Exame Angola

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Economia Acordo histórico com FMI v Gestão Tom Peters v Negócios Jessica Simões

N.º 1 v Dezembro 2009

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700 kz

ESPECIAL PETRÓLEO

SENHOR OPEP O ministro faz o balanço da presidência da Organização e explica o que vai mudar no sector que comanda a economia do país ANÁLISE

ORÇAMENTO GERAL DO ESTADO 2010 As contas que interessam à bolsa dos angolanos

BOTELHO DE VASCONCELOS, presidente da Organização dos Países Exportadores de Petróleo


*a escolha de Cindy Crawford


*


SECçõES

Editorial Primeiro Lugar Grandes Números Mundo Plano Gestão Moderna Gestão 2.0 Dinheiro Vivo Exame Final

8 12 16 70 87 103 113 130

angola

50 Orçamento 2010 A despesa pública vai sofrer um corte de 2 mil

milhões de dólares. Travões a fundo nos gastos é a palavra de ordem

56 Macro Angola receberá o maior financiamento jamais concedido a malocha

um país da África Austral. Tudo sobre o acordo histórico com o FMI

angolano. Oferece vôos para o Dubai três vezes por semana

50

62 Perfil É modelo em part-time e empresária a tempo inteiro. Fundou

em Angola as marcas Geox, Peter Murray e Ever Rose. Uma por ano.

66 Imobiliário O projecto de luxo V-Gardens, perto do Belas Shopping,

Orçamento 2010: em tempo de “vacas magras” a educação recebe apenas 8,5% do PIB

venceu o prémio relativo ao melhor empreendimento em África

global

72 África Ellen Sirleaf, presidente da Libéria, sobreviveu à miséria e a

dois golpes de estado. Foi a primeira mulher a ascender a tal cargo

74 Europa Devido ao seu modelo exemplar de utilização das receitas do petróleo a Noruega é o país do mundo com mais qualidade de vida

78 América O Rio de Janeiro ganhou a corrida aos Jogos Olímpicos de

62

2016. Leia os segredos da equipa de marketing que convenceu o júri

82 Ásia Yukio Hatoyama foi eleito primeiro-ministro do Japão usando

discursos inspirados em Obama. Chamam-lhe o Kennedy nipónico

kamene traça

Jessica Simões: em três anos, três novas marcas

gEStão

88 Tom Peters Em entrevista exclusiva à EXAME, o carismático orador explica porque a execução é mais importante do que a estratégia

98 Liderança A crise mundial deu origem a uma nova geração de

líderes – mais discretos, menos autoritários e com salários inferiores

88

100 Recursos Humanos José Manuel Loureiro, 35 anos, subiu a pulso na vida. Lições inspiradoras de empreendedorismo na primeira pessoa

Tom Peters: o rei dos gurus passou por Luanda em busca da excelência

markEtIng

104 Publicidade A campanha dos Simpsons angolanos colocou a agência Executive Center nas bocas do mundo. Conheça a equipa de criativos

108 Marcas As Superbrands já chegaram a Angola. Anna Carolina,

o rosto do projecto, explica como se constrói uma marca de excelência

kamene traça

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nEgÓCIoS

58 Aviação A Emirates Airlines iniciou as operações no mercado

REVISTA mEnSAl — AnO 1 — n.O 1 — dEzEmbRO dE 2009 TIRAGEm dESTA EdIÇÃO: 10 000 EXEmPlARES | FOTO dE cAPA: ROsIEL nETO


ESPECIal PEtrÓlEo 20 Entrevista Botelho Vasconcelos, presidente da OPEP, antecipa os temas em agenda na próxima reunião da organização que será realizada este mês em Luanda

30 Mundo Os preços do crude subiram vertiginosamente em 2008, cairam a pique nos primeiros meses, e agora estabilizaram. A culpa é dos especuladores fi nanceiros

46

38 África Angola ultrapassou a Nigéria e passou a liderar

46 Angola As descobertas na camada de pré-sal do Brasil

estão a agitar o mundo. Angola pode ser o caso seguinte

SonanGol

Pré-sal: A costa angolana tem um enorme potencial. Os estudos já estão em curso

a produção em África. Os analistas apontam os pontos fortes e fracos da equipa nacional no CAN do petróleo

SonanGol

38 Angola já venceu o CAN do petróleo

30

Reportagem sobre o recurso número um do país, no número um da EXAME

110 Comunidades Junte um par de ténis Nike e um iPod. Adicione um

site para adeptos de jogging. E obterá uma rede social de entusiastas

FInançaS

116 Moeda O dólar está a perder peso nos mercados internacionais.

As novas estrelas são as moedas do Brasil, Austrália e África do Sul

118 Bolsa Xangai quer ser um centro fi nanceiro internacional capaz de

rivalizar com Wall Street. E quando a China quer muito uma coisa...

tECnologIa

120 Cinema Os fi lmes a três dimensões estão de volta. Os bilhetes são mais caros mas o público, inclusivé em Angola, aderiu à novidade

lIVroS

124 Economia A sequela do best-seller Freakonomics decifra mais

problemas do quotidiano, analisados à luz da ciência económica

Novo ano, novo site: Em Janeiro de 2010 a versão multimédia da EXAME estará na Web. Fique atento!

www.exameangola.com dezembro 2009 | 5

carloS moco

20 YaSSer al-ZaYYat/aFP

Os investidores andam nervosos com os “altos e baixos” do preço do crude. Os mercados estão cada vez mais imprevisíveis


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CartadoDirector carlos rosado de carvalho

Director: Carlos Rosado de Carvalho Director Executivo: Jaime Fidalgo

Compromisso Com o leitor

Editores: Faustino Diogo e Francisco Morais Sarmento Colaboradores Regulares: Herculano Coroado, Mário Paiva, Joana Simões Piedade e João Armando

N

Como no Brasil e em Portugal, queremos ser em Angola a publicação de referência do mundo da economia e negócios

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Direcção de Arte: Jorge Ribeiro (director), Filipa Silva e Frederico Fernandes (editores) Armindo Dalas, Demóstenes Paulino e Pedro de Oliveira Monteiro (paginadores) Fotografia: Carlos Moco, Jacinto Figueiredo, Kamene Traça, Malocha e Rosiel Neto Infografia: Jorge Ribeiro e Frederico Fernandes Revisão: António Martins CArlos MoCo

as suas mãos, Caro Leitor, está o primeiro número da EXAME, a revista de economia e negócios da Nova Angola. Muito provavelmente, o título escolhido pela Media Nova para o seu mais recente projecto editorial é-lhe familiar, pois a EXAME é a revista líder de mercado no segmento de economia e negócios de língua portuguesa. Lançada em 1967 no Brasil pela Editora Abril, um dos maiores grupos editoriais da América Latina, a EXAME rapidamente se tornou na mais influente e respeitada revista de economia e negócios do mercado. O sucesso repetiu-se em Portugal, país onde foi lançada em 1989 por uma parceria entre a Editora Abril e a Controljornal, editora do universo Impresa, o maior grupo multimédia luso, que hoje controla a revista a 100%. Sucesso que, aliás, tive o privilégio de ajudar a construir entre Janeiro de 1990 e Março de 1996, primeiro como redactor principal para assuntos europeus, depois como director-adjunto para projectos especiais e, nos últimos quatro anos, como director. A EXAME chega a Angola através de um contrato de licenciamento celebrado entre a Media Nova e a Editora Abril com uma missão bem definida: levar aos empresários, gestores, quadros médios e superiores de empresas e outras organizações, profissionais liberais, académicos e estudantes, notícias, análises e opiniões sobre política económica, conjuntura, negócios, gestão, marketing, tecnologia, finanças e consumo, entre outros temas de interesse para o nosso público-alvo. Como no Brasil e em Portugal, queremos ser em Angola a publicação de referência do mundo da economia e negócios. Para isso contamos com uma equipa de profissionais que vai acompanhar a actualidade nacional e internacional, identificar as principais tendências na economia e nos negócios e estudar as melhores práticas para contar aos leitores através de artigos com linguagem simples e directa, enquadrada por um grafismo inovador. Como complemento, recorreremos a conteúdos exclusivos da EXAME Brasil. O número que tem entre mãos é já uma montra do que pretendemos fazer. Os nossos trabalhos serão pautados por critérios de Rigor, Isenção e Independência, os três pilares da matriz EXAME. O nosso único compromisso é com o leitor. Em nome desse compromisso, termino com uma declaração de interesses: A EXAME acredita e defende para Angola um modelo de desenvolvimento assente na iniciativa privada e na livre concorrência, que deve ser assegurada por um Estado forte.

Secretaria de Redacção: Ninette Figueiredo Direitos Internacionais: Exame Brasil (texto e imagens), AFP, Graphic News e IStockPhoto Multimédia e Internet: Géraldine Correia (coordenadora) e Isabel Dalla

www.exameangola.com Publicidade: Sofia Costa (directora comercial), Luís de Almeida (consultor comercial), Paula Rousseau (directora publicidade), Bruno Fundões, David Machado, Leandro Ascenção (coordenadores), Firmino Pinto, Wilson Major e Pedro Ferreira (delegados) Delegação em Portugal: Tânia Vicente ContACtoS PublICIDADE Angola - tel.: 222 006 409 comercial@medianova.co.ao Portugal (Delegação) tel.: +351 211 543 365 / 384 tiragem: 10 mil exemplares. Depósito legal: 261-09 Distribuição: MN Distribuidora Impressão: Damer Gráficas S.A. EXAME - Zona Residencial ZR6-B, Lote 32. Sector de Talatona; Luanda Sul, Angola; Tel.: 222 003 275; Fax.: 222 003 289; geral@exame.co.ao A revista Exame (Angola) é um licenciamento internacional da revista Exame (Brasil), propriedade da Editora Abril. Propriedade: IMPRESCRITA Imprensa Escrita S.A. n.º de Matrícula: 1279-07 Conservatória do Registo Comercial de Luanda Director-Geral: Pedro Narciso da Cunha Manuel Administrador Único: João B. Vieira Dias Van Dunem



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Turbilhão

BouTique dos relógios Plus luanda • edifício esCoM - Piso 2 loja 1 rua Marechal Broz Tito, nº 35/37 • luanda - angola dezembro 2009 | 7


PrimeiroLugar angola eSSencial. PeQuenaS notÍciaS SoBre uM grande PaÍS

aViaçÃo

consultar horários de voos, fazer o check-in electrónico e obter informações sobre a transportadora e o país. O call center é outra aposta da companhia e vai servir de suporte, 24 horas por dia, às áreas comerciais da TAAG. Já no mês passado a TAAG tinha dado mostras de dinamismo com a realização do voo inaugural para Cape Town, destino que passou a ter ligações semanais às segundas e às sextas-feiras. No final de Novembro surgiram as novas ligações directas para Maputo (duas vezes por semana) e Havana (uma vez por mês). A próxima aposta pode ser a Cidade do Sal (Cabo Verde). Recorde-se que a frota actual da transportadora nacional é composta pelas seguintes aeronaves: três Boeing 777-200 ER, quatro 737-700, três 773-200 e dois Jumbo 747 A.

carloS Moco

A Transportadora Aérea Angolana (TAAG) regressou às boas notícias. A mais recente é a inauguração do site www.taag.com. A partir de um clique os clientes vão poder efectuar reservas, comprar bilhetes,

rui Correia, director de comunicação. Finalmente há boas notícias

aMPe rogÉrio

TAAG em alta automóVeis

Angolauto acelera a angolauto abriu no mês passado o seu novo espaço de vendas e tratamento de viaturas. as novas instalações, em luanda, enquadram-se nos planos de expansão da concessionária, que representa as marcas Suzuki e Scania. a empresa cresceu30% face ao ano anterior e tem um plano de investimentos avaliado em 3 milhões de dólares. o administrador Paulo Breda Marques, da angolauto, promete não ficar por aqui. em 2010 vai abrir duas novas instalações, em Benguela e em Viana. de referir que a angolauto está no mercado desde 1993, tendo vendido, no ano anterior, 1539 viaturas.

Sessenta países precisam que sejam canceladas as suas dívidas para que possam alcançar as metas do milénio Robert Luke Iroga, porta-voz da reunião dos países da África, Caraíbas e Pacifico (ACP) realizada em Luanda 12 | www.exameangola.com


luanda

Gika comandou Constroi

Malocha

o centro empresarial comandante gika foi o grande vencedor da sétima edição da constrói angola — Feira internacional de construção, obras Públicas e Materiais de construção civil — ao arrebatar o prémio na categoria imobiliário, o mais importante do evento. o empreendimento comandante gika, que está a ser construído no bairro de alvalade, é um dos maiores projectos imobiliários do continente africano. orçado em 470 milhões de dólares contempla um hotel de cinco estrelas, um complexo habitacional, duas torres de escritórios e um centro comercial. no que se refere aos restantes prémios a associação das indústrias de Madeira e Mobiliário de Portugal conquistou a melhor participação internacional, enquanto a easy gás, do grupo Sonangol, foi considerada a melhor empresa de prestação de serviços à construção civil. a brasileira odebrecht e a h4u foram as melhores empresas de construção. a Mundigruas foi a contemplada na categoria máquinas e equipamentos e a alaturca venceu a categoria de melhor empresa de materiais de construção civil.

José Leitão, presidente do grupo Gema, um dos maiores de Angola

Huambo

Jacinto Figueiredo

Grupo Gema aposta na habitação

Joaquim David, ministro da Indústria no acto inaugural da Constrói

José leitão, jurista e presidente do conselho da administração do grupo gema, anunciou na cidade do huambo que vai construir mais de mil residências nas reservas fundiárias da província. o projecto visa contribuir para diminuir a carência de habitação na região. o anúncio foi feito no final de um encontro com o governador da província do huambo, albino Malungo, nomeado para o cargo em outubro.

recorde-se que este grupo, um dos maiores de angola, é accionista da coca-cola, da ucerJa (união das cervejas de angola), da Vauco, marca chevrolet de automóveis, está presente nos cimentos (tendo prevista a construção de uma fábrica no lobito) nos petróleos (bloco 18), nos sectores dos portos e das pescas. no imobiliário o principal projecto é o comandante gika.

namibe

o presidente da associação dos Pescadores do namibe, Mário Faria, queixou-se em Menongue, que, nos últimos anos, mais de 250 mil toneladas de pescado foram consumidas pelas focas que se encontram em todo o litoral da província. o mesmo responsável chamou-lhes mesmo “o principal armador do país dado que cada animal consome 7 a 8 quilos de peixe por dia”. Para mais, segundo Mário Faria, as focas estão cada vez mais exigentes pois não se satisfazem apenas com o carapau. “Já comem outras espécies como o lírio e a corvina”, frisou. oxalá seja possível resolver o diferendo entre os homens e as focas sem se recorrer à solução mais fácil: o abate destes simpáticos animais.

iStockPhoto

Focas comilonas

dezembro 2009 | 13


PrimeiroLugar Os campeões das importações

PoRtos

o cimento é o produto mais importado e a nova cimangola é quem mais compra prODUtO

pAíSeS

ImpOrtADOreS

Cimentos 628 526

China 670 095

Nova Cimangola 187 974

2.º

Granito 89 741

portugal 459 922

Angola lng 156 257

3.º

Açucar 80 292

Brasil 264 951

Grupo Arosfran 130 979

4.º

Arroz 65 070

espanha 216 818

CFrL 76 717

5.º

Sal 55 537

turquia 129 637

China Jiangsu 76 440

1.º

China é o maior fornecedor o cimento foi o produto mais importado em angola, no segundo trimestre deste ano, totalizando 628 526,11 toneladas, segundo o Boletim estatístico do conselho nacional dos carregadores. os granitos, açúcares de cana, o arroz e o sal ocupam os cinco primeiros lugares, seguidos pela carne, barras de ferro e águas. as maiores subidas em relação aos primeiros meses do ano foram os açúcares (71,73 %) e o arroz (87,68 %). o sal também registou um aumento superior a 64%. a cerveja de malte ocupa a décima posição da lista dos produtos mais importados por angola. no “sobe e desce” deste ranking, a cerveja caiu 48,93% em relação ao primeiro trimestre. os dados referem-se aos Portos de cabinda, lobito, luanda, Malongo, namibe, Posto Fronteiriço de Santa clara, SonilS e Soyo. o Porto de luanda é a principal “porta de entrada” das mercadorias que chegam por via marítima, seguido do lobito e do namibe. a maioria dos produtos chega da europa. depois seguem-se a américa, Ásia, África e austrália. em termos de países, a china lidera dos 86 mercados fornecedores de angola, seguido de Portugal. no top 10 surgem ainda Brasil, espanha, turquia, África do Sul, Bélgica, Franca canadá e Vietname. Segundo os dados oficiais, em relação ao primeiro trimestre apenas Portugal subiu no ranking com um aumento de 8%.

Valores em toneladas. Fonte: Boletim estatístico 2009, segundo trimestre. conselho nacional de carregadores. .

demoGRaFia

indÚstRia

Quantos somos afinal?

Nova fábrica em Viana

Pedro nicodeMoS

Uns dizem que somos 12 milhões, outros 17 milhões. em que é que ficamos?

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Aguinaldo Jaime, rosto da Agência Nacional do Investimento privado

carloS Moco

angola vai realizar o primeiro censo populacional depois da independência, até 2014, prazo limite estabelecido pelas nações unidas para todos os países. Segundo assegurou a ministra do Planeamento de angola, ana dias lourenço, na cerimónia do dia africano de estatística.”o orçamento geral do estado para 2010 inclui verbas que vão dar continuidade ao trabalho de preparação do censo”. a sua realização permitir-nos saber qual é afinal o número real da população angolana, que se estima variar entre 16 milhões e 18 milhões de habitantes.

a agência nacional do investimento Privado (aniP) anunciou que será efectuado um investimento privado de 26 milhões de dólares na fábrica de automóveis cSg angola. a sede e as oficinas da nova fábrica serão localizadas no município de Viana, que empregará 680 pessoas e terá a capacidade para fabricar 10 mil automóveis por ano.


cimentos

CURTAS CABINDA FáBrICA De óLeO De pALmA uma fábrica para a produção de óleo de palma está a ser erguida no município de Buco-Zau, fica a 120 quilómetros a norte da cidade de cabinda, num projecto liderado pelo governo da provincial, visando o aproveitamento dos palmares. trata-se da primeira fábrica do género na região. as obras têm uma duração prevista de quatro meses.

Surgiu uma nova marca angolana de cimento denominada “Yetu” (em kimbundo que significa “nosso”). Marcos Sassa, presidente do conselho de administração da Yetu informou, durante o lançamento oficial do novo produto, que a marca aposta em dois grandes trunfos: o preço baixo — apenas 7 dólares por cada saco de 50 quilos — e o serviço personalizado — a empresa pretende levar à porta do consumidor a quantidade de cimento desejada. numa primeira fase, a Yetu vai importar o cimento do Vietname. no segundo semestre de 2011 vai ser concluída uma nova fábrica, que vai estar localizada na cidade do Sumbe e pretende atingir a produção de 1 milhão de toneladas por ano. o investimento está orçado em 500 milhões de dólares.

LUBANGO SeIS NOVOS hOtéIS Serra da chela, Primor, lubango, chick-chick, império e novo hotel, todos localizados na cidade do lubango, são as seis novas unidades hoteleiras que vão entrar em funcionamento já este mês, na província da huíla, a tempo do can. Segundo disse à angop, o chefe de departamento provincial de hotelaria e turismo, João Silvestre, estas unidades vão proporcionar mais 300 novos quartos, que vão juntar-se aos 580 actualmente disponíveis.

PetRóleo

Sonangol cresce para Equador

Sonangol

O ministro dos Petróleos, Botelho de Vasconcelos, e o seu homólogo equatoriano, Germânico Pinto, assinaram um acordo para a exploração conjunta de petróleo, que será executado pela Sonangol e pela Petroequador. A bacia da Amazónia (bloco 29) e o litoral do Equador (blocos 5 e 39) serão as duas áreas a explorar através desta parceria inédita.

telecomunicações

diVulgação

Amigo móvel a empresa angolana de telecomunicações amigotel apresentou os novos telemóveis da huawei que combinam design e inovação com preços agressivos. estiveram em foco os modelos u7510 (com a funcionalidade de touchscreen) e o smartphone u8230, duas novidades da multinacional chinesa que

iStockPhoto

O cimento Yetu vem do Vietname. A partir de 2011 será fabricado no Sumbe

roSiel neto

O nosso é mais barato

anunciou a intenção de abrir um centro de formação em angola. outra aposta da amigomobile são as pen drives com placa e acesso à internet móvel. refira-se que a amigotel está no mercado desde 2005. É a representante exclusiva das marcas de telemóveis Sony ericsson, htc e lg e a maior fornecedora de telemóveis da operadora unitel. representa igualmente os computadores acer, das consolas Playstation, PSP, nintendo e Wiii.

CUNeNe NOVA CAmpANhA AGríCOLA a Mecanagro preparou 70 904 hectares cultiváveis para a campanha agrícola de 2010, que terá início no município de ombadja, província do cunene. a informação foi prestada à angop por carlos José responsável municipal para a estação de desenvolvimento agrário (eda). estima-se que a campanha possa produzir 50 mil toneladas de alimentos tais como cereais (massango, massambala e milho), leguminosas e tubérculos.

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GrandesNúmeros PaRa saBER lER Os sInaIs DE uma EcOnOmIa Em muDança

A crise já lá vai

as previsões dos analistas para o próximo ano sobre a economia angolana foram revistas em alta. O FmI e o Banco mundial afiançam que o país vai crescer em 2010. no início de 2009, a quebra abrupta do preço do petróleo afectou profundamente a economia nacional e gerou previsões pessimistas. a frase mais ouvida nos fóruns económicos nacionais no princípio do ano — “o crescimento económico vai ser abaixo dos dois dígitos” — foi substituída por apreensões sobre a existência de crescimento. muitos vaticinaram que angola não iria escapar a uma forte retracção do PIB: a OcDE previa, em 2008, um crescimento negativo de 7,2% e o FmI apontou para uma contracção de 3%. O prestigiado Economic Intelligence unit (EIu) ainda em setembro insistia numa

Pessimistas ontem... O preço do petróleo recuperou 68% face a Dezembro de 2008. A produção subiu. As receitas de impostos também. As reservas de moeda estão mais estáveis. A inflação desacelerou ligeiramente. Sinais que justifica um optimismo moderado. Logo, o FMI e o Banco Mundial foram forçados a rever em alta as suas projecções para o crescimento do PIB em 2009.

variação negativa do PIB de 1,9%. O próprio Governo optou por rever, em Julho deste ano, o preço de referência do petróleo de 55 para 37 dólares, dando um sinal prudente e conservador aos agentes económicos. angola, no entanto, aumentou o volume de produção de petróleo e ultrapassou as suas estimativas para as exportações. a manutenção do preço do petróleo acima dos 70 dólares e o desempenho da economia não petrolífera (cujo crescimento atinge este ano 5,2%) foram determinantes para a inversão das más notícias. a correcção dos cenários do FmI e do Banco mundial para 0,2 % e para 0.0% foram entendidos como sinais de que o pior tinha passado. um sinal de confiança para a economia nacional é o Orçamento Geral do Estado para 2010, cuja previsão se situa nos 8,2%, subindo o preço de referência do petróleo para 58 dólares. Esta projecção para 2010 não chega aos 9,3% do FmI previstos em novembro, mas situa-se acima dos 6,5% que o Banco mundial prevê para o crescimento económico de angola.

OGE 2009 - Revisto

6,1%

Governo (1)

(1) Revisão em Junho. (2) Revisão Outubro.

0,0%

0,2%

Banco mundial (2)

FmI (3)

(3) Revisão Outubro. (4) Revisão setembro.

The Economist (4)

-1,9% (5) Previsão 2008.

-7,2%

... optimistas hoje No ano passado o Governo previu um crescimento de 11,8% que foi revisto duas vezes: para 6,1% e para 1,3%. Este ano o ministro da Economia é mais prudente. Prevê um crescimento de 8,2%, dos quais apenas 1,1% são relativos ao petróleo e 15% a outros sectores. Entre os analistas, o FMI é o mais optimista. Mas todos concordam que o próximo ano será risonho.

OcDE 2008 (5)

OGE - Previsão 2010 9,3%

8,2% 6,5%

Governo(1)

Banco mundial

5,5%

FmI

The Economist

7,1%

acordo stand-by (1)

(1) novembro de 2009 Fonte: Departamento de Estudos Económicos e Financeiros BPI - Relatório de Outubro.

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AFP

Botelho de Vasconcelos, presidente em exercício da Organização dos Países Exportadores de Petróleo


EspEcial pEtrólEo entrevista

‘‘oitEnta dólarEs é o prEço idEal” Acima desse valor a OPEP decidirá um aumento da produção na reunião deste mês, em Luanda, a última sob a presidência de Botelho de Vasconcelos, ministro dos Petróleos Carlos Rosado de Carvalho e Jaime Fidalgo

rOsIEL nEtO

J

osé Maria Botelho de Vasconcelos, ministro dos Petróleos, foi um dos nomes mais citados pela imprensa mundial durante o ano que está prestes a findar. Ele é o presidente em exercício da todo-poderosa Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) e foi forçado a um enorme protagonismo mediático devido às convulsões do preço do petróleo. No dia 22 de Dezembro vai terminar o seu mandato com a consciência tranquila. A OPEP saiu desta crise mundial com o seu prestígio reforçado, dado que o preço do petróleo regressou aos valores em torno dos 75 a 80 dólares por barril, que são unanimemente considerados como os ideais para o equilíbrio da economia mundial. Nesta entrevista o ministro faz o balanço da presidência e antecipa o que podemos esperar da aguardada reunião da OPEP a realizar em Luanda. Fala dos novos leilões de blocos, que decerto renderão ao Estado um elevado encaixe financeiro, e do potencial que existe na costa angolana para a exploração da camada do pré-sal. Apresenta também os primeiros contornos de uma revolução no sector petrolífero, que passa pela liberalização da distribuição e pelo fim das subvenções ao preço dos combustíveis. Termina fazendo o ponto da situação sobre temas polémicos como a localização das centrais de exploração do gás; os biocombustiveís, a angolanização do sector petrolífero e a transparência das contas. Pelo meio, revela alguns números importantes sobre o verdadeiro peso do petróleo na economia do país e como essas receitas podem ser usadas para uma redistribuição mais justa da riqueza. A palavra ao senhor OPEP.

Que balanço faz da presidência da OPEP? Foi um ano bem mais conturbado do que imaginava? Foi, de facto, uma presidência difícil, embora os problemas já tivessem começado no último trimestre do ano passado, quando ainda era vice-presidente, e se decidiu fazer cortes. Foi a primeira vez que a OPEP cortou significativamente o volume de produção. Nos quatro primeiros meses houve um engajamento completo por parte de todos os países membros. A decisão teve um grande impacte no mercado no sentido da estabilização dos preços. Só que nos países que vivem do petróleo, a quebra de receitas foi enorme. Nós, ao contrário de outras nações, ainda não tiramos partido do gás. Por isso sentimos de uma forma profunda os efeitos da descida do preço do petróleo durante os quatro primeiros meses deste ano. A partir do mês de Maio começámos a sentir uma pequena inversão, mas a Organização manteve os níveis de corte.

O sector petrolífero representa 57% do PIB, 80% das receitas e 97% das exportações dezembro 2009 | 21


EspEcial pEtrólEo entrevista O senhor ministro, enquanto presidente da OPEP, tinha um papel importante na fiscalização do respeito pelas quotas? Não foi estranho ser árbitro e jogador ao mesmo tempo? O problema estava aí. Eu não podia intervir directamente. Normalmente, os países que têm a presidência levam outro representante do país para a OPEP – no nosso caso foi o governador. Eu tentava complementar um ou outro ponto da sua argumentação. Mas de facto a grande dificuldade foi essa – ser árbitro e jogador. Na revisão do orçamento o ministro das Finanças estipulou um preço de referência de 37 dólares por barril. Foi um valor muito conservador, não concorda? Não se esqueça de que houve uma queda muito grande nas reservas e havia a necessidade de as reconstituir rapidamente. A instabilidade política na Nigéria deu um empurrão para que Angola pudesse aumentar a sua quota? Sim. A redução da Nigéria compensou o aumento de Angola e permitiu manter o nível global de petróleo da organização. Hoje temos uma capacidade de 2,1 milhões de barris por dia. Mas, devido às restrições da OPEP, a nossa média de produção anda à volta de 1,79 milhões de barris. Ou seja, podíamos abrir mais a torneira.

Houve consenso quanto às decisões a tomar? As reuniões são sempre de concertação. Mas quando a OPEP sente que o mercado tem problemas, tal como sucedeu no último trimestre do ano passado, é visível a emoção e a tensão dos representantes. As reuniões regulares em Março e a extraordinária em Maio já decorreram num ambiente de maior tranquilidade. A partir daí alguns países julgavam que poderiam estar reunidas condições para aumentar a produção. Infelizmente, os sinais de retoma da economia mundial eram ténues. No mercado ainda havia bastante crude, para cima dos 73 dias de produção diária. Qual foi a posição de Angola nessas reuniões? Fomos sempre alertando para a realidade de um país que viveu durante 30 anos de guerra, com estruturas destruídas, dependendo de um único recurso: o petróleo. Pretendemos tocar na sensibilidade dos outros países para que tivéssemos um tratamento diferenciado. Quando fizemos a nossa revisão orçamental, foi possível negociar um aumento do nível de produção para Angola. Como o preço também já estava a recuperar houve alguma tolerância. 22 | www.exameangola.com

AFP

Botelho de Vasconcelos crê que, apesar das quotas, valeu a pena a adesão à OPEP

Sabendo disso terá sido correcta a nossa adesão à OPEP? A decisão foi correcta porque permitiu a Angola entrar num clube selectivo onde se faz uma concertação política que tem uma grande influência para o desenvolvimento energético e económico mundial. É importante participar nessa troca de ideias e de reflexões. Por outro lado, a OPEP tem procurado manter uma posição de equilíbrio que contrasta com as opiniões, por vezes especulativas, de alguns analistas que agitam o mercado. Mas às vezes os países-membros também não se coíbem de fazer declarações que agitam o mercado... Existem alguns países que fazem determinadas declarações em certos momentos, mas acho que isso faz parte do jogo. Como é que se conciliam interesses de países tão díspares? O debate é aceso. Mas o aspecto positivo é que no fim consegue-se sempre chegar a um consenso que transparece no comunicado final. As intervenções de cada país-membro são todas gravadas e as actas são minuciosas. São debatidas vírgula a vírgula.

O petróleo é várias vezes vendido e revendido. Quem ganha com isso são os especuladores


A Arábia Saudita tem certamente um papel fundamental... Sim. Convém lembrar que a Arábia Saudita tem condições de produzir, neste momento, cerca de 12 milhões de barris por dia.

Já iniciámos os estudos que vão confirmar se existe potencial para o pré-sal na costa angolana Num seminário da Universidade Católica, em Luanda, Salvatore Carollo, consultor da ENI, disse que as decisões da OPEP têm uma influência quase nula sobre o preço do Brent, que é fixado pela especulação no mercado financeiro. Quer comentar? Há uma diferença muito grande entre o valor do petróleo no mercado físico e no financeiro. Muitas vezes o petróleo físico é multiplicado por 100 ou 200 vezes no mercado financeiro. O problema está, sobretudo, nos mercados futuros, onde petróleo é várias vezes vendido e revendido. Quem ganha com isso são os especuladores. Qual é a sua sensibilidade relativamente à decisão que será tomada na reunião em Angola, a última da sua presidência? Creio que se os preços subirem de uma forma desordenada e se houver uma volatilidade significativa, alguma decisão deverá ser tomada pela OPEP. Se o mercado tiver a necessidade de mais petróleo é natural que se aumente a produção. Mas se até lá o preço se mantiver estável no intervalo entre 75 e 80 dólares o mais provável é que a situação não se altere.

Angola vai explorar petróleo no Equador. O ministro fechou o acordo AFP

O secretário-geral da OPEP, Abdalla el-Badri, disse que na próxima reunião a Organização poderá aumentar a produção se os preços do petróleo continuarem altos. O que significa um preço alto? 100 dólares por barril? Acima dos 80? É natural que a Organização também vá tomando algumas posições públicas em função da evolução do mercado. No último mês de Outubro, o preço andou pelos 75 dólares e chegou até aos 80. Esse é um bom nível, quer para os consumidores, quer para os produtores. A esse nível é possível prosseguir os vários investimentos no sector, nomeadamente nas águas profundas. Também é um valor que não provoca um impacte negativo para a recuperação económica mundial. Há quase uma aceitação tácita, por parte dos diversos intervenientes a nível mundial, em relação a esse nível dos 80 dólares. Acima desse valor temos de vigiar a penetração dos especuladores. A OPEP segue atentamente as promessas feitas pelos países desenvolvidos relativamente à regulação do sistema financeiro, de modo a evitar que os especuladores voltem a ter um papel importante, tal como aconteceu no ano passado.

Qual é a previsão em relação ao preço do petróleo para 2010? As projecções têm mudado de semana para semana. É difícil fazer previsões. Mas as estimativas que vamos recebendo diariamente dos técnicos da OPEP apontam para valores na casa dos 80 a 85. O ministro anunciou no Recife, durante um seminário sobre petróleo e gás, que a previsão de investimento público no sector petrolífero é de 16 mil milhões de dólares, para 2010, e 18 mil milhões, para 2011. Quais são as prioridades? Esse pacote de investimento já está em curso. Há projectos na área de exploração e produção que vão começar a operar já em 2012. Existem investimentos em curso no gás – o LNG – e também na refinaria. E temos projectos de desenvolvimento de blocos de águas profundas (17, 18 e16) e ultraprofundas (31, 32 e 34). Quando fala em águas ultraprofundas está a referir-se à camada pré-sal? Crê que em Angola se poderá repetir o mesmo tipo de descobertas que ocorreram no Brasil? Já começámos a fazer estudos sobre a camada de pré-sal. Estamos a fazer levantamentos geofísicos e geológicos e já definimos as áreas prioritárias de investigação: as bacias do Kwanza e de Benguela, nas quais foram identificados dois blocos – um em águas rasas e outro em águas profundas. Tais estudos deverão estar concluídos daqui a 18 meses e poderão confirmar, ou não, a existência desse potencial. Os peritos crêem que há semelhanças entre as duas costas marítimas, pelo que tudo leva a crer que exista potencial. Se esse potencial se confirmar, Angola poderá ser um player ainda mais relevante a nível mundial. Tem acompanhado a discussão que se tem levantado no Brasil à volta do pré-sal? Na última viagem que fiz ao Brasil verifiquei que o pré-sal tem provocado muitas discussões inflamadas. Algumas indústrias que estavam praticamente abandonadas foram reactivadas. Há planos para modernizar os portos, recuperar fábricas de metalomecânica, construir novas refinarias. Diz-se que o potencial da costa brasileira é muito grande. Fala-se de 50 mil milhões de barris de reservas. São profundidades entre 3,5 mil e 5 mil metros que vão exigir um grande investimento em tecnologia de ponta. dezembro 2009 | 23


EspEcial pEtrólEo entrevista As condições irão manter-se iguais, nomeadamente no que diz respeito ao apoio aos empresários nacionais? Os empresários angolanos têm tido um tratamento especial. Queremos ter mais empresários nacionais nos petróleos.

Consumimos 75 mil barris por dia. Só produzimos metade. A nova refinaria vai nascer em 2014

Dado que os leilões estão suspensos desde 2008 é de prever novos recordes ao nível dos bónus? Nós fomos um dos primeiros países a terem bónus muito significativos. Os nossos campos têm um grande potencial. Por isso é de esperar um excelente encaixe financeiro. sOnAnGOL

Como se posiciona o nosso petróleo no mercado ao nível da qualidade? Nós temos uma grande diversidade na qualidade do petróleo. Temos o Nemba e o Palanca, que são óleos com uma densidade muito leve. Mas também temos petróleos muito pesados e ácidos, como o Kuito e o Rosa. Estes últimos têm um diferencial de preço muito elevado face à cotação do Brent. No passado essa diferença no valor chegou 14 ou 15 dólares por barril. As refinarias mais recentes já foram projectadas para o tratamento desse petróleo mais pesado. Logo esse diferencial — que era significativo — hoje foi reduzido para 4 ou 2,5 dólares por barril.

A OPEP atribui a Angola reservas de petróleo suficientes para mais de 20 anos, Argélia para 24, Nigéria para 75 e Líbia para 89. Números para encarar com “reservas”? Ao longo da história sempre houve alguns geólogos que diziam que o petróleo só tinha vida útil para mais 10 a 15 anos. Depois sucediam novas descobertas que colocavam esses números em causa. No caso de Angola sabemos que temos 13,1 mil milhões de barris de reservas, isto se considerarmos o nível actual de produção. Nos últimos dois meses foram anunciadas as descobertas da Total (bloco 17), da Petrobras (bloco 18), da Sonangol e ENI (bloco 15). Significa que ainda há muito petróleo por explorar? Essas descobertas só foram conseguidas agora, mas são o resultado de um trabalho que tem sido desenvolvido ao longo dos últimos cinco anos. Existem blocos mais produtivos do que outros. Tudo depende dos estudos de prospecção que são levados adiante. Por exemplo, no ano 2000 o bloco 16 (em águas profundas), estava a ser estudado pela Shell. A meio do processo a Shell desistiu. Depois apareceram outras companhias que tiveram sucesso. O mesmo sucedeu com os blocos 3 e 17. No passado andaram por lá outras companhias, mas foi a Total que acabou por tirar partido deles. Até que ponto tais descobertas são importantes para o país? Alguns campos petrolíferos já estão em declínio. Estas novas descobertas permitem o regresso a uma situação de equilíbrio. E até podem aumentar a nossa capacidade de produção e de reservas. O ministro anunciou que, em breve, serão licitadas novas concessões. Quais? Tem alguma data em mente? Os processos foram interrompidos em 2008 devido às eleições. Provavelmente iremos retomar os leilões das concessões na bacia do Kwanza – caso dos blocos 9 e 21 que agora estão a ser analisados relativamente ao pré-sal – e em Cabinda Centro. 24 | www.exameangola.com

Qual é a capacidade de produção das novas refinarias? Teremos uma capacidade de 200 mil barris por dia. Qual será o montante dedicado à exportação? Nós vamos exportar a diferença entre aquilo que produzimos e o que consumimos. Ou seja, aos níveis de consumo de hoje sobrariam cerca de 125 mil barris por dia para exportação. Recordo que apesar de sermos um país produtor de petróleo importamos cerca de 3 milhões de toneladas, por ano, de derivados de petróleo. Nós pretendemos inverter essa situação. Hoje consumimos 75 mil barris por dia. E embora a actual refinaria tenha uma capacidade nominal de 67 500 barris por dia, ela só utiliza um pouco mais de metade, ou seja 37 500 barris.

A nova refinaria terá uma capacidade de 200 mil barris por dia. Onde 125 mil serão para exportação


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EspEcial pEtrólEo entrevista

Quais serão os mercados prioritários para a exportação? Os estudos da refinaria foram feitos a pensar na colocação de derivados de petróleo nos países à volta de Angola. E agora há também o mercado asiático. Quando é que começará a laborar? A primeira fase irá entrar em funcionamento em 2014. Não está atrasada em relação à meta inicial? Tivemos, de facto, alguns percalços que entretanto já foram removidos. Neste momento o projecto está a decorrer normalmente. Recordo que os investimento deste tipo requerem, em regra, um prazo de quatro a cinco anos de duração. As filas para abastecer combustíveis vão continuar até 2014? Não. Nós vamos intervir noutras áreas da cadeia de valor: na comercialização, nos postos de abastecimento e na armazenagem. Estamos a trabalhar a todo o gás para que as novas regras e regulamentos do sector possam estar concluídos dentro de 18 meses. Até onde irá a liberalização? Para além da Sonangol, outras empresas vão poder importar combustíveis do estrangeiro? Sim. A concorrência poderá trazer preços mais competitivos. Já teve manifestações de interesse por parte das empresas? Tivemos no passado, mas elas desistiram devido às questões do preço do combustível e das subvenções do Estado. A liberalização irá reduzir, ou mesmo eliminar, as subvenções. Hoje a logística é dominada pela Sonangol, que tem uma empresa própria. Nós prevemos que, numa primeira fase, todos os operadores possam usar as instalações da Sonangol. Mas poderão também construir instalações próprias até aos 10 milhões de litros. Acima deste valor temos a Sonangol. Abaixo dele haverá outras operadoras. 26 | www.exameangola.com

sOnAnGOL

O gasóleo custa 29 kwanzas. Dois terços do valor são subsidiados pelo Estado

Quando é que haverá mais postos de abastecimento no território nacional? Temos recebido intenções de investimento por parte dos privados. Se os empresários quiserem desenvolver essa actividade, alguns poderão ser concessionários da Sonangol, mas outros poderão fazê-lo individualmente assim que tivermos o pacote legislativo concluído. Numa primeira fase vamos facilitar o acesso aos empresários nacionais que depois podem criar parcerias com outras firmas. Uma vez liberalizado o mercado vão acabar os subsídios do Estado? Sim. Falta criar a entidade reguladora independente. A partir daí o acesso, quer para refinação, quer para a distribuição, será livre.

