BLITZ_RE DESIGN_SCHOOL PROJECT

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DAVID BOWIE pág. 34 a 49

MASTODON Uma interessante conversa com Troy Sanders sobre guturais e relações duradoiras JON SPENCER BLUES EXPLOSION

pág. 60 a 65

MIGUEL FRANCISCO CADETE

pág. 22 a 25

FRANCISCO PEDRO BALSAMÃO

ST. VINCENT

LANA DEL REY

pág. 2 a 3

pág. 26 a 27

Conheça a «anatomia» do fenómeno pop do momento pág. 66 a 73

pág. 6 a 16

FIRST AID KIT

pág. 82 a 85

pág. 30 festivais de verão

THE BIG PINK

BRUCE SPRINGSTEEN E

Conheça as mais recentes confir-

pág. 32 a 33

LANA DEL REY

pág. 8

pág. 52 a 78

pág. 86 a 87

EM ESTÚDIO

THE BLACK KEYS

VODAFONE MEXEFEST NO PORTO

Os Blur voltam a juntar-se para

Conheça a saga de Dan Auerbach e

MADONNA EM COIMBRA

mais um disco

Pat Carney, a dupla do momento

pág. 14

pág. 52 a 59

mações dos festivais deste verão pág. 6 a 7 MADONNA EM COIMBRA A rainha pop está de volta, desta vez no estádio municipal de Coimbra


que procuramos. Mas não é privacidade (ou falta dela) que aqui vos quero falar. É muito mais confortável perceber que existem 179 mil resultados e que, pelo menos no meu caso, a primeira resposta é dada pelo site da BLITZ. Bela maneira de celebrar a edição número 70 desta revista. E se logo percebermos que este mar de novos valores é, precisamente, a razão pela qual poucos ou nenhuns deles se impõem, também sabemos que a questão já não é de ontem. Na verdade, essa primeira resposta alojada no site da BLITZ é um post de um utilizador da comunidade BLITZ que data de 2006. É assunto que já foi aqui falado, porventura vezes demais, mas que se mantém no cerne da questão: como se cultivam novos artistas na idade da internet? Quem tiver a resposta certa ganhará muito mais do que um milhão de dólares. Contudo, algo parece estar a mudar. Sobretudo porque à crise, violenta e profunda, que abalou o negócio da música nos últimos anos, se juntou, desde

A bem ou a mal

«novas b», a simpática e diabólica ferramenta de busca logo sugere o resultado

Miguel Francisco Cadete Vale a pena - escrever «novas bandas portuguesas no campo de pesquisa do Google.

Na verdade, nem é necessário completar a expressão: quando vamos em

2008, outra crise, de contornos bastante mais globais a que nos tira dinheiro do bolso todos os dias. Aqui parece não haver espaço para boas notícias e temos pena. A menos que… É natural que a recessão e a austeridade inventem, em largas parcelas da população, um sentimento de revolta. Há quem diga que a música popular vive disso mesmo e, assim senso, não se pode estranhar que essa música reflicta esse estado das nações. Não falo apenas de uma música politicamente engajada com aquela que em Portugal, por exemplo, surtiu grande efeito na década de 1970. Falo de um pulsar de indignação que começa a aflorar e que, surpreendentemente, começa a quebrar as barreiras à divulgação de novo talento que a torneira aberta da internet tinha erguido. Este discurso pode justificar a escolha da capa deste mês: a apresentação do novo álbum de Bruce Sringsteen em Paris deixa bem claro que este é um álbum tremendamente politizado e contra um certo sistema vigente; mas é ainda mais interessante para se perceber como uma nova geração de músicos portugueses começa a encontrar formas de romper o bloqueio para aceder à visibilidade mediática de que a música pop sempre precisou, precisa e precisará. E não é de marketing mais ou menos rasteiro que aqui se fala: refiro-me ao conteúdo das próprias canções. Porque nomes como Miúda, Capicua, Best Youth, You can´t Win Charlie Brown, Supernada ou Selma Uamusse deixam a certeza de que se os problemas se arrastam no tempo, o tempo acabará por resolvê-los.

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Publisher e Director: Miguel Cadete mcadete@impresa.pt Editor: luis Guerra Iguerra@blitz.impresa.pt Editor gráfico: Rodrigo Madeira rmadeira@ blitz.impresa.pt Redacção: Lia Pereira lipereira@blitz. impresa.pt, Mário Rui Vieira mrvirira@blitz. impresa.pt Colaboradores Permanentes: Rita Carmo (Fotografia) e Rui Miguel Abreu. Colunistas: Dr Bakali, Franscisco Pedro Balsemão Colaboraram neste número: Ana Patrícia Silva, André Gomes, António Pires, Celso Martins, Cristiano Salgado e Rui Ricardo (ilustração), Filipe Garcia, Jonh Hotten, JoséMiguel Rodrigues, Luís Branco, Luís Peixoto, Miguel Cunha, Pedro Dias da Silva, Ricardo Braz Frade, Ricardo Rainho, Theo Thornton. Projecto Gráfico: Rui Guerra e Vasco Ferreira Edimpresa Customer Publishing Centro de Documentação: Gesco, SA Redacção, Administração e Serviços Comerciais: Rua Calvet de Magalhães, nº 242, 2770-022 Paço de Arcos; Tel: 214 698 000 – Fax: 214 698 533 Delegação Norte: Rua Conselheiro Costa Braga, 502, 4450-102 Matosinhos Tel. 220 437 000 Publicidade: tel.: 214 544 029 – Fax: 214 435 310 Maria João Peixe Dias (Directora Comercial) mjdias@impresa.pt, Manuel Geraldes (Director Coordenador de Publicidade) mgeraldes@impresa.pt, Miguel Simões (Director Comercial Adjunto) msimoes@impresa.pt, Sofia Cunha (Gestora de Contas) spcunha@ impresa.pt, Lucinda Vaz (Gestora de Publicidade) Ivaz@impresa.pt, José António Lopes (Coordenador de Materiais de Publicidade) jalopes@impresa.pt Delegação de Publicidade Norte: Tel. 228 347 520, Fax 228 347 558, Ângela Almeida (Directora) aalmeida@impresa.pt, Helena Almeida (Gestora de Conta) halmeida@

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A bem ou, muito provavelmente, a mal.


Francisco Pedro Balsamão

Dramático de Cascais, Fevereiro de 1994

Leio na internet que correm rumores de que kurt Cobain terá gravado um álbum a solo antes de morrer. Misto de excitação e ansiedade: como será a música de Kurt sem o resto da banda, que ajudava a esconder algumas das suas fragilidades artísticas? Será que sozinho teria destruído o mito ou, pelo contrário, teria reforçado o seu endeusamento? Seja como for, o mais provável é isto tratar-se de um golpe publicitário engendrado por Courtney «90’s Yoko Ono» Love e o disco não existir, mas o mal já estava feito. Uma espiral de «e ses» começou logo a rodopiar na minha cabeça e detonou um inevitável e violento «como é que é possível ser-se tão idiota?!» que ocorre muitas vezes quando penso nos Nirvana. Não me refiro apenas a Kurt Cobain e à caçadeira que usou para acabar estupidamente com a sua vida, penso principalmente na minha própria imbecilidade. Em 1994 vivia a cinco minutos do pavilhão onde os Nirvana tocaram o seu único concerto em Portugal e uns amigos que tinham um bilhete a mais, sabendo-me fã da banda, perguntaram-me se o queria. A resposta que dei envergonha-me e assombra-me até hoje. Sou, portanto, obrigado a recorrer aos arquivos da BLITZ para escrever este texto. António Freitas relatou: «Sem cerimónias, os Nirvana romperam com “Radio Friendly Unit Shifter” à qual se sucederam mais três temas que não despertaram a atenção do público, apesar de terem sido bem aplaudidos, foram eles:”Drain You”, “Breed” e “Serve the Servants”». Pouco me importa que o texto termine concluindo que «para trás ficou um público maravilhado e absolutamente rendido à simplicidade do trio que transformou o punk». Eu, que sei de cor as letras destas e de todas as outras músicas, que preferi o chichi-cama mas daria agora o dedo mindinho do meu pé esquerdo para ter lá estado, não sei o que faria se apanhasse a jeito o dito público a quem estas músicas não despertam a devida atenção. Ingratos de um raio. Espero que nem o mais alcoolizado de vós tenha desperdiçado uma única memória daquela noite. No dia seguinte, na escola, não consegui disfarçar um sorriso quando soube que uma das minhas amigas partiu i nariz (levou com a nuca de outrem em pleno «headbanging») – a decisão de ficar em casa a beber um copinho de leite tinha-se confirmado ser a mais acertada. Afinal, haveria sempre outra oportunidade para assistir a um concerto

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dos Nirvana.

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À entrada da primavera, conti-

BLITZ), Evanescence e Sepul-

nuam a ser anunciados nomes

tura com Tambours du Bronx.

para os festivais de verão

Todos estes grupos juntam-

em Portugal. No Rock in Rio

-se aos Metallica, cabeças

Lisboa, que começa em maio,

de cartaz de 25 de maio, que

vão atuar, no dia dedicado

vêm a Lisboa recordar o Black

ao heavy metal, Mastodon

Album de 1991. A 3 de junho,

(que recentemente tocaram

os britânicos James juntam-

no Coliseu de Lisboa e que

-se aos Xutos & Pontapés no

nesta edição dão entrevista à

Palco Mundo. O bilhete de um


dia custa €61,00.

Dragon, a 7. Os bilhetes custam

Marés Vivas prepara-se para

Músicas do Mundo. Pelo Castelo

Anunciadas foram também as

entre €45,00 (um dia) e €80,00

receber Franz Ferdinand (19 de

de Sines e outros espaços da

primeiras novidades do Super

(três dias).

julho) e Gogol Bordello (20 de

cidade irão passar Béla Fleck e

Bock Super Rock, que este ano

Ao cartaz do Optimus Alive’12

julho). Apresentado como um

Oumou Sangaré (21 de julho) e

volta a realizar-se no Meco.

foram acrescentados os Mu-

festival low cost, o Marés Vivas

Hugh Masekela (28 de julho). O

Incubus, Batlles, Pete Doherty e

mford and Sons (14 de julho) e

estende-se de 18 a 21 de julho e

certame acontece entre 19 e 21

Apparat são os nomes confir-

os PAUS e The Kooks (dia 15);

tem bilhetes entre €30,00 (um

de julho e de 26 a 28 de julho.

mados para o primeiro dia do

os bilhetes valem entre €53,00

dia) e €50,00 (quatro dias).

festival, 5 de julho; seguem-se

(um dia) e €105,00 (três dias).

Também em julho, Sines acolhe

The Horrors, a 6 de julho, e Litlle

Em Vila Nova de Gaia, o festival

mais uma edição do Festival 7


EM COIMBRA

MDNA. O véu sobre o espetáculo foi levantado há poucas semanas, com uma atuação no

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De volta aos discos e aos

intervalo do Super Bowl, o evento desportivo

concertos, Madonna passa por

com maior audiência nos Estados Unidos. Na

Portugal no próximo dia 24 de

ocasião, Madonna apresentou-se num cenário

junho. O concerto acontece no

faraónico, acompanhada, na prestação do sin-

Estádio Municipal de Coimbra,

gle «Give Me All Your Luvin», pelas convidadas

que em anos recentes recebeu os

Nicki Minaj e M.I.A., que causou controvérsia

U2 (outubro de 2010) e os Rolling

ao espetar o dedo do meio para as câmaras, em

Stones (setembro de 2003).

direto.

Caso os bilhetes para o con-

«Girls Gone Wild» será o próximo single de

certo de Madonna – entre os

MDNA, título criticado pela proximidade foné-

45€ e os 170€ - esgotem muito

tica e gráfica com a droga sintética MDMA. Pro-

rapidamente, aliás, poderá ser

duzido por Madonna, em colaboração com uma

marcado um segundo espe-

equipa onde figuram Martin Solveig e William

táculo da norte-americana, à

Orbit, MDNA é o primeiro álbum de Madonna

semelhança do que aconteceu

fora da Warner Records, editora à qual estava li-

com os U2, no mesmo estádio.

gada desde 1982. Aos 53 anos, Madonna inaugu-

A Portugal Madonna vai trazer

ra com o 12º álbum de estúdio um contrato 360º

a sua nova digressão, centra-

com a promotora de espetáculos Live Nation, em

da no disco a sair em março,

parceria com a editora Interscope.


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Thurston Moore, o fundador, guitarrista e vocalis dos Sonic Youth, dá dois concertos em Portugal em março. Moore atua em Guimarães (Centro Cultural Vila Flor) a 11 de março, integrado na programação da Capital Europeia da Cultura, que se propõe levar à cidade berço «artistas icónicos da música popular urbana». A 12 de março, Thurston Moore, que em 2011 lançou o disco a solo Demolished Thoughts, toca em Lisboa, num concerto organizado pela Galeria Zé dos Bois, mas cuja sala ainda não foi anunciada. Mais para a frente no calendário, os norte-americanos War on Drugs, que recentemente apresentaram o álbum Slave Ambient, tacam no Musicbox, em Lisboa. O concerto dos War on Drugs, banda na qual já militou Kurt Vile (que nos Estados Unidos tem tocado ao vivo com Thurston Moore – está tudo ligado), acontece na sala do Cais do Sodré a 31 de maio.

UM SONIC YOUTH EM PORTUGAL


adas aclam s i a ul m eu no ras so ana, morr o t n a eric as c prete uma d a norte-am os. A intér , s e ic am an provo Etta J a mús ro, aos 73 i ações anos ória d e c t i s n l i a p j h da s de e com s últimos do mê ima d ença no passa ast» foi vít C, do bora e t m i e t , L a t s era ep mia de «A , de H tta Hawkin s leuce m a l é e b p ese ano , tam cadas ia. Jam hy tinha 14 ecido c d n a ê p em rot tenha er e d e (Do ido. zheim dolescent l A onhec e c d s a e e d ã i em e pa utela filha d deu à luz) ou à t t l o o v d , a um quan adotiv iciando aí mília n i a longo f , s o a o a teve or um 12 an n p s a o a a d m ca mes» ue Cria tta Ja iológi as duras q E b « eiro e a ã d o prim tiza da m drog a e e b v e d e t R o m ivo, da. tora consu r ao v ina a a vi a can a d , u o s t t i t a e T as yO ua Ike e de qu meço Johnn go co os com es assientor o d l i m e n o s l U s m pe ano stado Etta Ja hess, aos 15 elos E 1959, p ago, C êxito m s c e E i . õ h s d C s r e e a r d h g , «If I em di u Little Ric itora blues s Cry» ca a W d o e o r Turne rato com a ll I Could D lind». Nun B A ont sas de er Go vou « nou c e mas al gra u «I’d Rath d u q e n a íco desco »o para to de oi «re e You f u v t a a 974 a t 1 t t H s : em es, E s ooe r Can’t a e d i d n g a é n c g é ati hospi as con das d tendo das su s ao longo r num s de e s s a o l m e le C rto algu as vez a Litt conce u nas » vári Come s 80 abriu m ando berta u 6 b 9 l o e 9 á 1 n uo os a ; em ição d gravo rico; n ing Stones a sua rend t á i u m iq ll ando tal ps icou u os Ro para do, qu You» mus n o car i u n d e m á est oo ncé e To d o v o y o t . e L e B e d 09 ak cords bocas t To M la, e em 20 adillac Re n a W t Co eC ve «I Jus Cocao film na, Etta te í cio da sonagem n a esar n c ú o c a n a do p per n na e í a a o g u r e s e h ch nou a io em peso, om o do víc c s m é a l A lem n o s, s prob á 42 a grave 180 kilos. h a d sa de e r a c a e s. mais uem q am J m , co etto arido nto e Sam m a x o Dei os, D s filh e doi 10


Chocados mas não surpreendidos: terá sido este o estado de alma de boa parte daqueles que, no passado dia 11 de fevereiro, comentaram a morte de Whitney Houston, encontrada sem vida num quarto de hotel de Beverly Hills, na Califórnia, um dia antes da cerimónia dos Grammys. Aos 48 anos, e apesar de um regresso bem-sucedido aos discos, em 2009, com I Look To You, a cantora e atriz era uma sombra da estrela que, nos anos 80 e 90, deslumbrou a América e o mundo. Em 2006, e após uma longa temporada marcada pelo vício em cocaína e por um casamento tempestuoso com o também cantor Boby Brown, Whitney foi obrigada pela mãe a submeter-se a um tratamento de desintoxicação. Em 2007, divorciou-se de Brown, de quem teve, em 1993, a única filha, Bobbi Kristina, e em 2009 provou que ainda conseguia cantar, com um disco que chegou à platina. Mas a digressão

mundial que se seguiu, com espetadores a abandonarem os espetáculos a meio, desapontados com a fraca forma vocal de uma das mais potentes intérpretes da sua geração, confirmou que Whitney Houston estava numa espiral descendente. Em 2011, tornou a fazer uma cura de desintoxicação e participou no filme Sparkle, desempenahndo o papel da mãe de três cantoras a braços com os desafios da fama e da droga. O filme, no qual contracena com Cee-Lo e a vencedora do American Idol, Jordin Sparks, deve agora estrear em agosto, servindo para reavivar, à semelhança do regresso dos seus discos às tabelas de vendas, a memória de Whitney. Nascida em 1963 em Newark, New Jersey, Whitney Elizabeth Houston foi criada num lar especialmente musical: a mãe, Cissy, era uma estrela gospel; a cantora Dionne Warwick sua prima e a

deusa Aretha Franklin sua madrinha. Honrando os pergaminhos do clã, primeiro na igreja local, mais tarde nos estúdios, sempre com a chancela da editora Arista, Whitney conheceu o sucesso logo ao primeiro disco, em 1985, do qual se venderiam mais de 25 milhões de cópias. O êxito perseguiu-a nos anos seguintes, atingindo um pico em 1992, com a banda sonora de O Guarda-Costas, que também protagonizou, ao lado de Kevin Costner. No mesmo ano, casou com Bobby Brown, momento que muitos consideram ter sido o início do fim. Whitney deixa a filha, a mãe, dois irmãos e uma quantidade astronómica de discos vendidos – mais de 170 milhões – que ameaça crescer após o adeus. Cantora e atriz encontrada sem vida no início

de fevereiro, aos 48 anos. Desaparece uma das

grandes artistas dos anos 80 e 90.

