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Meio Ambiente Crédito: Projeto IAT/Governo do Paraná
PROJETO DO GOVERNO PODE ACABAR COM ECOSSISTEMAS, COM O SURF E AINDA PIORAR O PROBLEMA DE EROSÃO DA PRAIA O grupo de trabalho que envolve diversos pesquisadores da Universidade Federal do Paraná (UFPR) publicou documentos questionando a obra milionária do governo de Ratinho Júnior (PSD) para o litoral. O Projeto IAT-Aquamodelo 2020 prevê engorda da praia de Matinhos e a revitalização da orla. Mas os especialistas alertam para os efeitos colaterais graves e irreversíveis. A primeira fase da obra é de revitalização da orla de Matinhos, em 6,3 quilômetros entre a Avenida Paraná e o Balneário Flórida. A previsão de orçamento público para a primeira e segunda fases deve ultrapassar meio bilhão de reais. “O problema dessa obra já começa na sua concepção”, afirma o geólogo e professor Rodolfo José Angulo. Pelo projeto, serão construídas seis grandes estruturas perpendiculares à costa. São espigões, guias-correntes e headlands, espécies de quebra-mares rígidos e semi-rígidos que, segundo o IAT, terão a função de combater a erosão da praia e assim evitar enchentes nas cidades costeiras. Estas estruturas não estavam presentes no projeto de 2010 e são questionadas por alterarem significativamente a dinâmica das correntes marítimas da costa. Angulo estudou o projeto. “Primeiro se fala do controle da erosão, mas quando se vai analisar o projeto, os quebra-mares não têm esse objetivo. Nem tem a ver com as enchentes, porque elas também não foram estudadas no projeto. É um tipo de obra que não se faz mais porque gera custos, descaracterização da orla e um monte de problemas”.
Pesquisadores da UFPR apontam sérios problemas na elaboração do projeto de revitalização da orla e engorda da praia, que estima meio bilhão de reais dos cofres públicos só para implantação
viabilidade de dragagem para o local da engorda. “Um dos testes para essa medição, a cubagem, não foi aplicado com parâmetros confiáveis”, reforça Vedor. Outra questão levantada é a presença dos espigões e a movimentação que a areia faz naturalmente, a chamada “deriva”. Os trabalhos de geologia costeira da UFPR mostram que a deriva no litoral do Paraná movimenta cerca de 200 mil m³ de areia por ano, o equivalente a 30 mil caminhões. “As ondas tiram areia de um lugar e a jogam para frente. Quando você coloca os espigões, essa areia toda vai ficar retida de um lado. Quem vai assumir o custo de bombear artificialmente sedimento de um lado para o outro? O que a natureza faz de graça vamos ter que assumir. Quanto custa isso e quem vai fazer?”, pergunta Vedor aos responsáveis pelo projeto. Como consequência, a areia retida em Matinhos deve faltar em Pontal do Sul e em outras praias. “Hoje Ipanema, Shangrilá, Atami e Pontal do Sul, balneários com grande número de veranistas nas férias, começarão a sofrer com erosão. Você gera um problema onde não existe e isso não foi respondido. Temos certeza que vai acontecer, não é um cenário hipotético”, afirma Vedor.
De onde vem a areia O geógrafo Eduardo Vedor de Paula aponta um problema para sustentar a engorda da faixa de areia. Ele questiona a falta de estudos prévios para verificação da origem dessa matéria-prima. “Não tem areia. A nossa plataforma no Paraná tem pouca areia e muita lama. A obra vai colocar lama pra engordar a Praia de Matinhos e vai ser o caos. A chance de necessidade de outras obras para corrigir essa é bem grande”, prevê o geógrafo. Os pesquisadores da UFPR enfatizam que o projeto não fez medições adequadas de volume e das características da areia e da
Desenho gráfico de quebra-mares do Projeto IAT - Obras “complementares” podem alterar completamente o fundo do mar. Crédito: IAT