Qual é o montante da subvenção? Veja-se o exemplo do gasóleo que vale 29 kwanzas. O preço real é um terço. Ou seja, o Estado está a subvencionar à volta de dois terços. O preço de venda ao público irá manter-se? Não. É provável que o preço aumente. O mercado irá definir o preço. Isso não é uma medida complicada em termos sociais? Os sectores que precisam de apoio estão identificados e vão ter condições especiais. Há produtos que continuarão a ser subvencionados, embora não da forma como sucede actualmente. As regras serão muito bem definidas de modo a evitar injustiças sociais. Desculpe a insistência, mas isso significa que só daqui a 18 meses é que terminam as filas para abastecer combustível? Não. Já há algumas iniciativas. Neste momento, para além da Sonangol, já é permitida alguma intervenção privada. Por exemplo, um dos postos de abastecimento em Viana é privado e funciona com um logótipo privado. Há mais casos, mas infelizmente são raros. A que se deve a demora? Neste momento não temos um órgão regulador e a liberalização vai exigir que esta entidade exista.

A liberalização irá eliminar as subvenções do Estado. E natural que os preços dos combustíveis aumentem


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EspEcial pEtrólEo entrevista há um importante projecto privado em curso para a cana-de-açúcar e o etanol na província de Malanje. O projecto, em que a Sonangol é um dos accionistas, já está na fase de plantação de cana-de-açúcar.

AFP

O argelino Chakib Kheli, presidente da OPEP em 2008, foi o mentor do nosso ministro

O projecto LNG é outra aposta forte do Governo. Após estar concluído vamos passar a ser auto-suficientes no gás? Para o gás doméstico já somos praticamente auto-suficientes. O universo de população que beneficia desse combustível é que ainda é reduzido. A Sonangol tem projectos para massificar o uso do gás ao longo do território. O projecto LNG é de grande dimensão e vai muito além disso. Vai permitir não só abastecer o mercado doméstico, como também exportar para outros mercados. Centrais de ciclo combinado perto das zonas de produção ou perto das zonas de consumo como Luanda, por exemplo? Essas são as duas alternativas que estão em cima da mesa. A decisão vai ser tomada em breve. Se olharmos para o longo prazo as centrais de ciclo combinado deveriam ser construídas perto da área de consumo. Só que isso exige o investimento em gaseodutos. Eu fui ministro da Energia e Água até ao ano passado e na altura pendíamos mais para a solução imediata: a de construir a central de ciclo combinado junto das zonas produtoras do gás. Quando é que o projecto LNG começará a operar? Prevemos que aconteça no primeiro trimestre de 2012. Quando estiver a operar, Angola pode tornar-se um player relevante no mercado mundial do gás? Para além do gás associado ao petróleo, nós somos um país que tem outras jazidas muito importantes não associadas ao petróleo. Continuam a ser feitos estudos para confirmarmos a verdadeira dimensão dessas reservas. Os biocombustíveis são uma aposta do Governo? Sim, é uma área onde já se deram passos positivos. Estamos neste momento a aprovar a lei-quadro dos biocombustíveis. Como sabem 28 | www.exameangola.com

Os biocombustíveis têm sido muito criticados pelos ambientalistas... Precisamos de melhorar e expandir a nossa matriz energética, à semelhança do que fez o Brasil, líder mundial em etanol. A nossa estratégia é a de utilizar plantas que não compitam com a alimentação. No caso do etanol está já identificada a cana-de-açúcar. Para o biodiesel ainda estamos na fase de selecção da planta. Talvez seja a trofa que se desenvolve em zonas áridas e necessita de pouca água. Estamos a seguir esse processo com cuidado, pois sabemos que tem sido um assunto polémico a nível internacional.

A Noruega tem sido apontada no meio académico como um caso exemplar na utilização das receitas do petróleo para o benefício das gerações futuras e da redistribuição mais justa da riqueza. O que está o Governo a fazer nesse sentido? Nós temos trocado algumas experiências com a Noruega. O Orçamento Geral do Estado para 2010 prevê que 28% do investimento sejam afectos às áreas sociais como a saúde e a educação. O nosso país precisa de investir em infra-estruturas. Precisa também de diversificar a economia, dado que o sector petrolífero representa 57% do PIB, 80% das receitas e 97% das exportações. Queremos que o petróleo sirva de alavanca para a sociedade. E que seja o catalisador para que os objectivos de reconstrução do país sejam atingidos. Por fim, como sabem, está neste momento a ser constituído um fundo soberano que vai certamente ajudar as futuras gerações. Em que pé está a proclamada “angolanização” do sector? Nós já actualizámos o decreto com base na experiência dos últimos anos. Era uma lei que já vinha desde 1982 e que teve os seus altos e baixos, dado que os objectivos da “angolanização” não foram atingidos na sua plenitude. Definimos um novo contrato-programa com cada empresa onde procuramos fazer um melhor

O Governo tem trocado experiências sobre a utilização das receitas do petróleo com a noruega


Na área da formação as coisas têm corrido melhor... O sector petrolífero está mais adiantado nesse aspecto. Nós também temos dado a nossa contribuição junto de algumas universidades – como a Agostinho Neto ou a Católica – através da concessão de bolsas de estudo na área do petróleo. Devemos ter no estrangeiro cerca de 2 mil angolanos. Há também quem considere que a presença da Sonangol no sector é de tal forma elevada que chega a confundir-se com o próprio Estado? Há uma origem histórica para esse facto. Houve um hiato temporal entre a criação da Sonangol e a do Ministério dos Petróleos. Na Lei n.º 13-76 – que rege a actividade petrolífera – foram atribuídos direitos mineiros à Sonangol que representava o Estado na concessão. Só que a empresa foi crescendo e começando a participar directamente na operação. Como os resultados foram positivos ninguém equacionou uma mudança. Agora já se fazem reflexões no sentido de atribuir ao Estado, ou a uma entidade por si designada, essa função concessionária. Aliás, a última actualização da lei em 2004 já previu algum reforço no papel do Ministério dos Petróleos. Critica-se também o facto de as multinacionais não publicarem relatórios e contas em Angola. É uma decisão dessas empresas ou trata-se de uma imposição do Estado? Tem havido um acompanhamento muito estreito entre os órgãos do Ministério das Finanças e o dos Petróleos. Há indicadores que são do domínio público. Houve uma fase em que o país era acusado de não fazer a publicação das suas contas. Foi feito um trabalho interno e hoje a contribuição de cada uma dessas empresas para as receitas do país, é do conhecimento público através do site do Ministério das Finanças. Aqui no Ministério dos Petróleos fazemos reuniões trimestrais com todas as petrolíferas. b

COM O PETRÓLEO NAS VEIAS “O petróleo sempre exerceu um certo fascínio sobre mim”, confessa José Maria Botelho de Vasconcelos. não era preciso dizê-lo. Basta olhar para o seu currículo para perceber que o petróleo corre nas veias do presidente em exercício da OPEP. natural de Malanje, Botelho de Vasconcelos licenciou-se em Engenharia técnica, em 1974, pelo Instituto Industrial tecnológico de Luanda. nesse ano foi recrutado pela Cabinda Golf Oil através de um simples anúncio de jornal. Dois anos depois mudou-se para a Fina, tendo concluído um curso sobre derivados de petróleo na Bélgica. Dois anos depois entrou para a sonangol e não mais saiu. “Ainda sou quadro da sonangol”, revela. Foi subindo na empresa e fazendo formação nos Estados Unidos (estagiou na Mobil e fez um curso de gestão na Arthur D. Little) e em Portugal. Em 1987 foi nomeado director-geral adjunto para a área da distribuição da sonangol. Alguns anos depois entrega-se, de corpo e alma, a outra paixão: o futebol. Fã incondicional do Petro, onde ainda jogou como júnior, Botelho de Vasconcelos assumiu a presidência do clube de 1990 a 1999. nesse último ano foi convidado a servir o país como ministro dos Petróleos. Exerceu o cargo durante quatro anos até ter sido designado, em 2002, ministro da Energia e Água, cargo que exerceu até ao ano passado. regressou ao Ministério dos Petróleos para desempenhar uma das tarefas mais exigentes da sua carreira: a presidência da OPEP. A missão correu-lhe bem. “Criei uma empatia especial com o anterior presidente Chakib Kheli, ministro da Energia da Argélia. Ele foi o meu mentor. Deu-me muitos conselhos. Ele e o secretário-geral, o líbio Abdalla salem el-Badri, ajudaram-me a reduzir a tensão inerente a um cargo daquela responsabilidade”, diz. Fora do trabalho gosta de literatura e música. “Estou a ler Caim, do saramago, e aprecio muito o semba.” Domina o francês e o inglês, a língua oficial da OPEP. Hoje, ao 59 anos, já pensa na reforma. “tenho um projecto de agro-pecuária em Porto Amboim. no futuro, com mais tranquilidade, talvez me possa dedicar à agricultura a tempo inteiro”, confessa. HOrÁCIO DÁ MEsQUItA

acompanhamento da integração de angolanos e, sobretudo, das suas oportunidades de progressão na carreira. O outro grande objectivo refere-se à integração do empresariado nacional no sector.

dezembro 2009 | 29


especial petróleo mundo

Montanha russa dos preços Após a subida vertiginosa em 2008 e a descida abrupta no início de 2009, a cotação estabilizou 100

98,07

MÁXIMO HISTÓRICO

Preço do crude (em dólares) Produção de crude (milhões de barris/dia)

1981 Controlo de preços estados unidos

80

1990 invasão do Koweit e Guerra do Golfo

1994 Greve na nigéria

60

1991 Queda da união Soviética

40

1973 embargo árabe a israel

22,89 20

1973

1974

1975

30 | www.exameangola.com

1976

1975 Reunião OPeP Argélia 1977

1978

1979 Revolução no irão

1979

1980

1980 Guerra irão/iraque

1981

1982

1983

1984

1985

1986

1987

1988

1989

1990

1991

1992

1993

12,28

MÍNIMO HISTÓRICO

1994

1995

1996

1997

1998


O preço do crude é cada vez menos previsível. A culpa é dos especuladores

YASSeR Al-ZAYYAT/AFP

o soBe e Desce Do oUro NeGro

1998 Crise financeira asiática

2005 Guerra do iraque

94,45

2007 Angola adere à OPeP

45,78

2009 Angola preside OPeP

1.º Trim 2.º Trim 3.º Trim

1999

2000

2001

2002

2003

2004

2005

2006

2007

2008

2009

inFOGRAFiA/FReDeRiCO FeRnAnDeS

67,17 2001 Atentado Torres Gémeas

Manuel Cruz e Jaime Fidalgo

Q

FOnTe: eneRGY inFORMATiOn ADMiniSTRATiOn.

2008 Crise financeira mundial

Os especialistas são unânimes. As oscilações inesperadas do preço do crude devem-se mais à acção dos especuladores financeiros do que às leis da oferta e da procura. Saiba quem realmente manda no sector petrolífero uando a 3 de Julho de 2008 a Bolsa de Nova Iorque fechou com o petróleo a cotar acima dos 145 dólares, especulou-se que a barreira tinha sido ultrapassada como consequência da insaciável procura de petróleo por parte dos chineses e dos indianos. A verdade é que em 2008 as oscilações do petróleo deveram-se mais à forte especulação no mercado de capitais do que ao jogo da procura e da oferta do mercado petrolífero. Salvatore Carolli, consultor da ENI, quando esteve recentemente na Universidade Católica de Luanda para animar um seminário, foi mais longe. Disse que a OPEP cometeu uma espécie de “suicídio”, em 1988, ao ter entregue a fixação da cotação do Brent aos mercados financeiros. Hoje, disse, “já não há qualquer relação entre o mercado físico do petróleo e o mercado financeiro. As cotações do crude são fixadas pelos especuladores que transitaram da Bolsa para as commodities. Essa foi a verdadeira razão da subida do petróleo no ano passado”, sublinhou. “As decisões da OPEP só teriam realmente impacte se as refinarias deixassem de ter petróleo. Mas até agora isso nunca aconteceu”, justifica. dezembro 2009 | 31


especial petróleo mundo Outra teoria, ligada à ciência, oferece uma explicação diferente. A teoria do “Pico do Petróleo”, também conhecido pelo “Pico de Hubbert”, foi criada em 1986 pelo geólogo norte-americano Marion King Hubbert, quando trabalhava nos laboratórios de investigação da Shell e previu a primeira crise do petróleo de 1973. O cientista, hoje com 86 anos, criou um modelo de reservas petrolíferas baseado no referido pico (em termos técnicos chama-se “curva de bell” ou “curva em sino”) que reflete o momento em que a capacidade de extracção de crude já não consegue acompanhar o crescimento da procura de combustível, tornando o “ouro negro” numa matéria-prima permanentemente cara.

Os manuais da teoria económica dizem que é necessário que exista uma pressão da procura que quase esgote a capacidade de oferta para que os preços subam significativamente. A história recente do “sobe e desce” do preço do barril parece ser bem diferente. Em Julho de 2008, o crude estava a ser transaccionado a 145,29 dólares. Sete meses depois, em Fevereiro deste ano, o petróleo registou uma queda vertiginosa de 77%, passando a ser negociado a pouco mais de 30 dólares. Os defensores da tese que o mundo possui reservas petrolíferas suficientes argumentam que o abrandamento económico diminui o consumo de energia. Logo, segundo eles, tudo indica que o

Petróleo caro para sempre? É o que defende a teoria do pico de Hubbert que corre o mundo

Hoje, os livros sobre o assunto multiplicam-se e a comunidade de investidores começa a despertar para o tema. De acordo com as avaliações mais pessimistas, o “Pico do Petróleo” já deveria ter ocorrido. Entre as estimativas mais respeitáveis quanto à data exacta, apontam para o período de 2015 a 2020. Os críticos, por seu lado, apresentam argumentos tais como a descoberta recente de petróleo na camada do pré-sal (veja artigo nesta edição) para desmontar tal teoria. O próprio ministro dos Petróleos angolano refere, em entrevista nesta edição, que “desde sempre se ouviu falar no fim do petróleo, mas isso nunca aconteceu. Há sempre novas descobertas a surgir”, argumenta. 32 | www.exameangola.com

ciclo de subida do petróleo já terá chegado ao fim. Os apologistas da teoria do “Pico do Petróleo” respondem que a recessão travou, momentaneamente, a escalada do preço do crude, mas que isso não afecta a tendência do mercado que é de alta. China e India criam pressão do lado da procura Se há dúvidas sobre o futuro, o que ninguém contesta é que, no presente, todos os dias são consumidos mais de 80 milhões de barris de petróleo. O mundo consome, em média, cinco barris de petróleo por cada novo barril descoberto. Cerca de 25% do consumo é originário dos Estados Unidos (veja ranking à direita).


Os dez maiores Angola é o 14.º produtor mundial de petróleo Produção (1)

Consumo (1)

Reservas (2)

Rússia

estados unidos

Arábia Saudita

11906

18953

264063

China

Venezuela

7554

172323

estados unidos

Japão

irão

4954

4675

137620

irão

Rússia

4055

3939

China

Índia

3802

2793

Venezuela

Alemanha

3119

2501

México

brasil

2798

2374

Kuwait

Canadá

líbia

2676

2271

44271

emiratos Árabes

Coreia do Sul

nigéria

2572

2149

37200

iraque

México

Qatar

2280

2038

25405

1.º Arábia Saudita

2.º 9198

3.º Rússia

4.º

5.º

YASSeR Al-ZAYYAT /AFP

6.º

7.º

8.º

9.º

10.º (1) Valores (milhares barris/dia) (2) Valores (milhares barris)

128146 iraque

115000 Kuwait

101500 emiratos Árabes

97800

Fonte: OPeP - Annual Statistical bulletin 2008

Apesar de existirem algumas interrogações sobre a evolução positiva da economia norte-americana, as estimativas da Agência Internacional de Energia (AIE) não apontam para um abrandamento da procura mundial de petróleo. “No nosso cenário de referência, as projecções para a procura primária de energia mundial apresentam um aumento anual de 1,5% entre 2007 e 2030 o que significa um crescimento global de 40%2, revela o World Energy Outlook 2009, apresentado a 10 de Novembro. Os analistas desta instituição estimam que muitos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) importarão menos petróleo em 2030. Porém, outras nações que não fazem parte da OCDE, como a China e a Índia, deverão registar incrementos significativos das suas importações petrolíferas. O relatório da AIE defende que a China deverá ultrapassar os Estados Unidos, logo após 2025, para se tornar no maior importador mundial de petróleo e gás. E que a Índia superará o Japão em 2020, para assumir o terceiro lugar do pódio. As últimas estimativas dos especialistas da OPEP apontam no mesmo sentido. Segundo o boletim estatístico de Novembro ddeste organismo “os sinais apontam para um crescimento da procura mundial de petróleo em 2010”. A OPEP prevê que a procura mundial de crude deverá crescer 800 mil barris por dia em 2010, o que contrasta com a contracção de cerca de 1,4 milhões de barris diários registados em 2009. Fim do petróleo barato condiciona a oferta Para os profissionais da AIE, a oferta de petróleo continuará, no longo prazo, a favorecer a subida do crude para valores perto dos 87 dólares, em 2015, e para 115 dólares, em 2030 (a preços correntes de 2008). Em preços nominais, o preço do ouro negro deverá aproximar-se dos 102 dólares por barril, em 2015, dos 131 dólares em 2020 e quase perto dos 190 dólares em 2030. Estes números são tudo menos animadores para as contas dos países mais industrializados que, todos os anos, gastam avultadas somas dos seus orçamentos com a despesa energética. Steven Chu, secretário da Energia dos Estados Unidos, chegou a dizer que o regresso do barril aos 80 dólares era um sinal de preocupação pois isso poderá condicionar a recuperação da economia mundial. Argumenta que os consumidores terão de, necessariamente, desviar mais dinheiro para os custos energéticos em vez de os encaminhar para outras actividades que trazem mais valor acrescentado para as economias nacionais. Uma visão bem diferente tem Botelho de Vasconcelos, ministro dos Petróleos e presidente em exercício da OPEP, que considera os 80 dólares por barril “um bom preço.” Divergências à parte, uma coisa parece certa: a era do petróleo barato acabou e as oscilações irão tornar-se numa realidade bem presente. Desde Setembro que o comportamento do preço do crude tem alternado entre períodos de enorme subida seguidos de profundas correcções. Esta realidade proporcionou uma ocorrência de oscilações diárias superiores a 3 dólares por barril nas praças internacionais, um facto que reflecte o estado de nervosismo evidente por parte dos investidores. dezembro 2009 | 33


especial petróleo mundo Há uma estreita relação entre as Bolsas de valores do Médio Oriente e a evolução do preço do petróleo. Quando o barril do crude estava a custar perto de 70 dólares em meados de 2006, as reservas de petróleo da região estavam avaliadas em 60 biliões de dólares, de acordo com o Departamento de Energia dos Estados Unidos, o equivalente a 712 vezes a riqueza nacional gerada em 2008. Mas ao contrário do que se possa pensar, a descoberta de novos poços não tem vindo a ocorrer nesta região. Para o próximo ano, a África Ocidental será responsável por um terço da produção de novos barris em todo o mundo. Em 2015, o Departamento de Energia dos Estados Unidos estima que um quarto do petróleo importado possa ter como origem as explorações africanas, ou seja, mais 15% do que sucedia em 2007. STR/AFP

Dois terços das reservas petrolíferas mundiais estão no Médio Oriente

Além das incertezas associadas à lenta retoma da economia mundial, a desvalorização do dólar também em contribuído para a “montanha-russa do preço”. É conhecido a correlação negativa entre o comportamento do petróleo e o desempenho do dólar. Segundo os dados da última década, verifica-se que, em média, quando o dólar desvaloriza 1% face ao euro, o preço do barril de petróleo regista uma valorização simétrica. Isto significa que, na maioria das vezes, quando o dólar perde em relação à moeda da zona euro, o ouro negro regista uma subida. Esta relação não é mera coincidência. Os produtores de petróleo ao venderem o seu produto em dólares, vão utilizar, posteriormente, esses “petrodólares” na aquisição de outros bens nos mercados internacionais. Como o dólar tem vindo a perder valor desde 2002, os produtores de petróleo podem dar-se ao luxo de fazer menos compras nos mercados internacionais com os seus dólares. Para compensar esta perda de poder de compra, esses mesmos produtores detém uma margem de manobra suficiente para aumentar o preço do petróleo em dólares, como sucedeu durante os primeiros seis meses do ano transacto, com o barril a ultrapassar a fasquia recorde dos 145 dólares, a 3 de Julho de 2008. O Médio Oriente tem um papel decisivo no mercado. Dois terços das reservas petrolíferas do mundo estão nesta região que se estende-se do Sudoeste asiático ate ao Nordeste africano, de Marrocos ao Paquistão, incluindo o Cáucaso, o que eleva o número de nações para cima de três dezenas.

não é coincidência. Há uma correlação negativa entre o comportamento do petróleo e o desempenho do dólar 34 | www.exameangola.com

Produção angolana aumentou dez vezes desde 1970 Angola está bem posicionada para ter um papel determinante nesse crescimento graças a uma série de grandes descobertas que aumentaram a capacidade de produção petrolífera do país em dez vezes, desde meados da década de 1970. A dependência do petróleo — responsável por mais de 50% da riqueza nacional e mais de 95% das exportações — é incontornável. Desde a década de 80 que o sector petrolífero nacional tem crescido a um ritmo anual, médio, de 25%. As estimativas mais conservadoras apontam para que as reservas nacionais de ouro negro cheguem aos 10 mil milhões de barris. Contudo, com a recente descoberta de vários campos petrolíferos offshore, os especialistas apontam para que essas reservas tenham o dobro desse valor. Para já, o país mantém a liderança na região da África Subsariana com 1,88 milhões de barris produzidos diariamente, ultrapassando a sua rival, a Nigéria (veja artigo nesta edição), muito por culpa da insaciável procura chinesa pelo “Girassol” (petróleo angolano). Porém, os especialistas chamam a atenção para o facto de Angola não pretender ficar por aqui. Segundo as últimas estimativas apresentadas pela revista Petroleum Economist, especializada em assuntos geopolíticos do sector energético, Angola deverá solidificar cada vez mais a sua liderança na região, graças ao desenvolvimento dos campos de exploração a alta profundidade que poderão elevar a produção nacional para perto de 2,3 milhões de barris, por dia, até ao final do ano, e para 2,5 milhões em 2011. O relatório de Novembro da OPEP, confirma que, em Julho, Angola produziu apenas 89% da sua capacidade potencial, como consequência do país estar sujeito ao cumprimento das quotas. Para a organização — que hoje agrega 35% da oferta mundial (veja caixa na página seguinte), a entrada de Angola no cartel, a 1 de Janeiro de 2007, foi a melhor notícia dos últimos anos.


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Provavelmente os nomes que lhe vêm à cabeça são a Exxon-Mobil, a BP, a Total, a Chevron, a Shell ou mesmo a Sonangol. Mas a verdade é ue nenhuma dessas companhias está sequer no pódio. As maiores petrolíferas mundiais dão pelo nome de Goldman Sachs, Morgan Stanley, JP Morgan e Barclays, os grandes bancos de Wall Street. De acordo com Michael Masters, um gestor de hedge funds, no espaço de cinco anos o volume de dinheiro que estes bancos e outros grandes investidores injectaram no mercado das commodities passou de 13 mil milhões de dólares para 300 mil milhões. Em 2008, por cada 27 barris de crude que foram negociados na Bolsa de futuros de New York Mercantile Exchange, apenas um foi realmente consumido nos Estados Unidos. Aproximadamente, 60% a 70% dos contratos de futuros sobre o petróleo são negociados por especuladores. Não por empresas, companhias aéreas ou petrolíferas, mas por investidores que estão à procura de fazer dinheiro tomando posições especulativas, revelou Dan Gilligan, presidente da associação norte-americana para o mercado petrolífero. Só assim se justifica que, a 22 de Setembro, o preço do barril tenha subido 25 dólares em apenas uma sessão!

SAMuel KubAni/AFP

“A procura vai aumentar”, diz Abdallah El-Badri, secretário-geral da OPEP

Foi igualmente o trunfo necessário para que a organização voltasse a ganhar relevância no contexto internacional. Com a adesão de Angola à OPEP, dizem os analistas, a organização ganhou não apenas uma força renovada no controlo do preço internacional do crude como, pela primeira vez em mais de uma década, viu a sua quota mundial aumentar. Para os próximos anos, a Agência Internacional de Energia projecta que as receitas das exportações de petróleo e de gás da OPEP aumentem para 30 biliões de dólares, entre 2008 e 2030.

As maiores petrolíferas mundiais são a Goldman Sachs e a Morgan Stanley, os bancos de Wall Street Tudo depende, no entanto, da retoma efectiva da economia mundial. Por enquanto, os sinais inspiram cautela. Do sector financeiro à construção, do consumo aos transportes, os exemplos da forte instabilidade em que vivem os mercados são sintomáticos. A falta de confiança de investidores e consumidores tomou conta da economia global. A especulação — movida pela ganânica de recuperar as perdas dos anos anteriores — tomou o lugar da racionalidade. Fica-se com a sensação que o “jogo de azar” voltou a ser utilizado como um sinónimo de bolsa de valores, onde a probabilidade de realizar mais ou menos-valias é equivalente a sair preto ou vermelho na roleta de um casino. No tabuleiro do mercado de derivados de petróleo a situa-ção não é muito diferente. Senão vejamos, tente responder à seguinte pergunta: qual é a maior petrolífera do mundo? 36 | www.exameangola.com

Mercado do petróleo está refém de Wall Street Será que a China e a Índia, de repente, tiveram necessidades gigantescas de novos produtos derivados do petróleo em um único dia? Não. Toda a gente concorda que o simples jogo da procura e da oferta não poderia elevar o preço em 25 dólares num só dia, o que constituiu um aumento recorde do preço do petróleo. No mesmo sentido, seguem as conclusões de um recente trabalho de investigação da prestigiada universidade norte-americana MIT, revelando que “os fundamentos básicos da oferta e da procura não poderiam ter sido responsáveis pela subida vertiginosa do petróleo no ano passado.” O Morgan Stanley não é uma petrolífera no sentido tradicional da expressão — não detém ou controla campos petrolíferos, refinarias ou bombas de gasolina. Mas, de acordo com a Securities and Exchange Commission, entidade reguladora do mercado de capitais dos Estados Unidos, o Morgan Stanley é um jogador importante no mercado grossista de petróleo através de diferentes entidades controladas pelo banco. Significa que não apenas compra e vende o produto físico — através de subsidiárias e outras empresas que controla —, como ainda tem a capacidade para armazenar 20 milhões de barris. O Goldman Sachs também detém participações em empresas no estado do Kansas, que lhe permite controlar uma refinaria, 43 mil milhas de gasodutos e 150 terminais de armazenamento. Talvez seja por isso que, em Março de 2008, quando o barril de petróleo estava a ser transaccionado a 100 dólares, que os analistas do Goldman Sachs perspectivavam que o preço do ouro negro atingiria 200 dólares enquanto os da Morgan Stanley avançavam com uma estimativa de 150 dólares. Eles sabem do que falam. Os especuladores tornaram-se os novos barões do petróleo. E isso não são boas notícias. b


especial petróleo mundo

A adesão de Angola permitiu à OPEP subir a quota mundial. Facto inédito

O cartel dos 12 A Organização dos Países exportadores de Petróleo é composta pelos países que retêm algumas das maiores reservas de petróleo do mundo. É o exemplo mais conhecido de cartel. O que é? O objectivo da OPeP é unificar a política petrolífera dos países-membros, o que inclui o controlo dos preços e do volume de produção. Reunidos, os 12 países possuem cerca de 78% das reservas mundiais de petróleo. Fornecem aproximadamente 40% da produção mundial e 60% das exportações mundiais. Quando nasceu? Foi criada em 14 de Setembro de 1960 como uma forma dos países produtores de petróleo se fortalecerem frente às compradoras, caso dos estados unidos, inglaterra e Países baixos, que exigiam uma redução cada vez maior no preço do petróleo. Desde 1965 que a OPeP está sediada em Viena, capital da Áustria. Quem faz parte? Hoje, a OPeP tem 12 países-membros – seis do Médio Oriente, quatro de África e dois da América latina. embora sete dos membros sejam nações árabes – incluindo a Arábia Saudita, a segunda maior produtora mundial de petróleo –, a língua oficial é a inglesa.

SAMuel KubAni/AFP

Quem vem a Luanda Países membros da OPeP, por ordem de adesão ARÁBIA SAUDITA Membro desde: 1960 (fundador) Capital: Riade Petróleo nacional: Arab light Petrolífera bandeira Saudi Aramco Produção Outubro 2009 (barris diários): 8,1 milhões Representante: Ali i naimi

LÍBIA Membro desde: 1962 Capital: Trípoli Petróleo nacional: es Sider Petrolífera bandeira: libyan national Oil Corporation Produção Outubro 2009 (barris diários): 1,6 milhões Representante: Shokri M Ghanem

IRAQUE Membro desde: 1960 (fundador) Capital: bagdad Petróleo nacional: basra light Petrolífera bandeira: iraq national Oil Company Produção Outubro 2009 (barris diários): 2,5 milhões Representante: Hussain Al-Shahristani

EMIRADOS ÁRABES UNIDOS Membro desde: 1967 Capital: Dubai Petróleo nacional: Murban Petrolífera bandeira: Abu Dhabi national Oil Company Produção Outubro 2009 (barris diários): 2,3 milhões Representante: Mohamed bin Dhaen Al Hamli

IRÃO Membro desde: 1960 (fundador) Capital: Teerão Petróleo nacional: iran Heavy Petrolífera bandeira: national iranian Oil Company Produção Outubro 2009 (barris diários): 3,7 milhões Representante: Masoud Mir-Kazemi

ARGÉLIA Membro desde: 1969 Capital: Argel Petróleo nacional: Saharan blend Petrolífera bandeira: Sonatrach Produção Outubro 2009 (barris diários): 1,3 milhões Representante: Chakib Khelil

KUWAIT Membro desde: 1960 (fundador) Capital: Cidade do Kuwait Petróleo nacional: Kuwait export Petrolífera bandeira: Kuwait Petroleum Corporation Produção Outubro 2009 (barris diários): 2,3 milhões Representante: Ahmad Abdullah Al-Jaber Al-Ahmad Al-Sabah

NIGÉRIA Membro desde: 1971 Capital: Abuja Petróleo nacional: bonny light Petrolífera bandeira: nigerian national Petroleum Produção Outubro 2009 (barris diários): 1,9 milhões Representante: Rilwanu lukman

VENEZUELA Membro desde: 1960 (fundador) Capital: Caracas Petróleo nacional: Merey Petrolífera bandeira: Petróleos de Venezuela Produção Outubro 2009 (barris diários): 2,3 milhões Representante: Rafael D Ramírez

EQUADOR Membro desde: 1973 (entre Dezembro de 2002 e Outubro de 2007 esteve suspenso) Capital: Quito Petróleo nacional: Oriente Petrolífera bandeira: Petroecuador Produção Outubro 2009 (barris diários): 0,5 milhões Representante: Derlis Palacios Guerrero

QATAR Membro desde: 1961 Capital: Doha Petróleo nacional: Qatar Marine Petrolífera bandeira: Qatar Petroleum Produção Outubro 2009 (barris diários): 0,8 milhões Representante: Abdullah bin Hamad Al Attiyah

ANGOLA Membro desde: 2007 Capital: luanda Petróleo nacional: Girassol Petrolífera bandeira: Sonangol Produção Outubro 2009 (barris diários): 1,3 milhões Representante: José Maria botelho de Vasconcelos

Um girassol no cabaz da OPEP A média anual (até ao passado mês de Outubro) do cabaz da OPeP é de 58,25 dólares, cerca de metade do ano passado. O Girassol (petróleo de referência angolano) está no quinto lugar entre as 12 que compõe o cabaz

72,67 73,36 72,63 74,41 72,71 72,97 72,54 72,50 73,61 66,90 75,06 68,57 73,36

OPeC Arab light basrah light bonny light es Sider Girassol iran Heavy Kuwait export Marine Merey Murban Oriente Saharan blend Preço do barril (em dólares).

Fonte: OPEP – Monthly Report, nov. 2009.

dezembro 2009 | 37


EspEcial pEtrólEo ÁFRICA

o caN do pEtrólEo A produção de crude de Angola ultrapassou pela primeira vez a da Nigéria. Desde Abril que somos os campeões africanos do petróleo. A Líbia e a Argélia jogam para o terceiro e quarto lugares. Agora só falta vencer no CAN do futebol Mário Paiva e Jaime Fidalgo

a

lém da conquista do Afrobasket, Angola já ganhou mais um título africano este ano: é a maior produtora de petróleo do continente. Em vésperas de CAN a notícia encheu de auto-estima o meio empresarial angolano, cujo ponta-de-lança, o ministro Botelho de Vasconcelos, presidente da Organização de Países Exportadores de Petróleo (OPEP), anda nas bocas do mundo. O brilharete de Angola resulta de dois factos — o mérito de ter aumentado a sua produção e o demérito do seu mais directo rival: a Nigéria. A hora, no entanto, não é para “embandeirar em arco”. Tal como explicam os comentadores não se pode subestimar a Nigéria que possui uma indústria petrolífera mais competitiva e é uma grande potência no óleo e no gás, onde tem reservas superiores às angolanas. Em linguagem futebolística a Nigéria tem melhor palmarés, maior poder físico e melhor “banco”. Mas tal como no futebol o que interessa são os resultados também os dados da OPEP relativos ao mês de Novembro, confirmam o bom “momento de forma” porque passa o sector em Angola. O nosso país produziu em média 1,879 mil milhões de barris de petróleo, mais 23 mil do que a Nigéria (1856 mil barris). A produção nigeriana atingiu o seu ponto crítico no passado mês de Abril, situando-se nos 1,36 mil milhões de barris,

que correspondem a 40% da sua capacidade instalada. Em consequência, a Nigéria remeteu-se ao segundo lugar no ranking de produtores africanos, algo que já não acontecia desde 1978. Recorde-se que no ano passado o débito dos nigerianos tinha atingido cerca de 2,4 milhões de barris por dia. Nigéria: uma época para esquecer Apesar do furor que este facto criou nos meios de comunicação social, tal situação deve-se a factores de ordem conjuntural, como foram os ataques realizados pelos rebeldes no delta do Níger, a principal zona de produção de petróleo daquele país. Embora a produção da Nigéria tenha conhecido alguma evolução positiva desde o cessar fogo celebrado a 25 de Outubro entre o Presidente Umaru Yar’Adua e os rebeldes, os observadores continuam a considerar a situação no terreno como instável. A prová-lo está o facto de apenas três semanas depois do fim das hostilidades o maior grupo guerrilheiro do Sul da Nigéria, o Movimento pela Emancipação do Delta do Níger (Mend), ter retomado a luta armada. O Mend acusa as tropas especiais para a região do delta do Níger de atacarem civis na localidade de Kula, no estado de Rivers, durante uma operação militar. As duas partes já estão de novo à mesa das negociações. Do lado do Mend participa o Nobel, Wole Soyinka, que confere credibilidade a este movimento que vem fustigando a economia nigeriana.

A Nigéria tem mais palmarés, maior poder físico e melhor banco. Só foi ultrapassada devido à indisciplina interna 38 | www.exameangola.com


Campeões africanos A diferença é de apenas 23 mil barris por dia O continente africano é responsável por 13% da produção mundial de crude e por apenas 6% de gás natural. Nas reservas, o continente representa 9% no crude e 8% no gás. No consumo, África detém a quota de 3% do mercado mundial de produtos refinados. A nível interno os maiores produtores de crude são: Angola, Nigéria, Líbia e Argélia

ARGÉLIA 1 276

POPULAÇÃO (milhões de habitantes)

33,88

ÁREA (km2)

2 382

PIB – Per capita (dólares)

4 712

PIB – Preços de mercado (mil milhões de dólares)

159,67

EXPORTAÇÕES (mil milhões de dólares)

77,29

EXPORTAÇÕES DE PETRÓLEO (mil milhões de dólares)

47,02

(milhares de barris por dia)

4.º

ARGÉLIA

3.º

EGIPTO

LÍBIA

NIGÉRIA PRODUÇÃO

1 856

IMPORTAÇÕES (mil milhões de dólares)

38,06

POPULAÇÃO (milhões de habitantes)

151,54

BALANÇA CORRENTE (mil milhões de dólares)

37,08

TAXA DE CÂMBIO (moeda nacional/dólar)

64,60

(milhares de barris por dia)

ÁREA (km2)

924

PIB – Per capita (dólares)

1 415

PIB – Preços de mercado (mil milhões de dólares)

214,40

EXPORTAÇÕES (mil milhões de dólares)

76,83

EXPORTAÇÕES DE PETRÓLEO (mil milhões de dólares)

74,70

IMPORTAÇÕES (mil milhões de dólares)

44,67

BALANÇA CORRENTE (mil milhões de dólares)

12,90

TAXA DE CÂMBIO (moeda nacional/dólar)

118,5

PRODUÇÃO

(milhares de barris por dia)

1 879

POPULAÇÃO (milhões de habitantes)

17,50

ÁREA (km2)

1 247

PIB – Per capita (dólares)

4 766

PIB – Preços de mercado (mil milhões de dólares) EXPORTAÇÕES (mil milhões de dólares) EXPORTAÇÕES DE PETRÓLEO (mil milhões de dólares)

SUDÃO

2.º

NIGÉRIA

LÍBIA

GUINÉ EQUAT.

PRODUÇÃO

(milhares de barris por dia)

GABÃO

ANGOLA

INFOGRAFIA/FREDERICO FERNANDES E JORGE RIBEIRO SOBRE FOTO/SONANGOL.

PRODUÇÃO

1.º

ANGOLA

1 560

POPULAÇÃO (milhões de habitantes)

6,28

ÁREA (km2)

1 760

PIB – Per capita (dólares)

15 926

PIB – Preços de mercado (mil milhões de dólares)

100,07

EXPORTAÇÕES (mil milhões de dólares)

60,26

EXPORTAÇÕES DE PETRÓLEO (mil milhões de dólares)

55,20

IMPORTAÇÕES (mil milhões de dólares)

27,91

83,38

BALANÇA CORRENTE (mil milhões de dólares)

36,58

67,24

TAXA DE CÂMBIO (moeda nacional/dólar)

1,20

64

IMPORTAÇÕES (mil milhões de dólares)

17,08

BALANÇA CORRENTE (mil milhões de dólares)

17,67

TAXA DE CÂMBIO (moeda nacional/dólar)

75

Fonte: OPEP - Annual Statistical Bulletin 2008 (excepto os valores actuais da produção que foram extraídos do Monthly Oil Market Report, da OPEP – Novembro de 2009).

dezembro 2009 | 39


Imagem de um oleoduto vandalizado na cidade de Lagos: um mal que se repete

Não obstante tais sinais contraditórios sobre a situação no “campo de jogo”, a verdade é que no relatório da OPEP de Novembro verifica-se que as principais subidas de produção de Setembro a Outubro vieram da Nigéria (13,6%), Angola (13,4%), e, sobretudo do Koweit (14,5%). Tal “veia concretizadora” foi compensada

Com a subida à liderança, Angola marcou pontos entre os comentadores que reviram em alta as previsões pelos decréscimos da Venezuela (10,8%) e do Iraque (10,1%). No total a produção da OPEP aumentou 39 mil barris por dia. Nos duelos individuais a “diferença pontual” entre as duas grandes potências do continente já é de apenas 23 mil barris. Ou seja, a Nigéria está mais forte e a recuperar terreno. Conforme esclarece José Oliveira, especialista do sector, “ao nível do continente africano, Angola lidera a produção em águas profundas, mas em termos globais, temos uma indústria petrolífera muito menos desenvolvida do que a da Argélia e da Nigéria. Há muitos anos que ambos exploram de forma comercial o gás natural e os seus componentes líquidos — como o LPG e os condensados —, produtos de que são grandes exportadores”. 40 | www.exameangola.com

AFP PHOTO / PIUS UTOMI EKPEI

EspEcial pEtrólEo ÁFRICA A Argélia é aliás o quarto exportador mundial de gás natural, depois da Rússia, Canadá e Noruega, e a Líbia tem um potencial em hidrocarbonetos líquidos e gasosos superiores aos de Angola. A passagem de Angola para a pole position do continente africano teve outro género de repercussões positivas. Na “bolsa de apostas” os vários analistas locais e estrangeiros, incluindo o Banco Mundial, reviram em alta as previsões de crescimento para Angola. De uma quebra de 1,9% do PIB para um crescimento flat de 0%, o economista-chefe do Banco Mundial em Angola, Ricardo Gazel, diz agora que o crescimento pode até ser positivo se o sector petrolífero crescer acima dos 10%. Ou seja, a economia angolana voltou a merecer a confiança dos “comentadores”.

