EDIÇÂO ESPECIAL 2 0 1 9
Universidade Federal de Alagoas - UFAL Campus A.C. Simões (Maceió - AL) Faculdade de Arquitetura e Urbanismo - FAU Profª. Drª. Caroline Gonçalves dos Santos Everton Pereira Jordanna Cavalcante Marcella Gazzaneo Maria Teresa Torres Mirella Murta
R EVISTA DA HISTÓRIA DE ARTE, ARQUITETURA E CIDADE II
E S TA D O D I V I N O
Barroco: Estado Divino
Editorial A revista Barroco: Estado Divino adota como fundamental objetivo enaltecer o estilo barroco, do seu início ao seu apogeu, por meio de informações ora descontraídas ora mais densas sobre a temática. Para isto, os escritores se valeram de comparações entre épocas distintas, a exemplo dos dias atuais com o século XVII, e até mesmo de polêmicas entre os artistas do movimento. É importante entender que o nome da revista surgiu a partir de um questionamento sobre as raízes da estética barroca, majoritariamente associada à Igreja sem levar em conta a importância desse estilo para a política. O corpo de autores estabeleceu, dessa forma, uma revista suscinta, voltada para o auxílio de estudantes de todos os níveis de ensino, já que a linguagem simples, o questionamento pertinente e o conteúdo didático são elementos essenciais para um aprendizado de qualidade. Tudo foi pensado com o intuito de, inclusive em matérias menos rigorosas, expor e transmitir o conhecimento de maneira inovadora e peculiar, bem como o próprio estilo barroco. Rica em detalhes, a revista traz consigo um papel tão importante quanto os anteriormente citados: entreter o leitor ao ponto de transportá-lo àquele tempo, para que se sinta tão deslumbrado com as obras como os escritores se sentiam enquanto estudavam sobre elas.
II
Barroco: Estado Divino
Índice
IV VI
VII
X XII XIV XVIII
Reforma protestante e o movimento barroco na história Cidades Barrocas: Antiguidade e evoluções Expressões barrocas na Itália PERFIL: uma biografia de Louis Le Vau Bernini x Borromini Principais elementos arquitetônicos do período barroco Arte, pintura e escultura
XXI Referências III
Barroco: Estado Divino
Reforma protestante e o movimento barroco na história Frequentemente classificado como o estilo artístico da Contrarreforma, o Barroco surge como artifício para reassegurar o poder político, intelectual e artístico da Igreja católica na Europa, visando ir de encontro aos avanços protestantes do final do século XVI e início do XVII. Esse período é marcado por movimentos sociais que questionam a influência Católica nos diversos segmentos coletivos, discutindo acerca da doutrinação rígida, das missas realizadas em linguagens não acessíveis e outras arbitrariedades. Assim, o Protestantismo (em destaque o Luteranismo, Calvinismo e Anglicanismo), liderado por Martinho Lutero, conseguiu adesão da população de diversas regiões e de alguns membros da nobreza e se consagrou como alternativa aos excessos clericais. A resposta da Igreja à essa “ameaça” foi a formação do Concílio de Trento (1545 a 1563) como forma de assegurar a fé e a disciplina eclesiástica. A partir das medidas aprovadas por esse conselho, as Igrejas se revestiram de ornamentos sacros muito detalhados, dando início ao movimento barroco.
