LAMPIÃO
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Jornal Laboratório I Comunicação Social - Jornalismo I UFOP I Ano 3 - Edição Nº 8 - Fevereiro de 2013
A última gota d’água páginas 6 e 7
Luís fernando Bráulio
Falta de estrutura prejudica volta às aulas - página 3 Precisa ir à farmácia? Vai ter que caminhar! - página 4 Desafios para os novos prefeitos - pagina 9 A arte de viver a vida - página 11
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Fevereiro de 2013
Edição: Jéssica Romero, Tuanny Ferreira e Yumi Inoue Arte: Aline Barreíra
EDITORIAL
EDIÇÃO ONLINE
“Águas que banham aldeias, e matam a sede da população...” A música “Planeta Água”, de Guilherme Arantes, ilustra justamente o contrário do que acontece em Mariana. A água, aquela que se faz necessária para tudo, está escassa na cidade. Esse tema é o que você verá na especial dessa edição do LAMPIÃO. Falta água na casa de gente humilde e de gente abastada, e sobra indignação. Má gestão dos serviços públicos, caixas d’água fantasmas e as dificuldades enfrentadas no dia-a-dia demonstram que esse transtorno está longe de ser solucionado. O que fazer com cidades que não querem falar? São prefeituras que não
mostram suas metas, empresa que não cobra pelo consumo da água, mas também não a fornece a toda população. São esses alguns dos problemas pelos quais a nossa equipe se deparou enquanto buscava um direito dos cidadãos, além de enfrentar a dificuldade de acesso a informações públicas. Essa edição trata também de temas polêmicos, como a problemática das drogas em Mariana e Ouro Preto, onde os índices de consumo cresceram 20% e 43%, respectivamente, em 2012. Crack: a mais nova epidemia nacional. Como ele afeta o corpo e a mente do usuário,
como é a experiência de quem está no início do tratamento e a de quem conseguiu se livrar da droga. A redação do Jornal LAMPIÃO registra o seu mais profundo pesar e total solidariedade às vítimas da tragédia que se abateu sobre a cidade de Santa Maria (RS), com o incêndio na boate Kiss, no último dia 27 de janeiro. Nesta hora difícil e de sofrimento, o nosso pensamento está em particular com as famílias enlutadas e com os demais jovens que, assim como nós, fazem parte de uma vida universitária repleta de projeções. Que sejamos mais cautelosos com nossas vidas.
A partir de agora, quem acessar o endereço www.jornalismo.ufop.br/ lampiao terá em primeira mão o material extra de todo conteúdo do jornal impresso. Bastidores, cobertura das reportagens e entrevistas com os envolvidos na produção são as novidades que esperam por você. Dessa forma, o LAMPIÃO torna público o seu processo de apuração das notícias, além de fornecer uma ferramenta que
aumente a relação entre seus leitores e a produção laboratorial do curso de Jornalismo da Universidade Federal de Ouro Preto. Como todo jornal possui um espaço limitado de texto e foto, o site será útil tanto para publicar mais reportagens quanto para acrescentar galerias de imagens e vídeos, ilustrando ainda mais a informação que está na versão impressa. Para a edição do site, o LAMPIÃO possui agora uma equipe multimídia des-
ignada para as publicações online. A produção envolve gráficos interativos, matérias especiais e produtos audiovisuais. Você é nosso convidado especial. Boa leitura! Escreva: lampiao@icsa.ufop.br Compartilhe: Twitter: @JornalLampiao Curta: facebook.com/jornallampiao
CRÔNICA Jéssica Clifton
CHARGE
Travessia
“Aparentemente, o eleitorado de Mariana e de Ouro Preto escolheu a experiência para assumir suas administrações municipais”. Adriano Cerqueira, professor da Ufop, coordenador do Neaspoc - Pág. 8
“Não podemos deixar morrer essa tradição”. Lúcio da Silva André (Tiço), vice-presidente da Escola de Samba Acadêmicos de São Cristóvão - Pág. 9
“A rede municipal de ensino se encontra desgastada, não por falta de verba, mas sim por falta de investimento”. Elizabeth Cota, secretária de Educação de Mariana - Pág. 3
“O momento mais difícil é saber que você é dependente químico. Depois disso, vêm as perdas: família, esposa, filhos, caráter e identidade”. Raimundo Pimenta, dependente em recuperação - Pág. 5
Jamylle Mol De um lado, na casa da esquina, três portas e uma janela se equilibram na parede em ruínas. Do outro, o trilho da Maria Fumaça dá a certeza de que estamos em Minas Gerais. O chão de madeira esconde a água turva que o rio leva em seu constante passeio pela cidade. Enquanto isso, de cima, uma cruz de pedra cercada de flores abençoa as tábuas largas, com uma fé colorida que parece contradizer a frieza do seu concreto. É nesse cenário, no centro de Mariana, que a primeira ponte de Minas Gerais repousa, no auge dos seus 300 anos de história. Alphonsus de Guimaraens ou Manoel Ramos, ponte de tábua ou de madeira. A diversidade de nomes só não é maior que o número de passos que já caminharam por lá: pés firmes dos bandeirantes com seus ouros falsos e sorrisos contidos, andar tranquilo das freiras em dia de missa, a criança que largou a mão da mãe para seguir a retreta da banda e o menino que equilibra os pneus da bicicleta entre um suspiro e outro. Todos eles, cada qual em um momento, atravessaram a ponte. E atravessar é fazer história, é começar em um canto e desafinar em outro. Para muitos, estar sobre essas madeiras combinadas no interior da cidade
é a maior aventura que o cotidiano permite. Porque atravessar a ponte é, de fato, fazer história. Ninguém está lá apenas por estar. Talvez o que mais se pareça com a ponte escondida no cantinho da cidade seja um jornal. Não na estrutura, para alívio dos céticos. Um é madeira, prego, ferro e concreto, combinados a fim de seguir a planta elaborada por um engenheiro ousado, a mando de um prefeito sedento por placas de inauguração. O outro é papel, palavra, tinta, imagens e um punhado de ideologia, combinados para seguir a pauta elaborada por um repórter ousado, com uma mente sedenta pela vontade de mudar o mundo. A ponte escondida no cantinho da cidade só tem sentido se alguém passar por lá. Se não fosse por ela, o maquinista da Maria Fumaça jamais conheceria as paredes que os anos destruíram. Da mesma forma, o cachorro encostado na porta da casa invadida pelo tempo nunca saberia que o trem carrega pessoas de um lugar para outro. Um jornal escondido num cantinho da cidade só tem sentido se alguém abrir suas páginas e se render ao charme das manchetes. Se não fosse por ele, as pessoas jamais conheceriam os personagens que constroem a
história. Da mesma forma, os personagens sequer imaginariam que há histórias para serem criadas. Quem atravessa a ponte vê além do que está em uma das margens do rio. Quem lê um jornal enxerga mais longe do que o seu próprio quintal. A ponte está na rua. O jornal, para ter sentido, também deve estar. A ponte serve ao povo e, por isso, não faz distinção entre os passos descalços do morador de rua e os sapatos engraxados de quem não anda de ônibus. O jornal? Ora, o jornal também está a serviço de todos os passos, embora, às vezes, se esqueça disso e meta os pés pelas mãos. A cada dia, a ponte se renova. Ainda que sejam as mesmas madeiras e os mesmos pregos, o rio que corre lá embaixo já é outro e as pessoas que caminham são diversas. Em toda manhã, o jornal se reinventa. Embora sejam o mesmo papel e as mesmas letras, as vidas que preenchem os textos são outras e o mundo está diferente do dia anterior. Ponte e jornal: embora estáticos, são passagem. Instrumentos que unem, eles levam, juntam, revelam. A ponte transforma o cenário de quem anda. O jornal faz com que as pessoas caminhem para alterar seus próprios cenários. Ambos são sempre um meio, não um fim.
Jornal Laboratório produzido pelos alunos do 6° período de Jornalismo – Instituto de Ciências Sociais Aplicadas (ICSA)/ Universidade Federal de Ouro Preto – Reitor: Prof. Dr. Marcone Jamilson Freitas Souza Diretor do ICSA: Prof. Dr. José Artur dos Santos Ferreira. Chefe de departamento: Profa. Dra. Ednéia Oliveira. Presidente do Colegiado de Jornalismo: Prof. Dr. Ricardo Augusto Orlando – Professores responsáveis: Adriana Bravin (Reportagem), André Carvalho (Fotografia) e Priscila Borges (Planejamento Visual) – Editor-chefe: Arthur Gomes da Rosa. Subeditora: Isadora Rabello. Editora de fotografia: Isadora Faria. Editora de arte: Lívia Almeida. Editor Multimídia: Fábio Brito. Reportagem: Adriana Souza, Ana Carolina Meirelles, Alexandre Anastacio, Ana Luísa Rodrigues, Ana Luiza Batista, Bárbara Costa, César Raydan, Cíntia Adriana, Filipe Barboza, Joyce Afonso, Laís Queiroz, Lorena Costa, Nicole Alves, Patrícia Botaro, Patrícia Souza, Paula Peçanha, Rolder Wangler. Fotografia: Bruna Mattos, Isadora Faria, Jéssica Clifton, Laura Ralola, Lázaro Borges, Luís Fernando Braulio, Marcelo Sena, Nara Bretas, Rodrigo Pucci, Tamara Martins. Diagramação: Aline Moreira Barreíra, Ana Paula Rodarte, Caroline França, Isabela Azi, Jamylle Mol, Luísa Carolina Oliveira, Mariana Mendes, Núbia Cunha, Rafa Buscacio. Revisão: Jéssica Romero, Tuanny Ferreira, Yumi Inoue. Multimídia: Ramon Cotta, Paulo Victor Fanaia. Monitora: Yasmini Gomes. Colaboração: Lucas Salum, Murilo Amati. Impressão: Sempre Editora. Tiragem: 3.000 exemplares. Endereço: Rua do Catete, n° 166, Centro. Mariana - MG. CEP 35420-000.