Equipa que ganha não se mexe O crescimento da produção petrolífera de alguns países membros da OPEP, incluindo Angola que detém a presidência, cria algumas expectativas sobre a próxima reunião do cartel que terá Luanda como palco. Se o preço do petróleo se mantiver em torno dos 75 a 80 dólares é natural que a reunião termine num “empate” no que refere a aumentos de produção. Se até lá houver nova subida de preços, a OPEP terá o pretexto que lhe faltava para fazer “alterações de ordem táctica”. Um cenário improvável. A prová-lo está o facto do xeque Ahmed Al-Abdullah Al-Sabah, ministro do Petróleo do Kowait, citado pela Bloomberg, ter garantido que a OPEP vai manter os níveis de produção. “Embora a procura esteja a aumentar ainda existe uma ampla oferta de crude no mercado”, sustentou. Todos — a começar pelo actual manager da OPEP, Botelho de Vasconcelos, consideram que um score entre 75 e 80 dólares por barril é um óptimo resultado. Ao que tudo indica, a recuperação dos preços do petróleo este ano, em que somam ganhos de 77% face ao mínimo de 32,40 dólares registado em Dezembro, parece ter vindo para ficar. Mas, como se diz em linguagem futebolística, “prognósticos só mesmo no fim do jogo”. Não obstante, é natural que os dirigentes da OPEP peçam aos jogadores maior “conformidade com o regulamento” (leia-se com as quotas) da Organização. Em Agosto três instituições de referência em matéria de previsões no mercado mundial de energia — a Agência Internacional de Energia (AIE), a Administração de Informação de Energia dos Estados Unidos e a própria OPEP — sublinharam a necessidade de maior disciplina. “Os fundamentos da oferta e da procura sugerem que deve existir um pouco mais de crude fora do mercado”, disse Adam Sieminski, citado pela agência Reuters. O nível de adesão às quotas de produção que tinha atingido 80% em Março deste ano, caiu para cerca de 70% em meados de Agosto.



EspEcial pEtrólEo ÁFRICA Os especialistas reconhecem que a região do golfo da Guiné continuará a manter--se, nos próximos anos, como uma importante fonte de fornecimento mundial de petróleo. Mas comparando o historial dos dois países, do lado de Angola verificamos uma rápida recuperação da indústria petrolífera que, em pouco menos de três anos, passou da orla do 1 milhão de barris por dia para quase 2 milhões. A Nigéria, por seu turno, está muito longe do seu máximo de 2,6 milhões barris por dia, alcançado antes das hostilidade no delta do Níger. Logo, Angola afigura-se como um país com potencial que merece o apoio do cartel.

Relatórios da indústria petrolífera indicam que o Iraque, a Venezuela, o Irão e Angola são os que têm manifestado menor fair play. Nessa material de respeito pelas regras do jogo adensam-se as suspeitas de que o árbitro possa estar a favorecer os angolanos, que este ano “jogam em casa”, perante a passividade dos adversários.

Enquanto o CAN de futebol não começa, Angola bem pode ir saboreando a sua liderança no CAN do petróleo Mas Angola tem argumentos válidos que sustentam essa tolerância. O nosso país possui características que o diferenciam dos seus pares africanos e dos outros 11 países-membros. Veja-se o caso da Arábia Saudita, um dos “sócios mais ricos do clube”, mas onde a produção pode ser realizada a custos relativamente baixos e apenas com a “prata da casa”. Angola, por seu turno, tem menos recursos petrolíferos e altos custos da exploração offshore — que é efectuada na sua quase totalidade com a participação de “reforços” estrangeiros. Do ponto de vista das necessidades económicas e sociais, Angola também é um país que ainda está a pagar a “factura” da guerra e está em pleno esforço de reconstrução nacional. Tudo isso exige dinheiro. 42 | www.exameangola.com

SONANGOL

Angola: armas secretas e pontos fracos Outra diferença está no “banco”. Se em 2006 as reservas provadas nigerianas, segundo os números oficias, eram estimadas nos 35 mil milhões de barris, na mira da meta oficial dos 40 mil milhões, no início deste ano os números baixaram para 33 mil milhões, devido a alegados problemas com a tecnologia de águas profundas, que não está a evoluir tão rapidamente quanto o necessário. As reservas estimadas estão abaixo dos 2,5 quilómetros, enquanto o nível mais profundo que a produção atingiu até agora são 2,3 quilómetros. O gap tecnológico e a instabilidade tornam muito difícil a Nigéria atingir o objectivo governamental de 4 milhões barris por dia em 2010. Mesmo que num cenário positivo de entrada em funcionamento dos seus novos campos ao nível das águas profundas. Mas Angola também se confronta com outros problemas. O país viu-se confrontado com os limites da quota da OPEP de 1,9 milhões de barris por dia. Muitos peritos independentes sustentam que a meta dos 2,5 milhões seria mais realista para Angola, tendo em consideração a produção proveniente das águas profundas. Angola está, porém, a apostar no futuro. “Há investimentos em curso nos blocos 0, 14, 15, 17 e 18, sendo o primeiro nas águas rasas de Cabinda e os restantes em águas profundas, desde o enclave até a zona frente ao Ambriz”, disse José Oliveira. Os blocos de águas profundas 31 e 32 também têm, cada qual, um projecto de exploração dos campos descobertos nos últimos anos. Todos os operadores presentes em Angola — caso da Chevron, Exxon, Total e BP —, estão a realizar grandes investimentos. O consultor salienta que a estes projectos devem acrescentar-se as actividades de pesquisa que se estendem desde alguns blocos de águas rasas — 1, 2, 3, 5, 6 — até aos localizados em águas profundas — como os blocos 15, 16, 17, 18 e 26. Neste último, situado a sul de Benguela, espera-se que a Petrobras e a Sonangol tenham sucesso. Tudo aponta para que ainda exista um grande potencial de extracção a norte do país, na bacia do Congo — uma das mais prolíferas do mundo — e em torno de Luanda, na bacia do Angola tem condições para produzir mais de dois milhões de barris por dia


O ataque ao 1.º lugar Os pontos fortes e fracos de cada oponente

Petróleo Produzimos mais. Temos menos reservas e capacidade de refinação. Logo somos quem exporta menos.

PRODUÇÃO

2500

No início deste ano, a Nigéria produzia mais 61 mil barris por dia. Nos primeiros três meses, o fosso alargou-se devido às quotas da OPEP que prejudicaram Angola. A partir de Abril o nosso país passou para a dianteira devido à quebra da Nigéria. Desde então mantivemos a liderança embora a diferença seja cada vez menor (apenas 23 mil barris por dia, em Outubro). Um duelo emocionante. A Líbia segue à frente para o terceiro lugar.

Nigéria

2000

Angola

Libia 1500

Argélia 1000

500

1999

2000

2001

2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 1.º trim. 2.º trim. Ago. 2009

Set.

Out.

QUOTAS PRODUÇÃO OPEP (*) (1)

RESERVAS (**)

EXPORTAÇÕES (*)

A Nigéria tem uma quota mais elevada. Ainda assim é Angola quem produz mais

A Líbia é a líder destacada nas reservas de crude. Angola é “lanterna vermelha”

A Nigéria é quem mais exporta em quantidades. Nós estamos em terceiro.

Nigéria

Nigéria

2306

Angola Libya 500

1044

Argélia

894 0

1403

Angola

1500

Argélia

2017

Libya

1900

1000

1500

841 0

2000

500

1000

1500

2000

CAPACIDADE DE REFINAÇÃO (*)

CONSUMO DE PRODUTOS REFINADOS (*)

EXPORTAÇÕES DE PRODUTOS REFINADOS (*)

A refinação é o ponto mais vulnerável de Angola. Vai continuar a ser até 2014

Consumimos mais do que refinamos. Precisamos de recorrer à importação

Angola também está em último lugar neste critério, o que não é uma surpresa

(*) 1000 barris por dia. (*) Valores em milhares de barris por dia. (**) Valores em milhões de barris por dia. (1) Valores referentes a 1 de Outubro.

INFOGRAFIA/JORGE RIBEIRO.

Gás natural Por enquanto, ainda estamos “fora de jogo” no campeonato do gás natural.

RESERVAS

PRODUÇÃO

EXPORTAÇÕES

Este é um critério em que somos praticamente “cilindrados” pela Nigéria

Valemos muito pouco neste indicador. A Argélia é um jogador de nível mundial

O pouco que produzimos fica em casa. Valemos zero. Argélia: a líder destacada

(*) Valores em milhões de metros cúbicos. Fonte: OPEP - Annual Statistical Bulletin 2008 (excepto o primeiro e o segundo gráficos que foram extraídos do Monthly Oil Market Report, da OPEP – Novembro de 2009).

dezembro 2009 | 43


EspEcial pEtrólEo ÁFRICA Kwanza. Além destas duas áreas, que consomem a maioria dos investimentos em curso, há outros projectos que podem mudar as “regras do jogo”: o Angola LNG (gás), as centrais de armazenamento, as novas bombas de gasolina e a refinaria do Lobito. Descrevendo a evolução da indústria petrolífera nos próximos cinco anos, José afirmou que para além da continuação dos investimentos na pesquisa para descobrir novos campos, Angola irá assistir ao arranque de novas explorações num volume aproximado de 500 mil de barris por dia. Tais descobertas podem catapultar o país para outro patamar, no qual o nível médio de produção subirá para 2 milhões de barris por dia. Claro que essa ambição dependerá da recuperação da economia mundial e do fim das limitações impostas pela OPEP à quota de Angola. Investimentos e negócios em jogo O país deverá conhecer, em 2012, ao arranque do projecto Angola LNG e, dois anos depois, à conclusão da primeira fase da refinaria do Lobito. O país deposita igualmente muitas esperanças na possível edificação da primeira grande central a gás no Soyo para o abastecimento da rede eléctrica nacional. A modernização e ampliação da refinaria de Luanda, a construção de novos armazenamentos de combustível em vários pontos do país, paralelamente ao aumento dos postos de venda figuram igualmente na lista de prioridade de investimento dos dirigentes. No total, espera-se que os investimentos petrolíferos se mantenham nos próximos anos acima dos 15 mil milhões de dólares. José Oliveira considera que os subsídios indiscriminados aos preços dos combustíveis e da energia eléctrica são um dos

O Iraque, a Venezuela, o Irão e Angola, que este ano joga em casa, revelam menor fair play com as regras da OPEP mais graves problemas que o Governo enfrentará a curto prazo. O ministro Botelho de Vasconcelos, em entrevista nesta edição, alertou que espera acabar com as subvenções dentro de 18 meses. Recorde-se que o nosso país importa actualmente, devido à insuficiência de capacidade de refinação, mais de dois terços da gasolina e do gasóleo que consome. As importações de derivados do petróleo atingiram no ano passado cerca de 2 milhões de toneladas, às quais correspondem um custo para o erário público à volta de 2 mil milhões de dólares. Não obstante, as limitações do “plantel angolano” a hora é de esperança e de celebração. Enquanto o CAN de futebol não começa, Angola bem pode ir saboreando a liderança africana na produção do ouro negro. b

Concessões em Angola* Conheça os “blocos dourados” e as empresas que os lideram ONSHORE (zona de exploração terrestre) Integra as bacias do Congo, Kwanza, Benguela, Namibe e as regiões interiores de Kassanje, Okawango e Owango. A única bacia em produção é a do Baixo Congo, da parte terrestre do Congo, também denominada área do Soyo. Esta área encontra-se em fase plena de exploração, estando dividida em dois blocos: o Cabinda Norte, cujo operador é a Sonangol Pesquisa & Produção, e o Cabinda Sul, que tinha a Rakoil como operador (entretanto substituída pela argentina Plus Petrol). OFSHORE (no mar) A exploração é feita, sobretudo, em alto-mar em profundidades superiores a 1200 metros, que exigem tecnologia de ponta. Tais investimentos foram melhor recompensados nos blocos 15, 17 e 18. BLOCO 15 Localizado 370 quilómetros a noroeste de Luanda, em profundidades que rondam entre 700 e 1500 metros. As áreas de desenvolvimento têm os seus poços bombeados para os navios de grande porte (FPSO – floating, production, storage e offloading) Kizomba A e Kizomba B, cuja produção é de 500 mil barris por dia. BLOCO 17 Localizado a 135 quilómetros da costa a sua lâmina de água varia entre 1200 e 1500 metros. O bloco engloba quatro áreas principais: Girassol (que inclui os campos Rosa e Jasmim), Dália, Pazflor e CLOV (iniciais das flores cravo, lírio, orquídea e violeta). O Dália nasceu em Dezembro de 2006 e possui uma das maiores FPSO do mundo. BLOCO 18 Localizado 160 quilómetros a nordeste de Luanda, incluem os campos Gálio, Crómio, Paládio, Cobalto e Plutónio. A prospecção do petróleo bruto no Grande Plutónio começou no dia 1 de Outubro de 2007 e consiste em 43 poços. Produz 200 mil barris por dia de crude. OPERADORAS A Sonangol, as americanas Chevron e Exxon Mobil e a francesa Total são as maiores. ENI, Stateoil e Petrobras ganham peso. ACTIVIDADE EXPLORAÇÃO ONDE ONSHORE (R. D. CONGO/CABINDA) NORTE (CN) SONANGOL P&P (OP) . . . . . . . . 28,00 OCCIDENTAL . . . . . . . . . . . . . . . 23,00 TEIKOKU . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17,00 SOCO. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17,00 ACR . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15,00 CENTRO (CC) OCEAN ANGOLA “DEVON” . . . . 30,00 REPSOL. . . . . . . . . . . . . . . . . . 25,00 SONANGOL . . . . . . . . . . . . . . . 20,00 PETROGAL . . . . . . . . . . . . . . . . 20,00 ENERGY AFRICA . . . . . . . . . . . . 5,00 SUL (CS) ROCK OIL (OP) (1) . . . . . . . . . . . . 45,00 SONANGOL P&P . . . . . . . . . . . . 20,00 LUKOIL . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15,00 FORCE PETROLEUM . . . . . . . . 20,00 ACTIVIDADE EXPLORAÇÃO ONDE ONSHORE (CONGO) SONANGOL P&P . . . . . . . . . . . . 51,00 TOTAL (OP) . . . . . . . . . . . . . . . . 32,67 CHEVRON . . . . . . . . . . . . . . . . . 16,33 SONANGOL P&P . . . . . . . . . . . . 51,00 TOTAL (OP) . . . . . . . . . . . . . . . . 49,00

ACTIVIDADE EXPLORAÇÃO ONDE OFFSHORE (ÁGUAS ULTRAPROFUNDAS DO CONGO) BLOCO 31 BP (OP) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26,67 ESSO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25,00 SONANGOL . . . . . . . . . . . . . . . 20,00 STATOIL. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13,33 MARATHON. . . . . . . . . . . . . . . . 10,00 TOTAL . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5,00 BLOCO 32 TOTAL (OP) . . . . . . . . . . . . . . . . 30,00 MARATHON. . . . . . . . . . . . . . . . 30,00 SONANGOL . . . . . . . . . . . . . . 20,00 ESSO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15,00 PETROGAL . . . . . . . . . . . . . . . . 5,00 BLOCO 33 TOTAL (OP) . . . . . . . . . . . . . . . . 55,00 SONANGOL . . . . . . . . . . . . . . 20,00 FALCON OIL. . . . . . . . . . . . . . . . 15,00 NIR. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5,00 GALP S.A . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5,00 BLOCO 34 NORSK HYDRO . . . . . . . . . . . . . 30,00 SONANGOL P&P (OP) . . . . . . . . 20,00 PHILLIPS . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20,00 BRASPETRO . . . . . . . . . . . . . . . 15,00 SHELL . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15,00

* Com Herculano Coroado. (1) Rock Oil foi substituída pela argentina Pluspetrol.

44 | www.exameangola.com


INFOGRAFIA/JORGE RIBEIRO SOBRE INFOGRAFIA /SONANGOL

ACTIVIDADE PRODUÇÃO ONDE ONSHORE E OFFSHORE BLOCO 0 — ÁREA (A,B) SONANGOL P&P . . . . . . . . . . . . 41,00 CHEVRON (0P) . . . . . . . . . . . . . 39,20 TOTAL . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10,00 ENI ANGOLA S.P.A. . . . . . . . . . . 9,80 BLOCO 2 /85 BRASPETRO B.V . . . . . . . . . . . . 27,50 SONANGOL P&P(0P). . . . . . . . . 25,00 CHEVRON . . . . . . . . . . . . . . . . . 20,00 SOMOIL . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9,30 POLIEDRO OIL,CO.. . . . . . . . . . . 9,10 KOTOIL, S.A . . . . . . . . . . . . . . . . 9,10 BLOCO 3 CANUJU SONANGOL P&P(OP) . . . . . . . 100,00 BLOCO 3/05 SONANGOL P&P(0P). . . . . . . . . 25,00 CHINA SONANGOL . . . . . . . . . . 25,00 AJOCO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20,00 ENI ANGOLA S.P.A . . . . . . . . . . . 12,00 SOMOIL . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10,00 NAFTGAS . . . . . . . . . . . . . . . . . 4,00 INA-NAFTE . . . . . . . . . . . . . . . . 4,00 BLOCO 3/85 -91 TOTAL (OP) . . . . . . . . . . . . . . . . 50,00 ENI ANGOLA S.P.A . . . . . . . . . . . 15,00 AJOCO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12,50 SONANGOL . . . . . . . . . . . . . . . 6,25 SVENSKA . . . . . . . . . . . . . . . . . 6,25 INANAFTAPLIN . . . . . . . . . . . . . 5,00 NAFTAGAS . . . . . . . . . . . . . . . . 5,00

Cabinda

CN

air

ACTIVIDADE EXPLORAÇÃO ONDE ONSHORE E ÁGUAS RASAS BLOCO 0 — ÁREA (A,B) SONANGOL P&P . . . . . . . . . . . . 41,00 CHEVRON(0P). . . . . . . . . . . . . . 39,20 TOTAL . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10,00 ENI ANGOLA S.P.A . . . . . . . . . . . 9,80 BLOCO 1/06 TULLOW(OP). . . . . . . . . . . . . . . 50,00 SONANGOL P&P . . . . . . . . . . . . 20,00 PRODOIL S.A . . . . . . . . . . . . . . . 20,00 FORCE PETROLEUM . . . . . . . . . 10,00 BLOCO 2/05 SONANGOL P&P(OP) . . . . . . . 70,00 SOMOIL . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30,00 BLOCO 3/05A SONANGOL P&P (OP) . . . . . . . . 25,00 CHINA SONANGOL . . . . . . . . . . 25,00 AJOCO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20,00 ENI ANGOLA S.P.A . . . . . . . . . . . 12,00 SOMOIL . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10,00 NAFTGAS . . . . . . . . . . . . . . . . . 4,00 INA-NAFTE . . . . . . . . . . . . . . . . 4,00 BLOCO 4/05 SONANGOL P&P(OP) . . . . . . . . 50,00 NORSK HYDRO . . . . . . . . . . . . . 20,00 SOMOIL . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15,00 ACR . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15,00 BLOCO 5/6 VAALCO (KWANZA) (OP). . . . . . 40,00 INTER OIL . . . . . . . . . . . . . . . . . 40,00 SONANGOL P&P . . . . . . . . . . . . 20,00 BLOCO 6/06 PETROBRÁS (OP) . . . . . . . . . . . 40,00 SONANGOL P&P . . . . . . . . . . . . 20,00 INTER OIL . . . . . . . . . . . . . . . . . 20,00 FALCON OIL. . . . . . . . . . . . . . . . 10,00 INTAIL OIL . . . . . . . . . . . . . . . . . 10,00 BLOCO 8 MAERSK OIL & GAS (OP) . . . . . . 50,00 OXI. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30,00 SONANGOL P&P . . . . . . . . . . . . 20,00 BLOCO 10 SONANGOL P&P . . . . . . . . . . . . 40,00 OCEAN ANGOLA “DEVON” (OP) . . . . . . . . . . . . . . 35,00 ANADARKO . . . . . . . . . . . . . . . . 25,00

e

Congo

CC

Rio Z

R. D. Congo

0 CS 14 31

46

1/06

Soyo

Bacia do Baixo Congo

15/06

47 16 48

3/05A 2/05 4

32

Nzeto

17/06

ACTIVIDADE EXPLORAÇÃO ONDE OFFSHORE (ÁGUAS ULTRAPROFUNDAS DO CONGO) BLOCO 15/06 ENI ANGOLA S.P.A (OP)SSI . . . . 20,00 SONANGOL P&P . . . . . . . . . . . . 15,00 TOTAL . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15,00 FALCON OIL. . . . . . . . . . . . . . . . 5,00 STATOIL. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5,00 PETROBRAS . . . . . . . . . . . . . . . 5,00 BLOCO 17 MAERSK OIL & GAS (OP) . . . . . . 50,00 SONANGOL . . . . . . . . . . . . . . . 20,00 ODBRECHT . . . . . . . . . . . . . . . . 15,00 OCEAN ANGOLA “DEVON” . . . . 15,00 BLOCO 17/06 SSI . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27,50 TOTAL (OP) . . . . . . . . . . . . . . . . 26,10 SONANGOL P&P . . . . . . . . . . . . 23,90 SOMOIL . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10,00 FALCON OIL. . . . . . . . . . . . . . . . 5,00 ACR . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5,00 PARTEX OIL & GAS . . . . . . . . . . 2,50 BLOCO 18/06 SSI . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40,00 PETROBRAS (OP) . . . . . . . . . . . 30,00 SONANGOL P&P . . . . . . . . . . . . 20,00 FACON OIL. . . . . . . . . . . . . . . . . 5,00 GRUPO GEMAS . . . . . . . . . . . . . 5,00 BLOCO 23 MAERSK OIL & GAS (OP) . . . . . . 50,00 OXI. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30,00 SONANGOL P&P . . . . . . . . . . . . 20,00 BLOCO 24 OCEAN ANGOLA “DEVON” . . . . 65,00 SONANGOL P&P . . . . . . . . . . . . 20,00 PETRONAS . . . . . . . . . . . . . . . . 15,00 BLOCO 26 PETROBRAS (OP) . . . . . . . . . . . 80,00 SONANGOL P&P . . . . . . . . . . . . 20,00 ACTIVIDADE PRODUÇÃO ONDE OFFSHORE (ÁGUAS PROFUNDAS) BLOCO 14 CHEVRON (OP) . . . . . . . . . . . . . 31,00 SONANGOL P&P . . . . . . . . . . . . 20,00 ENI ANGOLA S.P.A . . . . . . . . . . . 20,00 TOTAL . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20,00 PETROGAL . . . . . . . . . . . . . . . . 9,00 BLOCO 15 ESSO (OP) . . . . . . . . . . . . . . . . . 40,00 BP . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26,67 ENI ANGOLA S.P.A . . . . . . . . . . . 20,00 STATOIL. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13,33 BLOCO 17 TOTAL (OP) . . . . . . . . . . . . . . . . 40,00 ESSO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20,00 BP . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16,67 STATOIL. . . . . . . . . . . . . . . . . . . .13,33 NORSK HYDRO . . . . . . . . . . . . . .10,00 BLOCO 18 BP (OP) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50,00 SSI . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50,00

49 33 18/6 50

Ambriz

5

34

19

KON1

6

Luanda

35

Zona Noroeste de Águas Ultra Profundas

36

20 7

37

KON2

KON3

KON4 KON5

KON6

KON7

KON8

KON9

KON10

KON11

KON12 KON13 KON14

R i o K w a nz a

KON15 KON16 KON17 KON18

21 8

38

Bacia do Kwanza

KON19 KON20 KON21 KON22

22

ANGOLA

KON23

9 23 39

Sumbe

OCEANO ATLÂNTICO

24

40

41

10

Lobito

25

Bacia de Benguela

Benguela 26 42 27

11 43

28

44

29

Bacia do Namibe 12

Namibe

Legenda Área em exploração Área em produção

Tombwa

Área em exploração e em produção Actividade de exploração em águas profundas

30 45

Actividade de produção em águas profundas

13

R io C

e un

ne

Áreas livres

Namíbia

Valores em percentagem. Fonte: Sonangol.

dezembro 2009 | 45


ESPECIAL PETRóLEO ANGOLA

A AVENTURA DO PRÉ-SAL

O mundo ficou abismado com as gigantescas descobertas na camada pré-sal na costa brasileira. Ao que tudo indica, a costa angolana tem igual potencial. A confirmar-se, o nosso país será um dos líderes mundiais do sector. Daqui a 18 meses vamos ficar a saber Herculano Coroado e Jaime Fidalgo (com Sérgio Teixeira Jr. e Malu Gaspar)

N

a conquista das águas ultraprofundas as atenções dos homens de negócios do petróleo descem agora mais fundo. Rumo a um tesouro depositado nos abismos do Atlântico — entre a África e a América do Sul — que os especialistas apelidam de “pré-sal”. Esta camada é a mais profunda do subsolo, formada por um conjunto de rochas sedimentares que repousa nas bacias, abaixo das espessas e contínuas rochas de sal. As rochas foram criadas a partir de

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elementos sedimentares desde o início da formação do oceano Atlântico. Segundo os paleogeógrafos, o processo terá ocorrido há cerca de 180 milhões de anos. Nunca se falou tanto de pré-sal como nos ultimos meses. A imprensa mundial está encantada com as gigantescas e numerosas descobertas petrolíferas na camada pré-sal do sudeste brasileiro, nas bacias de Santos, Campos e Espírito Santo. Tais reservas conservam cerca de 2 mil milhões a 8 mil milhões de barris de crude e são inteiramente recuperáveis. Só para se ter uma ideia da grandiosidade dos números a Exame/Brasil, a nossa “irmã mais


SOnAnGOl

velha”, avança que a Petrobras, líder mundial em águas profundas e um dos principais motores da economia brasileira, pode vir a tornar-se a maior petrolífera do mundo. Até 2012 tenciona investir 12 mil milhões de dólares em 42 navios, 146 barcos de apoio, 40 sondas, 4 refinarias e 14 mil novos funcionários. A Petrobras já arrematou 11 blocos de pré-sal que lhe permitirão duplicar a produção de 1,9 milhões de barris diários para 4,1 milhões. Duplicará igualmente as reservas, hoje estimadas em 14 mil milhões de barris — critério onde é a quarta maior empresa do mundo. O que está em jogo é de tal forma elevado que o Presidente brasileiro Lula da Silva teme que a Petrobras se torne “poderosa de mais”. Recorde-se que a Petrobas ja não é monopolista desde 1997 e que 68% do seu capital está em mãos de estrangeiros.

Com as descobertas do pré-sal no Sudeste brasileiro a Petrobras pode tornar-se a maior petrolífera do mundo

Uma operação comparável à exploração do espaço O dinheiro é a menor das dificuldades para quem pretende investir no pré-sal. A complexidade da operação para encontrar e extrair a enorme riqueza que está na profundidade dos oceanos é comparável, segundo dizem os peritos, à exploração do espaço. “Com

cerca de 500 mil dólares. Seguidamente, é necessário perceber a composição geológica dos terrenos a perfurar. Além de vencer a camada de água de 2 mil metros de profundidade, é preciso ultrapassar 2 quilómetros de rochas e terra e mais 2 de sal. Todo este processo é rodeado de enorme minúcia. “Um poço de petróleo no fundo do mar não é um buraco vertical. É um caminho milimetricamente desenhado”, diz José Formigli, responsável da Petrobras para a área do pré-sal. É que o ponto mais profundo da perfuração — por onde o petróleo vai começar a sua viagem de

a diferença de que para chegar à Lua o homem precisou de vencer apenas uma atmosfera. Para vencer o pré-sal será necessário conquistar mais de cem”, afirma o professor brasileiro Celso Morooka. A operação (veja infografia) começa com a recolha de informações geológicas através do “scaneamento” do fundo do mar. Esse levantamento sísmico dá origem a centenas de gigabytes de informação bruta. Os computadores tratam esses dados e geram imagens tridimensionais do fundo do mar para se decidir, com a maior precisão possível, qual é o ponto ideal para as primeiras perfurações. O aluguer diário do equipamento custa

6 quilómetros até a superfície do oceano — tem apenas dez centímetros de diâmetro. Uma das maiores preocupações dos engenheiros é eliminar os riscos de desmoronamento. As plataformas são gigantescas — podem pesar 63 mil toneladas e custam mais de 400 milhões de dólares. Os estaleiros sul-coreanos da Samsung, Daewoo e Hyundai, três dos maiores produtores mundiais desse tipo de equipamento, não têm tido mãos a medir. Os preços de aluguer também quadruplicaram nos últimos anos. A possibilidade de exploração de petróleo nas águas geladas do Árctico, tem feito aumentar a temperatura do mercado. dezembro 2009 | 47


ESPECIAL PETRóLEO ANGOLA Mas o que é que isto tudo tem que ver com Angola? “Se partirmos do facto de que a costa oeste africana é a contraparte do Leste brasileiro e que elas se justapõem, então podemos imaginar que o poderoso sistema que gerou as grandes reservas do pré-sal brasileiro pode igualmente ocorrer em território angolano. Esta é uma suspeita que merece ser investigada”, escreve o geólogo Renato Azevedo, representante da Galp em Angola, na revista O Petróleo. Acrescenta que, “embora o gigantismo das novas descobertas no pré-sal brasileiro seja inédito no domínio das águas profundas, já se sabe há muito tempo, da existência de um sistema petrolífero no pacote rochoso identificado em algumas bacias sedimentares brasileiras e angolanas. Os reservatórios do pré-sal produzem petróleo nas bacias costeiras de Sergipe-Alagoas e Espírito Santo, no Brasil, e nos Blocos zero, dois e três da Bacia do Baixo Rio Congo, e na porção emersa da Bacia do Rio Kwanza, em Angola”.

A RIQUEZA ESTÁ NO FUNDO DO MAR Encontrar jazidas de petróleo no fundo do oceano é apenas uma parte do trabalho. Veja como funciona o processo de descoberta e exploração na camada do pré-sal

Um fillão por descobrir em águas ultra-profundas Porque é que esse potencial ainda não foi divulgado é a interrogação que se impõe. Para Renato Azevedo a resposta é simples: “Porque as sondagens ainda não foram feitas. O pré-sal angolano e do oeste de África ainda está por explorar.” É fácil de se perceber porquê. “O sucesso das reservas encontradas no pós-sal em Angola, desviaram a atenção das outras áreas promissoras na camada présal, localizadas a maiores profundidades.” Dito por outras palavras, o sucesso no pós-sal parece ter desincentivado o “mergulho” em águas mais profundas. Se o ouro negro está disponível mais acima para quê escavar mais fundo? É que os investimentos no pré-sal exigem mais capital, tecnologia de ponta e maior risco. Só que o potencial de retorno é também muito superior.

É bem possível que existam reservas de pré-sal na costa angola que é a contraparte da costa leste brasileira A situação, no entanto, pode vir a alterar-se rapidamente. “Com o conhecimento geológico acumulado e as melhorias nos métodos de prospecção, passa a fazer sentido económico aceitar maiores riscos para a descoberta de maiores prémios no pré-sal”, diz Renato Azevedo. O Governo está atento à possibilidade de Angola, país abençoado pela posse de recursos naturais, poder estar sentado sobre um novo filão. Botelho de Vasconcelos avança nesta edição (veja entrevista) que os primeiros estudos sobre o pré-sal já estão em curso e os resultados vão ser revelados daqui a 18 meses. Se se confirmar esse potencial será mais um capítulo importante na aventura da exploração do petróleo em Angola que terá começado em 1910 no offshore da bacia do Congo e na bacia do Kwanza. b 48 | www.exameangola.com

1 A pesquisa sísmica

Navios especializados lançam jactos de ar comprimido em direcção ao fundo do mar. A ressonância das ondas de som é captada na superfície e esses dados são usados para criar uma imagem sísmica do terreno.


3

Os navios de produção (FPSO)

Em profundidades extremas, em vez da tradicionais plataformas podem ser usados navios de grande porte. São os chamados FPSO (floating, production, storage e offloading), capazes de extrair e armazenar o petróleo que vem do fundo do mar. Navios “aliviadores” (petroleiros) escoam a produção até à costa. Os FPSO não ficam ancorados. Mantêm-se no ponto correcto graças a vários motores que ajustam a sua localização continuamente, de acordo com os satélites e com os sinalizadores acústicos que estão no fundo do oceano.

4

2

Tubagens de produção

As sondas

Com as imagens sísmicas, escolhem-se os pontos onde as sondas fazem as perfurações iniciais que visam confirmar se as simulações de computador estavam, ou não, correctas.

5

InFOGRÁFICO: TATO ARAÚJO

Colunas de tubos submarinos transportam o petróleo e o gás natural. Têm 3 quilómetros de extensão e são peças de engenharia sofisticadas. Resistem às pressões e às temperaturas extremas.

Os poços

Para optimizar a tarefa da extracção são feitos vários poços na área escolhida. Tais poços podem comunicar directamente com o navio de produção (veja passo 3) ou funcionar interligados por um equipamento conhecido por “manifold”, uma espécie de válvula central que controla o escoamento de cada um dos poços adjacentes.

6

O pré-sal

O petróleo encontra-se em profundidades superiores a 6 mil metros. Para o extrair, além de vencer 2 mil metros de água, é preciso perfurar a camada sedimentar e depois a camada de sal. Estas operações são especialmente complicadas devido às características geológicas desse terreno assim como às condições extremas de pressão e de temperatura.

dezembro 2009 | 49


AngolA orçamento 2010

Travão a fundo nos gastos

No próximo ano, a despesa pública deverá sofrer um corte nominal de 6,4% face a 2009, uma tesourada de 170 mil milhões de kwanzas ou 2 mil milhões de dólares, o que vai reduzir a margem para esbanjamento do dinheiro dos contibuintes Carlos Rosado de Carvalho

o

Em termos reais, isto é, descontada a inflação prevista de 13%, o aperto é de 17,2%

aviso de já havia sido lançado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), em 30 de Setembro, no final da visita a Angola da missão da organização que negociou o programa económico que serviria de base ao acordo de ajuda à balança de pagamentos angolana, acordo de stand by, assinado a 23 de Novembro último. “O programa económico está centrado no objectivo das autoridades angolanas de fortalecer as finanças públicas através de um orçamento apertado em 2010, apoiado por uma política monetária firme”, lê-se no comunicado de imprensa

colocado no site do FMI no último dia de Setembro. O tamanho do aperto chegou com a proposta de Orçamento Geral do Estado (OGE), actualmente em discussão na Assembleia Nacional, que prevê um corte

nominal de 6,42% nas despesas totais do Estado angolano em 2010 face a 2009. Em dinheiro, a tesourada nos gastos públicos ascende a 170 mil milhões de kwanzas, cerca de 2 mil milhões de dólares ao câmbio oficial actual, com os gastos totais a baixarem dos 2,65 biliões de kwanzas previstos para este ano para 2,48 biliões no próximo. Em termos reais, isto é, descontada a inflação prevista para o próximo ano, que é de 13%, o corte nos gastos ainda é mais draconiano: a preços constantes de 2009, a despesa total prevista no OGE 2010 cai 17,2% face ao ano passado. A receita faz o caminho inverso. A preços correntes, em 2010 vão entrar nos

Descida do preço do petróleo…

… agravada pelos cortes na produção…

… penalizou receitas do Estado… 50

700

100 Preço Médio Brent Preço Médio Fiscal Angola

90

45 675

40

80

35

650 70

50

2007

2008

2009

2010

Valores em dólares. Fonte: OGE 2010.

50 | www.exameangola.com

600

30

Produção de petróleo em Angola

625

60

Receitas Petrolíferas Receitas Totais

25 2007

2008

2009

2010

Valores em milhões de barris. Fonte: OGE 2010.

20

2007

2008

2009

2010

Valores em percentagem do PIB. Fonte: OGE 2010.


RECEITAS TOTAIS

SALDO

2286,17

-193,29

Receitas correntes

2 286,17

100,0

33,9

Receita tributária

1 292,22

56,5

19,2

1 163,42

50,9

17,3

47,92

2,1

0,7

Impostos Taxas

2479,46

Percentagem Percentagem da despesa do PIB total

Mil milhões de kwanzas

Receitas

DESPESAS TOTAIS Percentagem Percentagem da despesa do PIB total

Mil milhões de Kwanzas

Despesas

Despesas Correntes

1 706,82

68,8

25,3

816,15

32,9

12,1

Pessoal civil

347,72

14,0

5,2

Pessoal militar

266,91

10,8

4,0

Pessoal paramilitar

Pessoal

Contribuições

80,89

3,5

1,2

201,52

8,1

3,0

Receita patrimonial

970,18

42,4

14,4

Contribuições

40,75

1,6

0,6

Das quais rendimentosimobiliários

0,25

0,0

0,0

Bens e serviços

471,47

19,0

7,0

Rendimentos de participações

0,00

0,0

0,0

Juros

75,35

3,0

1,1

969,92

42,4

14,4

Subsídios

186,68

7,5

2,8

Receitas de serviços

5,18

0,2

0,1

Preços

156,29

6,3

2,3

Receita de transferências correntes

0,41

0,0

0,0

Custos

30,39

1,2

0,5

116,42

4,7

1,7

1,42

0,1

0,0 0,1

Rendimentos de recursos naturais

Receitas correntes tiversas

18,18

0,8

0,3

Transferências correntes

11,24

0,5

0,2

serviços autónomos

2 286,17

100,0

33,9

Das quais multas e outras penalidades

Instituições sem fins lucrativos RECEITAS TOTAIS

8,64

0,3

Famílias

95,54

3,9

1,4

Exterior

1,24

0,1

0,0

0,00

0,0

0,0

Despesas de capital

Restituições

772,65

31,2

11,5

Investimentos

746,25

30,1

11,1

Reserva orçamental

26,40

1,1

0,4 0,0

DESPESAS TOTAIS

De onde vem o dinheiro...

100,0

36,8

... E para onde vai

Entra nos cofres do Estado, o equivalente a 33,9% do PIB

INFOGRAFIAs/JORGE RIBEIRO COM IMAGEM DE IsTOCKPHOTO

2 479,46

A maior fatia dos gastos, 12,1 % do PIB, vai para pagar o pessoal Valores em mil milhões de kwanzas. Fonte: OGE 2010.

As apostas do Governo para 2010

Produção petrolífera anual, em milhões de barris

Pressupostos para a elaboração da proposta de OGE 2010

PIB mil milhões de Kwanzas

694

Preço médio fiscal do barril de petróleo, em dólares

58

Preço do barril de petróleo Brent, em dólares

58,93*

Taxa de crescimento real, em percentagem

8,6

Sector petrolífero

3,4

Sector não petrolífero

10,5

6 741

Taxa de inflação, em percentagem

13

PIB Não Petrolífero

4 122

Taxa câmbio média kwanzas por dólar

88

PIB Petrolífero

2 619

* Cotação média Janeiro-Outubro 2009. Fonte: Proposta de OGE 2010, excepto preço petróleo Brent em 2010 que é da OPEP.

… e obrigou a cortes nas despesas

Contas públicas entraram no vermelho… 23

12

50

21

4

20

0

30

2007

2008

2009

19

-4

Despesas de capital Despesas Correntes Despesa Total

20

10

22

Saldo Global

8 40

18

-8

2010

-16

Dívida Externa

17

-12

Valores em percentagem do PIB. Fonte: OGE 2010.

… e dívida externa aumentou

16 2007

2008

2009

2010

Valores em percentagem do PIB. Fonte: OGE 2010.

