Alimentação Complementar Vegana em Crianças de 6 meses a 2 Anos

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UNIDADE DE ENSINO SUPERIOR DO SUL DO MARANHÃO / UNISULMA INSTITUTO DE ENSINO SUPERIOR DO SUL DO MARANHÃO / IESMA CURSO DE BACHAREL EM NUTRIÇÃO

ADRIANA FAGUNDES RODRIGUES GABRIELA AMARAL DOS SANTOS PAIVA

ALIMENTAÇÃO COMPLEMENTAR VEGANA EM CRIANÇAS DE 6 MESES A 2 ANOS: UMA REVISÃO DE LITERATURA

Imperatriz 2011


ADRIANA FAGUNDES RODRIGUES GABRIELA AMARAL DOS SANTOS PAIVA

ALIMENTAÇÃO COMPLEMENTAR VEGANA EM CRIANÇAS DE 6 MESES A 2 ANOS: UMA REVISÃO DE LITERATURA

Monografia apresentado ao Curso de Nutrição da Unidade de Ensino Superior do Sul do Maranhão – Unisulma / Instituto de Ensino Superior do Sul do Maranhão – IESMA como requisito para conclusão de curso. Orientadora: Neuza Oliveira Araújo

Imperatriz 2011


Adélia Diniz UNISULMA – Bibliotecária CRB 13/507

Rodrigues, Adriana Fagundes Alimentação complementar vegana em crianças de 6 meses a 2 anos: uma revisão de literatura. / Adriana Fagundes Rodrigues, Gabriela Amaral dos Santos Paiva. / Imperatriz, 2011. 45f.:il. Monografia (Graduação em Nutrição) – Curso de Nutrição. Instituto de Ensino Superior do Sul do Maranhão / Unidade de Ensino Superior do Sul do Maranhão, Imperatriz, 2011. 1. Crianças lactantes. 2. Alimentação complementar. 3. Alimentação vegana. I. Título. CDU 613.2 (812.1 Imperatriz) (02) R696a



Ao meu pai Jesus Nazareth Rodrigues Filho por ter me apoiado em cada decis達o tomada, psicologicamente e financeiramente e por sempre me guiar pelos melhores caminhos. A minha m達e Maria Fagundes Rodrigues por ter me apoiado financeiramente e emocionalmente durante toda aminha vida. Minha irm達 Tatiana Fagundes Rodrigues por me fazer saber o significado de uma verdadeira amizade, me apoiando emocionalmente e me ajudando e tudo o que precisei. Tudo mesmo! Adriana Fagundes Rodrigues


Dedico a minha querida e maravilhosa mãe Luciene dos Santos Paiva que tanto amo e vem me dado força e incentivo a cada dia, acreditando no meu potencial e investindo no meu futuro, sempre se esforçando ao máximo pra me dar o melhor e mais importante, que é o conhecimento. Ao meu pai, o meu herói João Amaral Paiva, que tomo como exemplo d superação e de força de vontade para minha vida, pois nunca se deixou abater com as dificuldades e sempre me ensinou a ser forte, nunca me deixando desanimar. A ele minha eterna gratidão e meu amor. Ao meu irmão Amon Gabriel dos Santos Paiva que me incentivou a estudar e a abrir meus horizontes para novas e grandes possibilidades, por acreditar no meu talento e no meu potencial e investir nisso. Ao meu irmão Jonatã dos Santos Paiva que me ensinou como agir diante das situações difíceis, por tantas vezes me ouvir quando eu estava angustiada e sem vontade de continuar, pelo amor e pelo cuidado de irmão mais velho. A minha sobrinha Camila Paiva Rabelo, minha princesa que me deixa feliz apenas pela sua existência. Aos meus avós maternos e paternos que me apoiaram me abrigando e me amando quando eu mais precisei durantes todos esses anos, sempre cuidando muito bem de mim. A todos os amigos que me disseram que eu iria conseguir, para não ser injusta em citar apenas alguns nomes. Gabriela Amaral dos Santos Paiva


AGRADECIMENTOS

Agradecemos esta monografia primeiramente a Deus que nos deu forças e inteligência para concluir esse trabalho. Agradecemos aos nossos pais por sempre estarem ao nosso lado em tudo o que precisamos nos dando apoio emocional e financeiro durante todo o curso, além de incentivo e amor em cada momento difícil e alegrando-se conosco a cada vitória conquistada. Aos professores que nos ajudaram nessa longa jornada com seus conhecimentos e conselhos, a cada um, muito obrigada! A Dr. Neusa Araújo pelo incentivo, apoio e orientação durante toda a pesquisa, que foi de suma importância para nosso crescimento científico. A todos os vegetarianos que nos ajudaram e apoiaram enviando matérias para nos ajudar nessa pesquisa.

Adriana Fagundes Rodrigues

Gabriela Amaral dos Santos Paiva


Ser vegetariano é uma situação em que todos ganham. Os animais ganham; o meio ambiente ganha; e as pessoas ganham uma vida mais saudável e mais longa. Sherrill Durbin


RESUMO

Neste estudo abordou-se questões relacionadas à alimentação complementar vegana em crianças de 6 meses a 2 anos de idade com o intuito de observar quais benefícios e/ou malefícios pode ocorrer e com isto avaliar se esta é uma dieta saudável. A alimentação complementar é uma fase muito importante na vida da criança, sendo definida como a alimentação oferecida no período após a amamentação exclusiva. Ou seja, quando qualquer alimento sólido ou líquido, em adição ao leite materno, é oferecido à criança. Na alimentação complementar de crianças veganas não ocorre o consumo de leite de outros animais, ovos, carnes e qualquer outro produto de origem animal. Esses alimentos normalmente asseguram o fornecimento de micronutrientes como ferro, zinco, vitamina B12, cálcio e proteína na dieta da criança, sendo assim, há a preocupação em fornecer todos os nutrientes essenciais para as crianças veganas através de alimentos vegetais. A revisão de literatura demonstrou que a alimentação complementar vegana, embora não possa ser considerada completa devido à necessidade de suplementação de vitamina B12, é uma dieta saudável e possível para a criança em período de alimentação complementar. Do ponto de vista metodológico, a pesquisa se caracterizou como qualitativa.

Palavras chaves: Crianças lactantes. Alimentação complementar. Alimentação vegana.


ABSTRACT

In this study we dealt with issues related to complementary feeding vegan the children from 6 months to 2 years old in order to observe what benefits and / or harm that may occur and assess whether this is a healthy diet. Complementary feeding is a very important phase in the life of the child, defined as the food offered in the period after exclusive breastfeeding. That is, when any food or liquid, in addition to breast milk is offered to children. In complementary feeding vegan is does not occur the consumption of milk of other animals, eggs, meat and other animal products. These foods usually ensure the provision of micronutrients such as iron, zinc, vitamin B12, calcium and protein in the diet of the child, therefore, the concern is to offer the essential nutrients for vegan children through plant foods. The literature review showed a need the vegan diet supplement, for this reason can not be considered complete due to the need for supplementation of vitamin B12, but is a healthy diet and possible for the child complementary feeding period. From the methodological point of view, the research is characterized as qualitative.

Keywords: Children breastfeeding. Complementary feeding. Vegan food.


