Excesso de Magenta 03

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Música Kraftwerk Ensaio vermelho red HQ Açougue Literatura Fernando Pessoa


Índice Música | pg6

New Order Quem diria que das cinzas do Joy Division nasceria uma das mais cultuadas bandas dos anos 1980. Com seu mix de música eletrônica, rock e pop, o New Order conquistou as paradas de sucesso e os corações daqueles que curtem a mágica que só boas canções de três minutos são capazes de produzir. O jornalista Guto Lobato conta a história do quarteto de Manchester.

Intitulado

Mal Secreto

Ensaio | pg18

Não fico calado, não fico parado, não fico quieto/Corro, choro, converso/ E tudo mais jogo num verso/Intitulado/Mal secreto. Inspirada nos versos de Jards Macalé, Luiza Cavalcante apresenta um ensaio no qual explicações formais ficariam deslocadas. Assim, o leitor é convidado a descobrir por conta própria ligações entre imagens e canção.

Games | pg44

E3 Todos os anos, em Los Angeles, gamers, empresários e jornalistas se reúnem para saber quais os novos rumos dos games no planeta. A Electronic Entertainment Expo é a maior e mais variada feira de jogos do mundo, e nosso colaborador Arthur Napoleão mostra com detalhes quais as principais novidades apresentadas na edição 2009 do evento.


Literatura | pg38

O Pequeno Príncipe Afinal de contas, teria o carneiro comido a flor? Essa é uma das perguntas irrespondíveis deixadas por aquele garotinho loiro e encantador que, vejam só, nunca abria mão dos próprios questionamentos uma vez que os tivesse formulado. Desde que foi lançado, o Pequeno Príncipe suscita amor e discussões ao redor do mundo. Mayara Luma conta, em forma de depoimento, como foi seu encontro com o principezinho.

morto aqui em casa

Tem algo

Intervalo | pg54

“Tem algo morto aqui em casa. Talvez seja eu. Nunca senti cheiro de cadáver, mas deve cheirar assim, ou melhor: feder assim. Por mais que eu me pergunte do que foi que eu morri não consigo me lembrar. Na verdade eu não me lembro nem porquê, por quem ou pelo quê eu vivi, nada me adianta saber agora que eu acho que estou morto.” É assim que Leandro Bender inicia uma viagem na qual é preciso ir até a última linha para saber o desfecho.

Expediente Excesso de Magenta cyan 15 | yellow 100 | black o

Editor: André Loreto Diretor de arte: André Loreto Design: André Loreto Colaboradores: Arthur Napoleão, Guto Lobato, Mayara Luma, Luiza Cavalcante, Elvis Rocha, Leandro Bender Ilustração: Rodrigo Cantalicio

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Revisão: Elvis Rocha Fale conosco: excessodemagenta@gmail.com

Música Kraftwerk Ensaio vermelho red HQ Açougue Literatura Fernando Pessoa

Capa Luiza Cavalcante

Excesso de Magenta é uma publicação bimestral. Os textos assinados são de responsabilidade dos autores e não refletem, necessariamente, a opinião da revista.


Editorial

E cá chegamos ao terceiro número. Nesta edição, como nas anteriores, tentamos apresentar um punhado de assuntos interessantes o suficiente para que você, que pula de um sítio a outro em busca de informação e entretenimento de qualidade, tenha boas razões para guardar a Excesso com carinho entre as boas fontes de leitura nesse mundaréu chamado internet. Para começar, nada melhor do que apresentar a trajetória do New Order. O fã e colaborador Guto Lobato esmiuça como das cinzas do Joy Division nasceu uma das bandas mais populares da história recente da música. Por falar em popularidade, é difícil questionar o alcance de um dos livros mais adorados (e criticados) de todos os tempos: o Pequeno Príncipe. De fábula edificante a “livro de miss” , quase tudo já foi dito a respeito do garoto que chegou à Terra de carona em um meteorito. Mayara Luma faz um relato pessoal de como foi o seu encontro com a personagem mais famosa do escritor Saint-Exupéry. Os que apreciam games poderão acompanhar as boas novidades apresentadas durante a E3 2009; quem curte boas imagens vai se deleitar com um ensaio de Luiza Cavalcante (Intitulado Mal Secreto) e os amantes de literatura terão no conto de Leandro Bender um bom motivo para gastar alguns minutos tentando descobrir o significado oculto nas entrelinhas do texto. Tudo isso logo adiante, na edição número três da Excesso de Magenta. Aproveite.


Colaboradores De Loreto

Elvis Rocha

Guto Lobato

Luiza Cavalcante

Arthur Napole達o

Mayara Luma

Rodrigo Cantalicio

Leandro Bender


pg6 Música


Por Guto Lobato

New Order Eles surgiram das cinzas de um fenômeno pós-punk, mas conseguiram sair do cenário independente e conquistar lugar ao sol no concorrido mercado pop. Com um nome sugestivo e uma proposta inovadora, o grupo também entrou para a história ao unir dois gêneros aparentemente contraditórios: rock e música eletrônica.