15

2007

2008

2009

2010

Valores em percentagem do PIB. Fonte: OGE 2010.

dezembro 2009 | 51


Con AngolA orçamento 2010

O que alimenta a máquina do Estado

Impostos sobre rendimentos da indústria petrolífera

Receitas orçamentais por sector e por imposto

Impostos sobre rendimentos da indústria petrolífera

Petrodependência

O sector petrolífero contribui com 63,9% das receitas totais. Rendimentos das concessões de petróleo

Outros

Outros

380,59

79,41

Receitas não petrolíferas 506,82

Lucros indústria petrolífera 380,59

2286,17

Consumo derivados do petróleo

Rendimentos do trabalho

Receitas81,22 Não Petrolíferas Consumo cerveja Selo 92,04

Valores em mil milhões de kwanzas Fonte: OGE 2010

Consumo Produtos Diversos 152,67

17,96

Rendimentos d 12,76

Consumo serviços Telecomunicações

10,23 Rendimentos das Concessões de Petróleo Selo Consumo bebidas alcoólicas 7,84 Impostos Produção indústria Consumo hotéis 1163,42 petrolífera Produção indús 5,23 Rendimentos sobre ae similares Produção indústria 109,35

969,698

nacional

Outros

Lucros diamantes Consumo cerveja importada

5,16

Lucros das emp 5,02 INFOGRAFIAs/JORGE RIBEIRO.

109,35

Ren

das ImpostosLucros sobre Rendimentos da Indústria empresas Produção de diamantes 3,21 116,53

Importação 151,62

Sisa Predial urbano Outros impostos

2,99

Importação 1,68 7,33

Consumo Prod cofres dos Estado 2,29 biliões de kwanzas, contra 1,9 biliões em 2009, um pulo de 20,3% ou 385,9 mil milhões de kwanzas. Em termos reais a subida é mais modesta, de apenas 4,4%. Ou seja, para o FMI a tradição ainda é o que era. Um bom programa económico assenta na redução dos gastos públicos e no aumento das receitas fiscais, com a consequente melhoria do saldo das contas públicas, diferença entre as receitas e as despesas. No caso de Angola, se tudo correr como previsto, a melhoria do saldo orçamental deverá traduzir-se numa redução do défice público, já que apesar do aperto a que serão sujeitos, os gastos continuarão a ser maiores do que as receitas. O argumento é mais uma vez a estabilidade macroeconómica, com as finanças públicas à cabeça.

regista as despesas quando elas são autorizadas, por oposição à óptica de caixa que regista as despesas apenas quando elas são pagas. Para o próximo ano, o défice público na óptica do compromisso deverá dar um trambolhão de 556 mil milhões de dólares, diferença entre 2,48 biliões de kwanzas que o Estado vai gastar e 2,29

a apresentarem um défice inferior aLucros 3% Indústria do PIB. Contudo, uma análise mais fina das contas do Estado angolano, revela que isso se deve única e exclusivamente ao petróleo. Com efeito, apesar de ter melhorado nos últimos três, o saldo global não petrolífero, isto é o saldo sem considerar as receitas do petróleo, ainda anda perto dos 40% do PIB não petrolífero.

Apesar do aperto a que serão sujeitos, os gastos continuarão a ser maiores do que as receitas

Buraco orçamental Em 2009 deverão entrar nos cofres do Estado angolano 1,9 biliões de kwanzas, contra saídas de 2,65 biliões, o que provocará um buraco orçamental de 749,1 mil milhões, o equivalente a 14,3% do produto interno bruto (PIB) na óptica da contabilidade nacional ou do compromisso, que

biliões que vai receber. Em percentagem da produção nacional de bens e serviços finais, a queda é de 11,4 pontos percentuais, para 2,9%. Com este saldo orçamental, Angola cumpriria os exigentes critérios da União Europeia em geral e da zona euro em particular que obrigam os Estados-membros

Consolidação É um exercício virtual, mas que confirma a petrodependência de Angola. No próximo ano, as receitas provenientes do petróleo, entre impostos sobre os lucros e a produção do sector e os rendimentos das concessões, deverão somar 1,46 biliões de kwanzas, o que corresponde a 63,8% do total, praticamente o mesmo valor previsto para este ano (63,7%). Apesar de permanecer em patamares elevados, a petrodependência reduziu-se face aos anos anteriores em que as receitas petrolíferas representavam cerca de 80% do total. Outro ângulo possível de análise das finanças públicas angolanas é o do saldo corrente primário, isto é, sem juros, que muitos analistas consideram ser o princi-

52 | www.exameangola.com


S

O rtu so eS ivr oç Hs so eD tip es vn ala vlo ser G mi tse tne oã Ho M ba nu Á ati ici ug oic lap ea S lan na leT ae ce em mo otn inu nI ac arf õç se tse tur V aru sai d As Ce md A mo itc div da se reP

A roda dos gastos

ini rts ita sav

Infra-estruturas administrativas 75,58

o od áiv air

social domina despesa funcional e as vias de comunicação rodoviária as despesas por programa m na ne set

inu ac ãç Ro

Vias de comunicação rodoviária

Social Educação

263,50

saúde

155,27

Protecção social

301,01

Recreação, cultura e religião

48,66

Habitação e serviços comunitários 153,37 Protecção ambiental 20,84

174,92

Social

47,43

Água e saneamento

Gestão municipal

Desenvolvimento habitacional

41,67

40,88

40,72

579,11

Despesas por função…

Administração 447,22

342,75

Segurança e ordem pública 263,18

pal indicador da consolidação orçamental. E a verdade é que em Angola essa variável deverá melhorar, com ou sem petróleo, caso se confirmem as previsões do Governo. O saldo corrente primário passa de um défice de 3,7% do PIB, em 2009, para um excedente de 7,9%. Quanto ao saldo corrente primário não petrolífero melhora cerca de 20 pontos percentuais do PIB, com o défice a baixar de 43,8% da riqueza deste ano para “apenas” 23,8% no próximo. Os progressos ao nível da consolidação orçamental em Angola devem-se ao facto de o programa negociado com o FMI assentar em cortes na despesa corrente, com excepção dos gastos de natureza social, e não no investimento público que até aumenta em 2010 face a 2009. “A preservação de um nível apropriado de gastos sociais e investimentos em infra-estruturas foi um dos principais factores tidos em conta pelas autoridades ao definir os objectivos do programa”, explica o FMI no comunicado em que dá conta da aprovação da ajuda à economia angolana. “O acordo de stand by dá margem para que um mínimo de 30% dos gastos do Estado sejam aplicados em questões

Assuntos económicos 517,38

Valores em mil milhões de kwanzas Fonte: OGE 2010.

serviços hospitalares 40,08

Financeiras Administração Outros 276,11

Financeira

942,65

Defesa

Telecomunicações

Outros Redes distribuição energia eléctrica

39,02

Ensinos primário e secundário

35,14

Desenvolvimento da actividade económica 32,99

Assuntos EconómicosInfra-estruturas

económicas básicas

28,99

e segurança

23,40

... E por Reserva orçamental 26,40 principais Segurança e Ordem Pública Organização do Estado 26,12 Forças Armadas programas Defesa Actividades Social permanentes 2087,59

Oferta transporte rodoviário

21,91

Transporte de energia eléctrica

21,36

Infra-estruturas comerciais

20,78

sociais durante a vigência do programa”, para a qual se antecipa um trambolhão de precisa a organização, que acrescenta que 34,5% em 2010, para 499,2 mil milhões “no que respeita às despesas de investide kwanzas – uma má notícia para os mento, a proposta do OGE para 2010 busca fornecedores do Estado Angolano – manter recursos adequados para projece as transferências correntes, menos 12,6% tos vitais de infra-estruturas”. Outros para 292,2 mil milhões de kwanzas. Nesta As considerações do FMI são confirrubrica, escapam à tesoura as prestações madas pela proposta de OGE 2010 do Hospitalares sociais que aumentam 6,8% para 86,1 mil Serviços milhões de kwanzas. Os funcionários públicos, cuja folha salarial, vencimenDesenvolvimento Habitacional tos mais contribuições para a segurança social, cresce 9,6% para 866,6 mil milhões Gestão Municipal de kwanzas, também ficam de fora dos cortes a preços correntes.

Os funcionários públicos arriscam Água e Saneamento perder poder Inflação come salários Se em termos nominais há algumas rude compra duranteTelecomunicações bricas onde a tesoura não chegou, em tero próximo ano Infra-estruturas mosAdministrativas reais o panorama muda completa-

mente de figura. De facto, os acréscimos referidos anteriormente, com excepção Vias de Comunicação Rodoviária do investimento público, não chegam Governo. O corte nominal de 6,4% na sequer para cobrir a inflação de 13% predespesa total prevista para o próximo Actividades vista Permanentes para o próximo ano. É o caso, por ano face a 2009 resulta de um acréscimo exemplo, dos funcionários públicos, que de 13,5% no investimento, para 756,4 mil até poderão vir a perder poder de commilhões de kwanzas, e de uma queda de pra, já que o acréscimo previsto para os 13% nos gastos correntes, para 1,7 bilivencimentos, 8,5%, fica 4,5 pontos perões. Para esta quebra, o maior contricentuais abaixo do aumento esperado buto vem da aquisição de bens e serviços dezembro 2009 | 53


AngolA orçamento 2010 térios. De facto, a Defesa, com gastos de 307,4 mil milhões de kwanzas, e o Interior (191,3 mil milhões) são, respectivamente, primeiro e terceiro no ranking das despesas por ministério. O único ministério capaz de lhes fazer frente é o das Obras Públicas, com gastos totais de 291,1 mil milhões de kwanzas. O minis-

do custo de vida. Com a informação disponível na proposta de OGE para 2010, os funcionários públicos só conseguirão aumentos reais de salários caso haja uma forte redução dos efectivos. Quanto ao investimento público, o aumento real é marginal não chegando sequer a 0,5%. Despesa por funções Outra forma de analisar os gastos públicos é olhar para a despesa por função. Em termos de evolução anual, a informação disponibilizada com o OGE 2010 apenas permite fazer comparações sobre o peso de cada função na despesa total, sendo de destacar a quebra nas funções económicas de 2009 para 2010 (menos 7,5 pontos percentuais para 16,7% do total) nas funções sociais (menos 0,9 pontos percentuais para 30,5%) e o acréscimo na defesa e segurança (mais 4,6 pontos percentuais para 19,6%). Em termos anuais, a análise funcional da despesa revela que sete anos depois de alcançada a paz, a função de defesa e segurança ainda continua a absorver uma parte importante dos recursos do país. Em 2010, o Estado vai gastar mais com as Forças Armadas e a Polícia (os referidos 19,6% do total da despesa) do que com a educação (8,52%), a saúde (5%), a protecção social (9,7%) e a habitação (5%). O peso da Defesa e segurança faz-se igualmente notar ao nível da dos minis-

As forças armadas e a polícia gastam mais do que a educação, a saúde e a habitação juntas tério da Administração Pública, Emprego e Segurança Social, quarto em termos de despesas com 81,9 mil milhões de kwanzas, tem metade do orçamento do ministério do Interior. Além de sinais de securitário, o OGE para 2010 também apresenta sinais de centralizador. Por cada 100 kwanzas de gastos públicos, apenas 13 kwanzas são geridos pelos governos provinciais. Como seria de esperar Luanda lidera com um orçamento de 84,1 mil milhões de kwanzas, monopolizando 22% dos orçamentos

307,4 276,3

Higino Carneiro, ministro das Obras Públicas, tem 276,3 mil milhões de kwanzas para gastar em investimento no próximo ano e continuar a fazer de Angola um canteiro de obras.

81,9

78,1 81,8

8,5

Defesa Nacional

Obras Públicas

Interior

Administração Energia Pública Emprego e Segurança Social

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Emanuela Viera Lopes, ministra da Energia, é a mulher que gere o maior orçamento, no valor de 78,1 mil milhões de kwanzas, o quinto mais elevado.

59,9 44,8 44,3

2,6 Finanças

Telecomunicações e Tecnologias da Informação

Saúde

26,5

26,5 SE Águas

O Ministério da Educação, liderado por António Burity da Silva, dispõe de um orçamento igual ao do secretário de Estado do Ensino superior, Adão do Nascimento, cerca de 21 mil milhões de kwanzas.

O Ministério da Comunicação social, de Manuel Rabelais, é o 23.º no ranking dos ministérios com um orçamento de 7,4 mil milhões de kwanzas.

41,9

22,4 4,3

Despesas Totais e Programa de Investimentos Públicos por Ministério e secretarias de Estado

75,7 60,7 56,8

5,1

Os donos do dinheiro

Kundi Payama, ministro da Defesa vai gerir em 2010 o maior orçamento do Governo, 307,4 mil milhões de kwanzas, só que mais de 70% desse dinheiro é para pagar o pessoal. A mesma sina de Roberto Leal Monteiro “Ngongo”, ministro do Interior que gasta com o pessoal quase 80% do seu orçamento de 191,3 mil milhões de kwanzas, segundo mais elevado.

291,1

191,3

provinciais. A grande surpresa é o Uíje, terceiro maior orçamento provincial em 2010, com 33,2 mil milhões de kwanzas, depois de Benguela, segunda com 39,2 mil milhões. No programa de investimento público (PIP), avaliado em 771,4 mil milhões de kwanzas, o cenário não é muito diferente. Por cada 100 kwanzas de investimento, as províncias apenas gerem 14. Aqui mais uma vez a surpresa é o Uíje que apresenta o segundo PIP a nível provincial, com 10,7 mil milhões de kwanzas, atrás de Luanda, com um envelope financeiro de 34,5 mil milhões para investimento, e à frente do Kunene, com 10,3 mil milhões. A província mais a sul do país, a par do Namibe e do Kuando-Kubango, destacase num ranking elaborado pela EXAME nesta análise ao OGE 2010: o do investimento por eleitor. Nas últimas eleições, o Kunene tinha 262 321 eleitores recenseados, o que significa que o PIP da província prevê um investimento de 39 322 kwanzas por eleitor, à frente de Cabinda com 36 214 e do Kwanza Norte com 34 316 – estes números têm de ser analisados com cautela porque o investimento provincial não se esgota no respectivo PIP. Por exemplo, o PIP atribuiu ao Ministério das Obras Públicas 186 milhões de kwanzas para a construção do edifício da direcção provincial das obras públicas no Kunene. b

0,0 Economia

10,0

15,5

25,1 21,9

23,5 21,5

Assistência Agricultura Transportes Urbanismo e Reinserção e Habitação Social

22,6 0,0 Relações Exteriores

21,0

9,1

Educação

21,0

19,8 16,2 19,5 16,8 3,0 SE Ensino Planeamento Pescas Superior

17,9

3,8

Justiça

15,8

10,7 6,5 7,4 0,6 0,4 Administração Indústria Comunicação do Território Social


20,07

Uíge

23.758

Namibe

Bengo

Luanda

14.830

Malanje

14.247

Lunda-Norte

11.886

Moxico

11.006

Zaire

9.246

18,38

INFOGRAFIAs/JORGE RIBEIRO

Kwanza-sul

5.678

Huambo

5.512

Bié

3.808

Huíla

3.518

11,07

4,88

3,00

35,48

Huambo

39,23

27,68

Namibe

12,12

3,42

4,59

24,21

5.912

Lunda-Sul

Kwanza-Sul

Benguela

Benguela

4,05 Lunda-Norte

13,17

3,05

84,08

17.278

4,86

13,07

4,31

9,55

21.403

Kuando-Kubango

Malange

Kwanza-Norte

Luanda

13,65

1,45

18,68

1,79

16,11

2,54

Bié

Moxico

Despesas totais

Programa de investimentos públicos

3,00

Huíla

Valores em mil milhões de kwanzas. Fonte: OGE 2010.

Kuando-Kubango

Kunene

3,05

17,78

8,93

10,32

2,68

Valores em kwanzas. Fonte: OGE 2010.

Despesas Totais

Programa de Investimentos Públicos

Valores em mil milhões de kwanzas. Fonte: OGE 2010.

Presidência da República

Assembleia Nacional

sistema de segurança Nacional 40,92

34,68

18,31

Governos provinciais 390,60

secretariado Conselho de Ministros 8,41

O ministério da Cultura dispõe dispõe de 4,4 mil milhões de Kwanzas geridos por Rosa Cruz e Silva

Procuradoria-Geral da República

Cândida Celeste, ministra da Família e da Promoção da Mulher, gere o orçamento mais baixo do Governo, com apenas 300 milhões de kwanzas.

6,41

Gabinete de Reconstrução Nacional 5,49 Tribunais

3,29

Gabinete do Primeiro-ministro

2,82

Tribunal de Contas

1,42

Governo Central 2680,15

secretarias de Estado 71,64

Encargos centrais do Estado 1071,66

Tribunal Constitucional 1,23

5,9 3,6

SE Desenvolvimento Rural

4,4 2,7 Cultura

2,6 0,2 Juventude e Desportos

1,7 0,9 Comércio

0,9 0,6 Ambiente

0,8 0,0 Petróleos

0,8 0,3 Hotelaria e Turismo

0,7 0,1 0,5 0,2 0,5 0,0 Ciência e Antigos Geologia Tecnologia Combatentes e Minas e Voluntários de Guerra

0,3 0,0 Família e Promoção da Mulher

Tribunal supremo

0,64

Inspecção-Geral da Administração do Estado

0,50

Ministérios 1437,63

Fonte: OGE 2010. Valores em mil milhões de kwanzas.

Cabinda

25.881

33,24

Huambo

Bengo

Zaire

Uíge

Huíla

32.864

10,65

Kunene

Lunda-sul

Kwanza-Norte

34.316

9,04

Kwanza-Sul

Kwanza-Norte

36.214

Cabinda

Luanda

Cabinda

39.322

Lunda-Norte

Lunda-Sul

Malanje

Moxico

Kunene

6,20

Kuando-Kubango

Kunene Kunene Kunene Huambo Huíla Malanje Kwanza-Sul Kwanza-Norte Namibe Bié Kwanza-Norte Kwanza-Norte Kwanza-Norte Huíla Kuando-Kubango Moxico Kwanza-Sul Luanda Bengo Uíge Kwanzas por voto O mapa dos gastos Cabinda Kwanza-Sul Despesas e Programa de investimentos Públicos por Província Investimento público por eleitor Kwanza-Sul Kwanza-Sul Kuando-Kubango Kunene Namibe Luanda Bengo Lunda-Norte Bengo Bengo Benguela Zaire Huambo Luanda Luanda Luanda KuneneKwanza-Norte Uíge Lunda-Norte Benguela Lunda-Sul Benguela Benguela Bié Huíla Lunda-Norte Lunda-Norte Bengo Lunda-Norte Kwanza-Norte Kwanza-Sul Zaire Lunda-Sul BiéBié Malanje Bié Cabinda Bengo Kuando-Kubango Lunda-Sul Lunda-Sul Benguela Lunda-SulKwanza-Sul Luanda Malanje Cabinda Moxico Cabinda Cabinda Huambo Bengo Benguela Kunene Malanje Bié Malanje Malanje LuandaLunda-Norte Moxico Huambo Namibe Huambo Huambo Huíla Benguela Bié Kwanza-Norte Moxico Moxico Cabinda MoxicoLunda-Norte Lunda-Sul Namibe Huíla Uíge Huíla Kuando-Kubango Bié Huíla Cabinda Kwanza-Sul Namibe Namibe Huambo Namibe Lunda-Sul Malanje Uíge Kuando-Kubango ZaireKuando-Kubango Kuando-Kubango Kunene Cabinda Huambo Luanda Uíge Uíge Uíge Malanje Huíla Moxico Zaire Kunene Kunene Kunene Kwanza-Norte Huambo Huíla Lunda-Norte Zaire Outros Zaire Kuando-Kubango Zaire Moxico Namibe Kwanza-Norte Kwanza-Norte Kwanza-Sul Kwanza-Norte Huíla Kuando-Kubango Lunda-Sul Namibe Kunene Uíge Quanto Kwanza-Sul Kwanza-Sul gastam os Kwanza-Sul Luanda Kuando-Kubango órgãos de Kunene Malanje poder Kwanza-Norte Uíge Zaire DESPESA TOTAL Luanda 1163,42 Luanda Luanda Lunda-Norte Kunene Kwanza-Norte Moxico ZaireKwanza-Sul Lunda-Norte Lunda-Norte Lunda-Sul Lunda-Norte Kwanza-Norte Kwanza-Sul Namibe dezembro 2009 | 55 Luanda Lunda-Sul


O acordo foi assinado no dia 23 de novembro em reunião da Comissão executiva na sede do fmi

FUNDO MONETÁRIO INTERNACIONAL

ANGOLA MACRO

Acordo histórico

Angola receberá o maior financiamento jamais concedido pelo FMI a um país da África Austral. O acordo abre uma nova era nas relações bilaterais com o “banco dos ricos” mário Paiva

N

o passado dia 23 de Novembro, a reunião da Comissão Executiva do Fundo Monetário Internacional (FMI), liderada por Takatoshi Kato, oficializou os termos do acordo preliminar, assinado

Relações atribuladas Angola e FMI andaram de costas voltadas desde sempre. A tensão dissipou-se este ano. O namoro foi curto e acabou em casamento no mês passado. Será 2010 o ano da lua-de-mel?

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no dia 30 de Setembro, entre Angola e o FMI. A missão do FMI, chefiada por Lamin Leigh, chegou a acordo para a assinatura de um stand-by arrangement, que permite ao Governo sanear as feridas que decorreram da crise mundial.

1989 Angola adere ao FMI em Setembro 1991. A primeira visita dos técnicos do FMI ao nosso país só sucedeu dois anos depois.

1997 A representação do FMI em Angola foi inaugurada oito anos após a adesão. A colaboração com o Fundo visava a criação de programas de estabilização macroeconómica, o aumento da transparência nas finanças públicas e a promoção de reformas estruturais. Contudo, as relações foram marcadas pelas divergências constantes.

Nessa ocasião, tanto os representantes de Angola, Manuel Nunes Júnior, como do FMI, Lamin Leigh, realçaram o significado deste acordo estabelecido “sem pré-condições”, algo que inaugura uma nova era na relação entre as duas partes.

2003 Entre o segundo semestre de 2003 e 2004, o FMI chegou a estar mais de seis me-ses sem delegado em Luanda, não obstante os esforços diplomáticos de aguinaldo Jaime, na ocasião s u p e rministro da Economia.

2005 As relações conheceram o período mais tenso, após a divulgação do estudo do FMI sobre a corrupção em Angola, do professor norte-americano John mcmillan, da Unive r s i d a d e d e Stanford. José Pedro de Morai s considerou-o “uma irreparável agressão moral” às instituições angolanas.


Stand-by credit O acordo que coloca as finanças públicas em sentido

Números do acordo mOntante 1,4 mil milhões de dólares.

O que é? Também chamado stand-by arrangement, é um mecanismo de assistência financeira prestado pelo FMI, aos países de renda média, no qual Angola se inclui.

DuraçãO 27 meses. ObJeCtivO Equilíbrio macroeconómico e reposição das reservas internacionais. restriçãO 30% dos gastos do Estados aplicados no sector social. CenáriO 2009 PIB -0,4% (petrolífero: -5% não petrolífero 6,7%); inflação 14%. CenáriO 2010 PIB 7,1% (petrolífero: 6,1%; não petrolífero 7,7%); inflação 15%.

Leigh disse em Luanda que a missão do FMI regressará a Angola no primeiro trimestre de 2010, para analisar a execução das metas estabelecidas. O ministro da Economia, Manuel Nunes Júnior, frisou que o programa associado a este financiamento está consubstanciado no Orçamento Geral do Estado (OGE) para 2010 que dará uma atenção especial ao sector social, “para o qual a despesa do Governo nunca poderá ser inferior a 30%”. Política monetária firme Ou seja, os termos finais do acordo, anunciado a 23 de Novembro em nada diferem do entendimento preliminar. Um bom sinal, portanto. O acordo marca igualmente uma nova etapa do rela2007 Em Março, Angola cancelou as consultas com o FMI através de uma missiva enviada ao então chefe da missão do Fundo em Angola, Sangeev Gupta, por José Pedro de morais, ministro das Finanças. No documento o Governo angolano concluiu que, naquela altura, um programa com o FMI “não ajuda a preservar a estabilidade económica e social”.

Para que serve? Serve para auxiliar, no curto prazo, os países-membros com dificuldades para honrar os compromissos financeiros. O financiamento permite igualmente equilibrar a balança de pagamentos, estabilizar a moeda nacional e reforçar a credibilidade do país junto dos mercados financeiros internacionais.

cionamento de Angola com a comunidade financeira internacional, depois de o país ter experimentado dificuldades na obtenção de dinheiro fresco em 2002, após o fim da guerra civil. O que se seguiu é sobejamente conhecido: a viragem para a China, que se transformou no financiador quase absoluto da reconstrução de Angola. Depois a economia angolana, catapultada pela alta dos preços do petróleo, vivendo um clima de estabilidade política e macroeconómica, cedo começou a experimentar altas taxas de crescimento e a atrair investidores de diversas latitudes, com ofertas generosas de linhas de crédito para viabilizar as suas exportações e financiar a reabilitação de infra-estruturas.

2009 Em Julho, durante a cimeira do G8 realizada em L’Aquila, Itália, o Presidente José Eduardo dos Santos solicitou um apoio financeiro do FMI para fazer face às dificuldades da balança de pagamentos em função da crise económica e financeira, num encontro com o director executivo do FMI, Dominique strauss-Khan.

2009

COmO funCiOna? O FMI compromete-se a disponibilizar um determinado montante de fundos para um período específico. No caso de Angola o prazo definido foi de dois anos e três meses, com uma revisão trimestral. quais as Obrigações? Angola não seguirá um programa específico delineado pelo FMI. Compromete-se apenas a cumprir o programa macroeconómico definido no seu Orçamento Geral do Estado para 2010. E a respeitar a condição de que 30% dos recursos serão aplicados no sector social.

Sobreveio a crise global e, acima de tudo, a baixa dos preços do petróleo no mercado internacional, que afectaram as receitas angolanas em divisas, com o consequente desequilíbrio da balança de pagamentos, diminuição acentuada das reservas externas e colocando o kwanza sob grande pressão. Segundo o comunicado divulgado pelo FMI o acordo visa “restaurar o equilíbrio macroeconómico e repor as reservas internacionais”. Para o cumprir será necessário respeitar os compromissos assumidos no OGE para 2010 e dar seguimento a uma política monetária firme. Para que não restem dúvidas sobre tal intenção o documento inclui uma estimativa sobre a evolução dos principais indicadores macroeconómicos do Governo até 2014. b

Em Agosto, pouco antes da chegada da missão do FMI, severim de morais, ministro angolano das Finanças, confirma a chegada de uma delegação do FMI para “contactos exploratórios” admitindo que o Governo tomou nota das recomendações da instituição. Acrescentou que a maior parte das medidas propostas já foi aplicada.

2009 30 de setembro O FMI torna público o acordo preliminar estabelecido com Angola para um stand-by arrangement (veja caixa “Stand-by credit”). 23 de novembro O acordo foi ratificado na reunião da Comissão Executiva do FMI, realizada na sede, em Washington.

dezembro 2009 | 57


negócios AviAção

companhia F das arábias A Emirates Airlines já descolou. As tarifas promocionais terminaram e os preços dos bilhetes levantaram voo. Mas a qualidade do serviço, essa, continua intocável. O aumento do número de lugares e o serviço de carga estão na rota de expansão da Emirates para 2010 Faustino Diogo (com Hamilton Viage) 58 | www.exameangola.com

oi ao som do batuque angolano que a companhia aérea dos Emirados Árabes Unidos, Emirates Airline, foi recebida na pista do Aeroporto Internacional 4 de Fevereiro, em Luanda. O voo inaugural da rota Dubai-Luanda, que encurtou a distância intercontinental que separava a capital de Angola com a dos Emirados Árabes Unidos, realizou-se no dia 25 de Outubro. Desde então a Emirates está a operar a partir de Luanda com três voos semanais — às terças e quintas-feiras e aos domingos —, cada qual com a duração de oito horas. A aeronave, do tipo Airbus 330, tem capacidade para 237 passageiros — 12 lugares na primeira classe, 42 na executiva e 183 na económica. A frequência é igual à da angolana TAAG que oferece voos para o Dubai à segundas, quartas e sextas-feiras, usando o bom e velho Boeing 777.


EMirAtEs

continente africano em 1985, através da rota do Cairo. No ano passado registou cerca de 200 partidas para África por semana, nas quais transportou mais de 2,5 milhões de passageiros. Hoje, a companhia voa para 99 destinos em seis continentes, sendo Luanda o 18.º em África. “Somos responsáveis por 40% do volume de tráfego do Aeroporto Internacional do Dubai, o que equivale a 700 voos por semana”, afirmou. Para já o primeiro balanço é positivo. “A taxa actual de ocupação é de 70%, valor que satisfaz as expectativas da transportadora”, afirma Luís Berenguel, delegado da Emirates em Angola. “Acreditamos que essa taxa subirá em breve. A estratégia da companhia para Angola passa por disponibilizar produtos e serviços de primeira linha, tendo em atenção os 99 destinos que a companhia possui na sua rede mundial. Assim os passageiros poderão usar o Dubai como uma plataforma giratória para qualquer parte do mundo, beneficiando do conforto e da qualidade do serviço da Emirates”. Excesso de carga é bem-vindo O mesmo responsável adiantou que a aposta da companhia em Angola também vai passar pelo transporte de carga. Nesse sentido já foi criado um serviço específico que passa pela possibilidade de cada passageiro transportar mais de duas malas.

EMirAtEs

EMirAtEs

No voo inaugural viajaram vários convidados VIP caso de Nigel Paige, vice-presidente da Emirates para África e América; Rui Mangueira, embaixador de Angola nos Emirados Árabes Unidos; Luís Cupenala, presidente da Bongani Investments; Júlio Malato, cônsul geral de Angola no Dubai (veja foto na página seguinte, da esquerda para a direita). Durante a cerimónia de inauguração, Joaquim Cunha, director do Aeroporto 4 de Fevereiro, acrescentou “ser uma honra receber uma das mais prestigiantes companhias áreas do mundo”. No mesmo sentido, o ministro dos Transportes angolano, Augusto Tomás, declarou que a entrada da Emirates em Angola é “um factor que vai potenciar a aproximação e o desenvolvimento dos dois países”. O discurso do ministro não se limitou às palavras de circunstância. De facto, o Dubai é um dos destinos mais procurados pelos angolanos nos últimos anos. A razão tem que ver com as compras — nomeadamente as dirigidas ao sector informal — com destaque para artigos como roupas, televisores, computadores, telemóveis ou até as viaturas em segunda mão. Nigel Paige, por seu turno, recordou que a Emirates iniciou as operações no 25 de Outubro: voo inaugural do Dubai para Luanda com os batuques e as nossas cores quentes

“Permitimos aos nossos passageiros que comprem até dez malas de excesso de bagagem por apenas 18 mil kwanzas (200 dólares) cada uma. Este serviço é pago em Luanda. Logo, o passageiro ao chegar ao Dubai pode trocar o vale em dinheiro pelo excesso de bagagem”, explica Luís Berenguel. Outro serviço específico da companhia árabe posto à disposição dos passageiros que viajam a partir de Luanda, é o “Dubai Stop Over”. O programa oferece comodi-

Fly Emirates PRÓS ▲ Qualidade do serviço. ▲ Entretenimento (600 canais e internet). ▲ Excesso de bagagem (até dez malas

— cada qual ao custo de 200 dólares).

CONTRAS ▼ Frequência de voos igual ao da TAAG

(apenas três vezes por semana — ao domingo, terças e quintas-feiras). ▼ Tarifas mais elevadas do que a TAAG (Económica, 1632 dólares; executiva, 6052; e primeira classe, 6578).

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EMirAtEs

negócios AviAção

dades — como o transfer e o alojamento em hotel — aos passageiros que tiverem de esperar mais de quatro horas pelo voo de ligação. “Para os passageiros provenientes de outros pontos do mundo o Dubai Stop Over só pode ser accionado para tempos de espera superiores a seis horas”, sublinha. Porém, a grande arma de diferenciação da Emirates é a qualidade do serviço: “a começar pelos produtos a bordo, passando pela cozinha requintada em todas as classes, sem esquecer o entretenimento onde se disponibilizam cerca de 600 canais e ainda o serviço de internet e SMS”, descreve Luís Berenguel, com orgulho. A má notícia é o preço das tarifas. Nesta fase inicial a transportadora árabe apostou

O comandante Paulo Pereira é moçambicano e a hospedeira Josiane Barbosa (mais à direita) é angolana

60 | www.exameangola.com

nos bilhetes promocionais. Quem optou por viajar em classe económica pagou 1330 dólares. O bilhete em classe executiva custava 4583 dólares e o da primeira classe chegou aos 6578. A situação alterou-se a partir de 7 de Dezembro. Desde então os passageiros em económica desembolsam 1632 dólares (aumento de 23%) por uma passagem com validade máxima de um ano. A pri-

A Emirates oferece alojamento para quem tiver de esperar mais de quatro horas pelo voo de ligação

meira classe manteve-se nos 6578 dólares, enquanto a executiva passou a custar 6052 (subida de 32%). A TAAG, por seu turno, cobra apenas 1193 dólares pela económica, 1985 pela executiva e 4406 pela primeira classe. Emirates quer voar mais alto No entender do homem forte da transportadora em Angola o aumento justifica-se “uma vez que a Emirates não é uma companhia que corte tarifas. A companhia tem um produto com valor no mercado. A maior parte dos passageiros é feliz com este produto e está disposta a pagar o valor justo por ele”, justifica. Para já, segundo Luís Berenguel, não se perspectiva um acréscimo no número de ligações, mas sim, o aumento da capacidade de passageiros com a disponibilização dos serviços de um Boeing 777-300.


Luís Berenguel confessa que a ligação Luanda-Dubai tem surpreendido a companhia pela positiva. Recorde-se que a transportadora dos Emirados Árabes Unidos abriu a rota de Luanda logo após ter iniciado os voos para a cidade sul-africana de Durban. “A abertura da rota é um sinal da força económica de Angola. Sentimos que havia um mercado promissor por explorar.” Um bom exemplo foi o sucesso do pacote criado pela Emirates para os fãs de Fórmula 1 que quiseram assistir ao Grande Prémio em Abu Dhabi. Cenário idêntico adivinhase agora com o transporte de passageiros para o CAN e para o Mundial de futebol na África do Sul. “Nós somos os patrocinadores oficiais da FIFA para o Mundial, logo temos muitos clientes interessados nos pacotes da Emirates para a competição. Já recebemos também alguns pedidos para o CAN em Angola. A Costa do Marfim, por exemplo, já fez reservas”, revela Luís Berenguel. Ele é um profundo conhecedor do mercado dado que já tinha trabalhado como delegado da Air Namibia e, depois da Air Gemini em Angola. A comercialização dos voos da Emirates em Angola foi entregue à Bongani Investment & Consultants, uma empresa que está no mercado há dez anos. Com escri-

tórios abertos em Angola, Namíbia, África do Sul, a Bongani Investment & Consultants, também está envolvida na área da construção e venda de aço. A rede de vendas em Angola Após dois anos de árduas negociações, a dupla Luís Cupenala, presidente do conselho de administração, e Taddy de Almeida, director-geral, conseguiu fechar a parceria que se traduziu num investimento de 1,5 milhões de dólares em infra-estruturas, equipamentos e formação de quadros angolanos no estrangeiro. Segundo o presidente da Bongani Investment & Consultants, esta ligação aérea contribui fortemente para a melhor mobilidade de pessoas e bens. “Antes, para se viajar até ao Dubai os voos tinham de fazer escala na Etiópia e África do Sul, o que fatigava os passageiros e aumentava os riscos de extravio ou perda de bagagem. Agora, dispomos de voos directos que proporcionam maior conforto e segurança para os passageiros”, acrescenta. Para já, a rede de vendas da Emirates Airlines inclui apenas dois balcões localizados em Talatona e no próprio aeroporto. Mas Luís Cupenala assegura que, em breve, vão abrir mais agências noutros locais da cidade. b

Origens reais EMIRATES AIRLINES

É a principal transportadora aérea dos Emirados Árabes Unidos. tendo como base o Aeroporto internacional de Dubai é uma das dez principais companhias aéreas em todo o mundo, em termos de receitas e transporte de passageiros. Efectua cerca de 700 voos semanais, rumo aos seis continentes.

FROTA

A Emirates Airlines possui uma frota composta por 138 aviões. Destes, dez são A380 e é a maior operadora do Boeing 777 com 44 aeronaves.

PRESIDENTE

Luís Berenguel, delegado da Emirates em Angola. Atrás o balcão de vendas em Talatona

Ahmad bin said Al Maktouum, tem 50 anos e nasceu em Abu Dhabi. É tio do actual primeiro-ministro dos Emirados Árabes. É presidente de inúmeras instituições, inclusive de cariz filantrópico. A Emirates apoia vários eventos desportivos, é patrocinadora da FiFA e de alguns clubes, entre eles o Arsenal (cujo estádio é o Emirates Arena).

MALOCHA

KAMENE trAÇA

HISTÓRIA

A companhia aérea Emirates Airlines foi criada em 25 de Outubro de 1985 e opera para 99 destinos e 60 países do mundo. Pertence à família real e é a maior companhia aérea do Médio Oriente. O seu primeiro destino em África foi a capital do Egipto, Cairo, no ano da sua fundação. Faz parte do poderoso Emirates Group, presente em mais de 50 negócios. O grupo possui o maior terminal coberto do mundo com uma área de 45 mil metros quadrados, no Dubai. Fonte: Wikipedia.

dezembro 2009 | 61


negócios perfil

A menina do shopping

2008

2007

É modelo em part-time e empresária a tempo inteiro. Fundou a marca de lingerie Ever Rose e representa em Angola a portuguesa Peter Murray e a italiana Geox. Tem três filhos e jura ter tempo para tudo Joana Simões Piedade

J

essica Simões desfila pelos corredores do centro comercial Belas Shopping como se estivesse numa das passerelles que está acostumada a pisar. Modelo em part-time e empresária a tempo inteiro é um exemplo de mulher empreendedora. No shopping de Talatona, é proprietária de três lojas: a Geox, marca de calçado italiano; a Peter Murray, marca portuguesa de vestuário casual; e uma marca própria, a Ever Rose, de lingerie. Os negócios estão incorporados na empresa familiar JSLGrupo, criada em 2007, por Jessica Simões com o apoio do marido, António Henriques da Silva, director de uma empresa de telecomunicações. Na altura eles viram o projecto do Belas Shopping e julgaram interessante obter o trespasse de algumas lojas. O pagamento da jóia anual para a aquisição dos espaços exigiu um investimento elevado. As marcas então representadas eram outras. “Não comecei com as mesmas marcas com que estou hoje. Fui vendo o que tinha maior aceitação por parte do público e fui mudando, adaptando-me ao mercado.” Em 2008, surge a oportunidade para um passo mais ambicioso: representar a marca italiana de calçado Geox. A modelo passeava por um shopping no estrangeiro quando, 62 | www.exameangola.com

em frente a uma montra de sapatos Geox, pensou na hipótese de os mesmos serem vendidos em Angola. “Eram sapatos que eu comprava sempre para as minhas filhas, e surgiu a ideia. As crianças tinham uma paixão por aqueles sapatos de óptima qualidade. Já era um produto conhecido que dava certo nos outros países e ia também dar certo aqui”, pensou a empresária que logo decidiu contactar a marca. Italianos desconfiavam do mercado De Itália vieram algumas reticências. “De início não queriam, ficaram com algum receio pela quase inexistência de grandes marcas em Angola.” Jessica Simões e o marido conseguiram convencer a marca que o mercado angolano estava em expansão e a oportunidade podia ser vantajosa para ambas as partes. “Alguém tem de começar, não podem estar à espera uns dos outros”, disseram aos italianos. A Geox convenceu-se e aceitou ser uma das pioneiras das grandes marcas em Angola. Jessica Simões obteve a representação exclusiva da Geox para Angola, algo diferente da modalidade de franchising, onde é necessário pagar um fee. “Eu escolho a colecção. E posso vender e fornecer qualquer loja em Angola. Não existem mínimos de encomenda e em cada colecção eu posso

Um grupo familiar Jessica Simões também é modelo e mãe, o que lhe dá maior sensibilidade para a moda e para as necessidades dos pais com filhos em idade escolar. O marido também a apoia

JSLGruPo

origem: Luanda. Sector: Comércio. Fundadora: Jessica Simões. Marcas: Geox, Peter Murray e Ever Rose. Lojas: Três (todas no Belas Shopping). Lema de vida: Nunca desistir e lutar por aquilo em que se acredita.