Imagem 1: Martinho Lutero, líder protestante
Imagem 2: Concílio de Trento tentou pôr fim às disputas católicas e reformistas Logo, houve o contraste entre a formalidade e sobriedade das Igrejas Protestantes com as minúcias da arte sacra Barroca. Além disso, intensificou-se a luta contra o pecado, como se percebe na proibição de artes com temas pagãos, com cenas escandalosas ou de nus; e deram aos santos e santas títulos de cortesãos e cortesãs com intenção de aproximar a doutrina à vida habitual da época. Uma visão mais aprofundada sobre o assunto nos permite perceber o teor propagandístico e persuasivo desse novo estilo que, revestido de ideais religiosos, visa discretamente favorecer o sistema político que mais beneficiava a Igreja com seu conservadorismo, estrutura econômica e divisões sociais – o absolutismo monárquico. É através dele que a Igreja Católica consegue estabelecer a Inquisição (particularmente a espanhola) como meio de controlar e punir a heresia ao mesmo tempo que distraia a população com manifestações estéticas. Dessa forma, o Barroco rompe com o humanismo, racionalismo, naturalismo e conformismo retilíneo dos valores clássicos tradicionais
IV
Reforma protestante e o movimento barroco na história
que o Renascimento exibia. As cenas bíblicas voltam a ter destaque social e as produções de igrejas, capelas, estátuas de santos e monumentos sepulcrais sofrem enorme impulsão, caracterizando essa época como a que mais produziu tais elementos. Utilizando contrastes e exageros, há grande teatralidade, subjetividade, apelo emocional e conflitos nas obras. Ainda, do ponto de vista técnico, há o uso recorrente de curvas, diagonais, jogos de luz e texturas cujo objetivo principal era declarar visivelmente a grande riqueza e poder da Igreja. Nesse momento, Roma se destacava como principal cidade formadora de ideais artísticos e intelectuais em acordo com o segmento católico, que serviriam de inspiração para o restante da Europa e, posteriormente, para o mundo colonizado, visto que era em Roma a sede do Papado e da Companhia de Jesus. Foi lá que implantou-se o tridente da Piazza del Popolo, um complexo de três ruas, partindo dessa praça, que levava os peregrinos da entrada da cidade até as grandes basílicas. Inspirada também pelo modelo de cidade existente em Portugal e Espanha, a Igreja utilizou o Barroco para ampliar a representação da sublime política católica, em que os habitantes obedeceriam a um modelo de vida e de comportamento segundo os valores cristãos.
Imagem 3: O Assassinato de São Pedro Mártir. Óleo e têmpera. 1507
por: Mirella
Murta
Imagem 4: Plano del Tridente Plaza del Popolo. Roma (Nolli)
Dessa forma, a fim de revigorar a Igreja Católica a partir de uma comunicação mais aprimorada, a arte é desenvolvida para que o observador, nesse caso o fiel, consiga se emocionar ao ver uma cena bíblica retratada com detalhes e ornamentos ricos, porém ao mesmo tempo atingível, já que tais imagens foram implementadas geralmente nas Igrejas. Como reação a esse exagero de minúcias, o Rococó surge na França com mais sutileza, principalmente nos detalhes internos de palácios, castelos e outras residências, com temas florais, menos dramaticidade e religiosidade presentes no Barroco. balaustradas, entablamentos e ângulos retos suavizados. Do mesmo modo, as portas e janelas são maiores e com arcos de volta perfeita e há o uso de sofitos na cobertura interna dos edifícios. Assim, as cores mais suaves e as linhas mais delicadas são as principais características arquitetônicas desse estilo, além da abolição de elementos clássicos decorativos; mantendo-se as cornijas,
V
CIDADES BARROCAS: ANTIGUIDADE E EVOLUÇÕES
As cidades barrocas eram essencialmente uma expressão visual dos poderes monárquico e eclesiástico compostas pelo centro urbano, palácios e jardins. Opondo-se ao Renascimento, que defendia o alargamento de ruas e a maior geometria possível, a expressão barroca foi mais enfática: contava com formas esculturais onduladas, belíssimas composições e traçados grandiloquentes. Além disso, supria os interesses burgueses, justamente pelo aspecto rico. Em suma, as cidades eram obras de arte que contavam com obeliscos, chafarizes, estátuas, colunatas, arcadas, entre outros monumentos. Dentro das antigas cidades barrocas, algo que merece destaque são os jardins. Com uma disposição praticamente perfeita, os jardins chamavam atenção pela separação geométrica, canais internos, lagos e ângulos retos, mas pelos motivos arabescos principalmente. Ao longo dos anos, as cidades foram evoluindo e passando por transformações. Paris, por exemplo, sofreu uma grande reforma no século XIX. Com o intuito de promover a qualidade de vida, a mudança incluiu melhorias como saneamento básico, maior rede de distribuição de água e iluminação.