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Quem lamenta nunca ter visto a banda «principal» de Manel Cruz em palco tem agora duas hipóteses. É uma das notícias mais celebradas dos últimos tempos, não só pelos fãs que acompanharam

disse então o letrista dos

os ornatos violeta na década de 90, como pelos

Ornatos Violeta, que desde

ouvintes mais jovens que, deitando mão à coleção

o final do grupo de «Chaga»

de discos dos parentes, ou socorrendo-se do You-

criou os Supernada – que em

tube e afins, lamentavam nunca ter visto a banda

breve lançarão o primeiro álbum

de Cão! ao vivo. No próximo mês de outubro,

– e os Pluto e desenvolveu o projeto

os Ornatos Violeta – agora como dantes, Manel

Foge Foge Bandido. «É uma coisa que

Cruz (voz e guitarra), Peixe (guitarra), Nuno Prata

vai bulir com muitas emoções [e por isso

(baixo), Elísio Donas (teclados) e Kinorm (bateria)

também] me dá medo», confessou, na mesma

– reúnem-se para dois «concertos de celebração».

altura, o músico e ilustrador.

O primeiro acontece a 25 de outubro, no Coliseu

Recentemente, os dois discos dos Ornatos Violeta,

de Lisboa, e o segundo a 30 do mesmo mês, no

Cão! e O Monstro Precisa de Amigos, foram reeditados

Coliseu do Porto, cidade que, há cerca de 20 anos,

com um CD de inéditos e raridades. Já este ano, a editora

viu a banda nascer e crescer.

Rastilho, em colaboração com a Universal, editou pela primeira

A novidade foi dada em primeira mão à BLITZ

vez em vinil os álbuns de 1997 e 1999. Está, assim, preparado o terreno

por Manel Cruz, no final do ano passado. «Para

para acolher o regresso, ainda que temporário e limitado aos palcos, dos

todos os efeitos, gostava de encerrar o capítulo

Ornatos Violeta, em outubro. Desde o fim da banda, em 2002, todos os membros têm

e, ao mesmo tempo, dar às pessoas que nunca

continuado a fazer música: Peixe integrou os Pluto, gravou com os DEP e os Zelig e

nos viram um concerto de Ornatos. Acho que vou

lança, este ano, um disco a solo pela Meifumado; Nuno Prata tem dois discos a solo,

simplificar isto e fazer feliz muita gente, incluindo

Todos os dias fossem Estes/Outros e Deve Haver; Elísio Donas tocou com Sérgio Godi-

eu, porque também ia gostar de dar um concerto»,

nho e Per7ume, entre outros, e Kinorm pertenceu aos Ultra Plus e Mata Tu, Pátron!.

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A poucos meses de completar 37 anos, Jack White decidiu experimentar algo de novo. Depois de servir de combustível aos White Stripes, que no ano passado anunciaram o fim do seu percurso, aos Raconteurs, aos Dead Weather e ao projeto com Norah Jones e Dangermouse, o norte-americano vai lançar um disco a solo. O álbum chama-se Blunderbuss e sai a 24 de abril, através da editora criada pelo próprio Jack White, a Third Man Records. Como já vem sendo hábito, aliás, o músico que os pais batizaram como John Anthony Gillis controlou de perto todos

e «Machine Gun Silhouette», o lado B da canção lançada, no passado mês de fevereiro, em vinil de sete polegadas, que não vai integrar o alinhamento de Blunderbuss. Sobre a estreia a solo, tem Jack White a dizer: «Este é um álbum que eu não podia ter lançado antes. Sempre evitei lançar discos a solo, mas estas canções só podiam ter o meu nome. Foram escritas do zero e não tinham nada a ver com mais nada nem com mais ninguém; só com a minha expressão [artística] e as minhas cores, na minha própria tela».

os passos do processo, gravando Blunderbuss no seu estúdio, em Nashville, e assumindo, também, as tarefas de produção. Não se sabe, por enquanto, se há «convidados especiais» neste álbum. Conhecidos até agora são «Love Interruption», o primeiro single,

13


BLUR

LENNY KRAVITZ

SIGUR ROS

Afinal, a reunião dos Blur não se

Depois de, em 2011, lançar o

Os Sigur Ros estão a trabalhar

vai ficar pelos palcos. Nas últi-

álbum Black and White America, naquele que será o seu primeiro

mas semanas, têm-se sucedido

Lenny Kravitz já se encontra a

álbum de estúdio desde 2008.

as pistas que Damon Albarn,

trabalhar num disco novo. O

«Minimal», «introvertido» e

Graham Coxon, Alex James e

álbum, ainda sem data de lança- «de arranque lento» são alguns

Dave Rowntree estão mesmos

mento, vai chamar-se Negrophi-

dos predicados aplicados pelos

apostados em voltar a estúdio,

lia e é, de acordo com declara-

islandeses ao seu vindouro

para gravar o primeiro álbum

ções do músico à Billboard, um

disco, ainda sem título. No final

desde Think Tank, de 2003.

trabalho «muito, muito cru. O

do ano passado, os Sigur Ros

Em entrevista ao jornal escocês

Black And White America era

lançaram Inni, um disco ao vivo

Daily Record, Graham Coxon,

muito produzido, apesar de ser

acompanhado de documentá-

que se prepara para lançar

natural e orgânico». Na mesma

rio, com os últimos dois concer-

um disco a solo, A+E, revelou:

entrevista, o norte-americano

tos em Londres, em 2008, antes

«Ainda não combinámos ensaiar,

explica que trabalhou nos dois

do afastamento voluntário dos

mas sem dúvida que vai haver

discos em simultâneo: «Eu sou

álbuns e concertos. Além de um

outro álbum dos Blur». Sobre os

estranho. Se estou a trabalhar

disco novo, os Sigur Ros voltam,

concertos de regresso de 2009,

num álbum e de repente a

este ano, aos placos, tendo já

considera Coxon: «Foi uma ex-

minha inspiração ditar um rumo anunciado atuações em vários

periência que curou muitas das

diferente, eu vou respeitar isso». festivais europeus e no Japão.

nossas feridas. Ficámos encantados e desabafámos muita coisa.

Título: Negrophilia

Título: a anunciar

Percebemos que ainda temos

Data: a anunciar

Data: a anunciar

muito em comum, que somos bons amigos, que somos irmãos». «Havemos sempre de nos juntar e fazer coisas. Gostamos de gravar», adianta o guitarrista. «Adoramo-nos uns aos outros e ainda gostamos de fazer música – não é um mau começo!». Antes das decalrações de Graham Coxon, já o produtor William Orbit dera a entender, através de uma série de mensagens no Twitter, que estava a trabalhar com os Blur num novo disco. Título: a anunciar Data: a anunciar 14


Êxitos do período «clássico» dos dEUS levaram Aula Magna à loucura que Tom Barman e companheiros gostavam que se tivesse sido permanente. Texto de Lia Pereira

«Sempre estivemos assim tão longe, aqui?», pergunta Barman, olhos nos doutorais, lembrando-se com certeza de outras passagens, mais tumultuosas, pela mesma sala. Barman já obrigara o público levantar-se; já esquecera o frio, pondo-se em manga curta; já dera o litro. Mas os braços (e os telefones com câmara) só se ergueram com vontade logo a seguir: não porque alguém tenha pedido, mas porque «Instant Street», um dos grandes clássicos dos dEUS, que esta noite nos soou a um «aranoid Android» de sangue mais quente, assim o determinou. Antes do desfecho da canção, chega o primeiro grande arrepio da noite: gente de pé porque sim, a celebrar euforicamente umas guitarras arranhadas sem palavras, cantadas ou ditas, numa onda espantosamente física de entusiasmo onde apetece ficar toda a noite, como se o êxtase não chegasse nunca. Efeito semelhante na audiência só chegou com «Suds and Soda»: uma celebração como se não houvesse amanhã nem FMI, um violinista rock star na frente do palco (e, poucos segundos depois, estatelado no chão), um truque de para-arranca para fazer disparar ainda mais o batimento cardíaco daqueles que, gratos por lhes ter sido saciada a sede de rock, ainda pediram um segundo encore. Não foi feita a sua vontade, mas, mesmo tendo em conta a flutuação na forma como cada momento da banda foi ontem festejado pelo público (que parece reagir apenas ao reportório dos anos 90 do grupo belga), saiu-se da Aula Magna com a sensação de que os dEUS ainda são uma banda a que podemos chamar nossa. 15


LOW E TINDER STICKS NOS SENTADOS

ers, nas categorias Rock e Hard Rock/Metal, e Bom Iver, considerado Melhor Artista Novo e autor do

Regressa no final de março o Festival para Gente Sen-

Melhor Álbum Alternativo, também brilharam numa

tada. Como sempre, o evento realiza-se em Santa Ma-

gala marcada pela morte, na véspera, de Whitney

ria da Feira, no Cine-Teatro António Maria Lamoso, e

Houston.

já tem dois nomes confirmados: os norte-americanos Low, que tocam a 24 de março, e os Tindersticks, que

MEXEFEST CHEGA AO PORTO

apresentam o novo The Something Rain a 25. A 26 de março, os Tindersticks tocam também no São Jorge,

Twin Shadow e Norberto Lobo foram dois dos últimos

em Lisboa.

nomes a serem acrescentados ao cartaz do Voda-

SUPERNADA

DAVID FONSECA LANÇA DOIS DISCOS

fone MExefest Porto, que acontece em várias salas da Invicta nos próximos dias 2 e 3 de março. Como

É já a 21 de março que chega às lojas um disco novo

aconteceu em Lisboa, o conceito do certame passa

de David Fonseca, chamado Rising. Mas o músico de

por apresentar concertos em salas tão distintas como,

Leiria não vai limitar-se a promover este álbum, nos

no caso do Porto, o Coliseu, o Teatro Sá da Bandeira

meses que se avizinham: prometida está já a sequela

ou o Café Majestic. St. Vincent, Josh Rouse, Cass Mc-

de Rising, Falling, com saída prevista para 21 de

Combs e Supernada são alguns dos artistas do cartaz

setembro. A ideia é documentar um ano da vida de

do Mexefest Porto. O bilhete custa €40,00 (mais na

David Fonseca, também com canções «avulso», lan-

Agenda).

çadas on-line. O primeiro single, «What Life Is For», já pode ser escutado em www.blitz.pt.

PRIMAVERA SOUND COM TODOS NO PORTO

ADELE RAINHA DOS GRAMMYS

Está quase completo o cartaz do Optimus Primavera Sound, que acontece no Parque da Cidade, no Porto,

16

Aos 23 anos, Adele tem a América aos seus pés. No

de 7 a 10 de junho. Entre os últimos nomes anuncia-

passado dia 12 de fevereiro, a londrina foi a grande

dos, destaque para The Flaming Lips, Rufus Wain-

vencedora dos Grammys, o prémio mais importante

wright, Black Lips, The Rapture, Atlas Sound, Lee

da indústria discográfica norte-americana. Graças a

Ranaldo, War on Drugs, St Etienne, We Trust, Gala

21, o seu segundo disco, Adele ganhou seis Grammys,

Drop e Yann Tiersen. Confirmados estavam já concer-

incluindo os de Álbum do Ano, Gravação do Ano e

tos de Bjork, Wilco, Spiritualized, Beach House, Yo

Canção do Ano («Rolling in the Deep»). Foo Fight-

La Tengo ou Afghan Whigs.




ADELE in Vogue






24

A Blues Explosion misturava rock, punk, soul e blues muito antes do surgimento de bandas como os White Stripes ou os Black Keys. O

No ano passado boa parte da vossa discografia foi reeditada. Como foi voltar a ouvir os albúns todos de uma assentada? Foi um projecto gigantesco que me levou muitos meses. Uma grande empreitada. Para ser honesto digo-te: não fiquei muito entusiasmado por ter de fazer aquele trabalho todo. Mas, no final, senti-me orgulhoso daqueles discos e acho que revisitá-los acabou por se tornar uma influência naquilo que a banda está a fazer agora, especialmente neste disco novo. Redescobrir canções que estavam perdidas ou esquecidas teve um papel importante na forma como passámos a tocar nos concertos, no tipo de canções que andámos a tocar e na maneira como as tocámos. E também influenciou o tipo de canções que compusemos agora.

Tem estado a trabalhar em estúdio. Vem aí um disco novo da Blues Explosion? Sim, temos estado a trabalhar num disco novo! Acabámo-lo agora e esperamos tê-lo cá fora em breve, se possível no verão. Já há algum tempo que andávamos a tocar juntos outra vez, e estava a correr tão bem que pensamos: já agora vamos para estúdio também! Tem sido muito agradável. Estou entusiasmado com o disco novo: é muito vivo, muito feroz. Acho que as pessoas vão gostar.

Tem opinião sobre o encerramento do Megaupload e da controvérsia dos direitos de autor nos Estados Unidos? Compreendo que os estúdios de

Quando reeditaram os vossos discos, não tiveram problemas de direitos de autor porque o Jon é o dono do catálogo. Isso é raro, não? Também sou muito punk na medida em que sou muito responsável. Não assino contratos que me façam perder os direitos das minhas canções. Sou um músico muito punk e de espírito independente.

Também misturavam rock e hip-hop, de forma muito crua, antes de a mistura se tornar popular. Alguma vez se sentiram à frente do vosso tempo? Eu misturava elementos de rock e hip-hop porque tanto gostava de um disco de Rolling Stones como de um disco dos Sonics, dos Einsturzende Neubauten ou dos Public Enemy. Todos me influenciaram e não via por que razão haveria de fazer uma distinção ou deixar alguma coisa de fora. Mas deixar-me influenciar pelo rock e pelo hip-hop já era uma coisa que vinha dos Pussy Galore [a banda anterior de Jon Spencer], em 1987. Sem me sentia à frente do meu tempo? Não, só fazia os discos que queria e divertia-me imenso com isso. Não me preocupava se fazia sentido nem com o que os outros iam pensar.

bandas - e é possível que elas tenham sido influenciadas por nós.

Em www.blitz.pt, o leitor Tadeu Almeida perguntou se Jon Spencer se recorda de uma Queima das Fitas de Coimbra, em 2000, em que Cristina Martinez, sua mulher desde 1989 e parceira nos Boss Hog, foi brindada com uma capa negra e atingida no nariz por uma pasta «voadora». «Lembro-me!», responde prontamente. «Ela não se magoou muito, a pasta não lhe acertou na cara. Mas ainda temos a capa. Outro dia estávamos a ver coisas antigas, encontrámos a capa numa caixa e falámos desses tempos».

O LEITOR PERGUNTA

Lia Pereira

Na crítica às reedições de 2011, a BLITZ escreveu que, na época em que a Blues Explosion lançou aqueles discos, importava viver no momento e não reciclar o passado, como agora. Que lhe parece esse juízo? Gosto de acreditar nisso! (risos) Não há dúvida que prefiro viver no «agora» do que no passado. Hoje, se olhares para as bandas e para os artistas que são muito populares, em boa parte estão só a reciclar o passado. Sons e estilos familiares: é isso que vende. Já eu quero fazer algo de mais radical, mais louco.

DE REGRESSO AOS PALCOS - TOCAM NO PORTO E EM LISBOA EM MARÇO - E AOS DISCOS, NOVIDADE ADIANTADA À BLITZ, JON SPENCER FALA, SEM PENEIRAS NEM FALSAS MODÉSTIAS, DAQUILO QUE DISTINGUE A SUA BLUES EXPLOSION DO REVIVALISMO ROCK.


25

Concorda que a Blues Explosion tinha, também, uma ferocidade diferente? Sim, lá está: acho que somos mais punk. «Feroz» é uma boa palavra. Somos mais experimentais, sempre corremos mais riscos. E, de certa maneira, abrimos a porta para essas

que sentiu quando estes grupos se tornaram populares? Não acho que essas bandas façam a mesma coisa que nós. Tantos críticos disseram: «ai, esta banda é como a tua» que eu acreditei, mas depois não era verdade. Penso que a Blues Explosion é, e sempre foi, um grupo original e punk. E essas outras bandas são muito clássicas, por assim dizer, dentro do rock’n’roll. Fora isso, acho bem que se goste dessas bandas.

Costuma fazer downloads? Mesmo que descubra alguma coisa na internet, se gostar vou comprar. Mas estou velho, e antiquado também.

cinema, depois de verem o que aconteceu à indústria discográfica, não queiram ver o negócio deles ir por água abaixo. Mas alguma da legislação que tem sido discutida é perigosa. Enquanto se discute a necessidade de proteger os direitos de autor, cria-se uma situação em que o Governo pode espiar - ou espiar com mais facilidade - qualquer pessoa que use a internet. Se vamos falar da indústria discográfica, [é um ramo] que tem uma longa história de corrupção e de roubo aos artistas.

Atualmente em preparação do primeiro álbum desde Damage, de 2004, a Jon Spencer Blues Explosion toca no Hard Club, no Porto, a 14 de Março, e na sala TMN ao Vivo, em Lisboa, a 15 de março.


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O seu disco mais recente, Strange Mercy, está cheio de fases icónicas

Mas sabia a letra toda. Ou teve de ir aprender? Claro que sabia! Se nasceste em 1982 os Pearl Jam fazem parte do teu ADN.

Por falar em Pearl Jam, fez recentemente uma versão ao vivo da canção «Black». Porquê? Há uma série de humor muito boa chamada Portlandia, na qual eu participei este ano, e eles têm organizado uns concertos em bares, que funcionam quase como espetáculos de comédia ao vivo. Convidaram-me para participar na série, e eu sei tocar muitas canções dos Pearl Jam porque, quando comecei a tocar guitarra, era isso que ouvia. Além disso, o Eddie Vedder também vai entrar no programa, por isso pensei: era giro tocar uma música dos Pearl Jam. Diverti-me muito. Toquei aquela canção no contexto de um programa de humor. Será engraçado se as pessoas pensarem: ai, que versão tão linda, ou ai, que versão horrível, porque foi na brincadeira.

Tem tocado em vários programas importantes da televisão americana. Era isto que imaginava para a sua carreira? Para mim, tocar nesses grandes programas é bastante surreal! É muito esquisito ver-me na televisão. Ainda me lembro de ser miúda e andar completamente obececada pelos Nirvana, pelos Pearl Jam e pelo grunge, e agora sou eu que apareço na televisão. É fixe!