LISTA DE QUADROS

Quadro 01: Dez passos para a alimentação saudável .............................................................. 26 Quadro 02: Esquema alimentar a partir do sexto mês ............................................................. 41 Quadro 03: Esquema alimentar a partir do sétimo mês ........................................................... 41 Quadro 04: Esquema alimentar a partir do décimo mês.......................................................... 42


SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................. 11 2 VEGETARIANISMO ........................................................................................................................ 13 2.1 Veganismo................................................................................................................................... 17 3 O ALEITAMENTO MATERNO E A ALIMENTAÇÃO COMPLEMENTAR ............................... 19 2.1

Fatores que devem ser considerados na alimentação complementar .................................... 22

4 PRÓS E CONTRAS DA DIETA VEGANA ..................................................................................... 27 4.1 Vantagens do veganismo ............................................................................................................. 28 4.2 Desvantagens do veganismo ....................................................................................................... 30 5 SUGESTÃO DE ESQUEMA ALIMENTAR .................................................................................... 38 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................................. 43 REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 44


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1 INTRODUÇÃO

Neste trabalho foi analisado o vegetarianismo estrito ou veganismo, com o intuito de aprofundar conhecimentos sobre os benefícios e malefícios que esta dieta pode provocar no organismo de uma criança com até dois anos de idade. Sendo esta, uma pesquisa sobre formas e alternativas de suprir todas as necessidades da criança sem retirar de sua rotina os hábitos veganos. Em pessoas que preferem ou necessitem de uma dieta restrita, como é o caso dos veganos, obterem as quantidades de nutrientes exigidas pelo o organismo humano pode ser um obstáculo. Com base nisto, surgiu o interesse em ser realizado este trabalho, pois existem crianças sendo alimentadas com uma dieta vegana em várias partes do mundo, e este período é muito importante para toda a vida de uma pessoa, sendo assim, é necessário saber se esta alimentação é realmente conveniente para uma criança, se não haverá perdas na saúde, no bem estar, no desenvolvimento do bebê. Naturalmente, os nutricionistas tendem a recomendar uma dieta mais variada possível, incluindo legumes, verduras e frutas, carnes e ovos, leite e derivados, para incluir na alimentação todos os nutrientes necessários, mas no caso de dietas veganas, como o nutricionista deve agir se não houver estudos que concluam se esta alimentação é saudável para a criança? Somente através de estudos, tanto bibliográficos como experimentais, pode existir uma base científica para responder estas indagações. Para realizar um acompanhamento alimentar a uma família, seja adulto, gestante, idoso ou criança, o profissional deve se despir de qualquer interpretação primária sobre o vegetarianismo, e estudá-lo a fundo, pois o importante na nutrição não é impor regras de alimentação, e sim estimular o ser humano a ter uma alimentação saudável, sem retirá-lo de sua cultura. Como diz no capítulo 1, artigo 5 do Código de Ética Do Nutricionista “o nutricionista deve agir de modo criterioso e transformador, de acordo com os padrões sócioculturais do meio em que estiver atuando, acatando os preceitos legais e respeitando os direitos do indivíduo, sem praticar discriminação de qualquer natureza”. Mesmo a cultura ocidental compreendendo que o organismo humano, para se manter viável, necessita de nutrientes de origem vegetal e animal, há correntes de pensamento que contrariam essa compreensão. Diante disso, surge a interrogativa: É possível suprir as


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necessidades de macro e micronutrientes de crianças dos seis meses até os dois anos de idade a partir de uma alimentação vegana, sem prejuízos para seu desenvolvimento? Esta monografia é construída a partir da literatura especializada tentou verificar se é possível suprir as necessidades de macro e micronutrientes de crianças dos seis meses até os dois anos de idade a partir de uma alimentação vegana, sem prejuízos para seu desenvolvimento, já que uma dieta vegana é restritiva de outras fontes de nutrientes tidos como indispensáveis a esse desenvolvimento. Do ponto de vista metodológico, o estudo se caracteriza como uma pesquisa bibliográfica, a qual é definida por Vergara (2007, p. 48), como “[…] o estudo sistematizado e desenvolvido com base em material publicado em livros, revistas, jornais, redes eletrônicas, isto é, material acessível ao público em geral”. Trata-se, conforme Vergara (2007), de um tipo de pesquisa que pode fornecer as bases analíticas para todos os demais tipos de pesquisa, mas também pode esgotar-se em si mesma.


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2 VEGETARIANISMO

O vegetarianismo criou e fortaleceu seu conceito ao longo do tempo, constituindose como uma alimentação livre de qualquer produto de origem animal, podendo ou não conter ovos e laticínios, de acordo com a classificação da dieta. Do ponto de vista de Silva e Mura (2000, p. 1022), “A palavra vegetariano vem da palavra latina vegetare, que significa “dar vida” “animar”. Quando os romanos usavam o termo homuvegetus eles se referiam a uma pessoa vigorosa e saudável”. Assim, havia uma associação entre vigor e a saúde e o consumo de uma dieta com base vegetariana. Existiram e existem durante a história, vários grupos de pessoas que consumiram e consomem a dieta vegetariana. Dentre eles encontram-se: “essênios, budistas, tibetanos, iogues, alguns filósofos gregos, incas, astecas, maias, tolteca, diversas religiões na índia, medicina indiana ayurvédica e adventistas” (SILVA; MURA, 2007, p. 1022). O vegetarianismo em cada parte do mundo tem suas particularidades características de cada local. No entanto, via de regra, encontra-se relacionado a movimentos religiosos. Do ponto de vista do criacionismo, o vegetarianismo existe desde a criação do ser humano, como fica demonstrado em Gênesis 1.29: “e disse Deus ainda: tenho vos dado todas as ervas que produzem sementes, e se acham sobre a face de toda a terra, bem como todas as arvores em que há fruto que dá semente. Servir-vos-ão para mantimento”. Segundo este texto, desde a criação do homem e da mulher, Adão e Eva, eles se alimentavam de vegetais, sem alimentos de origem animal. Com isso, depreende-se que eles foram os primeiros vegetarianos da história. Na Itália, em cerca de 540 d.C. São Bento (480 – 547), monge fundador da uma Ordem Religiosa Beneditina, também denominada, segundo Barkas (1975 apud UVI, 2002), criou a Regula Monachrum, descrevia como o monge perfeito, aquele que deve dominar seus desejos, e para isso, conforme Barkas (1975 apud UVI, 2002, p.1), “jejum e abstinência de carne eram estimulados como um meio de aumentar a força de vontade”. Entretanto, apenas a carne bovina era retirada da alimentação, a de peixe era permitida. O objetivo principal da abstinência de carne bovina neste contexto era a criação de uma força interior, uma resistência a qualquer tentação, uma força de vontade que o monge tinha que obter, para mostrar que era capaz de resistir a seus próprios desejos e às tentações mundanas.


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Este foi um período em que os monastérios cresceram muito e de forma rendosa, por exemplo, na Inglaterra. A igreja também enriqueceu muito com isso, pois recebiam muitas doações dos reis e nobres da época com a esperança de salvarem sua alma. Com toda esta riqueza em mão, os monges começaram a rejeitar ou a descumprir as antigas regras de abstinência de carne bovina na alimentação, e começaram a usufruir da fartura de alimentos que as riquezas podiam proporcionar. Com isto a carne bovina voltou a ser consumida entre eles. Mas ao ser descoberto tal consumo, a carne foi novamente proibida, só que agora, deforma parcial, na alimentação dos monges, com a criação da “sala de piedade”, local onde era permitido o consumo da carne (WRIGHT, 1871 apud UVI, 2002). Naquele período, o principal motivo de não se consumir carne era exclusivamente religioso. A abstinência de carne era obrigatória aos monges, mas ao longo da história, o hábito de não se consumir carnes, ou pelo menos, de se consumir menos, foi ganhando forças, o que resultou em uma categoria de adeptos de uma alimentação de base vegetal, uma vez que se defendia a ideia de que o vegetarianismo caracterizava um estilo de vida saudável e menos agressivo ao meio ambiente. Até 1847, a palavra “vegetarianismo” não existia. Assim, o consumo de vegetais era conhecido como ‘dieta vegetal’ ou ‘pitagórica’, numa alusão a Pitágoras de Samos, (SCHULTE; PORTINARI; GODOY, 2011) que defendeu esse tipo de alimentação. No referido ano de 1847, surgiu na Inglaterra a Sociedade Vegetariana Britânica, que existe até os dias atuais, cuja associação, cunhou o termo vegetarianismo. No entanto, o vegetarianismo não ficou restrito à dimensão religiosa. Tanto é, que “No século 18, Benjamin Franklin talvez foi o mais famoso dos cientistas, dos médicos e dos filósofos norte-americanos a defender dietas vegetarianas” (SHILS et al, 1998 p.105). O século XVIII foi muito importante para a história do vegetarianismo, o qual ganhou defensores tão ardorosos, que terminaram por realizar verdadeiras campanhas em sua defesa. Isso se constituiu como a base fundante da ideologia que mantém o vegetarianismo até agora, neste início de século XXI. Ao longo da década de 1850 várias reuniões da The Vegetarian Society foram realizadas em grandes cidades. Com isso, de acordo com Shils et al (1998, p.105), “O movimento vegetariano expandiu-se consideravelmente no século 19 com a formação de outras sociedades, estabelecimentos de saúde, publicação de livros e abertura de restaurantes, todos promovendo dietas vegetarianas”.


