INSTITUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS APLICADAS COMUNICAÇÃO SOCIAL – PUBLICIDADE E PROPAGANDA
ATIVISMO NA INTERNET: o vegetarianismo e a comunicação ideológica
Milena Pacheco
Limeira - SP 2009
MILENA PACHECO
ATIVISMO NA INTERNET: o vegetarianismo e a comunicação ideológica
Monografia apresentada como exigência parcial para obtenção do título de bacharel em Comunicação Social com Habilitação em Publicidade e Propaganda pelo Instituto Superior de Ciências Aplicadas, sob orientação da Prof. Dr.ª Adriana Aparecida Pessatte Azzolino e do Prof. Ms. Victor Kraide Corte Real.
LIMEIRA – SP 2009
Milena Pacheco
ATIVISMO NA INTERNET: o vegetarianismo e a comunicação ideológica
Banca Examinadora
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Dedico esse trabalho a todos aqueles que lutam pela ĂŠtica no tratamento da causa animal e buscam, com isso, fazer das pessoas e do planeta que habitamos um lugar melhor.
AGRADECIMENTOS
Nesse longo último ano de faculdade, pesquisas, trabalhos e, finalmente, monografia, muitas pessoas apareceram em meu caminho para ajudar, guiar e apoiar meus passos. Recebi incentivos, empurrões, puxões de orelha... Conversei, expliquei, ri, sorri, briguei e tive medo, mas não tive tempo para decepções ou dúvidas, pois a todo tempo me senti realizada ao elaborar esse estudo. Eis o resultado: o trabalho de conclusão do curso está pronto. E a quem eu devo agradecer, não há dúvidas... Agradeço a todas as pessoas maravilhosas que surgiram como surpresas boas, ou que sempre estiveram presentes, seja ao meu lado ou em pensamento. Pai e Mãe, que ouviram minhas idéias, reclamações e agüentaram meu stress com a lentidão do computador; irmã, pela prestatividade: Juliana Gianini, que me ajudou com algumas entrevistas e mesmo não sendo vegetariana participou de panfletagem ao meu lado; Fábio Chaves, Leandro Ferro, Alexsandro Fernandes e Daniel Coelho, que me ajudaram com informações e realizam o ativismo na internet; Ricardo Laste e Luis Gustavo Lotério pela ajuda e revisão textual; Marcello Martins, Rafael Torralvo, Bruna Araújo, agência Altamente e Ricardo Laste pelo apoio, incentivo, amizade e motivação; Ariely, Dano e Dedé pelo apoio, materiais e conversas; Cibele, Regina, Isadora, Daniela, Ariely, Thiago, Dano, Daves e Juliana pelas entrevistas; Ricardo Dell Mondo pelos livros emprestados; Bruno Marques pela ajuda com os vídeos; e claro, aos professores Adriana Pessatte, que se envolveu e buscou diversas informações sobre o assunto, e Victor Corte Real, que aturou meus e-mails e tweets desesperados. Agradeço aos demais professores e também aos colegas de classe, que sempre disponibilizaram informações, ajuda e amizade, e que agora estão a se formar junto comigo. Pra vocês, o mais sincero abraço.
"Enquanto o homem continuar a ser destruidor impiedoso dos seres animados dos planos inferiores, não conhecerá a saúde nem a paz. Enquanto os homens massacrarem os animais, eles se matarão uns aos outros. Aquele que semeia a morte e o sofrimento não pode colher a alegria e o amor." Pythagoras
RESUMO
Avanços tecnológicos e meios de comunicação cada vez mais velozes e bem distribuídos já fazem parte de nossa realidade, levando informações de todos os tipos, vindo das mais variadas fontes, a todos os lugares em instantes.A internet se torna uma grande aliada na formação, na ascensão e na luta das ideologias dominadas, que não possuem espaço nas mídias de massa, aumentando seu poder de divulgação e a união de grupos de pessoas interligadas pelos mesmos valores.É possível observar que os vegetarianos e veganos utilizam a internet como fonte de conhecimento, sobretudo de produtos. Tais ações condizem com sua ideologia livre de crueldade com os animais, formando, assim, uma nova sociedade de consumo através da transmissão de informações e prática do boicote.A expansão, o ativismo online e os métodos de comunicação dessa ideologia são os temas abordados neste estudo, que visa demonstrar a importância da inteligência coletiva na internet para o alcance de objetivos. PALAVRAS-CHAVE: Ativismo; Ideologia; Consumo; Boicote; Comunicação; Vegetarianismo;Veganismo
ABSTRACT
Technological advances and communication methods ever faster and well distributed are already part of our reality, sending all kinds of information, from the most varied sources, to any place instantly.The Internet becomes a great ally in the formation, the rise and struggle of the dominated ideologies, which have no space on mass media, improving its power of divulgation and the join of groups of people linked by the same values.It’s noticeable that vegetarians and vegans use the Internet as a source of knowledge, especially about products. Such actions match their ideology free of cruelty to animals, forming a new consumer society through the transmission of information and the practice of boycotting. The expansion, online activism and methods of communication of this ideology are the topics addressed in this work, which aims to demonstrate the importance of collective intelligence on the Internet to achieve goals.
PALAVRAS-CHAVE: Activism; Ideology; Consume; Boycotting; Comunication; Vegetarianism; Veganism.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 – Você sabe quanto custa 1kg de carne? .................................................................... 33 Figura 2- Meatrix ...................................................................................................................... 41 Figura 3 - Eles querem que você coma animais ....................................................................... 42 Figura 4 - V............................................................................................................................... 45 Figura 5 - Vai se alimentar do que?.......................................................................................... 46 Figura 6 - Você pode mudar o mundo ...................................................................................... 46 Figura 7 - Comece uma revolução em você. ............................................................................ 47 Figura 8 - Ronald Mcdonald..................................................................................................... 47 Figura 9 - De onde vem? .......................................................................................................... 48 Figura 10 - Adora bacon? ......................................................................................................... 49 Figura 11 - Mulher Leiteira ...................................................................................................... 49 Figura 12 - Cachorro vaca ........................................................................................................ 50 Figura 13 - Cachorro proteína .................................................................................................. 51
GRÁFICOS Gráfico 1 - visitas de janeiro a outubro .................................................................................... 54 Gráfico 2 - visitas mensais........................................................................................................ 54 Gráfico 3 - cidades que visitaram o Vista-se ............................................................................ 55 Gráfico 4 – Consumo ................................................................................................................ 58 Gráfico 5 - Testes em Animais ................................................................................................. 58 Gráfico 6 -Sofrimento Animal.................................................................................................. 59
TABELAS Tabela 1 - Quantidade de consultas em sites de pesquisa ........................................................ 18 Tabela 2 - Rendimentos por hectare de diferentes culturas ...................................................... 35 Tabela 3 - Comparação entre vegetarianos e onívoros sobre o consumo de proteínas, gorduras, carboidratos, colesterol e fibras ................................................................................................ 38
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................... 12 2 INTERNET .................................................................................................. 13 2.1 A HISTÓRIA DA INTERNET............................................................................................... 13 2.2 A INTERNET, A LIBERDADE DE COMUNICAÇÃO E A DIFUSÃO DA INFORMAÇÃO ................ 14 2.3. INTERNET E INTERATIVIDADE: A WEB 2.0........................................................................ 16
3 IDEOLOGIA ............................................................................................... 21 3.1 DEFINIÇÃO ....................................................................................................................... 21 3.2 IDEOLOGIA POSTA EM PRÁTICA: O ATIVISMO ................................................................... 22
4 PROPAGANDA .......................................................................................... 24 4 PROPAGANDA .......................................................................................... 24 4.1 O QUE É PROPAGANDA? .................................................................................................. 24 4.2 A PROPAGANDA IDEOLÓGICA .......................................................................................... 25 4.2.1 O surgimento da Propaganda Ideológica ................................................................. 25 4.2.2 A influência sobre as massas ................................................................................... 26 4.2.3 O desenvolvimento da propaganda ideológica ........................................................ 27 4.3 A DIFUSÃO IDEOLÓGICA E OS MEIOS DE COMUNICAÇÃO .................................................. 28
5 VEGETARIANISMO ................................................................................. 30 5.1 A IDEOLOGIA VEGETARIANA E SEUS VALORES ................................................................ 30 5.1.1 Pelos Animais .......................................................................................................... 31 5.1.2 Pelo Meio Ambiente ................................................................................................ 31 5.1.3 Pelas Pessoas ........................................................................................................... 34 5.1.4 Pela Saúde................................................................................................................ 37 5.1.6 Pela Religião ............................................................................................................ 39
6 APLICAÇÃO .............................................................................................. 41 6.1 A IDEOLOGIA VEGETARIANA ........................................................................................... 41 6.2 A INTERNET COMO PRINCIPAL FATOR DE DIFUSÃO DA IDEOLOGIA DO VEGETARIANISMO . 44 6.2.1 A ambientação da rede ............................................................................................ 44 6.2.2 O contexto ideológico das imagens ......................................................................... 45 6.2.3 Sites ......................................................................................................................... 51 6.3 ANÁLISE DE PESQUISAS.................................................................................................... 53 6.4 O VEGETARIANISMO E A SOCIEDADE DE CONSUMO: ATIVISMO VIRTUAL E REAL .............. 56 6.5 OUTROS TIPOS DE COMUNICAÇÃO E SUA VIABILIZAÇÃO ATRAVÉS DA REDE..................... 60 6.6 A MANIFESTAÇÃO CULTURAL DENTRO DA IDEOLOGIA VEGETARIANA.............................. 62
7 CONCLUSテグ ............................................................................................. 64 BIBLIOGRAFIA ............................................................................................ 66
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1 INTRODUÇÃO Muitos são os meios de comunicação e sua evolução diária nos leva a uma realidade antes conhecida e imaginada apenas através de filmes de ficção. Por estar cada vez mais presente e de forma menos dispendiosa em nossas vidas, a rede mundial de computadores dá acesso a um número cada vez maior de pessoas de todas as idades e classes sociais, possibilitando a difusão de novas idéias e produtos de forma rápida, simples e barata, ou até mesmo sem custo algum. Através da internet diferentes culturas ou modos de viver são disseminados e atingem determinados públicos de forma ideológica. São informações livres ou com certo apelo emocional e/ou persuasivo. Desta forma importa, neste estudo, saber verificar o constante crescimento de adeptos ao vegetarianismo como estilo de vida, que conheceram, buscam ou buscaram informações através da internet. O ativismo também aparece como fator importante dentro da ideologia vegetariana, sendo que seu início acontece online, quase em sua totalidade, agrupando ativistas através de redes sociais, onde tais grupos também se tornam responsáveis por levar o ativismo para as ruas. O tema foi escolhido pela sua atualidade e concretismo, onde a vivência demonstrou que ao ampliar a visão e conhecer todas as faces de um fato a mudança de pensamento ideológico pode ocorrer, pois muitas pessoas continuam a fazer parte de uma antiga ideologia por falta de conhecimento e do despertar de novas ideias. O objetivo é apontar os métodos de persuasão utilizados em uma comunicação ideológica e como ela é realizada dentro do vegetarianismo na internet, demonstrando através de entrevistas, artes e fatos, sua eficácia.