O

ano era 1980 e o começo não

inglês tinha perspectivas no mercado, como também

poderia ser mais épico: o band-

por propor uma união estável – e até hoje frutífera –

leader havia se suicidado, uma

entre música eletrônica e rock.

nova década começado e um

É bem verdade que nascer à sombra de um grupo

LP póstumo – e genial – circu-

pós-punk não é herança das melhores para quem pre-

lava pelas lojas europeias. Pa-

tendia aderir ao oitentismo. Tanto que, mesmo com a

rece clichê, mas era o fim de uma era: sem a liderança

quedinha pela coisa já bem perceptível na fase madu-

natural de Ian Curtis, cantor taciturno e dotado de uma

ra do Joy Division, Sumner, Morris, Hook e a tecladista

presença de palco notável, os “sobreviventes” do Joy

Gillian Gilbert – incluída na formação em 1980 – come-

Division Bernard Sumner (guitarra), Peter Hook (baixo)

çaram a incursão pelo novo gênero de forma bem tími-

e Stephen Morris (bateria) precisavam se reinventar.

da, com compactos e singles de pequena repercussão

Deixar para trás a genética musical dos anos 1970,

e sonoridade confusa. Para quem está acostumado

aderir à era dos sintetizadores e, de quebra, conquis-

ao som dançante e pegajoso do New Order recente –

tar espaço no cenário musical da época. A tarefa deu

aquele dos hits da MTV e das aparições em programas

trabalho, mas em poucos meses já estava encaminha-

de rádio comercial –, parece estranho vê-lo como um

da sob um nome sugestivo: New Order. “Ordem” res-

filho do underground nu e cru do interior inglês... mas a

ponsável não somente por mostrar que o underground

herança é latente. E transparece, principalmente, nos


dois primeiros LPs de estúdio por ele lançados.

e a guitarra base, a estrutura do grupo começou a se consolidar. Munidos de uma base relativamente am-

Tempos de transição

pla de composições próprias, o quarteto lançou, em

“Ceremony” e “In a Lonely Place”, canções do primei-

novembro de 1981, seu primeiro LP, “Movement”. O

ro single lançado pelo New Order em 1980, bem ilus-

trânsito do pós-punk à new wave é bastante aparente:

tram isso. Eram nada menos que composições velhas

as primeiras faixas, “Dreams never end” e “Truth”, po-

– leia-se do Joy Division – adaptadas à nova referên-

deriam facilmente figurar num terceiro disco do Joy Di-

cia dos músicos. Boas, porém sem identidade – e mal

vision. As vocalizações e letras, ainda raras, abordam

gravadas. Os primeiros shows do grupo datam desta

o tema do recomeço de forma velada – é o caso de

mesma época e tinham uma característica bizarra: não

“ICB”, canção cujo título, para uns, significa algo como

havia cantor definido no line-up. Dotado de uma voz

“Ian Curtis buried” (!).

convencional – e, para muitos, fraca –, Summer soltou

Dois anos de turnês e sessões de estúdio foram sufi-

o gogó por pura falta de opção, acompanhado vez ou

cientes para que o grupo sofresse intensa transforma-

outra por um desafinadíssimo Peter Hook. Há alguma

ção. Com uma produção mais arrojada e cuidadosa,

documentação sobre esta fase pré-primeiro álbum nos

o LP “Power, corruption and lies” foi lançado no mer-

extras dos DVDs oficiais do grupo (veja na seleção de

cado e alcançou boas posições nos charts ingleses,

materiais mais adiante).

sendo considerado revolucionário pela crítica musical

Com a entrada de Gillian, que assumiu os teclados

da época. O primeiro hit radiofônico, “Blue Monday”, é

»»



o grande carro-chefe da incursão do New Order nos

tes”. A boa exposição na mídia também começou a

anos 1980: sete minutos de uma batida contagiante e

render à banda recursos para produzir clipes – o pri-

cíclica acompanhada por uma pegajosa levada de bai-

meiro com ares de superprodução é o de “The perfect

xo sintetizado. Acredita-se que o single desta canção

kiss”, dirigido por Jonathan Demme. Mesmo assim, o

foi o mais vendido da história da música, mas a gra-

lançamento não causou o estardalhaço esperado e foi

vadora que o lançou, a Factory, não pôde comprová-

logo esquecido com o disco “Brotherhood”, de 1986,

lo por questões burocráticas. Na mesma linha, faixas

que ganhou status de queridinho-mor da crítica e do

como “Age of consent” e “Your silent face” têm uma

público.

atmosfera mais “para cima”, distante das melancólicas bases do disco de estreia do quarteto.

O motivo era simples: uma canção de quatro acordes e quase oito minutos de duração, dotada de um

Um detalhe de “Power...” que também contou a fa-

belo arranjo de sintetizadores e uma vocalização mar-

vor foi a estruturação do grupo. Com seu método inco-

cante. Mesmo com as qualidades do resto do disco,

mum de tocar baixo – tratando-o como uma guitarra,

“Bizarre love triangle” acabou marcando o ano de seu

para ser mais direto –, Peter Hooke passou a ser o

lançamento como uma obra isolada. Além de sucesso

responsável pelos arranjos e temas centrais. O casal

em boates e rádios, a música ainda rendeu vários co-

Gillian-Stephen ficou responsável pela “cozinha” tecla-

vers, fosse em roupagem new wave ou em formatos

do e bateria e Bernard Sumner assumiu de vez o posto

acústicos e de linhagem mais pop. Outras faixas que

de vocalista-guitarrista-letrista, aprendendo inclusive a

ganharam certa atenção foram “Paradise” – cuja re-

alcançar bom desempenho como cantor sem imitar o

gravação em uma jam session para a rede britânica

vozeirão de Ian Curtis. Dotado de uma cara própria e

BBC é mais famosa que a própria versão de estúdio

com um novíssimo leque de influências – que ia de

– um despretensioso rock com arranjos sintéticos, “All

Kraftwerk a Giorgio Moroder! –, o grupo estava pronto

day long” e a bela “Angel dust”.