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Edição: Adriana Souza, Alexandre Anastácio e Rodrigo Pucci Arte: Ana Paula Rodarte
CIDADE
Falta de estrutura nas escolas atrasa início das aulas em Mariana
Instabilidade governamental deixa projetos políticos em aberto e prejudica o desempenho dos alunos
Laura ralola
Alexandre Anastácio Das 21 escolas da rede municipal de ensino, 13 estão sem as condições estruturais mínimas para receberem os alunos nesse início de ano. A estrutura física de algumas delas está em péssimo estado. Há locais, como a Escola Municipal Dom Oscar de Oliveira, onde salas de aula ficam inundados quando chove. Obras estão sendo feitas para contornar os casos mais críticos, mas com o atraso delas o retorno às aulas, que iriam começar dia 4 de fevereiro, teve que ser adiado. A data prevista para o início é dia 18, quando o calendário letivo de 2013 será iniciado. Falta de bibliotecas, salas de aula, espaço para Notas do Ideb 2011 na Região dos Inconfidentes. Ciclo final do Ensino Fundamental da Rede Municipal (6º ao 9º ano) Santa Bárbara
5,4
Conselheiro Lafaiet-e
5,3
Itabirito
5,3
Ouro Branco
4,9
Ouro Preto
4,6
Congonhas
4,5
Barão de Cocais
4,4
Viçosa
4,2
Ponte Nova
3,8
Mariana
3,7
lazer e prática de esportes, problemas nos encanamentos e estruturas mal conservadas empobrecem a qualidade do ensino em Mariana. A educação pública na cidade se sustenta principalmente com a vontade de professores, diretores e funcionários que se esforçam para garantir às crianças e aos adolescentes esse direito básico e indispensável. Nas escolas da periferia a situação se agrava. Além de enfrentar problemas estruturais, professores e alunos estão inseridos em um contexto completamente diferente das localizadas no centro da cidade. A importância de outros elementos necessários para a formação dos estudantes, como alimentação adequada, acesso à cultura e ao esporte é ainda maior. Paulo Rogério Dias é professor de História na Escola Municipal Wilson Pimenta Ferreira, que fica no Bairro Prainha, cuja nota 2,8 no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), em 2011, foi a menor pontuação entre as escolas municipais de Mariana. “Um problema que enfrentamos aqui é o pouco acesso à cultura. No máximo, temos um DVD que mal funciona”, ressalta. No último Ideb, que analisou a qualidade do ensino das escolas públicas municipais, em 2011, Mariana ficou com nota média de 3,7 em uma avaliação que varia de 0 a 10. Esse
foi um dos resultados mais baixos dos últimos anos. A cidade, que tem uma verba municipal de cerca de R$ 60 milhões destinados à Educação, ficou atrás de cidades menores com verbas muito inferiores. Segundo a secretária de Educação de Mariana, Elizabeth Cota, um “grave sintoma” dos problemas na área sempre foi a falta de investimento efetivo da pasta de Educação nas escolas, tanto em recursos materiais quanto humanos. “A rede municipal de ensino se encontra desgastada, não por falta de verba, mas sim por falta de investimento em capacitação de profissionais, em merenda escolar de qualidade e na compra de materiais escolares básicos”, afirma. Para a professora do curso de Pedagogia da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), Regina Magna, a educação sofre um reflexo da instabilidade política que a cidade viveu nos últimos anos. “A cada novo mandato o secretário de Educação é trocado e, a cada novo secretário, novos diretores são nomeados. Com isso, fica muito difícil a elaboração e continuação de projetos por parte dos novos diretores”, explica.
VEJA FOTOS NA VERSÃO ONLINE
Na escola Dom Oscar de Oliveira, no Bairro Prainha, faltam livros de literatura na biblioteca
Entenda a nota do Ideb Alexandre Anastácio O Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) foi criado em 2007 para medir a qualidade de ensino das escolas brasileiras. O indicador é calculado através da aplicação de provas de Português e Matemática nas escolas do país pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep). A avaliação é feita a cada dois anos pelo Ministério da Educação (MEC), que busca através do teste uma melhoria na educação básica nacional. O objetivo é atingir uma nota média de 6, no ano de 2022, o que
corresponderia a mesma nota que recebem escolas de países desenvolvidos. Em Mariana, escolas com boa estrutura e qualidade de ensino elevam o índice para a estimativa do Governo Federal, mesmo que o município possua escolas em péssimas condições, como afirma a professora do Departamento de Educação da Universidade Federal de Ouro Preto (Deedu/Ufop), Margareth Diniz. “Os resultados obtidos com esse tipo de cálculo são superficiais, pois não analisam o contexto social dos alunos. Precisamos sempre questio-
nar as avaliações externas, pois elas podem produzir resultados mascarados que são utilizados como ferramentas políticas”. Na última lista com os resultados do Ideb, de dez cidades da Região dos Inconfidentes, nos anos finais do ensino fundamental, Ouro Preto ocupa a sexta posição e Mariana, a última. Apesar do baixo índice, a cidade ainda está dentro da meta de crescimento nacional, porém, a nota média que recebeu não examina a diferença existente entre a qualidade de ensino das escolas bem e mal avaliadas.
(Des)serviço prejudica população Lucas Salum
Insatisfação nas agências bancárias
Alô? Eu gostaria de fazer uma reclamação
Bens públicos sofrem com vandalismo
Adriana Souza Demora no atendimento, caixas eletrônicos com defeito e filas nos bancos são problemas que prevalecem no início do mês e geram constante insatisfação entre os usuários. Um exemplo é o trabalhador da construção civil, Jovenir Martins, 50 anos, que aguardou o atendimento presencial por mais de uma hora, de pé, em uma fila do lado de fora do banco, exposto à chuva. Saiu da agência cansado e, mesmo insatisfeito com o serviço, não sabia com quem reclamar. Assim como ele, muitas pessoas desconhecem a Lei 14.285/2002, do Estado de Minas Gerais, que regula o tempo para atendimento bancário em 15 minutos contados do momento em que o usuário entrar na fila. Os bancos que receberam maior número de queixas no Órgão de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon), de Mariana, como o Banco do Brasil, Itaú e Bradesco, argumentaram que dispõem de serviços alternativos para o atendimento, como telefone e internet, e que os demais problemas já estão sendo solucionados. O cidadão que se sentir desrespeitado deve comparecer ao Procon Municipal, localizado na Prefeitura. Para fazer a reclamação é necessário levar cópia da senha de atendimento do banco e o comprovante de operação realizada no caixa. O Procon recomenda também um Boletim de Ocorrência realizado no local, que comprove o caso na presença de testemunhas.
Paula Peçanha Segundo dados do Órgão de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon), de Mariana, a Oi é a operadora campeã de reclamações sobre o mau funcionamento de seus serviços. Em 2012 foram registradas 251 queixas, e os problemas mais comuns diziam respeito à instabilidade de sinal e descumprimento da velocidade vendida. A estudante do curso de Economia da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), Bruna Diniz, 23 anos, mora no Bairro Cruzeiro do Sul, em Mariana, e reclama: “Contratei cinco megas de velocidade, mas o máximo que chegou foi um mega. Quando ligo para reclamar, um atendente passa a ligação pra outro setor e desligam”. A gerente da loja autorizada da Oi, Melissa Campos, explica. “A Oi Velox permite que a pessoa possa ter até dez megas, mas não significa que vai ter, porque aqui só chegam dois megas. Mas, mesmo sabendo disso, alguns clientes querem pagar a internet de dez”, diz. O “mega” é uma unidade que mede a velocidade de processamento na internet. Para verificar a velocidade da sua conexão e registrar, junto ao órgão responsável, se estiver abaixo do que você paga, acesse o site “http:// www.testesuavelocidade.com.br/”. Segundo o Procon, as reclamações são feitas por telefone e são resolvidas. Quando isso não ocorre é aberto um processo administrativo. O cliente que se sentir afetado deve comparecer ao Procon local e fazer sua queixa.
Adriana Souza O número de lixeiras e telefones públicos não é suficiente para atender a população. O maior problema que implica na quantidade reduzida destes itens, segundo a empresa de telefonia Oi e a Secretaria de Serviços Urbanos, diz respeito ao vandalismo. Esse crime é praticado, na maioria das vezes, por moradores e visitantes locais que também fazem uso desses serviços. Dados da Oi apontam que, de janeiro a dezembro de 2012 foram danificados, em média, 18% dos cerca de 85 mil orelhões instalados em Minas Gerais. Na cidade, são depredados cerca de dez aparelhos por ano num total de 166 instalados. O mesmo problema acontece com as lixeiras. Apesar de substituídas por um material mais resistente, são danificadas com frequência, principalmente no centro histórico. A Secretaria de Serviços Urbanos vai abrir um processo licitatório para a compra de novas lixeiras para a região central, enquanto os demais bairros receberão somente em escolas, praças e postos de saúde. Além disso, uma campanha educativa será lançada para tentar acabar com este problema na cidade. A secretária adjunta da pasta, Denise Almeida, disse que os novos modelos de lixeiras e o plano de ampliação já estão sendo pensados, porém não tem previsão de quando isso será feito, pois existem outras questões emergenciais a serem resolvidas.
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Fevereiro de 2013
Edição: Bárbara Costa, Rolder Wangler e Tamara Martins Arte: Isabela Azi
Cidade
Nessa rua tem um semáforo que se chama confusão Sinal de trânsito, falta de faixa de pedestres e imprudência de motoristas causam transtornos na Rua do Catete Tamara Martins
Bárbara Costa Ausência de faixa de pedestres, semáforo com tempo curto para travessia e calçada com desnível. Essas são as principais dificuldades de quem circula pela Rua do Catete, no Centro de Mariana. Tais problemas, somados à imprudência dos motoristas e aos constantes congestionamentos, fazem dessa uma das vias mais críticas da cidade. Em outubro do ano passado foi implantado um semáforo na rua, entre a Ponte de Pedra e o Instituto de Ciências Sociais Aplicadas (ICSA), da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop). Pela via - principal acesso ao centro da cidade - carros, motos, ônibus coletivos e de turismo dividem espaço com os cerca de 1,3 mil alunos do Instituto. Problemas De acordo com a comandante geral da Guarda Municipal de Mariana, Kele Cristina Araújo, os constantes congestionamentos e o excesso de veículos de grande porte motivaram a instalação do semáforo. Embora tenha melhorado a condição do motorista no cruzamento, o sinal não facilita a travessia de pedestres. A secretária do ICSA, Maria Helena Cardoso, reclama da dificuldade para atravessar a rua. “Não estou vendo melhora com o semáforo, acho
tes, isso é muito. Tem também os ônibus de turismo, coletivos e das mineradoras”, diz.
Dificuldade para atravessar a rua e congestionamento são constantes em frente a um dos campi da Ufop, em Mariana
inclusive, que piorou. Não tem faixa, o tempo é muito curto e o motorista nunca cede para nós”, diz. Para o sargento Carlos Alberto dos Santos, do 52º Batalhão da Policia Militar, o pedestre que circula pela Rua do Catete “está jogado às traças”. E o problema vai além das condições da rua. “Falta conscientização por parte dos motoristas e dos pedestres também”, lembra o Sargento. Segundo a comandan-
te Kele Cristina, o Departamento de Trânsito da cidade já tem um setor educativo. “Além de blitz, desenvolvemos um trabalho com as escolas, fazemos palestras, simulamos situações que ocorrem no trânsito, como avanço de sinal e abuso de velocidade”, afirma. O perigo, no percurso da Rua do Catete, é constante. O funcionário da Eletrônica Zak, Lindouro Ferreira da Silva, já presenciou vários acidentes em frente
E agora? Cadê meus documentos? Lorena Costa Era véspera do Dia dos Namorados. A jornalista Nívia Machado, 30 anos, foi à procura de um presente. Quando se deu conta, a mochila que carregava nas costas estava aberta e a carteira havia sumido. Imediatamente, ela registrou um Boletim de Ocorrência (BO) na Polícia Civil e ligou para o banco, solicitando o cancelamento do cartão de crédito. Esse é o caminho para quem vivenciou o mesmo transtorno, alerta a guarda municipal de Mariana, Rosaline Marília. Segundo ela, após fazer a ocorrência, a pessoa deve ir aos órgãos competentes e solicitar a segunda via do documento. Há casos, porém, de pessoas que acham seus documentos na própria Guarda Municipal. “Geralmente deixam aqui com a gente e também nas rádios da cidade”, conta Rosaline. Por isso, ela lembra a importância de procurar o órgão antes de solicitar um novo documento. Para os que não tiverem a sorte de recuperar seus pertences, a saída é correr atrás de uma nova via. Em Mariana, os interessados podem tirar a carteira
de identidade (CI) no Centro de Atendimento ao Cidadão (CAC). Para isso, é preciso agendar um horário pelo telefone 3558-5158 e, em seguida, levar os documentos necessários: BO; certidão original de nascimento ou casamento; Documento de Arrecadação Estadual (DAE) pago e duas fotos 3x4. Segundo a funcionária do CAC, Gislaine Francisco da Silva, a identidade demora cerca de 20 minutos para ser feita. Já para tirar uma nova via da carteira de trabalho é preciso ir até o Sistema Nacional de Emprego (Sine), portando os mes-
mos documentos necessários para tirar o CI. Além deles, também é preciso que o trabalhador leve o número dos fundos do Programa de Integração Social (PIS) e do Programa de Formação do Patrimônio do Servidor Público (Pasep), além do comprovante de residência e do número da sua antiga carteira. A novidade é que o CPF pode ser gerado através do site da Receita Federal (http://www.receita.fazenda.gov.br). Desde 2011, o documento não é mais emitido no formato de cartão plástico.