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2 INTERNET
2.1 A História da Internet Criada por militares estadunidenses na década de 1960, durante a Guerra Fria, a internet surgiu com o nome de Arpanet, pois foi desenvolvida pela Advanced Research Projects Agency (ARPA), e sua intenção era descentralizar as informações contidas nos computadores das forças armadas do país de modo que as mesmas estivessem salvas em caso de ataque a uma determinada base, pois estariam hospedadas em mais de um local e através de um sistema online de transmissão por comutação de pacotes, sistema onde as informações são dividas em pequenos pacotes de dados identificados que permitiriam a remontagem da mensagem original. O projeto Arpanet foi implementado por uma firma de engenharia chamada BBN, e teve em 1972 sua primeira demonstração bem sucedida, em uma conferência internacional em Washington. Em 1973 surgiram as primeiras conexões rede a rede, sendo necessária a padronização dos protocolos de comunicação. Para isso foi desenvolvido e utilizado o protocolo TCP que posteriormente foi dividido em duas partes, acrescentando o protocolo intra-rede (IP) ao modelo que seria utilizado até hoje, o TCP/IP. (CASTELLS, 2003) Em 1983 o Departamento de Defesa dos EUA, preocupado com falhas na segurança, resolveu criar uma rede independente para usos militares específicos, a MILNET, tendo a Arpanet se transformado em ARPA-INTERNET, totalmente voltada para pesquisa e desenvolvimento dessa nova forma de comunicação, sendo liberada nas universidades para pesquisadores, alunos e amigos de alunos, permitindo que seu desenvolvimento se desse de maneira mais rápida. No início da década de 1990 muitos provedores montaram suas próprias redes, e em 1995 iniciaram-se as operações privadas da internet, deixando de ser armazenada e controlada pelo governo. Apesar de tantas evoluções, a internet só pode ganhar âmbito mundial após a introdução da World Wide Web (www), tendo sido criada por Bernes-Lee, desenvolvedor do software Enquire que permitia obter e acrescentar informação a qualquer computador ligado à internet através dos sistemas de HTTP, MTML e URL. O primeiro software para navegação foi lançado em 1991, mas sua real difusão se deu pela Microsoft, que incluiu o Internet
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Explorer em sua versão do Windows 95, ano em que a internet realmente nasce para o mundo. (CASTELLS, 2003)
2.2 A Internet, a liberdade de comunicação e a difusão da informação Como vimos, a internet teve boa parte de seu desenvolvimento fundamentado em universidades dos Estados Unidos da América, que possuíam alguns nós da rede liberados para estudos e contavam com a ajuda de professores, pesquisadores, alunos e demais idealizadores de um projeto de comunicação através da computação. Dentre tais estudiosos havia um núcleo de jovens ligados à contracultura que buscavam aumentar e facilitar a troca de informações por diferentes camadas da sociedade através da internet, de modo a descentralizar seu uso e passar a utilizá-la para os mais diversos fins culturais e sociológicos. (CASTELLS, 2003) Não se pode dizer que a internet teve seu crescimento e difusão baseado apenas em ideologias e pesquisas. Sua ampliação só foi possível, também, graças à participação empresarial, que buscava gerar lucros através do novo meio. Através da liberação e manipulação dos chamados “softwares livres”, onde qualquer cidadão pode ter acesso ao código fonte dos programas liberados e fazer modificações de acordo com o que acha necessário, sendo tal modificação incorporada e novamente liberada aos demais usuários, o conhecimento técnico se espalhou e os avanços na área foram cada vez maiores e mais rápidos, tendo sido criados softwares para comercialização através desta estrutura. A participação dos hackers foi fundamental para a base da disseminação da internet através do avanço e liberação da tecnologia, da mesma maneira que as comunidades virtuais participaram da inclusão da sociedade na rede. Segundo Castells, 2003, “os hackers não são o que a mídia diz que são. Não são uns irresponsáveis viciados em computador empenhados em quebrar códigos, penetrar em sistemas ilegalmente, ou criar o caos no tráfego de computadores.” (p. 38), e ainda segundo Raymond, Há uma comunidade, uma cultura compartilhada de peritos em programação e bruxos da interconexão cuja história remonta, através de décadas, aos primeiros minicomputadores de tempo compartilhado e aos primeiros experimentos da Arpanet (apud CASTELLS, 1999, p. 231)
Outro fator fundamental para o funcionamento da internet como a conhecemos hoje foi a formação das comunidades virtuais, que acabaram montando a cultura da rede através de seu
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comportamento virtual, desenvolvendo e utilizando ferramentas para o envio de mensagem, salas de bate papo, jogos, sistemas de conferência, etc. Através desse conjunto de fatores da formação da rede juntamente com o apoio de empresas fabricantes de hardware, nos EUA, que passaram vender computadores pessoais mais baratos e com sistema para conexão em rede incluso, assim como a criação e difusão de softwares para usuários comuns, como o Windows e o Linux, a internet passou a estar cada vez mais presente na vida das pessoas como ferramenta de comunicação, difundindo a liberdade de expressão e possibilitando o acesso aos mais variados tipos de informação. (CASTELLS, 2003) No Brasil, um projeto para inclusão digital começa a ser implantado em 2003, durante o primeiro mandato do presidente Lula, e leva o nome de Projeto Cidadão Conectado Computador para Todos. O projeto visa à oferta de computadores e acesso a internet com preços subsidiados pelo governo, assim como a isenção de impostos PIS/COFINS, sendo que esses computadores devem ter uma configuração mínima e utilizar obrigatoriamente softwares livres. Com uma linha de financiamento específica, computadores de até R$ 1.200,00 que obedeçam a essa configuração mínima podem ser parcelados em prestações de R$ 50,00. Outros projetos para o mesmo fim são implantados ao longo dos anos, como o Kit Telecentro, que fornece toda a infraestrutura necessária para a montagem de um espaço aberto à população para uso da informática e da internet, tendo recebido um investimento de R$ 134 milhões do governo federal com o objetivo de atingir 5,5 mil municípios até junho de 2008; Programa Estação Digital, que ocorre desde 2004 buscando aproximar a população da informática, atualmente contando com 243 unidades em funcionamento pelo Brasil. Cerca de 56% das unidades estão localizadas na região Nordeste, 16% no Centro-Oeste, 15% no sudeste, 11% no norte e 2% no sul, com a capacidade para atender de 500 a 1.000 pessoas por mês, e integradas a arranjos produtivos locais; Centros Vocacionais Tecnológicos, que oferecem ensino profissionalizante na área de conhecimento científico tecnológico; Territórios Digitais, que visa levar a internet para assentamentos, escolas agrícolas, comunidades tradicionais, sindicatos e Casas Familiares Rurais, ou seja, locais de difícil acesso; entre outros. O que nos revela a reivindicação do “acesso para todos”? Mostra que a participação nesse espaço que liga qualquer ser humano a qualquer outro, que permite a comunicação das comunidades entre si e consigo mesmas, que suprime os monopólios da difusão e permite que cada um emita para quem estiver envolvido ou interessado, essa reivindicação nos mostra, a meu ver, que a participação nesse espaço assinala um direito, e que sua
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construção se parece com uma espécie de imperativo moral. (LÉVY, 2003, p.119)
Portanto, a respeito do que diz Pierre Levy, a inclusão digital no Brasil serve para igualar e/ou totalizar uma massa, antes alienada, à cibercultura, participando efetivamente da contenção e distribuição de informações através da interatividade das comunidades virtuais, deixando a internet de ser vista como um meio de comunicação elitista.
2.3. Internet e interatividade: a web 2.0 O início da popularização da internet se caracterizou pelo invento e utilização da World Wide Web, a qual vamos chamar simplesmente de Web. Durante a década de 1990, a internet era vista e utilizada como meio de propagação pessoal, sendo na criação de páginas próprias, utilização de chats, buscas, novidades, etc. Era formada por páginas formatadas em HTML de maneira estática, algumas possuindo até mesmo uma maneira de suspender o download de imagens para que sua navegação fosse mais ágil. Nesta época surgiram os primeiros sites de catalogação dos demais web sites existentes, servindo e sendo utilizados como sites de busca de conteúdos na internet, sendo que nos EUA o primeiro web site de buscas foi o Yahoo, em 1994, e no Brasil o primeiro site desse tipo a conquistar mercado foi o Cadê, lançado em setembro de 1995. Entre 1996 e 1998 surgiram inúmeros provedores de acesso à internet, inclusive gratuitos, fazendo com que o potencial de usuários da internet aumentasse, impulsionando bancos e grandes cadeias de comércio a passar a trabalhar com este mercado online. (SAMPAIO, 2007) O e-commerce tomou forças e passou a ser utilizado, assim como o conceito de um novo modelo de economia surgiu, onde empresas instantâneas foram criadas e passaram a ser objeto de uma febre mundial, gerando grande alarde no mercado e comprando ou se fundindo com empresas da “velha economia”. Após todo esse período de descobertas e ajustes nos moldes da internet, houve um tempo de estabilização e amadurecimento da rede, sem grandes adventos ou avanços tecnológicos, até a chegada da Web 2.0. “Na verdade, a Web 2.0 não representa nenhuma mudança tecnológica significativa, mas uma mudança de foco.” (SAMPAIO, 2007, p. 8). Os sites passaram a utilizar o novo modelo partindo do princípio da troca de conteúdos frequentemente, mudando aquela antiga visão estática das páginas e passando a oferecer mais
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informações aos navegantes. Outra mudança foi a criação das redes de relacionamento, seja para fins sociais ou para troca de informações, assim como o surgimento e expansão de blogs, agendas, notícias e mapas. (SAMPAIO, 2007) Já estão disponíveis vários e diversos serviços ou aplicativos, gratuitamente na internet (editores de texto, planilhas, programas de apresentação e colaboração, etc.), desenvolvidos com novas tecnologias de programação como o AJAX (mistura de XML com JavaScript), que possibilitam ao usuário navegar na internet como se fosse seu aplicativo preferido no desktop, sem o incômodo do refresh de tela, ou seja, a cada ação uma demorada atualização de página. No entanto, para ser considerado Web 2.0, não existe a necessidade de o site ter sido desenvolvido com todas essas novas tecnologias. (VALENTE E MATTAR, 2007, p. 36)
A utilização e o armazenamento de arquivos de qualquer extensão ou origem já podem ser feitos diretamente na rede, sem a necessidade de ocupar espaços na memória de seu computador e sem se preocupar com backups, já que os sistemas dos grandes servidores da rede o fazem por você. O compartilhamento de arquivos e a troca de informações se tornam mais rápidos, visto que as antigas formas para transmissão de dados como a utilização de pen drives, CDs, DVDs ou downloads deixa de ser necessária e a visualização do conteúdo do arquivo pode ser feita online, sem a necessidade de baixá-lo e armazená-lo. As mídias, no geral, passam a fazer parte da internet. Jornais, revistas, rádios, televisão, etc., tem seu conteúdo disponibilizado na rede e, a maioria, com livre acesso, permitindo que os usuários vejam apenas aquilo que desejam e no horário em que desejam. Transmissões ao vivo de rádio e televisão se tornam possíveis através do avanço da tecnologia de transmissão de dados, sendo possível, inclusive, a criação de canais pessoais de rádio ou TV online. Uma pesquisa de outubro de 2008 realizada pela ComScore, uma das líderes mundiais em pesquisas estatísticas do mundo digital, apontou o Youtube, pela primeira vez, em segundo lugar entre os sistemas de busca mundiais, superando o então vice Yahoo e perdendo apenas para o Google, maior site de pesquisas do mundo. Os dados demonstram a real expansão desse tipo de mídia, videográfica, na rede e percebemos como sua funcionalidade e rapidez tem auxiliado na visualização e no acréscimo de conteúdo, tendendo a se tornar a preferência dos usuários ativos da internet, seja para diversão ou no aprendizado através de videoaulas, documentários, tutoriais, etc. A tabela abaixo demonstra, com dados atualizados em março de 2009, a quantidade de acessos aos sites de pesquisa mais famosos mundialmente:
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Tabela 1 - Quantidade de consultas em sites de pesquisa
comScore Relatório Geral de Consulta de Pesquisa Março 2009 vs. Fevereiro 2009 Total U.S. – Casa/Trabalho/Instalações Universitárias Fonte: comScore qSearch Geral Entidades de Pesquisa Consultas de Pesquisas (MM) Feb-09
Mar-09 Porcentagem de Alteração Mar-09 vs. Feb09 10%
Total de Pesquisas Gerais
19,176
21,038
Google Sites
11,250
12,362
10%
8,541
9,419
10%
YouTube/All Other
2,709
2,943
9%
Yahoo! Sites
2,828
3,083
9%
Yahoo!
2,804
3,058
9%
All Other
24
25
4%
Microsoft Sites
1,109
1,235
11%
MSN-Windows Live
1,015
1,136
12%
Microsoft/All Other
94
99
5%
AOL LLC
761
813
7%
AOL Search Network
439
445
1%
MapQuest/All Other
322
368
14%
Ask Network
678
696
3%
Ask.com
384
382
-1%
MyWebSearch.com/ All Other
294
314
7%
Fox Interactive Media
487
581
19%
MySpace
479
573
20%
All Other
8
8
0%
craigslist, inc.
511
559
9%
eBay
513
545
6%
Facebook.com
206
246
19%
Amazon Sites
170
191
12%
Fonte: <http://www.comscore.com/Press_Events/Press_Releases/2009/4/March_2009_U.S._Search_Engine_Rankings>
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Podemos perceber, também, o constante crescimento de sites como o MySpace, que teve um aumento de 20% entre fevereiro e março de 2009, o Facebook, com um aumento de 19% no mesmo período e o MSN Windows Live, com um aumento de 12%. Tais sites representam modelos de Inteligência Coletiva e Redes Sociais. Além do conteúdo e da maneira como o mesmo está disponibilizado na rede, os fatores mais importantes e determinantes para a formação da Web 2.0, e particularmente os mais relevante para este estudo, são a Inteligência Coletiva e as Redes Sociais. O conceito de inteligência coletiva se dá basicamente pela confiabilidade depositada nos internautas e a formação das comunidades virtuais, locais onde um mesmo tipo de pensamento pode ser exposto pelo coletivo, formando uma base de informações e dados em conjunto, agregando informações e as disponibilizando para pesquisa e uso de quaisquer pessoas ligadas na rede. A principal diferença da Web 2.0 é que a geração e classificação de conhecimento ou dados não são controlados por uma autoridade externa, mas pelos próprios usuários. Logo, os padrões de associação de conhecimentos são constantemente reformados à base das atividades de classificação pelos usuários.
Com a expansão das redes sociais, sendo o Orkut a mais conhecida e utilizada no Brasil, a facilidade para a formação de comunidades virtuais através da junção de pessoas seguidoras de um mesmo pensamento, gosto, motivo, ideologia ou acontecimento, tornou-se fácil e instantânea. Basta possuir uma conta em um site de relacionamentos, procurar ou criar a sua própria comunidade virtual, descrevendo seus fins no título ou na breve explicação sobre a mesma, e esperar que adeptos de sua causa participem efetivamente da comunidade através da troca de mensagens. “Torna-se possível, então, que comunidades dispersas possam comunicar-se por meio de compartilhamento de uma telememória na qual cada membro lê e escreve, qualquer que seja sua posição geográfica.” (LÉVY, 2003, p.94). Podemos, então, caracterizar o atual momento da internet de acordo com Mattar e Valente, 2007: “do modelo de um-para-um, pulamos para um-para-muitos, e atualmente estamos vivendo o muitos-paramuitos, todos podendo interagir com todos.” O grande aspecto diferenciador da internet para os demais meios de comunicação se dá nesse momento, onde ela deixa de ser um meio de comunicação em massa de via única e passa a ser um veículo aberto para opiniões, deixando de ser totalizadora e se tornando universal. A mensagem deixa de ser levada ao receptor em um modelo formatado para as
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massas e passa a ser buscada de acordo com o interesse individual, onde várias fontes podem ser consultadas, a probabilidade de um contato com o objeto de pesquisa é maior e a opinião a ser formada terá maiores fundamentos. (LÉVY, 2003). A mais nova maneira de troca de informações pela rede se dá por um site chamado Twitter, que funciona como um mini-blog onde os usuários postam mensagens curtas, de até 140 caracteres, que aparecerão nas páginas iniciais de seus seguidores - pessoas que o adicionaram à sua rede a fim de receber suas atualizações - e na página de seu perfil. Tais mensagens podem conter links, uma maneira fácil e rápida de mostrar algo de seu interesse para seus amigos. O Twitter foi lançado em 2006 e já revoluciona o método tradicional de se fazer jornalismo.