para imergir no mainstream de vez, ao mesmo tempo

Com o sucesso de “Brotherhood” em mãos, o New

em que mantinha por perto os fãs mais antigos dos

Order saiu em uma grande turnê pela América do Norte,

tempos de Joy Division.

acompanhado de ninguém menos que o Echo and the Bunnymen. À mesma época, um dos mais completos

“Low life”, “Brotherhood” e um

registros de estúdio do grupo foi lançado: a coletânea

bizarro triângulo amoroso

“Substance”, que reúne canções do início de carreira,

Em 1985, entra em cena o terceiro LP do New Or-

gravações aprimoradas de singles anteriores – “Ce-

der – e provavelmente um de seus melhores até hoje

remony” e “Temptation” são as principais –, versões

–, “Low life”, com uma série de canções de sucesso

instrumentais e dois hits até então inéditos. Um deles

como “The perfect kiss”, “Subculture” e “Love vigilan-

é “True faith”, primeira música do grupo a conquistar

»»



espaço na MTV americana com seu videoclipe surreal.

uma curiosidade chamou a atenção da crítica musical:

Além disso, a herança pós-punk figura em algumas b-

as guitarras, deixadas um pouco de lado nos anos de

sides que estão no segundo disco, como “Procession”,

oitentismo, voltavam a aparecer, como se vê no carro-

“Cries and whispers” e “Hurt”. Uma curiosidade: um

chefe do disco, a bela “Regret”. Além disso, “Ruined in

ano depois, uma coletânea de mesmo nome seria lan-

a Day”, “Spooky” e “World” mostram uma performance

çada... em nome do Joy Division. O disco era parecido,

mais concisa do grupo, com letras menos confusas e

também servindo como um apanhado geral da carreira

arranjos meticulosos.

do grupo, só que com ênfase maior em b-sides e ver-

A fase de divulgação do CD durou pouco tempo.

sões ao vivo para as canções de “Unknown pleasures”

Logo em seguida, o grupo parou as atividades sem

(1979) e “Closer” (1980).

motivo ou prazo determinado. Sumner e Hook encaminhavam projetos paralelos, enquanto os demais se

“Technique”, “Republic” e a

dedicavam à vida familiar e outras atividades liberais.

pausa nos anos 1990

Somente em 1998, sob recomendação de um produtor

Do final dos anos 1980 em diante, o New Order viveu

amigo, o grupo se reuniu e decidiu sair em turnê. De

uma fase de transição pouco conhecida pelo público,

quebra, os repertórios ao vivo voltaram a contar com

em que o fim da parceria com a Factory, o surgimen-

versões para músicas do Joy Division, o que voltou os

to de projetos paralelos e a crise do projeto do grupo

holofotes da imprensa à banda outra vez.

geraram lançamentos pontuais e irregulares. “Technique”, lançado em 1989, é um disco mediano que flerta

Revival... e suposto fim

com subgêneros da música eletrônica como o acid e o

Mas os fãs só puderam saciar a sede de novidades

house. Algumas faixas, como “Fine time” e “Vanishing

já no ano de 2001. E a espera valeu a pena, pois “Get

point”, fizeram certo sucesso – mas nada que se com-

ready” é um CD consistente como poucos do grupo.

parasse à repercussão alcançada com os álbuns ante-

Habituado a compilar canções de qualidade instável, o

riores. A esta época, o grupo também gravou “World in

New Order caprichou neste lançamento com uma sé-

motion”, canção utilizada na campanha do time de fu-

rie de canções orientadas tanto para ouvintes de rock

tebol da Inglaterra na Copa do Mundo de 1990, e lan-

quanto de música eletrônica, como se vê nas belas

çou dois álbuns ao vivo. Um deles é o clássico “BBC

“Crystal”, “60 miles an hour”, “Rock the shack” e “Slow

Radio 1 live in concert”, com versões modernosas para

jam”. Além disso, há participações de gente como Billy

os maiores hits do grupo.

Corgan (Smashing Pumpkins) e Bobby Gillespie (Pri-

Com a relativa crise da new wave e a ascensão de

mal Scream) nas faixas mais cadenciadas. O resul-

outros gêneros de viés comercial, como o R & B mo-

tado foi positivo: o CD chegou ao segundo lugar na

derno, o hip-hop e o 90´s pop, houve um longo hiato

Billboard americana, além de render dois singles bem

entre “Republic”, CD lançado em 1993, e “Get ready”,

recebidos na América e ter algumas canções incluídas

que saiu oito anos depois, já em 2001. No primeiro,

em comerciais. »»


Bernard Sumner [guitarra]

Gillian Gilbert [teclado]

Peter Hook [baixo]

Stephen Morris [bateria]


Ainda na turnê de “Get ready”, Gillian Gilbert deixa

sessem continuar seguindo com o mesmo nome. “Este

a banda para cuidar dos filhos que teve com Stephen

grupo se separou! Vocês não são mais New Order do

Morris. No lugar dela, entrou o músico Phil Cunnin-

que eu! Vocês podem ter dois terços, mas não pensem

gham. Depois de quatro anos de preparação, outro

que têm o direito de fazer qualquer coisa ‘a la New

disco de orientação menos new wave foi lançado. Em

Order’, porque vocês não podem fazê-lo. Eu ainda te-

“Waiting for the sirens´call”, as guitarras e instrumen-

nho um terço! Mas estou aberto para a negociação”,

tos “madeira” ressurgem na forma de rockinhos sua-

esbravejou o baixista em seu My Space.