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Em 1973, o psicólogo britânico Richard D. Ryder, depois de ter participado de experiências com animais não-humanos, passou a advogar contra esta prática criou o conceito de especismo (SCHULTE; PORTINARI; GODOY, 2011) defendendo atribuição de direitos aos não-humanos. Para esse estudioso, o vegetarianismo representa, de forma prática, a defesa dos direitos dos animais e da natureza. Ele sugere que não deve haver exploração dos animais em nenhuma circunstância, e que a preservação ambiental – ar, solo, água – deve ser realizada continuamente. “Em 1975, inspirado por Ryder, o filósofo utilitarista australiano Peter Singer publicou seu livro mais famoso sobre o tema, Libertação Animal, citado como grande influência por muitos dos ativistas contemporâneos” (SCHULTE; PORTINARI e GODOY, 2011 p. 8). Também nos anos 1970 houve as primeiras ações diretas de libertação de animais de fazendas de criação e laboratórios, e sabotagem dos mesmos, por parte da Frente de Libertação Animal (ALF) (SCHULTE; PORTINARI; GODOY, 2011), com o intuito de defender os ideais de não maus tratos ou mortes dos animais. Para se participar de uma “organização composta por grupos dispostos a levar adiante ações de libertação e sabotagem” (SCHULTE; PORTINARI; GODOY, 2011 p. 9), como as descritas acima, existiam critérios preestabelecidos, entre eles, o principal era ser vegetariano. O vegetarianismo, então, se tornou uma frente de apoio à atribuição de direitos aos animais e a não exploração de qualquer produto de origem animal não-humano. O Vegetarianismo parte do princípio de que, para além das dietas à base de produtos de origem animal, há a possibilidade de nutrição humana através de dietas que tenham por base, produtos vegetais. Então, “Por séculos, dietas vegetarianas têm sido utilizadas para suprir necessidades nutricionais, em países pouco desenvolvidos talvez mais frequentemente devido a necessidades econômicas” (PEDRO, 2010 p.173), de modo especial, por serem mais acessíveis e baratas que aquelas à base de carnes. “Pitágoras é considerado o fundador do movimento vegetariano na Grécia Antiga. O século 20 testemunhou uma maior expansão deste interesse e conhecimento” (SHILS, M. E., et al, 1998 p.105). A população vegetariana cresce a cada ano, e se torna cada vez mais organizada. “Uma pesquisa de 1994 relatou que aproximadamente 12,4 milhões de pessoas nos EUA se consideram vegetarianos” (STAHLER; 1994 apud SHILS, et al, 1998 p.105). Este é um


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número muito expressivo, pois representa aproximadamente 7% da população e próximo ao dobro do número de vegetarianos relatados num período de 8 anos (SHILS et al, 2002). Atualmente, segundo o IBOPE em pesquisa publicada em 03/03/2011, no Brasil existem 9% de vegetarianos, entre homens e mulheres a partir de 18 anos. É sabido que os pais sempre transferem suas crenças aos filhos, tentando influenciá-los a seguir seus ensinamentos, por este motivo, é totalmente natural supor que os filhos destes vegetarianos também sejam alimentados com uma dieta vegetariana até poderem escolher sua alimentação definitiva. O vegetarianismo, como já se afirmou antes, não se caracteriza como um movimento unificado, mas multifacetado. Ou seja, há diversos tipos de vegetarianismo. A denominação destes tipos de vegetarianismo está diretamente relacionada com os alimentos que são consumidos na dieta. Os principais tipos de dietas vegetarianas, segundo o Slywitch (2010a p. 8) são: 1. Vegetarianismo Puro, Verdadeiro, Estrito ou Veganismo: esse grupo não come qualquer alimento derivados de animais (ovos, laticíneos, mel e etc.). No caso específico dos veganos não há utilização de nada de origem animal como também: tecidos de origem animal (como seda, lã ou couro); 2. Lacto-vegetarianismo: não consomem carnes nem ovos, como o nome sugere; 3. Ovo-vegetarianismo: não comem carnes, leite e laticíneos, ingerem ovos. São poucos os indivíduos que seguem esse padrão alimentar; 4. Ovo-lacto-vegetarianismo: apenas não consomem carnes, o grupo aceita o consumo de ovos e laticínios, essa é a opção da maioria dos vegetarianos;

Mas não é só. Além destes tipos de vegetarianismo, existem pelo menos outros dois, menos comuns que os demais. Os quais são, segundo Silva e Mura (2007 p. 1023): “1. Cruvinismo: composta somente de alimentos crus, preferencialmente de alimentos frescos, brotos germinados, frutas, hortaliças e oleaginosas. 2. Frugivorismo: dieta basicamente de frutas, sementes e oleaginosas”. Os nove grupos de alimentos que compõem o guia alimentar da Universidade de Loma Linda, para vegetarianos, são descritos por Sabaté (2001 apud COUCEIRO; SLYWITCH; LENZ, 2008 p. 368), como: “cereais integrais, leguminosas, hortaliças, frutas, oleaginosas, óleos vegetais, laticínios, ovos e doces”. Os cincos maiores grupos alimentares (cereais integrais, leguminosas, hortaliças, frutas, oleaginosas) formam a base trapezóide dos alimentos característicos da alimentação vegetariana estrita. No topo da pirâmide estão os quatro grupos alimentares opcionais que incluem óleos vegetais, laticínios, ovos e doces. No entanto, neste trabalho, não se estudou todos os


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tipos de vegetarianismo, mas apenas o vegetariano estrito ou vegetarianismo puro, ou ainda, o veganismo, que é considerado um dos tipos mais rígidos do vegetarianismo.

2.1 Veganismo O veganismo, por suas características, talvez seja a forma mais expressiva e verdadeira do vegetarianismo. Tanto é, que, de acordo com Shils et al (2002, cap. 106, p. 2), “As pessoas que excluem todos os produtos animais podem ser chamadas de vegetarianos estritos, totais ou puros”. Este grupo exclui a carne de animais (carne vermelha, aves, peixe) e também outros produtos animais (ovos e lacticínios). Além disso, exclui ainda o mel e a gelatina, o uso de produtos de origem animal como o couro, a seda, a lã e lanolina, bem como produtos testados em animais. Por sua posição radical, abomina os espetáculos em que a exploração animal é motivo de entretenimento (circo, touradas, etc.) (SHILS et al, 2002). Segundo Schulte, Portinari e Godoy (2011 p. 9), o veganismo ressalta justamente, A necessidade de uma alimentação saudável que respeite os animais, também enfatiza a importância de preservar o solo e o uso correto da terra, para que futuras gerações não a encontrem com erosão, queimada, sem os minerais necessários para uma vida saudável. Os veganos confiam em métodos naturais (alimentação pura, ar fresco, sol, exercício etc.) ao invés de vacinas e medicamentos para manter corpo e mente saudáveis.