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3 IDEOLOGIA
3.1 Definição Quando falamos em ideologia, muitas dúvidas podem aparecer. Habitualmente, pessoas seguem ou difundem ideologias sem se dar conta de que o fazem. De um modo geral, podemos classificar ideologia como um sistema de ideias ou crenças que se relacionam de forma coerente, que possuem normas ou regras de conduta que guiam a maneira de pensar, os valores, os sentimentos e os afazeres dos membros da sociedade, criando assim sua posição frente a ela. A sociedade possui uma ideologia hegemônica, ou seja, que dita as regras gerais para a coexistência daquele determinado grupo. “A ideologia nasce da prática social, nasce da atividade social dos homens no momento em que estes representam para si mesmos essa atividade.” (CHAUÍ, 2001, p.35) Ao estudar Marx e Engels podemos ver que a ideologia tem fundamentos sociais e políticos, e nasce antes do que imaginamos. Para eles, o sistema capitalista é o gerador das divisões sociais de classe, que por sua vez são geradas pelo trabalho. O trabalho é criado pela burguesia como forma de gerar indivíduos submissos, que servem para executar os trabalhos de produção dos materiais que serão consumidos pela burguesia, visto que o assalariado não teria condições de consumir o fruto de seu esforço. Logo, esse trabalho não seria justamente pago, considerando que cada um possui uma parte do trabalho – o capitalista possui o capital e o trabalhador a execução – mas nem todos tem direito ao consumo ou recompensa à altura. Dessa maneiras, surge a divisão das classes dominantes e das dominadas, onde a maioria da classe dominada acredita viver em um sistema natural ou de vontade divina, aceitando sua posição sem questionamento da vida antes de tal práxis, sendo agradecido por possuir um trabalho e ter a chance de lutar por um crescimento e uma vida melhor. Ao despertar dessa e de outras formas de submissão impostas pela convivência comum em uma sociedade civil, formada por um conjunto de leis e normas a serem seguidas, o indivíduo passa a um estágio superior de consciência e passa a analisar suas ações em busca de um sentido real, e não apenas a aceitação da realidade em que vive. A partir do momento em que o sujeito passa a enxergar uma possibilidade de mudança, surge o pensamento ideológico, livre e desapegado do mundo material, buscando a pureza, o real.
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Uma nova ideologia nasce no momento em que pensadores de uma classe em ascensão produzem idéias para representar os interesses da sociedade como um todo, apresentando os interesses do grupo não dominante, porém buscando uma universalidade com base real para legitimar a luta da nova classe pelo poder. (CHAUÍ, 2001) Para que essa luta siga adiante e essa base real seja construída, é necessário haver um estudo e uma comprovação teórica de que a nova ideologia proposta traz mais benefícios à sociedade atual do que a cultura que vem sido seguida. Essa teoria tem que ser clara e parecer verdadeira, mostrar que realmente representa o real, que não depende e não foi inventada por ninguém. A ideologia dominante e, portanto, contrária às teorias que surgem desse menor grupo que representa a classe dominada, buscará explicar seus pontos favoráveis utilizando a história em um processo inverso, ou seja, usando o fim para explicar o começo, baseando-se nos fatos antepassados, dados como certos, para justificar suas ações, legitimando-se perante aos dominados. “As ideias da classe dominante são, em cada época, as ideias domintantes.” (CHAUÍ, 2001, p.35) A análise crítica dos fatos sociais, os novos ideais e teorias não bastam para que uma ideologia seja completa: para mudar o rumo da história e implantar seus desejos de forma a conseguir adeptos e transformar seus pensamentos, tidos como reais, em pensamentos dominantes, é necessário que haja mobilização e a prática dessas teorias seja efetivada. Uma ideologia só pode ser ativada através da prática, pois é no momento em que o indivíduo exerce seus movimentos, deixando de lado a práxis atual, que ele prova para si e para os outros que a teoria é válida, e é acreditando no que faz e vendo seus resultados que ele pode e continuará sendo fiel e divulgando seus objetivos.
3.2 Ideologia posta em prática: o ativismo A definição de ideologia nos mostra que a mesma se trata de um conjunto de ideias que criam valores e ditam regras. Porém, uma ideologia dominada que existe apenas no papel ou na vontade e não for posta em prática, descaracteriza seu propósito, que é o da ascensão e busca por ser a nova ideologia dominante ou hegemônica. Sim, podemos dizer que a ideologia é posta em prática no momento em que o indivíduo que a segue passa a agir de acordo com suas regras de conduta. Mas quando se busca dominar a ideologia vigente é preciso divulgar e conquistar novos adeptos. Surge,
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então, o que chamamos de ativismo. O ativismo nada mais é do que a luta constante pela disseminação e aceitação de novas ideias por outrem, e pode assumir diversas formas de comunicação e abordagem, visando sempre despertar os demais para a realidade da ideologia dominada. Cartas, abaixo assinados, greves, boicote, protestos e manifestações são alguns exemplos de ativismo.
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4 PROPAGANDA Antes de definir propaganda, vamos lembrar alguns princípios básicos da comunicação. Sabemos que toda mensagem tem um emissor, um “meio” ou “canal” de divulgação, e um receptor. Para que a mensagem seja eficaz, é necessário que o receptor a entenda ou “decodifique” de maneira fácil, e para que isso aconteça a mensagem deve possuir uma linguagem adequada ao seu público-alvo. Da mesma maneira, deve-se escolher o meio de comunicação que atinja o receptor desejado, de forma a garantir que a mensagem chegue. Segundo Kotler, 2003, não podemos esquecer que as pessoas são bombardeadas diariamente com cerca de 1600 mensagens, das quais apenas 12 provocam alguma reação. Dentre elas, há o que o autor chama de “retenção seletiva”, ou seja, se o receptor se identifica com a mensagem, é provável que ela seja aceita e lembrada: caso o receptor reaja de forma negativa e possua contra-argumentos, mesmo não aceita, a mensagem fica retida na memória por um longo tempo, podendo causar reflexões e até mesmo mudanças de opinião. De maneira sucinta, “a comunicação é, pois, o processo de transmitir idéias entre indivíduos”. (SANT’ANNA, 1998, p.2)
4.1 O que é propaganda? É fundamental saber produzir e divulgar uma mensagem para que ela seja efetiva. Contamos, então, com uma ferramenta chamada propaganda. Propaganda pode ser definida como o ato de propagar ideais, princípios e teorias, fixando uma ideia na mente do receptor. Para isso, conta com elementos de persuasão como o uso de imagens, cores, sons, odores, tato e tudo mais que possa ser utilizado para despertar sensações e emoções, de forma a conquistar o alvo da mensagem. Kotler, 2003, afirma que a propaganda pode ser utilizada para desenvolver uma imagem duradoura ou para estimular vendas rápidas, sendo possível, através dela, alcançar diferentes públicos, mesmo que dispersos geograficamente.
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4.2 A Propaganda ideológica
4.2.1 O surgimento da Propaganda Ideológica A palavra propaganda deriva do latim propagare, que deriva de pangere que, por fim, significa enterrar, mergulhar, plantar. Tal termo começou a ser utilizado pela igreja Católica para nomear o ato de difundir e propagar suas doutrinas religiosas. Logo mais, a palavra passou a ser utilizada, também, para outro tipo de ideologia: a ideologia a política. Sant’Anna, 1998, afirma que os primeiros indícios da utilização da propaganda na política ocorreram durante a Revolução Francesa, empregada pelos clubes, assembleias e comissões revolucionárias. A propaganda passou, então, a ser utilizada em guerras, visando criar empolgação interna e causar a desordem no campo inimigo. Discursos entusiasmados e promessas de melhorias para a nação, difusão de novos pensamentos e ideologias, assim como a criação de imagens e simbolismos, arrebataram milhares de adeptos. Neste ponto, a propaganda se mistura com a publicidade, pois utiliza seus artifícios literários e visuais para mexer com ideias e filosofias, atingindo o psicológico e fisiológico da população, deixando de ser apenas informativa e passando a ser persuasiva. Grandes nomes da política mundial transformaram a propaganda moderna na maneira como a conhecemos hoje, aplicando novas ferramentas e técnicas para a difusão de suas ideologias. Lenine e Trotsky utilizaram os mais diversos canais de comunicação da época, como o rádio, teatro, cinema, imprensa, jornais locais e de fábrica, conferências, comícios, etc. Usaram palavras de ordem para agrupar e guiar as massas, buscando ativar a chama revolucionária presente mostrando-lhes a solução. Hitler, Goebbels e Mussolini também obtiveram papéis fundamentais nessa evolução propagandista. Hitler descobriu que, ao se unir, a massa assume um caráter mais afetivo, onde o sentimento e a emoção dominam a razão. Predomina, então, o uso da imagem, buscando atingir este lado sensível. (SANT’ANNA, 1998) A propaganda hitlerista utilizava elementos obscuros do subconsciente humano coletivo, como a pureza do sangue, violência, renovação, mitologia. Associava elementos que, aparentemente, não faziam parte do contexto, mas que despertavam outros desejos no subconsciente e faziam com que a percepção humana ignorasse a análise do anúncio e simplesmente agisse por instinto. Seu foco era o poder, a grandeza, e seu apelo e uso de
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signos causavam reações confusas: haviam aqueles que o seguiam por medo ou inibição, assim como havia pessoas exaltadas a tal ponto em que a agressividade e a excitação levavam ao êxtase, ou seja, a pessoa ficava fora de si, num estado de fácil manipulação. (SANT’ANNA, 1998)
4.2.2 A influência sobre as massas Em todo momento e por diversas vias de comunicação, somos bombardeados por propagandas ideológicas, como canais de televisão que transmitem missas e cultos, chegando até a vender artigos religiosos, assim como rádios com programação inteiramente gospel , e daí por diante. Desde nossos primeiros pensamentos somos condicionados aos costumes sociais; somos condicionados a viver com as massas e seguir a maioria, com um certo medo obscuro sobre o fator “diferença”. De certa maneira, desde a roupa que vestimos, somos condicionados a seguir o modal, fugindo de taxações e da não-aceitação social. Dessa maneira, a propaganda é dirigida a um grupo igual de pessoas, buscando atingir a maior quantidade de uma só vez, ou seja, buscando atingir à massa. As massas são guiadas por opiniões gerais muitas vezes sondadas através do que se acredita ser a opinião da maioria, pela busca da aceitação comum e pela falta de acesso e/ou busca de informações. Grande parte dessa influência se dá pelos costumes dos grupos sociais, que são transmitidos às próximas gerações sem que haja questionamentos ou levantamentos dos motivos da realização de tais hábitos. Segundo Gallup, apud Sant’Anna, 1998, p.55, “Essa tendência de opinar com o grupo foi batizada pelos psicólogos com o nome de tipicalidade. Um indivíduo é típico quando se reúne naturalmente à opinião média de seu grupo; é atípico, ao contrário, quando rejeita essa opinião.” Logo, o indivíduo que busca autonomia e age sobre sua própria opinião, formada, no geral, através de estudos de conteúdo e informações buscadas para além do conhecimento comum, deixa de lado as pressões sociais ao tentar extrair a essência que o aproxime da realidade que fora escondida ou deturpada. Para esse indivíduo, não cabe mais os meios de comunicação de massa comuns, de via única, onde o sujeito apenas recebe informações, sem meios de contestação. Para este indivíduo a escolha e o questionamento são necessários, e é a
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partir deste momento que a internet torna-se um importante meio de propagação ideológica, agindo de forma inovadora e crescente, pois sua rapidez permite que no mesmo momento em que é bombardeado pela propaganda o sujeito possa pesquisar e opinar sobre a mesma, fazendo valer sua voz, mesmo que virtualmente.