Imagem 1: exemplo de jardim barroco com detalhes em arabescos
por: Marcella Gazzaneo
Imagem 2: Roma, o perfeito exemplo de uma cidade barroca Algumas das medidas, no entanto, são contestadas até os dias atuais, como a demolição de inúmeros prédios levantados na idade média e a extinção de cortiços, seguida da construção de conjuntos habitacionais na periferia como medida paliativa. Viena, por sua vez, após a revolução de 1848, resolveu canalizar o rio Danúbio para evitar inundações, construir o primeiro hospital público, entre outras melhorias. A reforma, contudo, foi baseada em interesses da classe rica, isto é, a burguesia habitava o centro da cidade, sem se preocupar com os moradores da periferia. Outras várias cidades também passaram por reformas que geram consequências até os dias atuais, sejam elas boas ou ruins. O que se pode notar é que o barroco teve grande importância na construção identitária de cada uma delas, tornando-as, em parte, o que são hoje. Percebe-se também que a necessidade de exaltação à grandiosidade possibilitou o alargamento de vias e a criação de amplos espaços públicos, sendo a paisagem consequência da interferência humana. Tais alterações são perceptíveis ainda nas grandes cidades atuais, em que a retificação de canais, por exemplo, demonstra como a mudança do fluxo natural pode favorecer ou não, a depender do tipo de intervenção, o movimento e percurso urbanos.
VI
Barroco: Estado Divino
na I tรกlia
Barroco: Estado Divino
E xpress õ es b ar ro c as n a
I t á l i a :
Es s e m ov i m e nt o floresceu n o fi nal d o sé c ul o X V I e m Rom a, após o Tratad o d e Tr e nto. Ta l a gi t ação man i f est ou o e sp lend o r do p ode r e da ex t rav agân ci a que s ó o p o d e r d om i n a n t e pode permi t i r, de mo ns tr o u i r r e g u l a r i d ade, con t orci on i sm o e co nsis t ê n c i a e m s u as obras arqu i t etô nicas , q ue b r a n do c on cei t os est ét i cos do r enas cime nt o ; dr a m a ti ci dade, em oção e alto co ntr a s t e de to n s cl aros e escu ros na ar te; l ib e rda de d e p en samen t o mai or e cur io s id a d e c i e n tí fic a n a área da ci ên ci a e metáf o r a s , a l e gor i a s e ou t ros art i f í ci os r etó r ico s n o â m b i to l i t erári o. A lg u m a s o br a s arqu i t et ôn i cas qu e chamar a m m a i s a te n ç ão do pú bl i co são:
Imagem 1: Igreja Il Gesù considerada por diversos autores como a primeira igreja barroca italiana, servindo como modelo para as demais que seriam construídas. Tem como arquitetos e decoradores responsáveis Giacomo Vignola e Giacomo della Porta, construída entre 1568-80
Imagem 2: Praça de São Pedro, arquitetada por Bernini em 1667, é uma das mais importantes construções barrocas em Roma. Quebrando o paradigma renascentista de que círculo e retângulo eram formas sagradas, o arquiteto usa a forma elíptica na praça, emoldurada por colunatas que o próprio comparou aos braços maternais da Igreja católica.
Imagem 3: Fonte de Trevi, de Nicola Salvi, se inspirou em muitas obras de Bernini e foi uma ambiciosa construção barroca na época. Localizada na Piazza di Trevi, tem como tema as forças da natureza que ameaçam o homem e seu trabalho; Netuno, estátua no centro, faz parte das forças da natureza e das criaturas míticas que ameaçavam o povo.
VIII
E xpress õ es b ar ro c as n a I t á l i a :
Já no espaço artístico, Caravaggio (estilo luminista), Bernini (realismo,movimento e emoção) e Andrea Pozzo (usava perspectiva de forma ousada) são os principais representantes italianos:
imagem 6: A Apoteose de Santo Inácio, de Andrea Pozzo. Pintura a fresco e técnicas ilusionísticas, feita entre 1688-94. Está localizada na Igreja de Santo Inácio de Loyola, Campus Martius, Roma.