No caso exclusivo da dieta vegana, estudada neste trabalho, qualquer produto de origem animal, ou em que sejam utilizados animais em seu processo de fabricação, ou em sua composição, não são consumidos por seus integrantes. Neste caso, incluem-se produtos de beleza em que são utilizados animais como cobaias, e qualquer tipo de abuso ou exploração a animais não-humanos e humanos. Isso caracteriza, conforme Guimarães (2008, p.1) “um estilo de vida que evita toda forma de exploração e violência, sejam estas contra animais, humanos ou o planeta no qual vivemos”. Além disso, defendem também a preservação ambiental para as futuras gerações. São sociedades ativistas muito organizados. Significa dizer, que o veganismo não se apresenta apenas como uma possibilidade dietética, mas como uma ideologia. Para se ter uma ideia, em concordância com Guimarães (2008, p. 1), “Poucos são aqueles que se iniciam no veganismo por uma questão meramente de saúde”. Ou seja, os praticantes do veganismo não são apenas pessoas preocupadas com a alimentação, mas principalmente com a defesa dos animais e do meio ambiente. Ou seja, o


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veganismo, para muito além das potencialidades alimentares, impõe-se como um movimento político. O veganismo pode ser considerado a parte prática da defesa dos direitos dos animais, pois se apresenta como um mecanismo de ação direta que pugna por mudanças no cenário de exploração, e não apenas uma amenização do sofrimento dos animais. Ainda na compreensão de Guimarães (2008, p1), O maior número de pessoas que abraçam o veganismo é composto por aquelas que se sentem tocadas ao saberem que sua alimentação até então era dependente do sofrimento de animais inocentes, mortos para satisfazer uma necessidade que elas agora sabem não ser essencial.

Seus adeptos são extremamente envolvidos com as causas do veganismo, e as defendem através de campanhas, passeatas e divulgação pelas diversas redes de comunicação. Observando a questão alimentar, “o padrão alimentar do vegetariano estrito é semelhante ao padrão do ovo-lacto-vegetariano, exceto pela exclusão adicional de ovos, laticínios e outros produtos de origem animal” (COUCEIRO; SLYWITCH; LENZ, 2008 p. 368). A dieta vegana, ao excluir todos os produtos de origem animal, exclui também, em potencial, nutrientes essenciais para organismo humano, mas na maioria dos casos, ocorre um aumento da variedade no consumo diário de alimentos vegetais. Com isto, a alimentação variada traz benefícios à saúde. Isto é importante para a alimentação da criança, a qual começa com o leite materno, e em seguida passa para uma alimentação complementar a partir dos 6 meses de idade, a qual é fundamental para seu crescimento e desenvolvimento saudáveis. A alimentação vegetariana complementar para uma criança de 6 meses a 2 anos de idade é uma escolha da família, por isto, é necessário que os pais e/ou cuidadores tenha total conhecimento sobre a dieta vegetariana, e no caso deste trabalho, sobre a dieta vegana, para que a criança tenha disponível uma alimentação completa em macro e micronutrientes. Este período tem consequências não só na própria infância, mas também por toda a vida. Existem fatores específicos da alimentação infantil dos 6 meses aos 2 anos de idade que devem ser observados e cuidadosamente trabalhados na alimentação da criança, principalmente em caso de crianças veganas, cuja os alimentos se restringem a produtos de origem vegetal, com exceção do leite materno. Por estes motivos é necessários saber o que é essa alimentação complementar e quais fatores devem ser levados em consideração durante este período.


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3 O ALEITAMENTO MATERNO E A ALIMENTAÇÃO COMPLEMENTAR

O aleitamento materno se apresenta da maior importância para o desenvolvimento saudável da criança, e não apenas por se constituir como fonte de alimento físico, mas também por se caracterizar como uma fonte de nutrição psicológica. Tanto é que o indicado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) (1995 apud BRASIL, 2002, p.21) é que o bebê seja alimentado diretamente no seio materno, de modo “exclusivo nos primeiros quatro a seis meses de vida”. Ou seja, só após o sexto mês de vida deve-se iniciar a alimentação complementar da criança. O leite materno exclusivo até este período é essencial para o bom desenvolvimento da criança, principalmente “fornecendo água, com fatores de proteção contra infecções comuns da infância, isento de contaminação e perfeitamente adaptado ao metabolismo da criança” (BRASIL, 2002, p.19). Além disto, o aleitamento materno é muito importante para o vínculo mãe e filho e o aumento da probabilidade de aceitação de novos alimentos no período de alimentação complementar devido à diversidade de sabores que o leite materno pode conter. Em período anterior ao atual a alimentação complementar era denominada alimentação de desmame, mas esta expressão deve ser evitada, pois este período não se trata de retirar o leite materno da alimentação do bebê, mas de suplementá-lo com outros alimentos. Para Brasil (2002, p. 23-24). “Alimentos de transição’, antigamente chamados de ‘alimentos de desmame’, se referem aos ‘alimentos complementares’ especialmente separados para crianças pequenas até que elas passem a receber os alimentos consumidos pela família”. Existem dois momentos na alimentação complementar: O primeiro deles se dá “quando um alimento complementar é especificamente preparado para atender as necessidades nutricionais e fisiológicas da criança” (DEVINCENZI et al, 2004, p.9) este é chamado de alimento de transição, pois a criança precisa de cuidados específicos na sua alimentação, não podendo consumir os mesmo alimentos da família. O segundo momento é “quando os alimentos complementares oferecidos à criança são os mesmos consumidos pelos outros membros da família são chamados alimentos da família” (DEVINCENZI et al, 2004, p. 9), sendo um processo gradativo e demorado, pois a criança deve está preparada para receber outros alimentos em sua dieta, e seu organismo deve estar pronto para digerir-los.


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Conceitualmente, a alimentação complementar é, segundo a OMS (1988 apud MONTE; GIUGLIANI, 2004, p.132), “definida como a alimentação no período em que outros alimentos ou líquidos são oferecidos à criança, em adição ao leite materno”, sendo assim, qualquer líquido oferecido à criança também é considerado alimento complementar, inclusive a água, que só deve ser ofertada a partir de quando se iniciar a ingestão de outros alimentos além do leite materno. Segundo Lacerda et al (2002 apud LOFGREN, 2008, p.12) a alimentação complementar “é o processo pelo qual novos alimentos são introduzidos na alimentação da criança em um primeiro momento, de forma a complementar o leite materno e, progressivamente, vir a substituí-lo”. Resumidamente, Brasil (2002, p. 23) diz que os alimentos complementares “são quaisquer alimentos que não o leite humano oferecidos à criança amamentada”. Constata-se que o “período natural de amamentação (sem a influência da cultura), segundo diversas teorias, seria de 2,5 a sete anos” (BRASIL, 2002, p. 23). Período que se costuma ou costumava-se durar o aleitamento materno, já que cada vez mais mulheres param de amamentar mais cedo seus filhos, devido a diversos fatores, como falta de paciência e retorno ao trabalho. O período de duração do aleitamento materno é particular de cada família, mas é consenso que o aleitamento materno deve continuar até os dois anos de idade, ou indica-se que “pelo menos até o primeiro ano de vida” (BRASIL, 2002, p.24) a criança deve receber leite materno, pois o não cumprimento desta indicação pode acarretar diversos prejuízos à saúde da criança. A alimentação complementar precoce prejudica o desenvolvimento normal e saudável da criança, o organismo de um bebê não está preparado para digestão de outros alimentos, se não o leite materno, até os 6 meses de idade. Existem estudos que indicam que a alimentação complementar deve ser oferecida aos 6 meses de idade, mas “é importante ressaltar que “não deve ser recomendada antes dos quatro meses de idade, uma vez que os malefícios da introdução ultrapassam, em muito, qualquer benefício em potencial” (BRASIL, 2002, p.24). Nestes estudos para verificar que prejuízos a criança pode ter quando a alimentação complementar for ofertada antes do recomendado, realizado tanto em países desenvolvidos como em desenvolvimentos, incluindo o Brasil, as pesquisas “demonstram que a introdução precoce de alimentos complementares aumenta a morbimortalidade infantil” (MONTE; GIUGLIANI, 2004 p.132).