2009

2009

KAMENE TRAçA

o grupo de Jessica Simões nasceu no Belas Shopping. Ela faz questão de visitar as lojas e ouvir a opinião dos clientes

GEoX

PETEr MurrAY

EVEr roSE

origem: Montebelluna, Itália.

origem: Braga, Portugal.

origem: Luanda.

Sector: Vestuário.

Fundadora: Jessica Simões.

Fundador: Mario Moretti Polegato. Sector: Calçado, roupa desportiva.

Fundador: Paulo Pinto.

Facturação: 1,3 mil milhões de dólares.

Facturação: 6 milhões de dólares.

Países: 68 (filiais — Estados Unidos, Japão, China, Brasil, Canadá, França, Reino Unido, Grécia, Espanha e Suécia).

Lojas: Portugal (50), Espanha (25); Grécia, Croácia, Rússia, Emiratos Árabes, Panamá, Colômbia, Angola, Moçambique e Cabo Verde.

Curiosidades: A ideia nasceu quando Mário Polegato escalava as Montanhas Rochosas no Colorado. O calor era tal que ele teve de fazer furos na sola com o canivete suíço. Assim nasceram os “sapatos que respiram”. Geox é a maior fabricants italiana de sapatos.

Curiosidades: A marca equipou a selecção de futebol do Egipto. Agora veste o Sporting de Braga, clube que está a fazer sensação na presente temporada do campeonato português.

Sector: Lingerie. Lojas: Uma (Belas Shopping). Curiosidades: O material vendido na loja é proveniente de marcas portuguesas, brasileiras e francesas. Jessica Simões não confia nos catálogos. Prefere viajar aos países de origem e escolher o que vai vender.

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escolher os produtos mais adequados. As exigências são diferentes do franchising”, explica. A Geox está em Angola desde Junho de 2008, “a aceitação está a ser muito boa, especialmente entre aquele público que viaja e conhece bem a marca”.

Em 2010 Jessica vai fornecer Geox a outras lojas e lançar o cartão cliente nas escolas de Luanda

Cartão cliente-estudante em 2010 Terminado o bem-sucedido primeiro ano de vigência da marca em Angola, Jessica Simões prevê aumentar o número de encomendas de modo a poder fornecer outras lojas e sapatarias multimarcas. “Expandir a marca Geox em Angola é o meu maior objectivo.” Para já, diz que apesar de o investimento realizado ainda não estar pago na totalidade, a marca gera resultados positivos mensalmente. A empresária também conta lançar, em 2010, o Cartão Cliente-estudante nas escolas de Luanda. Todos os estudantes podem ter um preço especial na compra dos Geox. Jessica Simões é uma mulher atenta às tendências e como mãe de três crianças tem sensibilidade acrescida para as necessidades dos pais com filhos em idade escolar. Como jovem empresária nacional também tem enfrentado algumas dificuldades. “Não posso dizer que está a 64 | www.exameangola.com

ser fácil, nada é fácil. Mas quando a gente gosta e é o que quer mesmo, então corre atrás”, diz convicta. As maiores dificuldades passam por manter a motivação dos funcionários, corresponder às exigências dos clientes e manter o stock elevado, o que exige um investimento avultado. A Peter Murray, marca portuguesa de vestuário com grande implantação, sobretudo em Espanha, é outra das representações que a empresária possui para Angola. Folheando o catálogo da marca numa loja no estrangeiro, Jessica Simões reparou que a roupa apresentada para o dia-a-dia de qualquer mulher assentaria que nem uma luva à mulher angolana. O olho clínico para as coisas da moda veio provar que a antiga participante por Angola no concurso de beleza Face of Africa em 2003 estava certa. “Temos um estilo mais dia-a-dia que faz cá muita falta”, justifica.

“As minhas filhas inspiraram-me a trazer a Geox para Angola. Elas adoram a marca”

© GEOx

KAMENE TRAçA

negócios perfil

Agora, qualquer Diz-se que os acordo para uma loja negócios são da marca em Angola 1% de inspiração terá de ter no contrato e 99% de a assinatura de Jessica transpiração. Simões. “A aceitação Mario Polegato, dos clientes tem sido da Geox, concorda boa e os preços são em conta. Face aos preços praticados na Europa acrescemos apenas cerca de 20% a 30% devido ao transporte”, justifica. Já este ano, Jessica deu mais um salto e criou a marca própria Ever Rose. Contratou uma agência portuguesa de publicidade para criar o logótipo e o nome da loja. No espaço vende produtos de marcas brasileiras, portuguesas e francesas, que têm mais aceitação junto da população feminina que frequenta o Belas. Os produtos são escolhidos pela própria Jessica que, muitas vezes, se desloca às lojas para ter um contacto personalizado com as clientes. Faz igualmente questão de viajar e escolher pessoalmente aquilo que vai vender na sua loja. “Por vezes as fotografias exibidas nos catálogos são enganadoras”, adverte. Como conselho a todas as mulheres que ambicionam ser empresárias, defende que “não devem bloquear na parte do investimento. Se têm uma ideia que acreditam que pode resultar, sigam em frente”. Tal como Jessica Simões fez. b



Negócios ImobIlIárIo

Uma casa de sonho Imagine que mora numa vivenda de luxo. Com quatro pisos, piscina privativa, queda de água, ginásio, solário, sauna, jardim com jaccuzi e adega na cave. Sonho? Não. Basta ir a Luanda Sul Jaime Fidalgo

U

m dos melhores empreendimentos imobiliários de África está aqui, em Luanda Sul. Chama-se V-Gardens e foi distinguido com o International Property Awards, relativo ao melhor projecto de 2009 do continente africano no segmento de multiunidade (moradias residenciais). Este prémio, criado em 1995 no Reino Unido, é um dos galardões mais conceituados no ramo da arquitectura e da construção. Angola esteve representada pela primeira vez neste concurso internacional. E a estreia não poderia ter sido mais auspiciosa.

66 | www.exameangola.com


V-Gardens Projecto imobiliário de luxo, localizado nas imediações do Belas Shopping, composto por 20 moradias zona Talatona – Luanda Sul. ÁREa 850 metros quadrados.

aRquitEctuRa PiSo 2 Sauna para quatro pessoas, ginásio, solário, jardim no terraço e jacuzzi.

dIvuLgação

PREÇo 5,1 milhões de dólares (*).

PiSo 1 Três suites, um quarto principal com vista para a piscina e jardim, sala familiar. PiSo 0 Área de recepção, sala de jantar, jardim e piscina privada com deck de madeira.

ÁREa coMuM Parque infantil, sala de bilhar, duas salas de cinema. (*) Valor base (calculado pela redacção multiplicando a área pelo preço por metro quadrado.

dIvuLgação

O troféu, atribuído em parceria com o canal de televisão americano CNBC, foi entregue no dia 16 de Outubro, no Marriott Hotel, em Londres. A representar a empresa angolana Vivendi Plaza estava o administrador Moe Nesr, que não disfarçava o orgulho. “É um dos melhores condomínios fechados jamais criados em Angola e um dos melhores do mundo.” Fazemos obras de arte Apesar de viver em Angola há 15 anos, Moe Nesr sentiu-se em casa durante a cerimónia, pois estudou em Inglaterra. Descendente de africanos há três gerações,

dIvuLgação

caVE Parque de estacionamento para quatro carros, adega, espaço de armazenamento e alojamento para funcionários.

Moe fala um inglês fluente e é um apaixonado pelo imobiliário. “Nós não construímos casas, fazemos obras de arte. Os nossos produtos não são dirigidos a clientes, mas a apreciadores de casas”, justifica. O grupo Vivendi Plaza, nascido em 2005, aposta exclusivamente no segmento de alto luxo. O primeiro projecto foi a Moradia de Miramar, uma villa residencial concebida para um cliente privado cuja construção esteve a cargo da Teixeira Duarte. Em 2008, o grupo comprou um lote de terreno em Talatona, na rua do Belas Shopping, com o intuito de edificar um condomínio fechado de luxo. dezembro 2009 | 67


Negócios ImobIlIárIo Outro argumento de venda é a sua localização “no coração de Talatona, sem hipótese de se construir qualquer novo empreendimento à frente”. Outra vantagem é o facto de a Edifer oferecer a assistência e uma garantia de construção de cinco anos. A manutenção das áreas comuns — e tarefas como a segurança, água e energia, jardim, limpeza, etc. — está a cargo da Vivendi Plaza. O preço, obviamente, não é acessível a qualquer bolsa. As moradias são comercializadas a 6 mil dólares o metro quadrado. Ainda assim as vendas estão a correr bem. “Antes da apresentação pública já tínhamos 30% das vivendas vendidas.” (ao centro) ana Maria teles correia, embaixadora de angola no Reino unido, e Moe nesr, administrador da Vivendi Plaza, em Londres, durante a cerimónia de entrega do prémio

BEST DEVELOPMENT ANGOLA

vIveNdI PLaza

V Gardens by Vivendi Plaza Lda

Denominado V-Gardens, contempla 20 moradias, cada qual com 850 metros quadrados de área construída. No início deste ano, a Vivendi Plaza concluiu o projecto de design, adjudicou a construção à Edifer Angola e abriu um stand de vendas no local. Em Novembro, o V-Gardens foi apresentado oficialmente à imprensa. Neste mês estarão concluídas as infra-estruturas da vivenda-modelo, que só ficará pronta, ao nível dos acabamentos, em Março de 2010. “Os trabalhos estão a decorrer a bom ritmo. A Edifer oferece-nos todas as garantias de que, daqui a quatro meses, o cliente encontrará na vivenda tudo o que hoje se vê na maqueta.” Digna de filme de ficção E o que se vê na maqueta é algo de suster a respiração. Cada moradia tem quatro pisos, ligados por um elevador, um jardim com piscina privativa que alimenta a queda de água, salas de estar e jantar de grandes dimensões no piso térreo, quatro suites e uma sala familiar no primeiro piso, um mini SPA, com sauna, ginásio e solário, um jardim com jacuzzi ao ar livre no último andar, um parque de estacionamento fechado para quatro carros e, por fim, a adega e o alojamento para os funcionários na cave. A vivenda faz parte de um cenário digno de ficção científica. 68 | www.exameangola.com

Grande parte do mérito pertence ao arquitecto Fouad Samara, líder da Samara Architects, com projectos realizados em locais como o Dubai ou o Sul de Espanha. “É um dos melhores arquitectos do mundo. Foi ele que nos incentivou para a candidatura aos Property Awards”, diz. Uma das novidades do projecto é a utilização do vidro, de modo a tirar maior partido da luz natural. “Angola tem um excelente clima, menos árido do que noutros países de África. Por que não aproveitar a luz do sol e a vista?”, questiona Moe Nesr. As funcionalidades de utilização privada — como a piscina, a sauna, o solário ou o terraço com jardim — são um dos trunfos do V-Gardens. “A maioria dos projectos em Angola tem uma casa pequena e uma enorme área de lazer. Nós apostámos no contrário: casas grandes com áreas comuns pequenas. Porquê obrigar um cliente deste nível a aguardar que o vizinho termine de usar as funcionalidades comuns?” A esse propósito, as mais apreciadas são as duas salas privadas de cinema (home theatres), uma equipada com 15 e a outra com 30 poltronas. “Os clientes podem, a qualquer hora do dia ou da noite, assistir confortavelmente a um filme, em cadeiras reclinadas, enquanto bebem uma bebida ou comem um snack”, sustenta.

Segmento do luxo imune à crise A crise financeira, na opinião de Moe Nesr, não afectou o segmento de luxo. “Pelo contrário, esta é a melhor altura para investir dado que os terrenos e os materiais estão mais baratos”, justifica. O administrador da Vivendi Plaza mantém-se optimista em relação a Angola. “A economia vai continuar a crescer e a atrair novos investidores. Acredito que o mercado tenderá a ser mais estruturado em termos de segmentos. Os altos preços só se justificam para projectos de alta qualidade. Os construtores que seguiram uma óptica de curto prazo, poupando nos materiais e procurando o lucro rápido, serão obrigados a reduzir os preços.” A Vivendi Plaza, que tem como lema: “Residências para toda a vida”, quer “continuar a fazer história”, diz Moe Nesr, acrescentando: “Queremos ser uma marca que criou um estilo de vida único e contribuiu para mostrar ao mundo uma nova Angola.” Entre os projectos futuros da Vivendi Plaza estão a construção de uma business tower (para o segmento de negócios) e um department store (só com marcas de luxo). Mas, para já, Moe Nesr nem quer falar nisso. Ele está concentrado na vitória dos V-Gardens. b



MundoPlano TENDÊNCIAS QUE MARCAM A AGENDA DO GESTOR GLOBAL

ANGOLA

A cidade mais cara do mundo

Londres? Paris? Tóquio? Não. A cidade com o maior custo de vida, segundo o ranking da consultora britânica ECA International, é a capital de Angola.

de mercearia, vestuário, produtos electrónicos, automóveis, hotéis e restaurantes. Nesta última categoria os entrevistadores concluíram que em Luanda, uma refeição rápida não custa menos de 60 dólares (veja tabela abaixo). Bom, nós conhecemos vários bons restaurantes que custam bem menos do que isso. Onde é que eles andaram? Alguém se importa de explicar o caminho certo aos senhores da ECA International?

A pesquisa levou em conta o preço médio de 150 produtos e serviços oferecidos em 370 metrópoles. O cabaz analisado incluiu itens como alimentos e bebidas, artigos

Preço médio de uma refeição rápida

“Luanda é cara porque os produtos são importados”, conclui o estudo da ECA

VENEZUELA

LEA

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Coca-Cola a sete Chávez

70 | www.exameangola.com

É sabido que Hugo Chávez, Presidente da Venezuela, odeia multinacionais, sobretudo as de origem norte-americana. Logo não surpreende que Chavéz não

Cidade 1.a Luanda 2.a Oslo 3.a Copenhaga 4.a Genebra 5.a Zurique 6.a Basileia 7.a Yokohama 8.a Tóquio 9.a Nagoya 10.a Kobe

País Valor Angola 60 Noruega 32 Dinamarca 28 Suíça 27 Suíça 21 Suíça 21 Japão 17 Japão 16 Japão 15 Japão 15 Fonte: ECA International.

morra de amores pela Coca-Cola, um ícone mundial da sociedade de consumo. No mês passado, o governo venezuelano proibiu a venda de Coca-Cola Zero. O argumento oficial é que a bebida, fabricada e comercializada no país desde Abril deste ano, contém na sua fórmula um adoçante prejudicial à saúde. A Coca-Cola foi forçada a interromper a produção e agora tenta provar que o refrigerante, além de não ser calórico, é inofensivo para os consumidores.

ROSIEL NETO

(em dólares)


Não podemos esquecer o desastre em que nos metemos devido à falta de uma regulamentação mais rigorosa Barack Obama, presidente dos Estados Unidos, a respeito dos lóbis contrários à regulamentação do mercado financeiro americano

QATAR

A Wall Street das arábias

DIVULGAÇÃO

O Qatar, um dos países mais ricos do mundo, com um PIB per capita superior a 70 mil dólares, tenta livrar-se da dependência dos petrodólares. O plano do emir Hamad bin Khalifa é transformar a cidade de Doha, a principal do país, numa espécie de Wall Street das arábias. Para isso, instituiu

Imóveis Tata: 20 metros quadrados por 4500 dólares

ÍNDIA

uma política de incentivos para concentrar no futurista bairro de West Bay algumas das mais importantes instituições financeiras do mundo. Khalifa também criou uma nova escola de negócios no país, cujo objectivo é formar a mão-de-obra para trabalhar no novo centro de negócios. West Bay, em Doha: uma Wall Street no deserto

Casas em versão Nano

KARIM JAAFAR/AFP

O grupo Tata, o maior conglomerado industrial da Índia, lançou há alguns meses o carro mais barato do mundo. O veículo, chamado Nano, custa apenas 2500 dólares. O sucesso do conceito levou o grupo a aplicar a mesma receita ao mercado imobiliário. Já estão em construção apartamentos de 20 metros quadrados ao módico preço de 4500 dólares. Em vez de tijolos, as residências são erguidas com uma estrutura pré-fabricada leve, à base de betão, espuma e materiais reciclados. As primeiras 15 mil unidades, previstas para serem entregues em 2010, já têm fila de espera.

ESTADOS UNIDOS

O dinheiro fugiu dos jornais... 44,1

45

46,7

47,4

46,6

42,2

GAÇÃO DIVUL

34,7

O Kindle, da Amazon, poderá salvar os jornais?

6

7,2

2002

2003

9,6 2004

12,5

2005

16,8

2006

21,2

2007

23,4

2008

(Em biliões de dólares)

Publicidade na internet.

Publicidade nos jornais. Fontes: IAB e Newspaper Association of America.

... para a Web Enquanto a publicidade na internet cresce a bom ritmo nos Estados Unidos, a receita dos jornais com a venda de anúncios está a cair. A imprensa escrita olha agora com atenção para os e-readers (aparelhos electrónicos de leitura como o Kindle, da Amazon). Se a moda pegar, será possível criar um modelo de assinaturas pagas, expedidas digitalmente. As editoras poderiam economizar nos custos de impressão e distribuição. O New York Times e o Wall Street Journal estão na linha da frente desta tendência. dezembro 2009 | 71


gLobAL áfrica

A dama de ferro da Libéria A Presidente Ellen Sirleaf sobreviveu à miséria e a dois golpes de Estado. A essas vitórias soma-se agora o crescimento de um dos países mais pobres do mundo

Ellen Sirleaf: um exemplo para a causa feminista no mundo, segundo Hillary Clinton

Luciene Antunes

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Primeira mulher Presidente A sensação de que esta frase faz parte do arsenal demagógico comum aos políticos cai por terra quando se conhecem alguns detalhes da trajectória de Ellen Sirleaf. A governante escapou da miséria e sobreviveu a um marido alcoólatra, a dois golpes de Estado e ao exílio, tornando-se em 2005 a primeira mulher eleita para um posto de Chefe de Estado na história da África. No poder, Ellen Sirleaf passou a ser reconhecida internacionalmente por um trabalho exemplar ao nível da melhoria económica e social da Libéria, um país que no final da década de 80 foi palco de uma guerra civil que durou 14 anos, deixou um rasto de destruição e mais de 200 mil 72 | www.exameangola.com

ATEF SAFADI/AFP

ada aspecto, desafio ou ameaça na minha vida transformaram-me numa líder com o conhecimento real dos dramas da sociedade”, escreveu Ellen Johnson-Sirleaf, de 70 anos, Presidente da Libéria, na sua autobiografia This Child Will Be Great (“Essa criança será grande”, em português), lançada há poucos meses nos Estados Unidos.


mortos. Embora continue a figurar entre as nações mais pobres do mundo e a sua base económica seja ínfima — assenta na agricultura e na venda das taxas de registo de navios —, a Libéria regista uma taxa de crescimento do PIB de 5% ao ano, uma das maiores do continente. Segundo as previsões do FMI, a expansão deve superar os 10% até 2012.

actividades no país e agora voltaram a fazer investimentos. A ArcelorMittal, por exemplo, anunciou o investimento de 1,5 mil milhões de dólares para a reabertura de uma mina de ferro e a reconstrução do caminho-de-ferro. Hoje, até o turismo atrai o investimento estrangeiro. O bilionário americano Robert Johnson inaugurou o resort Kendeja Resort & Villas.

Ellen Johnson-Sirleaf, Presidente da Libéria IDADE 70 anos FAMÍLIA Divorciada, quatro filhos e sete netos. FORMAÇÃO Economia pela Universidade do colorado, contabilidade pelo Madison Business college e MBa pela Universidade de Harvard.

A Obama da África Por causa das reformas económicas e da onda de esperança que trouxe ao país, Sirleaf ganhou apelidos como “a dama de ferro da Libéria” e “a Obama da África”. Uma das suas medidas foi negociar com os credores a redução em quase um terço da dívida externa do país, que se encontra agora na casa de 1,7 mil milhões de dólares. Com isso, recuperou o crédito e a credibilidade da Libéria junto dos organismos internacionais e investidores estrangeiros. Multinacionais — como a fabricante de pneus Firestone e a siderúrgica ArcelorMittal — que haviam paralisado as suas

CARREIRA ao vencer em 2005 as eleições na Libéria, tornou-se a primeira mulher a ocupar um cargo de presidente na história da áfrica. No poder, iniciou a renegociação da dívida externa da Libéria, atraiu os investidores estrangeiros e conseguiu fazer a economia crescer à taxa média de quase 5% ao ano, uma das maiores do continente.

Johnson, um empresário da indústria do entretenimento dos Estados Unidos, é um dos vários admiradores estrangeiros da Presidente liberiana, considerada pela secretária de Estado americana, Hillary Clinton, uma das grandes inspiradoras da causa feminista na actualidade. Instalado na capital Monróvia, o Kendeja Resort teve um investimento de 8 milhões de dólares. “Gostaria de contribuir para o renascimento dos negócios na Libéria”, diz Johnson. O caso da Libéria é tido como um dos maiores testes da capacidade de regeneração económica de África. Um dos países mais pobres do mundo, onde mais de três

quartos da população vivem com menos de 1 dólar por dia, de acordo com os dados recentes da Organização das Nações Unidas, a Libéria ainda precisará de décadas para superar as suas grandes deficiências, tais como as infra-estruturas precárias — fora de Monróvia, praticamente não há energia eléctrica, água engarrafada ou estradas asfaltadas — e uma taxa de desemprego de 85%. Cerca de 15 mil soldados da ONU permanecem no país com a missão de combater os altos índices de violência, provocados principalmente por ex-jovens combatentes sem emprego. Vencer as adversidades A história de superação de Ellen Sirleaf ajuda a construir o seu mito político. Quando criança, ela escapou da miséria, destino quase certo das crianças que não nasceram nas famílias da elite. Graças a bolsas de estudos, frequentou as melhores escolas do país e completou a sua formação nos Estados Unidos. Casou-se aos 17 anos com um homem alcoólatra e violento. A sua trajectória foi cheia de sobressaltos. Em 1980, quando ocupava o cargo de ministra das Finanças, por pouco não teve o mesmo destino de outros membros do governo, executados após um golpe de Estado. Sirleaf fugiu para o Quénia e regressou à Libéria em 1985, onde liderou um movimento de oposição à ditadura. Por causa disso, ficou presa durante nove meses. Exilou-se novamente e só regressou em 1997, quando a democracia foi restabelecida. Oito anos depois, venceu na campanha presidencial o ex-jogador de futebol e ídolo nacional George Weah. Aos 70 anos, chegou ao topo da carreira. b

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global europa

as lições da Noruega Com bancos sólidos e uma boa utilização das receitas do petróleo, a Noruega é uma das economias menos afectadas pela crise financeira que consome o Velho Continente Tatiana Gianini

74 | www.exameangola.com

em torno dos 3% — é um quinto do índice registado em nações como a Espanha. E a produção industrial da Noruega é uma das menos afectada entre os países europeus. “Vamos passar por esta crise com muito menos danos do que a maioria das nações”, afirmou o primeiro-ministro da Noruega, Jens Stoltenberg, num discurso recente aos empresários locais. Sector bancário com regras apertadas A Noruega colheu os frutos do seu conservadorismo. O mercado imobiliário permaneceu estável, enquanto países como a Espanha iam da euforia ao desespero com o estouro da bolha que envolveu o sector. Os seus bancos não foram “intoxicados” por créditos duvidosos, graças a uma regulamentação apertada nascida na década de 80. Nessa altura, o país enfrentou uma crise que atingiu 70% das suas instituições financeiras, incluindo os três maiores bancos nacionais. Após uma série de medidas duras, o sector foi saneado. “Depois dessa crise, os bancos adoptaram medidas que fizeram com que o sector bancário norueguês fosse mais resistente aos problemas que hoje se verificaram noutros países”, afirmou o economista norueguês Bjørn Basberg, professor da Norwegian School of Economics and Business Administration.

FrIts solVANg/rEx FEAturEs

o

inverno financeiro provocado pela crise económica global está a ser sentido por toda a Europa. Os dados mais recentes do comportamento do PIB da região mostram que os 16 países da zona euro tiveram o seu quarto trimestre consecutivo de desaceleração. Nos primeiros meses deste ano, as principais economias europeias sofreram a maior contracção desde que a União Europeia foi criada. O desemprego aproxima-se perigosamente da taxa de 10%, a maior da década. E as previsões mostram que 2009 foi mais cruel para a Europa do que para os Estados Unidos. Da Alemanha à França, dos países do Leste à Itália e à Espanha, a sensação é de desalento. A excepção vem do gelo. Com 4,8 milhões de habitantes, a Noruega resiste bravamente aos piores efeitos da crise, tornando-se um modelo a ser seguido em matéria de gestão económica. De acordo com as estimativas do FMI, o PIB norueguês deve fechar o ano com um decréscimo de 1,6%. O que parece ser uma má notícia torna-se uma maravilha quando comparado com o desempenho de países como a Alemanha e a Inglaterra, cuja economia pode, segundo as piores projecções, registar 6% negativos neste ano. O desemprego ainda não é um problema sério para os noruegueses. A taxa — hoje

Os vikings da economia A Noruega também está a sofrer o impacte da crise global, embora numa escala bem menor do que os outros países da Europa (1) Estimativa para 2009. Fontes: FMI, Eurostat e governo da Noruega .


A Noruega é o segundo melhor país do mundo em desenvolvimento social. A capital Oslo tem 500 mil habitantes. É uma cidade moderna e cosmopolita

QUEDA DO PIB(1) (em %) -1,6

Noruega

TAXA DE DESEMPREGO (em %) Noruega

QUEDA DA PRODUÇÃO INDUSTRIAL (em %)

3,2

-2,8

-3

França

-3

Espanha

Finlândia

7,5

Inglaterra

Alemanha

7,6

-4 -5,2

Finlândia

-5,6

Alemanha

Inglaterra

França Espanha

7

-15,2 -17,3 -20,5 -23

8,8 17,4

-24,8

Noruega Inglaterra França Finlândia Alemanha Espanha

dezembro 2009 | 75


global europa

KjEtIl AlsVIK / dIVulgAção

Petróleo, a grande riqueza natural. A gigante Statoil pertence ao governo norueguês

Mas, talvez, o maior mérito dos noruegueses tenha sido administrar com sabedoria os frutos da sua maior riqueza natural, o petróleo, responsável por 25% do PIB. O país é o maior produtor da Europa. Em 2008, graças aos preços recordes atingidos pelo barril, as receitas somaram 68 mil milhões de dólares. O dinheiro do petróleo é gerido sob a forma de um fundo soberano, o Government Pension Fund, que hoje possui activos avaliados em quase 400 mil milhões de dólares, o equivalente ao PIB da Noruega no ano passado. Boa utilização das receitas do petróleo É graças a essa enorme poupança que hoje o governo pode aumentar os gastos públicos para estimular a economia sem armar uma armadilha para o futuro. No início deste ano, o governo anunciou um pacote de estímulo fiscal de 2,9 mil milhões de dólares que inclui investimentos extras em infra-estruturas e isenção de impostos para o sector privado. Pouco tempo depois, foi lançado outro plano de ajuda de 15 mil milhões de dólares para aumentar a liquidez dos bancos e fornecer novas linhas de crédito às empresas e empresários. 76 | www.exameangola.com

No orçamento deste ano o governo previu um gasto adicional de 1,5 mil milhões de dólares para evitar um aumento do desemprego — as piores previsões mostram que a taxa pode chegar a 4%.

A Noruega é o maior produtor de petróleo da Europa. o dinheiro é gerido sob a forma de um fundo soberano “O rendimento do petróleo tem dado ao governo norueguês uma liberdade de acção na gestão desta crise que os outros países europeus não têm”, diz o economista norueguês Einar Hope. A palavra de ordem na administração do fundo soberano tem sido a frugalidade. O governo instituiu o limite de 4% do valor do fundo para os saques que visem equilibrar as contas públicas e a cobrir os défices orçamentais.

Até metade do século passado, a Noruega era uma pobre nação de pescadores que lutavam contra o frio do Árctico. No século xiv, metade da sua população foi dizimada pela peste negra. Foi só com a descoberta de petróleo no mar do Norte, no fim dos anos 60, que a Noruega começou a trilhar o caminho que a transformaria num dos países mais ricos e prósperos do mundo. O seu PIB per capita, de 95 mil dólares, está entre os maiores do planeta, e a riqueza encontra-se distribuída de modo igualitário. O IDH, o índice da ONU para medir o padrão de desenvolvimento dos países, é o segundo melhor do mundo. A Noruega tem investido cada vez mais em energias alternativas, como a eólica. Os reflexos do progresso podem ser vistos em Stavanger, cidade no Sudoeste do país, sede da gigante do petróleo StatoilHydro, cujo controlo accionista pertence ao governo norueguês, e em Oslo, a capital. Com mais de 500 mil habitantes, Oslo é uma cidade moderna e cosmopolita, com um padrão de vida que se tornou uma referência para o resto do mundo. Um padrão que mesmo a pior crise desde há várias décadas não conseguiu modificar. b



Campeões olímpicos N Ensaios exaustivos, uma base de dados com o perfil dos eleitores do COI e um pelotão de especialistas estrangeiros. Os bastidores da estratégia brasileira para ganhar a corrida aos Jogos Olímpicos de 2016 Malu Gaspar

78 | www.exameangola.com

o dia 2 de Outubro, assim que o presidente do Comité Olímpico Internacional (COI), Jacques Rogge, anunciou que o Rio de Janeiro tinha sido escolhido como sede dos Jogos de 2016, representantes da candidatura carioca irromperam em choro e abraços, enquanto um coro entoava os primeiros versos da Cidade Maravilhosa. Quem viveu os meses anteriores à decisão, anunciada na cidade de Copenhaga, na


global américa A razão para tamanha disputa é muito clara. Sediar os Jogos Olímpicos é provavelmente a maior oportunidade para expor uma marca ao mundo e atrair negócios. Os Jogos Olímpicos de Pequim, em 2008, foram vistos na televisão por 4,4 mil milhões de pessoas. Empresas como a Adidas, a Coca-Cola e a McDonald’s pagaram, cada uma, 80 milhões de dólares para associar a sua imagem ao evento. No Rio de Janeiro, estima-se que sejam arrecadados cerca de 1,5 mil milhões de dólares em patrocínios, licenciamento de marcas e venda de bilhetes. O investimento necessário para realizar os Jogos é estimado em 8,4 mil milhões de dólares, segundo um estudo da Universidade de São Paulo. No total poderão ser injectados na economia brasileira 58 mil milhões de dólares. Se bem administrada, uma olimpíada pode significar a requalificação de uma metrópole, tal como sucedeu com Barcelona em 1992.

A candidatura em números (valores em dólares) Quanto custou

58 milhões

22 milhões

Doações privadas

36 milhões

recursos públicos

Votos

32

66

contra

custo por voto recebido Pessoas envolvidas (1)

Gastos com consultoria

Vídeos produzidos CharlEs Dharapak/afp phOTO

Comemoração brasileira em Copenhague: Lula foi o melhor garotopropaganda

apresentações para membros do cOi

Horas de ensaios Pesquisas de opinião Países visitados(2)

880 mil 500 30 milhões 10 200 2 048 4 50

(1) Estimativa (2) pelo presidente do COB, Carlos Nuzman

do marketing Dinamarca, sabe que a reacção dos brasileiros foi, provavelmente, o momento mais espontâneo de uma maratona que tinha começado dois anos antes. Escaldados pela derrota nas duas tentativas anteriores, os representantes do Rio entenderam que para vencer a mais complexa e cara eleição desportiva do mundo era preciso uma estratégia eficaz, disciplina e, talvez o mais complicado quando se trata de brasileiros, nenhum improviso.

Para levar a Copenhaga uma campanha com toques de profissionalismo empresarial, o Brasil contratou um pelotão de consultores internacionais com anos de convivência com a “família olímpica” para dizer exactamente o que deveria ser feito. Duas mil horas de ensaios, 1000 horas de voo e 58 milhões de dólares depois, ficou provado que ganhar o direito a organizar os Jogos Olímpicos não é, definitivamente, uma tarefa para amadores.

fontes: COB e scott Givens

a favor

Seduzir os eleitores de 75 países Uma das etapas cruciais da campanha brasileira foi a aproximação com os eleitores do COI — um grupo de 106 personalidades de 75 países —, reis, rainhas, xeques, empresários, milionários, além, é claro, de ex-atletas. “São pessoas que gostam de se sentir especiais”, diz o secretário-geral do Comité Olímpico Brasileiro (COB), Carlos Roberto Osório. Para conquistar os seus votos, o COB seguiu as lições do britânico Mike Lee — responsável pela campanha vitoriosa de Londres para os Jogos de 2012 — que foi contratado pelo COB há 18 meses. Foi criada uma base de dados com o perfil detalhado de cada eleitor — incluindo os dados pessoais, aniversário do cônjuge e dos filhos, desporto preferido e hobbies. “Nesta eleição o que conta é o relacionamento”, afirmou Lee. Por isso, ficou decidido que, se o objectivo era fazer amigos e influenciar pessoas, o melhor seria não recorrer aos profissionais do lobby. O próprio Carlos Alberto Nuzman, presidente do COB, e os outros executivos do comité fizeram a maioria dos contactos com os eleitores. Para apoiar essa maratona de visitas, foram chamadas celebridades desportivas, como Pelé e a velejadora Isabel Swan. dezembro 2009 | 79


global américa O levantamento das preferências dos eleitores revelou-se um activo valioso. Descobriu-se, por exemplo, que muitos membros do COI gostariam de ter alguns minutos de conversa com o Presidente Lula. Daí que, para cada um havia um “buraco” na agenda oficial, o Presidente encaixava uma audiência para se encontrar com eleitores olímpicos. Nos últimos 12 meses pelo menos metade desses eleitores teve um encontro pessoal com o Presidente brasileiro, sempre com direito a palmadinhas nas costas e a pausas para fotos. “Lula foi o nosso maior trunfo eleitoral. Ele era um apaixonado pela causa. Não apareceu só no final”, diz Lee. O efeito dos apoios de Lula, de Pelé e do escritor Paulo Coelho — que jantou, dias antes da decisão ,com as mulheres dos membros do COI — mostra que, assim como nas campanhas políticas tradicionais, nem sempre é nas reuniões de trabalho que se ganham os votos. Seguindo essa mesma lógica, em Junho deste ano, o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, voou até Singapura só para conversar durante meia hora com o xeque do Koweit, Ahmad Al-Fahad Al-Sabah, presidente do Conselho Olímpico da Ásia, antes

Equipa de galácticos

de seguir para uma agenda de negócios na China. Em duas ocasiões, os membros do COB em viagens de trabalho fizeram desvios propositados só para visitar eleitores. Num desses encontros, a mulher de um eleitor chorou ao abraçar o representante da Rio 2016, que tinha levado flores para um doente na unidade de cuidados intensivos de um hospital europeu. Preparar e apresentar a candidatura Na batalha interna, o maior esforço dos consultores estrangeiros foi o de trazer eficiência e disciplina à equipa da candidatura carioca. “Havia dúvidas se o Rio, com tantos problemas, seria realmente capaz de organizar uns Jogos Olímpicos”, disse o britânico Michael Payne, que trabalhou para a candidatura brasileira nos últimos dois anos. “Tivemos conversas bastante francas com os representantes do COB para convencê-los de que, se eles realmente quisessem ser a sede dos Jogos Olímpicos, precisavam ser os melhores tecnicamente e adoptar a disciplina de trabalho dos anglo-saxónicos.” Na década de 80, Michael Payne tornouse conhecido por liderar a reestruturação que transformou os Jogos Olímpicos, uma

conheça os quatro peritos contratados pelo comité Olímpico Brasileiro para

O ESTRATEGO

O SHOWMAN

[michael Payne]

[Scott Givens]

Ex-director de marketing do comité Olimpico internacional, responsável pela renovação da imagem dos Jogos nos anos 80, Payne participou na campanha de Londres 2012. Sugeriu dar ênfase ao apuro técnico e à disciplina da organização junto dos membros do cOi, e optar por discursos mais emocionais junto do público externo.

Ex-executivo da Disney, Givens começou a trabalhar para a rio 2016 logo após o final do Jogos Pan-americanos. Foi ele quem montou o guião os scripts e os 200 vídeos usados nas apresentações da candidatura. idealizou peças como o mapa que mostrava todos os locais onde já houve Jogos com o vazio na américa do Sul.

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competição que estava desacreditada e minada por conflitos geopolíticos, num dos eventos mais disputados do mundo. Ele percebeu que o argumento para levar os Jogos para uma fronteira inédita — a América do Sul — teria grande apelo junto aos eleitores do COI. Sobretudo se impulsionado pelo bom desempenho económico do Brasil. Isso, porém, não seria suficiente — era preciso ter um projecto consistente. A solução foi contratar o australiano Craig McLatchey, ex-secretário-geral dos Jogos de Sydney, em 2000, para coordenar o trabalho de 20 consultores estrangeiros responsáveis por dar forma ao projecto a nível técnico, o que incluía soluções para questões como a segurança, o transporte e o impacte ambiental. Comunicar esse projecto de maneira convincente seria decisivo. Por isso, o americano Scott Givens, ex-vice-presidente de entretenimento da Disney e responsável pela abertura e pelo encerramento dos Jogos Pan-Americanos em 2007, ensaiou mais de 50 pessoas para as apresentações

DIVUlGaÇÃO O2 fIlMEs

O Carnaval e a beleza do Rio só foram referidos na parte final do vídeo da candidatura

diante dos membros do COI, desde os técnicos da Prefeitura do Rio ao presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. Até Lula, habitualmente adepto do improviso, teve de alterar partes do discurso. Givens planeou cada detalhe: da entonação aos gestos usados nas apresentações. Até a intensidade dos aplausos da delegação brasileira foi estudada. “Não podia ser demasiado confiante, nem muito desanimado, afirma o Ministro dos Desportos, Orlando Silva. O segredo, para Givens, era fazer uma apresentação que equilibrasse os lados racional e emocional. “Primeiro era preciso convencer a audiência de que o Rio estava pronto para os Jogos. Só depois é que podíamos falar em praia e Carnaval”, diz Givens. Assim foi feito. Dos 45 minutos da apresentação dos brasileiros em Copenhaga, só os 15 finais é que foram dedicados à beleza do Rio de Janeiro e à alegria dos cariocas, brilhantemente retratadas nos filmes do cineasta Fernando Meirelles. Depois da vitória na primeira batalha, começa agora o grande desafio: provar que as promessas da campanha podem ser tão bem executadas quanto a própria campanha. A parte realmente difícil começa agora. b

O RELAÇÕES PÚBLICAS

O TÉCNICO

[mike Lee]

[craig mcLachey]

Ex-director de marketing do Partido Trabalhista britânico, passou um ano e meio em contacto com os media internacional. Sugeria os temas adequados a cada público como a importância dos Jogos serem organizados num país subdesenvolvido - para os latinos - ou a força económica do Brasil para os europeus.