E isso também se reflete noutras formas de arte que aprecia, além da música?

Mas tem uma predição especial por cruzar sons agressivos com apontamentos divertidos, quase sarcásticos? Uma das coisas que mais gosto de fazer é juntar coisas que aparentemente não funcionam bem juntas e ver o que sai dali, criando algo de novo. Juntá-las e perceber: olha, afinal até ficam bem! É o meu modus operandi. Sempre tive um sentido de humor bastante negro, e penso que isso se reflete não só nas letras como na forma como junto as coisas. Gosto que as coisas soem um nadinha perversas. Uma coisa é seguires drasticamente uma certa direção, e isso é ótimo, mas eu gosto daquele ponto intermédio em que olhas para uma coisa que é ligeiramente «ao lado» e até sinistra.

Neste disco usa mais do que nunca a guitarra. Quanto tempo passa a explorar esse instrumento? Toco guitarra há 17 anos. Por isso terei passado umas 10 mil horas a tocar guitarra, à vontade.

a letra toda, excepto a palavra «cheerleader»: era «I don’t want to be a [espaço em branco] no more». Experimentei tantas ideias más até que, passadas umas três semanas, saiu-me «cheerleader», e eu e o meu produtor olhámos um para o outro e dissemos: pronto, é isso! Tinha que ser uma palavra com um certo número de sílabas, que representasse aqeula ideia.

Lia Pereira

Anda toda a gente a falar da cantora Lana Del Rey, e do «fiasco» no programa Saturday Night Live. Tem opinião sobre o fenómeno? Ainda não ouvi o disco, mas gosto bastante da canção «Blue Jeans» e da postura dela, muito Lynchiana. É interessante que as pessoas tenham sido tão rápidas a construí-la e, agora, a deitá-la abaixo. Aquela máquina da imprensa estava ansiosa por apoiá-la, e quando ela tem um deslize no Saturday Night Live, o «castigo» foi enorme. Penso que tudo isto tem menos a ver com a Lana Del Rey e mais com o poder que a imprensa pode ter ou a rapidez com que podem matar aquilo que criaram.

tentar perceber o que é que eles estão a ver.

DE REGRESSO A PORTUGAL EM MARÇO, PARA UM CONCERTO NO PORTO, AN-

NIE CLARK, AKA ST. VINCENT, DIZ QUE NÃO É A MESMA SEM O FRENESIM DOS

PALCOS - NEM O SEU SENTIDO DE HUMOR NEGRO.


27

Sim (risos)! Gosto daquilo a que se pode chamar «outsider art». Estou aqui a olhar para o meu apatamento e a maioria das [peças de arte] que tenho devem ter sido feitas por pessoas paranoicas ou esquizofrénicas. Mas adoro conseguir olhar para a mente de alguém que, segundo os parâmetros convencionais, está «fora», e

Strange Mercy 4AD/POPSTOCK O melhor disco de Annie Clark tem em «Cheerleader», «Northern Lights» ou «Surgeon» os seus pontos mais brilhantes. Vem a Portugal apresentá-lo e garante que este concerto vai ser muito diferente da estreia no Meco, em 2012. «Vou levar a banda toda». Atua a 2 de março no festival Vodafone Mexefest, no Coliseu do Porto.

como «I don’t want to be a cheerleader no more». Como lhe ocorrem essas imagens? Este disco é sobre o lado negro do sonho americano e, pelos vistos, as cheerleaders são algo que só existe na América. E eu cresci num sítio [Dallas] onde havia muitos jogadores de futebol e cheerleaders. Quando escrevi essa canção, tinha


BB KING in MOJO



30

A data de nascimento no B.I impressiona: Johanna Soderberg nasceu em 1990; Klara Soderberg em 1993. Tudo bem, o tempo passa por nós. Mas se nos lembrarmos que as First Aid Kit já se fazem notar desde 2007, somos tentados a usar a palavra «proibida» que designa os talentos precoces: estas meninas são, evidentemente, um prodígio. The Lion’s Roar é o segundo álbum das louras nativas do país dos Roxette (musicalmente nada a ver) e, assim e repente, pode dizer-se que a correspondência trocada coms os Fleet Foxes não tem acabado extraviada (a limpidez vocal, o detalhado acompanhamento instrumental) – o flirt remonta a 2008, quando as First Aid Kit tocaram no Youtube uma versão de «Tiger Mountain Peasant Song», tendo os Foxes retribuído com um convite para um concerto na Holanda. Mas para contarmos a história do início, temos que regressar a 2007, quando as

irmãs Johanna (17) e Klara Soderberg (14 anos) enviaram uma maqueta de uma canção chamda «Tangerine» para uma rádio sueca (estas coisas ainda resultam…) que rodou durante o verão até chegar ao radar da Rabid Records, editora detida parcialmente pelos também suecos The Knife. Como a ponte aérea Suécia-Inglaterra está aberta desde os ABBA, a inglesa Witchita não demorou a afiar os dentes e Drunken Trees, o EP de estreia, chegou aos ouvidos de muita gente. Em 2010 foi editado o primeiro álbum, The Big Black & The Blue, recebido com entusiasmo pelo NME («belas melodias, harmonias de fazer derreter o coração») e a digressão que se seguiu levou as manas aos Estados Unidos, à Austrália e ao palco principal da catedral Ibérica do indie, o festival Primavera Sound, em Barcelona. The Lion’s Roar, o disco que agora chega, recolhe elogios ainda mais esfuziantes, com a Pitchfork a juntar-se ao clube de fãs (e no rústico território indie todos sabem como isso é importante). Produzido por Mike MOgis, produtor do Nebraska e membro dos Bright Eyes, eleva a parelha à nata do folk (sem rock) contemporânea, com olhos claramente postos na era do analógico, no recato campestre, no bucolismo country. Pose e substância – temos mulheres.

Na canção «Emmylou» são referidos monstros sagrados da folk e da country: Emmylou Harris, Gram Parsons, June Carter e Johnny Cash. O refrão começa assim: «I’ll be your Emmylou and I’ll be your June/ And you’ll bem y Gram and my Johnny too».

The Lions Roar WITCHITA/NUEVOS MEDIOS Gravado em Omaha (estado Americano do Nebraska) com Mike Mogis, membro dos Bright Eyes, e o papá Benkt Soderberg no baixo, o segundo álbum das First Aid Kit vinga pelo cuidado extremo empregue em harmonias vocais cristalinas.



32


à frente de uma parede de tijolos.

segundo álbum, os Big Pink atiram-se aos confins

Dissemos que não, que já tínhamos

industriais da pop dos anos 80 do século XX (olá

visto isso uma data de vezes. Então

Depeche Mode), com um hermetismo açucarado amigo

pediu-nos que subíssemos a uma

das massas (olá Duran Duran). Há três anos, frescos

árvore. Também respondemos que

e com a palavra «sensação» escrita na testa, eram de-

não. Tínhamos lido coisas sobre um

scritos como uma banda bem relacionada com apetite

fotógrafo gay, Dennis Cooper, e foi

shoegazing e os requisitos certos para gerar burbur-

aí que nos lembrámos de ser gay só

inho (a nossa longa e pitoresca palavra «buzz»). Dois

pela piada».

tempos, dois álbuns, duas posturas, uma tendência: a

Contrato assinado com a 4AD em

ingestão do elixir do passado.

2009, primeiro álbum recebido

Milo, filho de Denny Cordell – o produtor dos anos 60

como a boa nova (A Brief History of

por detrás de «A Whiter Shade of Pale», dos Procol

Love colecionou boas críticas), a el-

Harum -, detém a editora Merok, responsável por lan-

oquência dos rapazes elogiada. «Já

çamentos antigos dos Klaxons e dos Crystal Castles.

vi tantos concertos noise em que o

Furze tocava guitarra nos Atari Teenage Riot, de Alec

que se ouve é apenas uma massa

Empire, com quem diz ter aprendido os fundamentos

amorfa de som sem definição. Nós

do noise e à custa de quem adquiriu um zumbido

buscamos o noise para encontrar

no ouvido «desde o primeiro concerto que dei com

canções pop. E queremos que as

eles». Os dois juntaram-se em 2007 e passaram por

pessoas ouçam as vozes e as letras,

partidários do amor entre homens (aí está o «buzz»)

e que sintam as batidas com algum

quando lançaram «Too Young To Love», single cuja

distinto de tudo o resto», declarou

capa ostenta arte homoerótica. A «culpa é dos fotó-

Furze ao site AV Club. «É quase

grafos, diz Cordell ao Guardian: «Na primeira sessão

escultura». Luís Guerra

que fizemos, o fotógrafo disse-nos para nos pormos

O epíteto de «banda relacionada» não surge por acaso. Milo Cordell era uma espécie de «olheiro» da indústria discográfica e descobriu os Horrors para a XL. Na sua Merok Records militam nomes como Teengirl Fantasy e Active Child.

FUTURE THIS 4AD/POPSTOCK Ah… o futuro, essa coisa antiquada. Quando milhares de bandas rock procuram o riff perdido de Jimi Hendrix, os Big Pink reenquadram os anos 80 futuristas, com um pé no presente via breakbeats do grime. «Stay Gold», o primeiro single, são os Klaxons depurados, sem sirenes. Robbie Furze e Milo Cordell sabem o que querem. Ao

33




datas redondas a que se pode acrescentar uma

o homem por trás de Ziggy

terceira: em fevereiro de 1972, Bowie anunciava ao

Stardust, talvez nenhuma outra

mundo o nascimento de Ziggy Stardust do alto de

tenha sido tão insistentemente

um palco montado no pub Toby Jug, em Tolworth,

repetida quanto «quem é David

no Sul de Londres.

Bowie?». De certa maneira, é até

Com Mick Ronson nas guitarras, Trevor Bolder

possível olhar para a carreira

no baixo e Mick Woodmansey na bateria – os

deste artista e vê-la como uma

Spiders from Mars -, Bowie subiu ao palco exibin-

tentativa do próprio Bowie

do roupas extravagantes e o cabelo pintado de

para responder a essa mesma

vermelho, vestindo, efetivamente, uma segunda

pergunta. Talvez a sucessão de

pele com que podia desempenhar o papel de uma

máscaras fosse apenas o resul-

David Bowie acaba de completar 65 anos, uma ida-

estrela de rock visionária e alimentar assim um

tado de um homem em busca da

de respeitável mas que na realidade não assenta

fervoroso culto que haveria de marcar a primeira

sua própria identidade. E agora

tranquilamente na pele de um homem que passou

metade dos anos 70. Com Ziggy Stardust, David

que Bowie parece ter-se retirado

a vida a reinventar-se e que mesmo na fase mais

Bowie transformou-se num fenómeno que, no en-

definitivamente do universo da

tardia da sua carreira soube exibir uma juventude

tanto, estava longe de ter geração espontânea – o

música para se dedicar a ser um

que não coincidia com a data de nascimento. Ao

cantor levava já dez anos de palcos, uma década

pai tranquilo para Alexandria,

mesmo tempo, este é o ano em que Bowie pode

de envolvimento total com a música que só então

a filha pré-adolescente que

olhar para trás e contar cinco décadas de entrega

começava a dar reais frutos.

nasceu do seu casamento com a

à música, depois de ter formado a primeira banda

De todas as perguntas colocadas nos media ao

ex-modelo Iman, para calcorre-

em 1962, quando contava apenas 15 anos. Duas

longo das décadas sempre que se escrevia sobre

ar as ruas de Nova Iorque e co-

36


lecionar arte britânica do século

David não se desenrolou exatamente no paraíso. A

rol: o single «Tutti Frutti» de Little Richard, que o

XX, para frequentar eventos

sua família, aliás, estava longe de ser um modelo

jovem David considerou uma autêntica revelação.

de caridade e, enfim, gozar a

de virtudes e equilíbrio. A mãe, Margaret Burns

Três décadas mais tarde, em conversa com Kurt

«reforma», é que Bowie parece

(Peggy, alcunha familiar), provinha de uma família

Loder, para a Rolling Stone, Bowie continuava a

ter descoberto afinal quem é:

atormentada por casos de loucura, facto que preo-

acusar a influência do cantor americano: «Vi o

um pai e marido extremoso,

cupou o cantor nos períodos mais agitados da sua

Little Ricjard no Brixton Odeon. Deve ter sido em

com preocupações sociais e um

carreira. Peggy foi mãe solteira em 1937, dando à

1963 porque os Stones fizeram a primeira parte.

interesse sério por arte. O resto

luz o filho Terry, e tinha já 33 anos quando conhe-

Foi fantástico: os Stones abriram, depois veio Bo

é apenas a sua história.

ceu Haywood Stenton Jones, na altura casado e

Diddley e, se bem me lembro, Duane Eddy. O Sam

com uma filha. Jones divorciou-se em 1946 e casou

Cooke fechou a primeira parte. Na segunda parte

com Peggy que, alguns meses mais tarde, daria à

veio mais alguém inacreditável e depois Little Ri-

luz o único filho do casal, David.

chard. E o Little Richar foi irreal. Nunca tínhamos

QUEM É DAVID ROBERT JONES?

Apesar do casal Jones não ser propriamente aten-

visto nada assim».

«Suponho que procuro na

cioso com Terry, David sempre se mostrou muito

David assistiu ao concerto do Brixton Odeon com

música a mesma coisa que

apegado ao meio-irmão, sua primeira influência

os Kon-rads, o primeiro passo no plano anunciado

pricuro na vida». Esta frase de

séria nas inclinações artísticas. De certa maneira,

aos seus pais de se tornar numa estrela pop. Peggy

David Bowie, proferida em 1970

David transformou-se mesmo na única ligação

resistiu e tentou que o filho se empregasse como

numa entrevista concedida a

séria de Terry ao mundo «real»: depois de uma co-

ajudante de eletricista, mas essa foi uma tentativa

Penny Valentine, na Sounds, já

missão na força aérea britânica entre 1956 e 1958, o

desesperada de quem não prestou atenção aos

clarificava essa atitude de busca

irmão mais velho de David regressou mentalmente

sinais que se foram amontoando desde os dias

interior que haveria de marcar

perturbado e ser-lhe-ia mesmo diagonosticada

de escola: desde a Burnt Ash Junior School, onde

boa parte da sua carreira. Essa

esquizofrenia aguda que haveria de o conduzir,

David ingressou em 1953 depois da mudança da

busca por uma identidade fazia

anos mais tarde, ao suicídio. Antes porém, Terry

família para o subúrbio de Bromley, que os relató-

todo o sentido tendo em conta o

abriu a David um universo de referências literárias

rios escolares apontavam para as sias inclinações

contexto familiar fragmentado

– da filosofia de Nietzsche aos escritos boémios

artísticas – no coro ou na flauta, o jovem David

em que cresceu.

de Jack Kerouac e William Burroughs – e musi-

demonstrava uma capacidade musical «acima

Bowie nasceu David Robert

cais, sobretudo jazzísticas. Estas revelações terão

da média» e as suas coreografias improvisadas

Jones a 8 de janeiro de 1947, em

contribuído certamente para a escolha do primeiro

durante as aulas de Música e Movimento eram

Brixton, Londres. Com os efeitos

instrumento de David – o saxofone. No mesmo

descritas pelos professores como «espantosas»

dos bombardemanetos nazis

ano em que Terry partiu para a força aérea, o pai

e «visivelmente artísticas». Em 1958, David foi

ainda presentes numa Londres

de David trouxe para casa um dos primeiros sinais

admitido na Bromley Technical High School. Foi aí

em reconstrução, a infância de

claros do então nascente fenómeno do rock and

que, por causa de uma rapariga, teve uma mítica

37




discussão com o amigo George Underwood – have-

que formou juntamente com

ria de desenhar algumas das suas primeiras capas

o amigo George Underwood

de discos – que lhes valeu lesões permanentes no

quando contava apenas 15 anos

olho esquerdo, dando aos seu olhar o ar exótico

e em que tocava saxofone, Davie

de quem parece ter íris de cores diferentes. No

Jones and the Lower Third,

mesmo ano em que o acidente com o olho levou a

Davie Jones and the King Bees,

alguns meses de hospitalização, David ganhou o

os Mannish Boys ou os Buzz

seu primeiro saxofone, instrumento eleito graças à

eram grupos que ecoavam os

influência do meio-irmão que lhe mostrou discos

espírito da época, cruzando

de gente como John Coltrane: «Foi Terry quem

R&B e rock and rol em doses que

me iniciou», recordou mais tarde Bowie. «Ele

sublinhavam a inclinação do

conhecia todos os escritores beat, John Coltrane,

momento – mais Stones agora,

Eric Dolphy e muitos outros músicos de jazz. E era

mais Who um pouco mais tarde.

rebelde. Eu, ainda míudo na escola, de uniforme,

Uma das coisas que se tornou

comecei a sonhar que um dia viria a ser como ele.

clara para David nesta altura foi

O impacto da sua vida em mim foi tremenda-

a certeza de que não tinha estofo

mente grande».

para bandas: o seu espírito era demasiado inquieto, demasiado

ERAM UMA VEZ…BOWIE

livre e demasiado sôfrego para se acomodar aos modos mais

Uma carreira é um processo e não um plano

democráticos exigidos para a

predefinido, ideia que em David Bowie é levada ao

gestão de um coletivo. Ainda as-

extremo. David sabia desde sempre que queria ser

sim, efetuou algumas gravações

uma estrela, não tinha era um plano exato para

que alcançariam uma certa noto-

atingir tal objetivo. E antes de inaugurar aquela

riedade depois da sua carreira a

que é vista como uma das mais sólidas sequências

solo já ir bem lançada.

de álbuns da história do rock – a que vai de The

Deste período intenso de

man who sold the world a Diamond Dogs, entre

experiências, de entrada e

1970 e 1974 – haveria de experimentar diversas

saída de bandas e da procura

ideias que eram, em si mesmas, uma espécie

de um manager que o ajudasse

de retrato de uma década de 60 que avançava a

a realizar a sua visão – David

passos largos em direção ao futuro. Os Kon-rads,

chegou mesmo a escrever ao

40


empresário John Bloom, que fez

dos seus pais. Jim Bowie, o pioneiro americano

fortuna com máquinas de lavar,

cujo apelido ficou para sempre associado às

para o desafiar a fazer com ele o

facas, inspirou o novo nome artístico de David

que Brian Epstein tinha logrado

e a biblioteca de Pitt, onde o cantor descobriu

alcançar com os Beatles – resul-

Oscar Wilde, entre outros autores, abriu-lhe as

tou o encontro com Ken Pitt, um

portas da perceção. Mas Pitt faria muito mais

homem com uma experiência

por Bowie. Conseguiu-lhe, nomeadamente, o

significativa de management

primeirocontrato em nome próprio com a Pye,

(tinha trabalhado com Liberace,

que lançaria uma série de singles em 1966 sem

com os Kinks e com os Mafred

revelar, contudo, o potencial que até a impren-

Mann além de ter organizado

sa já reconhecia em David Bowie. O contrato

uma digressão britânica de Bob

com a Pye falhou e seguiu-se outro com a então

Dylan), que se revelaria decisivo

nascente Dream. Chega, em 1967, David Bowie,

no arranque da carreira a solo

o ´album inaugural da discografia do cantor.

de Bowie. Foi ele que impôs a

«Ganhei imenso ao trabalhar com Lindsay

mudança de nome, apontando o

Kemp», recordou mais tarde David Bowie.

facto de Davy Jones, que se junta-

«Mostrou me coisas como o teatro do absur-

ria aos Monkees, ser já imensa-

do, Artaud, Jean Cocteau e a atitude essencial

mente popular em Inglaterra.

que era fazer sempre o que as pessoas menos

Pitt apaixonou-se por Bo-

esperavam de nós. Fez-me compreender que se

wie – e há quem garanta

pode experimentar com as artes e correr riscos

que a paixão era literal – no

que não se correm na vida real». E, aparente-

momento em que o viu no

mente, Bowie começou a conduzir a sua vida

palco do Marquee em Londres

como um ator conduz a interpretação de uma

e lhe adivinhou um carisma

personagem. Tornou-se amante de Kemp, mas

semelhante ao de Sinatra.

ao mesmo tempo dormia com mulheres da sua

Além da mudança de nome,

companhia teatral. Kemp reagiu mal à promis-

Pitt sugeriu igualmente uma

cuidade do seu aluno e cortou os pulsos. Mais

mudança de ares e convidou

tarde, o mimo procurou algum crédito na cria-

Bowie a viver com ele, liber-

ção de David Bowie, o artista das máscaras e da

tando-o pela primeira vez da

teatralidade: «O Bowie aprendeu tudo comigo

atmosfera opressiva da casa

– os vestidos, o cabelo, a maquilhagem».