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Um curto período de tempo de aleitamento materno e a introdução precoce da alimentação complementar causam “uma menor ingestão dos fatores de proteção existentes no leite materno, além de os alimentos complementares serem uma importante fonte de contaminação das crianças” (MONTE; GIUGLIANI, 2004 p.132). Outros problemas que podem ser observados quando a alimentação complementar é oferecida precocemente para a criança são quadros de “maior ocorrência de anemia, doenças infecciosas, particularmente gastrintestinais e respiratórias e comprometimento no crescimento físico da criança” (OLIVEIRA et al, 2005 apud LOFGREN, 2008, p. 22). O organismo da criança, ao nascer, ainda não está preparado para ingerir outros alimentos além do leite materno, apenas aos 6 meses que o organismo está apto para digerir amido. Quando a alimentação complementar precoce Lofgren (2008, p.24) confirma que aumenta-se as chances de “alergias, ocorrerem episódios de diarréia e até crescimento inadequado”. E ainda interfere na absorção de nutrientes importantes existentes no leite materno, como o “ferro” e o “zinco” e “reduz a eficácia da lactação na prevenção de novas gravidezes” (OSKI, LANDAW, 1980; BELL; KEEN; LONNERDAL; MCNEILLY; GLASIER; HOWIE; 1985 apud MONTE; GIUGLIANI, 2004, p.132). Segundo Lacerda (2002 apud LOFGREN, 2008, p.15), na criança, só a partir dos seis meses de idade que: “[...] ocorre à erupção da dentição decídua, o aumento da destreza manual, da secreção da amilase intestinal e redução do reflexo de expulsão, e estes são indicativos de maturidade que autorizam o início da alimentação complementar”. A influência familiar é muito importante para que o aleitamento materno exclusivo até o sexto mês de vida. Em um estudo de Susin, Giugliani e Kummer (2005 apud LOFGREN, 2008, p. 23), foi avaliado como a família influencia no período de amamentação exclusiva e seus efeitos, os resultados demonstraram que principalmente os avós influencia de forma desfavorável a amamentação exclusiva, pois alegam que a criança necessita de água, chás e outros leites para suprir suas necessidades, com isto, abandona-se mais cedo o período de aleitamento exclusivo. Isto se dá pela presença de muitos tabus e crenças sobre a alimentação complementar, estes devem ser esclarecidos e evitados, pois a ingestão de água, chás e outros leites diminuem a ingestão de leite materno. Para que não ocorram prejuízos a saúde da criança, e que ela possa desfrutar de um crescimento adequado é que se sugere a introdução da alimentação complementar a partir dos 6 meses de vida e que a amamentação seja contínua neste período até os 2 anos de idade.


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Em pesquisa realizada por Saldiva, Mondini e Escuder (2007 apud LOFGREN, 2008) o padrão da dieta de crianças de 6 a 12 meses de idade, demonstrou que metade das crianças foram amamentadas exclusivamente com leite materno até o 6º mês de vida, mas menos da metade foram amamentadas até os 12 meses de idade. Este estudo também analisou que os alimentos mais consumidos dos 6 aos 12 meses, depois do leite, são as frutas, mas se torna necessário também uma alimentação com mais preparações que possuam ferro em sua composição, pois crianças que não receberam alimentação “salgada”, constituindo uma alimentação não láctea, até os 9 meses, sofreram anemia, pois são nessas preparações que encontram-se alimentos ricos em ferro, necessário a partir dos 6 meses de idade (SALDIVA; MONDINI; ESCUDER, 2007 apud LOFGREN, 2008). As principais fontes de ferro em uma dieta onívora são: carnes, leguminosas e a gema de ovo, associados com as frutas cítricas que tem poder de aumentar a absorção de ferro inorgânico.

2.1 Fatores que devem ser considerados na alimentação complementar

São diversos os fatores que devem ser considerados na alimentação complementar da criança. Dentre eles, a densidade energética. Conforme Brasil (2002, p. 25), Por densidade energética, entende-se o número de calorias por unidade de volume ou peso do alimento. É de extrema importância o conhecimento da densidade energética dos alimentos e das dietas para as recomendações da ingestão de energia dos indivíduos, de acordo com as suas necessidades.

As recomendações de densidade energéticas da OMS de 1998, através de novas pesquisas, foram consideradas superestimadas. As atuais estimativas de requerimento total de energia para as crianças menores de 2 anos são baseadas em dados de estudo longitudinal de crianças americanas e são diferenciadas por idade da criança, práticas alimentares (amamentadas e nãoamamentadas) e sexo (DEWEY; BROWN, 2003, apud MONTE; GIUGLIANI, 2004, p. 133).

O atual requerimento total de energia estimado para crianças amamentadas saudáveis é de aproximadamente “615 kcal/dia dos 6 aos 8 meses de idade, 686 kcal/dia dos 9


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aos 11 meses e 894 kcal/dia dos 12 aos 23 meses” (DAELMANS; MARTINES; SAADEH,. 2003, DEWEY; BROWN, 2003, apud MONTE e GIUGLIANI, 2004, p.133). A densidade energética do leite materno não é a mesma entre todas as lactantes, e pode variar não apenas em nível geográfico, mas mesmo de mulher para mulher. Em países em desenvolvimento, como o Brasil, varia de 0,53 a 0,70kcal/g já em países desenvolvidos ou industrializados a variação é de 0,60 a 0,83kcal/g (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 1998a apud BRASIL, 2002, p.27). Estima-se que, em média, as crianças de seis a oito meses amamentadas recebam, através do leite materno, 473kcal/dia. Já as crianças maiores, de nove a onze meses e de doze a 23 meses, ingerem 379 e 346kcal/dia provenientes do leite materno, respectivamente.

Para suprir o total necessário do requerimento energético deve ser elaborada uma alimentação complementar adequada. Outro fator que deve ser considerado em relação à densidade energética é quanto a quantidade de proteína na alimentação da criança, pois existem estudos demonstrando que a ingestão de 4g de proteína/kg/dia (16% do total de energia ingerida) para crianças entre 8 meses e 2 anos de idade podem acarretar sobrepeso. Estes resultados não foram encontrados em dietas com 15% de proteínas do total consumido na alimentação diária. (FAO/WHO/UNU, 2007 apud STAPE; FERNANDES, 2009). Por isto é recomendado que não seja ultrapassada a taxa de 15% de proteína na alimentação da criança durante o período de alimentação complementar para não acarretar em problemas posteriores de sobrepeso. Com relação aos lipídios na dieta da criança em período de alimentação complementar o indica é de 30 – 40% da alimentação total, estes valores são indicados como suficientes para a ingestão adequada de ácidos graxos essenciais, densidades energética e absorção de vitaminas lipossolúveis (PAHO/WHO, 2003 apud STAPE e FERNANDES, 2009 p. 4). Mas não é só. Na composição da alimentação complementar da criança, devem ser considerados ainda, muitos outros fatores, o que inclui as principais fontes de micronutrientes. Os micronutrientes são elementos fundamentais para a criança, embora em pequenas quantidades, são essenciais para o bom funcionamento do metabolismo. As principais preocupações neste período são: ferro, zinco, vitamina D e vitamina A.


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Ferro: A recomendação para ingestão diária de ferro (IDR) para lactentes de 7-12 meses é de 11mg/dia e para crianças de 1-3 anos de idade é de 7mg/dia (RONALD; KLEINMAN, 2009 apud STAPE; FERNANDES, 2009 p. 5). Zinco: A densidade nutricional de zinco preconizada para a alimentação complementar é de 0,7mg/100Kcal (SARNI; SOUZA, 2008 apud STAPE; FERNANDES, 2009 p. 5-6). Vitamina D: A quantidade de vitamina D no organismo depende primordialmente da exposição direta da pele à luz solar. A ingestão dietética se torna importante apenas em caso de produção endógena inadequada ou depleção das reservas corporais. Recomenda-se a exposição solar, a partir da segunda semana de vida, sendo suficiente a exposição semanal de 30 minutos, com a criança usando fraldas ou de 17 minutos/dia com exposição da face e mãos da criança (SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA, 2006/2008 apud STAPE e FERNANDES, 2009 p. 6). Vitamina A: “Se a mãe tem uma dieta com aporte adequado de vitamina A, a oferta de alimentos complementares ricos nessa vitamina facilmente supre as necessidades do bebê amamentado” (MONTE, CRISTINA M. G.; GIUGLIANI E. R. J., 2004 p. 5). Em outros casos são fornecidos sua suplementação gratuitamente em postos de saúde, pelo governo federal.

