Justiça Eco - OJC - setembro 2021 - edição 8

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Política Serra do Mar no Paraná. Proteger a vegetação é essencial para produzir água na região sul do país. Crédito: Simone Balster

OBSERVATÓRIO DE JUSTIÇA E CONSERVAÇÃO ARTICULA CARTA ENVIADA A ARTHUR LIRA CONTRA RETROCESSOS AMBIENTAIS Carta contou com 173 assinaturas de intelectuais e empresários e impulsionou movimento de outros grupos O Observatório de Justiça e Conservação (OJC) e a Rede Pró-UC articularam carta ao presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (AL-PP), como forma direta de posicionamento de empresários e executivos frente às pautas ambientais em discussão na Casa. A carta enviada em 23 de junho pontuou a posição contrária a três projetos de lei que tramitam na Câmara: PL 984/2019 (leia reportagem nesta edição na página 31), PL 2633/2020 (p. 32) e PL 490/2017 (p. 34) Nomes ligados a grandes empresas e instituições assinam embaixo, como Klabin, Grupo Positivo, Itaú, Natura, USP e Fapesp, entre outros (lista completa abaixo). O movimento de união do setor inspirou outros grupos a também afirmarem suas opiniões sobre o que está acontecendo nas bancadas do Poder Legislativo do país. Diretor-executivo do OJC, Giem Guimarães conta que esta é uma forma de engajar parte do setor econômico para expor uma opinião necessária. “Não podemos, enquanto empresários, ficarmos calados diante do que é decidido de forma anti-democrática, prejudicando nossos negócios e violando o artigo 225 da CF. Se ficarmos quietos, seremos coniventes. E o que está acontecendo, é um retrocesso de proporções gigantescas, com prejuízos ambientais e econômicos de igual tamanho”, afirma Giem.

Depois desta carta, saíram dados de levantamento da Confederação Nacional da Indústria (CNI) em 10 de agosto sobre a preocupação de empresários brasileiros com a falta d’água. De acordo com a pesquisa, 9 em cada 10 empresários no país se mostram receosos com seus negócios e com o futuro econômico. A falta d’água afeta moradores diretamente na torneira de casa mas principalmente o setor produtivo - agronegócio e indústrias -, que são os maiores consumidores de água e energia elétrica. O Brasil acionou as usinas térmicas, concebidas inicialmente para cobrir períodos em que houvesse diminuição de afluência de água nas usinas hidrelétricas. Com a queda expressiva do volume de chuvas e manutenção do quadro de racionamento, água e energia faltam, o abastecimento subiu de preço, pesando no bolso do empregado e do empregador. A flexibilização das leis ambientais no país tem impacto direto na distribuição de água e produção de energia. Colocando os projetos de lei acima em pauta, o Brasil está votando a favor das mudanças climáticas, da morte de nascentes d’água e consequente diminuição da vazão das bacias. Isso ocorre no país com uma das maiores reservas de água doce do mundo. A mesma água para beber e irrigar lavouras é a que falta para funcionar máquinas no setor industrial. Pelo levantamento do CNI, 83% dos empresários consultados temem

pelo racionamento de energia. Falando em irrigação, o setor agropecuário já tem perdas bilionárias em função do desmatamento. Reportagem do Deutsch Welle Brasil de 16 de julho mostra estudo norte americano sobre o efeito que tem a derrubada expressiva de áreas de floresta sobre a temperatura nas lavouras de soja. O Brasil é o maior produtor e exportador de soja do mundo (50% da produção mundial do grão em 2021 foi cultivada em solo brasileiro, segundo a Embrapa) mas perde até 5% da produtividade do grão a cada dia em que as temperaturas passam dos 30°C. As temperaturas continuarão a subir à medida que os biomas forem devastados. Com perdas bilionárias, que chegam a 3,55 bilhões de dólares por ano por conta do calor, é comum ver uma mudança no tom de parte do setor ruralista brasileiro, agora em defesa das florestas em pé. A onda da carta com dezenas de signatários só cresce. Em 19 de agosto, a Coalizão Florestas & Finanças, o Observatório do Clima e outras 46 organizações enviaram texto a 80 instituições financeiras nacionais e internacionais alertando sobre os riscos de investimento no Brasil, diante do cenário de desmonte das políticas ambientais. Os mesmos projetos de lei citados na carta do OJC e outros foram listados, apontando ao investidor o que uma série de especialistas alertam. Este mesmo alerta é ignorado sistematicamente pelos parlamentares com poder de voto.


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