ves e longos, como se vê em “Who´s Joe”, “Krafty”,

Enquanto a pendenga não se resolve, muitos fãs já

“Turn” e “Jetstream” – estas duas, hits imediatos. Ou-

abriram os olhos para os projetos paralelos dos músi-

tros gêneros, como o blues e o dance rock, aparecem

cos. Hook é um mestre de versatilidade: fora o traba-

respectivamente nas faixas “Working overtime” e “Guilt

lho no New Order, ele colaborou com dois projetos,

is a useless emotion” (esta foi indicada ao Grammy

o Revenge e o Monaco, assumindo os vocais e lide-

de 2006 na categoria de melhor gravação de música

rança neste último, inclusive. Nada que supere o ori-

dance).

ginal, é verdade, mas vale uma olhada no disco auto-

Depois de “Waiting...”, mais um hiato desanimou

intitulado do último, em que se percebe sua evolução

o público. A relação entre Sumner e Hook, delicada

como compositor e até vocalista. Já Sumner acumula

desde os tempos de “Republic”, desandou de vez. Em

experiências paralelas desde 1989, quando se uniu a

2006,o grupo passou pela América Latina – com da-

Karl Bastos (Kraftwerk), Johnny Marr (The Smiths) e

tas no Brasil e Argentina – em uma turnê iniciada no

Neil Tennant (Pet Shop Boys) para o projeto Electro-

Reino Unido, mas os rumores de uma possível pausa

nic. Nos anos 1990, ele ainda trabalhou com produção

voltaram a circular partindo da boca do próprio Hook,

e mixagem para grupos de menor porte e projetos de

conhecido por seu gênio peculiar. No ano seguinte,

música eletrônica.

em uma entrevista, o baixista chegou a declarar “não

As perspectivas para um acordo sobre o New Order

estar mais trabalhando junto com Sumner”. A boataria

são as piores possíveis. No entanto, Sumner já garan-

foi finalmente confirmada em 20 de julho de 2007 com

tiu à imprensa que um novo grupo, temporariamente

uma nota divulgada por Morris e Sumner, em que eles

intitulado Bad Lieutenant, lançará um disco no outo-

explicavam a saída de Hook e garantiam a continuida-

no deste ano. A formação é atrativa: além dele e dos

de do grupo.

ex-New Order Stephen Morris e Phil Cunningham, o

Foi mais um desfecho épico. Uma porrada mediada

grupo ainda contará com o baixista do Blur Alex Ja-

pela imprensa musical inglesa incluiu farpas de am-

mes e com os músicos Matt e Jake Evans, ambos do

bos os lados durante aquele ano. Sumner declarou

grupo Rambo and Leroy. Resta esperar e ver o que

em várias entrevistas estar com material pronto para

os remanescentes da “velha ordem” pretendem trazer

um novo disco do New Order. Já Hook disse que iria

ao público. No que depender do resultado dos rachas

“interpelá-los [Sumner e Morris] legalmente” caso qui-

anteriores, coisa ruim não deve ser.


Álbuns de estúdio

Movement [1981]

Power, Corruption and Lies [1983]

Low Life [1985]

Power, corruption and lies Por que ouvi-lo: Principalmente, por seu valor histórico – é considerado um

Coletânia

Brotherhood [1986]

Substance Por que ouvi-lo: É uma coletânea

dos primeiros discos a trabalhar com fu-

completa, que contém tanto singles

sões de rock e música eletrônica. Além

essenciais quanto raridades emula-

disso, reúne algumas composições que

das do Joy Division e remixes de hits

marcaram o oitentismo.

orientados à pista de dança. Ensina

Melhores faixas: “Blue monday”, “Your

qualquer um a gostar do grupo – ou,

silent face”, “Age of consent”

ao menos, entendê-lo. Melhores faixas: “True faith”, “Temptation”, “Ceremony”


Technique [1989]

Republic [1993]

New Order – 316

Get Ready [2001]

DVD

Waiting for the Siren’s Call [2005]

Get Ready Por que ouvi-lo: É o único CD do

Por que ouvi-lo: Em meio a tantos DVDs de clipes –

New Order a apostar no rock com

quase todos incompletos e de edição confusa –, este

naturalidade, sem torná-lo sujo

traz tanto o famoso show de 1998 da banda no Re-

ou eletrônico demais. Além dis-

ading Festival quanto um raríssimo registro do New

so, a qualidade das faixas pouco

Order em Nova Iorque, no ano de 1981. É uma boa

varia, ao contrário dos repertórios

forma de conhecer os “dois lados” do grupo e escolher

instáveis dos demais discos.

qual funciona melhor no palco.

Melhores faixas: “Crystal”, “60

Melhores faixas: “Isolation” (Reading ´98), “Bizarre

miles an hour”, “Slow jam”

love triangle” (Reading ´98), “ICB” (New York ´81)


pg18

Ensaio

Intitulado

Mal Secreto


Por Luiza Cavalcante


















pg36 Dicas


Por André Loreto

John Lennon: A Vida Philip Norman Companhia Das Letras R$ 69,00

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Retalhos Craig Thompson Quadrinhos na CIA. R$ 49,00

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Blade Runner Ridley Scott DVD R$ 39,90

Singles New Order CD R$ 99,90

Bioshock Playstation 3 Blue-ray R$ 229,00


pg36 Literatura pg38

Para amolecer um coração seco, pontudo e salgado

D

esde os meus doze anos, te-

gócios, do acendedor de lampiões, do rei, do vaidoso

nho uma preocupação que me

e de tantas outras figuras fantásticas que nos mostram

aflige: “terá ou não terá o car-

o quão pequenino somos diante da grandeza desse

neiro comido a flor?”. Se você

universo? Esse alguém, definitivamente, não deve se

também se pega, muitas ve-

levar, ele próprio, a sério.