Estes são os principais micronutrientes que devem ser observados na alimentação complementar em uma dieta onívora, mas, se tratando de uma alimentação restrita como a vegana, outros micronutrientes necessitam ser vistoriados regularmente através de exames bioquímicos, sendo tratados estes assuntos no capítulo seguinte. Para oferecer esses nutrientes de modo que a criança possa absorvê-los de forma satisfatória, é necessário que o alimento possua uma consistência adequada. Aos 6 ou quando o bebê deixa de se alimentar de forma exclusiva com leite materno, é necessário iniciar a alimentação complementar, a qual deve ser preparada com alimentos de consistência pastosa, como purês, alimentos amassados com garfo ou raspados com a colher. Os alimentos nunca devem ser batidos no liquidificador ou triturados, pois a consistência pastosa irá incentivar a mastigação da criança. Aos poucos, pode-se evoluir a alimentação para alimentos semi-sólidos. Não se pode esquecer que aos 8 meses de idade a criança já possui capacidade de comer pedaços pequenos de alimentos. É o momento de “comer com os dedos” (STAPE; FERNANDES, 2009 p. 7), ou seja, pegar os alimentos com a própria mão para levar boca. Uma alimentação complementar deve, além de macro e micronutrientes adequados, ser uma preparação elaborada “sem muito sal ou condimentos, de fácil consumo e boa aceitação pela criança, em quantidade apropriada, fáceis de preparar a partir dos alimentos da família e com custo aceitável para a maioria das famílias” (CRISTINA; MONTE; GIUGLIANI, 2004, p.133). Aos 12 meses podem ser consumidos os alimentos já próprios da família em consistência normal. A partir desta idade a criança já possui destreza, digestibilidade e capacidade de mastigação dos alimentos consumidos por toda a família. No entanto, o


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metabolismo da criança ainda não funciona como o das pessoas adultas, de sorte que necessário considerar também, qual a frequência adequada das refeições. Para casa criança, deve ser observado o poder de saciedade do alimento, “a freqüência com que os alimentos complementares devem ser oferecidos às crianças varia de acordo com a densidade energética dos alimentos da dieta” (BRASIL, 2002, p. 33). “Recomenda-se introduzir os novos alimentos gradualmente, um de cada vez, a cada 3 a 7 dias” (MONTE; GIUGLIANI, 2004 p.134). É normal crianças rejeitarem novos alimentos, e isto não deve desestimular a oferta por estes itens, mas devem ser oferecidos novamente em outro momento. Quando uma criança rejeitar algum alimento, este deve ser ofertado novamente após alguns dias, “em média, a criança precisa ser exposta a um novo alimento de oito a 10 vezes para que o aceite bem” (MONTE; GIUGLIANI, 2004, p.133). Como nesta fase a criança está aprendendo a distinguir os sabores dos alimentos, “eles devem ser oferecidos separadamente, um a um, de forma lenta e gradual” (LOFGREN, 2008, p.21), com isto a criança descobrirá o sabor de cada alimento, e a mãe pode identificar quais alimentos não são aceitos pela criança, e oferecê-lo novamente após alguns dias. Neste período o cuidador deve ter muita paciência com a criança, “pois a apresentação tanto dos alimentos quanto dos utensílios é novidade, e isso pode se tornar difícil e demorado” (LOFGREN, 2008, p.21). Quanto à frequência com que os alimentos complementares devem ser oferecidos às crianças varia de acordo com a densidade energética dos alimentos da dieta (BRASIL, 2002 p.33). As informações sobre o número de refeições indicado para crianças a partir dos 6 meses são limitadas. Muitos são os fatores que interferem nas quantidades de refeições servidas a crianças, como disponibilidade de tempo da mãe para preparar o alimento, ou disponibilidade de alimento, além de manifestações de fome pela criança, ou sinais físicos identificados pela mãe, como a “barriga murcha” (BRASIL, 2002, p. 75-76). Existe no Brasil os 10 passos para uma alimentação saudável para crianças de 0 a 2 anos de idade que orienta como ofertar os alimentos corretamente para a criança.. São eles:


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Quadro 1 – Dez passos para a alimentação saudável Passo 1 Passo 2

Dar somente leite materno até os 6 meses, sem oferecer água, chás ou qualquer outro alimento. Ao completar 6 meses, introduzir de forma lenta e gradual outros alimentos, mantendo o leite materno até os dois anos de idade ou mais. Passo 3 Ao completar 6 meses, dar alimentos complementares (cereais, tubérculos, carnes, leguminosas, frutas e legumes) três vezes ao dia, se a criança estiver em aleitamento materno. Passo 4 A alimentação complementar deve ser oferecida de acordo com os horários de refeição da família, em intervalos regulares e de forma a respeitar o apetite da criança. Passo 5 A alimentação complementar deve ser espessa desde o início e oferecida de colher; iniciar com a consistência pastosa (papas/purês) e, gradativamente, aumentar a consistência até chegar à alimentação da família. Passo 6 Oferecer à criança diferentes alimentos ao dia. Uma alimentação variada é uma alimentação colorida. Passo 7 Estimular o consumo diário de frutas, verduras e legumes nas refeições. Passo 8 Evitar açúcar, café, enlatados, frituras, refrigerantes, balas, salgadinhos e outras guloseimas, nos primeiros anos de vida. Usar sal com moderação. Passo 9 Cuidar da higiene no preparo e manuseio dos alimentos; garantir o seu armazenamento e conservação adequados. Passo 10 Estimular a criança doente e convalescente a se alimentar, oferecendo sua alimentação habitual e seus alimentos preferidos, respeitando a sua aceitação. Fonte: Brasil (2010b)

Seguindo as indicações do 4º passo, a criança deve receber alimentos quando demonstrar fome, pois uma rigidez de horários pode prejudicar sua capacidade de distinguir o que é fome e quando está satisfeito com a quantidade ingerida, para isso deve-se sempre existir intervalos regulares entre as refeições, mas não rigidez (BRASIL, 2010). A alimentação complementar é um período muito importante de crescimento e reconhecimento dos alimentos e sabores, por isso é muito importante um acompanhamento especial nesta fase da vida. Carências nutricionais na infância podem gerar problemas sérios de saúde na vida adulta, uma dieta mal elaborada pode causar diversos prejuízos, até mesmo fatais, para a criança. Por este motivos, antes de escolher uma dieta como a vegana para um período tão importante, como é o de alimentação complementar dos 6 mês aos 2 anos de idade, é necessário saber quais as vantagens e desvantagens que esta alimentação expõe a criança, pois somente com o conhecimento sobre as indicações nutricionais para crianças veganas é que se pode elaborar um cardápio o mais nutricionalmente completo possível.


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4 PRÓS E CONTRAS DA DIETA VEGANA

No vegetarianismo estrito, o bebê não é privado do leite materno, já que no contexto do vegetarianismo, o que se defende é a não exploração de animais (seres humanos ou não). No caso do aleitamento, não ocorre exploração, apenas um ciclo natural de vida, sendo o leite da mãe direcionado apenas para o filhote da sua espécie. “Os bebês veganos tomam leite materno, como é preconizado para as crianças” (SLYWITCH, 2010b, p. 82). O leite materno é gerado especificamente para a criança, assim como em todos os mamíferos. Segundo McKeith (2009, p. 70), “cada mamífero produz um leite diferente em termos de qualidade e tipos de proteínas, gorduras, sais minerais, vitaminas e elementos traço; trata-se de uma composição bioquímica exclusiva de cada animal”. “Para alguns vegetarianos, o problema é de o leite de vaca ser de origem animal. Toda criança vegetariana deve ser amamentada no peito” (SLYWITCH, 2010b, p. 82) para garantir a saúde da criança e a proteção contra doenças. Existem atualmente formulações especiais de leites para crianças veganas, que substituem o leite materno, totalmente sem origem animal, mas que devem ser utilizadas somente em casos em que a mãe não possa amamentar o seu filho, ou apenas como complementação do leite materno. O leite materno nunca deve ser substituído por formulas como farinhas e cereais, ou sucos, pois podem causar desnutrição à criança (SLYWITCH, 2010b). Mesmo em casos de mães veganas a amamentação deve ser exclusiva até o 6° mês de vida, pois o leite materno exclusivo tem atuação importantíssima para a saúde da criança, incluindo: Proteção contra morbidades como diarréias, infecções respiratórias e alergias alimentares, proteção contra mortalidade infantil, prevenção de doenças crônicas como diabetes, doença celíaca, doença de Crohn, promoção de melhor crescimento, melhora do vínculo mãe-filho, ausência de sobrecarga renal de solutos, melhor biodisponibilidade de nutrientes e digestibilidade, melhora da aceitação de novos alimentos no desmame (pela exposição a odores e sabores diferentes) e custo menor quando comparado com alimentação artificial (AKRÉ, 1994; GIUGLIANI, 1994; WHO, 1998; MARCONDES ET AL, 1999, RAMOS, 2000 apud DEVINCENZI et al., 2004 p. 5).