Depois de organizar os Jogos de Sydney 2000, o australiano trabalhou para o cOi durante os Jogos Pan-americanos de 2007. recrutou a equipa de consultores estrangeiros da rio 2016 e adicionou rigor técnico à candidatura.

dezembro 2009 | 81

sUTTON MOTOrspOrTs/ZUMa prEss, MÔNICa IMBUZEIrO, paUl WOODMaNsEY/rEX fEaTUrEs, NaTalIE BOOG

coordenar a campanha que garantiu a escolha do rio de Janeiro como sede dos Jogos em 2016


global ásia

o obama japonês Com discursos e slogans inspirados na campanha do Presidente americano, Yukio Hatoyama foi eleito primeiro-ministro do Japão. A parte difícil começa agora Tiago Maranhão

o

mantra “Mudança e Esperança”, espinha dorsal da campanha que levou Barack Obama à Presidência dos Estados Unidos, deu a volta ao mundo e repetiu-se no Japão. Em vez do famoso “Yes, We Can” de Obama, o slogan que mobilizou os eleitores japoneses foi “Seikatsu DaiIchi” — que significa, “A vida das pessoas em primeiro lugar”. Frustrados com quase duas décadas de estagnação económica, os japoneses encerraram em Agosto mais de meio século de domínio do conservador Partido Democrático Liberal, entregando o poder ao seu principal concorrente, o Partido Democrático do Japão (PDJ) de centro-esquerda. A plataforma do novo primeiro-ministro Yukio Hatoyama, de 62 anos, que tomou posse em Setembro, também representa uma ruptura. Em vez de perder tempo com questões fracturantes, tais como a privatização dos Correios — que funcionam na prática como o principal banco do Japão —, Hatoyama atacou o problema mais urgente, prometendo medidas práticas para reactivar o consumo interno. O pacote legislativo inclui a redução dos impostos para as empresas e a criação de uma espécie de Bolsa Família (veja página seguinte). O Japão que Hatoyama recebeu das mãos

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do ex-primeiro-ministro Taro Aso é um país em que a produção industrial teve uma quebra de quase 40% no último ano (o menor nível desde 1983). Desde o início da década de 90 que a taxa média do crescimento anual do PIB nipónico tem sido de apenas 0,6%. Devido à deflação — o oposto da inflação que corresponde a uma descida dos preços no consumidor — que hoje é de 2%, o valor nominal do PIB está próximo do que era em 1983. Dito por outras palavras, nos últimos 16 anos a economia do Japão estagnou. PIB cai 6% em 2009 As previsões de resultados anuais para as maiores empresas japonesas são catastróficas. A Hitachi, empresa de referência do sector tecnológico, prevê perdas de quase 8 mil milhões de dólares. A segunda maior empresa aérea do país, a All Nippon Airways, deverá acumular até Dezembro um prejuízo de 100 milhões de dólares. Com os números no vermelho, muitas empresas estão a efectuar despedimentos — algo impensável há alguns anos —, elevando a taxa de desemprego para 6%, o pior número do Japão do pós-Guerra. Só nos últimos meses é que o país começou a apresentar alguns sinais positivos de recuperação. No segundo trimestre deste ano, o PIB cresceu 0,9% e as exportações

também começam a reagir — tendência que vem sendo acompanhada pela evolução positiva do índice bolsista Nikkei. Ainda assim, o PIB do Japão deverá sofrer uma retracção de 6% em 2009, que será compensada por um ténue crescimento em 2010. Um dos pilares do programa de Hatoyama — os incentivos ao consumo interno — servirá para tirar do marasmo a segunda maior economia do mundo. As primeiras medidas práticas do novo governo deverão entrar em vigor ainda neste ano. Entre


O lado “B” de Yukio os Hatoyama são uma versão japonesa dos Kennedy e já vão na quarta geração de políticos. o clã é dado a algumas excentricidades DADOS PESSOAIS Idade: 62 anos Cidade: Tóquio, Japão Família politica: Partido Democrático Tomada de posse: 16 de Setembro 2009 Esposa: miyuki Hatoyama (desde 1975) Filho: Kiichiro Hatoyama Formação: Doutorado em Engenharia por Stanford FACTOS CURIOSOS 1. Descende de uma família de proeminentes políticos. A saga começou com Kazuo Hatoyama, que fundou no século xix o Partido Democrático Liberal, que agora foi derrotado pelo bisneto. o avô Ichiro Hatoyama também foi primeiro-ministro. E o pai Shojito ishibashi fundou a Bridgestone, fabricante de pneus. Yukio detém, por herança, 3,5 milhões de acções.

Yomiuri SHimbun/AFP

2. os críticos chamam-lhe “Alien” ou “ET” devido aos seus olhos esbugalhados

as principais está um subsídio mensal de 275 dólares por cada filho menor de idade. Além de colocar mais dinheiro em circulação na economia, a medida tem como objectivo incentivar o aumento da taxa de natalidade. Recorde-se que a população japonesa é a que está a envelhecer mais rapidamente no mundo — um em cada cinco habitantes tem mais de 65 anos. No pacote de Hatoyama constam outras medidas, tais como o fim da cobrança das propinas nas universidades públicas (hoje,

os estudantes pagam uma propina) e a eliminação das portagens nas auto-estradas. Para agradar aos empresários, o novo primeiro-ministro acena com uma reforma tributária que visa reduzir os impostos de 40% para menos de 30 por cento. O desafio de Hatoyama será cumprir essas promessas eleitorais sem comprometer os cofres públicos. A dívida pública do Japão está em 170% do PIB, o nível mais alto entre os países desenvolvidos. O homem escolhido por Hatoyama para o Ministério

3. Yukio é milionário. Porém, no início de novembro, foi acusado de não ter declarado ao fisco cerca de 800 mil dólares. o porta-voz do primeiro-ministro esclareceu que se tratou de um erro que entretanto já foi regularizado. 4. A esposa Miyuki, ex-actriz, é fã de jeans (ganhou um prémio da Associação Japonesa de Jeans). Ela declarou na televisão que conheceu Tom Cruise em vidas passadas e que a sua alma já visitou Vénus. 5. Yukio lançou um álbum que recupera uma canção gravada há vinte anos. o álbum “Take Heart”, vendido a 11 dólares, foi um sucesso de vendas no Japão só comparável a This Is It de michael Jackson. o primeiro-ministro diz que a gravação desse disco foi apenas uma loucura de juventude.

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global ásia

Toru YAmAnAKA/AFP

Centro de Tóquio: 180 mil milhões de dólares ao ano para incentivar o consumo

Os primeiros sinais de recuperação... O PiB japonês deverá cair 6% até ao final de 2009, mas há boas hipóteses de uma retoma a partir de 2010. Essa previsão é baseada na evolução positiva de alguns indicadores, como as exportações e o volume de negócios na Bolsa de Tóquio. EVOLUÇÃO DO PIB (em %)

2,3 2007

2008 2009

(1)

EXPORTAÇÕES (em percentagem)

3,8

1,7 2010(1)

-0,7

1.º tri 2008

-6

2.º tri 3.º tri 4.º tri 1.º tri 2008 2008 2008 2009

-2,8

3

ÍNDICE NIKKEI (em pontos)

18 400 13 700

2.º tri 2009

-0,5 -8,9 -13

(1) PrEViSÃo Fmi

7 300 Julho 2007

10 700

Julho Março setembro 2008 2009 2009

... e as propostas do novo governo Durante a campanha eleitoral, Yukio Hatoyama prometeu acabar com a recessão, estimular o consumo interno e terminar com a dependência dos Estados Unidos na política externa. Eis algumas das medidas previstas: Pagamento do subsídio “mensal” de 275 dólares às famílias por cada filho menor de idade.

Tornar as universidades públicas gratuitas (hoje os estudantes pagam propinas).

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Reduzir os impostos pago pelas empresas de 40% para menos de 30%.

aumentar o comércio com os países vizinhos asiáticos e manter uma relação mais igualitária com os Estados Unidos.

das Finanças, Hirohisa Fujii, tem a missão de acalmar os críticos preocupados com o agravamento da situação. Aos 77 anos e com uma passagem pelo mesmo cargo em 1993 e 1994, Fujii é tido como a figura ideal para realizar o “malabarismo fiscal” de encaixar no próximo orçamento do país todos os benefícios prometidos sem sobrecarregar as contas públicas. No total, os subsídios vão custar 180 mil milhões de dólares ao ano. Segundo Fujii, o “milagre” seria possível com o corte de desperdícios na máquina do governo. Para enfrentar a burocracia japonesa, Hatoyama tem ao seu lado uma boa base política — o PDJ aumentou a sua presença de 113 para 308 deputados (de um total de 490), conquistando a maioria nas duas casas do Congresso. O apoio popular também é expressivo: pela primeira vez, 69% dos eleitores votaram, um recorde histórico. A força da vitória do PDJ foi designada pela revista inglesa The Economist de um “acto de protesto político”. Os Kennedy do Japão O “sangue azul” de Yukio Hatoyama parece fazer dele o candidato ideal para liderar a retoma económica japonesa sem perder de vista a tradição conservadora do país. Rígido, muito rico e com olhos esbugalhados que lhe valeram a alcunha de “Alien”, Hatoyama tem um doutoramento em Engenharia pela Universidade de Stanford. Foi lá que conheceu a sua mulher, a ex-actriz Miyuki Hatoyama. Divorciada do primeiro marido e dada a excentricidades, Miyuki já declarou em programas de televisão ter conhecido o actor Tom Cruise em encarnações passadas e que a sua alma visitou o planeta Vénus a bordo de um disco voador triangular. O único filho do casal, Kiichiro, estuda Engenharia na Rússia. Antes dizia que sempre se sentiu repelido pela política e preferia dedicar-se às suas colecções de selos e insectos. Só em 1980 é que resolveu seguir a vocação da família. Os Hatoyama são uma versão japonesa dos Kennedy e já vão na quarta geração de políticos. A saga começou com a figura de Kazuo Hatoyama, que fundou no século xix o PDL, justamente o partido agora derrotado pelo seu bisneto. b




GestãoModerna IDEIAS PARA GERIR A SUA EMPRESA, NEGÓCIO OU CARREIRA

SEMINÁRIO

“As pessoas são a chave”

Todos os estudantes de Gestão O professor conhecem o nome de Idalberto brasileiro esteve Chiavenato, autor de grande parte em Luanda dos livros de referência da disciplina a pregar as de Gestão de Recursos Humanos. virtudes da O professor, agora com 73 anos, gestão mais esteve em Angola (em Luanda humanista e em Benguela) para apadrinhar o lançamento do Instituto de Formação Avançada para Executivos (IFAE), instituição vocacionada para a formação e aperfeiçoamento profissional de quadros empresariais. Chiavenato relembrou aos presentes a evidência que o “sucesso de qualquer organização passa pela aposta no capital humano. As pessoas fazem a diferença”. Para demonstrar a sua afirmação o especialista socorreu-se do caso do Japão que apostou em grande escala na formação e hoje é a segunda maior economia do mundo. Chiavenato aconselhou também os gestores angolanos a prestarem mais atenção à qualidade do serviço. Para ilustrar esta ideia deu o exemplo do longo tempo de espera pela sua bagagem no Aeroporto Internacional 4 de Fevereiro ou o serviço prestado na unidade hoteleira onde esteve hospedado. Eis um bom caso de estudo para o recém-criado IFAE, cujo director executivo é David Boio, um sociólogo formado pela Universidade Católica Portuguesa. “O IFAE surge num contexto muito importante da vida política da economia angolana. Pretendemos oferecer formação dirigida a executivos das mais variadas áreas da vida empresarial.” De referir que o IFAE tem parcerias com instituições como a Faculdade de Economia e Gestão da Universidade Católica Portuguesa, a Universidade Autónoma de Madrid, a Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa e o Instituto de Ciências Sociais e Políticas da Universidade Técnica de Lisboa.

David Boio, director executivo, e Mário Pinto de Andrade, presidente, do IFAE

Idalberto Chiavenato IDADE 73 anos. NATURALIDADE São Paulo, Brasil. FORMAÇÃO Licenciado em Filosofia/Pedagogia, pela USP; em Direito, pela Universidade Mackenzie e pós-graduado em Administração, pela EAESP-FGV. Tem o MBA e o doutoramento em Administração, pela City University of Los Angeles, Califórnia. EXPERIÊNCIA PROFISSIONAL Consultor, professor, conferencista e professor honorário das principais universidades de administração do Brasil, México, Portugal e Espanha. É autor de mais de 40 livros e considerado um dos grandes peritos mundiais em gestão de pessoas. Foi fundador e do Instituto Chiavenato, especializado em formação. SITE www.chiavenato.com.

Sem excepção, todos os meus maiores erros aconteceram porque eu agi muito lentamente John Chambers, presidente mundial da Cisco dezembro 2009 | 87


Gestão Tom PeTers

Nos anos 80, o jovem Tom Peters escreveu um livro sobre os segredos das empresas excelentes que se tornou um best-seller. Hoje, o guru mantém a obsessão pelo tema. Luanda foi mais uma paragem da sua busca

AiNdA à procurA dA excelêNciA Jaime Fidalgo

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KameNe Traça

N

os anos 80 os Estados Unidos estavam a viver uma fase negra. As suas grandes empresas, nomeadamente as do sector automóvel, eram esmagadas pelas rivais alemãs e japonesas. A taxa de desemprego tinha subido para mais de 10%. Foi no meio desse ambiente de descrença e de desânimo que dois consultores da McKinsey, o jovem Tom Peters e o veterano Robert Waterman, lançaram um livro optimista, intitulado Na Senda da Excelência. A obra procurou descobrir os segredos das empresas norte-americanas bem-sucedidas. Os autores agruparam essas lições em oito categorias associadas a regras de gestão relativamente simples, tais como: “dê prioridade à execução”, “mantenha-se sempre junto dos seus clientes”, “descentralize as decisões” ou “invista apenas nos negócios que conhece”. Algumas dessas empresas “excelentes” foram à falência alguns anos depois — caso da Atari. A verdade é que, ainda assim, a mensagem teve um impacte tremendo junto dos gestores. Foi o livro certo, escrito na altura certa. Ainda hoje é a obra de gestão mais vendida de sempre.


“Eu digo coisas óbvias, mas que poucos fazem”, diz Tom Peters, um dos mestres da gestão mais aclamados em todo o mundo dezembro 2009 | 89


Foi a partir daí que os grandes pensadores da gestão “ascenderam” à categoria de gurus — termo importado da Índia que designa os guias espirituais. A “culpada” foi a circunspecta revista britânica The Economist, que, num dos seus temas de capa elegeu os gurus mais inf luentes do mundo dos negócios. O primeiro da lista, o falecido mestre austríaco Peter Drucker, unanimemente considerado o “pai” da gestão, sempre recusou tal rótulo. A discrição era a sua imagem de marca. Já a outros, tais como o irreverente e provocador Tom Peters, o rótulo de “guru” assentava-lhes como uma luva. Foi a partir dessa altura que os professores e os consultores, abandonaram os seus gabinetes climatizados e correram o mundo animando palestras, pelas quais cobravam pequenas fortunas. Tom Peters sempre foi um especialista nessa arte. Hoje, quase três décadas depois, ainda não perdeu o jeito.

Tom Peters ficou muito impressionado com a energia e o dinamismo empresarial de Luanda

Um animal de palco Tal como os amantes do rock preferem ouvir os seus grupos favoritos ao vivo, ou tal como os crentes não dispensam a missa do padre ao domingo, mesmo que 90 | www.exameangola.com

ele nunca diga nada de novo, também os executivos não vão aos seminários de Peters para escutar grandes “revelações”. Vão para se sentirem “provocados”, “sacudidos”, “energizados”, E o guru dos gurus é um verdadeiro profissional nessa matéria. O melhor de Tom Peters continua a ser a teatralidade da sua prestação em palco. Alternando as subidas do tom de voz com os sussurros intimistas. As caminhadas frenéticas entre a plateia com as pausas com que — olhando directamente um espectador — dramatiza uma história ou um exemplo. Até o modo caótico e desconexo com que desenvolve as ideias salta de um tema para o seguinte, ou apresenta slides que envergonhariam um aluno repetente do liceu. Tudo isto faz parte da sua estratégia para captar a atenção da audiência. Num dos momentos em que Peters parecia andar perdido em divagações pelo meio

O melhor de Peters é a teatralidade da sua prestação em palco. ele é um mestre na arte da comunicação

divuLgaçãO

CarLOs mOCO

Gestão Tom PeTers

da sala lembrou-se de Os coreanos perguntar a despropó- são, na opinião sito: “Está aqui alguém de Tom Peters, da Exxon?” Dirigindo- mestres na arte -se às pessoas com a da execução. mão levantada conti- A LG é um bom nuou: “Vocês podem ser caso de estudo os seres mais aborrecidos do mundo, mas sabem fazer as coisas bem feitas. Eu sei porque o meu cunhado trabalhou lá”, disse com o ar mais cândido do mundo. É assim Tom Peters. As tiradas surpreendentes fazem parte do charme. Boas práticas a Oriente Mas obviamente que com o passar dos anos Peters foi perdendo algum fôlego. A ausência de “ideias novas” foi patente em Luanda. Nos países industrializados, a braços com a crise financeira, onde o termo “guru da gestão” passou a ser uma palavra tão malvista como “dotcom”. Tom Peters já não é uma figura tão popular. Prova disso é o facto de no último ranking Thinkers 50, da autoria dos britânicos Stuart Crainer e Des Dearlove, que elegem anualmente os maiores pensadores da gestão, Peters ter descido da 7.ª para a 19.ª posição. Hoje, as suas ideias são mais “vendáveis” para os países em crescimento, onde os assuntos como a criatividade e a inovação são mais prementes. Daí que Tom Peters


O MUNDO DE TOM

AS OBRAS CHAVES

idAdE: 67 anos.

1982 — in sEArcH OF EXcELLEncE (Na Senda da Excelência) Escrito com Robert Waterman, foi o livro mais vendido de sempre da história da gestão. Os autores seleccionaram as lições de sucesso de 43 empresas norte-americanas (exemplos: IBM, General Electric e Procter & Gamble). A obra devolveu a auto-estima aos gestores americanos, que estavam a ser esmagados pela concorrência japonesa.

nAscimEnTO: Baltimore, Estados Unidos. OriGEns: Pai alemão (daí o gosto pela eficiência, os números e as estatísticas), mãe norte-americana. FAmÍLiA: Reside numa quinta de 650 mil hectares em West Tinmouth, estado de Vermont, com a esposa Susan Sargent, que é artista e empreendedora. FOrmAÇÃO: Licenciado em Engenharia Civil por Cornell e MBA por Stanford. Possui inúmeros doutoramentos honoris causa (inclusivamente em Moscovo). PrOFissÕEs: Serviu a Marinha norte-americana durante a Guerra do Vietname. Trabalhou no Pentágono e foi conselheiro antidrogas da Casa Branca em 1973 (durante 18 meses). Foi recrutado pela consultora McKinsey em 1974. Ficou na empresa até 1981, no escritório da Califórnia, onde chegou a partner (sócio). Desde o sucesso do livro Na Senda da Excelência que passou a dedicar-se apenas à escrita de livros e à animação de seminários pelo mundo fora. siTE: tompeters.com

1992 — LiBErATiOn mAnAGEmEnT (Reinventar a Gestão) Para muitos é o livro mais importante da carreira de Tom Peters. Tem dois problemas: o número de páginas (834) e um índice verdadeiramente caótico. Se o leitor esquecer a desorganização mental do autor encontrará dicas muito interessantes sobre como organizar a sua empresa para o século XXI. 1993 — crAZY TimEs cALL FOr crAZY OrGAniZATiOns (Tempos Loucos Exigem Organizações Loucas) A complexidade do mundo empresarial obrigou os gestores a serem cada vez mais rápidos e até a serem um pouco loucos (no bom sentido da palavra). Este livro foi baseado numa selecção dos melhores slides do autor durante as suas apresentações ao vivo para executivos. 1994 — THE PUrsUiT OF WOW! (Na Senda do WOW!) Hoje a maioria das pessoas pertence a equipas de projecto. Logo, cada um de nós deve procurar trabalhar em projectos que fazem a diferença. Do mesmo modo já não chega satisfazer as necessidades dos clientes. É preciso surpreendê-los. Levá-los a dizer WOW! 1999 – THE BrAnd 50. O artigo “The brand called you” (A marca chamada você) escrito para a revista Fast Company foi um dos mais lidos de sempre. Peters aconselhava os leitores a gerir a sua carreira como se de uma marca se tratasse. O livro, que recupera grande parte das ideias desse artigo, tornou-se uma bíblia do marketing pessoal.

KameNe Traça

Biografia: Corporate Man to Corporate Skunk (Stuart Crainer, 2001).

dezembro 2009 | 91


esteja actualmente a ser mais requisitado para conferências em países como a China, Índia ou Emiratos Árabes. O que acaba por ser uma vantagem para o espectador. Longe vão os tempos em que os exemplos citados por Tom Peters se limitavam aos Estados Unidos. Em Luanda ouvimos os mais rasgados elogios aos corea-nos, que considera verdadeiros mestres na arte da execução. “Há alguns anos alguém imaginava que a Hyundai ou a LG pudesse estar a competir pela liderança mundial nos automóveis e na

O empreendedor britânico richard Branson, diz que os negócios têm de dar às pessoas uma vida mais interessante

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Gestão Tom PeTers

electrónica? Os coreanos sonham tornarse o centro de design da Ásia. E olhem que os engarrafamentos em Seul ainda são piores do que em Luanda”, alertou. Exímio contador de histórias, Tom Peters referiu também o caso de Singapura, onde os serviços de emigração tudo fazem para reduzir o tempo de espera nos aeroportos. “Até têm uma jarra com doces para o visitante se servir enquanto espera. Imaginam algo semelhante nos aeroportos de Luanda ou de Nova Iorque?” Não se julgue, porém, que Peters fez o trabalho de casa e preparou um discurso “formatado” para a realidade angolana. Aliás, as referências concretas a Angola limitaram-se a algumas palavras de circunstância. Peters

O guru que está na moda

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THE FOrTUnE AT THE BOTTOm OF THE PYrAmid Livro que explica como as classes mais pobres são um mercado atraente para os empreendedores sociais

92 | www.exameangola.com

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c. K. PrAHALAd Professor da universidade de michigan. Chamam-lhe o verdadeiro guru devido à sua origem indiana.

felicitou o país pelas Peters elogia mudanças incríveis Luiza Helena, a que ocorreram nos últi- empreendedora mos anos. “Vocês pas- brasileira que saram por dramas que criou do zero eu nem sequer imagino, a rede de lojas mas conseguiram dar magazine Luiza a volta de uma forma notável.” De seguida, num discurso emocional, qualificou a eleição de Obama como “um dos momentos mais extraordinários da minha vida” e comparou o entusiasmo e o dinamismo que hoje se vive em Angola com o da primeira visita que fez à África do Sul sob a liderança de Nelson Mandela. Execução em vez de estratégia Antes de explicar quem era e ao que vinha (afinal tratava-se da sua primeira visita a Angola), Peters começou por dizer o que não era. “Não sou um guru. Não sou um estratega. Não tenho segredos para revelar. Considero, aliás, que a gestão não tem segredos. É tudo uma questão de bom senso”. Disse também que “não escreveu um discurso feito propositadamente para Angola porque hoje os problemas dos gestores são iguais em todo o mundo”. Afirmou que, desde há 43 anos, se limita, tal como o falecido Peter Drucker, a ser um observador profissional das organizações e a tentar melhorar a sua eficiência.


Tal como ele, Peters considera que “a arte da gestão não está na estratégia, nem na glorificação das qualidades do líder, mas, sim, em fazer as coisas certas”. Dito por outras palavras, a arte da gestão está na execução. A este propósito contou a história do milionário JP Morgan, segundo o qual o conselho mais precioso que jamais recebeu sobre gestão consistiu em escrever todos os dias uma pequena lista de tarefas e chegar ao fim do dia com a lista riscada. A importância da execução foi salientada várias vezes ao longo do seminário. “Hoje o importante é escolher uma direcção e corrigir a rota à medida que avançamos”, diz acrescentando: “As prateleiras das bibliotecas estão repletas de livros sobre estratégia e liderança, mas até hoje só li um bom livro (de Ram Charan) sobre execução.”

Para ser bom gestor é preciso gostar de gerir pessoas e de desenvolver o seu potencial ao máximo

FrAncEscA cATTOGLiO directora-geral da iir para Portugal e espanha, uma das maiores empresas de formação do mundo. a gestora italiana vive em madrid e inaugurou os escritórios da iir em espanha, Portugal, angola, moçambique e marrocos. iir AnGOLA abriu em 2007 e começou por oferecer seminários técnicos — por exemplo, na área de finanças, direito, logística ou recursos humanos — que decorrem no Hotel Trópico. Por ano organiza cerca de 60 cursos. TOm PETErs O primeiro seminário de Tom Peters em angola decorreu no Centro de Congressos de Talatona. Nada foi deixado ao acaso. “um evento deste tipo é sempre planeado com, pelo menos, um ano de antecedência”, diz Francesca. apesar do patrocínio do Bai e do elevado preço das inscrições, ela garante que o seminário não gerou lucros. “Pelo contrário, é um investimento em imagem, dado que Tom Peters é uma figura que atrai os gestores de topo.”

KameNe Traça

Gestão com rosto humano A motivação das pessoas é outro tema caro a Tom Peters. “A melhor estratégia de nada serve se as pessoas que estão na linha da frente — as que servem os clientes — não estão motivadas”, diz. Para ilustrar esta ideia cita o carismático empreendedor britânico Richard Branson, dono da marca Virgin: “Os negócios têm de dar às pessoas uma vida mais interessante e compensadora ou então não vale a pena fazê-los.” Cita também David Liniger, fundador da imobiliária Re/Max: “Estou no negócio de fazer pessoas bem-sucedidas”. Por fim, recorda a figura do líder da Southwest Airlines, Herbert Kelleher, que tinha como lema: “Trate os seus empregados melhor do que os consumidores.” A sua popularidade era tal que o sindicato, logo após a reforma em 2007, publicou anúncios de página inteira na imprensa americana agradecendo os seus 37 anos de carreira.

A especialista em eventos

Para Tom Peters não restam dúvidas de que para se ser um bom gestor é preciso gostar de gerir pessoas. “Desenvolver o potencial dos indivíduos, gerar paixão e entusiasmo no trabalho são as tarefas principais de um líder”, adverte. Desafia os gestores a fazerem o seguinte teste: “Diga o nome de três pessoas para cujo desenvolvimento pessoal você tenha contribuído desde que é chefe.” Por isso ele costuma aconselhar os clientes a recrutarem mais pessoas para a área das vendas (que estão mais perto dos clientes) do que para a do marketing (mais perto das estatísticas). Peters confessa ser um adepto da descentralização das decisões e dos negócios de pequena escala. “Sabia que a Alemanha exporta mais do que a China ou os Estados Unidos? O segredo está na pujança das pequenas e médias empresas alemãs”, diz. Daí que Peters seja um forte crítico das fusões que, na sua opinião, só têm um pequeno problema: “Nunca funcionam.”

dAvid nOrTOn O próximo evento vai decorrer no dia 20 de abril de 2010 e terá como animador o especialista david Norton, criador do modelo estratégico de avaliação de empresas — o balanced scorecard.

No que se refere à gestão de carreira, o autor do clássico Uma Marca Chamada Você, aconselha os gestores a nunca desperdiçarem a oportunidade de almoçar com colegas de outro departamento ou pessoas interessantes de outras áreas de actividade. E acrescenta: “E as pessoas realmente interessantes raramente falam sobre os negócios às refeições.” Cita o caso de Henry Ford, que se recusava a falar de automóveis nos almoços de negócios. Por oposição confessa ter ficado chocado com uma deslocação à Europa onde esteve três horas a falar com presidentes de empresas e eles nunca lhe falaram de pessoas. Só de quotas de mercado e cotações em Bolsa.” A importância de saber ouvir Seguidamente, Tom Peters passou a enumerar as qualidades dos bons líderes, tais como a tenacidade, a determinação e a atenção aos detalhes. “Imagine que tem que ser operado de urgência. Vai escolher dezembro 2009 | 93


um professor catedrático ou um cirurgião experiente? Os melhores cirurgiões são os que fizeram mais operações do que os outros.” Ilustra esta ideia com o seu próprio exemplo: “Muitos perguntam-me porque sou um bom speaker. A resposta é simples. Porque faço apresentações 30 vezes por ano. O segredo está na repetição”, diz, acrescentando, “e no facto de ter um pai alemão de quem herdei o gosto pelos números e uma mãe americana, muito sociável, que fazia amigos entre duas paragens de elevador”.

O próximo livro de Tom Peters vai ser dedicado a coisas simples, mas poderosas, como o sorriso de mandela

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Gestão Tom PeTers

Outra virtude é a capacidade de quebrar regras. De fazer coisas diferentes. Esse é um dos segredos de Silicon Valley, na Califórnia, onde nasceram firmas como a Apple ou a Google. No limite, Tom Peters aconselha os gestores não só a tolerar os fracassos, como até a celebrá-los. “Os capitalistas de risco sabem que das dezenas de negócios em que apostam só um será o vencedor.” A virtude mais elogiada por Tom Peters foi saber ouvir. A este propósito cita um livro recém-publicado nos Estados Unidos, com o título What Doctors Think (Como Pensam os Médicos), de Jerome Groopman. Os médicos argumentam que a melhor fonte de informação sobre os doentes são os próprios doentes. No entanto, em média, os médi-

O biógrafo de Tom Peters

divuLgaçãO

THE TOm PETErs PHEnOmEnOn (O FEnÓmEnO TOm PETErs) a primeira biografia sobre Tom Peters conta a história de como o antigo gestor se tornou um psicólogo das organizazações.

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divuLgaçãO

sTUArT crAinEr O autor britânico publica, com des dearlove, um ranking dos maiores gurus da gestão.

cos só ouvem os doen- “A eleição de tes sem os interromper Obama foi algo durante 18 segundos. inimaginável”, “Se fizéssemos o mesmo diz Peters. estudo para os gesto- Prova que vale res o tempo seria ainda a pena ousar e menor. Os chefes não quebrar regras ouvem os subordinados. Ouvir significa ter um cartaz na mão onde se lê: ‘Você é importante para mim’.” Regras de senso comum Recordando o passado, Peters confessa que foi mais fácil a passagem pela Marinha norte-americana durante a Guerra do Vietname do que trabalhar no Pentágono, na Casa Branca ou mesmo na McKinsey. “Odeio a burocracia”, confessa. Em retrospectiva considera o MBA, que concluiu em Cornell, “um diploma perfeitamente inútil”. Por oposição adorou o período que viveu em Sillicon Valley e nada lhe dá mais prazer do que os dias na sua quinta em Vermont. Confessa que escreveu In Search of Excellence numa altura em que estava furioso. “Com tantas pessoas espertas, tantos jovens com MBA, porque é que os norte-americanos estavam a perder empregos?” Hoje, ainda continua zangado, mas o motivo é outro: “O que eu digo é óbvio. Tão óbvio que não percebo porque ninguém o está a fazer?” Alguém sabe a resposta? b



Gestão Tom PeTers

A arte do gestor está na execução Tom Peters é o mais admirado, controverso e irreverente dos mestres da gestão. a revista The Economist chamou-lhe “o maior amigo e o maior pesadelo dos gestores” depois desta crise mundial julga que as pessoas estão mais cínicas em relação às grandes organizações? Sim. Embora já há muito tempo que as pessoas não têm uma opinião positiva sobre as grandes empresas. Esta crise foi mais grave pois resultou da ganância e da falta de carácter das pessoas. Como é possível que os executivos das três maiores empresas de automóveis americanas tenham ido pedir dinheiro ao Congresso dos Estados Unidos a bordo dos seus jactos privados? A Chrysler foi comprada por 36 mil milhões de dólares. Nove anos depois foi vendida a custo zero. Perdia cerca de 20 milhões de dólares por dia. Como é possível que o seu presidente diga à comunicação social que não se sente responsável pelas actuais dificuldades da construtora? É fácil ser líder quando o mercado sobe. Mas é nas alturas de dificuldades que se vê o verdadeiro carácter das pessoas. Quase 30 anos depois de Na Senda da Excelência crê que a excelência migrou para o continente asiático? Não subestimem os Estados Unidos, que sempre tiveram uma enorme capacidade de regeneração. O Japão está finalmente a recuperar da estagnação económica. A China está cada vez dinâmica, mas aquela ideia de ser a “fábrica do mundo” vai acabar. Todas as pessoas têm sonhos e aspirações e anseiam melhorar a sua qualidade

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de vida. Mais cedo ou mais tarde acredito que haverá uma revolução social na China. Neste seminário disse que preferia a execução à estratégia. porquê? As pessoas estão fartas de conversa fiada. Querem líderes genuínos, com carácter, que façam coisas, em vez de se limitarem a falar delas. Um bom exemplo é a minha amiga Luiza Helena, que criou, a partir do nada, uma das maiores cadeias de retalho do Brasil, a Magazine Luiza. Ela nem sequer tem um curso superior. Lidera através do exemplo. Trata os colaboradores como se fossem família. E a sua empresa é considerada um dos melhores locais para trabalhar. As universidades também têm culpa da actual crise de valores dos executivos. As faculdades ensinam teorias sobre estratégia e liderança. Mas os alunos, quando saem, não estão minimamente preparados para a execução. Ninguém lhes ensinou essa parte. Há quem diga que já há muitos anos que não têm surgido livros com ideias novas sobre gestão. concorda? Não sou particularmente fã de best-sellers recentes como a Estratégia de Oceano Azul, de Chan Kim e Renée Mauborgne, ou Feitas para Durar, de Jim Collins. Estou em desacordo com ambos. Também não concordo que o “mundo esteja plano”, como escreve Thomas Friedman.

Mesmo na zona euro, os países continuam a ser importantes. Creio que é mais interessante olhar para os casos reais do que para a teoria. Nesse aspecto o livro mais genial que li ultimamente é de Prahalad, The Fortune at the Bottom of the Pyramide (A Riqueza na Base da Pirâmide). Os casos narrados no livro de empreendedorismo social são os mais fascinantes e inspiradores que já li. Acredito que o futuro dos negócios passe por aí. Pelo microcrédito, pelo empreendedorismo social. de que fala o seu próximo livro? É sobre a excelência no século xxi? O livro já está pronto. Chama-se The Little Big Things (As Pequenas Grandes Coisas). Vai ser lançado em Fevereiro de 2010. Explica como as pequenas coisas podem fazer a diferença. Como um simples sorriso pode mudar o mundo. Recorda, por exemplo, que Nelson Mandela encantou os guardas prisionais e nunca procurou a vingança após a queda do apartheid. Recorda que Benjamin Franklin seduziu a realeza francesa com as suas boas maneiras e conquistou o apoio da França na guerra da Independência contra a Inglaterra. Eu creio que os requisitos de liderança para o século XXI são iguais aos que sempre foram. As pequenas coisas é que fazem a diferença. Por isso, seleccionei 163 ideias, simples e práticas, para se perseguir a excelência nos dias de hoje. b


O próximo livro de Tom Peters, The Little Big Things (As Pequenas Grandes Coisas) será lançado em Fevereiro de 2010

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KameNe Traça

As pessoas estão fartas de conversa fiada. Querem líderes genuínos que façam coisas, em vez de se limitarem a falar delas.


gestãO Liderança

O fim das celebridades

A crise mundial deu origem a uma nova geração de líderes — ganham menos, descentralizam mais as decisões e não têm tempo para o marketing pessoal Lucas Amorim e Jaime Fidalgo

O

gestor Frank Blake não gosta de ser fotografado. Ele assumiu, há dois anos, a presidência da Home Depot, a segunda maior rede de lojas dos Estados Unidos, com a facturação de 77 mil milhões de dólares. Aos 59 anos, Frank Blake tem o hábito de fazer visitas semanais a quatro das cerca de 2 mil lojas da rede. Nessas ocasiões ele procura passar o mais despercebido possível. Além da discrição Blake é conhecido por saber partilhar de decisões e ouvir as sugestões dos empregados. Hoje os gerentes da Home Depot têm autonomia para escolher os produtos que estarão em promoção nas suas lojas. A postura mais humilde de Blake diverge do estilo centralizador do antecessor, Robert Nardelli (que hoje está à frente da combalida Chrysler), um executivo formado na General Electric (GE), considerado, até há poucos anos, uma estrela do mundo empresarial. Demitido em Janeiro de 2007, Nardelli tinha recebido um bónus anual de 38 milhões de dólares — apesar das vendas da GE terem caído 5%. Frank Blake ganha 25% do salário do seu antecessor, apesar de ter obtido melhores resultados. É possível relacionar o temperamento de Blake com os resultados da Home Depot? Isoladamente, não. O facto é que depois de tantos escândalos que envolveram altos executivos do mundo empresarial, os líderes low profile estão a ser cada vez mais valorizados.

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Um caso ainda mais sintomático é o de Ursula Burns, 50 anos, actual CEO da Xerox, a primeira afro-americana a liderar uma das maiores empresas dos Estados Unidos e a 14.ª mulher mais poderosa do mundo dos negócios, segundo a Forbes. Burns entrou na Xerox como técnica em 1980. Subiu os degraus todos da empresa até chegar a CEO. Tem a espinhosa missão de inverter a queda dramática na vendas de impressoras, a braços com a descida de preços e a perseguição dos ecologistas. O seu estilo de gestão franco e bem humorado e o conhecimento profundo da tecnologia, fazem com que os peritos lhe augurem êxito na missão. Líderes carismáticos perdem adeptos Hoje, os líderes centralizadores estão a perder adeptos no mundo dos negócios. Os presidentes estão a colocar em prática os princípios que antes apenas diziam em discursos — tal como dividir decisões, assumir os erros e estar pronto para

Partilhar decisões, assumir os erros e adaptar-se à mudança são requisitos da nova geração de líderes

mudar de estratégia. “No actual contexto económico é impossível aos presidentes continuarem a agir por sua conta e risco”, afirma Elisabeth Marx, sócia da Heidrick & Struggles, em Londres. Uma sondagem a 190 presidentes em todo o mundo, realizada pela Conference Board, mostra que houve uma mudança nas prioridades dos executivos. Em Agosto, apenas 24% dos entrevistados consideravam importante ser flexível e ágil para se adaptarem à mudança. Em Outubro, a percentagem passou para 47%. Segundo Rakesh Khurana, especialista em liderança da Universidade de Harvard, a crise financeira marcou o fim das celebridades. Esta é uma alternância que ocorre de tempos a tempos, à medida que o contexto do mercado exige um novo perfil de liderança. No início do século passado, os presidentes de grandes empresas eram essencialmente empreendedores, como Henry Ford. Entre as décadas de 30 e 70, surgiram executivos preocupados em manter o legado dos fundadores, como Alfred Sloan, presidente da GM até 1956. As celebridades despontaram nos anos 80 devido à pulverização de capital das empresas. Sem um patrão a quem obedecer, os executivos tornaram-se “todo-poderosos” admirados dentro e fora das empresas. Jack Welch, ex-presidente da GE, foi o maior exemplo dessa geração de líderes carismáticos. Em duas décadas, Welch multiplicou o valor de mercado da empresa por 40 vezes — mas tam-


ursula burns, ceo da Xerox desde Junho, é a primeira afro-americana a liderar uma das maiores empresas dos estados unidos

Os visionários deram lugar aos pragmáticos O perfil dos presidentes já começou a mudar

AgorA TrAbALho em equipA Num mundo mais complexo, o presidente precisa de ouvir mais conselheiros para tomar decisões. mudAnçAs de esTrATégiA Executivos com coragem para admitir equívocos e rever estratégias adaptam-se melhor à incerteza. Visão de heLicópTero O presidente precisa de lidar com os interesses de um número cada vez maior de accionistas assim como de consumidores, ONG e órgãos reguladores. ópTicA de Longo prAzo Os bónus associados ao desempenho em Bolsa foram substituídos pelas metas e objectivos de longo prazo.

AnTes poder cenTrALizAdo No passado, o executivo centralizava as decisões. A estratégia era decidida na cúpula da organização decisões soLiTáriAs Considerava que era um sinal de fraqueza admitir os seus erros— e insistia em decidir sozinho, mesmo que as suas orientações se revelassem inadequadas.

XEROX

púbLico resTriTo O presidente só prestava contas aos accionistas e não avaliava o impacte das suas decisões junto dos funcionários, clientes e a comunidade em geral.

bém ficou célebre por concentrar o poder e por multiplicar os seus próprios rendimentos na mesma proporção. As primeiras críticas ao perfil desses executivos remontam aos escândalos contabilísticos de empresas como a Enron e a Worldcom, em 2001. Desde então a pressão dos órgãos reguladores, dos investidores, das ONG e dos próprios consumidores obrigou à maior descentralização no poder e a um controlo de riscos mais apertado.