Onde procurar o documento: 1. Polícia Civil (registrar o BO)
2. Guarda Municipal e Rádio Mariana FM (achados e perdidos)
Não encontrou? Saiba como fazer a segunda via: 1. Para Identidade, procure o CAC. 2. Carteira de Trabalho, procure o Sine. 3. Para CPF, acesse o site: http://www.receita.fazenda.gov.br
ao estabelecimento, localizado na via. “Já tive que socorrer muitas pessoas. O trânsito aqui é uma tristeza, é muito perigoso”, afirma. Kele Cristina lembra que o risco é, também, consequência da grande quantidade de automóveis existentes na cidade, somada ao costume que o morador tem de fazer, quase sempre, o mesmo trajeto para chegar ao centro. “São mais de nove mil veículos de passeio para 54 mil habitan-
Irregularidades De acordo com o Manual Brasileiro de Sinalização, antes de decidir pela adoção de um semáforo, deve-se tentar implantar outras formas de controle. Como alternativas têm-se placas de preferência e parada obrigatória ou, ainda, a faixa de travessia para pedestres. O Manual também diz que a sinalização semafórica deve vir acompanhada por uma linha de retenção, o que não existe na Rua do Catete. Kele Cristina admite que a implantação de uma placa de parada obrigatória seria o mais indicado. Porém, segundo ela, optou-se pelo semáforo “por uma questão de gestão”. Ainda de acordo com a comandante, não seria possível colocar uma faixa de pedestres próximo à Ponte de Pedra e ao cruzamento. Já a ausência da linha de retenção justifica-se, segundo ela, pelo fato de o semáforo ser apenas uma solução temporária. “Precisamos de um projeto que leve em conta toda a situação do trânsito em Mariana, mas dependemos de contrato com uma empresa terceirizada”, diz. Ela ressalta que, por esse motivo, não é possível determinar um prazo para que o projeto fique pronto.
Saúde comercial Rolder Wangler A aposentada Maria Gualberto, 70 anos, moradora do Distrito de Ribeirão do Carmo, descobriu que tinha diabetes e pressão alta há cinco anos. Devido à doença, o médico lhe receitou três remédios de uso contínuo e indispensável. Próximo a sua casa não existem farmácias e a única opção é ir ao centro da cidade buscar o medicamento. Essa é uma situação recorrente entre os mais de 54 mil moradores de Mariana. A cidade conta com 27 estabelecimentos para comercializar remédios entre os 28 bairros e distritos. Dois deles são administrados pela Prefeitura, funcionam nas policlínicas e distribuem medicamentos sem custo algum ao consumidor, desde que ele passe pela assistência médica. Há também as drogarias e farmácias particulares,
além das populares - criadas através de um programa do Ministério da Saúde - que vendem medicamentos a preços mais acessíveis. Juntas, formam um dos aglomerados mais presentes no Centro Histórico.
Contraste Considerando o número de farmácias existentes na cidade, seria possível ter uma por bairro. No entanto, cerca de 70% – 20 estabelecimentos – concentram-se no Centro, região economicamente mais ativa de Mariana. Há bairros que possuem apenas uma ou duas farmácias e ainda atendem a demanda de outros locais. Esse é o caso do Cabanas. O bairro, ainda que disponha somente de duas farmácias e uma policlínica, atende também o Cartuxa. Para Geraldo Tomás Ferreira, 41, morador do Bairro Fonte da Saudade,
Por que no Centro? Para a especialista em Saúde Mental e professora da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), Cristiane Tomáz, a distribuição dos estabelecimentos é desproporcional. “Há de se pensar sobre a desigualdade social da população de Mariana, uma vez que as farmácias se concentram em locais onde as
pessoas têm condições de consumir mais”, afirma. Para Germano Zanforlim, a concentração no centro de Mariana não impede que o cidadão seja atendido e usufrua de seus direitos. “O município conta com cerca de 30 unidades de saúde, entre postos, básicas e avançadas, e um hospital”, afirma.
a situação vem se tornando cada vez mais complicada. “Eu descobri que tenho pressão alta há alguns anos e venho fazendo uso de medicamento controlado desde então, porém, como meu bairro dispõe de uma farmácia que, além de ser longe de casa e insuficiente, eu tenho que ir ao Centro buscar ou retirar na policlínica”, afirma. Segundo o atual secretário de Saúde, Germano Zanforlim de Araújo, essa situação está relacionada à concentração histórica de atividades no centro da cidade. “A localização do estabelecimento comercial, drogaria ou farmácia, salvo se por algum risco de exposição à saúde ou restrição do plano diretor, é do livre arbítrio do comerciante”, afirma.
Farmácia 24 horas em Mariana Há quanto tempo: Seis meses. Onde: Drogaria Brasil. Endereço: Avenida Salvador Furtado, nº 18, Centro. Entrega em domicílio: Não faz. A pessoa deve ir ao local para buscar os medicamentos.
Fevereiro de 2013
Edição: Marcelo Sena e Lázaro Borges Arte: Luisa Oliveira
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CIDADE
Realidade que assombra
O crack é a droga mais consumida em Ouro Preto e Mariana e já é considerado uma epidemia
COMO A DROGA AFETA O ORGANISMO
SISTEMA NERVOSO No cérebro, as áreas responsáveis por pensamento, planejamento e controle dos impulsos são destruídas. Os vasos sanguíneos inflamam e podem levar a AVC's e a convulsões.
SISTEMA CARDIOVASCULAR O abuso da droga aumenta a pressão arterial e acelera os batimentos cardíacos, podendo causar infarto e outras complicações.
SISTEMA PULMONAR Os alvéolos dos pulmões são destruídos, facilitando infecções como tuberculose, pneumonia e hemorragias.
SISTEMA DIGESTIVO O crack atrapalha a digestão e afeta o figado e os rins, provocando náuseas e ausência de apetite.
ILUSTRAÇAO:MURILO AMATI
marcelo sena
Rayana Almeida Há quatro anos, quando Ana – nome fictício – chegou a Ouro Preto com os três filhos, não conhecia o crack. Depois de se casar, ela queria fugir dos apelidos colocados pelo marido por estar acima do peso. Após sucessivas crises de depressão, acabou sendo levantada pelas influências e usou a droga pela primeira vez. Ana é bonita, tem os cabelos loiros, bem cuidados, e uma casa bem arrumada. A mãe de três filhos se deparou com conflitos dentro de sua casa. Muitas vezes, as brigas eram provocadas pela agressividade resultante de sua dependência. Hoje, ela luta contra o vício. Além dos usuários serem alvo de doenças pulmonares, neurológicas e circulatórias, o crack também expõe essas pessoas a condições de perigo e violência. A maioria das mortes é relacionada a situações de conflito em que o indivíduo se arrisca para conseguir a droga ou causa acidentes por perder a noção da realidade durante o torpor. Casos de atropelamentos de dependentes são comuns, assim como pequenos furtos realizados para a compra da droga. Segundo dados das polícias Civil e Militar, o crack é a droga mais consumida na região de Ouro Preto e Mariana e é utilizado cada vez mais por jovens entre 15 e 25 anos.
Em 2012, Mariana teve um crescimento de 20% nas ocorrências relacionadas ao uso de drogas em comparação a 2011, aumentando de 76 para 91 o número de registros. Já em Ouro Preto foram computados alarmantes 43% de acréscimo, passando de 70 para 100 ocorrências, no mesmo período. Com o crescimento do consumo, aumentou também a demanda por auxílio para os que desejam largar o vício. A Prefeitura de Mariana não quis falar com a reportagem do LAMPIÃO sobre o assunto. As secretarias de Saúde e de Desenvolvimento Social e Cidadania foram procuradas, mas não quiseram fornecer informações a respeito das políticas públicas adotadas pela cidade. Entretanto, as prefeituras podem ajudar na prevenção e no combate à droga, lançando programas sociais que informem e tratem as pessoas envolvidas. Já a Prefeitura de Ouro Preto auxilia o Centro de Atenção Psicossocial (Caps), que oferece atendimento médico, apoio para as famílias, além de distribuir remédios. A Polícia Militar, por exemplo, oferece palestras nas áreas afetadas de ambas as regiões e atua através do Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência, que é um curso desenvolvido para as crianças, jovens e adultos nas escolas creden-
LEGENDA
ciadas da região. O combate também é feito pela
Polícia Civil através da investigação do tráfico
Investimentos na área Em 2012 foram investidos R$ 476 milhões em Minas Gerais referentes ao programa do Governo Federal “Crack: É possível Vencer”. Até 2014 esse repasse será transformado em redes de Atenção Psicossocial em cidades de todo o Estado. Ouro Preto e Mariana já receberam o valor de tabela do Ministério para implantar o serviço. Segundo a Secretaria
de Saúde de Minas Gerais, Ouro Preto terá três Caps, uma Unidade de Atenção Infantil, um Núcleo de Apoio a Família e uma Unidade de Serviço Residencial Terapêutico. Já Mariana contará com um Caps e uma Unidade de Atenção Adulto. Os valores repassados para os municípios não foram informados pela Secretaria Estadual de Saúde.
Um caminho que tem volta Cíntia Adriana e Isadora Bruzzi “O momento mais difícil é saber que você é dependente químico. Depois disso, vêm as perdas: família, esposa, filhos, caráter e identidade”, afirma Raimundo Pimenta, 46 anos. Aos 16, ele teve o primeiro contato com drogas e hoje quer mudar o rumo de sua história. Depois de passar momentos difíceis no vício, resolveu procurar ajuda na Casa São Francisco de Assis, em Ouro Preto, onde está há quatro meses. O dependente em recuperação precisa voltar a confiar em si e ver que é capaz de recomeçar. Para
isso, o auxílio da família é fundamental. Hermógenes da Silva, 52, descobriu que seu filho Adriano da Silva, 31, estava envolvido com drogas e buscou apoiá-lo na recuperação. “Eu percebi que estava fazendo tudo errado. Adriano chegava em casa drogado e tudo o que eu queria era bater e xingar. Com o tempo, percebi que isso não adiantava e queria mostrar ao meu filho o quanto o amava”. A casa de recuperação foi fundamental. “Eu sou um alcoólatra em recuperação, lutei contra o vício durante 20 anos por minha conta e não consegui. No momento em que eu encontrei Deus, as coisas bruna mattos
mudaram. Não se tornaram fáceis, mas mais simples. E, assim como teve jeito pra mim, eu sabia que teria jeito para o meu filho”, conta o pai. Adriano começou a usar drogas ainda jovem e aos 18 anos conheceu o crack. O rapaz, que já havia sofrido três princípios de overdose e passado três vezes pela prisão, percebeu que o vício estava tirando tudo que tinha. Durante um ano ficou na Casa São Francisco de Assis que hoje é seu local de trabalho. Ele pretende ajudar outros dependentes. O pai de três filhos pretende dar a eles o exemplo que não deu enquanto era dependente das
drogas. “Hoje, meus filhos me veem com olhos diferentes do que antes”, diz. Assistência Situações como essas não são incomuns. Muitas vezes, as drogas são a saída para os problemas, e cair em si para procurar tratamento não é uma decisão simples. Em Ouro Preto e Mariana existem casas e comunidades terapêuticas que auxiliam usuários com dificuldade para largar o vício. É o caso das casas São Francisco de Assis e Lírios do Campo, locais que oferecem ajuda psicológica, suporte à família, alimentação e moradia para pacientes. O atendimento
feito pelas casas visa inserção do dependente na sociedade para que ele possa voltar à sua rotina. Os pacientes realizam trabalhos como produção de bloco, sabão e plantam verduras para consumo próprio e venda. As casas aceitam doações de alimentos, roupas e produtos de limpeza. Outra saída para aqueles que precisam de ajuda é o Centro de Atenção Psicossocial (Caps), em Mariana, e Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Droga (Caps Ad), em Ouro Preto. Segundo o psiquiatra do Caps Ad, Lucas Paiva Go-
mes, o usuário de drogas é entrevistado para que seja analisado o estágio de sua dependência e o tipo de ajuda que ele precisa. O tratamento é feito no local, que não funciona como moradia. É disponibilizado atendimento psiquiátrico, psicológico, serviço de enfermagem, alimentação, local para banho, reuniões e atividades para incentivar o trabalho. Enfrentar a dependência química é uma etapa difícil para o usuário, mas é possível com o suporte da família e a procura de um tratamento.