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Ao ser comparado, o leite materno de onívoras e veganas, são encontradas algumas diferenças em sua composição, principalmente “quando de diz a respeito dos lipídios” (WEHBA, 1991, p. 244). Não há uma proporção significativamente diferente entre os leites, mas o não consumo de alimentos de origem animal e o maior consumo de lipídios de origem vegetal pode interferir no tipo de gorduras presentes no leite materno, apresentando maior índice de “ácidos graxos, onde os ácidos polissaturados estão aumentados nos leites de vegetarianas restritas” (WEHBA, 1991, p. 244), esta diferença pode trazer benefícios para criança nas próximas fases da vida, prevenindo problemas de saúde associados aos lipídios. A alimentação complementar para crianças veganas é diferenciada devido as restrições alimentares que a dieta proporciona, com isto, ocorre riscos de possíveis carências nutricionais e desnutrição, que se não observadas e prevenidas, podem prejudicar o desenvolvimento e crescimento saudável da criança. Para alimentar uma criança com uma dieta vegana é necessário tempo, estudo e muita dedicação, não se pode alimentá-la como se alimenta uma criança comum, deve observar cuidadosamente tudo que ele (a) come para não lhe faltar nenhum nutriente. Existem atualmente poucas pesquisas sobre a quantidade de crianças vegetarianas no mundo, e menos inda as especificamente veganas, mas um estudo encomendado pela Vegetarian Resource Group, realizado no EUA, em 2000, revelou que cerca de 0,5% das crianças entre 6 e até os 17 anos foram veganos, não consumiram carnes, peixes, aves, laticínios e ovos (JORNAL VEGETARIANO, 2000 apud MANGELS; HOOD, 2002). Segundo a Associação Dietética Americana (ADA) (1997, p. 03), uma dieta vegana bem planejada é “adequadas a todos os estágios do ciclo vital, inclusive durante a gravidez e a lactação”. A alimentação vegana é muito saudável quando se trata da variedade de alimentos consumidos por seus adeptos, com isto surgem grandes vantagens na saúde da criança, e também de adultos, como demonstrado em vários estudos sobre o assunto.

4.1 Vantagens do veganismo

Segundo estudos realizados com vegetarianos, como o de Slywitch (2010b), são várias as vantagens para a saúde quando praticado uma dieta vegetariana, pois ocorre a


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redução do risco de desenvolver diversas patologias relacionadas à alimentação. A saúde é o segundo maior motivo das pessoas se tornarem vegetarianos, sendo o primeiro uma questão ética. Isto se dá pela realização de vários estudos sobre as vantagens ou desvantagens de uma dieta vegetariana. Estes dados são resultados de pesquisas com grupos populacionais vegetarianos com amostram bastante significativos, e em todos os estudos realizados, em nenhum momento foram encontrados maior quantidades de doenças em vegetarianos do que em onívoros. Segundo Slywitch (2010a) a prática da dieta vegetariana reduz 31% as mortes por doenças cardiovasculares em homem e 21% em mulheres, diminuem também em 35% os níveis de colesterol em veganos; a pressão arterial é menor em veganos (redução de 5 a 10 mmHg); redução de até 50% de diverticulite; o risco de diabetes é 100% maior em onívoros quando comparado ao de vegetarianos; a probabilidade de se obter pedra na vesícula é duas vezes menor em mulheres vegetarianas; o risco de câncer de próstata é 54% maior em onívoros e o de câncer de intestino é 88% maior em onívoros do que em vegetarianos; ocorre também a redução da incidência de obesidade. Segundo alguns estudos, uma dieta vegetariana, se bem elaborada, pode ser útil na prevenção e no tratamento de doenças renais. Em uma dieta vegetariana comparado com uma alimentação onívora, “algumas proteínas vegetais podem aumentar a taxa de sobrevivência e reduzir a proteinúria, a taxa de filtração glomerular, o fluxo sangüíneo renal e o dano histológico renal” (ADA, 2010, p. 2). Segundo a posição da Associação Dietética Americana (ADA) sobre dietas vegetarianas estudos demonstram que a dieta vegana, pela diversidade de alimentos consumidos, é capaz de prevenir doenças como, por exemplo: hipertensão, obesidade, doenças cardiovasculares, diabetes mellitus, entre outras (MESSINA; MESSINA, 1996; APPLEBY; THOROGOOD; MANN; KEY, 1999; SACKS; CASTELLI; DONNER; KASS; 1975; AMERICAN DIABETES ASSOCIATION POSITION STATEMENT, 2002 apud ADA, 2011 p. 2-3). Estes estudos demonstram que a alimentação vegetariana, incluindo a vegana ou estrita, é benéfica a saúde humana, sendo comprovados seus benefícios preventivos e em tratamentos de patologias diretamente associadas à alimentação ou não. Embora a alimentação vegana traga grandes benefícios, se mal elaborada pode, ao invés de ajudar, prejudicar o desenvolvimento da criança, por isso muitos cuidados devem ser


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tomados em relação aos riscos de carências nutricionais, pois o veganismo pode se tomar desvantajoso para a saúde.

4.2 Desvantagens do veganismo

Já que o organismo humano trabalha com os nutrientes dos alimentos, uma alimentação variada e bem elaborada com diversos produtos de origem vegetal que supram tanto as quantidades de macronutrientes, quanto as de micronutrientes do corpo, com certeza trará uma melhor qualidade de vida. Mas com isto entram as dúvidas sobre a alimentação vegana suprir ou não todas essas necessidades que o organismo humano necessita. E realmente alguns cuidados devem r tomados no veganismo, pois o risco de se desenvolver possíveis carências nutricionais é maior, principalmente de energia, proteínas, vitamina B12, cálcio, vitamina D, zinco e ferro. Em dietas vegetarianas pode ocorrer um aumento elevado no consumo de carboidratos por não ocorrer o consumo de carne na alimentação, o que poderia causar um excesso de energia, por outro lado uma dieta vegana normalmente é de baixo valor energético, e com isso pode não suprir as necessidades energéticas da criança, pois a capacidade gástrica da criança é limitada, “cerca de 20 a 30ml/kg de peso após os 6 meses de vida” (BRESOLIN, 2010, p.98) e os alimentos consumidos são de baixa densidade energética. “Se a ingesta calórica não é adequada, a proteína dietética poderá ser desviada de sua função primaria de construção e reparação dos tecidos, para ser usada como fonte energética, afetando o crescimento” (WEHBA, 1991, p.245), com isto faz-se necessário um acompanhamento regular, para avaliar o crescimento da criança com o indicador altura versos idade e peso versus idade da OMS, a fim de evitar quadros de desnutrição e retardo no crescimento. Quando se fala de alimentação vegetariana, e principalmente vegana, existe preocupação sobre a adequação de proteína na dieta, mas este realmente não se torna um problema quando se consome uma alimentação variada com a quantidade de calorias diárias necessárias, já que isso supre as exigências de proteínas na dieta. Só irão ocorrer casos de dieta hipoprotéica se houver pouca variabilidade de alimentos, pois “fontes vegetais de proteína podem fornecer volumes adequados de aminoácidos essenciais” (ADA, 1997, p. 01).