4.2.3 O desenvolvimento da propaganda ideológica A propaganda ideológica necessita de atenção redobrada em sua elaboração em comparação com a propaganda de bens de consumo, pois é mais do que vender o conceito de um produto que, caso não agrade, há possibilidade de devolução ou de não-compra futura, trata-se da venda de uma ideia a qual a pessoa precisa acreditar e se adequar, sem que haja “devolução” da mesma. Nelson Jahr Garcia defende que a propaganda ideológica é mais ampla e global. Sua função é a de formar a maior parte das idéias e convicções dos indivíduos e, com isso, orientar todo o seu comportamento social. As mensagens apresentam uma versão da realidade a partir da qual se propõe a necessidade de manter a sociedade nas condições em que se encontra ou de transformá-la em sua estrutura econômica, regime político ou sistema cultural. (GARCIA, 1999, p.4)
Dessa forma, muitas vezes não se percebe que a propaganda ideológica se trata de uma propaganda em si, pois os grupos formadores dessa ideologia falam com tamanha clareza e convicção sobre seus objetivos, acreditam tanto naquilo em que seguem e divulgam que torna-se natural, não transparece a venda de uma ideia mas sim de um comportamento lógico ao qual todos deveriam ser adeptos. Em muitos casos pode até haver distorções da realidade e manipulação de contexto, sempre voltados para seu interesse. A propaganda ideológica envolve um processo complexo, com termos e fases distintas. O “emissor”, grupo que pretende promover a difusão de determinadas idéias, ao visar outros com interesses diversos, realiza a “elaboração” de sua ideologia para que as idéias nela contidas pareçam corresponder àqueles interesses. Feito isso, procede um trabalho de “codificação” pelo qual transforma as idéias em mensagens que atraiam a atenção e sejam facilmente compreensíveis e memorizáveis. Através do “controle ideológico” o emissor manipula todas as formas de produção e difusão de idéias, garantindo a exclusividade na emissão das sua próprias. Procura, dessa forma, evitar a possibilidade de que os receptores venham a receber, ou mesmo produzir, outra ideologia que os oriente contra os interesses do emissor. A partir daí as mensagens são emitidas através da “difusão”, que procura atingir o mais rapidamente possível um maior número de pessoas. (GARCIA, 1999, p. 11)
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Nem sempre as pessoas que receberão a mensagem ideológica possuem conhecimento suficiente para compreendê-la em toda sua complexidade. Para isso, alguns artifícios são utilizados, como o emprego de uma ‘palavra de ordem’, ou seja, uma expressão curta que explicite brevemente o objetivo da ideologia de forma forte e concisa, muito parecida com a utilização do slogan, que traz consigo apelos para o sentimento e entusiasmo do receptor da mensagem. (GARCIA, 1999) Unindo-se às palavras, é comum também o uso de símbolos simples e fáceis de serem reproduzidos graficamente ou gestualmente, permitindo a difusão de forma rápida e ampla. Temos como exemplo o uso da cruz suástica pelos nazistas, que podiam identificar territórios e a si mesmos apenas através do visual, evitando maiores questionamentos ou demora. Como vimos, para que uma ideologia seja aceita e seguida por um determinado sujeito, o mesmo deve estar convicto de sua decisão e imerso no universo de suas ideias. Para que uma propaganda ideológica surta efeito, ela deve seguir princípios de persuasão de acordo com cada alvo que deseja atingir, buscando rotinas ou desejos cabíveis àquele determinado grupo para apresentar sua ideologia de forma adaptada a seus interesses, mostrando que poucos serão os ‘transtornos’ em sua vida e que as mudanças que ocorrerão serão para o seu próprio bem. Após tal análise, cabe ao responsável pela emissão das ideias transformar a mensagem na linguagem já utilizada pelo grupo a ser atingido e trabalhar essas mensagens ou apelos sentimentais constantemente, cercando o sujeito com grande número de informações de maneira que desperte seu interesse de tal forma que ele não queira procurar outras questões para análise, interagindo apenas com pessoas já praticantes da ideologia e imergindo cada vez naquele universo. Uma vez totalmente tomado pela visão ideológica, o sujeito passa a transmitir a mesma mensagem recebida antes para os seus, a princípio, colaborando para a difusão de seus ideias e buscando novos adeptos. Em segunda instância, passa a buscar outros meios de divulgação visando atingir àqueles que ignoram o assunto. Discutiremos, então, a utilização da internet como veículo de difusão ideológica, apontando seus aspectos positivos e negativos, sua aplicação prática e sua eficiência.
4.3 A difusão Ideológica e os meios de comunicação Os meios de comunicação em massa, como a televisão e o rádio, buscam transmitir uma programação que agrade e atinja ao maior número de espectadores possível, garantindo
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assim sua fatia no mercado publicitário, pois é através da publicidade que a maior parte da receita desses veículos é gerada e quanto mais espectadores, mais interessante torna-se anunciar em uma determinada emissora. Se analisarmos do aspecto ideológico, para atingir a essa maioria da população, a qual chamamos de “massa”, deve ser considerada a ideologia predominante na sociedade referida para que a programação seja adequada.“Os estudos culturais, a partir da década de 1970, têm mostrado que uma mesma sociedade possui numerosos discursos e ideologias que se embatem, embora os meios de comunicação tentam reproduzir a ideologia hegemônica.” (SILVA E SILVA, 2005, p. 208). Cabe, então, ao espectador definir sua postura, sendo na escolha entre receber ou rejeitar a mensagem, ou receber e analisar a adequação de seu conteúdo. Em meios de comunicação de via dupla, ou seja, onde há interação entre o emissor e o receptor da mensagem, como é o caso da internet e a web 2.0, o receptor pode ir além, tendo como opção colocar sua opinião a favor ou contrária e gerar um debate de ideias ou posturas. É nesse momento que menores movimentos ideológicos ganham força, pois são capazes de ativar novos pensamentos entre as ideias dos demais receptores, despertando-os para uma realidade antes pouco ou nada conhecida.
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5 VEGETARIANISMO
5.1 A Ideologia Vegetariana e seus valores Vários são os motivos para uma pessoa se tornar vegetariana, e nem sempre os vegetarianos possuem uma causa em comum. Há pessoas que optam pela dieta vegetariana pela saúde; há pessoas que aderem a esse tipo de alimentação devido a sua religião; há pessoas que se tornam vegetarianas por questões ambientais; há pessoas que não comem carne por amor aos animais e há aqueles que aderem o vegetarianismo ao seu modo de vida, seguindo os conceitos da ética com os animais e o meio ambiente, a saúde e a sustentabilidade, não apenas evitando alimentos de origem animal como também qualquer outro tipo de produto que contenha substâncias provenientes de seres sencientes ou que cause grandes impactos ambientais. A palavra “vegetariano” vem do latim “vegethus”, que significa “forte, vigoroso”, diferente do pensamento de muitos que acreditam erroneamente que o termo “vegetariano” vem de “vegetal”, e que ainda remetem ao ser vegetariano como alguém apático, de saúde duvidosa. Há vários tipos de subdivisões do vegetarianismo. Entre eles, os mais comuns são: •
Onívoro(a): consome de tudo.
•
Ovo-lacto-vegetariano(a): é o tipo mais comum de vegetariano. Recusa carnes, mas consome ovos, leite e seus derivados.
•
Ovo-vegetariano(a): consome ovos, mas recusa carnes, leite e seus derivados.
•
Lacto-vegetariano(a): consome leite e seus derivados, mas recusa carnes e ovos.
•
Vegano(a): não consome nenhum produto de origem animal, inclusive ovos, leite e derivados, gelatina e mel. Os veganos vão ainda além da questão alimentar, abstendose também do consumo de lã, couro e cosméticos que contenham derivados animais ou que tenham sido testados em animais.
•
Frugívoro(a): não consome raízes, alimenta-se de frutos, nozes, castanhas, amendoim e outras sementes...
•
Crudívoro(a): alimenta-se única e exclusivamente de vegetais crus.
•
Macrobiótico(a): os cereais integrais são a base da alimentação. Os alimentos devem ser isentos de aditivos químicos, conservantes, estabilizantes. As carnes brancas
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podem ser utilizadas ocasionalmente. A macrobiótica não utiliza leite ou seus derivados. Fonte: <http://www.svbpoa.org/index.php?option=com_content&task=view&id=26&Itemid=28>
5.1.1 Pelos Animais Há quem se engane acreditando que a criação de animais para consumo humano ocorre da mesma maneira desde os tempos da vovó: bois, galinhas e porcos vivendo alegremente em grandes fazendas, com espaço livre para pastar, ciscar ou chafurdar na lama, sentir a natureza, beber água fresca e aproveitar o calor do sol. Essa alusão ocorre desde a infância, ilustrada nos livros infantis. Imagens reais dos criadouros e abatedouros estão ausentes das mídias de massa. “O telespectador médio deve saber mais sobre a vida das chitas e dos tubarões do que sobre a vida dos bezerros e das galinhas.” (SINGER, 1975, p. 162)
Com o advento da internet e da plataforma web 2.0, a liberdade de expressão e a fácil criação e exibição de conteúdo independente, a realidade passa a ser exibida através páginas específicas ou de sites como Youtube. Vídeos que demonstram as reais condições de vida dos animais criados para consumo humano, os abatedouros, as experimentações e testes feitos com os animais, assim com a vivisecção 1, considerada hoje em dia como uma prática desnecessária, vide a enorme e variada quantia de materiais digitais e interativos que fornecem as mesmas informações sem a necessidade de causar sofrimento e morte à um animal, são produzidos por instituições de defesa animal e vendidos ou distribuídos gratuitamente. O conhecimento da cruel realidade desses fatos é uma das maiores causas que tornam uma pessoa vegetariana.
5.1.2 Pelo Meio Ambiente Outra defesa da causa vegan se dá pelos cuidados com o meio ambiente. Dados da FAO, Agência para Agricultura e Alimentação da ONU, comprovam que a emissão de gases do feito estufa causados pela pecuária já representam um quinto do total. Em "A grande 1
Vivisecção: ato de dissecar um animal vivo com o propósito de realizar estudos de natureza anatomofisiológica.
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sombra da pecuária", nome do estudo elaborado pelo órgão, o autor Henning Steinfild, 2006, diz: “A pecuária é um dos causadores mais significativos dos problemas ambientais mais sérios da atualidade.", e ainda "São necessárias ações urgentes para remediar a situação". Cerca de 9% do gás carbônico mundial é produzido por rebanhos, assim como entre 37% das emissões de metano e 65% de óxido nitroso, com um potencial 296 vezes maior que o gás carbônico. Além da poluição do ar e do aumento do efeito estufa, o crescimento das pastagens e da produção de carnes e leite polui a água e desmata florestas, fato que também causa emissão de gases. Atualmente, o pastorado ocupa 26% da superfície terrestre e a produção de forragens, utilizadas em sua alimentação e acomodação, requer um terço da superfície agrícola. O aumento de áreas de pasto é fator decisivo para o desflorestamento, sendo cerca de 70% dos bosques amazônicos utilizados para este fim enquanto o cultivo de forragens cobre boa parte restante. A terra de áreas pisoteadas constantemente pelo gado se torna improdutiva, pois acaba sendo compactada, perde seus nutrientes, as nascentes deixam de existir e a erosão aumenta. A água também entra na lista dos impactos causados pela pecuária, que utiliza 8% do total do consumo humano. A contaminação de rios, nascentes e lençóis freáticos pelas fezes dos animais, hormônios e antibióticos, substâncias químicas utilizados nos curtumes, fertilizantes e praguicidas utilizados no cultivo de forragens, assim como sedimentos de locais erosionados, compromete a qualidade de nossas águas e dissemina doenças, muitas vezes a tornando imprópria para consumo humano; é também um contribuinte considerável para a formação de chuvas ácidas e a acidificação de ecossistemas. (FAO, 2009) A pecuária consome a maior parte dos grãos produzidos mundialmente, e o crescimento da produção desses grãos se dá proporcionalmente ao crescimento da população humana e de animais para consumo humano, que vem aumentando em ritmo frenético. Quanto mais rica uma população, maior o consumo de carne ou derivados animais, seja de modo direto ou de produtos industrializados. Para que seja possível o aumento da produção de carne é, consequentemente, necessário o aumento na produção de grãos, consumindo assim uma maior quantidade de recursos naturais, como o solo e a água. Segundo o estudo “Escassez de alimentos e ameaças à civilização”, de Lester R. Brown, 2009, devemos nos atentar ao uso dos aqüíferos fósseis na produção de alimentos, que vem ocorrendo de forma desordenada e que ameaça a vida útil desses aquíferos.
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Ao ritmo em que vêm caindo os níveis dos lençóis freáticos e secam os poços para irrigação, a safra de trigo da China, a maior do mundo, diminuiu em 8% desde o pico de 123 milhões de toneladas em 1997. No mesmo período, a produção de arroz caiu 4%. A nação mais populosa do mundo pode, em breve, estar importando quantidades enormes de grãos. (BROWN, 2009).
Figura 1 – Você sabe quanto custa 1kg de carne?
