leve e bem amarrado, que diverte de maneira inteligente ao misturar o português com o inglês. O clima criado por Barreto e a bela fotografia mostram um Rio totalmente oposto da realidade: não há nenhum sinal sequer da grande violência da cidade. Tudo é mágico e inocente. Uma sessão bem light para uma tarde de fim de semana.

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122 - DESEJO PROIBIDO * * * - If These Walls Could Talk 2 - 96 min - dir. Jane Anderson, Martha Coolidge e Anne Heche - 2000 - Drama Três histórias sobre os preconceitos e dificuldades de casais lésbicos em épocas bastante distintas. A primeira história é abordando a velhice e a perda da companheira. A segunda traz uma ardente e difícil paixão entre uma estudante feminista e outra metida a homem (Chloë Sevigny). E a última, com Sharon Stone e Ellen DeGeneres, a mais humorada e atual, conta a dificuldade de um casal de lésbicas que querem ter um filho. Bastante sensível e um pouco ardente, o filme é mais recomendado para quem se interessa pelo assunto ou vive na pele essas situações. 123 - FIM DE CASO * * * * - The End of the Affair - 101 min - dir. Neil Jordan - 1999 - Drama Neil Jordan conseguiu nada mais nada menos do que realizar um dos melhores dramas de amor da história do cinema americano. Maurice Bendrix (Ralph Fiennes) é um romancista inglês que está ainda se recuperando do fim de um forte caso com Sarah Miles (Julianne Moore, indicada ao Oscar). O destino o faz encontrar-se com o marido da ex-amante, Henry (Stephen Rea), que está desconfiado de que a mulher o está traindo. Bendrix contrata por conta própria um detetive particular para seguir Sarah e pôr fim às dúvidas de Henry e as suas, enquanto paralelamente nos é narrado o suposto caso nos difíceis tempos da Segunda Guerra Mundial. O roteiro e a direção de Jordan são de uma beleza incontestável, mostrando vários pontos de vista da mesma história. Fim de Caso possui um desenvolvimento que flui com um naturalidade adulta muito rara em filmes, que caminha para um triste fim, mas que é uma verdadeira lição de vida e acaba sendo algo mais que surpreendente e emocionante. Muito mais além de uma densa história de amor, é uma obra contundente sobre a descoberta de Deus e do próprio ser humano. Mágico, coerente, impactante, um filme indispensável. 124 - A LENDA DO CAVALEIRO SEM CABEÇA * * * * - Sleepy Hollow - 1 Oscar - 105 min - dir. Tim Burton - 1999 - Suspense O genial Tim Burton traz às telas sua visão da fábula de Washington Irving e o resultado é de arrepiar (e divertir). Johnny Deep é Ichabod Crane, um policial excêntrico e idealista que, no final do século XVIII, acredita que a chave para se solucionar crimes é o intelecto. Cheio de aparelhos esquisitos, ele é mandado ao vilarejo de Sleepy Hollow, onde pessoas estão sendo assassinadas misteriosamente e têm suas cabeças decapitadas. A população está muito assustada e não demora muito para o cético Crane perceber que se trata de um fantasmagórico cavaleiro sem cabeça. O visual do filme é simplesmente perfeito. Sombrio o bastante para nos fazer tremer em uma noite sem ninguém por perto. Tanto é que arrecadou o Oscar de Melhor Direção de Artes & Cenários deste ano. O mundo que o diretor nos convida a passear é altamente surreal, mas não menos fascinante. É o mundo de Tim Burton: caminhos noturnos cobertos por uma sinistra névoa branca, árvores retorcidas e cabeças rolando. Isso mesmo, as decapita-

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ções são de gelar a espinha. Até parece que estamos de um filme de terror que só serve para nos fazer gritar e passar a noite acordados. Pois A Lenda do Cavaleiro sem Cabeça é justamente o contrário do que se podia esperar. É tão divertido e engraçado quanto assustador. O roteiro é de Andrew Kevin Walker, o mesmo roteirista de Seven, que arma uma história recheada de mistério, surpresas e muito humor, proporcionando um equilíbrio perfeito e fazendo o filme não cair em um só rótulo. É um baita suspense sobrenatural que põe à prova a coragem e o raciocínio do pobre expectador. Christina Ricci faz a loira Katrina, por quem Ichabod Crane se apaixona. Prepare-se para alguns ótimos sustos, risos e muitas cabeças. 125 - UM PLANO SIMPLES * * * * - A Simple Plan - 1 Oscar - 121 min - dir. Sam Raimi - 1998 - Suspense Dois irmãos e um amigo encontram um pequeno avião caído numa reserva florestal de uma cidadezinha do interior dos EUA coberto pela neve. O piloto está morto e dentro há uma sacola contendo mais de 4 milhões de dólares. O plano é muito simples: esconder a grana e esperar o fim do inverno. Se ninguém sentir falta do dinheiro, os três dividem entre si e garantem seu pé de meia. Porém, as circunstâncias dos acontecimento que se seguem vão complicando pouco a pouco a situação. Brilhante suspense de caráter independente e cheio de reviravoltas. A personalidade dos personagens se revelam à medida que vêem a possibilidade do plano ir por água abaixo, principalmente o interpretado por Bill Paxton. O diretor Raimi mostra maturidade suficiente para narrar esta pequena obra-prima sobre segredos, desconfiança e traição. O roteiro, que concorreu ao Oscar, traça de maneira genial o caminho que percorremos até o grande final. Um filme de proporções psicológicas grandes e que deixa o expectador bastante nervoso por ser um conflito que qualquer pessoa pode viver. Billy Bob Thornton arrecadou o Oscar de Ator Coadjuvante por sua interpretação de um deficiente mental. 126 - SOUTH PARK: MAIOR, MELHOR & SEM CORTES * * * * - South Park: Bigger, Longer & Uncut - 81 min - dir. Trey Parker - 1999 - Comédia - No Cinema A divertidíssima série de TV vira um longa cheio de temas fortes, sarcasmos à mil e de morrer de rir. Os nada inocentes garotinhos do South Park assistem a um filme canadense censurado para menores de 18 anos e ampliam significativamente seus vocabulários com palavrões de tudo o quanto é jeito. O caso atinge proporções nacionais, ao ponto dos Estados Unidos entrar em uma verdadeira guerra contra o Canadá. South Park - o filme - é uma potente metralhadora de palavrões que nunca se ouviriam por aí normalmente, piadas de judeus, negros e até religião. Nem Saddam Hussein escapa e vai parar no inferno, onde faz do diabo seu escravo sexual. Uma comédia feita com um único propósito: esculhambar. E por isso acaba se tornando uma sessão quase obrigatória, a não ser que você rejeite piadas gays e nomes como “lambe-cu”, “fode-tio” e o que mais se puder imaginar. As músicas são um show de grosseria e genialidade - Uncle Fucka, Kyle’s Mom is a Bitch, Blame Canada (que concorreu ao Oscar de Melhor Can-