Contato
marcelo sena
Comunidade Lírios do Campo: (031) 3557-0010 e (031) 8772-0127 / Rua Vereador José T. Carvalho, s/n – Bairro Santa Cruz, Ouro Preto. Casa São Francisco de Assis: (031) 3551-6749 / Rua das Orquídeas, nº1 Bairro Santa Cruz, Ouro Preto. Caps Ad Ouro Preto: (031) 35526317 / Rua Nossa Senhora do Parto, nº 50 – Bairro Padre Faria, Ouro Preto. Caps Mariana: (031) 3558-2229 / Rua Dezesseis de Julho, s/n – Centro, Mariana. Hermógenes apoia o filho Adriano na recuperação do crack
Exposição de trabalhos das oficinas terapêuticas do Caps Ad
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Fevereiro de 2013
Edição: Nara Bretas Arte: Caroline França
Por uma gota “Eu tenho açougue no meu comércio e preciso manter a higiene do local. Sem água eu não consigo lavar nada”.
Mariana é conhecida, além do seu caráter histórico, por ser uma cidade onde não se paga pela água. Ou seja, o consumo desse recurso não é tarifado. O LAMPIÃO investigou a gestão e a distribuição da água e descobriu que, no final das contas, o marianense paga muito caro por ela. Isso quando o serviço chega, de fato, à sua casa.
João Lizardo, morador do Bairro Rosário
Muito descaso e nenhuma solução
“Eu já tive que tomar banho na casa dos outros por conta da falta d’água na minha rua”.
Joyce Afonso Falta não é o único problema relacionado à água em Mariana. Má administração, manutenção inexistente do sistema de abastecimento, ausência de planejamento e desaparecimento de arquivos técnicos são algumas das deficiências encontradas no Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae) da cidade, responsável pelo tratamento e distribuição de água. A constante falta d’água em diversos bairros do município é a campeã de reclamações do órgão. (Leia mais na reportagem abaixo). A justificativa para este problema é a precariedade do sistema de abastecimento, consequência da falta de planejamento e de manutenção, informou o novo diretor executivo do Saae, Valdeci Fernandes Junior, que foi o primeiro gestor da instituição criada em 2005. Para ele, “o Saae foi
deixado às traças”, e, hoje, um dos principais obstáculos para a execução de projetos é o desaparecimento de arquivos técnicos da instituição, contendo, por exemplo, mapas da rede de distribuição de água e o número de domicílios atendidos. O sumiço dos arquivos foi registrado em boletim de ocorrência na Polícia Militar (PM), mas eles não foram recuperados. O armazenamento e a distribuição da água são indicadores de sua qualidade, o que tornam necessárias fiscalizações e manutenções constantes, como limpezas e consertos. De acordo com o diretor, isso não estava sendo feito. Além de precário, o sistema de distribuição da cidade é ramificado. O chefe de departamento de Novos Negócios da Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa), Cláudio Dotti, informa ser essencial
desenvolver um sistema de abastecimento centralizado e integrado. Isso tornaria possível que fossem feitas manobras, por exemplo, de remanejamentos do fluxo d’água, para a solução de eventuais problemas de abastecimento. A justificativa para tantas atribulações seria a instabilidade política do município, já que o cargo de diretor depende de nomeação do prefeito. LAMPIÃO apurou que também houve falhas na administração interna do órgão. Recursos do Ministério da Saúde, da ordem de R$ 41 milhões, encontravam-se reservados para a execução de obras de tratamento de esgoto e instalação de hidrômetros em Mariana, mas não foram repassados porque o Saae não apresentou nenhum projeto. O diretor Valdeci Fernandes esclareceu que estão em execução levantamentos para a elaboração
de um inquérito sanitário, que irá oferecer um diagnóstico da atual situação da cidade para que seja criado o projeto executivo. O prazo previsto para a criação do projeto é de um ano e para a solução dos problemas é de quatro. Cobrança O Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Doce, da qual Mariana faz parte, acordou, em 2011, que os usuários de água da bacia sujeitos a outorga devem pagar pela captação, a
fim de recuperar os mananciais e racionalizar o uso da água. O diretor adjunto de administração do Comitê, Ronaldo Camelo, esclarece que o valor trimestral pago pelo Saae gira em torno de R$ 25 mil a R$ 30 mil. Essa quantia pode ser repassada aos usuários da água por meio de tarifas mensais. Como essa cobrança não acontece em Mariana, o valor ainda é pago pela prefeitura, já que a institução não possui orçamento próprio. Nara bretas
Saae, em Passagem de Mariana: ferrugem nos equipamentos e lodo nas paredes denunciam a falta de manutenção periódica
Glauciene Santos, moradora do Bairro Cabanas
População sofre as consequências Filipe Barboza “Moro no Rosário há 18 anos. Na minha rua vejo faltar água há 18 anos”, a afirmação é da vendedora Denise Fonseca, 39 anos, moradora da Rua Guatema-
la, no Bairro Rosário. A situação evidencia um problema recorrente em várias localidades de Mariana, com situações mais graves em determinadas regiões. Segundo o último levanLuís Fernando Bráulio
Em situação crítica, Vicente Inocêncio armazena água em um tambor de plástico
VEJA MAIS CONTEÚDO NA VERSÃO ONLINE
tamento realizado pelo Serviço Autônomo de Água e Esgoto de Mariana (Saae), na primeira quinzena de janeiro de 2013, a instituição recebeu 35 reclamações (14% de um total de 250 chamadas) em relação à falta d’água em moradias. Os bairros Rosário e Cabanas, localizados nas regiões altas da cidade, foram os mais atingidos. Para suprir o abastecimento, foi preciso realizar 51 viagens com caminhões pipa. Segundo o presidente da Associação de Moradores e Amigos do Rosário (Amar), João Bosco Maciel, 40, o bairro enfrentou a maior escassez dos últimos anos. “O Rosário já passou por várias fases de falta d’água. Sempre faltou, mas eu nunca vi uma situação tão grave como a que ocorreu do final do ano passado para o início desse ano”, afirma.
Do outro lado da cidade, no Bairro Cabanas, o aposentado Pedro Julião, 43, relata os mesmos problemas vivenciados por Denise Fonseca, moradora do Rosário. “Eu vejo faltar água aqui na Rua Conselheiro Lafaiete há oito anos. Hoje mesmo, na minha casa, está faltando água; estou pegando do vizinho. Aqui um tem que ajudar o outro”, conta Pedro. Alternativas Chamar o caminhão pipa ou pedir ajuda para vizinhos são escolhas comuns para os moradores que ficam sem água em suas casas. Mas, algumas pessoas estão apostando em diferentes estratégias para sanar esse transtorno, já que não encontram soluções efetivas por parte do poder público. “A opção que encontrei
foi comprar uma piscina de plástico de 8 mil litros e colocá-la em um espaço da minha garagem. Ela fica coberta e montada o ano inteiro. Serve como reservatório para mim e minha família”, ressalta Denise, que mora com o marido e dois filhos. Já o carregador Vicente Inocêncio, 62, morador do Bairro Cabanas, vai mais longe. “Eu busco água em um córrego próximo à Cachoeira da Serrinha e armazeno em tambores de plástico”, conta. O mecânico Juarez Romão Junior, 20, morador da Rua Ébano, no Rosário, encontrou outra saída. “Aqui em casa instalamos quatro caixas de água de 2 mil litros para ter abastecimento o dia inteiro. Mas eu penso: quem não tem condições de comprar essas caixas, como fica? Sem água?”, questiona.
Fevereiro de 2013
Edição: Nara Bretas Arte: Caroline França
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a de dignidade Construções abandonadas, desperdícios frequentes e denúncias administrativas. Esses são alguns dos obstáculos enfrentados pela cidade, cuja administração negligencia um recurso básico e de qualidade ao morador. Mesmo com os anos de descaso sobre o problema, resta agora saber quando essa herança irá por água abaixo.
Obras abandonadas e CPI comprometem Saae Luís Fernando Bráulio
Lei Federal de Saneamento Básico garante água de qualidade para todos.
César Diab Não é difícil caminhar por Mariana sem deixar de notar irregularidades na estrutura da cidade. Há quem diga que este problema se tornou “tradição” nas administrações municipais. O Sistema Autônomo de Água e Esgoto (Saae) também contribui para o agravamento deste transtorno. Um exemplo são as duas caixas d’águas que seriam construídas pelo Saae, nos bairros Cabanas e Águas Claras, e que foram iniciadas em 2011, na gestão do ex-prefeito Geraldo Sales (PDT), e interrompidas durante o mandato da ex-prefeita Terezinha Ramos (PTB), em agosto do mesmo ano. Segundo a declaração do ex-diretor do órgão Davidson Miranda, as obras são “descartáveis”, pois não há como retomá-las devido às péssimas condições em que se encontram. Não se sabe, ainda, o motivo da paralisação. Em entrevista ao LAMPIÃO, o atual diretor do órgão, Valdeci Luiz Fernandes Júnior, anunciou revisão das construções. “Nós
estamos avaliando se essas obras estão dentro do novo plano”, disse, completando em seguida: “Se proceder, nós vamos dar continuidade, mas se estiverem fora do plano de água, não há necessidade, é dinheiro jogado fora”, enfatizou. As caixas seriam construídas para sanar parte do problema de distribuição de água na região. Desde sua criação em 2005, o Saae recebeu da Prefeitura R$ 60 milhões para investimento em sua infraestrutura. Porém, passaram-se oito anos e os problemas ainda persistem. CPI Em novembro de 2012 foi criada, na Câmara de Vereadores, uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar essas obras e outras irregularidades administrativas do órgão nas gestões passadas. Contudo, não foi finalizada no ano passado, como previsto. Segundo o então presidente da comissão, o vereador Fernando Sampaio (PRB), o atraso na entrega dos documentos contra-
Abandonada há um ano e meio, obra da caixa dágua do Cabanas pode não ser retomada
tuais foi uma das razões que inviabilizaram o término da investigação. Ainda não há previsão de quando a CPI voltará, porém, o vereador diz que “o que se espera é que seja feita neste ano uma CPI completa para que se investiguem melhor as denúncias do Saae”. A instauração da CPI ocorreu após uma declaração, na 34ª Reunião Ordinária da Câmara, do exdiretor do Saae, Davidson Miranda, na qual apontou
indícios de fraudes e irregularidades na instituição. “Não estou aqui para jogar a culpa em ninguém, mas tenho documentações de várias questões irregulares no Saae”, afirmou ele, na época. Entretanto, os documentos citados por Davidson não foram entregues à CPI. A instituição se negou a apresentar cópias contratuais alegando que, no total, eram mais de 105 mil documentos e que não haveria dinhiero suficiente para
imprimir esse material. Para o advogado Frederico Ozanan, autor do Blog do Ozanan, a situação na instituição é reflexo da instabilidade política enfrentada por Mariana ao longo dos anos. Segundo ele, “a autarquia deveria cobrar pela água, mas como ela é gratuita, depende sempre da verba da Prefeitura para realizar esse tratamento mentiroso”. Algo que, de acordo com Frederico, facilita fraudes e irregularidades licitatórias.