Vale lembrar que a falta de recursos naturais atinge o mundo todo, de forma que os demais países também possam não ser capazes de produzir grãos para o consumo interno, não sendo possível, assim, a exportação de parte de sua produção para países como a China. Outra atividade que vem causando impactos nessa diminuição da produtividade de grãos é o plantio de transgênicos, que podem chegar a um índice de produção 15% menor que os grãos normais, sem contar a garantia de contaminação genética das lavouras em sua proximidade, que passarão a ser transgênicas também e, consequentemente, terão diminuição em sua produção, levando a ciclo vicioso sem fim. (GREENPEACE) Os alimentos transgênicos ameaçam também a diversidade do planeta, como é o caso das larvas da borboleta monarca, que quando expostas ao pólen do milho transgênico Bt (MON810), 20% menos larvas atingiram a fase adulta. Essa espécie de milho foi criada para ser resistente à alguns tipos de inseto, o que pode levar à falta de comida para os predadores desses insetos e assim sucessivamente, dentro da cadeia alimentar.(GREENPEACE, 2006) Desse modo, e se pensarmos na contaminação e na expansão das lavouras transgênicas, podemos pensar na
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possível extinção de algumas espécies animais, consequência da também possível extinção de algumas plantas naturais. Por fim, o uso excessivo de herbicidas, necessário nesse tipo de cultura, causa sérios danos ao solo e aos trabalhadores, podendo também produzir pragas mais resistentes. Ora, uma sociedade onde a alimentação é escassa gera conflitos primeiramente entre países, em busca de uma importação que nem sempre será possível, e em segunda instância a alta dos preços pode causar o caos em países pobres. A falta de alimento pode ser o estopim de uma guerra civil, onde a população começa a saquear produtores e/ou revendedores, obrigando os mesmos a se armar. Essa guerra por comida pode desencadear uma série de outras falhas no sistema social, como a falta de autoridade dos militares e responsáveis pelo cumprimento da lei levando à desordem e a violência geral, que impede atividades rotineiras como a educação e o trabalho, espalhando a precariedade por toda a sociedade civil em questão. Quando um sistema chega neste ponto ele é chamado de Estado Falimentar. Atualmente, há uma lista de 20 países próximos a um colapso: Somália, Sudão, Zimbábue, Chade, Iraque, República Democrática do Congo, Afeganistão, Costa do Marfim, Paquistão, República Centro-Africana, Guiné, Bangladesh, Birmânia (Myanmar), Haiti, Coréia do Norte, Etiópia, Uganda, Líbano, Nigéria e Sri Lanka. Quando o governo de uma nação não consegue mais oferecer segurança ou serviços básicos aos seus cidadãos, o caos social resultante pode ter sérios efeitos adversos além das próprias fronteiras nacionais: Disseminação de doenças; Abrigo a terroristas e piratas; Estímulo ao extremismo político; Geração de violência e refugiados que podem fugir para países vizinhos. (BROWN, 2009)
5.1.3 Pelas Pessoas Apesar de saberem de todas essas estatísticas, governos e populações nada fazem para reverter os números alarmantes da produção de alimentos, que diminuem ano a ano devido à degradação do solo, a escassez de água e o uso frenético dos lençóis freático fósseis, a utilização de grãos para outros fins de consumo que não a alimentação e o aquecimento global. Em seis dos últimos nove anos, a produção de grãos não atingiu os índices de demanda, baixando os estoques acumulados e elevando os preços. Essa alta causa sérios impactos em países de baixa renda, como a Índia, onde o consumo de grãos supre 60% das calorias, algo em torno de 0,5kg per capita. Em países de alta renda o consumo de grãos por
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pessoa chega a 2,0kg, sendo 90% de forma indireta, através de carne, leite e ovos de animais alimentados com grãos. (SCIENTIFIC AMERICAN BRASIL, 2009) O milho, considerado o vegetal mais importante do mundo, possui uma lavoura de 800 milhões de toneladas, sendo os EUA e a China os maiores produtores. Apesar de ser a maior produção de grãos do mundo, essa quantia precisará ter um crescimento de 100% até 2020 para suportar a demanda atual, consumida em sua maior parte, dois terços ou 66%, em forma de ração para suínos e aves que posteriormente serão destinados ao consumo humano. Apenas 4% de toda essa produção, equivalente a 1 dentre cada 25 milhos produzidos no mundo, é consumido diretamente por humanos, sendo outros 14% utilizados na fabricação de etanol e o restante transformado em sementes, óleos, amido e derivados industriais. Esse aumento na utilização do milho na produção de etanol e de animais para abate vem causando altas no preço do grão, que saltou de US$ 98 em 2005 para US$ 287 em 2008, sendo, neste ano, o etanol o principal fator dessa alta. (SUPERINTERESSANTE, 2009) A tabela abaixo expressa o rendimento por hectare de algumas culturas vegetais e animais em termos de quilos/hectare. Considerando as quantidades de calorias por quilo de alimento e as necessidades calóricas humanas, foi calculada a quantidade de pessoas que poderiam ser mantidas por hectare de terra, com as referidas culturas, para comparação.
Tabela 2 - Rendimentos por hectare de diferentes culturas
Cultura
Rendimento Cal/kg c Pessoas/ha (kg/ha/y) 6.548a 3.610 25,90 Milho 2.512a 4.000 11,01 Soja 3.675a 3.570 14,38 Arroz 3.816a 3.370 14,09 Feijão 2.203a 3.320 8,01 Trigo 14.154a 1.490 23,11 Mandioca 900 l 630 0,62 Leite 34b 2.250 0,08 Carne bovina Fonte: a- IBGE, Abril 2006. ; b-Embrapa; c- IBGE/ENDEF, 1996
A partir disso, pode-se analisar que para uma pessoa se alimentar diariamente de carne bovina, baseada numa dieta de 2500 calorias, seriam necessários 12 hectares por ano; por outro lado, se a opção fosse milho, um único hectare seria suficiente para alimentar 25 pessoas.” Provavelmente a percepção deste problema tenha contribuído para tornar o vegetarianismo popular no oriente desde tempos remotos. Mediante a adoção de hábitos
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vegetarianos ou muito próximos disto, povos antigos puderam minimizar os conflitos por terras e a fome.” (GREIF, 2007) Devido ao consumo, a criação de rebanhos cresce mais rápido do que a produção mundial de grãos, e o total de animais criados para o consumo humano constituem cerca de 20% de toda a biomassa animal terrestre, ameaçando a biodiversidade e o equilíbrio biológico do planeta. Atualmente, a produção mundial de grãos é de 1,86 milhões de toneladas por ano, sendo que deste total 465 milhões de toneladas são utilizadas na engorda do gado. Para cada caloria de proteína de carne bovina, suína ou de frango são necessárias de 11 a 17 calorias de proteínas vegetais. São produzidas 7,5 quadrilhões de calorias de grãos por ano, o que seria suficiente para alimentar uma população de 6,5 bilhões de pessoas com o excedente de 1,5 quadrilhões de calorias. Porém, o consumo de tais calorias pelos seres humanos não se dá diretamente pelo grão, havendo o desperdício da energia na criação de carne, que somente será consumida por uma minoria, gerando um aumento negativo para as estatísticas da fome no planeta: 1 em cada 6 pessoas no mundo passa fome, e 6 milhões de crianças com idade abaixo dos 5 anos morrem todos os anos de desnutrição. Se utilizássemos 0,3% desta produção de grãos destinada à produção de carne para alimentar diretamente os seres humanos, essas crianças poderiam ser salvas da desnutrição; se utilizássemos 2,5% deste total, poderíamos acabar com a fome no Brasil; 50% deste total acabaria com a fome no mundo. (GREIF, 2007) Produtores de carne contra-argumentam, dizendo que se a produção pecuária aumentasse haveria carne acessível a todos. Porém, para alimentar 6,5 bilhões de pessoas, seriam necessárias extensões de terra além dos limites do planeta, sem contar os recursos naturais necessários para isso. Segundo a FAO (1998), de 1960 a 1997 o rebanho bovino cresceu 42%, o de ovelhas cresceu 32%, de porcos 131%, de galinhas 244%. Neste período, a população humana cresceu 90%, deixando claro que o aumento na produção de animais para consumo não será solução para o problema da fome. A pecuária, porém, é muito mais lucrativa do que a agricultura, e analisando nossa atual sociedade capitalista, podemos concluir que a diminuição de suas atividades por pura consciência dos seres humanos ainda está longe de ser concretizada. Sabemos que o vegetarianismo por si só não resolveria o problema da fome, pois seria necessária a intervenção e o maior empenho político, melhor distribuição de recursos, e, sobretudo, desvinculo de interesses particulares, pois o egoísmo humano é a maior fonte geradora de problemas sócio-ambientais do planeta.
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5.1.4 Pela Saúde Foi-se o tempo em que se acreditava que a saúde de um vegetariano era frágil e instável, e que uma dieta vegetariana poderia causar problemas à saúde, como anemia. Atualmente, vegetarianismo é encarado como sinônimo de saúde, quando há uma dieta equilibrada e bem planejada. Vegetarianos possuem baixas taxas de doenças crônicas, incluindo alguns tipos de câncer, doenças no coração, hipertensão e diabetes. (Messina, Mangels e Messina, 2004). Segundo o Manual of Dietetic Pratice, por Thomas e Bishop, 2007, isso se dá devido a alta ingestão de carboidratos complexos, fibras, frutas e vegetais, assim como uma baixa ingestão de gorduras saturadas, o que previne também a obesidade. Ainda, segundo eles: Uma dieta baseada em plantas também é rica em antioxidantes e folato, boro e magnésio, carotenóides e fitoquímicos como isoflavona e esteróis. Uma vez que uma dieta sem carne resulta na redução da ingestão de enxofre contida em aminoácidos, acredita-se que a baixa acidez pode reduzir a perda óssea em mulheres com menopausa e, portanto, proteger contra a osteoporose. (THOMAS E BISHOP, 2007, p. 375)
A dieta vegetariana possui menor quantidade de gorduras e colesterol, porém a redução da ingestão total de gorduras em si não é tão significativa, sendo que, nos Estados Unidos, a ingestão é de aproximadamente 34% em onívoros, 28% em ovo-lacto vegetarianos e 25% em vegans. (MANGELS, MESSINA E MESSINA, 2004). Porém, a grade diferença entre tais dietas é o tipo de gordura ingerida: onívoros e ovo-lactos consomem gorduras saturadas, sendo que ovo-lactos consomem em quantidade menor; vegans consomem muito mais gorduras poliinsaturadas do que saturadas. Gorduras saturadas são responsáveis pelo aumento e acumulação de placas que impedem a expansão das artérias e o aumento do fluxo sanguíneo, o que pode levar a ataques cardíacos e AVCs. Esse tipo de gordura inibe as ações antiinflamatórias do HDL, colesterol “bom”, que atua na não-formação dessas placas. Já as gorduras poliinsaturadas e monoinsaturadas são consideradas benéficas por diminuírem a quantidade de colesterol “ruim” no sangue, o LDL, sem reduzir o HDL. Da mesma maneira, a ingestão de colesterol é menor em ovo-lacto-vegetarianos do que em onívoros, sendo que vegans possuem consumo zero. Acompanhe a tabela abaixo:
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Tabela 3 - Comparação entre vegetarianos e onívoros sobre o consumo de proteínas, gorduras, carboidratos, colesterol e fibras
Nutriente
Onívoro
Ovo-lacto vegetariano
Vegan
Gordura (% calorias totais)
34
28-34
25-30
Colesterol (gramas totais)
300
150-300
0
Carboidrato (% calorias totais)
<50
50-55
50-65
Fibras dietéticas (gramas totais)
15-20
20-35
25-50
Proteína (% calorias totais)
14-18
12-14
10-12
Proteína Animal (% total de
60-70
40-60
0
proteína) Fonte: The dietetian’s guide to vegetarians diets – issues and aplications, 2004, p. 16. Além de fatores como a gordura e o colesterol, a tabela também demonstra a diferença na ingestão de carboidratos, fibras, proteínas e proteínas animais. Uma das questões que mais preocupam ou servem de motivo para se dizer que uma dieta vegana não é adequada ao ser humano é a questão da proteína, que muitos dizem só ser encontrada “adequadamente” em alimentos de origem animal, principalmente carnes. Porém, segundo Thomas e Bishop, 2007, apud Young, 1991, p. 376, “proteína de soja tem uma qualidade protéica similar à proteína animal quando avaliada usando o FAO/WHO/UNU método aprovado de pontuação PDCAAS (teor de aminoácido corrigido pela digestibilidade proteica)”. Logo, a variedade de vegetais consumidos diariamente pode, sim, prover a quantidade adequada de proteína e dos aminoácidos essenciais ao nosso organismo. (THOMAS E BISHOP, 2007). Já as fibras podem ser divididas em duas categorias: as solúveis e as não solúveis em água. As solúveis ajudam a abaixar o nível de colesterol no sangue em até 10%, se consumidas na quantidade diária adequada (aproximadamente 3g/dia). Dietas vegetarianas e, principalmente, vegans, são ricas em fibras. Carboidratos são nossa principal fonte de energia e calor, e são responsáveis por manter nosso cérebro e corpo funcionando. Vegetais, frutas, grãos e cereais são ricos em carboidratos. Vegetarianos e vegans possuem uma taxa metabólica mais elevada do que um onívoro, e acredita-se que o motivo seria a dieta de baixa ingestão de gorduras e alta ingestão de carboidratos, que também pode ser mais efetiva na perda de peso, devido ao maior
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aproveitamento do uso de energia proveniente de carboidratos. (MANGELS, MESSINA E MESSINA, 2004).
5.1.6 Pela Religião Quando pensamos nos princípios bíblicos sobre ética, bondade e respeito à vida, podemos pensar que tais princípios são cabíveis à simples atos do dia a dia, como a alimentação. Apesar de ser uma prática antiga, o vegetarianismo não pode ser considerado como base de nenhuma religião, mesmo fazendo parte da filosofia de algumas. A Igreja Adventista do Sétimo Dia é um dos exemplos de religiões que pregam o vegetarianismo, mesmo não sendo necessariamente obrigatório. O maior motivo pela adesão da causa é a saúde, já que os membros dessa igreja prezam pelo corpo saudável para servir como receptáculo do Espírito Santo. Já o Jainismo tem como um de seus cinco princípios o ideal da não-violência, respeitando assim qualquer tipo de vida (humana, animal ou vegetal), pois acreditam que todas as almas são sagradas. São rigorosamente vegetarianos, chegando a usar máscaras e a limpar o local que irão sentar, evitando matar ou causar danos a pequenos animais ou insetos. Os seguidores da filosofia Hare Krishna também são vegetarianos e, assim como os seguidores do Sikhismo, praticam a distribuição de refeições vegetarianas. Os Sikhs a fazem de maneira comunitária e o motivo pelo vegetarianismo é para que todas as pessoas, de qualquer religião ou crença, possam ser alimentadas. Mais da metade dos seguidores dessa religião não comem carne, e a outra metade apenas a come quando o animal tiver sido abatido de acordo com suas regras. O Espiritismo não exige que seus seguidores sejam vegetarianos, mas grande parte dos espíritas opta por tal dieta por acreditar que todos os animais possuem almas que podem evoluir e merecem ser respeitadas, evitando também carregar consigo as energias ruins e não causando dor e sofrimento aos nossos irmãos menores. Podemos, ainda, encontrar versículos na Bíblia, o livro sagrado dos cristãos, que remetem a ideia de que o ser humano, em seus princípios, deveria possuir uma dieta vegetariana. São eles: Gênesis 1:29 E disse Deus ainda: Eis que vos tenho dado todas as ervas que dão semente e se acham na superfície de toda a terra e todas as árvores em que há fruto que dê semente; isso vos será para mantimento.