41


EM BUSCA DO PRIMEIRO SUCESSO

Foi terrível: andámos zangados para

plicado explicar a sua visão ao resto

aí durante seis meses. Só pensava:

da banda: «Não pensávamos da

A demanda de David prosseguiu através de um regresso

“oh, ele está a sair-se muito melhor

mesma maneira. Era do género: “por

aos discos. No verão de 1969, o single «Space Oddity»

do que eu” (…) Mas depois ultrapas-

amor de Deus, vamos lá, vamos ten-

conseguiu a proeza de servir de banda sonora à trans-

sámos isso». Bowie estava prestes a

tar não nos limitarmos a ser apenas

missão pela BBC da Missão Luna da NASA, alcançado

criar o seu próprio fenómeno.

mais uma banda de rock!”. Mas eles

assim o que até aí sempre tinha escapado a David Bowie – um primeiro lugar no top. A edição do single aconteceu

eram uma grande banda de rock. E

ZIGGY TOCAVA GUITARRA

pouco tempo antes do falecimento do pai de David, um

42

abraçaram a ideia mal perceberam que assim podiam sacar mais rapari-

episódio que haveria de fortalecer a sua ligação a Angel

Bowie não poderia ter chegado a

gas. E aí passou a ser: “Elas gostam

Barnett, uma jovem de 19 anos com quem o cantor ha-

Ziggy Stardus sem um percurso

destas botas!” Foi só preciso isso.

veria de casar e com quem teve um filho, Duncan Zowie

ativo pela década de 60. A promessa

Acrescentou-se um pouco de sexo à

Haywood Jones, em 1971. O álbum que ficaria conheci-

hippie de revolução sexual, o poder

equação e eles aderiram totalmente.

do como Space Oddity foi lançado em finais de 1969 e

libertári do rock adivinhado em

O cabelo deles de repente passou a

mostrou a Bowie o caminho para a década que se seguia.

Little Richard, as experiências nos

ter todas as cores possíveis. E isto

Angela ajudou o futuro marido a libertar-se das inibições

domínios do teatro experimental,

eram tipos que duas semanas

e a experimentar em todos os domínios – incluindo o se-

a literatura, arte pop e os Velvet

antes se recusavam a vestir outra

xual – o que terá preparado a sucessão de máscaras que

Underground revelados a Bowie

coisa que não ganga (risos)».

se seguiria. À revista Mojo, em 2002, Bowie confessou

por Ken Pitt logo em 1967 tornaram-

Para o próprio Bowie não restavam

que esta foi a altura em que finalmente começou a olhar

-se referências importantes quando

dúvidas – Ziggy era a resposta.

para o rock como um veículo total para os seus impulsos

Bowie aterrou em 1971 e começou

«Tornou-se evidente para mim que,

expressivos: «Eu amava a arte, amava o teatro e todas

a pensar em Hunky Dory , o seu

dada a minha timidez insuportável,

as formas com que nos exprimimos culturalmente. E o

primeiro lançamento na RCA, novo

era muito mais fácil prosseguir com

rock era uma excelente maneira de não ter que limitar

contrato que resultava já do

cena do Ziggy, tanto em cima como

nenhuma dessas minhas paixões. Podia pegar em peças

trabalho de Defries.

fora do palco. Parecia-me ser diver-

quadradas e à martelada fazê-las encaixar em buracos

Álbum de «Changes», «Oh! You Pret-

tido, um truque divertido. Quem

redondos. Foi o que tentei fazer: um pouco de ficção

ty Things», «Life on Mars», «Andy

era David Bowie e quem era Ziggy

científica, um pouco de teatro Kabuki aqui, um bocadi-

Warhol», «Song for Bob Dylan» ou

Sardust? Mas acredito qu foi tudo

nho de expressionismo alemão acolá. Era como ter todos

«Queen Bitch», Hunky Dory mostra-

motivado pela timidez. Era muito

os meus amigos à minha volta».

va Bowie na capa a fazer sua melhor

mais fácil para mim ser o Ziggy»,

Entretanto, a demanda continuava. No caminho que con-

pose Marlene Dietrich e explorava já

confessou o cantor à Mojo.

duziria a The man who sold the world – o album em que,

uma visão cada vez mais pessoal da

Numa entrevista concedida a

de acordo com o já citado crítico Charles Shaar Murray,

pop, com a ajuda de músicos como

Wiliam Burroughs e publicada na

«a história de facto começa» - Bowie sentia cada ve mais

Rick Wakeman (o piano

Rolling Stone, Bowie explicava o

a influência de Angie na sua vida e, talvez por isso mes-

de «Changes» é do homem que viria

arco narrativo de Ziggy Stardus, a

mo, acabou por despedir Ken Pitt para o substituir por

a tornar-se uma figura importante

história de um rocker transformado

Tony Defries, um homem que mais tarde teria respon-

da cena prog), e demonstrava ter

em profeta num mundo à beira do

sabilidades no lançamento das carreiras a solo de Iggy

aprendido a lição de não-compro-

colapso, que anuncia a vinda de um

Pop e Lou Reed. Com Mick Ronson e Mick Woodmansey

misso avançada pelos Velvets em

«Starman» antes de ser despeda-

envolvidos nas sessões, começava a desenhar-se a ideia

certos momentos mais abrasivos. E,

çado em palco por uma raça alien

dos Spiders From Mars. Tony Visconti, produtor com

sobretudo, Bowie entendia

durante a interpretação de «Rock

que Bowie trabalhou abundantemente, assegurou ainda

aí, definitivamente, que o rock po-

and Roll Suicide» a metáfora para o

o papel do baixista nas sessões do disco em cuja capa

deria ser uma rampa de lançamento

que acontecia, de facto, na música

Bowie parecia aplicar as ideias aprendidas com Lindsay

para expressão de uma sexualidade

parecia ser demasiado literal. Mas

Kemp. Tony Visconti, claro, tinha ajudado Marc Bolan a

mais difusa , mais livre e menos

tudo valia em palco, inclusivamente

transformar-se numa estrela, sendo uma figura chave na

convencional.

a simulação de sexo oral, com Bowie

transformação que ocorreu entre os Tyranossaurus Rex

The Rise and Fall of Ziggy Stardus

ajoelhado em frente de um Mick

e os T. Rex, cujo êxito «Ride a White Swan» é contempo-

and The Spiders From Mars saiu seis

Ronson cuja guitarra não passava

râneo de The Man Who Sold The World. Juntos, Bolan e

meses depois de Hunky Dory, dando

naquele momento de uma extensão

Bowie são pilares fundamentais na imposição do glam

a ideia de uma presença constante

do seu sexo oral. Com as fotos desse

rock, mas o arranque da fase «glitter» do homem de «Get

de Bowie que se ia transformando

momento tão revelador espalhadas

It On» foi muito mais intenso em termos de venas. «Sim,

perante o olhar atento dos seus fãs.

por toda a imprensa, Bowie decidiu

o Boley acertou em cheio», recordou há uma década

Em 1987, Bowie descreveu esse passo

confessar Melody Maker que era

David Bowie à Mojo, «e nós estávamos roídos de inveja.

como difícil, relatando que foi com-

gay. Em anos mais recentes, o cantor


abordou essa decisão comentando na imprensa britânica a sua famosa declaração de 1972: «Percebi que era capaz de libertar muita pressão dos meus ombros ao “revelar-me assim na imprensa. Não me apetecia que aparece-se gente vinda sabe-se lá de onde a dizer algo como “vou contar-te uma coisa sobre Bowie que ainda não sabes”. Eu sabia que mais tarde ou mais cedo teria que dizer algo sobre a minha vida. E, uma vez mais, o Ziggy permitiu-me fazer as coisas de uma forma muito mais condortável. Havia uma exitação no ar, a idade da exploração estava finalmente presente. E isso era o que eu estava a atravessar. (...) Eu era terrivelmente exploratório de todas as maneiras, não apenas sexualmente. Meu Deus, não havia nada que eu deixa-se em paz».

ZIGGY A CAMINHO DA AMÉRICA Durante 1972 e 1973, Bowie e os Spiders From Mars tocaram incessantemente, transformando-se no mais sério caso da pop, sendo elevados ao estatuto de super-estrelas. Ian MacDonald, no NME, em Março de 1973, deixava isso claro quando na abertura de um artigo escrevia que «nos nove meses desde que consegui reconhecimento de massas, David Bowie foi alvo de mais artigos do que a maior parte dos artistas rock podem esperar durante toda uma carreira». Em 1972, Bowie tambem ajudou a relançar uma outra estrela rock, coproduzindo com Mick Ronson o álbum Transformer do seu ídolo Lou Reed, o ex-líder dos influentes Velvet Underground. A verdade é que Bowie não iria contentar-se com um único papel e o sucesso de Ziggy já continha as sementes da sua própria destruição. Em Março de 1973, o cantor lançou Aladdin Sane o passo seguinte na sua caminhada de autodescoberta: «Houve um momento en 1973», recordou Bowie à Mojo 10 anos, «em que percebi 43




que estava tudo acabado. Não me apetecia ficar preso a esta personagem do Ziggy para o resto da minha vida. E penso que o que eu tentei fazer com o Aladdin Sane foi avançar para a etapa seguinte-mas usando uma imitação barata do Ziggy com um recurso secundário pessoal. Na minha cabeça, era “Ziggy Goes to Washington”: Ziggy sob a influência da América». A três de Julho de 1973, no Hammersmith Odeon de Londres, Bowie enterrou Ziggy, colocando um pono final na máscara que o tinha transformado no artista de maior sucesso desse ano em Inglaterra. Graças a Ziggy, todos os discos anteriores de Bowie recomeçaram a vender: contando com a coleção de covers Pin Ups Bowie conseguiu meter seis dos seus discos no top nesse ano. Mas nem isso chegou para o convencer a manter a máscara. Era tempo para mais uma «ch-ch-ch- change». Diamond Dogs, lançado em 1974, é, pode dizer-se, a última peça do puzzle Ziggy Stardust, um álbum que nasceu de canções escritas para um musical inspirado em 1984, de George Orwell mas cuja produção foi vetada pela família do escritor. O álbum de «Rebel Rebel» oferecia o derradeiro canto do cisne de um Ziggy glam, apesar de já não haver sinais dos músicos dos Spiders From Mars e de se registar o regresso de Tony Visconti. Bowie preferia agora músicos de sessão, opção tornada ainda mais evidente quando, na digressão americana de 74, o cantor escolheu tocar com músicos que surgiam ocultos em palco por uma cortina este é período em que o feitiço da América finalmente conquista Bowie, que se muda para Nova Iorque, primeiro, e para Los Angeles, logo depois, num período marcado por um consumo intenso de cocaína, mas também por uma rendição ao som da América negra. Depois do glam, vinha aí um Bowie imerso que ele próprio escreveu como «plastic soul». Na America, Bowie gravou vom jonh Lennon (clássico «Fame») e Luther Vandross, e frequentou estúdios em Filadelfia para criar o álbum onde explorou a sua recém-adquirida paixão pela soul americana, Young Americans. Seguiu-se o Thin White Duke de Station to Station, o álbum movido a cocaína de Bowie, lançado a meio de uma década onde todos os principais artistas parecem ter tido fases alimentadas com o mesmo combustível. 46


«Depois de Diamond Dogs», comentou David Bowie mais tarde, « eu estava num estado lastimável. Basta olhar para algumas das minhas fotos. Nem consigo acreditar que sobrevivi. Podem ver-me nos Grammys (em 1975), por exemplo: sou uma caveira. Não carne nenhuma. Sou apenas um esqueleto» Numa digressão europeia organizada para promover Station to Station, Bowie viu-se envolto em controvérsia ao declarar que «Inglaterra poderia beneficiar de uma liderança fascista» e ao ser fotografado em Victoria Station, Londres, uma pose que se assemelhava a uma saudação Nazi. O cantor negou tal facto, mas a verdade é que o seu consumo abusivo de droga o levou a cultivar algumas leituras perigosas sobre Hitler e o fascismo, sendo inclusivamente detido na fronteira da Polónia com a Rússia por possuir matéria Nazi. «Eu estava passando, completamente maluco», comentaria mais tarde sobre esse período. Primeiro Berlim, depois o mundo. Decidido a cortar com o passado, Bowie deixou o manager Tony Defries em 1975, divorciou-se de Angela em 1977, trocou Los Angeles pela Suiça, primeiro, e por Berlim , mais tarde. Na cidade dividida pelo muro, bowie começou a tentar afastar-se das drogas, trabalhou com Brian Eno e Tony Visconti e dividiu um apartamento com Iggy Pop, ajudando o ex-Stooges a gravar a sua estreia a solo, The Idiot. A passagem de Bowie por Berlim, onde o cantor explorou o legado do krautrock numa trilogia que ainda hoje é celebrada – os álbuns Low e Heroes (ambos de 1977) e ainda Loger (de 1979) – rendeu algum do seu trabalho mais profundo e experimental, mas afastou-se dos lugares cimeiros dos tops. Bowie regressou ao primeiro lugar do top britânico com o seu ultimo lançamento para RCA, o álbum Scary Mosnters (and Super Creeps) (1980) que incluía os classicos «Fashion» e «Ashes to Ashes», este ultimo um retorno á personagem de «Major Tom» que tinha ajudado «Space Oddity» a transformar-se no primeiro êxito da carreira do canto. Seguiu-se uma pausa de três anosapenas interrompida para a colaboração com os Queen 47


48


À espera de um milagre

em «Under Pressure» (novo número 1) – e a 14 de abril

Ziggy Stardust ensinou o mundo a rockar com uma

de 1983 DavidBowie lançava aquele que se transfor-

batida diferente e provou que o «eyeliner» pode ser tai

maria no maior êxito da sua carreira : Let´s Dance, um

cortante como um riff, questionando noções adquiridas

álbum produzido pelo homem do toque de Midas, Nile

de identidade, sexualidade e comportamento, ajudan-

Rodgers (dos Chic), e que ajudou o cantor de «Madern

do, efetivamente, a mudar o mundo ou pelo menos a

Love» a tornar-se tao relevante para a decade da MTV

cobri-lo para lá do cinzento típico da época.

quanto Madonna ou Prince. O disco alcançou galardões

Barney Hoskyns escreveu no 30º aniversario de Ziggy

de platina de ambos os lados do Atlântico, um feito que

que «Bowie levou o glam até um ponto com que os

Bowie nunca mais conseguia repetir . Ao mesmo tempo,

Slade apenas podiam ter pesadelos» Hoskyns conclui o

o sucesso de vendas de « Let´s Dance» e os telediscos

seu rasgado elogio a Ziggy Stardust fazendo um retrato

que confirmavam Bowie como uma estrela da era do

do Bowie do seculo XXI que continua perfeitamente

vídeo ajudavam a cimentar o estatuto de artista de

nítido «Bowie conformou-se com o papel de um dos

estádio, permitindo-lhe embarcar nalgumas das mais

embaixadores “arty” do rock, juntando-se à elite de

bem sucedidas digressões da época.

homens com riqueza e bom gosto que inclui Eno e Peter

Pode dizer-se que depois de Let´s Dance, Bowie nunca

Gabriel. Ele tornou-se – para usar adjetivo com que

mais se encontrou totalmente como artista. Apesar

Keith Richards esbofeteou Mick Jagger- “ respeitável”.

de conseguir registar momentos interessantes («blue

Pensa-se no Bowie do seculo XXI e vê-se logo Iman e

Jean»), os projetos pouco convincentes (Tin Marchine)

fatos italianos, Bowienet, Bowiebanc, e não “Queen

e abraçar ideias que pareciam esgota-se em si mesmas,

Bitch”, “Five Years”, “ TVC15”, “warszawa”. E nem

tentativas de redescoberta de uma relevância artística

sequer se pensa em “ Ashes to Ashes”, a sua ultima

que pareciam sempre sagrar-se por um redondo falhan-

grande canção» a opinião tem o seu quê de verdade,

ço (Black Tie White Noise). Nada disso, no entanto,

outro tanto de injustiça. David Bowie, 65 anos parece

ensombra o seu passado.

que sempre existiu…

gravou um par de canções para

lado de Alicia Keys num espetáculo

só regressaria se pudesse lançar

filmes ( uma versão de “Changes”

de beneficência em Nova iorque. No

algo sísmico. Se regressar ao palco

Há dez anos que não lança um

em dueto com Butterfly Boucher

ano seguinte, Bowie foi convidado

tem que ser com muitos flashes.