Saneamento básico: uma questão de saúde pública Nara Bretas
Caixa d’água na Rua Jatobá, Bairro Rosário, é utilizada também como depósito de lixo
Joyce Afonso De acordo com o Ministério da Saúde, muitas doenças transmitidas para o ser humano são causadas por ingestão de água contaminada. Dentre elas: diarréias e disenterias; febre tifóide e paratifóide; leptospirose; amebíase; hepatite infecciosa; e ascaridíase (lombriga). Existem também doenças associadas à falta d’água (fato que dificulta a higiene pessoal), como tracoma e tifo, que se caracterizam por infecções na pele e nos olhos. O consumo de água fora das condições ideais está entre as principais causas da mortalidade infantil no Brasil. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), para cada dólar investido em saneamento, economizam-se cinco dóla-
res nos dez anos seguintes em hospitais, postos de saúde e médicos. A farmacêutica e doutoranda em Epidemiologias e Doenças Parasitárias, da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), Gabriela Lana, ressalta que o cloro não mata todos os parasitas que podem contaminar a água. Além do tratamento, o armazenamento e abastecimento da água devem ser monitorados. Os reservatórios e encanamentos precisam receber limpezas periódicas, para que não haja contaminação nessas etapas. Gabriela indica a lavagem das caixas d’água a cada seis meses e, em casos onde a água não esteja em condições adequadas para consumo, ela sugere sua fervura.
Distribuição de água em Mariana foi criada para comportar 20 mil moradores. Hoje, a cidade possui cerca de 60 mil cidadãos e poucas transformações foram feitas em sua estrutura.
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Edição: Ana Nepomuceno, Nicole Alves e Rodrigo Pucci Arte: Cinthya Meneghin
política
Cresce, mas não se desenvolve Entrave histórico
Nova gestão encara problemas com a Copa e crescimento desordenado Ana Nepomuceno Além dos problemas enfrentados por toda administração municipal, como trânsito, educação e segurança pública, a antiga Vila Rica também apresenta dificuldades herdadas de sua história, que impedem mudanças profundas no espaço urbano. A população cresce, mas a estrutura necessária não consegue acompanhar o ritmo, o que acaba por gerar conflitos e situações como ocupações desordenadas de encostas. Esse é um dos obstáculos que o prefeito José Leandro Filho (PSDB) irá enfrentar em seu terceiro mandato à frente do Executivo Municipal, pois o crescimento da população também exige melhorias na oferta de serviços públicos. O saneamento básico é um exemplo, visto que o único aterro sanitário controlado da cidade está aban-
donado e a coleta seletiva não é eficaz no município. Outra questão recorrente é a saúde. O setor sofre com a falta de médicos especialistas, equipamentos adequados, remédios de fornecimento obrigatório e demora no agendamento de exames. Pacientes de radioterapia, hemodiálise e quimioterapia enfrentam horas de viagem para conseguir atendimento adequado em outros locais. José Leandro também tem de lidar com uma economia desaquecida e com cada vez menos oportunidades para os jovens residentes. Sem contar que a administração precisa colocar a “casa em ordem” para eventos como a Copa do Mundo de 2014 e isso envolve a execução do Plano Municipal de Turismo, que possui metas a serem cumpridas ao longo de dez anos.
ANÁLISE POLÍTICA O ano de 2013 começa para as cidades brasileiras com as expectativas aumentadas em decorrência da posse dos novos prefeitos, eleitos no ano passado. Em Mariana e Ouro Preto, os candidatos vencedores são políticos experientes e que já assumiram as respectivas prefeituras, em outros tempos. Aparentemente, o eleitorado dessas cidades escolheu a experiência para assumir suas administrações municipais. Qual seria seu recado? Primeiramente, os novos governantes deverão cuidar bastante da questão política, pois suas cidades passaram por forte comoção. Além disso, deverão ter
muita atenção com a delicada situação econômica que o Brasil está passando, e em especial, as economias muito dependentes da exportação de commodities, como o minério de ferro. Mariana e Ouro Preto mudaram muito e pedem prefeituras mais competentes e responsáveis com a boa administração. Adriano Cerqueira Professor do curso de História da Ufop
O que os moradores esperam da nova administração? EM OURO PRETO Rodrigo pucci
MEIO AMBIENTE
“A principal demanda do meio ambiente é a qualificação. A administração tem que criar cargos técnicos para lidar com Ouro Preto, pois a cidade é cercada de Unidades de Conservação. A Prefeitura tem que dar atenção a essas Unidades já implantadas porque todas precisam de manutenção periódica e funcionários qualificados. Também acredito que só a Secretaria de Meio Ambiente não consegue lidar sozinha com algumas questões devido ao pouco recurso revertido para a pasta. Eu acho que não há nada melhor que trabalhar as secretarias juntas para melhoria da educação ambiental e da questão sanitária”. Edenir Monteiro, 33 anos, geógrafo e instrutor de Bombeiro Civil.
lázaro borges
MEIO AMBIENTE
Prefeito eleito vai gerir cidade pequena com grandes problemas Nicole Alves Mariana possui uma série de dificuldades decorrentes, em sua maioria, do quadro de instabilidade que a cidade passou: foram seis prefeitos nos últimos quatro anos. Celso Cota (PSDB) assumiu a prefeitura em 2013 pela segunda vez, e encontrou um município defasado em diversos setores. No entanto, quais são os problemas mais graves e qual a origem deles? Por um lado, a cidade tem grande parte da sua renda dependente da mineração. E com a desaceleração da economia mundial, a receita do município foi afetada de forma significativa. Por outro, é possível reverter parte destas perdas desde que haja investimento no turismo. Para isso,
é necessário aproveitar os próximos eventos que irão ocorrer no Brasil, como a Copa do Mundo, em 2014. Outra questão referente às mineradoras é que elas atraem grande contingente de pessoas, geram emprego, mas deixam os impactos ambientais para os moradores. Em 40 anos de exploração de seus recursos naturais, Mariana ganhou apenas dois bairros para abrigar os trabalhadores dessas empresas. A expansão da Universidade Federal de Ouro Preto também gera um excedente populacional e, consequentemente, mais problemas, como a falta de moradias. Além disso, existem outros obstáculos relacionados à educação, saúde, meioambiente e à preservação do patrimônio histórico.
“Sobre o que espero, eu não acho que é diferente do que outras pessoas desejam: primeiro, um ensino de qualidade do ponto de vista pedagógico, que os professores tenham capacitação, sejam bem remunerados e possam se dedicar mais a sua profissão. A outra questão é esperar uma boa gestão administrativa, pois os prédios precisam de reformas pensadas do ponto de vista do que é adequado à escola. Quem essa instituição abriga? São crianças? Então, tenho que priorizar rampas. O que eu tenho que ter para ter uma escola prazerosa para o aluno?”. Sandra Fosque, 50 anos, professora de História da Arte e da Arquitetura Brasileira na Fundação de Arte de Ouro Preto (Faop). rodrigo pucci
SAÚDE
“No Brasil, nós temos leis perfeitas, agora, o problema é que as pessoas não as obedecem, portanto, eu espero que a gestão apenas cumpra as leis que regem os procedimentos do setor, pois a saúde seria maravilhosa se as normas fossem obedecidas. Eu sei que a gestão passada deixou problemas de contratos cancelados de fornecimento de medicamento, exames e prestação de serviços, por isso, vai ser um começo difícil. Outra coisa que eu espero é que eles deem instrução para as pessoas que trabalham na Saúde, pois para trabalhar nessa área é necessária uma capacitação ao atender pacientes que já estão abalados”. Maria de Lourdes Rasmussen, 75 anos, professora aposentada.
PATRIMÔNIO
“No governo anterior, criou-se a Secretaria de Patrimônio e Desenvolvimento Urbano, que tinha um trabalho constante de fiscalização e trabalhou no intuito de atualizar o plano diretor da cidade, além de fazer um controle da ocupação. É imprescindível que se mantenha a pasta com profissionais capacitados, pois vem aí a Copa do Mundo, e Ouro Preto tem de se preparar. Então, fica aqui o meu apelo para que a Prefeitura não feche essa secretaria, pelo contrário, aumente o seu poder para que essa pasta possa dar um maior suporte a preservação”. Margareth Monteiro, 50 anos, chefe da sessão de difusão do acervo e promoção cultural do Museu da Inconfidência. rodrigo pucci
EM MARIANA
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Desafios de Mariana
Rodrigo pucci
EDUCAÇÃO
“O primeiro desafio refere-se à qualidade da água fornecida à população. Não é possível que a cidade, que possui uma boa arrecadação para os padrões mineiros, continue fornecendo água barrenta para ser consumida. Em toda chuva forte a caixa d’água vira uma imundice. Os resíduos entopem a boia que controla o volume de água. Resultado: ou entra água barrenta ou não entra nada. O segundo problema refere-se à situação do Ribeirão do Carmo. Em Ouro Preto, foram construídas estações de tratamento de esgotos que irão melhorar a qualidade da água lançada no rio. Água tratada e com qualidade e o cuidado com o Ribeirão do Carmo são dois problemas que espero que a nova gestão trate como algumas de suas prioridades.” Kleverson Lima, 40 anos, professor de História.
EDUCAÇÃO
Marcelo sena
“O Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) de Mariana é o pior da região. Em um projeto que participei nas escolas, observei que havia crianças acima de oito anos que não sabiam ler! A obrigação do prefeito é alfabetizar estas crianças. Além disso, há uma defasagem grande de profissionais alfabetizadores e é preciso dotar as escolas de recursos. Acredito que a escola deve ser um local de civilidade, por isso, é preciso trabalhar a prática dos professores orientada para o lado teórico e auxiliar aqueles que têm problemas com alunos. Defendo também que deve haver uma forma criativa de chamar o aluno para as escolas e, se possível, usar a tecnologia a favor e fazer a coisa de modo que eles se interessem”. Hebe Rola, 81 anos, pesquisadora, professora, defensora do Patrimônio. Lázaro Borges
SAÚDE
“Espero que melhore cada vez mais. Tenho plano de saúde, e não procuro os serviços médicos da Prefeitura porque não vale a pena. Demora muito para conseguir marcar consulta com os especialistas, como ginecologista, cardiologista, otorrino. Já tem oito anos que eu tenho plano de saúde e sempre vejo as pessoas reclamando. Esse hospital aqui é bom, sempre tem médico. Mas outro dia, a menina veio me falar que teve que sair de casa à 5 horas para tentar marcar um consulta com o cardiologista. Prefiro ir para Belo Horizonte do que me consultar aqui. Os médicos, às vezes, nos tratam com descaso e não conseguem resolver problemas mais sérios”. Maria Geralda Teixeira, 56 anos, servente escolar.