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Gênesis 1:30 E a todos os animais da terra, a todas as aves do céu e a todo ser vivente que se arrasta sobre a terra, tenho dado todas as ervas verdes como mantimento. E assim foi. Isaías 66:3 Quem mata um boi é como o que tira a vida a um homem; quem sacrifica um cordeiro, como o que quebra o pescoço a um cão; quem oferece uma oblação, como o que oferece sangue de porco; quem queima incenso, como o que bendiz a um ídolo. Porquanto eles escolheram os seus próprios caminhos, e tomam prazer nas suas abominações, Isaías 66:4 também eu escolherei as suas aflições, farei vir sobre eles aquilo que temiam; porque quando clamei, ninguém respondeu; quando falei, eles não escutaram, mas fizeram o que era mau aos meus olhos, e escolheram aquilo em que eu não tinha prazer.
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6 APLICAÇÃO
6.1 A ideologia Vegetariana No mundo ocidental, a ideologia hegemônica, quanto à alimentação, é a ideologia onívora, ou seja, onde a maior parte dos habitantes possui uma dieta que contém carne, ovos, leite e vegetais. Logo, todos os bens de consumo e alimentação, assim como as produções artísticas e culturais, se referem ao consumo de produtos de origem animal como algo natural e saudável, como a única opção de vida. Vimos no capítulo 3 que, para que uma ideologia exista, é necessário que haja uma classe dominante e uma classe dominada, onde a segunda é responsável pela formação da nova ideologia, representando um grupo menor de pessoas que “despertou” para a realidade e busca divulgar sua descoberta para os demais. O vegetarianismo pertence à classe dominada, sendo assim capaz a criação de uma nova ideologia. O primeiro passo para a divulgação dessa ideologia é chamar a atenção das pessoas para as atrocidades cometidas com os animais nos criadouros e abatedouros, tentando desperta-los do sistema de clausura em que se encontra e alertar a sociedade para os benefícios de uma vida sem carne, seja para a própria saúde, pelo meio ambiente, pelas demais pessoas ou pelos animais.
Figura 2- Meatrix
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A ideologia onívora, dominante, possui ao seu os lado meios de comunicação em massa, sendo alguns de acessibilidade econômica inviável para a ideologia vegetariana, formada por um grupo bem menor e, consequentemente, com menor poder econômico. Esses meios de comunicação em massa são os maiores responsáveis por atingir aos consumidores expondo produtos de grandes empresas que não se preocupam com o bem-estar animal. Uma das imagens expostas na internet, da chamada “passeata vegetariana”, chama a atenção dos usuários para este fato:
Figura 3 - Eles querem que você coma animais
Comerciais veiculam livremente a ideia de que comer um pedaço de animal morto, como uma linguiça, salsicha ou mortadela de determinada marca, além de saboroso é um dos prazeres da vida, ignorando completamente o que veio antes do processamento desses alimentos, ou seja, a vida animal. Pessoas são levadas no embalo desses comerciais e compram produtos de origem animal já prontos para consumo, apresentados em embalagens bonitas, sem fazer maiores análises sobre sua escolha. (...)O resultado é que a maior parte da “informação” acerca de animais domésticos obtidas através da televisão assume a forma de publicidade paga, indo de ridículos desenhos animados com porcos que querem ser transformados em salsicha e atuns que tentam desesperadamente ser enlatados a mentiras descaradas sobre as condições em que são criados os frangos em aviários. Os jornais fazem pouco melhor. A sua cobertura dos temas relativos aos animais não humanos é dominada por acontecimentos de “interesse humano”, como o nascimento de um gorila bebê no jardim zoológico, ou a ameaça de extinção que paira sobre algumas espécies; assim, os desenvolvimentos das técnicas de criação de animais que privam milhões
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de setes de liberdade de movimento não merece qualquer atenção. (SINGER, 1979, p.162)
A indústria da carne é muito mais rentável aos produtores e às grandes marcas do que a produção de vegetais, sendo este o fator de maior propulsão para o avanço da ideologia onívora, maior contratante de publicidade e com maior poder de patrocínio, tendo a mídia aberta e os veículos de massa ao seu comando. Para que a ideologia vegetariana avance, é necessário mostrar aos demais os benefícios que ela traz ao indivíduo, aos animais e ao mundo. Para isso, utiliza-se de folhetos explicativos (ANEXO 1 – folhetos explicativos), sites, comunidades virtuais e a propagação de vídeos no youtube, como os documentários brasileiros “A Carne é Fraca” (ANEXO 2 – DVD 1 – documentário “A Carne é Fraca”) e “Não Matarás (ANEXO 3 – DVD1 – documentário
“Não
Matarás”)
produzidos
pelo
instituto
Nina
Rosa
<http://www.institutoninarosa.org.br/>; e os estrangeiros como “Terráqueos” (título original: Earthlings) escrito, produzido e dirigido por Shaun Monson <http://www.earthlings.com/>; “Conheça sua carne” (título original: Meet your Meat), produzido pela PETA 2 <http://www.petacatalog.com//products/Meet_Your_Meat_DVD_VHS-208-0.html>,
“Uma
verdade mais que inconveniente” (título original: “Meat the Truth”) (ANEXO 4 – DVD 1 –
documentário “Uma verdade mais que inconveniente”) que faz analogia ao documentário “Uma verdade inconveniente”, apresentado pelo ex-candidado a presidência dos Estados Unidos, Al Gore, entre tantos outros. A ideologia dominante é, obviamente, contra os avanços da ideologia vegetariana, realizando uma contrapropaganda sobre as divulgações vegetarianas. Para isso, utilizam os fins para exemplificar os meios. Um dado em comum entre as duas ideologias é a não conclusão sobre nossos antepassados da era das cavernas e a alimentação que seguiam. Há explicações para as duas ideologias, deixando esse assunto ainda não resolvido. A linha onívora utiliza a explicação de que o ser humano apenas desenvolveu o lóbulo frontal e a capacidade de raciocínio através da ingestão da proteína da carne. Para os vegetarianos, o homem apenas conseguiu digerir a proteína da carne porque conseguiu cozinhá-la e, para isso, precisou antes desenvolver inteligência suficiente para aprender a fazer o fogo e as ferramentas. Dentre outras coisas, há um vídeo inserido na internet que explica o ponto de vista do vegetarianismo sobre a origem e a evolução do homem, que pode ser visto no link:
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PETA – sigla de uma organização internacional de proteção aos animais que, em inglês, significa People for the Ethical Treatment of Animals; traduzindo para o português: Pessoas pelo Tratamento Ético aos Animais.
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<http://www.youtube.com/watch?v=rNrZKDpE3LE>. (ANEXO 5 – DVD 2– vídeo “Os humanos são naturalmente carnívoros?”) 6.2 A internet como principal fator de difusão da ideologia do vegetarianismo Vimos anteriormente que uma ideologia é mais facilmente propagada quando se há contato com o receptor, onde se pode esclarecer eventuais dúvidas e questionamentos que podem surgir, cercando o indivíduo e colocando-o em xeque quanto aos seus antigos valores. Na zona virtual, com o advento da web 2.0, essa interação tornou-se possível de se realizada instantaneamente, como num bate papo ao vivo. Sabemos que nem sempre as pessoas conseguem despertar uma consciência para a realidade sozinhas, e é necessário que mensagens de alerta cheguem até ela. Outra vez podemos contar com a internet, pois como uma ferramenta barata ou gratuita de propagação de ideias e que pode atingir milhares de pessoas de uma só vez, pode-se dar o pontapé inicial no despertar desse indivíduo através do envio de mensagens por e-mail, sites de relacionamento, blogs, microblogs, etc. Uma vez “acordada” a pessoa pode buscar mais informações de acordo com seus interesses. O melhor guia para Web é a própria Web. Ainda que seja preciso ter a paciência de explorá-la. Ainda que seja preciso arriscar-se a ficar perdido, aceitar a “perda de tempo” para familiarizar-se com esta terra estranha. Talvez seja preciso ceder por um instante a seu aspecto lúdico para descobrir, no desvio de um link ou de um motor de pesquisa, os sites que mais se aproximam de nossos interesses profissionais ou de nossas paixões que poderão, portanto, alimentar da melhor maneiras possível nossa jornada pessoal. (LÉVY, 2003, p.85)
6.2.1 A ambientação da rede Na rede, vale utilizar símbolos, imagens, frases, vídeos, etc., para “enfeitar” seu espaço a fim de causar curiosidade, divulgar e cercar cada vez mais pessoas.O símbolo mais utilizado pelos vegetarianos é um “V” específico, verde, tendo o lado esquerdo inclinado e arredondado, remetendo a um matinho ou grama, e uma folhinha na ponta direita, conforme vemos na figura 4:
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Figura 4 - V
Funcionando da mesma maneira que um logotipo, esse símbolo serve para ilustrar e assinar muitas imagens e campanhas, sendo utilizado também em fotos pessoais que ativistas online usam como avatar3. Para simplificar essa utilização e aumentar a possibilidade da quantidade de usuários, o ativista Fábio Chaves criou um site que possui uma ferramenta automática que estampa o “v” na foto. Basta fazer o upload da imagem na página e, em poucos segundos, ela surgirá em sua tela para download, pronta para ser utilizada. O endereço de tal página é o <http://www.vista-se.com.br/v>.
6.2.2 O contexto ideológico das imagens Uma das maneiras mais utilizadas na internet como ferramenta para esse despertar de consciência é a difusão de imagens criadas voluntariamente por pessoas ou grupos e organizações. Tais imagens são carregadas de conteúdo ideológico e ficam dispostas para download, sendo os usuários comuns e adeptos à ideologia os responsáveis por espalhar esse conteúdo através da inserção dessas imagens em blogs, álbuns virtuais e programas de batepapo, sendo também utilizadas como papéis de parede. A seguir, utilizaremos essas imagens para exemplificar trechos diretos da obra de Nelson Jahr Garcia, explicando e ilustrando o contexto de cada mensagem. a) Um mundo livre de crueldade. As ideologias geralmente se referem a certas situações que, por jamais terem sidos presenciadas pelos receptores, são pouco compreensíveis. Como explicar o valor e a importância de um regime liberal e democrático a quem tenha vivido apenas sob sistemas autoritários ? Nesse caso a associação da idéia é feita por contraste, em que se compara a situação a ser explicada a outra contrária, porém mais conhecida. Essa é a fórmula constantemente empregada por grupos de oposição que apresentam suas propostas recorrendo a imagens de um regime “sem censura”, “sem violência policial” etc. (GARCIA, 1999, p. 19)
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Avatar: representação gráfica de um utilizador na realidade virtual.
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Figura 5 - Vai se alimentar do que?
Figura 6 - VocĂŞ pode mudar o mundo
. Percebemos nas figuras 5 e 6 a utilização de elementos de contraste, onde o evidenciase um mundo sem cor, que faz analogia à tristeza e representa a morte ou o consumo de
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animais, e um lado colorido, representando a alegria e a saúde, os benefícios de se ter uma vida livre de sangue e de morte. b) A utilização de ícones reais “A ilustração de idéias com exemplos concretos conhecidos é outra forma comum de codificação.” (GARCIA, 1999, p. 19)
Figura 7 - Comece uma revolução em você.
Figura 8 - Ronald Mcdonald
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A utilização de fatores reais para a difusão da ideologia pode ser positiva ou negativa. A figura 7 traz o aspecto positivo, passando a idéia do verde como um mundo melhor, com a mensagem positivista que tudo pode ser alcançado, só depende de você. A segunda imagem, figura 8, traz um depoimento real de um dos ícones do consumo de carnes e fast foods, que também são classificadas como junk foods e entram na lista dos malfeitores da saúde, pedindo desculpas por ter incentivado milhares de pessoas a consumirem animais mortos. Além de fazer a pessoa parar para pensar no porquê o próprio incentivador mudou de lado, faz uma contrapropaganda à rede de fast foods que mais mata animais no mundo.
c) Concepções Outro aspecto importante a ser considerado na codificação é o fato de que as pessoas já carregam consigo uma série de concepções a respeito da realidade em que vive.(...) . A propaganda não deve deixar de considerar, ao difundir novas idéias, o fato de que elas podem chocar-se com as já existentes, por serem diversas e mesmo contraditórias. Nesse caso, ao mesmo tempo que se apresentam certas idéias, pode-se negar as já existentes, procurando mostrar que são falsas e não correspondem à realidade (GARCIA, 1999, p. 19)
Figura 9 - De onde vem?