zes, aflito com esta pergunta

Se você é a pessoa descrita acima e se sentiu com-

perdida entre seus pensamentos cotidianos, é porque,

pletamente ofendido e humilhado, calma! Isto é um si-

assim como eu, foi profundamente tocado por um prin-

nal de que você não quer e não pode mais continuar

cipezinho de cabelos de ouro e cachecol esvoaçante.

indiferente aos ensinamentos do principezinho. Então,

Mas, se seu caso for o contrário, se para você eu aca-

vá em frente, encare esta quase crônica e depois corra

bo de falar grego, esqueça! Você não pode ser alguém

o mais rápido possível para as folhas de O Pequeno

suficientemente sério para ser considerado um adulto

Príncipe. Mas se você já teve o prazer de mergulhar

esperto.

neste incrível conto, vai se sentir como parte indissoci-

Talvez quem nunca tenha se dedicado à gostosa leitura de O Pequeno Príncipe se considere perfeitamente normal. Mas para mim não é. Quem nunca

ável deste despretensioso texto. O livro e o autor (visto que seria impossível separar suas histórias)

leu O Pequeno Príncipe, ah, fala sério, não pode ser

Quase sempre, O Pequeno Príncipe é classificado

normal da cabeça. Como pode alguém viver sem as

como uma fábula. Mas, para mim, a obra ultrapassa

companhias imaginárias da raposa, do homem de ne-

em muito esta classificação. Não pode, definitivamen-

»»


Por Mayara Luma


te, ser uma fábula, pois é protagonizado por alguém

piloto francês cuja vida se esvaiu no momento em que

supostamente de carne e osso; não pode, igualmente,

se viu obrigado a sair de seu país natal e viver exilado

ser um apólogo, pois as situações

em Nova York. Antoine foi uma das inúmeras vítimas

mostradas no livro estão muito

da II Grande Guerra e morreu sem que fosse necessá-

longe das reais; muito menos

rio o disparo de um só revólver.

uma parábola, já que fazem

O Pequeno Príncipe foi o último e o mais deses-

parte de seu elenco não só

perado grito de seu autor, profundamente insatisfeito

homens, como cobras, rapo-

com sua nova e triste vida nas Américas. Nasceu da

sas, carneiros e por aí vai. O

enorme veia arcadista que floresceu tardiamente em

que seria então O Pequeno

seu ser. O Pequeno Príncipe é o “fugere urbem” e a

Príncipe?

incessante procura pelo “locus amoenus” em seus es-

Uma narrativa adulta,

tágios máximos.

profundamente dramá-

Antoine não suportava viver em Nova York acom-

tica, com algumas

panhado dos comentários idiotas de literatos enfado-

características

nhos e do fardo que, para ele era, o reconhecimento

dos princi-

de seu trabalho. Antoine queria fugir da cidade, que-

pais

gê-

ria se refugiar em um local aprazível, próximo de sua

neros da

mãe, de sua infância, que há tempos havia perdido em

literatura

algum lugar incerto de sua vida. O Pequeno Príncipe

infantil.

é, então, fruto do sombrio labirinto de lembranças de

Assim é

quando Antoine era um menininho, é o resultado de

o livro de

uma profunda depressão que insistiu em assombrá-lo

Antoine

durante seus anos nova-iorquinos.

de Saint-

A verdade é que, parafraseando Alain Vircondelet, o

Exupéry,

Pequeno Príncipe da história traz em si mesmo e sobre

u

si os estigmas da infância de Antoine. Este pequenino

m

e frágil garoto é exatamente como seu autor se sentia no momento em que o escreve, e talvez, muito provavelmente, como se sentiu ao longo de boa parte de sua infância. O Pequeno Príncipe acaba revelando muito da de- »»


»»


pressiva e inconstante personalidade de Antoine.

pode aprender nesta vida, mas que, costumeiramente,

Sendo o último livro que escreveu em vida, O Pe-

nos some da memória: somos eternamente respon-

queno Príncipe parecia anteceder o que viria a acon-

sáveis por aqueles a quem cativamos. E aqueles por

tecer com o eterno piloto, o amante incondicional das

nós cativados se tornam seres únicos e insubstituíveis

aventuras no ar. O livro tinha um quê de presságio, de

neste mundo.

uma estranha intuição funesta. Depois de sua morte,

Nesse trecho, ao conversar com um jardim de ro-

a obra acabou quedando como o episódio fantástico

sas, é como se Antoine desejasse mostrar o desprezo

da existência real de Antoine, por mais paradoxal que

que sentia pelas prostitutas que manteve ao longo da

isto pareça.

vida conjugal, e a elas dissesse: “Vós não sois absolu-

As situações contadas pelo Pequenino Príncipe de

tamente iguais à minha Consuelo, vós não sois nada.

tão surreais chegam a parecer extremamente verda-

Ninguém ainda vos cativou, nem cativaste a ninguém”,

deiras. É isto pelo tom de realidade que Antoine con-

de forma enfática e quase agressiva.

segue dar à história ao aproximá-la ao máximo de nos-

E ainda a raposa, quando conta seu maior segre-

sas pequenas vidas cotidianas, mesmo que de uma

do ao principezinho: on ne voit bien qu’avec le coeur.

forma um tanto fantástica.