PATRIMÔNIO
“O poder público de Mariana passou por momentos de descrédito, instabilidade e esvaziamento político. As mudanças que estão acontecendo na cidade passam pela mobilização da sociedade civil. Se você me perguntar onde é que estão as grandes novidades, o que tá acontecendo de positivo, eu vou te falar: é a sociedade que está se organizando através de alguns movimentos, tipo Mariana Viva. As novidades passam também pelas atividades que a Ufop está desenvolvendo, tanto em Mariana como em Ouro Preto. Existem atividades de extensão, que estão buscando esse diálogo com a sociedade, e aí eu acredito mais até do que o próprio programa da Prefeitura que eu desconheço, até por falta de credibilidade mesmo”. Virgínia Buarque, 44, professora de História. MARCELO sena
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Edição: Lais Queiroz, Patrícia Botaro e Paula Peçanha Arte: Jamylle Mol
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carnaval
E agora, José? A festa acabou... Escolas de Samba de Ouro Preto ficam sem verba para realizar desfile e têm seu Carnaval cancelado esse ano JEssica Clifton
Laís Queiroz A luz apagou, o povo sumiu, a noite esfriou, e o ouro-pretano ficou sem o tradicional desfile das Escolas de Samba da cidade. Além de não terem saído à Praça Tiradentes, onde aconteciam as apresentações, algumas escolas pagaram as dívidas do que foi gasto com o próprio orçamento, na esperança de que a festa acontecesse, e outras deixaram de se apresentar em escolas municipais e blocos de rua. Tudo isso por conta do nãorepasse da verba que deveria ser efetuado pela Prefeitura de Ouro Preto, no valor de R$ 297 mil, solicitada pela Liga das Escolas de Samba de Ouro Preto (Lesop) para a realização dos desfiles. De acordo com o vice-presidente da Escola de Samba Acadêmicos de São Cristóvão (ESASC), Lúcio da Silva André, o Tiço, foram gastos na produção das fantasias em torno de R$ 7 mil. “Começamos a produção em junho do ano passado”, afirmou. A ESASC possui sede própria e, segundo o pre-
sidente da escola, Éder Kennedy, o espaço também é utilizado para eventos da comunidade e alugado para particulares. “A dívida que temos ainda é possível pagar, porque temos a renda da sede da escola, mas e as outras que não têm?”, questiona. O barracão onde é feita a produção das fantasias fica na
“A gente não vai deixar o Carnaval morrer, vamos correr atrás para voltarmos ano que vem com toda força”.
Kelly Martins
casa de Tiço e conta com o trabalho voluntário dos seus familiares. A agremiação possui pouco mais de 30 anos e quem a acompanha há tempo também não está satisfeito. Maria Efigênia Lourenço Simões, 82 anos, é uma das pessoas que desfila para a ESASC desde o seu início. “Isso é uma injustiça né? arquivo / acadêmicos de são cristóvão
Acadêmicos de São Cristóvão no desfile de 2011
Lúcio da Silva André, o Tiço, recolhe as fantasias e materiais que seriam usados no Carnaval desse ano
Este ano eu estava contando para ir e não teve. Não achei bom não, todos se divertem no Carnaval, né? E a gente? Em vez de melhorar está piorando mais”, disse. A caçula dentre as escolas é a União Recreativa do Santa Cruz, fundada em 2009, e por não ter sede nem barracão próprios conta com a solidariedade dos moradores do Bairro Santa Cruz. De acordo com a representante da escola, Kelly Martins, os materiais ficam distribuídos em cinco casas e numa garagem alugada. Eunice Lelis é uma das moradoras que cede sua casa para guardar os materiais. “A gente gosta de ajudar porque queremos a união do pessoal. Não queremos deixar a escola morrer porque ela faz muita falta pra gente”, afirmou. Ainda com todos os proble-
mas, o foco das associações agora é a preparação para o Carnaval do próximo ano. “A gente não vai deixar o Carnaval morrer, vamos correr atrás para voltarmos ano que vem com toda força”, explica Kelly. Tiço re-
força. “Não podemos deixar morrer essa tradição, as escolas são deles (referindo-se aos ouro-pretanos)”. Que venha 2014 e, tomara José, o desfile das Escolas de Samba de Ouro Preto.
O riso não veio Devido ao não-repasse da verba de R$ 297 mil, solicitada pela Liga das Escolas de Samba à Prefeitura de Ouro Preto, com no mínimo 60 dias antes do Carnaval, não houve tempo hábil para a preparação das agremiações para o desfile. Segundo o secretário municipal de Turismo e Cultura, Jarbas Avelar, o problema não foi a falta de verba, e sim a liberação do orçamento por parte do Ministério da Fazenda para o novo Governo municipal. Os representan-
tes da Liga afirmam que fizeram a primeira reunião com o conselho de transição, no qual estavam presentes representantes do governo passado (ex-prefeito Ângelo Oswaldo), e do atual (prefeito José Leandro), no dia 9 de outubro de 2012, para que o Carnaval não fosse afetado devido à mudança de gestão. Ainda segundo a representante das escolas, vários outros encontros foram feitos a fim de buscar solução para o problema, mas nada foi resolvido.
Ei, você aí, me dá um dinheiro aí! Patrícia Botaro Ouro Preto recebe muitos turistas durante o Carnaval. Mas, você já parou para pensar como gira a economia da cidade no feriadão? Hotéis, pousadas, comércio local e ambulantes. Como eles conseguem aumentar sua renda durante os dias de folia? A presidente da Associação Brasileira da Indústria Hoteleira da Regional de Ouro Preto (ABIHOP), Sônia Vianna, explica que nesses últimos anos a procura de turistas por hotéis e pousadas tem baixado. Contudo, a demanda aumenta muito nesse período carnavalesco, pois é o maior feriado prolongado do ano e é necessária a contratação de funcionários temporários para reforço. Outro fator que colabora para esse aumento são as férias, época em que muitas famílias optam por visitar a cidade. Um levantamento feito nas principais distribuidoras de cerveja de Ouro Preto mostra que, no Carnaval, a venda aumenta em até 30% em relação a outras datas. Na maioria dessas distribuidoras a saída de gelo é superior a de bebidas, uma vez que os blocos e as repúblicas compram direto com os fabricantes.
O presidente da Associação Comercial e Empresarial de Ouro Preto (Aceop), Raimundo Saraiva, disse que a entidade ainda não tem uma pesquisa sobre a renda gerada pelo comércio durante esse grande evento, mas é visível que as vendas aumentam nas lojas de produtos específicos
“Nas lojas que se preparam para o Carnaval a demanda é maior, mas no comércio normal a renda não aumenta”.
Raimundo Saraiva
para o Carnaval. “Nas lojas que se preparam para a data, a demanda é maior, mas no comércio normal a renda não aumenta”, afirma o presidente. A Secretaria Municipal de Cultura e Turismo, responsável pela organização do Carnaval, cadastra os vendedores ambulantes da cidade. A presidente da Associação de Comerciantes em Eventos Temporários de Ouro Preto (Acetop), Adriana Cristina Gomes, explica que cada as-
sociado (entre barraqueiros, ambulantes, towneiros e similares) fica responsável pelo seu alvará autorizado pela Secretaria Municipal de Fazenda. A associação foi criada para garantir o direito do vendedor ambulante. O valor total das vendas por associado varia de acordo com a apresentação e com o estado do produto. “A renda de quem trabalha nessa área é boa, porque a procura é grande e alguns conseguem pagar dívidas e fazer lista durante seis meses”, ressalta a presidente Adriana. Esse ano, cada integrante da Acetop pagou o valor de R$40 para adquirir a camisa e o crachá de identificação. Essa quantia ajudou a pagar, também, a documentação para a mudança do nome da entidade, chamada anteriormente de Associação de Barraqueiros, Ambulantes e Towneiros de Ouro Preto (Abatop). De acordo com o gerente da Receita Municipal, Rafael Mendes, a Prefeitura espera, ao final do Carnaval, uma arrecadação de R$110 mil em Impostos Sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISSQN), levando em consideração o valor arrecadado no último exercício fiscal.
Folia de vendas
Paula Peçanha Mariana se beneficia da proximidade com Ouro Preto, cidade que atrai muitos turistas na época do Carnaval. Um levantamento feito pelo LAMPIÃO em uma distribuidora de bebidas na cidade mostra que a venda de cerveja aumenta 92% no período. As vendas são dividas em 260 mil litros para blocos, 20 mil para repúblicas e 180 mil para pontos de vendas e barracas. Para o presidente da Associação de Feirantes e Vendedores Ambulantes de Mariana, Vanderlei dos Santos, a entidade sofre com a vinda de vendedores de fora. Segundo ele, a associação foi feita para reprimir a vinda dessas pessoas, porque “elas não deixam dinheiro na cidade”. Já os associados, que são cadastrados, fazem com que o dinheiro gire em torno da cidade, “Compramos bebidas, balas, carne, tudo em Mariana. A renda fica aqui”, ressalta. Vanderlei ainda acrescenta: “Em cada barraquinha que montamos é necessário pelo menos umas quatro pessoas para ajudar. Contratamos gente daqui da ci-
dade pra trabalhar”, defende. “A renda de quem trabalha na área é boa, conseguimos cerca de R$ 5 mil durante essa época”, contabiliza o presidente. O gestor administrativo da Associação Comercial Industrial e Agropecuária de Mariana (Aciam), Helielcio Vieira, confirma o aumento em todos os segmentos. “Como no Carnaval aumenta a população, o acréscimo vai ser na cadeia toda. Do pão que o folião come, ao esparadrapo que ele usa no pé”, diz. “Farmácias, padarias e restaurantes são beneficiados com a vinda de pessoas para a cidade. Todos os produtos e serviços aumentam”, completa Helielcio.
Para mais informações sobre o Carnaval, acesse: www.carnavalouropreto.com www.ouropreto.mg.gov.br/ portaldoturismo www.mariana.mg.gov.br
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Edição: Ana Luiza Batista, Bruna Mattos e Patrícia Souza Arte: Núbia Cunha
ESPORTE
Entraves na partida Bairro Cabanas é prejudicado por obras inacabadas no campo de futebol; moradores não têm áreas de lazer Patricia Souza Ana Luiza Batista Sem grades, arquibancadas, vestiários e cheio de entulhos. É assim que se encontra o campo localizado no Bairro Cabanas, que
deveria proporcionar lazer para a comunidade. Em 2008, o campo municipal foi transferido do Bairro Colina para o Cabanas, mas a construção foi feita de forma improvisada, sem
estrutura adequada, ficando esquecida. No antigo campo, no Colina, foi construída uma quadra esportiva. Mesmo em condições precárias, o campo do Cabanas é utilizado por jogaLuis Fernando braulio
Com o período das chuvas, poças d’água impedem que o campo do Cabanas seja utilizado
dores de futebol e atletas. O jogador do Independente Futebol Clube, Douglas Anacleto, conta que, antes dos jogos, os atletas precisam limpar o campo do lixo acumulado no local e fazer a demarcação da área. As traves não têm rede e o gramado é ruim, o que pode ocasionar lesões musculares nos jogadores. Ele disse, ainda, que já ocorreram cenas de violência entre torcedores e jogadores durante os jogos. “Não dá para levar minha família para assistir (os jogos) porque não tem segurança”. O guarda municipal, Gilmar Rocha, que trabalha na Policlínica do Cabanas, próxima ao campo, conta que “em fase de campeonatos, os jogadores fazem uma tenda improvisada para usar como vestiário, e o pessoal do atletismo utiliza a parte interna da caixa d’água para guardar materiais esportivos”.