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ção num dos melhores momentos da festa deste ano), assim como o filme em si. Mas tudo muito legal e com um alto astral que não se encontra fácil por aí. 127 - COMPORTAMENTO SUSPEITO * * - 84 min - dir. David Nutter - 1998 - Suspense Após a trágica morte do irmão mais velho, rapaz (James Mardsen, de X-Men) muda-se com a família para uma cidadezinha pacata. Vai estudar em um colégio tradicional, onde um grupo de alunos apresenta um comportamento muito estranho. Eficiente thriller sobre lavagem cerebral, com uma boa direção e um bom elenco, que ainda conta com a bela Katie Holmes. O roteiro começa bem, promete e tem um bom ritmo, porém peca terrivelmente no desenvolvimento e na fraca conclusão, enquanto poderia ter sido bem mais consistente, aproveitador e mirabolante. Os menos exigentes até que poderão ficar levemente satisfeitos. Os mais exigentes dirão: “Não caio nessa”. 128 - TIRO E QUEDA * * * - The Big Hit - 91 min - dir. Che-Kirk Wong - 1998 - Ação Melvin (Mark Wahlberg) é um matador profissional cheio de problemas que se mete em um seqüestro da filha de um milionário japonês. Ele e sua atrapalhada equipe, no entanto, não sabem que o velho acaba de ir à falência e que a vítima é afilhada do chefe da organização da qual fazem parte. Produzido por John Woo, esta é uma boa e descompromissada diversão. O triunfo do filme, ao lado das indispensáveis seqüências de ação, é o humor que percorre toda a história, deixando-a bastante engraçada e equilibrando bem os dois gêneros. Bom para esfria temporariamente a cabeça. 129 - O HOMEM SEM SOMBRA * * * - Hollow Man - 112 min - dir. Paul Verhoeven - 2000 - Suspense - No Cinema O que você faria se fosse invisível? É impossível não ficar com essa frase na cabeça após assistir a O Homem sem Sombra, intrigante retomada do clássico Homem Invisível, de H. G. Wells, assinado pelo sempre polêmico diretor de Robocop e Instinto Selvagem. Kevin Bacon é Sebastian Caine, um brilhante cientista que não esconde sua egocentria no trabalho do qual é o chefe de um grupo de cientistas que busca a fórmula da invisibilidade. Quando o Comitê Militar do Pentágono ameaça cortar a verba para a pesquisa, Sebastian testa em si mesmo a fórmula. Uma vez invisível, e sem obter sucesso com a reversão, ele é corrompido pelo poder do anonimato e se entrega gradativamente à insanidade, tornando-se extremamente perigoso e descontrolado. Muita violência, sexo e loucura, marca registrada de Verhoeven, compõem sua nova e assustadora visão da mediocridade humana. O modo como o tema é trabalhado, elevando a história à condição de metáfora, deixa o filme ainda mais fascinante e consistente. Os efeitos especiais são magnificamente horripilantes. A seqüência do desaparecimento do cientista camada por camada merece entrar para os anais do cinema. É simplesmente

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impossível manter a boca fechada. A gostosa Elisabeth Shue é a encarregada de ser a heroína da trama. O roteirista de Fim dos Dias começa bem e vai deixando a história melhorar cada vez mais até certo ponto. A partir daí peca terrivelmente ao despencar para um aterrorizante jogo de gato e rato, enquanto poderia ter inovado bem mais. Mas isso não compromete nem um pouco a horripilante diversão de O Homem sem Sombra, uma obra que não poupa um estômago frágil. O roteirista prova mais uma vez sua dificuldade em finalizar o enredo, levando o filme à conclusão mais fácil e previsível que poderia ter. Mesmo não saindo da média (apenas em termos de roteiro), vale uma espiada por deixar a gente grudado na cadeira do começo ao fim. 130 - TODO MUNDO EM PÂNICO * * * * - Scary Movie - 88 min - dir. Keenen Ivory Wayans - 2000 - Comédia - No Cinema Se você espera por um filme de terror adolescente cheio de sustos, carnificina e muita cultura pop, então fuja deste Todo Mundo em Pânico. Agora, se você é daquele tipo que não está nem aí para nada, adora uma piada bem suja do estilo de Quem Vai Ficar com Mary?, esse é um prato cheio para chorar de rir. Como o título em português já sugere, esta é uma paródia bastante escrachada da série Pânico, em particular do primeiro capítulo. Está todo mundo lá na famosa universidade onde um mascarado começa a matar vítimas inocentes: Sidney Prescott virou Cindy Campbell (um belo trocadilho com a atriz Neve Campbell), Billy virou Bobby, o policial Dewey se transformou no patético Tolo, assim como o resto dos personagens, enfatizando ao máximo o seu lado caricatural. Vamos logo ao que interessa: Todo Mundo em Pânico surpreende (meu Deus, que susto!) por ser uma das melhores paródias já realizadas em Hollywood, senão a melhor. É só repensar nos filmes de Leslie Nielsen para ver que isso é verdade. Nada no filme é levado a sério e tudo é motivo para uma boa piada suja. Bem suja mesmo, como pênis em ouvidos, morcegos saindo de calcinhas, região pubiana parecendo o cabelo dos negros dos anos 70 e por aí vai. É cada coisa que vemos em pouco mais de uma hora de filme que às vezes o riso sai forçado por causa do choque. Mas sai. Tudo bem, não é mentira afirmar que estamos diante de um filme completamente besta e idiota. Mas aí é que está o segredo: Scary Movie é um filme idiota, mas totalmente consciente de sua idiotice. E isso abre espaço para tirar sarro de tudo o que se quiser. Este é o terceiro ponto alto da fita: tira sarro de meia dúzia de filmes famosos. Aquele cinéfilo aloprado que não perde uma estréia no cinema será o mais beneficiado da platéia. Do seriado Dawson’s Creek a Bayatch, de O Sexto Sentido, passando por A Bruxa de Blair, com escala direta em Matrix, a Os Suspeitos, tornam o filme um verdadeiro teste de conhecimento sobre cinema. Se você não assiste muitos filmes, poderá ficar meio perdido em relação às diversas referências. A lista, pode acreditar, é enorme. No entanto, não só de sátiras se compõe Todo Mundo em Pânico. A inteligência cômica do roteiro, escrito a doze mãos, é o melhor de tudo e se você acha que já sabe o final, prepare-se para uma pequena surpresinha. Não se choque com o que você verá, apenas liberte-se de você mesmo e de todas as suas frescuras; e prepare-se: Scary Movie 2 já está a caminho.

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131 - MEU VIZINHO MAFIOSO * * * - The Whole Nine Yards - 99 min - dir. Jonathan Lynn - 1999 - Comédia O engraçadíssimo e nervoso Mathew Perry é Oz, um dentista que mora no Canadá com a esposa megera e a sogra pior ainda à beira de um colapso nervoso. É quando ele conhece Jimmy (Bruce Willis), seu novo vizinho, e descobre que ele é um matador de aluguel que traiu o chefão da máfia de Chicago. Persuadido pela mulher, de quem não pode se divorciar até quitar uma dívida que tinha com o pai dela, Oz vai a Chicago entregar Jimmy à máfia e receber uma recompensa que há pelo paradeiro dele. A coisa fica mesmo complicada quando Oz se apaixona pela mulher de Jimmy, que a deseja ver morta. O diretor de Meu Primo Vinny narra com competência uma confusão dos diabos, num filme que não sai da média, mas que diverte bastante. O elenco conta ainda com Natasha Hendrisge, Michael Clarke Duncan e Kevin Pollack. Boa pedida. 132 - ENIGMA DO ESPAÇO * * - The Astronaut’s Wife - 109 min - dir. Rand Ravich - 1999 - Suspense Charlize Theron faz a mulher de Spencer (Johnny Deep), um astronauta que adquire um estranho comportamento após um acidente misterioso em órbita. Não há como não dizer que este tema é um dos mais batidos envolvendo o espaço, mas parece bastante denso e intrigante até a metade final nas mãos do diretor e roteirista Ravich, só que muito morno. É claro que a coisa descamba para o puro clichê a partir de a mulher descobrir o que está realmente acontecendo com seu marido. A linha de raciocínio do roteiro é muito besta e convencional. Uma coisa previsivelmente vai levando a outra ao ponto de sabermos quando já chegamos ao clímax da história. No fim das contas, não há nada para se absorver desta fútil sessão que se apóia inteiramente no carisma e na competência dos atores. 133 - UMA VIDA POR UM FIO * * * * - Sorry, Wrong Number - 89 min - dir. Anatole Litvak - 1948 - PeB - Suspense Brilhante suspense sobre uma mulher sozinha em casa, confinada à cama em virtude de um sério problema cardíaco, que ouve em uma linha cruzada dois homens combinando os últimos detalhes de um assassinato que deverá ocorrer naquela mesma noite. A partir daí, somos arremessados a uma intrigante história contada por contínuos flashbacks, aparentemente sem nenhuma ligação direta com o fio condutor inicial. A precisa direção de Litvak cria um clima denso neste clássico do gênero, em que o que nos move é saber como tudo deverá ir se encaixando no decorrer do desenvolvimento. Praticamente tudo acontece por telefone, o que torna o filme ainda mais original. A seqüência final é puramente angustiante.