L’essentiel est invisible pour les yeux. Ver com o co-

Em tudo que Antoine escreve nesta narrativa há

ração e não com os olhos - Antoine nos propõe este

algo de desafiador. Ao apresentar um desenho que

desafio, quase como um apelo, uma súplica, à sen-

aparentemente não passa de um simples chapéu, o

sibilidade humana, tão perdida naqueles tempos de

piloto propõe a você olhar além do que se vê simples-

guerra.

mente, assim, a olho nu. É assim também quando fala do astrônomo sério que ninguém conseguia ver por

O fim

debaixo das roupas turcas e do visual desleixado.

Pouco depois de finalizar o livro, Antoine é chama-

Desafia-nos a mudar por completo os conceitos já

do, como tanto queria, para servir na guerra. O Peque-

tão enraizados em nossas mentes: o que será mesmo

no Príncipe é lançado mundo afora enquanto seu autor

mais importante, as contas intermináveis que preocu-

voa pelos céus defendendo sua amada pátria. E assim

pam e tiram o sono do homem de negócios ou pensar

também morre, em um triste dia de 1944, quando em-

se um humilde carneirinho comeu ou não a florzinha

barcou em uma missão da qual jamais voltaria.

que lhe fazia companhia em um planeta distante?

De seu avião, que simplesmente sumiu dos radares,

E como não falar da tão famosa raposa? Aquela

apenas recentemente foram encontrados alguns des-

que ensina o maior de todos os ensinamentos que se

troços. Seu corpo jamais foi visto. Mais recentemente


ainda, um piloto alemão revelou que havia derruba-

A resposta? Só os mágicos ensinamentos do prin-

do Saint-Exupéry. Mesmo assim, as circunstâncias

cipezinho guardados no âmago de cada um é que

de sua morte continuam um mistério: teria ele lutado

podem dar.

no mar por sua vida? Teria tido ele tempo de fazer

P.S: Se você esperava muito, muito mais deste

um pouso de emergência? Teria seu corpo ido para

texto, eu realmente lamento por não responder às

onde?

suas expectativas. Do momento em que escrevi a

Quem sabe O Pequeno Príncipe não tenha sido

primeira palavra até esta final, percebi o quão idiota

um presságio? Quem sabe Antoine realmente não

e prepotente foi a minha ideia de escrever sobre O

encontrou um principezinho em um pouso de emer-

Pequeno Príncipe. Como pude eu achar que poderia

gência depois de uma pane no motor, antes de sua

falar sobre aquilo que mudou por completo a minha

morte? Terá ou não terá realmente Antoine vivido

existência e até hoje toca profundamente o meu cora-

esta história fantástica?

ção? Quão idiota eu fui, eu realmente lamento.

“Le Petit Prince” Se você fala francês, aproveite para ler o livro em seu idioma original, que está disponível para download em vários sites. “A verdadeira história do Pequeno Príncipe”. Neste livro, lançado em 2008,o escritor Alain Vircondelet nos faz perceber as entrelinhas de O Pequeno Príncipe ao mostrar o momento dramático pelo qual Antoine de SaintExupéry passava quando o escreveu. O amor do Pequeno Príncipe: Cartas a uma desconhecida. O livro acaba de ser lançado no Brasil pela editora Nova Fronteira. É uma coletânea de cartas apaixonadas de Saint-Exupéry destinadas a uma mulher que não era a sua Consuelo.


E3 pg44 Games

2009

O Retorno

A

Electronic Entertainment Expo

se fechou em uma reles conferência fechada para

(ou simplesmente E3), a maior

a imprensa.

feira de videogames do ociden-

Quando foi anunciado em fevereiro que a E3 vol-

te, tem deixado muito a desejar.

taria às suas raízes, é como se a indústria ganhasse

O evento, conhecido por lotar

um novo valor. Com jogos cada vez mais modernos,

o Centro de Convenções de Los

acessórios mais imersivos, gráficos mais impressio-

Angeles com stands multicoloridos, modelos em

nantes e vendas maiores, estava na hora de abrir as

roupas apertadas representando marcas e perso-

portas para todo mundo de novo.

nagens, jornalistas, fãs e nerds ansiosos por novi-

De 1º a 4 de junho passados, mais de 50.000

dades, palcos decorados para apresentações dos

pessoas visitaram a feira e se surpreenderam com

maiores nomes da indústria como o mestre Shigeru

o tratamento dado à apresentação dos jogos. A se-

Miyamoto e cabines e mais cabines com versões

guir, divididas em categorias, estão as principais e

demo dos games mais aguardados, de 2006 a 2008

mais discutidas novidades da E3 2009.


Por Arthur Napoleão

Ação / Aventura Alan Wake (Xbox 360, PC), escritor de suspenses como

God of War III (Playstation 3), último capítulo da série,

Stephen King, se muda para uma cidadezinha do interior

promete revolucionar os gráficos e a jogabilidade das edi-

após a morte da sua noiva. A cinematográfica trama colo-

ções anteriores com melhorias técnicas em todos os sen-

ca o personagem-título tendo que sobreviver ao que parece

tidos. Kratos está de volta para se vingar dos deuses que

ser um pesadelo de monstros e puzzles saído das páginas

o traíram em uma história épica, com violência realista e

dos seus romances.

algumas das criaturas mais incríveis da mitologia grega.

Brütal Legend (Playstation 3, Xbox 360) é estrelado pelo

Silent Hill: Shattered Memories (Wii, PS2, PSP), é um

“roadie” Eddie Riggs, que é interpretado pelo ator Jack Bla-

“reboot” do game original e coloca Harry Mason mais uma

ck, e deve atravessar um mundo fantástico que cresceu sob

vez na terrível cidade assombrada. O jogo tem como grande

a cultura do Rock ‘n’ Roll – e governado por deuses do Me-

diferencial traçar um perfil psicológico do jogador, através

tal – com o objetivo que criar a melhor banda de rock de

de um questionário no ínicio do jogo e das próprias ações

todos os tempos!

ao longo dele.