Imagem 4: Cena in Emmaus de Caravaggio, pronta em 1601, e foi usado óleo sobre tela com contraste de tons. Está localizada na Pinacoteca de Brera, em Milão.
Imagem 5: Êxtase de Santa Teresa D’Ávila, de Bernini, lapidado em mármore entre 1646-52. A escultura mostra a Santa com os olhos semi-fechados em direção ao céu, enquanto o cupido, com um sorriso malicioso e uma flecha nas mãos (simbolizando o amor de Deus), com o intuito de flechar o coração da Santa, tenta levantar seu vestido.
por : Everton Pereira
Uma das principais figuras na área científica é Galileu Galilei, considerado por diversos autores como o maior cientista italiano do Barroco.
Imagem 7: Galileu Galilei foi um professor de Matemática que fez observações pioneiras sobre a natureza com implicações permanentes para o estudo da Física.
IX
u m a
bi og r a f ia
d e
LOUIS LE VAU
P E R F I L : u m a b i o g r a fi a d e L o u i s L e V a u
C
onsiderado um dos melhores arquitetos do século XVII na França, nasceu em 1612 e morreu em 1670, vivendo toda a sua vida em Paris. As influências italianas recebidas pelo pai, que incluíam obras de Bernini e Pietro da Cartona, contribuíram para a sua carreira e sua participação na criação do estilo classicista francês, o chamado estilo Luís XVI. Iniciou sua carreira desenhando o Hotel de Bautru (1634), seguido do elegante Hotel Lambert, entre outros, assim como algumas casas na Ilha Saint-Louis, onde ele combinava alguns aspectos clássicos da arquitetura francesa com elementos do Barroco. Em anos seguintes, continuou contribuindo
Imagem 1: Hotel Lambert, Ilha Saint-Louis
Em 1654, desenhou asas e uma colunata para o Louvre e foi nomeado, no mesmo ano, o arquiteto do rei Luís XIV. Logo após, começou sua obra-prima arquitetônica, o Chateau Vaux-le-Vicomte -propriedade do ministro das finanças da França, Nicolas Fouque-, que é considerado por alguns o Castelo Francês mais importante de todo o período barroco, pois possui todas as características clássicas arquetípicas de ordem, equilíbrio e simetria, além de sua forma monumental e imponente.
por: Jordanna
Cavalcante
Imagem 2: Castelo deVaux-le-Vicomte Em anos seguintes, continuou contribuindo na construção e reformas do Louvre, tornando-se um dos arquitetos mais relevantes da época. Através do projeto do College des Quatre Nations, Le Vau mostrou uma forte afinidade com a arte barroca italiana, e com os trabalhos de Bernini e Francesco Borromini. Em 1667, Luís XIV ordenou a construção do Palácio de Versalhes e, até 1670, Louis Le Vau foi o principal arquiteto encarregado do projeto, juntamente com o paisagista Andre Le Notre e o decorador Charles Le Brun, além de vários artistas barrocos. Responsável por sua edificação, Le Vau passou a ser o principal colaborador para o surgimento do magnífico estilo Luís XIV, que unificava a glória da Roma Antiga com a da França do século XVII.
Imagem 3: Palácio de Versalhes
XI
Bernini A rivalidade entre os arquitetos Gian Lorenzo Bernini e Francesco Borromini ainda hoje é colocada em dúvida por muitos historiadores, o que se sabe é que a grande Roma monumental se deve em grande parte ao possível ódio existente entre os dois e que o boato persiste até a atualidade. Os artistas eram extremamente diferentes: Bernini, nascido em Nápoles, era extrovertido, tinha a proteção dos papas e possuía um talento natural para o lado artístico. Borromini, nascido no lago de Lugano, tinha um temperamento silencioso, cerebral e era muito religioso; costumava brigar com clientes e acabava por assustá-los, ao contrário de seu rival. Devido a ajuda do papa Paulo V, Bernini já era famoso desde os seus treze anos, sendo até chamado até de “o Michelangelo de sua época” pelo pontífice Seu caminho se cruzou com o de Borromini quando em 1624 o papa Urbano VIII o convidou para erguer um baldaquino, ponto de maior destaque dentro do local, na Basílica de São Pedro; nesse mesmo período, Borromini estava encarregado de grande parte da ajuda dada a Carlo Maderno, arquiteto responsável pela basílica. Cinco anos depois, com a morte de Carlo, Borromini esperava herdar seu posto de arquiteto, o que, tragicamente, não aconteceu devido a sua personalidade difícil. Bernini, então, acabou encabeçando a construção. A rivalidade chegou ao ápice quando Borromini cancelou a parceria e passou a trabalhar por conta própria ao descobrir um pacto de Bernini, que incluía receber uma comissão especial de uma empresa de fornecimento de mármore (propriedade dos dois arquitetos, aliás).