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134 - PATETA 2 - RADICALMENTE PATETA * * * - An Extremely Goofy Movie - 79 min - dir. Douglas McCarthy - 1999 - Infantil Max vai à faculdade, contente por finalmente se livrar do pai e participar junto com sua turma dos Jogos Radicais da Universidade. Só que Pateta, mais desastrado ainda pela falta do filho, é demitido da fábrica de brinquedos onde trabalhava e não consegue arranjar emprego por não ter diploma. Solução: voltar para a faculdade e se formar. O conflito entre pai e filho fica ainda mais divertido quando o ambiente é o mesmo. Mesmo não superando o primeiro filme, esta é uma excelente desculpa para reunir toda a família em frente à televisão e se divertir à beça. Destaque para o choque cultural entre os anos 70 e os 90. 135 - QUANDO FALA O CORAÇÃO * * * * - Spellbound - 1 Oscar - 111 min - dir. Alfred Hitchcock - 1945 - PeB - Suspense A psicanálise sempre esteve presente por quase toda a obra de Hitchcock. Aqui, no entanto, ela é a personagem principal e a força motriz da história. A arrebatadora paixão entre uma bela psiquiatra (Ingrid Bergman) e seu novo chefe (Gregory Peck), um homem que não é o que aparenta ser, é contada com um entusiasmo cativante pelo mestre Hitch. Sem demagogias, a direção do filme está surpreendentemente além da perfeição da época, o que conferiu a Hitchcock uma indicação ao Oscar de Melhor Diretor. O desenvolvimento da trama, as brilhantes reviravoltas e a conclusão impossível de ser apagada da memória fazem deste um dos maiores clássicos do gênero. Espere muita linguagem médica e momentos complexos que certamente inovaram o cinema. Fala-se de Freud e de “transferência de culpa” com uma facilidade estonteante aos nãoiniciados, o que ainda tornam o filme uma excelente aula de psiquiatria. O roteiro é de Ben Hecht, o mesmo de Interlúdio. 136 - U-571 - A BATALHA DO ATLÂNTICO * * * * - U-571 - 115 min - dir. Jonathan Mostow - 2000 - Aventura - No Cinema Jonathan Mostow estreou na direção de maneira discreta mas surpreendente em Breakdown - Implacável Perseguição e ficou escondido por alguns anos. Agora ele volta a surpreender com este U-571, um filme assumidamente angustiante. Durante a Segunda Guerra Mundial, um grupo da Marinha liderado por Matthew McConaughey recebe a missão de interceptar um submarino alemão à deriva e se apossar do Enigma, um aparelho por onde são transmitidas as mensagens em código, e assim garantir a vitória dos Aliados. Só que, ao completar a primeira parte da missão, o S-33, o submarino americano, é atacado e vai pelos ares: o grupo protagonista fica preso no submarino nazista. Sem comunicação e sem muita opção, eles têm de navegar pelo Atlântico, com o perigo constante de serem bombardeados ou pelos inimigos ou pelos aliados. A direção precisa de Mostow tem pique e fôlego suficiente para nos deixar sem fôlego. Os

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momentos de tensão são únicos, com efeitos sonoros dignos de uma indicação ao Oscar. Ao mesmo tempo em que é um filme bem hollywoodiano, parece que não é, graças à produção realista e sem situações supérfluas. As imagens que temos a honra de ver são impressionantes. Enfim, é um filme eletrizante, que conta ainda com Harvey Keitel, Jon Bon Jovi, Bill Paxton e um jovem e cativante elenco secundário transbordando de talento. Uma experiência bastante útil, visto o terrível desastre acontecido há pouco tempo com o submarino russo Kursk, que resultou na morte de 118 marinheiros. 137 - EU, EU MESMO & IRENE * * * - Me, Myself & Irene - 116 min - dir. Peter e Bob Farrelly - 2000 - Comédia - No Cinema Sem dúvida o ano 2000 foi o ano das comédias extremamente vulgares e escrachadas, e, claro, não poderia faltar a contribuição dos criadores desse estilo de comédia. Em Eu, Eu Mesmo & Irene, os irmãos Farrelly voltam a trabalhar com o astro de seu primeiro filme, Débi & Lóide. Estamos falando de Jim Carrey, o rei das comédias atualmente. Jim é Charlie, um policial de trânsito muito bonzinho que reprime todos os seus sentimentos de raiva para continuar sua pacífica existência numa cidadezinha norte-americana bastante agradável. Por conta disso, Charlie acaba sendo uma espécie de saco de pancadas de toda a população: ele não é levado a sério por ninguém. Sua linda mulher o troca por um anão CDF e deixa os filhos com ele (três “bronzeados o ano todo” que não são seus de verdade), o seu quintal é o banheiro privado do cachorro do vizinho, e por aí vai. Ficamos algum tempo com pena de Charlie, esperando que ele exploda a qualquer momento. É justamente o que acontece, e então Charlie vira Hank, um sujeito altamente boçal que não perde nenhuma oportunidade de arrumar problemas e faz tudo o que Charlie não tinha coragem de fazer. Imagine Jim Carrey com dupla personalidade. É uma loucura só. Agora, imagine Charlie e Hank se apaixonando pela mesma mulher, Irene (Renée Zelwegger), que está metida numa confusão dos diabos, envolvendo suborno e esquemas sujos, por causa do ex-namorado. O filme acaba virando um road movie de primeira e cheio de situações, digamos, escandalosas. Assim como em Quem Vai Ficar com Mary?, tudo é motivo para uma boa piada, seja suja ou muito suja. O humor dos diretores não poupa ninguém e por isso acaba sendo algo chocantemente engraçado. Jim Carrey se diverte e nos diverte como nunca num papel sob medida para ele, e pode crer: seja drama ou comédia, o cara se garante. Sua sintonia com a bela Renée Zelwegger resulta numa das melhores parcerias do ano. Embora não seja algo surpreendente, é uma comédia que deve ser vista. E não ligue para críticas negativas, pois quando se trata dos irmãos Farrelly o material é sempre bom e bastante prazeroso, ainda mais com o rei das caretas em cena.

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138 - CORRA LOLA, CORRA * * * * - Lola Rennt - 80 min - dir. Tom Tykwer - 1998 - Aventura Lola tem apenas vinte minutos para sair correndo pela cidade e arrumar cem mil marcos, caso o contrário o namorado, que perdeu o dinheiro para um mendigo dentro de um metrô, morrerá ao prestar contas com o gângster dono da grana ao meio-dia. Essa primazia do cinema alemão ganha ponto máximo no quesito criatividade e originalidade. O diretor Tykwer tem fôlego de sobra para dar ritmo a uma história empolgantemente eletrizante. O roteiro reserva surpresas brilhantes a cada minuto de filme, que tenta inovar o conceito de fazer cinema. A atriz Franka Potente, casada com o diretor, realmente se sobressai em um papel sem dúvida cansativo: ela corre em 95% de película. Surpreendente, Corra Lola, Corra acaba sendo uma experiência fantástica e obrigatória. 139 - PAIXÕES PARALELAS * - Passion of Mind - 105 min - dir. Alan Berliner - 2000 - Drama - No Cinema Demi Moore nunca foi aquela atriz de verdade capaz de figurar na lista de atrizes de algum cinéfilo medíocre. Mas o fato é que desde um tempo atrás a ex-mulher de Bruce Willis tem afundado cada vez no poço. Pode acreditar: ela está com um bom tempo que não faz um filme que preste. Em sua última empreitada, Demi é uma mulher dividida entre dois mundos: mãe viúva de duas lindas garotinhas na França e uma solteirona cobiçada na metrópole nova-iorquina. O que diabos uma história dessas pode ter de interessante? Absolutamente nada. Nas duas vidas - uma dorme e a outra acorda - nossa fraca protagonista vive lindos e complicados romances. O roteiro cria ambientes bem agradáveis para que tenhamos dificuldade em escolher qual mundo é real e qual é apenas sonho. Nesse vaivém interminável, a monotonia de uma história besta nos causa um sono profundo. A impressão que temos é de que nem os roteiristas nem o diretor, muito menos a própria Demi Moore, sabia o que estavam fazendo. A explicação encontrada para os fatos é uma das mais sem sentido já vistas. Não possui nenhuma psicologia concreta ou coerente, é apenas para encher nossos olhos de lágrimas forçadas. Um conselho de amigo: fuja dessa pieguice e vá ver algo mais animado. 140 - DOUG: O PRIMEIRO FILME * * * - Doug’s 1st Movie - 77 min - dir. Maurice Joyce - 1999 - Infantil O inteligente desenho animado criado por Jim Jenkins e David Campbell sobre o dia-a-dia do garoto Doug Funnie e seus problemas comuns da adolescência ganha sua primeira versão em longa-metragem. Aqui, encontramos Doug às voltas com um monstro de um lago poluído e com o baile dos namorados do colégio, junto com seu melhor amigo Skeeter. O clima da série foi mantido, deixando o filme bastante familiar e agradável. Diálogos inteligentes e um desenvolvimento bem satisfatório garantem uma diversão fundamental para crianças e adultos.