álbum, o ultimo concerto foi há oito.

para Shrek 2, «(She can) Do That»

de Scarlett _Johanosson no disco

Seria um milagre, mas é verdade

Que é feito de David Bowie?

para Stealth). No ano seguinte,

de tributo a Tom Waints, Anywhre I

que os milagres acontecem». Cá o esperamos.

surgiu em palco com os Arcade

Lay My Head, e desde então tem-se

Em junho de 2004, durante um

Fire em duas ocasiões distintas, fez

mantido tranquilo na Nova Iorque

concerto no Hurricane Festival, na

coros em «Provence» dos TV On

que adoptou como lar depois do

Alemamnha, David Bowie sentiu

The Radio, surgiu ao lado de Snoop

casamento com Iman, a ex-modelo

uma dor no peito. Em consequência

Doog num anuncio de promoção

em 1992 com quem teve uma filha,

disso, o cantor fez uma angioplas-

à Radio de Satelite XM e ainda se

Alexandria, em 2000.

tia de urgência em Hamburgo e

juntou a Lou Reed em No Balance

Bowie parece não revelar grande

viu-se forçado a cancelar 14 datas

Palace dos dinamarqueses Kashmir.

vontade de voltar a «tempo inteiro»

que ainda restavam na sua Reality

Depois de ser distinguido com

à música e Paul Trynka, biógrafo

Tour, incluindo uma passagem que

um Grammy de carreira em 2006,

que o ano passado lançou Starman,

se encontrava programada para

declarou que iria tirar um ano»nada

declarou que Reality, de 2003, pode

o Porto, a 17 de julho. Depois da

de digressões, nem álbuns», mas

muito bem ter sido o último lança-

delicada cirurgia, Bowie pratica-

ainda arranjou tempo para surgir

mento de originais: «O meu coração

mente abandonou os palcos e os

de surpresa nem conserto de David

diz-me que ele há de voltar, mas a

estúdios, salvo pequenas aparições

Gilmour no Royal Albert Hall. No

minha cabeça diz-me que quase de

pontuais. Ainda em 2004, Bowie

mesmo ano, o cantor apareceu ao

certeza isso não vai acontecer. Ele 49



BURAKA SOM SISTEMA in El País


Juntos há mais de dez anos, Dan Auerbach e Pat Carney «ganharam a lotaria» com Brothers, o álbum de 2010 que lhes rendeu fama em todo o planeta, três Grammys e um prémio da MTV com o nome da banda trocado. Com El Camino fresco nas lojas, os Black Keys ameaçam prolongar o seu reinado Blues-rock, mas prometem nunca esquecer que já foram dois rapazes remediados de uma cidade nada cosmopolita, conta LIA PEREIRA.



Quando Brothers, a casa de «Tighten Up» e «Howlin’

renda – segundo os próprios, depois dos 10 dólares

pre com um ar alucinado, meio

For You», foi lançado, nem Dan Auerbach nem Pa-

averbados com o primeiro concerto, a remuneração

passado», «denuncia» Patrick

trick Carney, os dois membros dos Black Keys, eram

foi crescendo de forma sustentadam proporcionando-

Carney na entrevista que, recen-

jovens inexperientes. Em maio de 2010, o vocalista

-lhes uma autonomia modesta ao fim de quatro

temente, conduziu os Black Keys

e guitarrista de ascendência polaca, natural, à

meses de estrada – mas estavam longe de figurar

à capa da revista Rolling Stone.

semelhança do seu companheiro de banda, da cidade

no Olimpo do rock. Ainda hoje, fiéis aos casacos

Dan, cujo pai era um espírito livre,

de Akron, no Ohio, tinha acabado de completar 31

de ganga (Dan Auerbach) e aos óculos de massa à

mercador de arte e fã de Billie

anos. Quase 20 centímetros mais alto que Dan, o

«cromo» (Patrick Carney), congratulam-se por não

Holiday, Robert Johnson e Hank

gigante Patrick Carney entrara há poucas semanas na

serem reconhecidos fora dos palcos. «Sempre nos

Williams, não só se confirma a

casa dos 30. Juntos nos Black Keys desde o começo

estivemos a borrifar para a nossa imagem, e geral-

fama de «ganzado» como lhe junta

dos anos 00, Dan e Patrick lançaram, entre 2002 e

mente odiamos as pessoas que ligam muito a isso»,

um ou outro pormenor sumaren-

o ano de Brothers, cinco álbunsm entre os quais os

sentenciou Dan Auerbach em entrevista ao jornal

to. «Lembro-me que uma vez um

bem recebidos Rubber Factory (referência a um dos

inglês The Guardian. «Ontem fomos sair à noite e só

professor percebeu, pelo meu

principais negócios de Akron, a indústria dos pneus),

duas ou três pessoas é que nos reconheceram, isto

bafo, que eu tinha andado a beber

de 2004, e Attack & Release, de 2008. A filiação no

num bar da moda em Camden [Londres]», corrobora,

álcool e mandou-me falar com o

movimento de rock revivalista, por parte da imprensa

satisfeito, Patrick Carney, o baterista que tem vergo-

presidente do conselho diretivo.

musical, nunca agradou particularmente à dupla,

nha de aparecer em revistas dedicadas ao seu ofício,

Já nem sei o que aconteceu lá,

e significou, durante muitos anos, comparações a

«ao lado de bateristas a sério».

às tantas fui suspenso… Mas a

bandas como os White Stripes ou os The Kills, vizi-

Brothers, com o seu design retro e minimalista - «This

verdade é que nunca fazia os

nhos dos Black Keys no terreno blues-rock «a dois»

is na álbum by the Black Keys. The name of this

trabalhos de casa e ainda assim

da década passada. «Nem nos importamos muito. Há

álbum is Brothers», pode ler-se na capa, engendrada

estava no quadro de honra. Mas

bandas piores a quem nos podiam comparar», diz Pa-

pelo irmão de Pat, Michael, e galardoada com um

que raio de sistema educativo

trick Carney em entrevista ao site Livewire, em 2003.

Grammy – veio mudar a vida dos Black Keys. Mas,

é este?». Jogador da equipa de

«Até sou fã desses tipos, mas não me parece que a

na verdade, o disco nasceu ele próprio de mudanças

futebol do liceu – o mesmo futebol

nossa música seja parecida com a deles. Acho que

profundas na vida de Dan e Patrick, hoje amigos fra-

que a Europa conhece, e a quem

todas as bandas ficam frustradas se estiverem sempre

ternais, outrora colegas de liceu com «tribos», gostos

os norte-americanos chamam

a ser comparadas com outras. Aos Radiohead nunca

musicais e popularidade muito distintas.

«soccer» - Dan Auerbach era aquilo a que se costuma chamar

os comparam com ninguém!». Durante quase 10 anos, e por muito que as compa-

A ESTRELA DE FUTEBOL E O ANTI-SOCIAL

um miúdo «cool». É o próprio irmão de Patrick, autor da capa de

rações os saturassem, os Black Keys viveram, de certa maneira, na sombra de grupos aparentados.

«O Dan tinha cabelo muito comprido, quando andava

Brothers, que, na mesma entrevis-

Conseguiam ganhar dinheiro suficiente para pagar a

no liceu. Passavas por ele no corredor e estava sem-

ta à Rolling Stone, recorda: «No

54


liceu, o Dan e o Pat eram muito

numa banda, equivale mais ou menos ao posto de

levando para casa um total de 10 dólares. «Até

diferentes um do outro. O Pat era

baterista. Ainda hoje, apesar de constituir metade de

chamámos incrível que alguém nos pagasse tanto!»,

um esquisitoide, ao passo que o

um dos grupos rock mais bem sucedidos do mundo,

desabafa Dan Auerbach ao The Guardian. Muitas

Dan era muito mais reservado e

ele descrê das suas capacidades e confessa entrar a

vezes, os dois amigos percorriam, durante horas a

cool. Digo isto com todo o carinho.

medo em cada concerto. Já Dan Auerbach, que o pai

fio e numa mini-carrinha, as intermináveis estradas

Para nós, os irmãos Carney, as

incentivou a dar concertos para poder ganhar a vida,

norte-americanas e não tinham, no destino, ninguém

raparigas nem olhavam. Mas dos

ficou bem impressionado com o primeiro encontro

à sua espera (20 horas a atravessar o deserto sem ar

Auerbachs gostavam elas».

musical com «velho» conhecido Carney. «A maneira

condicionado no carro e uma atuação num programa

Apesar de tudo o que os separava,

como ele tocava bateria era uma trapalhada, mas

de rádio às 6h da manhã, para uma plateia de idosos,

Dan e Patrick, que viviam na mes-

como eu ouvia muita música blues que também

são alguns dos pontos «altos» desta encarnação).

ma rua, passaram a adolescência

era assim, consegui logo acompanhá-lo». A demo

Em 2003, a primeira oportunidade de sucesso bateu

com uma paixão em comum: a

doméstica que Dan e Pat gravaram então valeu-lhes

à porta dos Black Keys sob a forma de anúncio de

música. Curiosamente, foi Patrick,

um contrato com a pequena editora Alive, que lhes

maionese. Uma marca britânica daquele produto ofe-

que começou por apaixonar-se

proporcionou a gravação do álbum The Big Come Up,

receu à banda 100 mil dólares para usar uma canção

pelo rock clássico de Beatles,

em 2002, sem que a dupla alguma vez tivesse pisado

numa campanha publicitária. Dan e Pat arrepiaram-

Rolling Stones e Led Zeppelin, que

junta um palco. À luz do sucesso posterior dos Black

-se: «Era uma oferta superior àquilo que os nossos

experimentou primeiramente a

Keys, o selo que começou por apostar nos dois rapa-

pais, juntos, ganham num ano», comentaram no

guitarra. Aos 12 anos, apaixonado

zolas inexperientes já reeditou The Big Come Up pelo

programa de Stephen Colbert. Mas ainda não era

pela magia de Jimi Hendrix, im-

menos 14 vezes (!), sempre em vinil. Na altura em o

desta que os Black Keys iam subir na vida: à época,

plorou ao pai que lhe desse uma

seu debute saiu, porém, Dan e Pat, que para o álbum

o manager do grupo avisou-os que, se aceitassem a

guitarra, mas nem o facto de ter

gravaram originais e versões de tradicionais blues

proposta, corriam o risco de perder o apoio dos não

acesso ao instrumento e a aulas de

e dos Beatles («She Said, She Said»), eram só mais

muitos, mas fiéis, fãs, que ficariam indignados ao sa-

música fez com que conseguisse

uma banda a tentar a sua sorte.

ber que a banda se tinha «vendido». Hoje em dia, os homens de «Run Right Back» são um dos grupos que

dominar as seis cordas. «Não sei cantar nada, não sei cantarolar

VENDER OU NÃO VENDER, EIS A QUESTÃO

mais canções tem a rodar em séries, filmes, anúncios publicitários e jogos de computador – equiparam

melodias nem consigo escrever riffs», admitiu ao The Guardian.

A falta de estrada que, ainda adolescentes, os Black

mesmo a oportunidade de chegar dessa forma aos ou-

É o jornal britânico que faz a

Keys teriam quando assinaram o primeiro contrato

vidos de milhões de pessoas a uma passagem regular

analogia: tal como os miúdos que

foi rapidamente compensada com anos de digressões

na rádio. «Deram-nos cabo da cabeça por cedermos

não são grande espingarda a jogar

pouco glamourosas. No primeiro concerto, conta a

a nossa música a anúncios, mas se não o tivéssemos

futebol, Carney foi mandado para

lenda, atuaram para meia dúzia de gatos pingados

feito nunca teríamos vendido 18 mil bilhetes [para

o lugar de «guarda-redes», que,

(os relatos variam entre os 8 e os 18 espetadores),

concertos] em Londres», argumenta Pat Carney ao

DAN AUERBACH AO THE GUARDIAN 55


ST ON E ÀR OL LIN G PA TC AR NE Y

OS BLACK KEYS SÃO DE AKRON, NO OHIO, CIDADE CONHECIDA COMO «CAPITAL DA BORRACHA», QUE DEU AO ROCK OS DEVO E CHRISSIE HYNDE, DOS PRETENDERS.

Guardian, referindo-se a dois concertos esgotados no

anunciantes e cineastas, contudo, se Brothers não

corte entre os dois amigos – que,

Alexandra Palace, em fevereiro deste ano. Após o su-

estivesse recheado de canções memoráveis e apete-

ainda assim, garantem que não

cesso de Brothers, contudo, a febre do licenciamento

cíveis. Gravado no estúdio Muscle Shoals, por onde

são «como os Gallaghers: não

irá, provavelmente, serenar: «Quando ninguém

os Rolling Stones passaram, em 1969, para dar à luz

gritamos nem andamos à panca-

compra os teus discos, é fácil justificar porque é que

«Brown Sugar» e «Wild Horses», o sexto disco de

da». No «rescaldo» do divórcio,

estás a vender uma canção», diz Carney, desta feita à

Dan e Pat nasceu após uma luta daquelas que só os

a ex-mulher de Carney chegou

Rolling Stone. «Mas quando começas a vender discos

irmãos podem protagonizar. Pat, reza mais uma vez

a publicar on-line um artigo,

já não consegues justificar ter duas canções em anún-

a lenda, tinha cabado de se divorciar de uma mulher

descrevendo as minudências do

cios da Cadillac. Ficas a parecer ganancioso».

que Dan diz «odiar desde o primeiro momento». A

seu casamento com o baterista dos

Os Black Keys nunca teriam sido tão assediados por

separação foi particularmente virulenta e levou ao

Black Keys e acusando o colega

56


N DA CH BA ER AU EM GQ

DAN AUERBACH E PATRICK CARNEY SÃO O CORPO E ALMA DOS BLACK KEYS. NO LICEU, DIZ QUEM SABE, DAN ERA O JOGADOR DA BOLA POPULAR E PAT O «CROMO» TÍMIDO

do ex-marido de ser «um “jock”

tanto Pat Carney como Dan Auberach – que é casado

do futebol, que tinha como ídolos

e tem uma filha, Sadie Little, de quatro anos – aca-

Liam Gallagher gostou.

o Dave Matthews e o G. Love and

baram por trocar Akron, a tal cidade do Ohio onde

Special Sauce. Um machão que

nasceram e foram criados, por Nashville, a capital da

andava pela cidade como um

música country, no Teenessee. Foi lá que, alimenta-

Apesar de terem sido sempre uma banda de dois «ir-

bulldog». Confrontado com estas

dos por uma dieta de «comida frita, erva e café horrí-

mãos», os Black Keys passaram a contar, a partir de

e outras acusações, Auerbach

vel», complementada pelo hip-hop de que Auberach

2008, com uma mãozinha extra: a de Brian Burton,

prefere «nunca mais ouvir falar»

é fã e pelo tédio de viver numa cidade relativamente

mais conhecido por Dangermouse, que gradualmen-

da mulher que diz ter «destruído a

pacata, os Black Keys gravaram 16 canções em ape-

te foi não só produzindo como ajudando a compor

alma» do amigo. Após o divórcio,

nas 10 dias. E do disco que daí resultou, Brothers, até

algumas canções. Dan e Pat elogiam-lhe a queda para

HÁ UM RATO NO ESTÚDIO

57


anos», confessa, «tinha medo de nunca ter dinheiro.

ti». Mas o modus operandi dos Black Keys continuou

E agora parece que ganhámos a porra da lotaria».

a primar pela simplicidade, algo que a banda atribui,

Pat e Dan estão na mesma frequência no que toca à

também, à formação pouco numerosa: «Toda a gente

importância desta ética de trabalho: «Um sobrevi-

diz que o Beck é um camaleão. Claro que é, é só uma

vente?», estranhou o vocalista, em entrevista à GQ.

pessoa, não tem de convencer ninguém!», argumen-

«Não, o meu tio-avô é que sobreviveu ao Holocaus-

tam. Ao longo dos anos, os autores de «Next Girl»

to. Eu só tive sorte». Os antecendentes familiares

foram acrescentando novos instrumentos, arranjos

de Auerbach são explorados com mais detalhe no

e influências à sua poção: no último El Camino, Ra-

Guardian: «Toda a família da minha avó [polaca] foi

mos, T-Rex, Cramps e Clash foram alguns dos pontos

assassinada. Mãe, pai, irmãos mais velhos, toda a

cardeais sguidos na confeção de um disco veloz,

gente. Ela conseguiu chegar até Inglaterra e aprender

bombástico e sem qualquer pudor de tirar da cartola

inglês. Depois conheceu o meu avô, que estava no

os riffs mais contagiantes e orelhudos. Mas a sua re-

exército, mudaram-se para New Jersey e por fim ela

ceita continua a passar por uma escassez propositada

reencontrou o meu tio-avô. Todas estas histórias fize-

de recursos, combinada com uma certa modéstia,

ram parte da minha juventude. É assim que percebes

que os músicos atribuem à sua origem. «O facto de

a sorte que tens e tudo isso te faz trabalhar mais».

sermos de Akron fez de nós mais trabalhadores, mais

Trabalho, um bom timing, sorte e ainda mais traba-

competitivos, mais amargos, também», admitem. Ao

lho: é assim que os Black Keys resumem a fórmula

Guardian, Pat Carney vai mais longe: «O Dangermou-

do seu sucesso, atualmente traduzida em centenas

se era capaz de dizer que temos medo do sucesso. E

de milhares de discos vendidos em todo o mundo e

provavelmente é verdade. Quando era miúdo não era

concertos esgotados nas maiores salas. «Somos bons

super pobre, mas os meus pais divorciaram-se e a mi-

e trabalhamos mais que os outros», dispara sem

nha mãe não tinha muito dinheiro. Mesmo agora, se

falsas modéstias Dan Auerbach, admitindo, ainda

tenho alguma coisa boa, saboreio-a devagar e guardo

assim, a propósito de o concerto em Madison Square

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Depois de gravarem os dois primeiros álbuns (The Big Come up, de 2002, e Thickfreakness, de 2003) na cave de Carney, os Black Keys assentaram arraiais numa central energética abandonada na

coisa, aquilo acaba por surtir um efeito qualquer em

RUBBER FACTORY (2004)

quer conseguem arranjar um emprego. Até há poucos

Gravado na cave do baterista Pat Carney, com um gravador de oito pistas, o primeiro álbum dos Black Keys foi lançado por uma pequena editora, a Alive, que acreditou no talento da dupla depois de ouvir uma demo caseira. Amostra representativa das paixões da banda (blues, rock, algum hip-hop e psicadelismo), The Big Come Up reúne 13 canções, entre originais («I’ll be yout man» seria, mais tarde, repescada para a série Hung) e versões de tradicionais blues e dos Beatles («She said, She said»).

não têm casas como as nossas. Muito deles nem se-

hipnóticos: se continuares a tocar sempre a mesma

THE BIG COME UP (2002)

da banda sempre foram «riffs de blues, repetitivos e

Os Black Keys toranaram-se famosos em 2010, mas desde 2002 que andavam a «treinar». Mostramos-lhe três provas disso.

a maior parte do dinheiro, afiança. «Os meus amigos

HÁ VIDA ANTES DE BROTHERS

a canção, propriamente dita: afinal, a grande paixão


Garden, em Nova Iorquem ter esgotado em menos

terem de devolver o antigo.

de 15 minutos, que «este tipo de sucesso não devia

Com o passado recente bem presente (Pat Carney ain-

acontecer a tipos como nós!».

da se lembra bem do que é trabalhar como operador

O sentido de humor peculiar, que levou os Black

de telemarketing), os Black Keys entraram a ganhar

Keys a colocarem na capa de El Camino (referên-

em 2012, com crítica e público polvorosa com El Cami-

cia ao luxuoso automóvel Chevrolet El Camino) a

no, um disco que não quiseram demorar muito tempo

carrinha esfarrapada e fedorenta que lhes serviu,

a gravar ( «Podíamos gravar um disco por semana, se

no começo da carreira, de veículo de digressão, ou

não tivéssemos de tocar ao vivo», gaba-se Auerbach).

a escolherem para vídeo de «Lonely Boy» imagens

«ZZ Top com lantejoulas na barba» e «cruzamento

de um «civil» a dançar freneticamente (houve um

entre Led Zeppelin e Motown» são alguns dos epítetos

teledisco de Jesse Dylan, filho de Bob, que foi para

que o sétimo álbum lhes tem rendido. Conscientes

o lixo para dar lugar a este bailarino espontâneo),

de que aqueles que os louvam hoje poderão estar-

é outra das constantes na carreira de Dan e Pat.