A “ressaca” da crise colocou limites inéditos noutra faceta das celebridades: os salários milionários. Segundo o Wall Street Journal, 15 presidentes de empresas americanas receberam 100 milhões de dólares em bónus, nos últimos cinco anos. Quatro deles lideravam empresas que pediram a falência. Richard Fuld, presidente da Lehman Brothers, recebeu 300 milhões de dólares em salários e bónus em oito anos à frente da instituição — até ao pedido de

gAnhos imediATos Os sistemas de recompensa levavam os executivos a procurar o risco e os resultados de curto prazo.

falência em 15 de Setembro. Outra pesquisa de Harvard revela que a confiança nos homens de negócios está em queda livre. Em 2007, 58% dos executivos confiavam nos seus presidentes. Este ano o número desceu para 45% . “Os líderes vão precisar de substituir a arrogância pela humildade e o pragmatismo”, diz Sadie Moore, coordenadora da pesquisa. “Um óptimo meio é estimular a crítica e dar poder aos funcionários para tomarem decisões.” b dezembro 2009 | 99


José Loureiro, 35 anos, empresário da construção: “No início vivi com apenas 250 dólares por mês”

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Carlos MoCo

Gestão RecuRsos humanos


Gestão sem fato e gravata

o seu dia-a-dia é passado entre diversas obras. Começa sempre cedo e acaba tarde. Controla as equipas e acompanha os clientes. a sua empresa, JlM, já dá que falar. Em luanda conhecem-no por Joselito. lições de empreendedorismo na primeira pessoa João Armando

J

osé Manuel Loureiro, conhecido por Joselito, tem apenas 35 anos de idade. Atrás de si uma vida que começou em Luanda, na Maianga, passou por Malange, Lisboa e o regresso a Luanda. Vem de uma família humilde, agarrou-se primeiro aos estudos e depois ao trabalho. Hoje é um dos empreendedores da cidade, circula rápido entre as diversas obras que está a fazer, resolve os problemas dos trabalhadores e cativa os clientes. Muitos olham para a sua aparência jovem e não acreditam que seja capaz de cumprir os trabalhos. Joselito sabe lidar com isso e diz que “ser empresário não é andar de fato e gravata. É ser capaz de fazer as obras que orçamenta, cumprir os prazos que combina e honrar as obrigações a que se compromete. Mesmo que chegue de chinelos e calções”. Fez a formação em Portugal. “Fui para Lisboa, em 1993, para estudar, mas sempre tive de me auto-sustentar. Venho de uma família humilde, nunca tive contacto com o meu pai e a minha mãe é que nos criou. Desde cedo que tive de estudar e trabalhar. Numa primeira fase fazia trabalhos de reposição nos hipermercados depois da escola. Nas férias ia para a construção civil pois ganhava-se mais. Um dia acabei por deixar os estudos e ficar apenas com o trabalho. Habituamo-nos a ter dinheiro para as nossas coisas e não voltamos mais atrás.”

Com apenas 21 anos, o patrão reconheceu-lhe qualidades para assumir sozinho as empreitadas. Desafiou-o a trabalhar por si. “Comecei como subempreiteiro”, confirma. Mais tarde, antes de voltar a Angola, vai frequentar um curso ao CEFIC, onde para além da construção civil aprendeu noções de gestão. Quando voltou a Luanda, “como irmão mais velho, cabia-me a responsabilidade de reunir a família”, estava preparado para montar o seu próprio negócio.

o marketing da empresa foi baseado no passar a palavra. Naquilo que os clientes diziam de nós Os primeiros tempos não foram fáceis. Começou a trabalhar com um amigo, depois com o cunhado, mas as coisas não andaram bem. “Tive muitos meses em que não ganhava mais de 250 dólares. Era a minha irmã que me ajudava. Muitas vezes, lá fui pedir-lhe ajuda. Ela esteve sempre presente, até porque via o que estava a fazer. Sabia que estava a lutar e que, mais tarde ou mais

cedo, ia conseguir a minha independência profissional. Também tive o cuidado de lhe contar tudo o que ia acontecendo.” O negócio começou a ganhar corpo quando a “dona Amélia”, que o conhecia de Portugal, o desafiou para remodelar a casa de banho da sua habitação em Luanda. “Já lá tinha estado a Mota-Engil, mas ela não ficou satisfeita. Eu fiz o trabalho e tudo correu bem. Ela ficou satisfeita e, como conhecia muita gente, recomendou-me a outras pessoas. Foi assim que comecei a fazer as primeiras obras com regularidade. Primeiro, em termos individuais e depois, como empresa.” Em 2007, já com uma actividade importante funda a JML Limitada, o que lhe permitiu avançar para outras empreitadas. “O marketing da empresa foi aquilo que os clientes iam dizendo de nós. Uns falavam com outros e as pessoas apareciam a pedir que fizéssemos as suas obras. Fomos vivendo sempre assim, sendo a nossa vocação trabalhar com particulares, pois com empresas é mais complicado. Há sempre alguém no meio que faz a ponte e que recebe do cliente e, depois, demora muito tempo para pagar. Experimentei uma vez. Com um engenheiro que me arranjou o trabalho e não correu nada bem. Ainda hoje não recebi a totalidade do que estava combinado. As pequenas empresas não têm força negocial. Quando damos por dezembro 2009 | 101


Gestão RecuRsos humanos

O que correu mal

O que correu bem

o facto de ser jovem não ajuda a ganhar a confiança dos clientes.

Muitos clientes sentem-se enganados por quem lhes fez obras. É preciso estar sempre no terreno. Quando se faz um mau trabalho isso passa de boca em boca e destrói a reputação.

Ter sempre um fundo de maneio, de forma que a actividade regular não dependa dos recebimentos dos clientes.

Fazer gestão obra a obra. Não utilizar os dinheiros de um cliente para fazer face às necessidades de outras empreitadas.

Parte do pessoal não tem hábitos de profissionalismo e de qualidade no trabalho. Existe uma rotação muito elevada de trabalhadores.

só aceitar obras se já tiver equipamentos suficientes para as realizar. Nunca depender dos equipamentos e das ferramentas de terceiros.

o custo dos materiais, para quem compra em pequenas quantidades, dificulta a competitividade ao nível dos orçamentos com as grandes empresas. Ter escala e poder negocial é importante neste negócio.

apostar na satisfação dos clientes. assumir os problemas e oferecer rapidamente soluções. o marketing faz-se no passar a palavra.

sozinho é difícil crescer. a dada altura é preciso arranjar um sócio.

ser rigoroso nos prazos. só aceitar novos trabalhos quando temos a certeza de conseguir cumpri-los dentro do tempo pretendido.

nós temos a empreitada completa, mas o dinheiro vem sempre no dia a seguir. Dão-nos 300 ou 400 dólares para nos irem entretendo quando nos vêem desesperados. Telefonei, falei, fui lá pessoalmente, mas ele acabou por não pagar. Desisti porque tenho muito trabalho e não podia lá ir constantemente. Desde então não aceito trabalhar com intermediários.” Só aceito trabalhos que posso cumprir No início a empresa fazia apenas acabamentos ou pequenas reparações. “Não tínhamos equipamentos para empreitadas mais complexas. Mas desde o início que fui tirando parte do que ganhava para um fundo, sempre acreditei que temos de ter uma base para não dependermos apenas dos recebimentos dos clientes, mas também para ir comprando os equipamentos necessários para realizar cada obra. Não é solução depender de equipamentos e utensílios de terceiros”, diz Joselito de forma convicta “recusei algumas obras porque não estava preparado. Sabia que tinha de passar por esta fase para depois poder agarrar obras de outra dimensão”. A tranquilidade do discurso contrasta com a “garra” com que encara a profissão. “Tenho a noção precisa daquilo que sou capaz de realizar. Prefiro não aceitar um trabalho se souber que não tenho condições de o fazer nos prazos estipulados. Em Angola, a maioria das empresas trabalha ao contrário. Aceitam tudo, recebem os 50% dos clientes, desaparecem e nunca mais cumprem o prometido. Arrastam as obras, enganam nos materiais, compram 102 | www.exameangola.com

mais baratos, enfim uma série de coisas que levam a que as pessoas tenham uma enorme desconfiança com as empresas de construção civil.” Dá-nos alguns exemplos: “Vi amigos meus nesta actividade gastarem o dinheiro das obras para comprar carros, sair com miúdas, esquecendo-se que depois esses valores têm de ser repostos. Deslumbram-se com a quantidade de dinheiro que movimentam, e acabam por fugir. Vi perderem os carros, as famílias, tudo o que era importante para sua vida. A gestão deve ser obra a obra. Sem misturar os dinheiros. Apenas os lucros, depois de entregues os trabalhos, é que são mis-

Prefiro não aceitar um trabalho se souber que não o conseguirei fazer no orçamento e no prazo combinado turados. E ainda assim devemos ter um fundo para não dependermos de um ou outro recebimento.” Faço orçamentos rigorosos e detalhados Tudo começa pelo tipo de orçamentos que faz. Rigorosos e muito especificados, o que funciona como sinal de confiança para os clientes. Procura apurar os custos e proveitos de cada operação e quais são

as actividades mais rentáveis. Assim, se necessário, faz correcções nos próximos orçamentos. “Eu apresento ao cliente os preços por cada actividade e cada material. Foi assim que aprendi a trabalhar.” Hoje tem várias obras e 20 trabalhadores permanentes. “Nalgumas áreas mais específicas (ladrilhador ou electricista, por exemplo), contrato pontualmente. São excelentes profissionais, mas que trabalham por sua conta”, explica, acrescentando, “para trabalhos de maior responsabilidade e qualidade, escolho aqueles que tiveram formação especializada. Escolho os mais responsáveis, que não faltam e aos quais não é necessário andar sempre a explicar o que é para fazer”. Quando olha para a frente, diz convicto: “Tenho paciência para atingir os objectivos. Sobe-se na vida de forma gradual. Demorei cinco anos para ter a carrinha que sonhava e, apesar de ter tido muito dinheiro nas mãos, só a comprei quando percebi que tinha condições para isso.” Reconhece que o seu negócio é rentável. A minha actividade tem crescido passo a passo, de forma segura e gradual. Confessa que neste momento procura um sócio, “tenho a noção de que sozinho é difícil crescer. Não posso estar em todo o sítio ao mesmo tempo. Controlar as obras, acompanhar os clientes, obriga a uma disponibilidade de tempo que me vai faltando. É preferível ter mais um sócio e crescer, do que ficar sozinho e manter a mesma actividade”. E larga um sorriso cheio de convicção: “Por que não posso ter uma Soares da Costa? Com outro nome, claro!” b


Gestão2.0 Por JAime fidALgo

A maldição do petróleo os países produtores de petróleo não oferecem uma boa qualidade de vida. a excepção é a Noruega. angola deve aprender com o exemplo, não copiá-lo

O quarto, tem que ver com as disparidades sociais. O petróleo paga melhores salários, atrai os melhores talentos e “desertifica” os restantes sectores da economia. O último argumento, prende-se com o poder e a cobiça. Os países com elevados recursos naturais são os alvos mais fáceis de conflitos armados (exemplo, Nigéria) ou da ascensão de líderes populistas (exemplo, Venezuela). Como em todas as teorias há sempre exemplos contrários. Os países africanos do final da tabela do Índice de Desenvolvimento Humano da ONU não têm petróleo. Mesmo assim são pobres. Pelo contrário, no topo da lista está a Noruega, maior produtor de petróleo da Europa e um exemplo mundial de boas práticas no sector. Desde 1971 que a Noruega aplica as receitas num fundo que já vale 147 mil milhões de dólares — baseado maioritariamente em aplicações no exterior — e que se destinam ao benefício das gerações futuras. Angola tem muito a aprender com as lições da Noruega. Mas isso não implica necessariamente a repetição do modelo. Os escandinavos são um exemplo no que se refere à justa redistribuição dos rendimentos. A taxa de literacia dos noruegueses é de 100%. Angola ainda está longe desse patamar. Logo, o Governo faz bem ao aplicar 30% do orçamento nos gastos sociais. Também é sensata a opção de aplicar uma parte substancial dos recursos gerados pelo petróleo na reconstrução nacional e na diversificação da economia. E está prevista a constituição de um fundo soberano similar ao da Noruega. Faltam dois eixos fundamentais. O primeiro, é o combate às assimetrias regionais. Tal como nos Estados Unidos só se autorizam casinos nos estados mais pobres, também Angola deve alocar mais recursos para projectos no interior. O segundo eixo — o mais importante — é a educação. Nessa área, como se vê no orçamento para 2010, o Governo continua tímido. Se o investimento na educação não se tornar uma prioridade nacional Angola estará, ao contrário do que faz a Noruega, a hipotecar o futuro. b aFP PHoTo/HassaN aMMar

A

tese da “maldição” surgiu a partir de uma investigação de 1995, intitulada “Natural resource abundance and economic growth” (Abundância de recursos naturais e o crescimento económico) dos professores de Harvard, Jeffrey Sachs e Andrew Warner. Os autores, com base no estudo de 95 países, mostraram que os países com maior abundância de recursos naturais crescem menos do que aqueles em que a natureza foi menos generosa. São exemplos de sucesso a Suíça e o Japão, que não têm recursos naturais, versus o insucesso da maioria dos países de África e da América Latina. Recentemente, este tipo de análise tem incidido sobre o petróleo e a qualidade de vida das populações. Se olharmos para o desempenho dos países da OPEP, no Índice de Desenvolvimento Humano da ONU, vemos que o mais bem colocado, o Koweit, surge num discreto 31.º lugar. A poderosa Arábia Saudita está no modesto 59.º Nos países africanos a Líbia está na 55.ª posição, a Argélia na 104.ª, Angola na 143.ª e a Nigéria na 158.ª A que se deve esse paradoxo que muitos apelidam de uma verdadeira “maldição”? Os economistas alertam para chamada “doença holandesa”. Nos anos 60, o país descobriu jazidas de gás natural. O crescimento de exportações que se seguiu, trouxe um afluxo de dólares à economia que conduziu à valorização da moeda local. Em consequência, as importações ficaram mais baratas e as exportações mais caras. Logo a Holanda deixou de ter uma indústria forte e competitiva. Um segundo argumento, é que quando a economia depende de um único produto (“pôr os ovos todos na mesma cesta”) se o seu preço cair a economia entra automaticamente em crise. Foi o que aconteceu com Angola com a queda simultânea do petróleo e dos diamantes. Um terceiro argumento, é que quando a economia recebe “dinheiro fácil” aumenta a propensão para o endividamento. Imagine que o leitor vai receber uma mesada elevada todos os meses. É natural que passe a gastar mais e até a endividar-se.

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ExECuTIVE CENTEr

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Os papa-prémios A campanha dos Simpsons angolanos foi notícia em várias publicações como a The Economist ou o The New York Post. Mais um reconhecimento a somar às dezenas de prémios já conquistados pelos criativos da Executive Center. Nuno Fernandes, CEO do grupo, explica o segredo Helena rodrigo costa

I

nesperado. De repente estavam no palco dos media nacionais e internacionais. A campanha dos Simpsons angolanos correu mundo com uma velocidade e impacte que espantou os seus criadores. Foi com surpresa que a equipa criativa da Executive Center (Diogo Peixoto, Miguel Reis e Andersson Nielson) viu o seu trabalho estampado em órgãos de comunicação social como o New York Post, Economist.com, Daily Mail, The Sun, Telegraph online, Diário de Notícias, El Correo Digital e Reuters. 104 | www.exameangola.com

Nos Simpsons angolanos o popular Homer surge completamente calvo, Lisa ostenta tranças tradicionais no cabelo e a pequena Maggie usa chinelas. Embaixadores da marca Angola Desenvolvida para a DSTV, e produto de uma ideia relativamente simples, a imagem dos Simpsons angolanos deu projecção internacional à marca Angola, tão rapidamente e com um impacte que muitas outras campanhas de maior dimensão têm dificuldade em alcançar.

Nuno Fernandes, CEO do Executive Center Group e da agência de publicidade Executive Center não esconde o que sente. “É evidentemente um sentimento de orgulho vermos o nome da Executive citado internacionalmente, mas sentimo-nos muito mais orgulhosos por sermos uma empresa angolana”, assegura. “A marca Angola tocou o mundo inteiro”, reforça. Para este angolano, desde sempre ligado à comunicação, “esta campanha está a dizer que Angola tem capacidades internas, estamos a passar a imagem de que as


KAMENE TrAÇA

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empresas angolanas podem ter excelentes técnicos, angolanos e estrangeiros, e criar produtos de grande qualidade” 22 prémios no Festival de Maputo Foi com o mesmo sentimento de orgulho que, em Maio deste ano, viu a Executive Center conquistar 22 prémios no Festival Internacional de Publicidade de Maputo, entre eles um grande prémio e nove de ouro, e sair como a grande vencedora do evento. Campanhas como “Sem Makas” e “Pontes para Quê” para a Toyota; “Simpsons”

e “Betty Feia” para a DSTV; “As Gotas” para a Cerveja Cristal; “Mais Branco Não Há” para a Soklin, entre outras, conquistaram o júri e elevaram a marca Angola, assim como a Executive Center ao primeiro lugar do pódio.

Segredos não há. O que conta são as pessoas. “Mais do que o modelo e as práticas de gestão, a grande contribuição para o nosso desempenho são as pessoas que formam a Executive Center”, destaca. Deter um capital humano de elevado nível profissional, estável, maduro e tranquilo é, para Nuno Fernandes, o factor chave para a posição de referência que a sua empresa ocupa no mercado ango-

a equipa de criativos: miguel reis, Diogo Peixoto, antónio Páscoa e claudio rafael

Pessoas fazem a diferença Nuno Fernandes, que foi o presidente do júri do Festival, sublinha que “estes prémios são importantes para nós, mas são igualmente muito importantes para o país”.

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ExECuTIVE CENTEr

MARKETING Publicidade

Radiografia do grupo Data De NascimeNto 1992 FuNDaDores Júlio Guerra e Nuno Fernandes ParticiPaDas • executive center — Agência de publicidade nascida em 1992. • espaços & Publicidade — Impressão Digital e Espaços Publicitários. • edicenter — Edição e Publicação das revistas Austral (revista de bordo da TAAG) e Economia & Mercado (economia). • Nova Lua — Produção Audiovisual e Fotografia. • ioNa — Agência de Comunicação e Marketing (Portugal, criada em 1988). executive ceNter Distinções Prémios no Festival Acácia de Ouro e nos festivais internacionais de publicidade em Angola, Espinho (Portugal), Maputo (Moçambique) e Namíbia. Principais clientes Sonangol, Toyota, Compal, Bongo, Soklin, DSTV, KIssama Lodge, Cristal, Carlsberg, TPA, TCG, Sol, Sistec. Fontes: Wikipedia + Site do grupo (http://grupoexecutive. wordpress.com).

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lano. “Temos um ADN muito próprio, uma empresa com história e valores, e somos uma organização com uma grande tranquilidade interna, onde os quadros gostam de estar”, revela. “Queremos que as nossas equipas sejam proactivas, que interajam umas com as outras, que se formem no quotidiano de trabalho”, adianta. É neste espírito que “muitas das pessoas que são contratadas no exterior assumem o dever moral de formar alguns dos quadros que aqui se encontram, com menos formação ou experiência. Este espírito tem-nos permitido consolidar, ao longo dos anos, o nosso patamar de serviços”, sublinha.

cado externo para ir procurar bons profissionais, capazes de apoiar as empresas angolanas a desenvolver trabalhos de excelência”, sustenta Nuno Fernandes. Confessa ter dúvidas sobre algumas decisões de contratação de empresas externas para realizarem trabalhos que poderiam — se lhes fossem facilitadas as condições de recrutamento externo — ser desenvolvidos internamente. Por isso questiona o facto de “na área da comunicação se contratarem empresas estrangeiras para se desenvolver acções de comunicação sobre o país, sem antes se averiguar se as empresas angolanas, individualmente ou em parceria, têm capacidade para isso”, diz.

Vale a pena importar talento… Como em tudo, também existem os espinhos. Nuno Fernandes confessa a “imensa dificuldade em recrutar profissionais qualificados, apenas pelo facto de serem estrangeiros”. Por isso defende que “não se deve cair no erro de considerar que as empresas angolanas não devem contratar profissionais estrangeiros, pois isso dá origem a distorções”. Pelo contrário, sustenta que “temos de ter a visão e a possibilidade de, sempre que necessário, recorrer ao mer-

… Mas há que apostar nos nacionais Na sua opinião “fazer publicidade em Angola obriga a que a equipa criativa conheça Angola e a sua realidade. Não apenas para saber utilizar as ferramentas profissionais, mas igualmente para sentir e respirar a nossa angolanidade”, defende. Nuno Fernandes acredita também que as questões mais globais e universais entram bem no mercado publicitário angolano, mas “na maioria das vezes, é necessário pensar a publicidade em angolano”, garante.


Nuno Fernandes,

CEO do Executive Center Group

Carteira diversificada de negócios O Executive Center Group, nasceu, em 1992, como uma empresa que pretendia actuar na área da comunicação. “Começámos pela parte gráfica, com a edição de revistas, livros e brochuras, procurando dar resposta às necessidades do mercado, já que em 1992 o país estava exactamente a virar-se para a comunicação, e a publicidade era algo de muito novo”, lembra. Com a crescente procura de serviços na área da publicidade, começaram a evoluir para esse negócio. Hoje a Executive Center é uma das maiores empresas de publicidade em Angola. O Executive Center Group, por sua vez, está presente na área editorial, na produção de conteúdos audiovisuais e no aluguer de espaços de outdoor. “De um grupo inicial de três pessoas, hoje somos cerca de 200 funcionários”, diz.

A campanha mais marcante Ao longo destes 17 anos, algumas campanhas merecem-lhe um carinho especial. Quando lhe pedimos para nomear apenas uma, não vacilou. “A campanha para a Comissão Nacional Eleitoral, em 2008. Não queremos chamar a nós o crédito dos 83% de cidadãos que foram às urnas, mas não tenho dúvidas de que a campanha ajudou a criar um estado de espírito de responsabilidade, de participação e de compromisso com o futuro de Angola”, sustenta. Nuno Fernandes sente que “fazer uma campanha com aquela responsabilidade, com o número de peças que teve, elaboradas em dois meses e meio, e com a qualidade que foi reconhecida pelas Nações Unidas, é uma das nossas maiores bandeiras”. Percebe-se a emoção quando acrescenta “quando ouvimos o hino dessas eleições, também ele fruto do nosso trabalho, sentimos que o país mostrou que pode realizar acções de alta qualidade, capazes de tocar fundo nos valores e princípios dos angolanos. Esta campanha tinha o nosso ADN, cheirava a angolanidade”, afirma. Foi ainda óptimo, e extremamente gratificante, ter juntado tantas personalidades de referência da vida do nosso país. b

exPeriÊNcia ProFissioNaL Começou na rádio Nacional de Angola como jornalista e chegou ao cargo de chefe do Departamento de Informação. Pelo caminho foi chefe do departamento de relações Internacionais e Opinião Pública da mesma estação. Quando deixou a rádio, foi jornalista e participou na reestruturação da Angop. Seguiu-se a curta participação no esforço de reestruturação das Edições Novembro, até que foi convidado a dirigir a comunicação da TAAG, cargo que ocupou durante 12 anos. executive ceNter Em 1992 iniciou o projecto do Executive Center Group onde se encontra, até hoje, de alma e coração. Confessa que “isto é o que mais gosto de fazer, embora actualmente esteja muito mais tempo dedicado às questões da gestão, do que propriamente ao jornalismo e à publicidade, mas esse é o meu meio natural”, confessa o CEO. Talvez seja o efeito de mais um ADN que lhe corre nas veias, tão ou quase tão forte quanto a sua própria angolanidade.

KAMENE TrAÇA

Remata sustentando que “mais do que contratar empresas estrangeiras, o que é importante é permitir que as firmas angolanas sejam agentes activas no seu mercado, e que tenham capacidade para recrutar bons profissionais — quer nacionais, quer estrangeiros capazes de criar valor e apoiar a formação dos quadros angolanos”.

ExECuTIVE CENTEr

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iDaDe 51 anos

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marketing marcas

Anna Carolina Guimarães, project manager da Superbrands em Angola

Chegaram as supermarcas

É um pássaro. É um avião. Não. São apenas as melhores marcas de Angola, segundo a avaliação da Superbrands, uma organização internacional que visa distinguir as marcas de excelência em todo o mundo Jaime Fidalgo 108 | www.exameangola.com


kAmeNe TRAçA

Q

uem procura o escritório da Superbrands na Maianga (Luanda) tem dificuldade em encontrar a exígua porta da entrada. O prédio não tem elevador. Logo, ao subir os oito andares de uma escada íngreme é natural questionar se não terá havido um engano no endereço. Ao chegar ao último andar verificará que afinal o exercício valeu a pena. O escritório é um espaço amplo e moderno, com janelas em vidro a toda a largura da sala e uma vista deslumbrante sobre a cidade. Ainda mal refeitos da surpresa surge Anna Carolina Guimarães, rosto da Superbrands em Angola, que nos recebe com um sorriso largo. “Paulista” assumida, apaixonada por desporto, trabalhou em várias empresas de referência na área da comunicação no Brasil e em Portugal. Ela está desde Abril em Luanda à procura das superbrands angolanas. O que são afinal essas supermarcas? O conceito de superbrands visa distinguir as marcas de excelência em cada país. A ideia nasceu há 14 anos no Reino Unido. Hoje trata-se de uma organização internacional e independente que está presente em 89 países. Com mais de 5 mil case studies publicados é considerada uma das melhores fontes de informação sobre marcas globais Chegou a Angola por intermédio do ZenKi Group (consultores estratégicos) que detém a Bus Consulting (consultores de comunicação). O processo foi o seguinte. A Bus Consulting iniciou as operações em Angola em 2006. Hoje representa clientes como a Endiama, grupo Invista, grupo Gema, Angola LNG, Inter Drink, Tecnoforma, Mundial Seguros, OPS, Imediata e BANC. A parceria com a Superbrands para o mercado angolano surgiu em Março de 2009. “O acordo foi relativamente fácil de alcançar, dado que a Bus Consulting já tinha a licença da Superbrands em Portugal e a operação montada”, referiu nessa altura Pedro Diogo Vaz, director-geral da empresa. No mês seguinte a Superbrands Angola esteve a estudar o mercado através da literatura da imprensa, da consulta de estudos e estatísticas e das entrevistas a especialistas, tais como a Marktest. Com base em

Como nasce uma superbrand CiNCo PASSoS… 1. elaboração da long list com 470 marcas. 2. Nomeação do júri que avalia as marcas. 3. o júri selecciona as 250 marcas que têm potencial para superbrand. 4. divulgação das empresas que aderiram ao projecto (mínimo de 20 marcas). 5. evento de premiação pública das superbrands e lançamento do livro. … CiNCo REquiSiToS 1. familiaridade. 2. Relevância. 3. Satisfação. 4. lealdade. 5. comprometimento.

três critérios — tempo no mercado; histórico de investimento em comunicação e a qualidade da distribuição — elaborou a primeira long list com 470 marcas. Estas, segundo o conceito de superbrands, são marcas — nacionais ou estrangeiras presentes no país — que conseguem estabelecer uma forte ligação de lealdade e comprometimento com os clientes. Conselho de notáveis Em Maio, a Superbrands Angola seleccionou o painel de membros do conselho responsável pela avaliação das marcas. “Tais personalidades estão no conselho a título individual embora representem marcas de reconhecida notoriedade junto do consumidor”, esclarece. Durante o mês de Junho, os membros do júri avaliaram as marcas da long list atribuindo-lhes notas de 1 a 20, segundo a metodologia internacional da Superbrands, baseada em cinco critérios: familiaridade; relevância; satisfação; lealdade; e comprometimento. De referir que os júris estão impedidos de votar, quer na sua marca, quer nas concorrentes directas. Com base na média da avaliação dos 14 jurados foram escolhidas as 250 marcas com potencial para superbrand. Em Julho, a Superbrands Angola foi lan-

çada oficialmente. Foi a própria Anna Carolina que liderou a conferência de imprensa no espaço Chill Out (ilha de Luanda). Logótipo de superbrand A partir desta fase entrou em cena a área comercial. Mediante o pagamento de 40 mil dólares as marcas ganham o estatuto de superbrands. Têm o direito a redigir um texto de apresentação da marca — com base num formato previamente definido pela Superbrands — e receberão 100 exemplares do livro (se o desejarem com uma capa personalizada). Além da apresentação de cada superbrand, o livro — que terá 10 mil exemplares de tiragem e será vendido no circuito de livrarias — incluirá, no final, um pequeno perfil de cada “guardião da marca” (em regra, os respectivos presidentes e directores de marketing). As marcas terão ainda direito a usar o logótipo de Superbrands Angola, durante 2010, em todos os materiais de comunicação. Os textos de apresentação de cada empresa estarão disponíveis no site oficial da Superbrands, que recebe mais de 10 mil utilizadores por mês. As eleitas serão divulgadas este mês. Mas o evento de apresentação do livro e da atribuição dos prémios só ocorrerá em Fevereiro de 2010. “Podia ter sido mais cedo, mas sabemos que em Janeiro o país vai parar devido ao CAN”, diz. Recorde-se que a Superbrands a nível internacional já possui outras distinções, tais como as eBrandLeaders (nascidas em 2001 para o mercado online) e as CoolBrands (para o segmento da moda e lifestyle). b

O júri do prémio Cristina Almeida directora de marketing RefRiANgo • Hélder Bárber director-geral TpA • Hermínio Santos assessor marketing eScom • Joaquim Manuel Nunes administrador • João Rosa Santos director de marketing SoNANgol • José Eduardo Paulino dos Santos director-geral SembA comuNicAção • José Guerreiro presidente ASSociAção ANgolANA de mARkeTiNg • José Leitão presidente do conselho administração gRupo gemA • Nuno Fernandes director-geral execuTive ceNTeR • Patrick Heraibi director de marketing cASTel beeR • Marta Fezas Vital country manager buS coNSulTiNg • Sebastião Panzo director de marketing gRupo eNdiAmA • Tatiana Mourinha chefe de gabinete de marketing e comunicação uNiTel • Telma Gomes directora de marketing bp.

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Marketing comunidades

Mais de um milhão de seguidores Um produto criado em parceria pela Nike e pela Apple transformou-se numa febre que juntou em torno de um site, a maior comunidade de corredores jamais reunida Mariana Barboza

O

sonho dos joggers (praticantes amadores de corrida) chama-se Nike Plus. Tratase de um kit composto por um sensor para instalar nos ténis Nike e um receptor para o iPod. Este simples aparelho permite registar com precisão o desempenho dos atletas: distância percorrida, tempo gasto, velocidade média ou calorias consumidas. Tais dados estão arquivados no site da Nike Plus. Posteriormente o iPod, devidamente abastecido com as informações obtidas na corrida através do sensor, descarrega os dados directamente no perfil do corredor. O processo é semelhante ao da sincronização de músicas. No site, o atleta pode conferir a evolução do seu desempenho por meio de gráficos e compará-la com a dos outros corredores da Nike Plus. Esta comunidade, que congrega 1,2 milhões de desportistas em todo o mundo, é o maior grupo de corredores jamais reunido. Juntos, alimentam uma poderosíssima base de dados que permite à Nike entender detalhadamente como os consumidores usam os seus produtos. Além de fornecer dados dignos de almanaque — exemplos: a distância total percorrida pelos corredores equivale a 2700 voltas ao mundo e os quilos queimados equivalem ao peso de dez Airbus A380 —, o Nike Plus transformou um produto em serviço. O site da Nike Plus é o lugar onde os adeptos de corrida de todo o mundo se

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encontram, trocam informações e se relacionam. A ideia de juntar uma das marcas desportivas mais prestigiadas do mundo com um ícone da indústria da tecnologia nasceu em 2004, quando os designers da Nike perceberam que o iPod, lançado em 2001, se tornara uma febre entre os corredores. Alguns anos antes, a Nike desenvolvera com a Philips uma linha de MP3. Mas o que a Nike realmente desejava era criar um aparelho que, além de tocar música, pudesse registar os dados da corrida e transferi-los para o computador. O novo produto deveria ser simples, sem recursos complexos, tais como os monitores de batimento cardíaco ou o GPS. O iPod, da Apple, foi o parceiro perfeito. Depois de lançado, o projecto Nike Plus levou à criação de inúmeros recursos adicionais, que vão desde os sites independentes que fazem o download dos dados do Nike Plus até às ferramentas de divulgação dos resultados obtidos no Twitter. O volume de dados arquivados no site tornou-se

O site da Nike Plus é um local onde todos os adeptos da corrida se relacionam e comparam estatísticas

uma surpreendente base de informações. A Nike descobriu, por exemplo, que o dia mais popular para correr é o domingo, que uma parte significativa dos corredores faz exercício no fim do dia e que, alguns deles, estabelecem metas mais ambiciosas para as corridas após os feriados prolongados. Próximo produto é a pulseira iPod Outro dado recém-descoberto é a média mundial de duração dos treinos: 35 minutos. Os técnicos também notaram que os corredores só são cativados pelo sistema após o quinto treino, quando passam a comparar compulsivamente o desempenho. Entre os dados há ainda curiosidades como as músicas preferidas dos praticantes para as corridas. No site, a Nike montou uma lista de sucessos chamada Powersong, em que os corredores de todo o mundo indicam a sua música preferida. A lista é liderada por Eye of the Tiger, tema do filme Rocky III. A Nike está satisfeita com a popularidade do produto. Hoje, as novas linhas de ténis já saem da fábrica preparadas para a adaptação do sensor. Em breve surgirão novos produtos agregados à linha Nike Plus. Um deles é uma pulseira para substituir o iPod. A despeito das evoluções que possa sofrer a partir de agora, a grande inovação do Nike Plus já está feita. Com este sistema, a Nike realizou o sonho de todas as empresas de marketing — transformar o conceito que existe por trás de um produto, em algo maior do que o produto em si. b


Como funciona o sistema O Nike Plus integra os ténis, um transmissor de dados e o iPod. Este armazena os dados das corridas e transmite-os ao computador

fOtO: PedrO rUbeNs/ilUstrAções: vic ANdreOli

Os ténis Nike e o iPod, da Apple. Juntos valem mais e prestam um serviço inovador

CAPturA de dAdOs um sensor instalado sob a palmilha do ténis colecta os dados do treino, tais como a distância percorrida, a velocidade e as calorias queimadas

trANsMissãO Os dados são transmitidos do sensor para o iPod, e durante toda a corrida o atleta pode consultar os seus dados em tempo real

siNCrONizAçãO depois da corrida, o iPod é conectado ao computador e os dados são armazenados no site Nike Plus, que desenha gráficos de desempenho

PArtilhA O site permite aos corredores partilhar dados, participar em corridas virtuais e comparar as estatísticas com as dos parceiros

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~Deliciosamente Feminina~


DinheiroVivo CONSELHOS E DICAS QUE INTERESSAM À SUA CARTEIRA

IMOBILIÁRIO

Ingombotas só para quem pode O segundo estudo da consultora Proprime sobre o sector imobiliário em Luanda conclui que o município das Ingombotas é a zona da capital mais cara para se viver. Nesta área nobre do coração da cidade, o metro quadrado de um apartamento custa, em média, 5716 dólares. Só para quem pode. Por oposição, a zona da Camama é a mais barata com preço médio de 3050 dólares o metro quadrado. Se a sua carteira lhe permitir comprar uma moradia, saiba que a zona de Talatona, em Luanda Sul, é a mais cara, com o metro quadrado a custar 5490 dólares. Na “vizinha” Benfica os preços diminuem um pouco e vão para os 4700 dólares o metro quadrado.

APARTAMENTOS 1 Ingombotas 2 Maianga 3 Luanda Sul 4 Viana 5 Camama

Cenário idêntico é vivido para a compra de um escritório na capital. Ter um espaço na Baixa, custa o preço médio de 11 647 dólares por metro quadrado. Nas zonas mais periféricas de Luanda o escritório passará a custar “apenas” 6950 dólares o metro quadrado. Se preferir Luanda Sul terá de desembolsar 8333 dólares. Este foi o segundo grande estudo realizado pela Proprime, sediada em Luanda e com uma filial no Lobito. A empresa presta serviços de avaliações e consultadoria. Oferece uma base de dados on-line com os empreendimentos imobiliários em desenvolvimento na província de Luanda. Site: www.pro-prime.pt

Valor médio* 5 716 4 418 4 322 3 379 3 056

MORADIAS 6 Talatona 7 Benfica

5 487 4 694

ESCRITÓRIOS A Baixa B Cidade C Luanda Sul

11 647 6 947 8 333

Grandes números 1 MILHÃO DE CASAS Governo prometeu a sua construção até 2012, num investimento avaliado em 50 mil milhões de dólares 1 MILHÃO DE METROS QUADRADOS É o défice do número de escritórios em Luanda, segundo a Proprime 4150 DÓLARES/m2 Preço médio de um apartamento em Luanda 5490 DÓLARES/m2 Preço médio de uma moradia em Luanda

Ilha do Cabo

1

A

2

B

Luanda

* Valor em dólares/m2

INFOGRAFIA/FREDERICO FERNANDES

4 Mussulo

7

3

6 C

5

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DinheiroVivo MERCADOS

O kwanza vai ser a moeda utilizada nas transacções da Bolsa de Valores e Derivativos de Angola (BVMFA), situada no coração de Luanda, ao lado do edifício da Sonangol. O índice bolsista vai designar-se IBV-AO, Ibevang ou AngoIndex. Quem o revela é António da Cruz Lima, presidente da comissão instaladora da BVMFA, cargo que acumula com o de presidente interino da Comissão do Mercado de Capitais e de presidente do Instituto de Formação do Mercado de Capitais. Numa entrevista ao jornal O País, Cruz Lima não adianta uma data para a abertura daquele mercado. Diz apenas que há dez instituições que já mostraram interesse e que “não lhe passa pela cabeça que alguma das mais importantes empresas nacionais, venha a listar-se numa praça estrangeira antes de estar cotada na Bolsa de Angola”. Recorde-se que Cruz Lima tem adiantado sucessivos prazos para o início do mercado que têm sido ultrapassados. Cruz Lima justifica: “Precisámos de reavaliar se o nosso plano de negócios, feito em 2000, se enquadra na nova realidade do mercado. Foi o que fizemos e continuamos optimistas, pois a verdade é que nenhuma Bolsa fechou. Só os bancos e corretoras, que são membros de algumas Bolsas, é que faliram.”

Cruz Lima confessa que “este é o projecto da minha vida”

ROSIEL NETO

Bolsa sem prazo de arranque

PRÉMIO

Mobile banking em 2010, garante o administrador

BANCO NACIONAL

Pagamentos por telemóvel Banco Nacional de Angola (BNA) já está a estudar o quadro legal do sistema de meios de pagamento electrónico em conjunto com as operadoras de telecomunicações. A UNITEL, responsável pelo suporte dos futuros serviços da Câmara de Compensação Automática de Angola, garante que isso irá acontecer até finais de 2010. Outra boa notícia é que mesmo as pessoas que não possuem uma conta bancária poderão utilizar o telemóvel para fazer pagamentos de serviços e bens ao Estado. Por todas estas razões António André Lopes, administrador do BNA, acredita que a população vai aderir de forma massiva ao mobile banking (banco móvel). “Esperamos que o sistema de pagamento por telemóvel, que tem maior comodidade para o cliente e maior flexibilidade em termos geográficos, registe os mesmos níveis de aceitação do que o serviço multicaixa.” 114 | www.exame.co.ao

No dia 9 de Dezembro, o Banco Millennium Angola vai receber o galardão “Most Innovative Bank” (Banco Mais Inovador), atribuído pela EMEA Finance, uma revista especializada em finanças dirigida à comunidade financeira da Europa, Médio-Oriente e África. A entrega do prémio será feita durante um jantar de solidariedade realizado em Londres, com a participação de gestores das principais instituições bancárias do continente africano. De acordo com o júri, o Banco Millennium Angola destacou-se pela inovação, originalidade e qualidade dos produtos e serviços lançados no mercado em 2009. José Reino da Costa, presidente da comissão executiva do Millennium Angola, não esconde satisfação: “Recebemos a notícia com entusiasmo. É a “Queremos primeira vez recebemos aumentar uma distinção com esta o número de importância desde a pessoas com nossa abertura, como conta bancária”, banco de direito local, diz José Reino em Abril de 2006.” da Costa

MILLENNIUM ANGOLA

ROSIEL NETO

Millennium Angola: o mais inovador


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Finanças Moeda

Dólar perdeu brilho Com a debilidade da economia americana os investidores procuram outras moedas. O rand da África do Sul, o real brasileiro e o dólar australiano são algumas das eleitas

Em Wall Street, todos dizem que a economia vai recuperar. Mas a dúvida é quando?

José Roberto Caetano (com Francisco Moraes Sarmento)

P

ense num país em que o governo tem uma dívida enorme, o desemprego está em alta, os consumidores temem o futuro, as empresas não conseguem crescer e a moeda perde força. Por incrível que pareça a resposta certa é os Estados Unidos. A maior economia global vive uma fase negra que provocou uma forte depreciação do dólar. Em consequência, os investidores partiram à procura das moedas de economias emergentes como o rand da África do Sul, o dólar da Austrália, a coroa da Noruega e o real brasileiro. Os pacotes de socorro do governo americano injectaram 9 biliões de dólares em bancos, seguradoras e empresas falidas. Um décimo desse valor resultou da impressão de dinheiro por parte do Banco Central, o que fez duplicar a quantidade de moeda em circulação. A crise também levou a Reserva Federal, o Banco Central 116 | www.exameangola.com

americano, a reduzir a taxa de juro a praticamente zero. O juro baixo e a maior abundância de dinheiro estimularam os investidores a aplicar noutros activos. Um dos destinos é o sector de commodities. O petróleo, por exemplo, subiu cerca de 80% no mesmo ano em que o consumo definhou. Outro alvo são as aplicações em títulos de países emergentes, A nova ordem financeira global A actual fuga do dólar por parte dos investidores significa que a moeda americana deverá ceder o lugar de grande protagonista nas transacções internacionais? Ainda não se sabe qual será a nova âncora financeira global. “Daqui a dez anos, o dólar não deverá ser tão importante”, afirma Jim O’Neill, director da Goldman Sachs. “Mas é um exagero decretar a sua morte. Ainda não existe nenhuma moeda capaz de substituir o dólar”, vaticina.