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141 - UM DOMINGO QUALQUER * * * - An Given Sunday - 157 min - dir. Oliver Stone - 2000 - Drama Oliver Stone sabe como ninguém dar o clima certo para cada tipo de história. Em Um Domingo Qualquer ele nos mostra sua visão diante dos jogos de futebol americano - verdadeiros duelos de titãs - e a terrível burocracia por trás deles. O grande Al Pacino faz o técnico dos Sharks, que está passando por uma terrível fase de derrotas consecutivas depois que o dono morreu e sua ambiciosa filha (Cameron Diaz) assumiu o lugar. Ele tem de lidar com a contusão do veterano capitão do time (Dennis Quaid) e a ascensão repentina de um jovem zagueiro talentoso e egoísta. Sem maiores pretensões, além de mostrar o outro lado do show, é um filme que no mínimo diverte com boas atuações e uma boa história. Não é uma obra com um brilho maior, mas que empolga pelas frenéticas e contundentes partidas de futebol. Coisa de louco. Enfim, proporciona uma boa densidade dramática bem desenvolvida e uma excelente aula de futebol americano e toda a sua violência. 142 - KAFKA * * * - Idem - 98 min - dir. Steven Soderbergh - 1992 - PeB - Suspense Após a misteriosa morte de um amigo de trabalho, Kafka (aquele mesmo escritor de livros estranhos), interpretado por Jeremy Irons, recebe uma promoção que seria do morto e passa a investigar o que teria acontecido. Em sua busca, acaba se envolvendo com um grupo de anarquistas revolucionários e com um terrível segredo dentro do misterioso Castelo. Em seu segundo filme, Soderbergh conduz artisticamente uma trama complexa e intrigante, que exige uma boa concentração do expectador. O ambiente é o mais estranho possível, tentando se aproximar ao máximo do ambiente das obras de Kafka. Não é um filme obrigatório, mas o grande desenvolvimento, junto com várias reviravoltas e seqüência fenomenais - como aquela em cima de um gigantesco microscópio fixado no cérebro humano vivo -, fazem desse um trabalho bastante curioso e que vale o aluguel. 143 - FANTASMAS DE GUERRA * * * - In Country - 117 min - dir. Norman Jewison - 1989 - Drama Bruce Willis está muito bem na pele de ex-soldado sobrevivente ao Vietnã que precisa conviver com seus traumas e com a obsessão da bela sobrinha (Emily Lloyd, bastante notável), filha do cunhado morto em batalha, sobre a guerra. Um filme muito humano, simples e plausível, com um bom roteiro, boas interpretações e a direção sempre segura e consciente de Norman Jewison, um veterano na arte de transpor para a tela toda a essência da alma humana. Uma bela aula sobre superar ou não o passado, com um final bastante comovente. Linda trilha sonora.

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144 - A CELA * * * - The Cell - 107 min - dir. Tarsen Shing - 2000 - Suspense - No Cinema A gostosa Jennifer Lopez faz uma psicóloga que trabalha num projeto experimental que consiste em possibilitar a entrada da mesma dentro da mente de pessoas em coma e viajar pelos mundos secretos do subconsciente humano. Ela não tem conseguido bons resultados com o filho de um milionário e por isso há o risco de ser descartada do caso. Somos jogados à trama paralela, em que um terrível psicopata (Vincent D’Onofrio) mata belas mulheres usando uma enorme cela de vidro, que automaticamente é inundada 24 horas depois da captura, e depois pratica alguns rituais sinistros. Um hábil detetive (Vince Vaughn) consegue rapidamente reunir as pistas necessárias e descobrir a identidade do assassinato. Só que encontram o cara em coma por causa de uma rara e terrível doença. A última vítima continua desaparecida, em algum lugar esperando a morte. Como é de se esperar, uma história se cruza com a outra: depois de uma rápida e esclarecedora conversa, nossa bela psicóloga topa entrar na mente de Carl (esse é o nome dele) para tentar descobrir o paradeiro da garota trancada num aquário gigante prestes a se encher de água. É a partir daí que começa o melhor de todo o filme. As seqüências dentro da mente do assassino são perturbadoras. Cenários altamente arrojados e magníficos efeitos especiais se unem para proporcionar imagens inovadoras, como aqueles videoclips surreais de deixar qualquer um de boca e mente abertas. Só mesmo vendo para crer. A direção muito bem articulada de Tarsen Shing contribui gratificantemente para o ar de novidade do filme. Porém, é preciso dizer a história em si não tem nada de original. Penetrar na mente de outras pessoas... Já vimos muito isso pelo cinema, e embora aqui a coisa vá mais ao extremo o filme não consegue o êxito que se espera de uma produção do tipo. Ao mesmo tempo em que as imagens inovam, o roteiro não sai do convencional e contém alguns buracos graves, como tudo ocorrer em apenas um dia, a protagonista aceitar participar de algo assim sem maiores questionamentos. Coisas que o expectador mais aficionado poderá se incomodar, pela falta de detalhes - acredite, detalhes ajudam muito histórias como essa. No entanto, não é nada que prejudique a diversão. Tudo é bem amarrado e em certos momentos bastante interessante, como os traumas de Carl, dando um painel chocante de sua formação esquizofrênica. Mas sem dúvida, quem manda em A Cela são suas grandes imagens, para compensar a previsibilidade normal e boba do roteiro, que carece de algo fundamental: consistência. No fim, é um intrigante passeio por um mundo inimaginável de seqüências impressionantes e perturbadoras. Pena não ser algo que vá mudar a vida de ninguém. Mas tudo bem. Dessa vez (mais uma) a gente deixa passar. 145 - GAROTOS INCRÍVEIS * * * * - Wonder Boys - 112 min - dir. Curtis Hanson - 2000 - Drama - No Cinema Michael Douglas está simplesmente brilhante como um escritor de sucesso que não consegue terminar seu segundo livro, vive fumando maconha, é constantemente assediado por uma de suas alunas e mantém um relacionamento com a Coordenadora

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da faculdade onde leciona (saiba que ela é casada). No mesmo dia em que a esposa o deixa e seu editor afetado chega de viagem para cobrar o livro, nosso angustiado protagonista vai a uma festa para escritores onde passa a se relacionar com James (Tobey Maguire, excelente como sempre), um jovem escritor inquestionavelmente genial e com tendências subjetivamente suicidas. Começa então uma amizade de modo, pode-se dizer, incomum: o garoto os mete numa incrível confusão ao matar o cachorro da amante de Douglas e roubar uma jaqueta que pertenceu à Marilyn Monroe. Cheio de surpresas, o premiado diretor de Los Angeles - Cidade Proibida fez uma obra contundente, às vezes caricatural mas de maneira consciente, genial e original. Somos lançados bem no meio de uma ciranda de personagens inusitados e situações que nos levam a acompanhar a história com bastante interesse, mesmo sem ter uma trama definida. E como não há trama, não há previsibilidade. Não sabemos que fim terá tudo isso. O magnífico texto de Steve Klove, adaptado do romance de Michael Chabon, é uma fantástica aula sobre relacionamentos humanos, tendo o mundo da literatura como pano de fundo. Um filme feito de interpretações consistentes, juntos com a apurada técnica de Curtis Hanson de narrar uma excelente história. A bela Katie Holmes, Frances McDormand e Robert Downey Jr encabeçam o resto do elenco principal. No fim das contas, é mais um daqueles filmes sobre alguém a procura de si mesmo, mas contado de modo maravilhoso e agradável. Uma experiência que vale a pena, pois tem muito a ensinar, numa sessão quase obrigatória e que merece ser vista. Os momentos finais, e a própria conclusão em si, são sem dúvida nenhuma emocionantes. Para ver e rever. 146 - DUAS VIDAS * * * - Disney’s The Kid - 104 min - Jon Turteltaub - 2000 - Comédia - No Cinema Para resumir em uma só frase, este é o típico filme Disney família, com a fórmula mais manjada do cinema. Bruce Willis, bom como sempre, é um consultor de imagem arrogante, cheio de tiques, prestes a completar quarenta anos e completamente sozinho, sem namorada nem amigos, que terá uma segunda chance de reavaliar e refazer sua vida quando recebe a visita do garoto que sonhava em ser piloto e em ter um cachorro chamado Cheaster que foi aos oito anos de idade. Com a excelente simpatia do garoto Spencer Breslin e a sintonia dos atores com o público, The Kid é uma razoável fábula sobre quem somos e quem deixamos de ser. Espere por um roteiro bem simples e bobo, e muita, mas muita sacarina. Entretanto, é uma bela lição de moral sem compromisso. Mas sem compromisso mesmo. 147 - COWBOYS DO ESPAÇO * * * * - Space Cowboys - 130 min - dir. Clint Eastwood - 2000 - Aventura - No Cinema Depois amargar consecutivos fracassos, com Meia-Noite no Jardim do Bem e do Mal e Crime Verdadeiro, o veterano Clint Eastwood acerta em cheio com a história de quatro velhos que são mandados para o espaço em missão especial e urgente. Realmente, Cowboys do Espaço é o tipo de filme para se ver a qualquer hora com a certeza de