-se nas tintas para eles amanhã, porém, Dan e Pat

Quando receberam o Prémio Revelação da MTV

tentam não dar o passo maior que a perna; o baterista

pelo vídeo de «Tighten Up», acharam hilariante a

chegou mesmo a dizer, ao Guardian, que «as pessoas

troca de nomes no troféu: ao invés de Black Keys, os

só devem gostar de nós porque soamos um bocado

responsáveis daquele canal escreveram na base da

velhos». E por falar em idade, recuemos até 2003 para

estatueta Black Eyed Peas. À GQ, Auerbach rejubi-

«ouvirmos» as palavras dos Black Keys, ainda tão

lou: «Estávamos em digressão quando o nosso ma-

pequenitos, em entrevista corridinha ao site Livewire.

nager nos mandou uma foto do prémio. Pensei: um

Perguntavam-lhe eles: «Vocês veem um futuro dura-

canal que nunca nos respeitou nem passa a nossa

doiro para o blues-rock?». Respondia Pat Carney, que

música a lixar-nos assim? Espetáculo!». Em todo o

quando conheceu Dan Auerbach ficou escandalizado

caso, e porque «daqui a 20 anos ninguém vai saber

por o vizinho não conhecer os Stooges nem os Led

quem são os Black Eyed Peas», os Black Keys, que

Zeppelin: «Bem, o blues-rock já dura há uns 40 anos, e

o Guardian disse terem a aparência de uma banda

o rock n’roll há uns 50 anos. Por isso… sim!».

«desenhada para falhar», pediram que a MTV lhes

O quinto álbum dos Black Keys maraca uma estreia a vários níveis para Dan e Pat: a primeira vez que trabalharam com Danger Mouse, a primeira vez que produziram um disco em estúdio, a primeira vez que fizeram um brilharete na tabela de vendas americana, amarinhando até ao 14º lugar. Jessica Lea Mayfield, inspirada «afilhada» de Dan, canta «Things Ain’t Like They Used To Be», naquele que foi também o primeiro disco só de originais dos Black Keys. O sucesso estava à porta.

ATTACK & RELEASE (2008)

sua cidade de Akron, no Ohio (não por acaso os Black Keys consideram Akron o terceiro elemento da banda). Muitas das canções foram cedidas a anúncios - «Girl is On my mind» até musicou um desfile da Victoria’s Secret – e aos originais juntaram-se duas versões, uma delas dos Kinks.

enviasse um troféu corrigido – e tiveram pena de

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Rotulados como os mais prováveis sucessores dos Metallica no topo da cadeia da música mais pesada, os Mastodon são um caso sério de popularidade junto do público e da crítica. José Miguel Rodrigues conversou com o vocalista/baixista Troy Sanders sobre vozes guturais e arranjos complicados



TROY SANDERS

«Tem sido uma aventura» diz Troy Snaders, bem

os primeiros passos tímidos

humorado. O músico está sentado num camarim

com o EP de estreia homónimo,

do imponente Coliseu dos Recreios, em Lisboa,

os Mastodon sempre pautaram

mas o ambiente não podia ser mais espartano

a sua carreira por uma única

– à sua volta estão duas cadeiras, à frente duas

regra – fazer apenas aquilo

caixas grandes de plástico com conteúdo não

que lhes dá na real gana. The

identificado e, mesmo ali à mão de semear,

Hunter, o quinto álbum do

um carrinho de supermercado onde já sugeriu

quarteto – que fica completo

enfiar-se. O ambiente não podia estar mais longe

com Brent Hinds e Bill Kelliher

do que habitualmente se associa a uma banda

nas guitarras e o prodigioso

de estrada. Aliás, mais calmo e silencioso seria

Brann Dailor na bateria – foi

impossível – os técnicos que estão a dormir pro-

editado no ano passado e é uma

fundamente em dois compridos sofás instalados

das melhores provas que se po-

no corredor não nos deixam mentir. «No entanto,

deria ter da forte personalidade

tem sido uma aventura maravilhosa», prossegue

destes músicos.

o músico, de gorro enfiado na cabeça e afagando lentamente a sua longa barba. «Não fazia a míni-

DESLIGAR O COMPLICADOR

ma ideia de que ia ser assim… Acho que era uma coisa que não passava pela cabeça de nenhum de

Visto como uma espécie de

nós. Pensar em doze anos de longevidade não é,

regresso às raízes na sequência

propriamente, algo que se consiga planear. Em

dos anos loucos que suced-

qualquer tipo de relação! Seja a trabalhar num

eram à edição de Remission e

empresa ou com alguém querido ao nosso lado…

Leviathan – em 2002 e 2004,

Doze anos é mesmo muito tempo, mas tem sido

respetivamente – e à associação

ótimo. Trabalhámos imenso ao longo dos anos,

à Warner para o lançamento

mas todo esse esforço está a ser recompensado e

dos últimos Blood Mountain e

isso faz-nos querer continuar aqui por muito mais

Crack The Skye, The Hunter é o

tempo. Acho que, se não fosse assim, não estaría-

disco que, enquanto banda que

mos aqui… Nunca continuaríamos a fazer esta

se mantém imutável há mais de

banda se não sentíssemos, dentro de nós, que é

uma década, os Mastodon tin-

o que temos de fazer». As palavras de Troy, por

ham de fazer agora. «De certa

seu lado, não podiam fazer mais sentido; desde

forma foi uma reação ao que

62


63


64

fizemos no Crack The Skye»,

lado mais simples dos Mastodon».

explica o músico. «Musical-

«Simples» e «Mastodon» na mesma frase, tendo

mente, não queríamos fazer

em conta o fundo de catálogo do grupo e a sua

uma segunda parte desse disco,

propensão para a composição de material cada

era algo que tínhamos bem

vez mais intrincado, parece quase inusitado.

presente quando começámos

A tarefa não deve, de todo, ter sido fácil. «Foi

a compor. Passámos cinco ou

incrivelmente inspirador», contrapõe o baixista.

seis meses a compor o Crack

«Decidimos que não íamos complicar as coisas

The Skye e foi um processe

demasiado. Passámos imenso tempo a fazer

complexo. Divertimo-nos e

concertos em que tocávamos o Crack The Skye

ficámos todos muito satisfei-

na íntegra e a experiência era tão complicada,

tos com o resultado, não há

que sentimos que não havia energia em palco.

como nega-lo, mas demorá-

Estávamos demasiado concentrados no papel que

mos tanto tempo a aprender

tínhamos de desempenhar e sentimo-nos presos

as canções e a trabalhar nos

por causa disso. Nesse sentido, o The Hunter re-

arranjos que chegámos a uma

cupera a energia que os nossos discos anteriores

fase em que já andávamos,

tinham. Temos temas mais curtos e compactos

literalmente, a bater com a

para que pudéssemos ser nós a transmitir en-

cabeça nas paredes. Tínhamos

ergia ao público e, depois, alimentarmo-nos do

de ir para a estúdio e gravar,

que ele tem para nos dar de volta. É a simbiose

despachar aquilo de uma

perfeita num concerto de rock e, tendo isso em

vez por todas. Desta vez não

mente, tornou-se tudo mais fácil. Foi um pro-

queríamos chegar a esse ponto

cesso de composição muito mais descontraído,

de saturação… O objetivo pas-

mas não menos terapêutico».

sava por fazer um álbum que

A abordagem deu origem a um disco mais direto,

fosse um pouco mais fácil de

o primeiro não concetual da carreira do projeto,

criar, connosco a trabalhar

mais próximo do rock clássico que os quatro

juntos na sala de ensaios e a

músicos sempre fizeram questão de mencionar

divertirmo-nos com a música

entre as suas influências primordiais. «Somos

que estávamos a fazer. Passou

todos enormes fãs desse tipo de música», con-

tudo por criar um ambiente

firma uma das vozes principais dos Mastodon;

mais aprazível, abraçando o

todos os elementos da banda cantam em disco e


ao vivo. «Isso não quer dizer que todos os temas

tos com o jantar… OK, pode

manter as coisas excitantes, porque represen-

sejam extremamente fáceis de tocar, mas são –

ser o melhor chef do mundo,

tou um desafio. É muito fácil cantar de forma

sem qualquer dúvida – muito mais simples que

mas… Bem, para mim, não é!

agressiva sobre uma parte qualquer, mas se

qualquer outra coisa que tenhamos tocado ao

É tudo uma questão de gosto

encontrarmos a melodia perfeita o resultado

vivo durante os dois últimos anos de digressões».

pessoal e respeitamos isso».

final será, certamente, muito melhor. As vozes

Para todos os efeitos, The

sempre foram o ponto mais fraco dos Mastodon

Hunter é mais um disco muito

e, desta vez, passámos mais tempo a discutir os

A MÚSICA ESTÁ A MUDAR

bem sucedido em termos

arranjos vocais».

O conceito de mudança assusta muito boa gente,

comerciais, mas apesar de

As mudanças não se registam, no entanto,

mas os Mastodon abraçam-no como o combustív-

Troy gostar de pensar que,

apenas a nível da composição e dos arranjos. O

el necessário para continuarem a ser uma banda.

por esta altura, os fãs já só

estúdio mudou, o produtor também e, até a nível

«Sem dúvida», exclama Troy com um brilho nos

esperam o inesperado, muitas

gráfico, há novidades a registar. Apesar da forte

olhos. «É o que temos feito de disco para disco e,

foram as vozes que se levanta-

personalidade estar bem vincada em The Hunter,

cada vez que começamos um novo processo de

ram contra o facto de o cantor

é impossícel não pensar que carregaram no botão

composição, estou tão curioso para ver o que vai

ter abandonado de vez o seu

de reset. «Já fizemos doze anos de banda», diz o

acontecer como alguns dos nossos maiores fãs. É

típico rugido gutural. «Sinto

músico depois de uma rápida conta de cabeça.

sempre uma experiência nova e nunca sabemos

que temos liberdade para fazer

«Todos apreciamos vários tipos de música e vári-

bem qual vai ser o resultado final. Desde o início

o que quisermos», explica

as formas de arte, por isso não queremos estar

o mais importante sempre foi que estejamos, os

depois de ponderar. «A editora

presos a nada. À medida que fomos percebendo

quatro, 100% satisfeitos com os riffs, os arranjos

acredita em nós e não nos põe

que a música estava a mudar, começámos a pen-

e as letras… O importante é estarmos plenamente

limitações, por isso não fazia

sar se não seria uma boa altura para começarmos

satisfeitos e orgulhosos, é o que sempre temos

sentido estarmos a pensar

também a trabalhar com outras pessoas… Não

tentado fazer. Isso é crucial quando se está numa

no que as outras pessoas vão

estaria na altura de tentar um novo produtor?

banda como a nossa, que passa tanto tempo na

dizer. Sei que uma parte do

Um novo artista gráfico? Passámos imenso tempo

estrada. A partir do momento em que gravamos

público queria que fizéssemos

com os mesmos colaboradores, por isso foi entu-

um tema, sabemos que vamos ter de o tocar

um disco igual ao Crack The

siasmante podermos chocalhar as coisas».

muitas vezes. Quão aborrecido seria passarmos

Skye, mas não há nada além

meses e meses seguidos a tocar temas que não

de termos esperança que,

nos dizem nada? É ótimo se as pessoas tam-

eventualmente, percebam que

bém gostarem, mas não ficamos magoados se

o que fazemos vem do coração

isso não acontecer. É como irmos ao melhor

e é totalmente honesto. Para

restaurante do mundo e não ficarmos satisfei-

nós, foi uma ótima forma de

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Born to Die é, sem discussão possível, o álbum mais badalado deste início de 2012. É nele que se procuram respostas para as dúvidas que cercam a personagem musical criada por uma tímida Lizzy Grant, 25 anos. MÁRIO RUI VIEIRA disseca a anatomia do fenómeno Lana Del Rey e explica de onde veio esta voz e por que razão está a dar tanto que falar.


Com o mundo cibernético a ressacar da morte recente

verdadeiro nome é Elizabeth) a

que nele procuram esclarecimentos para as suas

de um ícone chamado Amy Whinehouse (artista de

Lana Del Rey uma criação pessoal

dúvidas. Muito (mas mesmo muito) aguardado, o longa-

alma e coração, sem truques) e a começar a aborrecer-

ou dos magos da indústria, seja ela

-duração não reuniu consenso entre a crítica, mas as

-se com as «chocantes» intervenções de Lady Gaga

uma artista autêntica ou um valen-

vendas – diz quem sabe – não vão ser nada parcas.

(artista de exagero, cheia de truques na manga), só os

tíssimo logro, já ninguém lhe fica

«Rapariga do momento», «nome mais quente da música

melómanos mais incautos conseguirão justificar de for-

indiferente. Born to Die, o álbum

norte-americana actual», «estrela viral» são apenas al-

ma válida o facto de terem sido apanhados de surpresa

que apresenta a exuberante persona

guns dos termos utilizados para descrever a nova Lizzy

pela nova obsessão Lana Del Rey. A cantora tornou-se

musical de Grant ao mundo, chegou

Grant – no início da histeria, reputados sites de música

um fenómeno em meio ano. Seja o lábio superior falso

às lojas recentemente e prepara-se

como o Pitchfork apelidavam-na de «nova rainha do

ou verdadeiro, seja a passagegm de Lizzy Grant (o seu

para confundir ainda mais aqueles

indie rock». Não admira que haja tanta gente a sentir-

68


in Daily Telegraph

-se defraudada. Lana Del Rey tem pouco de «indie» (o

minha música eram estranhas e

deu origem a toda a discussão em torno da persona-

contrato com a Interscope – pertença da multinacional

a roçar o psicótico. E depois, de

gem, chama-se «Video Games», uma canção simples.