Imagem 1: Basílica de São Pedro, igreja erguida com a parceria dos dois arquitetos
XII
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Borromini Borromini, pois, iniciou sua carreira solo graças a frades espanhóis, que o fizeram uma encomenda: a Igreja San Carlo. Graças à obra, chamou atenção na região e começou a receber mais encomendas, como a cúpula de Sant’Ivo alla Sapienza. Nesse meio tempo, Bernini entrava em uma confusão envolvendo a Basílica de São Pedro: colocou torres muito mais pesadas do que o projeto original, de Carlo Maderno, suportava. Essa ideia provocou rachaduras na fachada da igreja e trouxe duras críticas ao arquiteto. Além disso, fez uma peça de teatro que zombava do novo papa, Inocêncio X, caindo, desse modo, em decadência. No entanto, Bernini não demorou muito a recuperar sua glória, já que tempos depois conseguiu (de forma misteriosa, diga-se de passagem) a encomenda da fonte da Piazza Navona, sendo que a ideia de construir um elemento dedicado aos quatro grandes rios do mundo veio do próprio Borromini. Bernini, projetista da fonte, ainda fez questão de colocar elementos de deboche em relação a igreja de Sant’Agnese, de Borromini: duas esculturas com expressão horrorizada. Com a mudança de papa, Borromini se afundou ainda mais, visto que Alexandre VII, o pontífice, era amigo de Bernini. O primeiro, por esse motivo, foi afastado de todas as obras e o segundo entrou em seu período mais glorioso. A época de Borromini havia terminado. No fim da vida se afogou na própria loucura: tirou sua vida após uma discussão banal e se atirou sobre uma espada, levando um dia inteiro para morrer.
Imagem 2: representação da briga entre Borromini e Bernini: estátua de Bernini se protegendo” da igreja de Borromini, como se a construção estivesse prestes a cair
por: Marcella Gazzaneo
XIII
do
per Ăodo
barroc o
Principais elementos arquitetônicos do período barroco
As obras do período barroco não renegam as formas clássicas - frontões, arcos, colunas, frisos -, mas transformam esses elementos em algo muito mais imponente. Como uma resposta às representações simétricas e rígidas do período anterior, a arquitetura barroca aspira criar uma ilusão de movimento, trabalhando o dinamismo de combinações e a abundância de traços e curvas, que reforçam o efeito dramático e cênico. Também as formas sinuosas e salientes brincam com os efeitos de luz e sombra, aspecto muito trabalhado nas construções do período. Essas representações esculturais, marcantes e monumentais reafirmavam o poder da Igreja e a Contrarreforma. As fachadas ganham uma importância ainda maior, pois era o elemento de primeiro contato e principal impacto. Era trabalhada a ideia de movimento através da representação das curvaturas, do côncavo e do convexo e da valorização da luz. Os frontões fragmentados permitiam uma interação vertical com os outros elementos, juntamente com as ordens g igantes ou ordens colossais, que consistiam em colu-
Imagem 1: Museu Militar de Lisboa com frontão interrompido
Imagem 2: Coluna salomônica, localizada na Igreja do Convento da Nossa Senhora da Encarnação, em Lisboa, Portugal
nas ou pilastras que se estendiam verticalmente por pelo menos dois andares da edificação, responsáveis pela imponência das obras. As colunas eram utilizadas como suporte e também de maneira que reforçassem o efeito dramático na atmosfera. Eram colunas torsas ou salomônicas, com o fuste torcido de forma helicoidal; também duplas ou triplas, escalonadas, todas de ordem coríntia, atuando como forte elemento decorativo. Já os portais eram extremamente decorados e a apropriação de volumes cheios e vazios criavam uma impressão escultórica em toda a estrutura. O interior, tanto quanto o exterior, é exuberante e rebuscado. Elementos variados como cartuchos ou cártulas, volutas e con-
XV
Principais elementos arquitetônicos do período
barroco