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curtir uma excelente sessão. A história é mais ou menos assim: quatro décadas depois de ser trocada por uma chimpanzé na primeira expedição realizada pela NASA, a primórdia equipe composta por Clint, Tommy Lee Jones, Donald Sutherland e James Garner é “ressuscitada” para consertar um obsoleto satélite russo avariado prestes a entrar na atmosfera terrestre. E o melhor da história começa: a preparação dos velhinhos para a missão, divertidíssima como nunca se viu no atual cinema americano. Os quatro acabam dando uma aula aos mais jovens, sempre ironizando a própria velhice de maneira estimulante. Eastwood dá um show de câmera, deixando a coisa fluir e se desenvolver com surpreendente naturalidade. Já não dá para imaginar o cinema sem Cowboys do Espaço, uma obra gostosa de se ver e bastante otimista. E para que ninguém reclame, a terceira parte reserva uma aventura espacial de grudar o expectador na cadeira. Com um roteiro bem despretensioso e um time de veteranos de primeira linha, o cowboy Clint Eastwood fez um filme de imediata simpatia com o público e prova que o mito ainda continuo vivo e com fôlego de sobra. Bela empreitada, sr. Eastwood. 148 - UM ESTRANHO CHAMADO ELVIS * * * - Finding Graceland - 97 min - dir. David Winkler - 1999 - Drama Rapaz que ainda não superou a trágica morte da esposa dá carona a um andarilho chamado Elvis, que afirma ser o verdadeiro Rei do Rock e quer ir a Graceland para retomar a carreira. O diretor Winkler fez uma obra meio absurda, mas consistente e boa de se ver. Harvey Keitel faz o personagem-título e encarna Elvis de maneira convincente. Além de Jonathan Schaech (o vocalista de The Wonders), temos ainda Bridget Fonda dando uma de Marilyn Monroe. Simples, mágico e tocante, um filme que no mínimo agrada e nos tranqüiliza pelas mensagens de otimismo. Devia ser mais longo, mas o recado é muito claro: “Lembrem-se do Rei”. Com todo prazer. 149 - ASSÉDIO * * * - Besieged - 92 min - dir. Bernado Bertolucci - 1998 - Drama O diretor Bertolucci vai a Itália narrar o relacionamento entre o pianista Kinsky (David Thewlis) e sua empregada, Shandurai, uma africana que sofre com a prisão do marido em seu país de origem mas aos poucos vai vendo seu desejo crescer pelo patrão. Cheio de artimanhas, Bertolucci fez um filme denso e instigante. Esperamos o tempo todo para que o desejo da personagem deixe o platonismo de lado para se tornar algo bastante carnal, mas o diretor sabe disso e consegue manter nosso interesse até dizer “chega!”. Thandie Newton dá um show na pele da dividida Shandurai, que tem um final bastante ambíguo e que merece ainda ser muito comentado. Uma obra interessante.

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150 - ENDIABRADO * * * - Bedazzled - 93 min - dir. Harold Ramis - 2000 - Comédia - No Cinema Quem pensa que o diabo é aquela figura horrenda, com chifres pela cabeça, cor avermelhada e fedendo a enxofre, se engana redondamente. Em Endiabrado, o diabo é uma mulher - linda, diga-se de passagem - encarnada pela estonteante Elizabeth Hurley, que encontra sua vítima perfeita no patético personagem de Brendan Fraser, um típico loser norte-americano que vende sua alma em troca do amor da mulher de sua vida. A diaba lhe confere sete desejos, e todos vão dando ironicamente errados. Sem muito o que se comentar, o diretor de Feitiço do Tempo e Máfia no Divã fez um filme legal e divertido, mas que não aumenta nem diminui coisa alguma no gênero. Mais parece com o primeiro do que com o segundo filme aqui citados. No entanto, visto as comédias de baixo nível que imperaram este ano no cinema, Endiabrado chega a ser uma opção diferente para se desfrutar um filme mais light. Atenção para o figurino de Liz Hurley. Diabólico. 151 - SUANDO FRIO * * - Chill Factor - 102 min - dir. Hugh Johnson - 1999 - Aventura - No Cinema Só assista a este filme se você realmente não tiver outras opções. A história gira em torno de uma terrível bomba radioativa que acaba matando 18 pessoas num teste logo no início do filme. O governo faz de um militar seu bode-expiatório e o joga na prisão por dez anos, enquanto o cientista responsável pelo acidente fica solto. Dez anos são o suficiente para o cara mudar sua ideologia e ser libertado com sede de vingança: ele assassina o cientista e tenta se apossar da bomba, que sempre deve ser mantida a menos de dez graus. Só que o negócio termina indo parar nas mãos de um garçom (Street Ulrich, de Pânico) e um sorveteiro (Cuba Gooding, Jr), que logo criam uma inimizade divertida. O resto é puro clichê, narrado com competência pelo diretor Hugh Johnson. Esse é um daqueles filmes com cara de Sessão da Tarde, com atores regulares e um roteiro saído de algum encarte doméstico de cinema. Cuba Gooding, Jr é o responsável pelas tiradas engraçadas, mas não se parece em nada com um ator que já ganhou um Oscar. É, a vida é cruel. Por favor, não deixe de sair com amigos por causa disso. Muito melhor é ficar jogando conversa fora. 152 - A CILADA * * * - The Art of War - 117 min - dir. Christian Duguay - 2000 - Suspense - No Cinema Até que este novo filme de Wesley Snipes consegue ser uma boa diversão. O roteiro não é algo que se possa gabar, mas conta direitinho a história se aprofundando um pouco na percepção interior do personagem. Snipes é um investigador da ONU num caso envolvendo o embaixador chinês e imigrantes ilegais, que acaba caindo numa cila-

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da quando o embaixador é assassinado: ele vira o único e principal suspeito. Como num bom esquema hollywoodiano de produzir enlatados, ficamos do lado de um típico homem-herói, que precisa ir contra todos para achar o verdadeiro responsável. Mais uma vez, a ágil direção de Duguay faz a diferença, fazendo o máximo para transparecer o lado subjetivo de Snipes. E o que disserem, The Art of War é um programa razoável, cheio de reviravoltas previsíveis e coreografias de luta bem feitas. Impossível não comentar a cena em que as balas das pistolas fazem uma referência direta a Matrix. Quem não inventa, copia. Isso é cinema. 153 - INTRIGAS * * - Gossip - 91 min - dir. Davis Guggenheim - 2000 - Suspense - No Cinema Três amigos resolvem fazer uma espécie de estudo sobre a fofoca, como ela vai se propagando e até que ponto vai tomando outros contornos. Espalham a história de que uma riquinha transou com o namorado na última festa. Certo, tudo acontece do jeito previram, mas aparece um porém: a tal riquinha - que apagara na tal festa de tanto beber - acredita cegamente que tenha sido estuprada e denuncia o namorado à polícia. A partir daí, é reviravolta atrás de reviravolta e a coisa vai aos poucos saindo do controle. A princípio, Intrigas realmente parece intrigante. A história dá um giro de 360o a todo instante, e isso impulsiona o expectador a ir até o final. Mas é o mesmo que comparar este com Comportamento Suspeito. Ambos parecem bons e nos enganam direitinho (e ambos têm James Mardsen como protagonista). O fato é que é tanta reviravolta, que a última e mais impactante de todas não convence. Fica aquele ar de que fomos feitos de trouxas, por uma história bem enxuta e que, se prestarmos bastante atenção, é morna, fraca e cheia de incoerências visíveis. O tipo de filme que agrada, mas não cola. Claro que os menos exigentes deixarão o filme satisfeitos e comentando as sacadas da dupla de roteiristas e do diretor competente. Só que Golpe de Mestre versão adolescente não pega nada bem. Termino este rascunho com a mesma frase que fiz no comentário do thriller de David Nutter: “Não caio nessa”. E não caio mesmo. 154 - UM ASSASSINO À SOLTA * * - Switch Back - min - dir. Jeb G - 1998 - Suspense Filme com trama bastante irregular sobre um obcecado agente do FBI (Dennis Quaid) à caça de um psicopata, que seqüestrara seu filho, pelo Oeste americano. Quem espera por um bom suspense, vai se decepcionar com o roteiro morno, distorcido e previsível. Personagens caricatos e rasos como um pires completam o programa. Danny Glover (que não convence) e Jared L encabeçam o resto do elenco. Qual o motivo de se fazer um filme destes? Quem sabe? É melhor fugir e assistir a As Panteras.