Luta The King of Fighters XII (PS3, Xbox 360) ganhou da SNK gráficos totalmente novos. Sem mexer na já bem estabelecida e excelente jogabilidade, os sprites reutilizados há 14 anos foram substituídos por incríveis modelos 2D desenhados à mão em alta resolução, para os 22 personagens jogáveis. Tatsunoko vs. Capcom: Ultimate All-Stars (Wii), que era exclusivo do Japão, terá lançamento no ocidente colocando lutadores como Ryu, Mega Man e Viewtiful Joe contra os (talvez desconhecidos por muita gente) personagens como Gatchaman, da produtora de animes Tatsunoko em lutas 2D exageradas. Dissidia: Final Fantasy (PSP) reúne 20 anos de história da maior série de RPGs de todos os tempos para uma guerra comandada pelos deuses Cosmos e Chaos. Com o maior número de personagens da franquia juntos, Dissidia permite que você lute escolhendo entre o lado do bem e o do mal.


Música / Ritmo The Beatles: Rock Band (Wii, PS3, 360) conta a história musical dos quatro rapazes de Liverpool com mais de 40 músicas em gravações originais e controles que são réplicas quase perfeitas dos instrumentos que eles usavam na época. DJ Hero (Wii, PS3, PS2, 360), com detalhes da jogabilidade em si ainda não revelados, o jogo apresenta o seu próprio controle em forma de pick-up para criar mixagens originais de músicas populares dos melhores artistas e Djs.


Plataforma LittleBigPlanet Portable (PSP), é um platformer como poucos. Além personagens cativantes, belíssimos cenários e puzzles inteligentes, o jogo permite que você crie suas próprias fases, personagens e histórias facilmente, por meio de um editor, e compartilhálas com todo o mundo via Playstation Network. New Super Mario Bros. (Wii) não é exatamente uma sequência, mas sim uma revisita ao ótimo estilo gráfico em “2,5D” do jogo para DS, mantendo a jogabilidade que é marca registrada na Nintendo. Agora, quatro jogadores podem cooperar (ou competir) simultaneamente para chegar ao final de cada fase. Super Mario Galaxy 2 (Wii), sequência – este sim – do sucesso de 2007, traz uma história mais objetiva, fases mais complexas, gráficos ainda mais bonitos e também marca a volta de Yoshi, que mais uma vez serve de transporte para o Mario e pode viajar com ele entre as galáxias.


Corrida Dirt 2 (Wii, PS3, 360, PC, PSP, DS) explora ainda mais as diversas modalidades de corrida off-road, com eventos modernos reais, em várias localidades ao redor do planeta. O jogo lida fantasticamente bem com poeira, simulando sujeira e danos aos veículos e apresentando efeitos de partícula inéditos. Forza Motorsport 3 (Xbox 360) é a grande aposta da Microsoft para desbancar Gran Turismo como a melhor série de simuladores de corrida do mercado. Para esta edição, a ordem foi aumentar tudo: mais carros, mais pistas (agora são mais de 100), mais customização e mais detalhes gráficos. Need for Speed Shift (PS3, 360, PC, PSP), representa uma grande mudança de mentalidade da Electronic Arts, passando de uma “vitrine de carros sonhos de consumo” para um simulador fiel de corrida, que inclui uma sensacional câmera de dentro do cockpit. Need for Speed Nitro (Wii, DS), por outro lado, empresta o estilo de jogo mais arcade e linear de seu “primo” Burnout, que injeta velocidade absurda, mas mantém um visual estilizado pra não comprometer o frame rate dos consoles menos poderosos da Nintendo.


RPG

maior inimigo. Contando duas histórias,

Alpha Protocol (PS3, 360, PC) conta a

é possível controlar Bowser em busca

história do agente do governo americano

de mais poder e os encanadores dentro

Michael Thorton, que foi demitido, mas é

dele. Ações de um lado afetam o outro.

o único que tem informação sobre como

Mass Effect 2 (Xbox 360, PC), se-

impedir uma catástrofe internacional. O

gunda parte da trilogia, é mais um épi-

jogo traz uma história não-linear e muita

co conto intergaláctico de exploração de

liberdade para tomar decisões.

planetas e guerra civil. A Bioware prome-

Mario & Luigi: Bowser’s Inside Story

te corrigir os erros que cometeu com o

(Nintendo DSi) coloca os irmãos bigo-

primeiro jogo para entregar uma história

dudos minimizados e inalados por seu

mais imersiva e acessível.


Tiro Call of Duty: Modern Warfare 2 (PS3, 360, PC) continua a história do primeiro jogo e traz o melhor do combate atual contra o terrorismo e o tráfico de drogas às favelas do Rio de Janeiro e montanhas geladas na Rússia, entre outros locais, em fantásticas reproduções. Left 4 Dead 2 (Xbox 360, PC) leva a ação para o sul dos Estados Unidos, onde um novo grupo de quatro pessoas deve sobreviver à infestação zumbi em massa na sequência de um dos melhores games cooperativos de todos os tempos. MAG (Playstation 3), sigla de “Massive Action Game”, é um game de tiro-em-primeira-pessoa online, aos moldes de Team Fortress, mas para duzentos e cinquenta e seis jogadores simultâneos (!) no qual uma guerra é travada entre três facções. Precisa mais? Metroid: Other M (Nintendo Wii), desenvolvido em parceria com a equipe da série Ninja Gaiden, mistura a jogabilidade em primeira pessoa da trilogia Prime com a clássica visão lateral de plataforma 2D. O game apresenta uma história que vai mais fundo no universo de Samus e marca o retorno de vilões como Ridley.