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Figura 10 - Adora bacon?
Figura 11 - Mulher Leiteira
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É fato que a maioria das pessoas não para pra pensar de onde vem seu alimento, como ele é produzido e qual o seu processamento até chegar a sua mesa. Em um mundo de facilidades e comidas presas em embalagens bonitas, pouca gente se lembra que aquela costela antes fazia parte de uma vaca viva, ou que aquela “suculenta” bisteca antes era um porquinho inocente, ou o quanto uma vaca sofre ao ter partos seguidos, tomar hormônios e ficar presa à uma máquina que causa feridas em sua pele e suga sua energia para “fornecer” leite ao humanos, quanto menos ainda pensarão nas vidas interrompidas de ovos galados ou no sofrimento que galinhas tiveram presas em gaiolas e granjas fedorentas e mal iluminadas, pegando todo tipo de doença e sem direito à sequer pisar e ciscar por um segundo na terra. Essa orientação, contudo, nem sempre é eficaz, porque as pessoas tendem a se apegar emocionalmente a certas concepções que, às vezes, trazem consigo desde a infância e rejeitam qualquer nova explicação. Outra possibilidade, nesse caso, é a de fundir a idéia a ser propagada com as concepções já existentes, solução que inclusive facilita a aceitação das mensagens, porque baseadas em idéias já aceitas como verdadeiras. (GARCIA, 1999, p. 20)
Figura 12 - Cachorro vaca
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Figura 13 - Cachorro proteína
Dessa maneira, nas figuras 12 e 13 tenta-se despertar o sentimento de amor aos animais como um todo utilizando aquele animal que a pessoa já ama, como o cachorro, que no Brasil é dado como animal de estimação e como o melhor amigo do homem.
6.2.3 Sites Quando desperta para a ideologia vegetariana, o indivíduo passa a buscar mais informações sobre o assunto, utilizando a internet como principal fonte de pesquisa. Para isso, há uma quantia cada vez maior de sites com conteúdos informativos, receitas, materiais para download, lojas virtuais, comunidades virtuais, links para petições e mais diversos meios de ativismo virtual. Entre os mais conhecidos, podemos encontrar alguns sites e comunidades, escolhidos aleatoriamente, como: a) Informações/ geral •
Guia Vegano: <http://www.guiavegano.com.br>
•
Instituto Nina Rosa: <http://www.institutoninarosa.org.br/>
•
Veddas: <http://veddas.blogspot.com/>
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•
Vista-se: <http://www.vista-se.com.br>
b) Loja Virtual e semelhantes •
Culinária Vegetariana: <http://www.culinariavegetariana.com/>
•
Vovó Vegan: <http://vovovegan.blogspot.com/>
•
Guia Vegano: <http://www.guiavegano.com.br/vegan/loja?vmcchk=1>
c) Ativismo •
Ativeg: <http://www.ativeg.org/>
•
Ativismo.com: <http://www.ativismo.com/>
•
Odeio Rodeio: <http://www.odeiorodeio.com/>
d) Culinária •
Cantinho Vegetariano: <http://www.cantinhovegetariano.blogspot.com/>
•
Coisinhas Veganas: <http://coisinhasveganas.blogspot.com/>
•
Cozinha Vegetariana: <http://cozinhavegetariana.blogspot.com/>
•
Veg Chica: <http://www.vegchica.blogspot.com/>
•
Veg Vida: <http://vegvida.com.br/>
e) Tirinhas •
Banana Pop: <http://www.bananapop.com.br/>
•
Verde Tiras: <http://verdetiras.blogspot.com/>
f) Blog •
BlogVeg: <http://www.blogveg.com.br/>
•
MTV – Vida Vegetariana: < http://mtv.uol.com.br/vidavegetariana/blog>
g) Comunidades Virtuais (Orkut) •
Vegetariano não come só folha (8.593 membros) <http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=1916144>
•
Vegetarianos (23.232 membros) <http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=115855>
•
Vegetarianos pelos animais (14.081) <http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=791145>
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•
Veganismo (6.254) <http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=41971>
•
Vegans às compras (4.430) <http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=294032>
•
Sac Vegano (1.270) <http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=52844522>
•
Receitas Veganas (5.597) <http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=227712>
h) Site de Relacionamentos •
Vista-se (rede): <http://vista-se.ning.com/>
•
Cadastro Veg: < http://cadastroveg.ning.com/>
6.3 Análise de pesquisas Para confirmar esse avanço da internet da difusão da causa vegetariana, foram feitas dois tipos de pesquisa: uma pesquisa realizada com donos de sites sobre o tema, enviada eletronicamente via e-mail ou software de mensagens instantâneas (ANEXOS 6, 7, 8 e 9 – Pesquisas realizadas com donos de sites de conteúdo vegetariano); e entrevistas com ativistas e/ou vegetarianos filmadas e gravadas eletronicamente. (ANEXOS 10 e 11 – DVD 2 – Entrevistas com ativistas vegetarianos) Na primeira etapa, nas pesquisas realizadas com os responsáveis pelos sites que possuem conteúdo vegetariano, foi afirmado que os sites obtiveram um crescimento no número de visitantes com o passar do tempo, e que há uma quantia estável de acessos mensais. O responsável pelos sites Ativismo.com <http://www.ativismo.com> e Odeio Rodeio <http://www.odeiorodeio.com>, Leando Ferro, afirma que estes recebem cerca de 20 a 30 mil visualizações mensais. Os gráficos abaixo, do site Vista-se <http://www.vista-se.com.br>, mostram a quantidade de visitas únicas que o site obteve, assim como sua distribuição no país:
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Grรกfico 1 - visitas de janeiro a outubro
Grรกfico 2 - visitas mensais
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Gráfico 3 - cidades que visitaram o Vista-se
Por ser um site que aborda um público específico, seu criador e responsável, Fabio Chaves, acredita que a marca média de 8 mil visitas mensais é um ótimo índice, assim como sua abrangência em 307 cidades espalhadas por todo o país demonstra que a internet não tem limites para difundir idéias. Segundo Fabio, com o passar dos anos essas visitas aumentaram e os usuários passaram a ser mais participativos. O site Ativismo Vegetariano (Ativeg) <http://www.ativeg.org> possui uma média de 10 mil visitas únicas mensais e está passando por reformulações na atual estrutura para expandir esse número; já o site com maior visitação dentro os citados, Guia Vegano <http:// www.guiavegano.com.br>, possui uma média de 80.000 usuários únicos mês que geram cerca de 1.300.000 visualizações de páginas. Ao serem questionados sobre lojas virtuais e sua viabilidade, todos responderam que há ou havia uma boa aceitação por parte dos consumidores vegetarianos, sendo um bom mercado para ser explorado. Já em entrevistas com consumidores vegetarianos, percebemos que em capitais e cidade maiores, como São Paulo, ainda há certa dificuldade em encontrar produtos veganos, mas mesmo assim não há tanta necessidade do uso da internet para a compra de produtos básicos.
Em cidades menores, nem todos os produtos podem ser
encontrados, porém o uso das lojas virtuais acaba sendo maior para a compra de camisetas e outros artigos que não fazem parte das necessidades básicas, como higiene e alimentação. Dos
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entrevistados, apenas uma pessoa afirmou fazer compras de produtos de higiene pela internet, sendo que nenhum faz compras de produtos alimentícios. Quando falamos de ativismo online, todos concordam que o maior objetivo de começar uma campanha na internet é ver sua viabilização nas ruas. Além de informar aqueles que ainda são leigos no assunto através da internet, buscam unir pessoas já engajadas na causa e encorajá-las a irem às ruas lutar por seus ideais e conscientizar àqueles que talvez não tenham acesso ou nunca se depararam com as questões abordadas. De modo geral, tanto os responsáveis pelos sites quanto os ativistas vegetarianos concordam que a internet foi fundamental para o crescimento do movimento em prol do vegetarianismo e da causa animal. Segundo Fábio Chaves, o grande trunfo da internet é o baixo custo e longo alcance. “Você não precisa abordar as pessoas. Se for bem feito as pessoas é que acham por si as informações.”, afirma o ativista, que garante que a internet dá resultados e recomenda a todos aqueles que querem fazer alguma diferença no mundo. Para Leandro Ferro, sua importância está na comunicação sem barreiras e na informação livre de manipulação: “O controle que os grandes grupos capitalistas e governamentais fazem sobre os meios de comunicação em massa: jornais , revistas, televisão não funcionou na internet.” Daniel Coelho também confia no poder da internet neste tipo de comunicação: “Nem todos possuem tempo para participar de eventos e protestos. Pela internet, o indivíduo tem a oportunidade de desempenhar o ativismo com mais freqüência, podendo tanto informar as pessoas com a divulgação de documentários e informações, bem como divulgar as campanhas de conscientização.”, e ainda ressalta o uso de ferramentas como as redes sociais, além do site oficial, para distribuição de informações e agrupamento de adeptos na internet, e Alexsandro Fernandes afirma que “A internet é um instrumento fantástico de disseminação de informações e promoção de trabalhos colaborativos, sem ela o movimento não teria crescido o que cresceu nos últimos 10 anos.”
6.4 O vegetarianismo e a sociedade de consumo: ativismo virtual e real Assim como a transmissão da ideologia vegetariana vem ganhando espaço na intenet, o ativismo virtual também tem se espalhado rede afora. Os sites relacionados acima, assim como centena de outros, trazem informações que são fruto de um trabalho comunitário, onde várias pessoas enviam conteúdos como receitas e notícias ou se encarregam de enviar e-mails a empresas para obter informações sobre produtos
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e seu conteúdo, sendo assim capaz a identificação e a listagem dos produtos chamados de cruelty free 4 e sua separação dos demais. Esses mesmo sites convidam os usuários a assinarem petições, participarem de eventos como palestras, passeatas e protestos, assim como eventos de diversão, que não deixam de servir para troca de informações, como piqueniques (chamados de “veganics”), shows, almoços, passeios, festas, pizzadas, entre outros. A grande maioria desses eventos, senão todos, são combinados e organizados através de comunidades virtuais em sites de relacionamentos ou em programas de bate papo. Folders são criados e espalhados virtualmente por álbuns pessoais, site, blogs, enfim, qualquer tipo de veículo que esteja incluso na internet, e é através desses chamados online que as pessoas se reúnem e passam a se conhecer pessoalmente, podendo assim criar laços maiores de amizade e se unirem de melhor forma em prol da causa. Atualmente, uma das formas mais expressivas de ativismo é o boicote. A matéria “Verdes radicais representam risco para os negócios” (ROSA, 2008), que traz como subtítulo: “Estudo da Ernst & Young mostra que o veganismo está entre os 10 maiores problemas que afetam as vendas de um produto”, alerta pra a necessidade das empresas se adaptarem ao mercado vegano, que se nega a consumir produtos que contenham ingredientes de origem animal ou que realizem testes em animais. A matéria fala ainda sobre o crescimento desse tipo de consumidor e a oportunidade de criação de um novo ramo ou de uma nova linha de produtos para empresas já conceituadas, afim de não perderem esse nicho. Há uma lista divulgada na internet sobre as empresas que testam e as empresas que não testam em animais. A listagem considerada oficial é feita pela PETA, sendo que esta lista contém apenas empresas internacionais. As empresas nacionais são pesquisadas por ativistas independentes e também pela PEA 5, que faz uma junção de todas essas informações e disponibiliza-as através de seu site: <http://www.pea.org.br/crueldade/testes/lista.htm>, lembrando que essa é uma lista apenas sobre testes e não sobre conteúdos dos produtos, ou seja, não garante que todos os seus produtos sejam de origem 100% vegetais. (ANEXO 12– Lista PEA de empresas que não testam em animais) Muitas vezes também não conhecemos todos os produtos que são de origem animal, como alguns corantes e produtos usados para dar liga em alimentos, ou peças de vestuário. Para auxiliar o consumidor vegan quanto a esse tipo de consumo, a PETA lançou também um 4
Cruelty free: livre de crueldade, na gíria dos ativistas e consumidores vegetarianos. Podem ser alimentos, produtos de beleza, vestuário, limpeza, ou qualquer outro tipo de produto que seja isento de ingredientes de origem animal e de testes realizados em animais. 5 PEA – sigla de uma organização nacional de proteção aos animais, que significa: Projeto Esperança Animal.
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glossário onde constam todas essas informações. Essa lista pode ser visualizada também no site da PEA <http://www.pea.org.br/curiosidades/curiosidades_ingredientes.htm> (ANEXO 13 – Lista PEA de matéria-prima de origem animal) Demonstrando também uma preocupação por essa tendência na busca de produtos livres de crueldade com animais, o site da Folha Online traz enquetes, no caderno de ciência e saúde, que apontam a preocupação crescente de seus leitores com o bem estar animal:
Fonte: <http://polls.folha.com.br/poll/0928602/results> Acesso em: 21 de outubro de 2009 Gráfico 4 – Consumo
Fonte: <http://polls.folha.com.br/poll/0927501/results> Acesso em: 21 de outubro de 2009 Gráfico 5 - Testes em Animais
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Fonte: <http://polls.folha.com.br/poll/0924601/results> Acesso em: 21 de outubro de 2009 Gráfico 6 -Sofrimento Animal
Os três gráficos confirmam que já está mais do que na hora das empresas reverem seus conceitos. Se até leitores da Folha Online, que podem ser pessoas seguidoras de todos os tipos de ideologias, de diferentes idades e pensamentos, dizem que se recusariam ou prefeririam comprar produtos que testem ou matem animais, as empresas ativas no mercado precisam passar por uma reforma de conceitos e técnicas antes que comecem a perder mais clientes além dos ativistas vegetarianos e veganos. Boicote a eventos que utilizam animais para divertimento ou exploração e a empresas que patrocinam esses eventos também fazem parte desse ativismo. Rodeios, circos, touradas, farra do boi, pescarias (incluindo as consideradas “esportivas”), além do boicote também são alvos de protestos e manifestações.