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155 - SHAFT * * * - Idem - 99 min - dir. John Singleton - 2000 - Policial - No Cinema Dois anos depois do assassinato de um negro num restaurante, o detetive John Shaft renuncia à insígnia para ir atrás da única testemunha que viu o crime e assim provar a culpa do filhinho de papai acusado do mesmo. Retomada do filme dos anos 70 bem ao gosto do diretor Singleton (O Massacre de Rosewood). Samuel L. Jackson faz o personagem-título, um sujeito durão e destemido. Na verdade, o Shaft aqui é sobrinho do original, que também participa do filme. Muito humor, muitas mortes e pouca história. O roteiro, co-escrito pelo diretor, é bem direto, misturando uma trama simples e muitas confusões estilo tragicômico. Shaft é um filme bastante comercial, que diverte se você não tiver nada contra ele nem com os clichês característicos. O elenco secundário conta com Toni Collette (O Sexto Sentido), Vanessa Williams (Queima de Arquivo) e Christian Bale (O Império do Sol). 156 - AS PANTERAS * * * - Charlie’s Angels - 92 min - dir. McG - 2000 - Aventura - No Cinema Não tenha dúvidas. As Panteras diverte, e quando não levado a sério, o filme diverte em dobro. Cameron Diaz, Drew Barrymore e Lucy Liu fazem parte de uma agência secreta de detetives comandada por Charlie, um milionário anônimo cujo único contato real com as meninas é feito por meio de Bosley (Bill Murray, bastante inspirado). Aqui, elas têm de lidar com um misterioso caso de seqüestro antes de descobrirem que caíram em uma cilada. Além do enorme carisma das atrizes, grande parte do sucesso de As Panteras se deve ao roteiro descompromissado, mas com uma história inteligente, e à ágil direção de McG. O cara é do tipo que interrompe a ação por alguns segundos para vislumbrar a beleza e o contornos das belas protagonistas, dando charme ao filme. O resultado é ação pura e comédia besteirol de primeira, sem falar nos efeitos especiais e nas inúmeras cenas de luta (sim, porque as meninas não usam armas de fogo) estilo Matrix. Coisa para divertir qualquer mortal. Apesar de confirmar a pouca fertilidade do cinema neste ano - o filme é baseado numa série de TV dos anos 70 -, é uma diversão quase obrigatória para quem gostou deste singelo rascunho feito às pressas. Mas é bom repetir: não leve a sério. Pode ser fatal.

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157 - FEITOS CÃES & GATOS * * * - min - dir. Michael Leiliman - 199 - Comédia Romântica Fotógrafo apaixona-se pela voz e inteligência de uma veterinária locutora de rádio, que apresenta um programa sobre animais, e pela beleza de uma modelo que deseja ser apresentadora de TV. O problema é que ele pensa que as duas são a mesma pessoa. Simpático e divertido filme sobre as confusões nada habituais de um romance. Claro que antes da história sequer começar já sabemos como será o final, mas é sempre agradável irmos até ele numa trama aparentemente boba mas bem bolada. O filme conta, entre outros, com Ben Chaplin e Uma Thurman. 158 - SIMPLES COMO AMAR * * * - The Other Sister - 130 min - dir. Garry Marshall - 1999 - Comédia Romântica Para quem ainda tem dúvidas da existência do verdadeiro amor e de uma pessoa só para você, este é um filme essencial. Carla, um bela garota que acaba de completar 22 anos e que tem deficiência mental, vai estudar em uma escola normal e lá conhece Danny, um jovem com o mesmo problema dela. Logo iniciam uma forte amizade, o que levará os dois a se apaixonarem um pelo outro. Um amor belo e singelo, que terá de enfrentar o preconceito da sociedade e a oposição da família da moça, principalmente da mãe. Garry Marshall está de parabéns por este seu trabalho, afinal, pegar um tema tão delicado e transformar num filme agradável e que não cai na pieguice não é para qualquer um. Juliette Lewis surpreende no papel de Carla, talvez um dos melhores de sua carreira. O resto do elenco está perfeito, tendo ainda Diane Keaton como a mãe superprotetora e muitas vezes egoísta. Simples como Amar é como o próprio título diz, um filme de uma beleza muito grande e um otimismo conquistador. Impossível não ficar levemente satisfeito. 159 - ELEIÇÃO * * * * - Election - 103 min - dir. Alexander Payner - 1999 - Comédia O diretor da genial comédia Ruth em Questão volta a acertar novamente na mosca com outra comédia brilhante. Matthew Broderick é um professor que ver sua vida se complicar no mesmo período em que está acontecendo uma acirrada eleição para presidente do conselho estudantil. Os concorrentes são a inexcrupulosa Tracy (Reese Witherspoon, de Segundas Intenções), o bom moço Paul e sua meia-irmã lésbica Tammy. Contar mais sobre a trama genial seria um pecado sem perdão. Apenas saiba que, assim como seu filme anterior, o diretor faz um painel da quebra de vários preceitos morais da sociedade. É um filme quase que corrosivo, empolgante e original. Uma comédia quase obrigatória e uma excelente oportunidade para se aprender a diferença entre ética e moral.

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160 - 102 DÁLMATAS * * * - 102 Dalmatians - 10 min - dir. Kevin Lima - 2000 - Infantil - No Cinema Mesmo que a cópia dublada (principalmente nos cinemas) tire um pouco o brilho do filme, esta continuação de 101 Dálmatas é uma excelente oportunidade para se divertir acompanhado do público-alvo: as crianças. Depois de ter tida como curada, Cruela De Vil sai em condicional como uma nova pessoa, amante dos animais. Só que o passado não morre. A vilã acaba retomando seus instintos maquiavélicos e seu antigo sonho de fazer um casaco de pele de dálmata. Com a ajuda de um estilista francês (Gérard Depardieu), vai à caça dos cachorros para levá-los para Paris, inclusive dos filhotes de um dálmata sobrevivente ao primeiro filme, cuja dona é agente de condicional de De Vil e sobrinha de Anita (a esposa de Jeff Daniels que, pena, não aparece aqui). Efeitos especiais unidos com um excelente treinamento dos cachorros tornam certa a diversão, mas não espere que este filme supere o primeiro (que tinha roteiro de John Hughes, o responsável por Esqueceram de Mim). A trama clássica de 101 Dálmatas era bem mais interessante, tendo uma Londres bem mais caracterizada. 102 deixa o ar de apenas ser uma desculpa para render uns trocados, embora Glen Close brilhe mais uma vez na pele da já eterna Cruela e seja um filme bem agitado e competente. Para quem não se lembra do diretor, Kevin Lima veio do mundo animado da Disney. Dirigiu o desenho Pateta - o Filme, de 95, e conseguiu credibilidade para seu primeiro longa de carne e osso com o sucesso de Tarzan, de 99. Se o negócio é se divertir, então vamos lá. 161 - UM CASO À TRÊS * * * - Three to Tango - 98 min - dir. Damon Santostefano - 1999 - Comédia Romântica Matthew Perry é um arquiteto prestes a conseguir um projeto milionário, junto com seu sócio homossexual. O rico empresário que o contratou acha que o gay da dupla é ele e o pede para grudar na amante, Amy (Neve Campbell, linda e meiga como nunca). Só que o cara acaba se apaixonando pela moça e entra num impasse terrível. Desculpe o rascunho pouco inspirado, mas este é um filme que agrada facilmente. Simpático e muito engraçado, contém um roteiro simples e bem bolado. É superdivertido ver a tortura pela qual o personagem de Perry passa, enquanto o país todo pensa que ele é um homossexual corajoso. Pode apostar na diversão aqui. Só não se sinta afetado. 162 - POR AMOR * * * - For Love of the Game - 137 min - dir. Sam Raimi - 1999 - Romance O diretor de Um Plano Simples dirige com classe essa linda história de amor com Kevin Costner e a doce Kelly Preston. Costner está muito bem na pele de um jogador de beisebol famoso (mais uma vez) em crise no que virá a ser o último e mais importante jogo de sua carreira. Em meio a uma difícil partida, ele se dispõe a relembrar a trajetó-