Alguns especialistas, porém, já começam a especular sobre como será este novo mundo, na qual os BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China) terão uma palavra decisiva. “Já está na hora de envolver os chineses na criação de uma nova ordem financeira mundial”, disse o famoso investidor húngaro-americano George Soros, em entrevista ao Financial Times. A ascensão dos países emergentes já estava a ocorrer antes da crise. O que se tem visto nos últimos meses — com o definhamento dos países ocidentais e o dinamismo dos emergentes — apenas confirma essa tendência. A China, por exemplo, superou as previsões ao apresentar um crescimento de 8,9% no terceiro trimestre. A sua economia está prestes a ultrapassar a do Japão como a segunda maior do mundo. Para muitos especialistas, a política cambial chinesa é o principal factor que está por trás da valorização das moedas de países como o Bra-


EMMANUEL DUNAND/AFP

sil, a África do Sul, a Austrália e o Chile, que mantêm um regime de câmbio flutuante e de liberdade de movimentos de capitais. Já a paridade do yuan face ao dólar é protegida por uma muralha da China — o seu Banco Central. A instituição conta com mecanismos que dificultam a entrada no país de recursos financeiros de curto prazo e compra implacavelmente os dólares que ultrapassam a barreira, impedindo a desvalorização da moeda e a perda de competitividade das exportações. Pressão para que o yuan se valorize Na primeira metade deste ano, o Banco Central chinês acrescentou mais de 180 mil milhões de dólares às suas reservas, que passaram a totalizar 2,3 biliões de dólares. O modelo de economia baseada nas exportações foi seguido com o mesmo sucesso por países como a Coreia do Sul, Taiwan e Singapura. E um dos seus pilares desse modelo é justamente a política de desvalorização cambial. Só que ao fazer isso a China está a desequilibrar a ordem vigente. Assim, um pouco por todo o mundo, estão a subir de tom as pressões para que os chineses revejam a sua fórmula de crescimento económico. Pela segunda vez em dois anos, os responsáveis das finanças da União Europeia deslocaram-se à China para convencer o governo de Pequim a valorizar o yuan face ao dólar. Na cimeira de Negócios União Europeia-China, o presidente do Banco Central Europeu, Jean-Claude Tri-

chet afirmou que uma moeda chinesa mais forte seria “bem-vinda”. Também Barack Obama, Presidente dos Estados Unidos, fez um apelo no mesmo sentido, “para evitar desequilíbrios comerciais que exacerbaram a crise económica global”.

A paridade do yuan face ao dólar tem sido protegida por uma muralha da China — o seu Banco Central Recorde-se que a China tem mantido a sua moeda estável face ao dólar desde Julho de 2008. As autoridades chinesas travaram a valorização do yuan, depois de permitir que a moeda ganhasse 21% face ao dólar, nos três anos anteriores. A compra de dólares pela China, para evitar a apreciação do yuan, fez crescer as suas reservas em moeda estrangeira mais do dobro do que qualquer outro país. Desde então, o câmbio yuandólar passou a ser flutuante (com uma margem de 0,5%) e a referência passou 87 a ser um cabaz de moedas 85 composta pelo dólar, euro, 83 iene e won.

O que se espera da China é que, gradualmente, deixe de se concentrar tanto nas exportações e desenvolva mais o mercado doméstico. Os prognósticos mais optimistas são de que os chineses comecem a desvalorizar a sua moeda em 2010 quando sentirem que a superação da crise já está consolidada. Isso significa crescer 10% ao ano, aumentar as exportações e controlar a inflação. Se as mudanças na China são para o médio e longo prazos, as da economia americana podem estar mais próximas. Para isso, é preciso que a recuperação da maior economia do mundo se confirme. Os sinais, por agora, são dúbios. O défice externo já melhorou. Caiu de 804 mil milhões de dólares, em 2006, para 400 mil milhões. Os americanos também estão a comprar menos produtos importados e a exportar mais. Mas indicadores como a emissão de alvarás para a construção mostram que a economia real ainda não descolou. Isso significa que as coisas podem piorar antes de começar a melhorarem. Analistas não descartam que a cotação do dólar caia nos próximos meses. “Acredito que o dólar possa enfraquecer um pouco mais, mas dentro de 12 meses já terá recuperado o seu valor”, prevê O’Neill, do Goldman Sachs. b

130

o fim da estabilidade do kwanza

125 120 115

81

110

79

Mundo vs. dólar* De Janeiro a Outubro o real foi a moeda mais apreciada face ao dólar americano (34%). A moeda nacional manteve-se estável em torno dos 78 kwanzas por dólar desde Abril. A cotação ajustou para 85 em Outubro (decréscimo de nove por cento).

14%

Inglaterra (libra)

12%

Chile (peso)

15%

95

73

Março 2009

90

Maio 2009

Julho 2009

Câmbio KWZ/USD

Setembro 2009

outubro 2009

Câmbio KWZ/EUR

ANGOLA (kwanza)

19%

100

75

28% Noruega (coroa)

Colômbia (peso)

105

77

Canadá (dólar)

34%

Brasil (real) África do Sul (rand)

Indonésia (rúpia)

17%

26% Austrália (dólar)

Nova Zelândia (dólar)

30%

29%

*Percentagem de valorização das moedas nacionais frente ao dólar desde Janeiro a Outubro de 2009. Fonte: Bloomberg.

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Finanças Bolsa

Wall street do Oriente A cidade de Xangai prepara-se para o salto que poderá transformá-la num centro financeiro internacional capaz de rivalizar com Wall Street. A abertura da Bolsa de Valores às empresas estrangeiras a partir de 2010, já está a despertar o interesse das multinacionais Tiago Maranhão

O

Charging Bull, a célebre estátua de 3 toneladas de um touro de bronze nas proximidades de Wall Street, em Nova Iorque, foi colocado ali, em 1989, para recordar a todos algumas das características do mercado financeiro norte-americano, tais como a força e a agressividade. Do outro lado do planeta, na cidade chinesa de Xangai, as autoridades planeiam fazer uma réplica da escultura, com o dobro do tamanho. O monumento deverá ser inaugurado em Fevereiro de 2010 nas imediações da Bolsa de Valores de Xangai. Poderia haver símbolo mais eloquente e provocador sobre as pretensões chinesas no turbulento mercado financeiro mundial? Xangai quer tomar o lugar de uma Wall Street abalada pela última crise financeira e está confiante de que pode superiorizar-se à aristocrática praça de Londres ou à emergente Bolsa do Dubai. A imagem gigantesca do touro em posição de ataque é apenas uma alegoria da força de Xangai. A soma actual do valor bolsita das 860 empresas listadas na Bolsa chinesa supera os 2 biliões de dólares, um valor 15% superior ao do final de Setembro de 2008. Nesse período, a americana Nyse teve uma queda de 20% . O volume 118 | www.exameangola.com

de negócios, que nos primeiros nove meses deste ano já superou os valores de 2008 (veja quadro), posiciona a Bolsa de Xangai entre as cinco maiores do mundo. Banco britânico HSBC na linha da frente Agora, uma decisão do governo chinês pode dar o impulso decisivo para o salto de Xangai como grande centro financeiro internacional. As autoridades de Pequim autorizaram a abertura do capital de empresas estrangeiras na Shanghai Stocks Exchange. “Em breve dezenas de companhias estrangeiras estarão listadas em Xangai. Mas a medida terá um carácter experimental. Começaremos com apenas uma ou duas empresas no ano que vem”, afirma Fang Xinghai, diretor-geral do órgão do governo chinês que regula o mercado de capitais.

Optimista, Xangai irá inaugurar uma réplica do touro de Wall Street. A estátua é duas vezes maior do que a original

O anúncio da abertura do mercado está a gerar uma corrida a Xangai. Segundo o jornal americano The Wall Street Journal, o banco inglês HSBC já se prepara para uma oferta pública inicial (OPI) capaz de gerar uma entrada de capital na ordem dos 3 mil milhões a 5 mil milhões de dólares em 2010. Os seus executivos prevêem que o mercado chinês será o principal motor do seu crescimento nos próximos 25 a 50 anos. “É uma oportunidade única para aumentar a nossa base de accionistas”, afirmou Sandy Flockhart, presidente do HSBC na China. O HSBC, que já tem acções emitidas nas Bolsas de Londres, Hong-Kong, Nova Iorque e Bermudas, é o maior banco internacional presente na China. Cerca de 30% dos seus lucros vêm da Ásia. Além do HSBC, outras empresas globais, como a alemã Volkswagen, já manifestaram o interesse em conquistar os investidores chineses.. O potencial de crescimento do mercado poderá ser suficiente para suplantar Wall Street? “Mudanças desse tipo só foram vistas duas vezes, da Holanda para Londres no século xviii, e de Londres para Nova Iorque na década de 20”, disse Aldo Musacchio, professor de Economia Internacional da Harvard Business School. “Para já, acho difícil que Nova Iorque perca a liderança.”


A lógica da iniciativa de Xangai é que novas empresas atrairão novos investidores, o que aumentaria o volume de acções negociadas, que por sua vez incentivaria novas entradas, criando um ciclo virtuoso de enriquecimento. “Ainda é uma incógnita saber até onde o crescimento de Xangai poderá chegar, mas eu não descartaria uma grande surpresa”, diz o gestor de activos William Landers, da BlackRock. A inabalável prosperidade da economia chinesa — que neste ano deverá crescer 7,5%, segundo o Fundo Monetário Internacional — sopra a favor de Xangai. “A cidade tem força económica para se tornar mais relevante, à escala global, nos próximos anos. As suas

Gigante em movimento a Bolsa de Xangai está entre as maiores do mundo, segundo indicadores como o valor de mercado das empresas listadas e o volume anual de negócios

aFP Photo

A OPI da China State Construction Engineering foi a maior do mundo desde a crise financeira

novamente interrompida pela Revolução Comunista de Mao Tsé-Tung, em 1949. Tal como a conhecemos hoje, a Bolsa de Xangai é relativamente nova — tem menos de duas décadas de funcionamento. Agora procura estar preparada quando chegar o momento de abrir as portas para o resto do mundo. O sector financeiro de Xangai, por exemplo, tem apenas 100 mil profissionais, em comparação com 400 mil de Wall Street e os mais de 250 mil de Londres. Só em Julho é que o site da Bolsa lançou uma versão em língua inglesa. As empresas estrangeiras que migrarem para lá terão de fazer grandes investimentos para se adaptar, a começar pela contratação de profissionais fluentes em mandarim, o idioma oficial. A pretensão de transformar Xangai no maior centro financeiro global esbarra com outras dificuldades e limitações do mercado chinês. Uma das principais é o grau de volatilidade das acções. Na Bolsa de Xangai é comum haver quedas de 40% das cotações de uma determinada empresa, sem que isso seja justificado por algum factor extremo. Por trás desse nervosismo está o facto de que mais de metade dos participantes do mercado de capitais chinês é composta por pequenos investidores. Isso torna a Bolsa mais vulnerável a oscilações aleatórias, sem relação directa com a economia. “É comum uma pequena queda nas vésperas de feriados, por exemplo, porque as pessoas fazem outros planos para o dinheiro”, diz Landers. Apesar dessa irracionalidade, o touro de Xangai não tem assustado as grandes empresas do exterior. Talvez o seu colega de Wall Street é que tenha realmente mais motivos para perder o sono. b

empresas e bancos têm enormes quantidades de dinheiro em caixa para emprestar ou investir”, afirma Michael Mainelli, director da consultora britânica Z/Yen. Prova disso foi a OPI da construtora estatal China State Construction Engineering, que captou 7,3 mil milhões de dólares no final de Julho. Foi a maior OPI do mundo desde o início da crise financeira global. Pequenos investidores são maioritários A Bolsa de Xangai começou a funcionar em 1891 e atravessou um século de muitas turbulências históricas — foi fechada devido à invasão japonesa de 1941 a 1946. Reabriu durante apenas três anos, para ser

Valor de merCado daS emPreSaS liStadaS (1)

Nyse

10,8

tóquio

3,5

londres

2,6

Xangai

2,1

hong-Kong

1,9

Volume de negóCioS (1) 36,4

33,6 2008 2009 (2)

19,3 12 2,6

Nasdaq

Nyse

3,3

Xangai

5,6

2,6

tóquio

6,2 2,3

londres

(1) Em biliões de dólares. (2) até o fim de setembro de 2009 Fontes: World Federation of Exchanges e Bloomberg

dezembro 2009 | 119


tecnologia CINEMA

o futuro é tridimensional Os grandes estúdios de cinema investem na tecnologia 3D na esperança de encher as salas de cinema e vencer a concorrência dos jogos electrónicos Luiza Dalmazo e Francisco Morais Sarmento

c

om as irmãs e mais duas amigas, Rebeca, uma menina de 12 anos, cantou no cinema as músicas que os seus maiores ídolos, os Jonas Brothers, apresentavam no filme Jonas Brothers 3D – O Show. “Nós até tentámos tocar neles. Esquecemo-nos que era apenas um filme”, diz Rebeca. No trailer da película estreada em Junho nos Estados Unidos, Joe, o irmão do meio, disse: “Este filme fará com que você se sinta no palco connosco.” Rebeca jura que ele tinha razão. “Houve uma altura em que me senti realmente na plateia VIP do show”, justifica. Tal realismo foi possível porque o filme dá a ilusão de três dimensões. Este ano há mais 30 filmes que serão lançados neste formato (três vezes mais do que no ano passado). Os filmes em 3D são a maior aposta da indústria, em particular da animação digital, para fazer regressar o público às salas de cinema. Nos últimos anos, o sector tem enfrentado uma competição feroz pela atenção dos consumidores mais jovens. 120 | www.exameangola.com

Angola a três dimensões…

“A receptividade dos filmes 3D tem sido boa”, garante Vladimir Mónaco, director do Cineplace do Belas Shopping, a primeira sala do país a exibir estes filmes

20

dólares

é o custo de cada par de óculos. No Cineplace do Belas Shopping existem dois mil pares em stock. Fonte: Cineplace (Talatona).

250

mil dólares

foi o investimento feito para equipar duas das oito salas do cinema.

767

lugares

é o total das salas com tecnologia digital. A “nobre” (sala um) tem 482 lugares, onde ocorrem as estreias e a “oito”, com 285 lugares.


As imagens em 3D não são uma novidade. Desde os anos 50 que os estúdios já experimentam a fórmula. Mas o sistema antigo nunca teve êxito por questões técnicas: em vez de causar encantamento, os filmes deixavam os espectadores com náuseas ou tonturas. A nova tecnologia digital contornou esses problemas. Ainda é necessário usar óculos especiais dentro das salas, só que já não é preciso usar as lentes com

carlOs augustO

A concorrência vem de todo o lado — videogames, DVD, TV em alta definição e telefones móveis. Desde há quatro anos que as vendas de jogos electrónicos ultrapassaram as das bilheteiras do cinema. Com os filmes em 3D, os estúdios acreditam ter nas mãos uma forma de entretenimento nova e insubstituível — pelo menos enquanto as TV não puderem reproduzir essa ilusão nos home theaters domésticos.

... e os números do 3D no mundo

Os principais estúdios, em particular os da animação digital, querem usar a ilusão da tridimensionalidade para atrair mais público para as salas de cinema

30

filmes

3D vão ser lançados em 2009 no mundo.

19,1%

200

crescimento das receitas de bilheteira este ano.

custo do filme Avatar, o mais caro no formato 3D.

milhões de dólares

Fontes: Society of Motion Picture and Television Engineers e Altium.

3

vezes

mais é a média de quanto rende um filme 3D versus 2D.

39

milhões de adultos

disseram que iriam mais vezes ao cinema para ver 3D.

cores diferentes. O material usado é um polímero. No Cineplace do Belas Shopping existem dois mil pares adquiridos ao preço unitário de 20 dólares. Robustos, têm design high-tech e uma série de “truques” para desmotivar quem os queira levar para casa. Por exemplo, as hastes não fecham para evitar que sejam acomodados nos bolsos e têm uma tecnologia antifurto. Se saírem da sala de cinema accionam um alarme na central de segurança. Mesmo assim já desapareceram cerca de Exibição de uma centena de óculos. um filme 3D Após cada utilização pasno Belas: os sam por um processo de bilhetes são esterilização e limpeza, mais caros, até serem arrumados em paletes próprias. mas o público aderiu à Outra diferença das novidade novas tecnologias é o recurso ao efeito tridimensional ser feito com maior moderação. Nas cenas de maior impacte, a acção parece realmente estar a acontecer apenas a alguns centímetros do nariz do público — mas nas restantes partes da película o espectador tem a impressão de estar a assistir a um filme comum. Ao fim-de-semana a lotação esgota As primeiras indicações são que os filmes em 3D têm agradado. Vladimir Mónaco, director do Cineplace do Belas Shopping, considera que “a receptividade tem sido muito boa por parte do público, que tem elogiado a tecnologia 3D”. O investimento nestas tecnologias rondou os 250 mil dólares para equipar duas das oito salas do cinema — a “nobre” (sala um), com 482 lugares, onde ocorrem as estreias e a “oito”, com 285 lugares. A taxa de ocupação média semanal é de 30%. Ao fim-de-semana, a lotação esgota. Desde 14 de Agosto — data de estreia de A Idade do Gelo 3 — que todas as semanas têm sido exibidos filmes digitais, alguns dos quais em 3D. “De então para cá foram exibidos seis filmes nesse formato”, diz. Em Hollywood, a ordem é para investir a sério no mundo tridimensional. Dos seis grandes estúdios, só a Warner ainda não tem filmes programados neste formato. A Dreamworks, responsável pelas séries Shrek e Madagascar e ligada à Paradezembro 2009 | 121


tecnologia CINEMA

DivulgaçãO

Idade do Gelo 3 estreou no dia 14 de Agosto, o primeiro filme em 3D exibido em Angola

Filme de suspense A indústria do cinema procura novas formas de crescer num cenário repleto de novos concorrentes, tais como os home theaters, os jogos de consolas e até os telemóveis. Apesar de a receita das bilheteiras nas salas de cinema estar a subir, o número de espectadores permanece estagnado.

Público

Preço

receitAs

O total de pessoas que vai anualmente ao cinema não acompanhou o crescimento mundial da população, que foi de 33% em nove anos (1 ).

Só em 2008, o preço do bilhete para assistir a um filme subiu 7,2% nos Estados Unidos, em relação a 2007 (valor em dólares).

A receita mundial do sector de cinema cresceu 67% nos últimos nove anos e apenas 21% entre 2005 e 2008.

1999

1,4 mil milhões

1999

2008

1,4 mil milhões

2008

5,1

1999

7,2

2008

DivulgaçãO

Cena do filme Up, da Pixar: a animação 3D abriu o festival de Cannes

16,8 mil milhões 28,1 mil milhões

(1) Nos Estados Unidos. Fontes: Motion Picture Association of America, Screen Digest e eMarketer.

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Além de aumentar o preço dos bilhetes, Katzenberg descreveu os filmes 3D como a terceira grande revolução da história do o objectivo dos estúdios é oferecer uma cinema, depois da chegada do som, em experiência nova, que não possa ser repro1920, e das imagens coloridas, em 1930. duzida através de uma cópia pirata da interA verdade é que o fascínio dos estúdios net. Mas a experiência de ver imagens em três dimensões não será um exclusivo dos está ligado às caixas registadoras. Entre 2005 e 2008, as salas de cinema facturacinemas. Os gigantes da electrónica, como ram 28 mil milhões de dólares, a LG, Panasonic, Philips e Sony, apresentaram os seus protótipos um crescimento de 21,6%. É bem Robustos, são menos do que o salto de 671% da à prova de roubo. de aparelhos de televisão para indústria de jogos electrónicos no As hastes não imagens tridimensionais. Tammesmo período, que chegou a 54 fecham. Se sair bém já é possível transmitir imada sala com eles mil milhões de dólares. gens ao vivo, em 3D, de jogos ou shows. A expectativa é que até ao dispara o alarme final de 2010 os primeiros lançana central mentos estejam nas lojas. As próprias estações de televisão já estão a testar aparelhos e a criar programas a três dimensões. É mais uma prova de que o passado, afinal, pode repetir-se O futuro é 3D. b carlOs augustO

mount, definiu que a partir deste ano todos os seus lançamentos terão cópias a três dimensões. Grandes realizadores como Steven Spielberg, Tim Burton e George Lucas estão a trabalhar em obras no novo formato. James Cameron, de Titanic, deve lançar em Janeiro próximo Avatar, uma produção cujo orçamento já passou de 200 milhões de dólares. Até agora, os resultados são promissores. Monstros vs. Alienígenas, o primeiro filme após a nova directriz da empresa, teve quase metade das suas receitas provenientes de 15% das cópias exibidas em 3D. Assim como ele, a maioria dos lançamentos no padrão tridimensional são dirigidas ao público infantil. A animação Up – Altas Aventuras, da Disney Pixar Studios, foi a primeira história a ser escolhida para abrir o festival de Cannes. O entusiasmo é tal que o presidente da Dreamworks Jeffrey



livros economia

Economista freak ataca outra vez

Chegou a continuação de Freakonomics, o livro de economia mais popular da história. Mais uma vez, o professor Steven levitt e o jornalista Stephen dubner decifram os problemas do quotidiano à luz da ciência económica

STEVEN LEVITT, Freakonomics o seu livro de estreia, vendeu 4 milhões de exemplares

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dIVUlGAÇÃO

Eduardo Pegurier


U

ma sequela — seja no cinema, seja na literatura — é o resultado de um fenómeno de moda. O objectivo é manter vivo o entusiasmo dos fãs que foram seduzidos pela versão original e anseiam por “mais do mesmo”. A regra é válida para sagas cinematográficas tão diferentes quanto o Star Wars, o Senhor dos Anéis ou o Harry Potter. Alguém poderia imaginar que seria válida para um livro de economia? A resposta é afirmativa. No dia 20 de Outubro chegou às livrarias a continuação de Freakonomics, o livro de economia mais popular da história. Tal como o primeiro — traduzido para 35 idiomas e com mais de 4 milhões de exemplares vendidos em todo o planeta —, a continuação, baptizada SuperFreakonomics, resulta da parceria entre o economista Steven Levitt, professor da Universidade de Chicago, e o jornalista Stephen Dubner, ex-editor do The New York Times. Desde 2005, quando Freakonomics foi lançado, que os seus autores continuaram o sucesso na internet com um blogue de grande popularidade disponibilizado no site do The New York Times e aproveitaram a fama para facturar no circuito de palestras. Entretanto, os dois autores enriqueceram e tornaram-se celebridades. Agora colocam à prova tal popularidade. “Não sentimos muita pressão para escrever o primeiro livro porque julgávamos que poucas pessoas o iriam ler”, afirmam os autores nas primeiras páginas da nova

superFreakonomics HarperCollins, 288 págs. Autores O economista Steven d. levitt e o jornalista Stephen J. dubner

A verdade é que, assim como este, o primeiro livro tinha um princípio unificador, mesmo que, na época, não fosse óbvio até para nós. […] A descrição pode ser a seguinte: pessoas respondem a incentivos, embora não necessariamente de forma previsível ou manifesta. Uma das leis mais poderosas do universo é a das consequências inesperadas.

versão. “Aqui estamos nós, quatro anos mais tarde, com um segundo livro, bem melhor do que o primeiro. Claro que caberá a você dizer se isso é verdade ou não.” A economia do quotidiano Levitt e Dubner ultrapassaram o maior risco de qualquer continuação — cair na “mesmice” — e escreveram um livro que prende o leitor do princípio ao fim. Evitando jargões técnicos e abusando do bom humor, os autores fazem uma investigação profunda sobre como princípios da economia e da estatística ajudam a compreender melhor o comportamento humano. Armados de dados contundentes eles de-

fendem, por exemplo, que embora conduzir embriagado seja um perigo para os outros, o risco de morrer é oito vezes maior se o bêbado voltar a pé para casa. Motivo: a pessoa embriagada torna-se um alvo mais fácil para o atropelamento. Sobre o aquecimento global, os autores demonstram que o metano produzido pela digestão das vacas do planeta provoca um dano maior que todo o sector dos transportes à escala global. Solução proposta pela dupla: trocar o consumo de carne de vaca pela de canguru, já que esse animal emite gases sem impacte no efeito estufa. O manancial de temas abordados pelos autores inclui a discussão de outros assuntos insólitos, tais

Pioneiros da “economia pop” A Economia sempre foi considerada uma disciplina aborrecida, repleta de fórmulas e gráficos, de reduzida aplicação prática. O livro Freakonomics tornou-se um fenómeno de popularidade dado que procura aplicar a ciência económica aos problemas do quotidiano. Escrito de forma leve e despretensiosa, o livro deu origem a uma nova corrente, designada por “economia pop”, à qual pertencem outros autores como Tim Harford, John Kay, Steven landsburg ou Tyler Cowen.

O pioneiro é Steven levitt, professor da Universidade de Chicago, considerado um dos mais brilhantes e criativos economistas dos Estad os U n i d os . E m 20 03 , recebeu a medalha John bates Clark, um prémio dado aos economistas com menos de 40 anos e que é visto como uma espécie de Nobel júnior. Stephen dubner, o seu parceiro de sempre,

Os autores Steven Levitt (à esquerda) e Stephen Dubner (à direita)

é um jornalista experiente que complementa o génio de lebitt. Pode saber mais sobre os autores em www.freakonomics.com J.F.

dezembro 2009 | 125


livros economia como por que os homens-bomba deveriam contratar um seguro de vida e por que os médicos não lavam as mãos. Sem perder o tom de entretenimento, os autores declaram que não pretendem apresentar conclusões definitivas. “Muitas das nossas descobertas podem ser pouco úteis ou até inconclusivas. Tudo bem. Estamos apenas a tentar discutir assuntos que antes os economistas não levavam a sério”, afirmam. Tais assuntos incluem até como os macacos reagem aos incentivos económicos. Num laboratório da Universidade de Yale, nos Estados Unidos, Keith Chen viveu uma situação inédita durante a pesquisa em que treinou um grupo de sete macacos para usar dinheiro. Após alguns meses, as cobaias aprenderam que as moedas prateadas podem ser trocadas por comida. Só que eles vão mais além. Um dia, Chen percebeu que um dos macacos pegou numa moeda e ofe-

receu-a a uma fêmea. Generosidade? Nem por isso. Em segundos, os dois macaquinhos fizeram sexo. Em seguida, a fêmea levou a moeda ao investigador para trocá-la por uvas, estabelecendo “talvez o primeiro caso comprovado de prostituição entre macacos da história”. E não foi por bananas, mas, sim, por dinheiro. Um livro politicamente incorrecto As ideias politicamente correctas definitivamente não são o forte do livro. A prostituição é um dos temas favoritos dos autores. No primeiro Freakonomics, um sociólogo da Universidade de Chicago, Sudhir Venkatesh, ganhou fama ao infiltrar-se nos gangues locais. Neste livro o sociólogo reaparece com um estudo sobre as prostitutas da cidade. Para tal, contratou ex-prostitutas que acompanharam, durante dois anos, a vida de 160 mulheres com a “profissão mais antiga do mundo”.

INdRANIl/AFP PHOTO

POrque é que Os hOmens-bOmbA devem cOmPrAr um seGurO de vidA?

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O único motivo pelo qual um terrorista poderia ter um seguro de vida é o de querer fazer-se passar por um cidadão comum. Alguém que planeia explodir o seu próprio corpo num atentado não teria outra razão para comprar uma apólice — já que as seguradoras não cobrem suicídios. O método usado pelos governos para tentar identificar quem pode ser um terrorista consiste em cruzar informações de cidadãos aparentemente comuns, usando dados como as suas transacções bancárias. Quase todos os parâmetros empregados nessa busca surgem da avaliação do perfil de terroristas conhecidos ou presos. É o caso dos 19 participantes do atentado de 11 de Setembro, que tinham algumas características comuns: abriram contas com depósitos em dinheiro, tinham uma caixa postal como endereço, recebiam remessas do exterior (pequenas, mas frequentes), quase não usavam cheques e... não tinham seguro de vida.

O que é que Al GOre e O vulcãO PinAtubO tÊm em cOmum? Tanto o ex-vice-presidente norte-americano Al Gore, o profeta do aquecimento global, como o vulcão filipino Pinatubo, apresentam soluções para descer a temperatura do planeta. No caso do vulcão Pinatubo trata-se de uma reacção involuntária e inesperada. Os autores usam a história para mostrar como funcionam as “externalidades”, conceito económico que se assemelha ao de “efeito colateral”. Em 1991, o vulcão Pinatubo entrou em actividade nas Filipinas, expelindo toneladas de dióxido de enxofre na estratosfera e formando uma camada de 11 a 50 quilómetros de altura. As partículas de enxofre funcionaram como um filtro que diminuiu a entrada de raios solares. Resul-


tado: a temperatura da Terra desceu 0,5 graus Celsius nos dois anos seguintes. Os investigadores da Intelectual Ventures, empresa especialista em patentear invenções, querem repetir essa simulação natural com a ajudinha do homem. duas mangueiras, uma em cada pólo do planeta, alçadas por balões de hélio, bombeariam dióxido de enxofre na estratosfera para reproduzir o mesmo efeito refrigerador do planeta. loucura? Talvez. Mas, caso os piores cenários do aquecimento global se materializem, essa pode ser uma saída. O melhor de tudo é o preço: 100 milhões de dólares de investimento inicial e 150 milhões por ano gastos na operação. Trata-se de uma minúscula fracção do custo considerado necessário para estabilizar a produção dos gases do efeito estufa — uma estimativa que já chegou a 1,2 triliões de dólares por ano.

ROb HOwARd/CORbIS

As motivações para a acção Um capítulo inteiro do livro é dedicado à discussão sobre o altruísmo. Ou melhor, a desacreditá-lo. Para isso os autores recorreram a Gary Becker, vencedor do Prémio Nobel, professor da Universidade de Chicago, especialista na aplicação da economia às ciências humanas como a sociologia e a antropologia. Becker considera que existe um elemento estratégico em qualquer manifestação de comportamento altruísta. Um estudo relatado no livro mostra que existe uma relação directa entre o rendimento dos velhinhos e o número de visitas que recebem no asilo. O resultado é que quanto mais rico o indivíduo for, mais ele é visitado pelos parentes. Porém, essa correlação desaparece quando o idoso tem um único filho. Ou seja: a relação positiva entre riqueza e visitas só surge quando o velhinho tem pelo menos dois herdeiros. Os autores sugerem que a competição pelo espólio é que rege o processo. Levitt e Dubner também exploram o que economistas chamam “lei das consequências não premeditadas” — as acções humanas podem ser previsíveis, mas também apresentar efeitos não previstos.

ROb EllIOTT/AFP

Nesse período, as “agentes infiltradas” recolheram inúmeros dados. Entre as descobertas mais insólitas está a de que vale a pena trabalhar para um clube privado. Nesses locais as prostitutas recrutam os clientes mais ricos que solicitam as modalidades de sexo mais caras. Mesmo trabalhando menos e pagando uma comissão de 25% aos seus “agentes”, as profissionais do sexo que trabalham com intermediários ganham mais. Também têm menos chance de ser maltratadas por um cliente ou de ir para a prisão. Por fim, uma descoberta dramática: o valor das modalidades de sexo alterou-se fortemente ao longo da história. Na Chicago da década de 30, o sexo oral era tabu e custava três ou quatro vezes mais do que o acto sexual convencional. Hoje, o preço relativo do sexo oral passou para menos de metade do acto sexual — 37 dólares versus 80 dólares — e tornou-se a modalidade mais procurada.

Os AnimAis POdem APrender A usAr O dinheirO? Os autores recorreram a um estudo realizado pelo investigador Keith Chen, da Universidade de Yale, para mostrar que a resposta é “sim”. A simulação de Chen envolveu um grupo de sete macacos considerados os menos inteligentes. Após vários meses de treino,os animais finalmente entenderam que podiam trocar moedas por comida. Nessa altura começaram a comportar-se como pessoas. Nas trocas, os macacos obedeciam ao mais básico pilar da teoria económica, a lei da procura: quando o preço de um alimento subia, caía a quantidade de compras que cada macaco fazia. Certo dia, o investigador apanhou um dos machos a trocar uma moeda por sexo com uma das fêmeas. deverá ter sido “o primeiro caso comprovado de prostituição entre macacos da história”.

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livros economia

POrque é que Os médicOs sãO um PeriGO PArA Os PAcientes? ISTOCKPHOTOS

Nos Estados Unidos, estima-se que entre 44 mil e 98 mil mortes por ano ocorram devido aos erros médicos em hospitais. Uma das causas mais frequentes é a infecção hospitalar. Muitas dessas mortes seriam evitadas se os médicos simplesmente tomassem uma medida quase banal: lavar as mãos com a frequência exigida. Estudos mostram, no entanto, que eles fazem isso menos de metade das vezes em que deviam. Um exemplo é o das políticas públicas para a redução do lixo. Na Alemanha, por exemplo, cobra-se um imposto que varia consoante o volume de lixo produzido. Em tese, a ideia do “poluidor-pagador” era boa. Só que as pessoas começaram a atirar os restos de comida pelas retretes causando uma infestação de ratos no sistema de esgotos. Na Irlanda, onde um programa semelhante foi adoptado, triplicaram os casos de pessoas que se queimaram seriamente ao tentar usar o fogo para se livrar do lixo. Nos Estados Unidos, duas legislações importantes provocaram uma reacção

inversa à desejada. A lei contra a discriminação de deficientes procurou dificultar os casos de despedimento e acabou por reduzir o número de contratações desse grupo. A lei de protecção às espécies em perigo de extinção levou os agricultores a destruir os habitats que pudessem atrair tais animais. Assim, eles não correriam riscos de restrições ao uso da própria terra no futuro. O livro SuperFreakonomics às vezes causa desconforto.

Além disso, não deveriam usar gravatas, um acumulador natural de germes. Os hospitais fazem tudo para incentivá-los a seguir as regras de higiene — afixam posters nas paredes, enviam e-mails e adistribuem presentes aos mais aplicados. Mas, como dizem os autores, “é duro mudar o comportamento das pessoas quando elas próprias não ganham nada com isso”. E, nesse caso, quem ganharia com a mudança seriam os pacientes.

No fundo, ao ler o livro é quase impossível não nos compararmos com os seus personagens. As histórias inspiradas no quotidiano escrutinam os mais diversos campos humanos e voltam quase sempre com o mesmo resultado: nós somos mais egoístas do que gostamos de admitir. O nosso comportamento muda quando as nossas motivações (ganhos ou custos previstos) se alteram. Eis aí uma conclusão que a sequela “freakonómica” só veio reforçar. b

AFP PHOTO

POrque é que A PrOstituiÇãO se tOrnOu umA PrOFissãO decAdente?

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Para explicar o que aconteceu, os autores voltam à Chicago dos anos 30. Naquela época, uma em cada 50 mulheres na faixa dos 20 anos prostituía-se em algum dos 1000 bordéis da cidade. Não faltavam estímulos. O salário de uma prostituta de luxo nessa época equivalia, em valores actualizados, a 400 mil dólares por ano. Hoje, na mesma Chicago, as prostitutas em geral têm uma origem pobre, 83% são viciadas em drogas e ganham cerca de 18 mil dólares por ano. O que mudou? A resposta é simples. As prostitutas modernas têm muito mais concorrência do que as do tempo de Al Capone. A revolução dos costumes tornou o sexo antes ou fora do casamento

quase trivial (ou menos arriscado). Os autores detectaram, porém, que existe uma ocasião em que as prostitutas de hoje conseguem recuperar o “brilho” do passado. O seu momento de glória acontece no feriado de 4 de Julho, data da independência dos Estados Unidos. Nesse dia, centenas de pessoas reúnem-se para comemorar a data num dos parques da cidade, o washington Park. Para muitos, a diversão tradicional é sair com prostitutas. A procura dispara e as mulheres que, no resto do ano, têm actividades normais, no dia da independência, trocam sexo por dinheiro para aproveitar a alta dos preços. É o que os autores chamam “prostitutas patriotas”.



ExameFinal POR JOÃO VAN DÚNEM

Director-geral da Media Nova

Do Dubai a Copenhaga

*a escolha de Cindy Crawford

A

última década foi marcada por um aceso debate sobre mudanças climáticas e o último ano, em particular, foi atravessado pela crise nos mercados financeiros e as suas consequências na economia real. Havendo ou não relação causa/efeito entre os dois fenómenos, a verdade é que ambos “assaltam” o nosso quotidiano. Quer queiramos quer não, a crise nos mercados financeiros criou uma sensação de perda no nosso quotidiano: perda de emprego; quebra nas vendas; redução da capacidade de compra pelas empresas e pelas famílias; diminuição de lucros; retracção no investimento e na poupança; e o adiamento dos debates sobre o impacte da questão ambiental e climática na economia global. E mais: quando já se afirmava ter passado a borrasca da crise, com o pior momento a fazer apenas história, eis que emerge a crise da dívida de um dos Estados vistos como um dos mais prósperos do mundo: o Dubai. A crise da dívida do Dubai constitui um lição para os países emergentes, entre os quais Angola. Envolve 60 mil milhões de dólares malparados à Holding Dubai World e levanta preocupações de que alguns bancos possam arrepiar caminho relativamente a empréstimos, provocando, por consequência o abrandamento da recuperação económica mundial. É neste contexto de novas incertezas no mundo financeiro que se realiza a Cimeira de Copenhaga sobre mudanças climáticas. O que podemos fazer mais para reduzir as emissões de CO2 e o aquecimento global? Eis a questão. A maratona de cerca de duas semanas que abriu portas a 7 de Dezembro, com a presença de delegações de mais de 190 Estados do mundo, pretende a reavaliação do Protocolo de Kyoto, assinado, em 1997, por 37 países do mundo. Kyoto estabeleceu objectivos relativamente à quantidade de gás carbónico que cada um dos subscritores poderá emitir. Agora, em Copenhaga, marcam presença mais de 60 chefes de Estado e de governo incluindo 130 | www.exameangola.com

CARLOS MOCO

A crise do Dubai é uma lição para países emergentes como Angola. Na Cimeira de Copenhaga joga-se o futuro de África o Presidente Barack Obama, dos Estados Unidos, a maior potência industrial do mundo e que antes se inibiu de assinar o célebre Protocolo de Kyoto. A participação de Barack Obama augura diferenças, pela positiva, na postura de Washington vis à vis aos problemas globais, nomeadamente o aquecimento. Daí que se depositem expectativas relativamente à possibilidade de adopção de um Protocolo de Copenhaga corajoso, no mínimo, quanto a intenções. E embora se saiba já haver pré-acordo para a não imposição imediata de metas compulsórias, parece ser combina certa entre os grandes do mundo, o estabelecimento de um prazo maior, até final de 2010 para a adopção de um tratado com força de lei. Mas o busílis reside nos Estados em desenvolvimento. Produzem cerca de quatro quintos da produção alimentar mundial. E nestes, a questão ambiental, nomeadamente a redução das emissões de CO2 e o aquecimento global, assumem contornos diferentes, destacando aqui apenas três vertentes da problemática: a sensibilização das elites políticas e económicas; a capacidade de investimento em inovação; e as armadilhas da ajuda ao desenvolvimento.

Em África e na Ásia, ainda longe de se falar em evitar o aumento das emissões de gás carbónico, a problemática coloca-se ao nível de como mitigar o “efeito de estufa”. E as consequências são tão dramáticas que têm como expressão as cheias no Bangladesh, a desertificação na África Subsahariana e as migrações de milhões de pessoas — indivíduos e famílias — em busca de melhores condições de vida. Estima-se que a crise ambiental pode afectar o continente africano em cerca de 1,7% do seu actual produto interno bruto, avaliado em 217 mil milhões de dólares. E, a não ser que sejam tomadas medidas urgentes em Copenhaga, corre-se o risco das gerações vindouras terem de enfrentar vagas de migrações de pessoas cujas terras se tornaram inviáveis devido a calamidades naturais. b


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