Uma lista disponível no site “Ativismo.com” revela
quais são essas empresas patrocinadoras que devem, quando possível, ter sua utilização ou consumo suspensos: <http://www.ativismo.com/site/index.php?option=com_content&view=article&id=16:patroci nadores-de-rodeios&catid=17&Itemid=44>. Vale repetir que consumidores vegetarianos, além da causa animal, preocupam-se também com o meio ambiente, e é verdade que não são apenas eles. O consumo dos chamados produtos “verdes” vem aumentando a cada ano, ganhado espaço, também, na
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pesquisa “Top of Mind” da Folha de São Paulo, onde teve uma categoria criada só pra esse tipo de produto em 2007: o “Top Meio Ambiente”. Sempre que possível encontrar produtos orgânicos, o consumo destes é preferencial. No Brasil, um selo será lançado a partir do próximo ano (2010), buscando regularizar alimentos e produtos no geral, garantindo para o consumidor que a composição do produto possui mais de 95% de matéria-prima orgânica. Para explicar melhor como funcionará este selo, o Ministério da Agricultura lançou uma cartilha que está disponível na internet através do link: <http://www.agricultura.gov.br/images/MAPA/arquivos_portal/ACS/cartilha_ziraldo.pdf> (ANEXO 14 – Selo do Ministério da Agricultura para os produtos orgânicos)
6.5 Outros tipos de comunicação e sua viabilização através da rede Já vimos que a web 2.0 incorporou os mais diversos tipos de meios de comunicação para o universo da internet. Agora veremos o outro lado: a internet como viabilizadora e facilitadora de outros tipos de comunicação. Individual, porém não única, e ainda assim um tipo de comunicação, as camisetas fazem grande sucesso em meio aos difusores do vegetarianismo, e é através da internet que a maior parte delas é encontrada e vendida. A partir de então, tais camisetas saem do virtual e passam para o real, vestindo o corpo de uma mente que apóia a causa e que irá circular pelas ruas carregando em seu peito informações e/ou despertando mentes alienadas. (ANEXO 15 – Camisetas) Dessa mesma maneira, milhares de panfletos são retirados da internet e impressos e distribuídos pela cidade, seja em protestos e passeatas ou apenas panfletagem. Em 25 de setembro de 2009, 20 banners entraram em exposição em quatro pontos da cidade de São Paulo, numa parceria entre o VEDDAS 6 e a Prefeitura, sendo estes pontos estações de metrô e casas de cultura. (ANEXO 16 – fotos panfletagem e protestos) (ANEXO 17 – DVD 2 – Primeira campanha vegetariana em metrô no Brasil) Filmes e documentários também podem ser comprados, baixados e distribuídos gratuitamente através da internet, sendo que muitos ativistas costumam fazer cópias e distribuir para pessoas que se interessam em se informar mais sobre o assunto. Há também um novo meio de capitação de telespectadores para esses vídeos, conhecido como Veddas Móvel. 6
VEDDAS: sigla para Vegetarianismo Ético, Defesa dos Direitos Animais e Sociedade - organização que trabalha para promover a defesa dos direitos animais e difundir os argumentos em favor de uma alimentação e estilo de vida livres da exploração de seres inocentes.
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O Veddas Móvel foi lançado em 12 de abril de 2008 e se trata de uma mini-van que possui em seu interior um ambiente equipado com televisão e DVD para a exibição desses vídeos. Esse projeto foi realizado pela união de ativistas online, que doaram tempo livre, trabalho e quantias em dinheiro para que a idealização e manutenção do mesmo fossem possíveis. (ANEXO 18 – DVD 2 – Veddas Móvel) Outra maneira é a viabilização de palestras, como as que ocorrem durante a Semana Vegetariana na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Essas palestras tem sua maior divulgação feita pela internet, assim como o contato com muitos palestrantes é feito através dela. A partir de então, pessoas vegetarianas ou não passam a receber informações pessoalmente sobre todos os assuntos relacionados ao tema, como nutrição, a importância para os animais e o meio ambiente, etc., tendo a oportunidade de esclarecer eventuais dúvidas de imediato e “ao vivo”. (ANEXO 19 – Cartaz da semana vegetariana da Unicamp) Mais um exemplo da colaboração mútua de ativistas online é a realização dos outdoors vegetarianos. O primeiro do Brasil foi lançado em Campinas em março de 2008, tendo sua veiculação entre os dias 15 a 28. Quantias foram doadas através do site Vista-se por diversos ativistas, e através dessa arrecadação foi possível a impressão e veiculação do outdoor. Todas as informações sobre os custos e doações podem ser vistas no site <http://www.vistase.com.br/outdoor/>, assim como fotos e vídeos do local. A partir de então, outros outdoors circularam pelas ruas do país. Ocorreram nas cidades de: Porto Alegre, Vitória, Piracicaba, Rio de Janeiro, Florianópilis e Belo Horizonte, sendo que há um em andamento para a cidade de Salvador. O sucesso dos outdoors se deve grande parte a participação dos ativistas através da comunidade do ATIVEG no orkut. Através dela, muitas pessoas contribuíram financeiramente e mensalmente para a campanha, sendo que em algumas cidades foram lançados mais de um outdoor por vez e em Porto Alegre já houve duas edições. (ANEXO 20 – Outdoor) Por meio de todos esses tipos de comunicação e atividades dentro e fora da internet a curiosidade das pessoas sobre o assunto vem aumentando, tanto que debates e entrevistas já chegaram até a televisão. O programa do cantor, compositor e apresentador Lobão, MTV Debate, levou ao ar uma discussão entre o instituto pró-carne e ativistas vegetarianos, entre outros participantes, sobre a necessidade da inclusão da carne no cardápio humano. <http://www.youtube.com/view_play_list?p=7ACDD3E7BBD6E0C3&search_query=mtv+de bate+vegetarianismo>. Já o programa da apresentadora Luciana Gimenez na Rede Tv, o Super Pop, recebeu ativistas do Ativeg para discutir sobre a utilização de animais em circo. <http://www.youtube.com/watch?v=Wj0Hv9E_DiU>
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Em meio a todas essas lutas e conquistas, quem sai ganhando são os animais, que dia a dia vem ganhando espaço na consciência humana.
6.6 A manifestação cultural dentro da ideologia vegetariana Assim como muitas ideologias, a ideologia possui grupos que se manifestam através da arte. Música, prosa, verso, fotografia, artesanato, desenhos e designes fazem parte dessa cultura. Um dos mais conhecidos blogs transmissor de pensamentos de amor aos animais (mas não de vegetarianismo em si) é o Cronicato. Nele encontramos variados tipos de pensamentos, porém sua maioria voltada ao prazer da convivência com os demais seres da natureza. <http://www.cronicato.com.br> (ANEXO 21 – Cronicato) Há também manifestações musicais a respeito do vegetarianismo. Um exemplo é a banda Confronto, que fala sobre abolição e outros temas ligados também ao vegetarianismo. As
músicas
podem
ser
ouvidas
através
do
myspace
da
banda:
<http://www.myspace.com/confronto>. Artesanatos de todos os tipos são vendidos em lojas online, sites e blogs de vegetarianismo e vegetarianos. Bolsas, sapatos, sacolas ecológicas, caixinhas, guardanapos, toalhas, enfim, todo o tipo de material é feito com material cruelty free e ilustrado com temas vegetarianos e/ou animais. (ANEXO 22 – artesanatos) Filmes e animações também fazem parte do movimento vegetariano. O curta “Bicho” conta a história de um menino que amava os animais, mas sua mãe sumia com todos, até o dia que ele encontra um bicho “diferente”. O filme pode ser visualizado no site “Porta Curtas” da Petrobrás:
<http://www.portacurtas.com.br/pop_160.asp?cod=8711&Exib=5937>.
Já
a
animação “Vacas com Armas” conta uma historinha divertida da batalha das vacas pela liberdade. (ANEXO 23 – DVD 2 – Vacas com armas) Tirinhas e cartoons também divulgam o vegetarianismo buscando um formato cômico. Duas tirinhas, entre as mais conhecidas, são a Verdetiras <http://verdetiras.blogspot.com/> e a Banana Pop <http://www.bananapop.com.br/> (ANEXO 24 – Tirinhas). Cartoons e charges podem
ser
encontrados
no
site
Ativismo.com
<http://www.ativismo.com/site/index.php?option=com_phocagallery&view=categories&Item id=100002> (ANEXO 25 – Cartoon e Charges)
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E como não poderia ser diferente, muitos designers disponibilizam, além das imagens da “passeata vegetariana”, papéis de parede (para computadores), cartões virtuais, “cenas” para messengers, avatares para messengers e sites, banners, enfim, todo tipo de imagem que possa ser utilizada para enfeitar, ilustrar, divulgar e conscientizar as pessoas, sobre o vegetarianismo, online e, muitas vezes, de maneira mais divertida e alegre do que as imagens chocantes da passeata, utilizadas com efeito de impacto. (ANEXO 26 – Avatares, Wallpappers, Cenas para MSN) Há também animações em flash com utilização de interatividade que, de forma prática e animada, educa e conscientiza mostrando a verdade por trás da comida, como esse exemplo da PETA que leva o nome de “Mama Kills Animals” (mamãe mata animais) e mostra uma mãe cozinhando um peru enquanto a pessoa que interage vê como realmente acontece desde o ínicio, ou seja, desde a morte do animal, sendo que depois a mesma mãe se torna uma pessoa mais amorosa e passa a preparar comida vegan. Tudo ocorre sempre através dos “cliques” do usuário: <http://www.peta.org/cooking-mama/> (ANEXO 27 – DVD 2 – Animação “Mama kills animals”) As produções culturais vegetarianas podem ser tanto divertidas, engraçadas, mostrando o lado bom e um mundo “verde” e alegre, como podem apelar para o lado mais chocante e cru, onde se manifesta mostrando a pesada realidade da morte. Mas, além de criações, ainda há outro ponto já citado anteriormente e que também aparece aqui: o boicote. Sim, o boicote à indústria de cinemas que ainda utilizam películas. O motivo? A utilização de uma gelatina especial, retirada de ossos de boi, na película cinematográfica. Dessa mesma maneira, o boicote aos filmes fotográficos também é realidade. Logo, cinema e fotografia, só se for digital.
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7 CONCLUSÃO A internet é, atualmente, a maior e mais ágil precursora do conhecimento, pois se trata de um meio de comunicação de via dupla, onde o usuário recebe e transmite informações à sua escolha e relevância, divulgando e expandindo cada vez mais novas correntes de pensamentos. Novas ideologias ou as chamadas ideologias dominadas não são facilmente aceitas na mídia de massa. Logo, a internet surge como um grande fator colaborativo para difusão desses novos ideais, tornando-se cada vez mais importante para a formação e ascensão de grupos unidos na pela causa que defendem. O vegetarianismo faz parte de uma ideologia dominada que luta pela liberdade e o fim da crueldade com os animais, e utiliza a internet como principal ferramenta de comunicação para obter e divulgar estudos e informações antes pouco exploradas. Nas entrevistas realizadas com adeptos dessa ideologia, todos afirmaram que a internet foi um fator fundamental para sua escolha, pois mesmo aqueles que não tiveram o primeiro contato de forma online contaram com a ajuda de sites, blogs e redes sociais para dar continuidade de maneira correta à sua dieta, tanto em questões nutricionais e palatáveis, quanto em instruções sobre ingredientes de origem animal. Observamos, neste estudo, que a internet tem papel fundamental como facilitadora para o ativismo, seja ele online ou de atuação externa. Como parte desse ativismo, o boicote se torna realidade entre consumidores vegetarianos, que buscam informações sobre produtos na rede. Entretanto, lojas virtuais ainda são pouco utilizadas para a compra de produtos alimentícios ou de higiene, sendo maior a procura por artesanatos, vestuários, livros e impressos, entre outros. Vimos que há uma tendência de mudança de hábitos também entre os demais consumidores, que a cada dia passam a se preocupar mais e a verificar os métodos de produção daquilo que consomem, buscando evitar a degradação da natureza e os maus tratos com animais. Podemos concluir que a internet é fator primordial na expansão do vegetarianismo, divulgando materiais e conquistando adeptos graças à coletividade e interação. Imagens, jogos, documentários e animações fazem parte da produção cultural dessa ideologia, e sua transmissão pela rede de forma fácil e gratuita serve para criar um ambiente de imersão aos adeptos do vegetarianismo, fixando idéias e metas.
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Com os programas federais que reforçam a inclusão digital no país, tais informações tendem a alcançar novas mentes a cada dia e a ultrapassar as barreiras das classes sociais, chegando a locais onde a informação antes era restrita. O ativismo proporcionado pelo virtual nos mostra seu real potencial de comunicação na medida em que a interação ultrapassa o ambiente online e chega às ruas, atuando com sucesso em campanhas por todo o país e pondo em prática o ponto fundamental deste estudo: a conexão das minorias na formação de um coletivo potente, cujo encontro e união de pessoas praticantes de uma mesma ideologia se devem à internet.
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