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ria de seu complicado relacionamento com Jane, que está prestes a ir embora para Londres. Por Amor é um filme contundente, prazeroso de se assistir e com um roteiro muito bonito. Embora fuja ao estilo do diretor, ele soube emocionar com o produto final. São mais de duas horas de uma história que se passa durante cinco anos e que não se torna nem um pouco cansativa. O tipo de filme que, embora contado várias e várias vezes, é sempre bom de ver novamente. Sabemos o final, mas o caminho que percorremos até ele é o que nos interesse. Por Amor é um prato cheio para quem gosta desse gênero de filme, em que todos ficam torcendo por um final em comum. Belo trabalho. 163 - ENTRE AS PERNAS * * * * - Entre las Piernas - 115 min - dir. Manuel Gómez Pereira - 1999 - Drama Um homem viciado em sexo por telefone-celular (Javier Bardem, do também ótimo Carne Trêmula) conhece uma ninfomaníaca (Victoria Abril) numa terapia para anônimos viciados em sexo e os dois passam a ter um forte caso. A trama torna-se ainda mais intrigante quando ele descobre que suas conversas eram gravadas e vendidas, o marido da outra descobre o caso e um jovem roteirista é encontrado assassinado no porta-malas de um Volvo abandonado numa garagem. Detalhe: é o mesmo carro em que os amantes transaram pela primeira vez. Mais uma vez, os espanhóis provam que sabem criar excelentes histórias, envolvendo sexo e intrigas mirabolantes. Recheado de grandes reviravoltas e surpresas a cada instante, Entre as Pernas traz uma trama complexa, que levará o expectador cada vez mais por caminhos sem volta. É um programa obrigatório para os aficionados por histórias complicadas e com enorme dose de originalidade. Isso é que é filme. 164 - O DESAFIO DA LEI * * * - Swing Vote - 93 min - dir. David Anspaugh - 1998 - Drama Andy Garcia é um jovem juiz da Suprema Corte dos Estados Unidos enfrentando um terrível dilema acerca de uma votação sobre contra e a favor do aborto. Este telefilme realmente consegue nos deixar pensativos sobre a delicada questão. O roteiro tem um desenvolvimento bem interessante, mostrando a razão de cada lado e misturando o pessoal com o profissional. Grandes interpretações, como a de Andy, num filme contundente e cativante, que discute de frente as regras morais da sociedade.

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165 - O GRINCH * * * - The Grinch - 115 min - dir. Ron Howard - 2000 - Infantil - No Cinema Personagem criado pelo Dr. Seuss, o Grinch é um homenzinho verde, peludo e arrogante que vive isolado em uma caverna nas montanhas junto com seu cachorro Max, próximo ao inusitado vilarejo de Quemlândia, que se prepara para mais um Natal. Só que o Grinch odeia o natal mais que tudo e resolve sabotar o Papai Noel este ano: ele se disfarça do bom velhinho e rouba todos os presentes de Natal. O que o Grinch não esperava era que encontraria em uma garotinha a compaixão que lhe faltava para se tornar uma boa criatura e compreender o verdadeiro espírito natalino. Bela fábula inspirada num clássico conto norte-americano. A inspirada direção de Ron Howard (Apollo 13 e EDtv) confere ao filme um tom mágico e até mesmo surreal. Jim Carrey está irreconhecível na pele da criatura, com uma maquiagem simplesmente perfeita. Com toneladas de látex no rosto, ele ainda consegue transparecer de maneira brilhante suas caretas e gestos faciais, como se aquilo fosse sua pele de verdade. O roteiro conciso e bem amarrado possibilita uma viagem sem escalas para um mundo completamente novo e consegue deixar bem claro a mensagem do filme. A trilha sonora, incluindo a música “Where Are You Christmas”, são lindas, fechando o filme com chave de ouro. Bem ao espírito do Natal. 166 - IT - UMA OBRA PRIMA DO MEDO * * * - It - 157 min - dir. Tommy Lee Wallace - 1990 - Terror Um grupo de amigos traumatizados por um passado em comum tornam a se reunir depois de trinta anos na cidade de Derry para caçar o palhaço Pennywise, um terrível ser monstruoso que mutila crianças. Baseado em mais uma obra de Stephen King, It exercita muito bem o terror psicológico, raro em filmes do gênero. Apesar de esticado, tem um bom ritmo e consegue manter a tensão. O roteiro promete desde o começo, mas possui vários “buracos” visíveis e decepciona bastante depois da metade, levando o expectador para uma conclusão terrivelmente fraca. Mesmo sendo um bom filme de terror à moda antiga, It não é uma obra-prima. Passa longe disso, provando apenas a superficialidade das obras de King. Mas é uma boa oportunidade para ficar intrigado e sentir medo. Um bom medo. 167 - NUNCA FUI BEIJADA * * * - Never Been Kissed - 107 min - dir. Raja Gosnell - 1999 - Comédia Drew Barrymore, além de atuar, também produziu essa divertida comédia sobre uma jovem jornalista que se disfarça de estudante e volta ao colegial - uma época que não queria voltar a lembrar - para fazer uma matéria sobre o comportamento dos adolescentes de hoje em dia. Claro que a coisa vai muito mais além, proporcionando boas risadas. É um filme sobre exorcizar o passar e achar o verdadeiro amor. No elenco estão

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David Arquette, como o irmão popular da personagem principal, John C. Reilly, como o chefe, e Leelee Sobieski, como a amiga CDF. Boa pedida para uma manhã de sábado. 168 - OUTONO EM NOVA YORK * * * - Autumn in New York - 11 min - dir. Joan Chen - 2000 - Romance - No Cinema É impressionante como cada cena desse filme parece ter sido feita para apenas tentar nos emocionar. Os diálogos estão todos no lugar certo e na hora certa, bem como as situações e a câmera dando uma de nostálgica pela bela Nova York e suas folhas caindo. Richard Gere é Will, um mulherengo quarentão dono de um restaurante que namora mulheres bem mais novas (muito mais) e não consegue ficar num relacionamento por muito tempo. A grande virada em sua vida se dá quando, durante o outono, ele conhece Charlotte (Wiona Rider), uma bela e simpática garota de 22 anos com quem passa a se relacionar. Só que Charlotte tem poucos meses de vida e Will se descobre intensamente apaixonado por ela. Já deu para prevê o final deprê, não é mesmo? Mas o fato é que Outono em Nova York acaba sendo um filme bem agradável, apesar do roteiro apelativo e da direção mais ainda. A boa química entre Wiona e Richard possibilita isso. É muita sacarina, eu sei, mas não chega a ser algo tão ruim. Há algumas lições bonitas que podemos tirar dele. Claro que é restrito para um pouco número de pessoas, mas é um bom filme para nos deixar tristes. 169 - ENRAIVECIDA - NA FÚRIA DO SEXO * * * - Rabid - 90 min - dir. David Cronenberg - 1976 - Terror Mulher sai do coma, tempos depois de um grave acidente de moto com o namorado, com terrível sede de sangue. Com uma espécie de ferrão que sai de um orifício em sua axila esquerda, aos poucos vai espalhando um perigoso vírus, a princípio confundido com raiva. O terror e o medo vão tomando conta da região. O polêmico diretor de A Mosca e Gêmeos - Mórbida Semelhança escreveu uma história aparentemente simples, mas bastante eficiente e original. Nunca sabemos o que esperar de seus filmes, e aqui ele soube muito bem causar tensão do início ao fim, num roteiro conciso e intrigante. Mas é o tipo de filme que agradará apenas aos que curtem o estilo bizarro de Cronenberg. Não há grandes seqüências nem efeitos especiais bacanas. Trata-se de uma discreta obra-prima.