solos adornavam a construção, trabalhando a decoração juntamente com as pinturas e outros objetos esculpidos. Curvas, contra curvas e linhas que se cruzavam ou se rompiam em planos côncavos e convexos criavam abóbadas, arcos plenos e contrafortes. As cúpulas, muito bem desenvolvidas, trabalhavam a profundidade, criando uma ilusão de ótica através da técnica de trompe l’oeil - traduzindo do francês, enganar aos olhos -, com pinturas celestiais e bíblicas que alongavam em perspectiva o teto das igrejas, e representavam a glória e o triunfo da religião. Também há, nas plantas baixas, o uso de espaços centralizados, formatos ovais e irregulares. O círculo das plantas arquitetônicas se transforma em elipse, as fachadas são assimétricas e utiliza-se a cruz grega, com o alongamento da nave central.
Glossário Barroco: inovações barrocas e artifícios arquitetônicos mais utilizados
- Abertura em olho de boi adorna, geralmente, edifícios barrocos franceses e consistem em aberturas ovais decorativas. - Arabescos são decorações baseadas em motivos geométricos, hastes, gavinhas, flores e folhagens. Popular entre os árabes, disseminou-se pela Europa Barroca. - Cartucho ou cartela é um painel oval com bordas de pergaminho usado em fachadas, como moldura, ou como adornamento. - Chaves de arcos gigantes eram bastante utilizadas no Barroco inglês como decoração. - Colunas em pares davam ritmo às fachadas francesas do século XVII. - Colunatas são um conjunto de colunas. Na praça oval de São Pedro, por exemplo, elas são aliadas a truques de perspectiva para dar a impressão da entrada ser mais estreita. - Côncavos e convexos fazem parte da inovação barroca em paredes, entablamentos e em planos de fachada. - Consolos ou mísulas tem papel decorativo e são geralmente em formato de volutas ou pergaminhos. - Formas ovais substituíram as clássicas formas “perfeitas” dos círculos. - Frontão quebrado ou fragmentado são os que possuem a linha interrompida no topo ou na base. - Galeria aberta barroca é muitas vezes associada a arcadas sobrepostas e a jardins. - Ordens gigantes consistem em colunas ou pilastras que se estendem em pelo menos dois andares de uma fachada.
imagem 3: Portal da Igreja de Sãoo Francisco. Localizada em Porto, Portugal.
- Sofitos são os elementos que interligam as extremidades superiores das paredes ao teto, rico em molduras e ornamentos, mais perceptível no Rococó.
XVI
Principais elementos arquitetônicos do período
barroco
Imagem 4: Elemento de pedra do velho barroco, cartucho, em casa histórica na capital de Eslováquia, Bratislava. Cavaleiro com elementos florais
Imagem 5: volutas presentes na Igreja Il Gésu
Imagem 7: plantas baixas com paredes côncavas e convexas
Imagem 6: Cártula barroca de pedra por: Jordanna Cavalcante
XVII
PINTURA E ESCULTURA
Barroco: Estado Divino
A RTE
pintura e escultura
O Barroco surgiu em Roma no século XVII como uma resultante direta da fé cristã católica, o que tornava a cidade um polo para artistas, uma vez que estes baseavam suas obras majoritariamente em questões religiosas. Apesar disso, também havia encomendas para obras de cunho não religioso destinadas à decoração de palácios e villas. As composições artísticas não voltadas a questões sacrossantas tinham como tema mitos pagãos, como histórias de deuses da Grécia e Roma antigas, e, como o Barroco ainda não havia chegado ao seu auge, foi por meio de intervenções em obras renascentistas e maneiristas que o movimento se propagou. A exemplo disso, tem-se o pintor bolonhense Annibale Carracci decorando obras de Rafael na galeria do Palácio Farnese. A arte barroca, entretanto, não foi homogênea, visto que cada artista tinha seu estilo e essa diferença era ainda mais evidente se comparadas artes de países distintos. Apesar de existirem semelhanças fundamentais, a arte de Roma do início do século e a arte da França do fim do século, por exemplo, eram díspares. vezes, a escultura está intimamente ligada ao conjunto arquitetônico, dado que os escultores eram também arquitetos, urbanistas, decorador e exercia várias outras funções, como Bernini, por exemplo. Além deste, à época, havia também renomados artistas como François Girardon, Alessandro Algardi e Giuliano Finelli
Pintura de Carracci. Localizada na galeria do Palácio Farnese, Roma. Foi utilizada a técnica de afresco do teto.