Universal – estava aparentemente assinado antes do

repente, foi como se as pessoas

Em agosto de 2011, a artista colocou o teledisco – uma

sucesso) e é tudo menos rock (quanto muito, a música

tivessem decidido que não era

colagem de imagens de filmes antigos, desenhos anima-

sedutora de Rey deixa-se contagiar pelo hip-hop).

assim tão estranho, que afinal até

dos e filmagens de si própria a cantar – supostamente

«É engraçado. Não tenho quaisquer truques. Não faço

era demasiado perfeito. O facto de

realizado pela própria, no YouTube. Rapidamente se

nada de estranho», defende-se a cantora ao jornal

poder ser considerado pop é uma

tornou um sucesso entre os melómanos mais atentos e

britânico Telegraph, «Passei anos a mostrar a minha

revelação para mim. Sabe o que mu-

fez eco em publicações alternativas e blogues musi-

música a diferentes editoras e todos me consideravam

dou? Começou a passar nas rádios».

cais, chegando depois ao top 10 britânica de singles e

assustadora. Pensavam que as imagens presentes na

O objeto de discórdia, aquilo que

acabando o ano com 20 milhões de visualizações no site 69



in daily

telegraph


mabeber de omecei a C minha a s. o d il lh tos sari do difíc o rí e p ara um m p iu enviada siado. Fo anos foi «Não t: 15 u s c o ti A c vida». Conne m e o rn m te os eus colégio in e livre vontade, om d lá blemas c ro ra fui pa e e». Os p m -m ra m a ra p a g te maus n pais obri ie oje c fi h u iz s era « artista d a bebida á rar» e a a h l p o a o a lc d á a ver obrig a numa pinga de toc que não ra CEMOS anos, pa s. o n a QUE NAS o O it u, aos 18 o o a IT d u D u o E ç m e R e do s «AC ue com ER» Foi quan Iorque q ede Nova PARA VIV ical com s e u d a m id a avenc ir e a s. a rr d a a c s a s u a primeira s curtas p epois da arece A mpor e a d s p . o s o e c y o s e m n re R a e v l Alguns ue escre Lana De esenvolv m que estudava q , d a a c m a tenção e fi u ri in o p rá ta ç discog s (à da mpo e nt s). A pró A minha te ra e « ra õ o r. tu G h e , m oa il e u s e d q m de vídeo a 25 Ao m ma pess m o qu plicar o niversid pelo a-se dos ar-me nu saber be como ex ica na u nava-se ard, rm s o o m fí aproxim fo e ix : s lb ta a » b n il e s p r a e B a e m o tr o Gam ce sab nca foi r dizer à r deixad uitarra e o u g te p n e a ia s eiç d e e não pare medido de «Vide rf n e d m apre », com abe p isco depois num to des diferente de seguida que s no teled canto-a p – anos ue e , in o sucesso q » a o s -h b ã O a o ç ip « tr C n . h u e o a bela c assum por Kurt plicand sobre ela ue das o x r ra g e m n ta to e ti n is iz a u is «É uma im c d q d la con o que ox». A ada pe sobre m s que isa que a tamente haped B «pessoa pensam ta public -me grave, co «Herta S rappers entrevis pessoas eu ida s a d s u es deixa o a g e z m n e tr e u s lh v o u n e o o s rt a s d e s À b is a . o o o d e c it n u s . e explic q e ta p d r» e s n ter diz re lquer vidas» ontinua e marco , acresce não me obre qua das suas nho de c m grand s a u revista Q te r m , a e s v la te a rr e n ra re fa m c e e c , e a viam que en para es ntes d o início magoad que é, ob a artista tade». A berdade ma omo ilo que n m n li c u u s o « , e q o v o m A h m c e o . s c ti a in a s n Q ti id tê É esta e sen um cam que revista na sua v cero e au to coisa qu mo quer úsica era scrita era a ta com a como sin ou eu em forma que a m stão «Co entrevis e e r r e a u e b q e S elogiado e e iz « u à d d , rc q e i e e p fort »: «Se i. Foi u a alvo já sabia a assum resposta Del Rey? te passo re escrev . o, Grant a própri : a n p d a n e a li d a m , m á a L e e a v S it lh s, « id o o , rap ro ser , no lim fui boa r paxão. a olhem canção» não que (chegou nsua maio a em que sempre a. Não e manor como chacota ma da ca lh te o que lh c e is ti z o m m á ue c fa u m a r e dúvida e te u ic ia a q n p , ú o m » m c s a a é sertiva q e n s u o d a a o ada em tud atitude ícil, com «Blue Je como alg u if , ). ta o d s li ie s ser acus é e a D o it o , m m ã V to o te N co oi c a», e Born ormen a Eleni escrever, dam». F ser músic as feitura d tora greg e revelou posteri ser um sou má a tinha de m ão e os carado a u o ç n r, nsidera q ã n e o n o ta c te ã n s rá a ç a a ta te n c a M is it e . rt u d a to a ca é um m s a to s s ir re e o u o a u o d q enso q e u a atr raph. «G colagens a marca um disco que é. «P lbum sou eu continuo ao Teleg r e fazer que tinh o a il s , iz it u e o d s d q u rt a e a q e d d c e á o on ntã . Este feito to reflexo gosto d poucos c tar. Foi e o. Lindo também to, tenho a ambielogiodefende m a esgo um bonit , portan o pouco anção», E lb ic c á ig n s. ú rt e to a a a o começara lm h d m fi rm a u in e c fo r m d do, não li o b a m p ra u e s e s p a a do própri unoff – da foi alt oisas, m critora». R a c s r alimenta N e s « a te e . o s s u. Para d e s h ip n e p id ra gue H es sou e de «V ma gra olunao Teleg so do blo as cançõ era ser u hos» e v co depois pessoa n s, o u a e ã a o õ ç tr p s m s , s s e u e a s ro o c o b fiz con abalho o e pess al, é com g em setem m ri b o -a ra Entre «tr m a p nto de se o bem e tariado ju

LIVE

rou o. Comp irculaçã c ey e e R d l e ra D se fo ser Lana a ele ficas ri e fau e q os. Ela nome d os direit sse era o asiE B t. . n a c ra ti yG o dramá d não Lizz ia s a», a o s m la é de tra pes mília e e dessa ou as e m -s u u lg ro a v ê , li mbém v ta camente tá e s u e q dutor, amente diz o pro ta: «Fisic is e rt m a o a ã n n as te diferenç sicalmen ». Kahn , mas mu ra diferente o longe do que e ta it u e de escri d m a e d c li re a u pa q a ra m to é tamb ma escri defende na. «É u mente es de La õ ç efinitiva n d a c ta e s d o p a s ue a q te, m daquilo inteligen ssência e a tão a v n ta , s e m e ente não na imag lm e v m esta a o v Pro eria e, c quer ser. uanto qu ueria ser». q o s is d q próxima ais como a, está m mudanç

HT DAY NIG » SATUR O «CASO

arme desc rem versoas que , depois de uma «As pes tou rgumen mica. lé rilar», a imo, po , no mín atuação , desa artista a primeir 8, a atuar l Rey foi 9 Lana De lia, em 19 e-amerie Imbrug ort de Natali média n s de ma de co NL) ante no progra ay Night Live (S ora. rd nde edit cano Satu or um gra ticas à álbum p crí editar um eu de feição. As de corr co depois Não lhe ram pou tao dispara apresen prestaçã visivo. O e palco tele disse qu deixar o Williams a das BC Brian m dor da N implesmente «u L», os ria do SN tinha sid s da histó parou restaçõe wis com piores p liette Le anos antora Ju da de 12 a atriz/c uma miú prio o a «ver o seu pró a atuaçã e atua n laue canta , em dec a fingir q l Rey defende-se , De verdade ne: «Na quarto». to ita Rolling S i que estava bon rações à nse ssoas bem. Pe umas pe senti-me ei que alg ue eu me bem… S q e cantei s é assim m ram, ma fãs sabe não gosta o vivo, os meus jornal to a da pelo apresen ntrevista As uando e longe: « disso». Q da mais r. É h, foi ain escarrila Telegrap ver-me d ssistiram». querem ue a pessoas ão por q nica raz essa a ú

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Rey álcool, eo». Del drogas e o ou víd s e ã d ç re m a s n e a b a b c e m m ato ble que viv a atuar e com pro em form um disco e terá ade e s é começou id e t te c u n s li q e e ra e /f té G isteza Lizzy diz qu a diz-se a otomia tr sobre se acredit uinos – nquanto ntre a dic m nova-iorq e Gaga – e a r», A n y e « o d . rr ti a o s ia L com a que para m ova Jérs cruzado quando ascemos o, acredito tte em N a n lo « ic u s e ú u ro q m a te m ea te: «Nã vivia nu realmen ia-se entr is plesmen ida divid sses os meus do onde sim ara viver». p s minha v re e m u m em da Q. Foi n emos p lho, era anções v e o traba sclare a artista à que nasc para as c so que vários entou o e s ã , ç re » a p s ir a o p d e mun A ins e É por is ntos qu ria vida. o tema «Off to th o de tale concurs sua próp posição, ie, como e D m r d o a c to s m a e rn ir p fere Bo me es». A a sua pri temas de Blue Jeans», se re relação Shop Blu m n u , w o a « ã a P ç « u m ti e ita a u acústico Races» o o a comp te explíc a. «Não ora viu r vencid a bastan lhor form rm e de não te ma pequena edit fo s m re a d la ó u d e r correu rr il u o o e m c m d z olheiro que não s) a que o a u-lhe de e ro lp c u u re e ia c fe 0 a o 0 h e in e5 om quem algo nela amente sete mil foi por m pessoa c tade vamos a n tá i o s c v E d e à . a h a o n c (aproxim um disco. Pou mal. Co inha vid m ia a juntos iv d s v o to e s r u va s. Vivíam ssar o re po em q o a m ri para gra p b te ó t o s se n e r sobre mpos nvolverões, Gra para fala ambos li eçou a e s condiç a m », m o o u ra c b o lg o le b a it e m u s mu e se ir e ia lhe de às tanta d u em não e e q v a te m a e a a que ente, lemas quando assegura em prob Musicalm algo il dinheiro cantora. eu dez m po ão tinha a d N m a e « a m . c rd o o c m ra it je re a edito pintar rge de u ir u e to s n m o uscar os te ri ã b ç p o i a ã minha inspir ãos – n ip-hop fo borador de a m h v s a o a g a a : ra P o a . d p za er (cola dólares inespera ha pobre a ff Bahsk ncé ou our a min para ter a minh utores Je d est, Beyo il Wayro W de glam p s o e ê a y m n o r a d o K a L p d o i, s ju d m re o id Cu de ter a 500 dóla nomes c Haynie (K ções de outros ». Além terá e m o il Y o ir b m e i E h IZZ o e F L in n ) A casa. Jay-Z te suas ca eiro nda, o d LANA ER cto de es r o prim tingir as nto da re ra grava boa é o fa zer muipagame ne) para QUANDO to a 8 n is 0 a t o 0 c n c 2 a a ra Um para sso fa nto em beth G servido ritmos. « agora po ficou pro os, Eliza e Rey 2010. há 25 an e de Lak r lindo. E uração – dia no início de , diz Del d e a s -d r» a e o id g z c c n is fa a lo d Nascida n e ro e s o o u o d ar de d q rf z e a e ix o , p e lu e e m d u a a na posso va Iorqu coisas q a a meta s só viu te o a s n rc N e a m ta foi criad l e e s. m d lm D e a o e um qu as a D u rd, «fin o estad oros da do Lana ha. Graç É esse álb à Billboa Placid, n do a cantar em c : intitula in ía s a z io lu o n c e s a L s m in o s e ra ce pa víd o que o o registo de Lizzy fazer os começou tava udar mente a zy Grant, ontraria dução es l raçoso». arecem m a ndido, a .K.A. Liz ro b A p fe e m y a e d e e R É igreja. C m » e futuro p s v tê e o á o o s lu ri ã ro ra n á B ç a b o n a p p p s ho nic milio novem ne, res «Pawn S Os desejo de comu a de um nte e dá. Em ssar avid Kah lime, não é filh «confortavelme passo qu da por D ney, Sub a de regre a a rt ri d a in a ta C s c s s c o a a cantora a io M g d ia l ít e n s íl u u a a le m q m P tr a u fa e ia o a a d z r ra m diz os ntinua ktor. Re Placid e por disc passado mas de u para «co ampo gina Spe e a editora (5 parque e ». «Lake c e u m R ia o u d d rq u é e o Io ra d m s o qu z lá, fo Stroke a Nova classe e s no meio ade», tão pouc sempre fi de ano fala-se d ercado Vivíamo e vendeu lho que -lo do m u a s da cid io q b pacato. rá ra íc ti o e in h re u ie q is te d , nes avia ecidiu feria l, a se ta Q. D Points) d o depois. «Não h nto eles musical» naciona são. «Pre ra à revis va muito s, p sa digres a a n u a canto rt m s cançõe s o te a s ro te p x a s b , o e p a c m a le n (« u e e le po um re á-lo orque esmada sobre fosse ap postar n p a e rd , im te a s a m n ra u n lt ra a g e o a p r rt v a n o o o nheir o imp crianç ão a melh rinho à o a questio de íamos»), oces e n que seri artista a de burbu pensar, ais agrid stifica a ensaram para on em gran s m p s ju tempo a e a , s e z s » a c e o . is rt ra re e m o e a u a c c ld a alt a as vính afa. «P tantas te rebe para outr isso torn de onde », desab a não tem ada dolescen o álbum s e fáceis a volta engraçah. Kahn ssou a a uei choc a a p q m h p fi ra t ra in g a n a p v le v o ra m e T li G um ue le ito n u oard, meu isto deu razões q o era mu eza se vo ta à Billb a mãe, o sobre as que tudo «Quand eentrevis omem a cert rr e a minh c b i. Mas o u m e q o E rá m s . r h te o o ia n ri t ã c d b te n e que Gra ar isso. N ser retira da. Não ao desco ue conh s ra e o q s a a d a p te n a p n o c Ao fe e c ra . li e g rd aa o dis ir ult nte bom ém», exp o produto eitos do primeir consegu pai e tod e se deirame eu tamb ri a rd c e rd ta e , e d ir v is ia d a d é ie s éc luma m prado o o álbum riam um uma esp ». star a viesse a itar que nho isso h, «sofri mente, e edir que ia acred te p u n g e im menos te Telegrap e n c s e re n te , o n lm c e e s ra v o u a is ã v d d N z . ro ra li a p fe ano, (a canto filosófic Fiquei in m muiita-lo este y Lana mortais. eti-me e sar reed ue a Lizz n m e q is p éramos o o s p n e que e P .D « o ). p u o q m rã te to eria te no ve algum , portan ra o g a ele é dona d

foram -, vários internet à eitas r p a s g u e s ch levantar Games» a m Lana ra m a omeç Grant e os que c ação de ada e rm n fo la s p n o a r estad te sobre a tr m na a ia L iz e que d do nom Del Rey, escolha o A e . tr io n e íc in ção desde o combina delo (suposta Turner e um mo Del Rey a n sido a a L ri iz te tr ) a nome da eis da marca Ford ment, óv age de autom bilidade do man e seja qu nsa o te p n s e re m e a e d os nega v ta o ideia d is h rt n a te a mas r. ão. «Não e ç a rn c u li T p a x essa a e ou a Lan ito, que entr ome bon filmes em a porque é um n à ta an entrevis Escolhi L l Rey», disse na as h n u m o De efende c d tal como a m é m b s ta tam ão a me Q. A artis e Lizzy s a o n a a L e s e qu o», dis e dentes distinçã soasse «Não há ome que n m u pessoa. a ri e into u s Q o « ã . h úsica. N Telegrap undo anto a m u m q o o tr it u n o tão bo entrar n o mesmo idade de ue vivo n a necess rq o p , m uito nage oa há m ou perso ma pess s e m u a lq n a er mundo e u feliz assim. Qu to s E . o temp so». e dirá is pessoa lh


Vêm de Manchester e são os autores do êxito de 2008, «That’s Not My Name». Steve Jobs rendeu-se-lhes e o anonimato foi-se num instante. Este ano há um novo disco, Sounds From Nowheresville, o segundo de uma curta carreira de histórias, algumas inventadas, outras verdadeiras: a do guitarrista morto na estrada, a quinta dos porcos, a banda cristã e o combate entre Spice Girls e Mano Chao. Cláudia Galhós apanhou-os em Paris.



«Talvez possamos chamar enjoo em viagem a esta entrevista. Talvez este seja o melhor álbum para ouvir quando se está na estrada e enjoado». É um Jules De Martino, 42 anos, bem-disposto que introduz o ambiente para a conversa que se segue. Com Katie White, 29 anos, compõe a banda inglesa The Ting Tings. Têm uma história curta, oficialmente iniciada em 2008 com o lançamento do álbum We Started Nothing. Mas o sucesso foi rápido, e levou-os à passadeira vermelha dos Grammy Awards e dos Brit Awards, entre outros. Ao sucesso seguiu-se a pressão da indústria discográfica que os acompanhou nos três anos que separam os dois discos. E da procura de algo real para cantar nasceu Sounds From Nowheresville. A meio de janeiro estavam em Paris, em mais um dia de entrevistas que acabou num showcase. Combinámos conversar num hotel em Montmartre, à hora do almoço. Um atraso fez com que a entrevista tenha começado dentro de um carro em andamento, a caminho do ensaio para o showcase, na La Flèche D’Or. Jules e Katie revelam-se simpáticos e disponíveis para conversar. Mas eles não viajavam de costas para o caminho. É o começo da história. Um dos temas de maior sucesso do primeiro álbum é «That’s Not My Name», composto como grito de rebelião conta a indústria musical que os rejeitara. Antes de The Ting Tings, tiveram uma primeira banda em que eram três. Chamavam-se Dear Eskiimo, mas não sobreviveu à rejeição da Mercury Records, com a qual estiveram para assinar. Foi-se um mas ficaram dois: Jules e Katie. Em 2007 surgiu o novo nome. E um recomeço musical que arrancou com um primeiro single em edição de autor e um percurso que os levou a assinar

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pela Columbia, subsidiária da Sony. Agora a história é outra. Este é o temido sucessor de um primeiro álbum que os projetou em todo o mundo. Em «Give it Back» cantam «give me back my name». Crise de identidade? A resposta chega em movimento, na Estrada. É Jules quem fala: «Talvez estejamos a sofrer de uma crise de identidade na banda que continuará até nos tornarmos verdadeiras estrelas pop, usar roupas brilhantes, cheios de confiança. Por enquanto gostamos de pensar na escrita de canções como não sendo brilhante ou perfeita». Katie complementa. «Somos uma banda indie que teve alguns sucessos pop; foi complicado sentir que estávamos a ser tratados como uma banda pop pela editora. Chegámos a um impasse», afirma, aludindo ao hiato de quatro anos entre o primeiro e segundo álbum, que agora chega.

COMO UMA PLAYLIST Quatro anos é uma eternidade. Katie alega que os Ting Tings queriam ter liberdade criativa. Fazer os próprios vídeos. E tinham que «viver um pouco», poruqe se recusam a escrever canções sobre andar de avião. Foi assim que, depois de uma primeira estadia em Berlim, bloquearam. «Quando parámos, descobrimos que estávamos perdidos. Ao darmos o título Sounds From Nowhersville acho que fizemos algo criativo com esse estar perdido». Saíram de Berlim com 25 canções. A maior parte foi para o lixo. As primeiras que deitaram fora foram as canções pop que, justifica Katie, fazem com facilidade. Preferem a imperfeição. «É um equilíbrio delicado, mas faz-nos sentir que é honesto e real», remata.