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170 - CIDADE DAS SOMBRAS * * * - Dark City - 98 min - Alex Proyas - 1998 - Ficção O diretor de O Corvo criou uma obra intrigante e com um visual bem arrojado ao contar a história de um homem desmemoriado que acorda em uma banheira de um quarto de hotel e se descobre suspeito de alguns assassinatos, numa metrópole sem luz do solo dominada por estranhos seres. Misturando vários gêneros e tendo diversas referências a filmes antigos, como Nosferatu e O Gabinete do Dr. Galigari, marco do expressionismo alemão, Cidade das Sombras tem o ritmo de uma história em quadrinhos e grandes reviravoltas. O elenco conta com Kiefler Sutherland, William Hurt e a bela Jennifer Connelly. Surreal e bem acima da média. 171 - NENHUM A MENOS * * * * - Yi Ge Dou Bu Neng Shao / Hot One Less - 105 min - dir. Zhang Yimou - 1999 - Drama Menina de 13 anos é encarregada de substituir velho professor de uma escola primária numa aldeia pobre e distante por um mês. Bastante inexperiente, ela luta com todas as suas forças para manter os poucos alunos que tem. O diretor chinês Yimou (Lanternas Vermelhas) soube brilhantemente trabalhar com seus atores, fazendo com que os sentimentos brotem na tela da maneira mais natural possível. Às vezes esquecemos que estamos vendo a apenas um filme, pois é muito mais que isso. É uma extraordinária lição de humanidade. Tanto é que foi o ganhador do Leão de Ouro no Festival de Veneza. Bastante comovente, Nenhum a Menos é o tipo de filme obrigatório de se ver e rever. Lindo final e uma bela trilha sonora. 172 - O COMANDO 10 DE NAVARONE * * * - 128 min - dir. Guy Hamilton - 1978 - Aventura Durante a 2a Guerra Mundial, Harrison Ford e Robert Shaw comandam um grupo de soldados que vai à Iugoslávia, em território inimigo, abater um agente alemão infiltrado entre os aliados e destruir uma ponte estratégica. Bom filme de guerra, bastante humorado e com um elenco de peso. O roteiro conta a história direitinho e cria várias situações que garantem o interesse e a diversão. 173 - UM VIÚVO EM PONTO DE BALA * * * - A Chorus of Disapproval - 95 min - dir. Michael Winner - 1988 - Comédia Homem cuja mulher morreu recentemente (Jeremy Irons) muda-se para cidadezinha galesa e lá entra para um inusitado grupo de teatro que está montando “A Ópera do Mendigo”. Acaba se envolvendo com a mulher do diretor da peça, Dafydd (Anthony Hopkins). Grande elenco, num filme teatral de alto nível e com um roteiro bem expressado e desenvolvido. Jeremy Irons como sempre convence do grande ator que é com seu personagem que aos poucos vai se complicando mais e mais com seus novos e inte-

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resseiros amigos. No entanto, é Anthony Hopkins quem rouba a cena com sua brilhante interpretação. 174 - A FUGA DAS GALINHAS * * * * - Chicken Run - 82 min - dir. Peter Lord e Nick Park - 2000 - Infantil - No Cinema Não se engane. Está aqui um dos melhores filmes do ano. Dentre todas as animações que tivemos o prazer de conferir este Milênio, A Fuga das Galinhas é sem dúvida a melhor e a mais original delas. Partindo do pressuposto de que galinha também pensa, fala e sente medo, os diretores Peter e Nick, que já faturara três Oscars de Animação, criaram uma aventura muito mais que legal, e que vem agradando gregos e troianos. A história se passa na Inglaterra, no galinheiro de uma velha ditadora e seu subordinado paranóico, onde as galinhas já se cansaram de tentativas de fuga frustradas. A galinha Ginger sempre acaba sendo a responsável por tudo, mas nunca desiste de seu desejo de libertar todas as companheiras de uma só vez. O sonho parece começar a se realizar com a chegada de um fajuto galo de circo com pinta de herói. Só que Ginger não sabe que é ela quem será a heroína quando descobrir que todo o galinheiro está condenado a virar tortas. Um espetacular e infalível plano de fuga é imediatamente posto em prática. Com uma técnica de animação, digamos, um tanto obsoleta comparada com a atual tecnologia cinematográfica - é aquela feita com bonecos de massinha fotografados quadro a quadro -, demorou quatro anos para o filme ficar pronto. E o resultado supera qualquer expectativa. Em outras palavras, o filme é perfeito visualmente. É de deixar no chão os efeitos gráficos de computador, usados hoje em dia. Feições expressivas e distintas, gestos humanos, saltos... É um riqueza de detalhes de dar água na boca. Como se isso não bastasse, ainda caprichou-se num roteiro divertido e bastante inteligente, com referências a filmes com Fugindo do Inferno e Os Caçadores da Arca Perdida. Enfim, o filme é um espetáculo completo. Quem não se divertir assistindo a ele pode procurar com urgência um psiquiatra. Palmas para os diretores, que nos agraciaram uma rara e maravilhosa obra-prima. 175 - NADA É PARA SEMPRE * * * - A River Runs Through It - 1 Oscar - 122 min - dir. Robert Redford - 1992 - Drama Robert Redford faz um belo retrato da América no início do século XX ao contar a trajetória dos irmãos Norman (Graig Sheffer) e Paul (Brad Pitt), filhos de um pastor presbiteriano (Tom Skerritt), que trilham por caminhos distintos, mas fazem de uma simples pescaria num belo rio da região de Montana algo muito maior do que possa parecer. A história se concentra mais no reencontro dos dois em 1925, quando Norman se apaixona pela bela Jessie (Emily Lloyd) e Paul, agora um repórter conhecido, perde muito dinheiro em jogos de carta. As imagens que acompanhamos são belíssimas. Uma história sem tramas nos faz sentirmos agradáveis, ainda mais quando as atuações estão bem acima da média. Cheio de lições, Nada é para Sempre é uma obra sincera e verdadeira sobre a amizade, o amor e o tempo. Vencedor do Oscar de Melhor Fotografia, um filme bonito e cativante.

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176 - O DOMÍNIO DO OLHAR * * * - Looker - 93 min - dir. Michael Crichton - 1981 - Suspense Albert Finney é um cirurgião plástico que se torna o principal suspeito de alguns assassinatos de belas atrizes de comerciais obcecadas com o corpo perfeito. Das quatro que ele operara, três morrem de maneira estranha. Agora, ele gruda na última garota para desvendar o que está realmente acontecendo. Irá penetrar em um intricado esquema de manipulação mental. Mesmo com vários futuro, o diretor Crichton fez uma obra modesta e bastante interessante, que consegue manter o interesse até o final. É um filme bem articulado, mas que acaba deixando várias perguntas sem respostas. No elenco, ainda se encontra o veterano James Coburn. 177 - MARIDOS E ESPOSAS * * * - Husbands and Wives - 110 min - dir. Woody Allen - 1992 - Drama O diretor Woody Allen divaga sobre a vida matrimonial em mais um saboroso filme. Aqui, um escritor vive crise no casamento quando seu melhor se separa da esposa e ele se sente atraído por uma de suas alunas (Juliette Lewis). Uma verdadeira ciranda de personagens, todos com seus inusitados problemas, desfilam diante do expectador por quase duas horas. Cheio de surpresas e diálogos de outro mundo. Como em todo filme de Allen sempre há diversas coisas para se absorver, cenas hilárias, analistas etc. Quem curte realmente o diretor, não há do que reclamar. No elenco ainda estão Mia Farrow e o também diretor Sidney Pollack. 178 - TOPÁZIO * * * * - Topaz - 127 min - dir. Alfred Hitchcock - 1969 - Suspense Agente da inteligência secreta russa foge com a família para os Estados Unidos com segredos importantes, o que leva um espião francês a ir até Cuba investigar a atuação de russos no país de Fidel Castro. Brilhante filme de espionagem política, conduzido com perfeição por Hitchcock. Além de uma trama cheia das mais inesperadas surpresas, é a câmera afiada do mestre que faz a obra se destacar ainda mais. Movimentos inesperados, closes e um posicionamento perfeito são ingredientes do diretor que o justificam ser um dos melhores e mais importantes diretores do cinema como um todo. Não há dúvidas sobre sua genialidade, pois vinte anos após sua morte seus clássicos continuam sendo os clássicos atuais. Sua obra tem tendências a cada vez mais expandir o número de fãs incondicionais. E Topázio, que ainda proporciona algumas rupturas em preceitos morais e políticos, é sem dúvida nenhuma mais um grande clássico a ser ainda muito degustado.

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