Esportes Fight Night Round 4 (PS3, Xbox 360) junta no ringue os maiores nomes do boxe mundial, como Mike Tyson, George Foreman e Muhammad Ali, no melhor de suas carreiras, no melhor simulador do esporte já visto. Muito realismo nos movimentos e no visual dos pugilistas, que sangram e suam quase de verdade. Wii Sports Resort (Wii, é claro) apresenta uma nova compilação para mostrar o poder de captura de movimentos do acessório Motion Plus, que dá mais precisão e controle. As doze novas modalidades incluem esgrima, tênis de mesa, arco e flecha, canoagem, basquete, jet ski e até frisbee!


Surpresas Imagens dele já haviam vazado alguns dias antes, mas somente na E3 a Sony mostrou em detalhes o PSP Go, nova versão do seu portátil. O aparelho está menor – o que também diminuiu a sua tela –, não possui mais entrada para UMD, mas já vem com memória interna. A Microsoft mostrou o “Project Natal”, um potencialmente revolucionário acessório com câmeras que promete interação e imersão máximas, capturando o movimento das articulações do jogador e transferindo para os jogos, sem a necessidade de um controle nas mãos. A mesma Microsoft confirmou na sua conferência que o próximo Metal Gear Solid, agora centrado no personagem Raiden, também será lançado para o Xbox 360. Hideo Kojima, criador e produtor da série Metal Gear, anunciou que está desenvolvendo, junto à Konami, um novo Castlevania. Detalhes ainda serão revelados. O jogo mais surpreendente da feira, por outro lado, foi Scribblenauts, game de aventura para o Nintendo DS, que tem um visual 2D extremamente simples, que funciona assim: Você tem um problema para resolver, escreve na tela o nome de um objeto que possa ajudálo, e ele aparece. Entre as mais de 10.000 palavras reconhecíveis, estão coisas como “lenhador”, “dragão”, “máquina do tempo” e “Deus”.


Ilustração Rodrigo Cantalicio

pg54 Intervalo


Por Leandro Bender

morto aqui em casa

Tem algo

Tem algo morto aqui em casa. Talvez seja eu. Nunca senti cheiro de cadáver, mas deve cheirar assim,

ísta. Ao menos é mais confortável passar o peso da morte para outros, por mais que sejam ratos.

ou melhor: feder assim. Por mais que eu me pergunte

Não quero nem ver se fui eu que morri, não vou ligar

do que foi que eu morri não consigo me lembrar. Na

pra ninguém avisando: olha, não vai dar pra eu ir na-

verdade eu não me lembro nem porquê, por quem ou

quele churrasco porque eu tô morto, viu? Mas não se

pelo quê eu vivi, nada me adianta saber agora que eu

preocupa não, quando você morrer a gente faz outro

acho que estou morto. Nunca pensei (lembrei) que se-

pra ficar lembrando dos nossos tempos de vivos. Não

ria assim, eu aqui e minhas coisas ali ao meu alcance,

vai ser legal? Hein? Calma, não chora, eu prometo que

minha família, minhas roupas, meus amores, minhas

vai ter picanha...

decepções, minhas mortes (...) Agora lembro! Essa

Credo, não gosto nem de pensar em dar essa notí-

não é a primeira vez que me encontro em tal estado,

cia pra todo mundo que eu conheço, nisso eu invejo os

mas não me recordo que fedia assim, nem que ficava

ratos, não precisam dizer pra ninguém, apenas desa-

tão frio e tão verde, mas não aquele verde “vivo” que

parecem e todo mundo pensa que eles acharam outro

se tem quando se está... enfim, vivo, mas sim um ver-

lixo melhor que aquele em que eles “viviam”. A vonta-

de pesado, falho, uma cor que na verdade tem vergo-

de que eu tenho é de me virar pra continuar morto de

nha de ser quem é, mas que impõe respeito por onde

forma mais confortável, gostaria muito mais disso tudo

passa, uma cor... morta.

se estivesse confortável. Maldita hora que fui morrer

Mas, por que estou sendo tão pessimista? Talvez

nessa posição!

não seja eu que esteja morto, como bem me lembro

Putz! Preciso ver se deixei o gás ligado, se tirei o

aqui em casa tem ratos, quem sabe uma das minhas

ferro da tomada, paguei as contas, estudei e se fechei

ratoeiras pegou um desses malditos roedores? E ago-

a porta! Já pensou, morrer desconfortável, queimado,

ra amassado entre sua própria consciência, que por

devedor, reprovado e roubado? Aí sim seria uma tra-

sinal ele não possui, exala esse fedor e essa cor, re-

gédia, até nisso os ratos me ganham, não precisam se

fletindo sobre o que fez de importante (nada) em sua

preocupar com esse tipo de coisa. Estou começando

curta e suja vida de rato, ou até mesmo quem sabe

a ver a possibilidade de voltar rato se essa história de

todos eles se mataram depois de perceberem que não

reencarnação realmente existir. Mas antes preciso sa-

ajudavam em nada por aqui? Tsc tsc, até parece que

ber primeiro se morri. Tem algo morto aqui em casa.

seres obscuros teriam esse tipo de pensamento altru-

Talvez seja eu.


Ilustração Rodrigo Cantalicio


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