O carpinteiro Geraldo do Carmo, morador do bairro, reclama que o local tem poucas opções de lazer. “Tem o campo, que não está acabado há quase seis anos. Na época de chuva só tem lama. As crianças, às vezes, vão brincar lá, mas é um pouco
“Não dá para levar minha família para assistir (os jogos) porque não tem segurança’’.
Douglas Anacleto
perigoso. Quando começou a obra, a Prefeitura falou que ia ser um ginásio poliesportivo e, hoje em dia, está no relento, sem segurança”. O LAMPIÃO esteve no campo durante o dia e constatou a presença de usuários de drogas, que estavam utilizando uma das
casas próximas à pista de atletismo. Em 2011, o então prefeito Geraldo Sales de Souza, o Bambu, iniciou um processo de licitação para realizar obras no local, mas não pôde continuar porque o governo anterior havia anulado a desapropriação de uma parte do terreno, que pertencia a uma propriedade particular. A área ocupava o espaço de uma faixa do campo e da pista de atletismo. O secretário de Desportos, Helerson Freitas, afirma que a Prefeitura irá desapropriar a área e abrir uma licitação até o final do primeiro semestre, para iniciar obras no local e transformar o campo em um estádio com arquibancadas, vestiários, alojamentos e pista de atletismo para a comunidade. “Queremos criar uma estrutura completa para atender a população e os jogadores”, afirma o secretário.
Do lixo às pistas Ana luiza Batista Logo pela manhã ela já está a todo vapor, indo para seus treinamentos. Pode ser em uma academia ou à beira do asfalto, partindo de Ouro Preto a Mariana. Assim começa o dia de Lourdes Maria Fernandes, mais conhecida como Lourdinha, 54 anos, uma ex-catadora de papelão, nascida em Ouro Preto, que, em 2000 repaginou sua vida e decidiu ser maratonista. Desde então, ela já ganhou mais de 300 troféus e 600 medalhas, e foi considerada a quarta melhor do mundo na sua categoria, 50-54 anos, em uma competição na Austrália. A corrida entrou em sua vida há 13 anos, logo após ser demitida do trabalho. Como Lourdinha mesmo diz, foi “apenas com o intuito de diminuir uma angústia, um aperto no co-
ração que estava me atrapalhando e, depois da competição, tudo na minha vida voltaria ao normal”. Com o apoio do filho mais velho, ela foi para a corrida de Aniversário da Unimed, que aconteceu no campus da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop). Mesmo sem treino e expectativa de que pudesse vencer, conquistou o 3º lugar geral. Para a maratonista, a competição mais importante foi a ocorrida na Finlândia, em 2012, quando conseguiu o recorde SulAmericano na categoria 50-54 anos. Para ela, esta conquista é melhor do que ganhar na Mega-Sena. Atualmente, além de se dedicar as corridas, ela trabalha como funcionária pública e presta serviço à Ufop. Muitos troféus, medalhas e várias barreiras fo-
ram vencidas, entre elas o preconceito devido à idade, porém, isso não a preocupa. Mas a barreira que ainda é difícil de quebrar é a falta de um patrocínio que possa ajudá-la a participar das competições fora do país, pois a atleta não tem dinheiro suficiente para pagar todos os gastos. O auxílio para participar das competições vem de amigos, uma bolsa que ela ganha da Universidade, e a academia onde faz exercícios para melhorar sua resistência. Para Lourdinha, independente das barreiras, o esporte tornou-se uma válvula de escape. “A corrida mudou a minha vida totalmente, da água para o vinho. Ela me trouxe vários benefícios como me deixar menos envergonhada, além de melhorar minha saúde”, conta, orgulhosa.
bruna Mattos
Lourdinha conquistou 600 medalhas, 300 troféus e um recorde Sul-Americano em maratonas
A corrida como benefício para a vida Ana luiza Batista A prática deste esporte não requer um equipamento especial, é possível se praticar ao ar livre e ainda é uma ótima maneira de melhorar o condicionamento físico, emagrecer, prevenir doenças, melhorar o equilíbrio, entre outros be-
nefícios. O médico geriatra, Fausto Aloísio, acredita que a atividade física na maturidade é o maior benefício para a qualidade de vida. “Hoje, praticamente todas as doenças e deficiências que podemos ter na terceira idade, podem ser evitadas e preve-
nidas com a prática de atividade física”. Dessa forma, se você se inspirou no exemplo de Lourdinha, calce seu tênis e vá correr. Não esquecendo que toda atividade física deve ser feita com o acompanhamento de um médico.
Cultura
Mariana contada pela arte e pela fé Rolder Wangler Uma das coisas que sempre me fascinou na cidade primaz de Minas Gerais foi transformar a história em memória. Mariana, o berço mineiro, vem buscando manter a essência das cidades históricas. Como exemplo, destacase o Museu Arquidiocesano de Arte Sacra, que recém-completados 40 anos de vida, já ocupa a segunda posição entre os museus de arte sacra do país. Em meio à agitação do centro urbano da cidade de Mariana, ainda podem ser encontrados locais que remetem há 300 anos, a história das vilas que deram
início a Minas Gerais. De janelas e portas tão grandes que quase chegam ao tamanho das paredes, o Museu hoje se divide em nove salas que contemplam o período áureo do Ciclo do Ouro, no Século XVIII. Segundo a funcionária do Museu há sete anos, Aníveda Martins de Souza, 50 minutos seriam o suficiente para conhecê-lo, mas pelo volume e pela importância das obras guardadas ali, a visita duraria o triplo do tempo estimado. Começando pela entrada, que obrigatoriamente faz com que o visitante conheça a Igreja da Sé, um tesouro do Século XVIII fin-
cado no centro da cidade, e siga para a sala da prataria, no primeiro piso. Lá, ele encontra relíquias usadas pela Igreja em celebrações anteriores ao nascimento da quarta geração da maioria da população local. Afixada na parede, próxima a escada que dá acesso ao segundo piso, a imagem de Nossa Senhora da Conceição, a primeira trazida pelos portugueses a chegar a Mariana, é uma relíquia. Que a verdade seja dita, mesmo enfrentando os desgastes provenientes do longo tempo exposto em outros locais, a sua imponência e beleza continuam imunes. Ali-
ás, o Museu não só serve para exposição, mas também se torna um guardião de peças que possam estar comprometidas em outras igrejas. No segundo andar, existem desde quadros sem atribuições de autores, que não são raros, até uma sala dedicada a Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho. Pode-se encontrar também peças do pintor Manoel da Costa Athayde e do entalhador e escultor Francisco Brito, artistas importantes do estilo barroco. O Museu transpira história e conhecimento para os 1.650 visitantes, que é sua média mensal de visitação.
Fundado em 1962, pelo terceiro Arcebispo de Mariana, Dom Oscar de Oliveira, o Museu Arquidiocesano de Arte Sacra é uma opção de entretenimento e cultura para os turistas que visitam a cidade, além da própria população que acaba conhecendo um pouco mais da história local. Visitar o Museu é descobrir o porquê de Dom João V e sua mulher, a arquiduquesa da Áustria, Maria Ana Josefa, são os responsáveis pela cidade se chamar Mariana. É ter a possibilidade de se transportar para um período marcado pelo ouro, pela arte e pela fé.
Visitação O horário de funcionamento do Museu é de terça a sexta-feira, das 8h30 às 12h e de 13h30 às 17h. No sábado e domingo, de 8h30 às 14h. O preço da visitação é R$ 5,00 e o bilhete deve ser retirado na entrada da Igreja da Sé.
Fevereiro de 2013
Edição: Ana Carolina Meirelles
e Isadora Faria
Arte: Mariana Mendes
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PERFIL
Do teto à parede: telhas que colorem Dos pontinhos coloridos justapostos pode-se ver os traços da obra de Tunico dos Telhados
reprodução: isadora Faria
Patrícia Souza Descendo a Rua Bernardo Vasconcelos, logo ali na primeira esquina do Bairro Antônio Dias, estava ele, com os seus dreadlocks grisalhos, arrumando suas obras na parede de pedra. Arte por entre a névoa que encobria Ouro Preto. O som do jazz vindo do interior da loja envolve o ambiente das telas expostas à sinuosa rua, onde de esquina a esquina encontra-se artesanato e anjinhos barrocos. Um charme. O encanto é maior quando se olha para os quadros de Tunico de frente para a paisagem que o inspira: os telhados. Nascido em Ouro Preto, Antônio Marcos de Paula, o “Tunico”, filho de pintor e músico amador, considera-se privilegiado por cultivar suas raízes na sua cidade natal, que é inspiração de sua arte. Na infância, admirava obras do artista plástico Alberto da Veiga Guignard e pintava com outros pintores, que saíam de seus ateliês para levar a arte para as ruas. O local onde atualmente faz suas exposições já foi uma oficina do artista Estévão, aluno de Guignard e alguém que observava enquanto criança. Começou a pintar profissionalmente aos 20 anos. Dos anos
1966 a 1968, participou de oficinas e exposições nos festivais de Inverno de Ouro Preto e nos cursos de arte da Fundação de Arte de Ouro Preto (Faop). Envolvido com o movimento hippie dos anos 60, arrumou as malas e foi para São Paulo. Lá conheceu e conviveu com diversos artistas, o que para ele foi um importante aprendizado. Vinte anos depois, retornou às suas raízes, Ouro Preto. A cidade, então já eleita Patrimônio Cultural da Humanidade, tornou-se ponto de referência para todos que trabalham com arte. Neste período, Tunico revoluciona seu trabalho ao utilizar a técnica do pontilhismo, criada pelo impressionista Georges Seurat, em meados do Século XIX, numa abordagem moderna da arte contemporânea. Ele sempre retratou a cidade de Ouro Preto de uma forma tradicional e autoral, até mesmo quando residiu em São Paulo. Mostrou sua arte nas ruas, deu aulas de pintura e participou de muitas exposições e feiras renomadas em São Paulo, além de expor no Chile e no Museu Casa dos Contos, em Ouro Preto. Ele já vendeu quadros para o mundo inteiro. Por que telhados? Ao passear
por livrarias à procura de livros de poesias, Tunico encontra o “Romanceiro da Inconfidência”, de Cecília Meirelles, cuja capa possui uma foto de telhados de sua cidade natal, o que fez tocar a sensibilidade do artista. E, assim, inspirado, colocou em tela seu olhar através da imagem que vê do topo das ladeiras ouropretanas, os telhados coloridos além
da névoa e do céu azul, transformados em pintura... Há 30 anos, Tunico pinta em telhas, tentando retratar o que sente a respeito da cidade, de toda poesia de Tomás Antônio Gonzaga, da beleza das pinturas e esculturas de artistas locais, construindo sua inspiração. “É um prazer viver da arte”, declara ele, que aos 60 anos se diz
satisfeito com a vida e com o reconhecimento de seu trabalho. Quem coleciona as obras de Tunico sente a essência de seu pensamento, pois são estes micropontos que revelam um trabalho pessoal e intimista, e deixam descobertos seu sentimento e seu olhar que transpassam pelos telhados da belíssima cidade de Ouro Preto! Isadora Faria
O artista Tunico finaliza uma obra em seu ateliê, que serve também como local de exposição de seus quadros
A arte de bordar os altos e baixos da vida Tamara martins
Conceição e sua obra Menina do Cabelo de Flores: narrativa pessoal
Filipe Barboza Nunca imaginei que uma simples agulha, acompanhada de carretéis de linha, serviria de instrumento para alguém contar histórias. Ainda mais quando essas histórias, desenhadas em panos e retalhos, são parte da realidade de uma pessoa que aprendeu a se redescobrir através da arte. Conceição Aparecida Romualdo, 45 anos, constrói as narrativas da Menina do Cabelo de Flores, personagem que representa suas próprias lembranças. Carregando consigo uma bolsa, ela leva para vários lugares tecidos e algumas ferramentas para bordar. Conceição coloca as mãos à obra sempre que possível, seja para passar o tempo em um banco de praça ou para esperar o ônibus que a leva de volta para sua casa no distrito de Rodrigo Silva, em Ouro Preto. Ao aproximar o olhar aos desenhos de Conceição é possível identificar na protagonista
das suas narrativas uma criança sapeca e brincalhona do interior, uma adolescente autêntica e questionadora e uma mãe que lida com a depressão após a perda de um filho. Natureza, fé, amor e família são características marcantes dentro de cada bordado. “Aqui eu me desenhei grande diante das montanhas, pois quando estou perto delas me sinto gigante. Nelas encontro o meu habitat natural”, conta, detalhando o sentido da sua mais recente obra que recebe alguns pontos e retoques durante a entrevista. Mas como a arte, no caso dos bordados de Conceição, imita a vida (ou o seria contrário?), nem tudo são flores para a menina desenhada com o cabelo cheio delas. “Eu já me fiz na escola, nadando, vestida de noiva, grávida, com a minha família, mas já me desenhei em momentos difíceis também, como na morte do meu filho... Eu represento várias fases da minha vida, as boas e
as ruins”, explica. Parece que, para Conceição, o bordado vai além da expressão artística. “Quando a escuridão começa a vir, eu vou para o bordado. A partir daí as coisas clareiam. Eu tenho o bordado e Deus, e com ele eu já consegui sair do fundo do poço e me recuperar várias vezes”. E é assim que funciona: cada pedaço de tecido, a memória de um determinado tempo vivido; cada contorno no desenho, uma significação daquele período, uma tentativa de interpretálo, uma busca pela identidade que ficou esquecida em algum momento e por alguma razão. “O meu bordado é uma forma de desabafo. Tem sentimento que você não consegue colocar em palavras. Às vezes você quer falar, mas não vem. Daí, pelos bordados, eu consigo expressar isso. Sei que o desenho está saindo de dentro de mim”, diz Conceição, a Menina do Cabelo de Flores.