Pintura de Caravaggio: The crowning with thorns, 1602-1604, museu Kunsthistorisches em Vien a Enquanto protestantes se negavam a cultuar imagens, a Igreja Católica se aproveitou delas para guiar seus fiéis, uma vez que eram mais acessíveis que as escrituras ou até as missas, dado que todos as compreendiam. Com caráter claro, persuasivo e poderoso, os crentes se sentiriam inspirados ao sentir o realismo das obras barrocas. Isso só foi possível graças a elementos comuns a essas obras e clássicos do estilo barroco, como a sensação de profundidade, o realismo da pintura, a riqueza de detalhes e a impressão de movimento. Caravaggio e Carracci exploraram em suas obras o realismo, sendo que este fazia uso de paletas de cores vibrantes, formas idealizadas e composições balanceadas da Alta Renascença, em contrapartida que aquele explorava o uso do claro e escuro para conseguir dramaticidade e poder em suas composições. Ainda, Gaulli se valeu de efeitos do ilusionismo, que confundia arte, escultura e arquitetura, de modo que a presença divina era uma realidade palpável. As características barrocas são também observadas em esculturas: a dramaticidade, a impressão de movimento e o excesso de detalhes estarão presentes nessa vertente da arte. Ainda, o papel social de educar por meio de imagens também se aplica às esculturas. O predomínio das linhas curvas, o uso de dourado e o drapeado das vestes são aspectos marcantes das esculturas do estilo barroco. Outro traço a ser levado em consideração é que, muitas vezes, a escultura está intimamente ligada ao conjunto arquitetônico, dado que os escultores eram também arquitetos, urbanistas, decorador e exercia várias outras funções, como Bernini, por exemplo. Além deste, à época, havia também renomados artistas como François Girardon, Alessandro Algardi e Giuliano Finelli.
XIX
Pintura de Gaulli: The triumph as the name of jesus, afresco de teto, 1672-1685
Escultura de Bernini: baldaquino, 1624-1633
p o r : M a r i a Te r e s a To r r e s
Escultura de Bernini: Eneas, Anquise e Ascanio, Gialorenzo Bernini, Galeria Borghese, Roma
Escultura de François girardon: Plutão e Perséfone, 1677-1699, mármore, tamanho natural, Versalhes
XX
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Reforma protestante e o movimento barroco na história
BEATA, Rodrigo. Crise, persuasão e o universo cultural do barroco. Minas Gerais: Cadernos de Arquitetura e Urbanismo, v.18, n.22, 1º sem. 2011. BEDIN, Andrea Gomes. Barroco: Um Estado de Espírito. São Paulo. Disponível em: https://revistas.pucsp.br/index.php/ultimoandar/article/viewFile/19272/14323. ___. Barroco e Contrarreforma. Disponível em: https://fkxexplica.wordpress.com/2012/11/22/barroco-e-contra-reforma/. Acesso em: 25/02/2019. ___. Rococó. Disponível em: https://www.historiadasartes.com/nomundo/arte-barroca/rococo/. Acesso em: 26/02/2019.
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XXI
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Principais elementos arquitetônicos do período barroco
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