77 57


Steve Jobs, o guru da Apple recentemente falecido,

O carro abranda a marcha e todos

seus discos, a sua arte. Acho que são mais indies do

também entra nesta história. Foi ele quem escolheu

perguntam: «o que foi?». Jules

que as bandas indie… Se pensarmos, por outro lado, em

pessoalmente a canção «Shut up and let me go», de Er

aponta em frente. «Está um tipo

quatro tipos nas guitarras, que se embebedam e tocam

Started Nothing, para tem de uma campanha publicitá-

morto no passeio!». Katie leva a

as canções enquanto a editora faz tudo o resto, até po-

ria do iPhone, o que contribuiu para a projeção da ban-

mão à boca e, com mais ênfase,

demos concluir que eles se tornaram a banda pop e nós

da nos Estados Unidos. Faz sentido, esse é o mundo

sai-lhe um «oh, meu Deus!». O

somos a banda indie. Isto merece ser posto na história».

dos The Ting Tings: as tecnologias. Está presente no

homem tem o corpo estendido

Entretanto, chegamos ao destino.

processo criativo e no modo como se relacionam com

entre a estrada e o passeio. A seu

Katie fica à porta a fumar um cigarro. Jules entra. A

a música. Jules diz que Sound from Nowheresville foi

lado está uma caixa de guitarra.

conversa segue para o camarim. A banda é recente mas

composto como uma playlist e não como um álbum.

Finalmente, acaba por indicar

já tem boas histórias para contar. Ela, que se formou em

O que significa isto? «A forma como as pessoas

com o polegar que está tudo bem.

moda, diz que «devo ser a única rapariga na história da

ouvem música está a mudar. Hoje, acedes ao que

Retoma-se a marcha. Estamos

música» que fica pior quando tem de ir a um evento de

quiseres num instante. Se ouço uma canção e adoro,

quase a chegar ao destino quando

passadeira vermelha e lhe arranjam uma estilista para a

uso o Shazam [aplicação de identificação de canções

Jules nos revela, rindo: «Era o nos-

vestir, maquilhar e pentear. «Quando vejo as fotogra-

para smartphone] e descubro imediatamente o que é.

so guitarrista. Está a descansar».

fias, pareço a minha avó a caminho de um casamento»,

Descarrego-a e junto-a à minha playlist. Antes podia demorar dia». E foi esse o espírito com que criaram

diz. Ele faz humor a tentar explicar porque, sendo uma

«Pareço a minha avó»

Sounds From Nowheresville. Um álbum que procura

banda de Manchester, não soam nada ao que conhecemos como brit pop.Talvez por culpa do pai italiano

corresponder ao modo como hoje se ouve música,

A conversa regressa à relação da

dele… Talvez porque são mais influenciados pela mú-

como se fosse uma playlist.

música com a imagem, as possi-

sica dos anos 90, de todo o mundo… Ou talvez… talvez

Os géneros musicais sucedem-se no alinhamento,

bilidades de filmarem os próprios

Katie tenha a resposta: «acho que havia uma cena da

influenciado pelas bandas que admiram, dos Beastie

vídeos, os novos recursos para

música em Manchester, andavam todos juntos, tinham

Boys às Spice Girls e TLC, passando por Manu Chao

o fazer, via smartphone. Katie

uma área onde iam, e nós andávamos mais com outros

ou Talking Heads. Jules completa: «ouve-se menos o

conclui: «Acho que o melhor de

artistas: ceramistas, estilistas…». E depois há histórias

álbum inteiro, mas se um artista conseguir pôr dez

estar numa banda é quando vives

inventadas na Wikipédia. Que ela tinha crescido numa

canções no ar, via rádio e online, talvez as pessoas

o começo da escrita de uma canção

quinta de porcos. Que ele tinha cantado numa banda

ouçam cada uma das canções. Nós vamos fazer um

e estás a sonhar com o vídeo. É um

cristã. Que ele tinha escrito canções para o George Mi-

vídeo para cada um dos temas e talvez assim as pes-

sentimento maravilhoso». E em

chael. E a melhor de todas, que fez com que Katie fosse

soas as descubram e depois, então, talvez comprem

sintonia com este espírito, Jules en-

banida da Wikipédia: «O meu nome aparecia como

o álbum». Exagera-se no tom para reforçar a ideia.

contra uma máxima: o pop é o novo

Katherine [e ela é mesmo Katie]. Tentei corrigir, mas

«Não me recordo de quando foi a última vez que

indie. «Acho que representamos os

cada vez que mudava, voltava ao mesmo. Até que a

alguém me falou de uma banda que não conhecia.

tempos modernos das bandas pop.

Wikipédia me bloqueou o acesso argumentando que

Onde vou? Vou à loja? Vou ao Youtube!». Katie intro-

No tempo dos Duran Duran, era

estava a vandalizar a página. Desisti». Esta merece

duz um novo elemento, que ambos defendem como

champanhe e montes de dinheiro.

encerrar a história.

fundamental: a dimensão visual da música. «Quando

A editora fazia todo o trabalho,

alguém me recomenda uma música, se não tem um

enquanto eles se divertiam a sair

vídeo que a acompanhe, sinto-me enganada».

por aí e a ser belos. Hoje, os artistas

Jules interrompe-nos com um «shit!» perplexidade.

da dita música pop produzem os

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RIHANNA in Rolling Stone


82


BRUCE SPRINGSTEEN Wrecking Ball // Sony Music TOQUES DE IRLANDA, DE COUNTRY, DE GOSPEL E ATÉ DE HIP-HOP PONTUAM O ROCK VARIADO DESTE REGRESSO DE BRUCE SPRINSTEEN SEM FÔLEGO DE CLÁSSICO.

Um aviso, em primeiro lugar: o secretismo que rodeia a edição do novo álbum de Bruce Springsteen não nos permitiu uma audição doméstica atenta, amparada pelo manuseamento do suporte físico do disco e pela leitura da sua ficha técnica. Não é possível por isso mesmo garantir para já que seja o saxofone de Clarence Clemons que se ouve em «Land of Hope and Dreams», um tema que a E Street Band já tocava ao vivo há algum tempo e que poderia muito bem já ter sido gravado antes do desaparecimento do «bom gigante». O que é, no entanto, possível garantir é que o novo álbum de Bruce Springsteen contém algumas surpresas. O som de Wrecking Ball está longe de ser clássico: a mistura é densa e muito pouco espartana, com camadas de som a injetarem músculo e peso nos arranjos. Há também alguns loops e até uma caixa de ritmos que desponta em «Rocky Ground», provavelmente eco de uma «encarnação» anterior da canção. Vários temas carregam também no verde da Irlanda: «Easy Money» cruza uma toada hillbilly com ecos de música tradicional irlandesa, «Shackled and Drwan» tem mais Irlanda e o que soa a uma vénia à J. Geils Band de «Centerfold» e «Jack of all Tardes» é uma balada de toada quase fúnebre que parece colocar uma «marching band» de Nova Orleães em plena parada do St. Patrick’s Day em Boston. Wrecking Ball apresenta um Bruce heróico, às voltas com a América pós-Lehman Brothers. Em «Death to my Hometown», o rocker aponta o dedo aos banqueiroos - «they destroyed our fields and factories». A depressão é uma nuvem sobre este disco e Bruce canta estes tempos cinzentos mesmo no tema título, onde fala de demolição antes da reconstrução com o seu melhor sotaque dylanesco: «All our little victories and glories have turned into parking lots». Bruce cruza country, gospel e até uma certa ideia enviesada de hip-hop num disco que não está ao nível dos seus momentos mais emblemáticos. Há até um par de temas descartáveis (sobretudo «You’ve Got It») que podem indicar alguma dificuldade com a angariação de material para o disco. Mas o poder de «We Take Care of Our Own» compensa largamente. E um Bruce no meio da Estrada é mhlor do que nenhum Bruce. Rui Miguel Abreu

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CARMINHO

CHARLOTTE GAINSBOURG

MALLU

PAUL WELLER

Alma // EMI

Stage Whisper // Warner/Farol

Pitanga // Sony Music

Sonik Kicks // Island

Nascida em Lisboa há 27 anos,

Stage Whisper é um objeto ines-

Nascida em Lisboa há 27 anos,

Stage Whisper é um objeto ines-

Carminho é uma intérprete de raro

perado, mas compreensível à luz

Carminho é uma intérprete de raro

perado, mas compreensível à luz

fulgor e determinação. Ouvi-la

das opções da indústria em de

fulgor e determinação. Ouvi-la

das opções da indústria em de

cantar, neste segundo álbum, fados

carestia: é simultaneamente um

cantar, neste segundo álbum, fados

carestia: é simultaneamente um

popularizados po Alfredo Mercenei-

álbum de originais e um registo

popularizados po Alfredo Mercenei-

álbum de originais e um registo

ro («Lágrimas do Céu») ou Amália

ao vivo da cantora/atriz filha de

ro («Lágrimas do Céu») ou Amália

ao vivo da cantora/atriz filha de

Rodrigues («Cabeça de Vento»),

Serge Gainsbourg e Jane Birkin. O

Rodrigues («Cabeça de Vento»),

Serge Gainsbourg e Jane Birkin. O

bem como originais da lavra do

segmento «leve» segue de perto o

bem como originais da lavra do

segmento «leve» segue de perto o

produtor Diogo Clemente («Bom Dia

regime «best of» da fase IRM (2009);

produtor Diogo Clemente («Bom Dia

regime «best of» da fase IRM (2009);

Amor») e o ótimo «Fado Adeus»,

o bloco inicial, que configura uma

Amor») e o ótimo «Fado Adeus»,

o bloco inicial, que configura uma

escrito por Vitorino, é encontrar a

espécie de mini-álbum de 28 minu-

escrito por Vitorino, é encontrar a

espécie de mini-álbum de 28 minu-

mesmas entrega sôfrega, quase gu-

tos, vale aqui o «preço de capa».

mesmas entrega sôfrega, quase gu-

tos, vale aqui o «preço de capa».

tural, de quem não aceita guardar

Começa com o electro bojudo ao

tural, de quem não aceita guardar

Começa com o electro bojudo ao

pinga de esforço para depois. Este

melhor estilo Goldfrapp por alturas

pinga de esforço para depois. Este

melhor estilo Goldfrapp por alturas

empenho vocal «no vermelho»

de Black Cherry («Terrible Angels»),

empenho vocal «no vermelho»

de Black Cherry («Terrible Angels»),

podia tornar-se excessivo e impru-

encontra o mistério dos Death In

podia tornar-se excessivo e impru-

encontra o mistério dos Death In

dente, mas mercê de paixão – e de

Vegas quando estes piscaram o olho

dente, mas mercê de paixão – e de

Vegas quando estes piscaram o olho

algum controlo – que Carminho

ao electroclash («Para-disco»), ati-

algum controlo – que Carminho

ao electroclash («Para-disco»), ati-

aplica aos temas, Alma torna-se

ra-se a um semifrio de Beck em «All

aplica aos temas, Alma torna-se

ra-se a um semifrio de Beck em «All

um disco coeso e poderoso, onde

The Rain» (não por acaso produtor

um disco coeso e poderoso, onde

The Rain» (não por acaso produtor

até «Meu Namorado», nascida no

do que aqui se ouve de novo) e

até «Meu Namorado», nascida no

do que aqui se ouve de novo) e

Brasil pela mão de Chico Buarque

sobre a temperatura nas recatadas

Brasil pela mão de Chico Buarque

sobre a temperatura nas recatadas

e Edu Lobo, passa de mel a ferro,

«Anna», «Out of Touch» (o zénite

e Edu Lobo, passa de mel a ferro,

«Anna», «Out of Touch» (o zénite

ganhando uma insuspeita dureza

do disco) e «Memoir». Bonito.

ganhando uma insuspeita dureza

do disco) e «Memoir». Bonito.

granítica.

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granítica.


LANA DEL REY Born to Die // Polydor/Universal FENÓMENO DO MOMENTO ASSINA PRIMEIRO GRANDE ÁLBUM POP DE 2012. BORN TO DIE AGITA AS ÁGUAS QUER DO UNIVERSO ONDE SE MOVE QUER DAQUELE ONDE O QUEREM, À FORÇA, ENGAVETAR.

Em pouco mais de seis meses, já quase tudo foi

que Born to Die não é o álbum perfeito – o anémico

dito e inventado sobre esta menina. Lizzy Grant,

«Radio» ou o banal «Carmen» eram facilmente

o ser humano por trás do gigantesco fenómeno

substituíveis por qualquer um dos temas bónus,

Lana Del Rey, é a rapariga do momento, aquela

só disponíveis na versão especial do álbum – mas,

que conseguiu a proeza de juntar tantos ou

recordamos, Del Rey é uma artista em construção.

mais fãs que Lady GaGa e Adele. Inicialmente

O hip/trip-hop de «Diet Mountain Dew», a exu-

enaltecida como uma nova e sedutora revelação

berância e sensualidade de «National Anthem»,

do indie – chegaram a querer fazer dela a nova

os ambientes góticos de «Dark Paradise», a

Cat Power – a artista nova-iorquina passou de

lancinante sedução de «Off to the Races» e

canções simples como «Video Games» ou «Blue

a brutalidade rítmica de «This is What

Jeans» para verdadeiros portentos pop («Born

Makes Us Girls» são argumentos de

To Die» é disso um bom exemplo), magistral-

peso para nos fazer acreditar que

mente produzidos e, quanto a nós, bastante

todo o ódio do que é alvo neste

agradáveis ao ouvido. Profunda ou superficial,

momento se traduzirá em mais

honesta ou intruja, Lana Del Rey tem neste Born

música excitante no futuro. É

to Die uma belíssima coleção de canções que

andar em frente e aguardar.

raramente se queda abaixo da mediania. Sem, ao nosso ver, grande esforço pessoal, Del

Mário Rui Vieira

Rey extremou opiniões e criou um montstro que poderá não conseguir controlar no futuro – a própria já admitiu que este poderá ser o seu derradeiro álbum. Ignorando o passado de canções pálidas e secas (algo «secantes», atrevemo-nos a dizer), mas cheias de apelo indie, da estreia Lana Del Rey A.K.A. Lizzy Grant, aquilo que nos apraz dizer é que o presente desta senhora é mais entusiasmante – e refrescante – que esforços recentes de algumas artistas pop da primeira liga. Claro 85


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CARMINHO Centro Cultural Olga Cadaval (Sintra) 22h00 // €15,00 a €20,00 MARTINA TOPLEY-BIRD Music Box (Lisboa) 00h00 // €18,00 VODAFONE MEXEFEST C/ TWINSHADOW, THE DO, HANNI EL KHATIB, THE

CARMINHO Centro Cultural Olga Cadaval (Sintra) 22h00 // €15,00 a €20,00 FINK Music Box (Lisboa) 22h00 // €16,00 GUI BORATTO Centro Cultural de Artes e Espetáculos (Guimarães) 23h00 // €12,00 SONS DE VEZ C/ A NAIFA Casa das Artes (Arcos de Valdevez) 23h00 // €13,00 a €19,00 VODAFONE MEXEFEST C/ ST VINCENT, NIKI & THE DOVE, KING KRULE, CAPITÃO FAUSTO, NORBERTO LOBO, BEST YOUTH, RUSSIAN RED, SUPERNADA, CASS MCCOMBS Rua Passos Manuel (Porto) €40,00

Sara Tavares Casa da música (Porto) 21h30 // €25,00

M83, PORCELAIN RAFT Hard Club (Porto) 22h00 // €26,00 SIMPLE PLAN, WE THE KINGS CColiseu dos Recreios (Lisboa) 21h00 // €30,00 THURSTON MOORE Centro Cultural Vila Flor (Guimarães) 22h00 // €7,50 a €10,00

FEIST Coliseu (Porto) 21h00 // €29,00 a €34,00

FEIST Coliseu dos Recreios (Lisboa) 21h00 // €29,00 a €34,00


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SONS DE VEZ C/ PAUS, TWO LITTLE MONSTERS AROUND A ROUND TABLE Casa das Artes (Arcos de Valdevez) 23h00 // €10,00 a €16,00

A NAIFA Teatro Municipal São Luiz (Lisboa) 21h00 // €10,00 a €20,00

HELMET Hard Club (Porto) 21h00 // €21,00

HELMET TMN ao Vivo (Lisboa) 21h00 // €21,00

GLOCKENWISE, LACRAUS, FOALS DJ SET, NORTON, FINK, JOSH ROUSE, BEATBOMBERS Rua Passos Manuel (Porto) €40,00

SONS DE VEZ C/ KUSSUNDULOLA Casa das Artes (Arcos de Valdevez) 23h00 // €6,00 a €13,00 WRAYGUNN Lux (Lisboa)

THE JON SPENCER BLUES EXPLOSION TMN ao Vivo (Lisboa) 22h00 // €22,00

THE JON SPENCER BLUES EXPLOSION Hard Club (Porto) 22h00 // €18,00

M83, PORCELAIN RAFT Lux (Lisboa) 22h00 // €26,00 THURSTON MOORE Galeria Zé dos Bois (Lisboa) 22h00

OS CAPITÃES DA AREIA Plano B (Porto) 23h00 // €5,00 REGGAE BLAST C/ DUB INC, BUSHMAN, OMAR PERRY Campo pequeno (Lisboa) 21h30 // €25,00 WRAYGUNN ACERT (Tondela)

LMFAO, FAR EAST MOVEMENT, COLETTE CARR Coliseu dos Recreios (Lisboa) 21h00 THE STRAITS Aula Magna (Lisboa) 21h00 // €26,00 a €32,00 WRAYGUNN Teatro Académico Gil Vicente (Coimbra)

LMFAO, FAR EAST MOVEMENT, COLETTE CARR Coliseu (Porto) 21h00 THE STRAITS Hard Club (Porto) 21h00 // €26,00

TINDERSTICKS Cinema São Jorge (Lisboa) 21h00 // €25,00 a €30,00

FESTIVAL PARA GENTE SENTADA C/ TINDERSTICKS Cineteatro António Lamoso (Santa Maria da Feira) €22,00 a €33,00

FESTIVAL PARA GENTE SENTADA C/ LOW Cineteatro António Lamoso (Santa Maria da Feira) €22,00 a €33,00 REGGAE BLAST C/ DUB INC, BUSHMAN, OMAR PERRY Coliseu (Porto) 21h30 // €17,50 a 27,50 SONS DE VEZ C/ b FACHADA Casa das Artes (Arcos de Valdevez) 23h00 // €10,00 a €16,00 WRAYGUNN Hard Club (Porto)

MARK LANEGAN TMN ao Vivo (Lisboa) 21h00 // €21,00

MARK LANEGAN Hard Club (Porto) 21h00 // €21,00

AMES MORRISON, MIA ROSE Coliseu (Porto) 21h00 // €24,00 a €37,00

JAMES MORRISON, MIA ROSE Coliseu dos Recreios (Lisboa) 21h00 // €32,00 a €37,00



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