Fevereiro de 2013
Edição: Isadora Faria e Rafa Buscacio Arte: Rafa Buscacio
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Diário de Bordo
Da lembrança e do esquecimento
Ana Carolina Meirelles
19 de janeiro - O destino desconhecido desassossega o olhar solitário do viajante Laura Ralola
Sente que sua viagem não terá propriamente um retorno, sua exploração ficará sempre inconclusa. Sempre à beira do vazio, a memória é o absoluto das imagens foscas, nítidas e enganosas. O perfume suave que liberta, o passo distraído que constrói o prosaico. A lembrança é um parto contínuo, é o íntimo do esquecimento. A reconstrução do que não existe mais. As raízes já nas profundezas das impressões, e a verdade então na superfície do real. Memória e história que nascem e morrem sem se conhecerem. Mariana, 19 de janeiro de 2013. O destino desconhecido desassossega o olhar solitário do viajante. A paisagem colonial contrasta a luz cinzenta de um sábado que anuncia a chegada de uma forte chuva de verão. São 14h20 quando estaciona a espreita, o ônibus que seguiria em direção à Vargem. Sobem então colchão, vassoura, pessoas, bebê, malas e uma bicicleta. Ali todos se conhecem. O motorista é o Senhor João, um homem simpático que recolhe cordialmente os R$10 da passagem. “Sr João, você é muito mercenário”, e ele dá um sorriso tímido para a menina. O Samuel do banco de trás diz que são cerca de 2h30 até o lugar. Obrigada,
Samuel. Um susto, 2h30, em 35 Km! Segue viagem. Sobressalta o verde tropical e a cor de terra úmida na estrada estreita que atravessa a Serra do Itacolomy. E o que há de mais bonito é o movimento sorrateiro do olhar, que se vê envolto de uma imensidão de Minas Gerais a pulsar bem debaixo das curvaturas da estrada... A mata vai diminuindo e os cam- Dona Maria Antônia, o pensamento longevo que a memória não alcança pos vão tomando conta do lugar. longe uma da outra. Não haveria ge, que chegam a nossa casa, às A Capela da Vargem é logo espaço público? Mas existia uma vezes, sem pedir licença, chegaali naquelas colinas. Bem próxiescola grande com cerca de 220 mos na casa do Fábio e da Alesmo, a Fazenda da Serra do Itacrianças... Onde é que esse povo sandra com a parafernália toda, colomy, onde nasceu o inconfise esconde? No entanto, era só assustando as crianças com as dente Cláudio Manoel da Costa. até ali que se tinha chegado. lentes objetivas gigantes, que por Se a Capela era ali, então aqueAs pessoas já desciam do ôniora, apenas capturavam as galilas terras eram o desconhecibus enquanto o não lugar aparenhas carijós do quintal. do buscado. Se o arraial não cia sempre mais visível à mediÂngela Maria Marquês e era ali, então ele simplesmenda que a estrada ia. Araújo, professora interdisciplite não estaria em outro lugar. A venda D’ Dorinha, finalnar da Escola Municipal da SerDesassossego. Descoberta imimente. Parada. O acampamento ra do Carmo, a terceira pessoa nente de que o subdistrito de já ficou no passado. O que exisque mais gostaria de saber soVargem estava dentro das prote, a partir dali, é a hospitalidade bre a investigação da “hipótepriedades privadas que ficavam mineira. Como parentes de lonse dos remanescentes quilombo-
las” naquele lugar; mulher sagaz e de risada sincera. O estrangeiro aprendera a falar a língua do imperador, ou o imperador a entender a língua do estrangeiro. Antes de entrar em casa, o chinelo sempre na porta. Mas a visita não precisa, “tira não, menina”. De qualquer maneira, andar descalço era melhor. Da prosa no final da tarde, o lugar ia aparecendo. Ali era Pombal, pra cima era Serra do Carmo, antigamente chamada de Serra dos Pretos, que bifurca com a Serra Tiodório, a antiga Serra dos Brancos. Na realidade, Vargem do Itacolomy fica perto da Capela. Mas antes tem o Engenho. “É como se fossem, bairros”, diz a Ângela. E foi assim que tomou forma o mapa da Vargem, que a partir de agora será Serra do Carmo. Pra depois da Serra tem o Arraial de Bacalhau e do outro lado dela, Santo Antônio do Salto. Das tradições religiosas ainda comemoram a Festa de Santo Antônio, do Rosário e a de São Vicente. E a memória, Ângela? O que este povo conta sobre sua origem? Aqui já foi quilombo? Ângela ficou instigada e passamos a noite, na venda, formulando hipóteses que explicassem o porquê de tantas evidências e tão pouca investigação. Laura Ralola
20 de janeiro - O lodo de um verde incrível floreia todo o chão A Capela de Nossa Senhora da Conceição, de perto, é mais poética. Os portões enferrujados trancam a divina recordação da pia batismal do Século XVIII. Nela, foi batizado Cláudio Manoel da Costa, em 29 de junho de 1729, dois anos antes da construção da igrejinha. Desta história, todo o povo dali se lembra. Os registros ainda estão na capela... O culto chega ao final e o pessoal vai indo embora,
mas no adro da Capela a prosa segue. Levando a gente pelo olhar curioso, e o olhar do outro que leva a gente pra dentro da gente. Aniversário de cinco anos da Isabela, filha da Ângela e do José Geraldo. “Fica todo mundo na frente da Igreja”. Essa foto é para posterioridade. A lente grande angular registra um momento bonito, o viajante solitário não era tão solitário assim.
Ana Carolina Meirelles
"Há um passado no meu presente, um sol bem quente lá no meu quintal..." (Milton Nascimento)
21 de janeiro - A baleia é mais segura que um grande navio
A simplicidade das casas de pau-a-pique nas terras batidas de Serra do Carmo
Serra do Carmo, 21 de janeiro de 2013. O fim da sociedade memória. A certeza de que a história precisa ser registrada. Passamos de casa em casa, perguntando a origem da família das pessoas. Você é daqui? Seus pais são daqui? Seus avós são daqui? Todas as respostas foram sim. Mas, quando? Como? Alguma história pra contar? “Eu não alembro mais”, “Meu pai picava lenha para fazer carvão”, “Vou fazer um café”, “Eles foram nascidos todos aqui”, “Sempre foram daqui”... “Trabalhavam na roça”. O que define o povo da Vargem? “O povo aqui é muito acolhedor”. Maria Pedra do Carmo e Maria Inês do Carmo ainda fazem a trezena de Santo Antônio. Na casa delas, bem no final do vilarejo da Serra do Carmo, elas cantam em um português, com resquícios do latim, uma reza que dura aproximadamente 40 minutos. Mas apenas dois minutos foram suficientes para encher os olhos d’água. Que coisa bonita! A grande angular focava os olhos de Dona Maria Pedra, uma senhora com um olhar lacrimoso, de uma simplicidade que faz
arder o coração. Não queríamos sair dali. Já tínhamos abandonado os papéis, as perguntas. Sentávamos na cozinha das casas em que éramos recebidas como visitas rotineiras. Às vezes, o silêncio era a melhor linguagem, ele fazia mais sentido. O olhar corria pelos fogões de lenha, pela terra batida, pelas crianças que nos seguiam de soslaio sempre à espera de serem fotografadas. A próxima visita é na casa de Dona Maria Antônia, a benzedeira, e da sua irmã, Maria Efigênia. Sentamos na cozinha, final de tarde, segunda-feira. O tempo inconsumível, sempre o melhor alimento. Fizemos as benzas, a Benza do Sol que cura dor de cabeça e Benza da Brasa que é contra mau olhado. O ritual é simples, um copo de água e um copo com as brasas. Se a água ferver no sol as dores cessam, se a brasa emergir no copo, o mau olhado é jogado no vento. Não se pode chegar perto da fumaça, tem que a deixar ir pela janela... Todos os caminhos nos levaram à casa do falecido Orestes de Souza Maia, o homem mais letrado de quem se tem
notícia ter morado no Pombal. Dona Conceição Orestes, a senhora de 95 anos abre-nos as portas de sua casa. Vai ao espelho e penteia, como uma moça de 20 anos, os seus cabelos brancos. Sensibilidade e simpatia que impressionam do primeiro ao último olhar. A saudade de Senhor Orestes é latente, ela abre a canastra com os seus livros de prosa e poesia; versos perdidos... “A Vargem foi dividida entre os herdeiros, assim formando muitas fazendas; quem tinha mais dinheiro comprava dos que tinham pouca renda". Mas, como as pessoas de pouca renda tinham terras? A memória não alcança. Versos históricos... “Pombal cresceu pela união de seu povo, construindo uma simples capela, agora com o projeto Brasil novo, ganhou belo prédio para escola”. E assim se esvai a viagem por entre as memórias de canastra do Senhor Orestes e pela vontade de abraçar forte a Dona Conceição. “Por que é triste o olhar do verdadeiro viajante? Como ninguém, ele sabe que ‘o mundo começou sem ele e acabará sem ele’”. (Lévi Strauss)