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As crianças veganas podem ter necessidade protéica ligeiramente maior que as não veganas (como as ovolactovegetarianas e as onívoras) devido à diferença de digestibilidade e da composição de aminoácidos das proteínas vegetais, mas esta necessidade protéica é atendida quando a dieta contém calorias suficientes e uma pequena diversidade de alimentos vegetais (MILLWARD 1999; MESSINA; MANGELS 2001, apud SLYWITCH, 2002, p. 1).

Com relação à adequação de aminoácidos na dieta, também é algo simples, pois basta variar os grupos de alimentos, “tendo em vista que o grupo dos grãos (cereais) e das oleaginosas possuem menos lisina, o uso das leguminosas e dos outros grupos complementam esse aminoácido limitante” (SLYWITCH, 2010a, p. 88). A ingestão média de proteínas das crianças vegetarianas (inclusive as veganas) costuma obedecer ou exceder às recomendações (NATHAN, 1996; SANDERS; MANNING 1992 apud SLYWITCH, 2002). O recomendado é um mínimo de 10% de proteína na alimentação e não deve ultrapassar 15%. Portanto, não há necessidade de suplementação de proteína na dieta vegana para crianças no período de alimentação complementar. Por sua vez, a vitamina B12 não é encontrada em alimentos de origem vegetal, por este motivo é a maior preocupação na dieta vegana. É uma vitamina que trabalha no organismo para a “divisão celular e formação do sangue” (MANGELS, 2008 p. 1), mas sua necessidade diária é muito baixa, sendo tanto armazenada quanto reciclada no corpo, e sua deficiência tem consequencias somente após alguns anos (ADA, 1997). A carência de vitamina B12 causa sérios problemas no sistema nervoso (SCHALLER, 2008), podendo apresentar casos de alterações neurológicas como paresia periférica (pés e mãos), perda de memória, palpitação, maior tempo de coagulação sanguínea e anemia megaloblástica (WATZBERG, 2006, p.112), além de “cansaço, fadiga, falta de apetite e dores generalizadas” (SLYWITCH, 2010b, p. 135), ocorrendo em bebês principalmente “mal-humor e apatia aumentados, socialização e atividade diminuídas e regressão no controle do motor” (SHILS, et al, 2002, p.1951). Ela não é produzida pelas plantas e nem por animais, mas sim por bactérias que se encontram no intestino grosso, onde não ocorre absorção, sendo eliminado pelas fezes, o animal consome alimentos contaminados e sua carne, leite e ovos se tornam fontes de vitamina B12. Nos vegetais, a única possibilidade de se obter a vitamina B12 é em casos de contaminação do alimento, o que torna o alimento impróprio para o consumo humano, ou em casos em que a vitamina B12 é adicionada ao alimento.


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Normalmente, as crianças guardam reservas de B12 para “todo o primeiro ano de vida” (WEHBA, 1991, p.246), mas quando a mãe não possui a vitamina em quantidades suficientes, ocorre carência no organismo do bebê, por este motivo, crianças filhos de mães veganas que não tenham uma fonte real de vitamina B12 “devem tomar um suplemento de cobalamina em quantidades equivalentes a 0,4 µg/dia nos primeiros 6 meses, 0,5 µg/dia depois dos 6 meses” (MANGELS; MESSINA, 2001 apud PARENTE, 2010, p.22). A vitamina B12 não é tóxica mesmo em doses elevadas, por este motivo são administradas geralmente doses equivalentes a 1000 microgramas em forma de xarope semanalmente para crianças para a manutenção da quantidade de B12 no sangue. Embora o organismo humano só absorva de 1 a 1,5 a cada 4 ou 6 horas quando a vitamina B12 é consumida através de suplementos de baixa dosagem, no caso da megadose, ocorre uma grande absorção e a vitamina não é desperdiçada pelo organismo (SLYWITCH, 2010b). Este método não é o utilizado para reverter quadros de carência de vitamina B12, como dito, apenas para manutenção. O aconselhado para crianças veganas em período de alimentação complementar é a suplementação com a vitamina B12 ou o consumo de alimentos enriquecidos encontrados no mercado, sempre objetivando alcançar os valores recomendados. Por outro lado, o cálcio é um mineral fundamental para o corpo humano para manter os ossos firmes e rígidos, e também tem função nervosa, muscular, coagulação do sangue e é fundamental para que diversos processos metabólicos ocorram, por este motivo, quando o organismo tem carência de cálcio, este é retirado dos ossos para suas outras funções, a fim de manter a quantidade necessária no sangue, que é muito controlada, por isto exames sanguíneos não são utilizados para diagnosticar a quantidade de cálcio no corpo (MANGELS, 2006; SLYWITCH, 2010b). A carência de cálcio no organismo é, principalmente, a causa má formação de ossos e dentes, além de osteoporose em mulheres. Numa dieta onívora, ovo-lacto-vegetariana e lacto-vegetariana, o leite e seus derivados são os principais alimentos fontes de cálcio por causa da sua grande concentração, mas não são as únicas fonte existentes. Além de alimentos enriquecidos com cálcio, como o leite de soja e sucos, existem também quantidades de cálcio presentes em couve, couve chinesa, couve mostarda, quiabo e grãos e feijão (exceto soja) (MANGELS, 2006), o “tofu a base de soja e leites de soja fortificados são fontes ricas” de cálcio (JOHNSTON P in SHILS, 2002 p. 6). Outras fontes podem ser a aveia, farelo de trigo, rúcula, agrião, alecrim,


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manjericão, salsa, orégano, quiabo cru, palmito, vagem crua, entre outros (SLYWITCH, 2010a). Muitos são os alimentos vegetais fontes de cálcio, mas nem todos estão tem uma boa biodisponibilidade, ou contêm compostos que inibem sua absorção no organismo. “A maior parte do cálcio dos alimentos de origem vegetal está combinado a compostos inibidores de absorção, que incluem ácidos oxálicos e fítico, fosfato e fibras” (COUCEIRO; SLYWITCH; LENZ, 2008, p. 371). Segundo Johnston in Shils (2002, p. 6): O cálcio em vegetais elevados em oxalato tais como espinafre, acelga e folhas de beterraba esta em maior parte indisponível; entretanto, kale, brócolis, repolho chinês e folhas de mostarda e de nabo fornecem quantidades substanciais de cálcio disponível.

Os alimentos de origem vegetal têm quantidades menores de cálcio, o que causa um menor consumo do mineral em veganos. É necessário um aporte de cálcio satisfatório no organismo, principalmente em períodos de crescimento, como é o caso de crianças em período de alimentação complementar, dos 6 meses aos 2 anos. Ainda não foi determinada a necessidade de cálcio para veganos, mas as deficiências de cálcio são muito pouco prováveis em crianças vegetarianas, com o consumo de alimentos vegetais que possuem cálcio em sua composição, as crianças com uma dieta à base de plantas recebem quantidades suficientes para o desenvolvimento de ossos e dentes fortes (SCHALLER, 2008, p. 2). Um mineral que compete com o mecanismo de absorção do cálcio é o ferro. Nas refeições que forem servidos alimentos fontes de cálcio não devem ser oferecidos alimentos fonte de ferro, para que não ocorra competição no sítio de absorção entre eles. Segundo AMAYA-FARFAN; DOMENE; PADOVANI (2001, p. 76) a DRI (Ingestão Alimentar de Referência) para indivíduos, segundo a Food and Nutrition Board e o Institute of Medicine, da Academia Nacional de Ciências dos EUA, a indicação geral da ingestão de cálcio é de 210 mg/dia para crianças de 0-6 meses, 270 mg/dia dos 7 aos 12 meses e 500 mg/dia do primeiro ao terceiro ano de vida. Com uma alimentação bem elaborada, o cálcio biodisponível nos alimentos vegetais é capaz de suprir as necessidades do bebê durante o período de alimentação complementar. Além disso, deve ser observada também a carência de vitamina D, que afeta diretamente a absorção de cálcio (PEREIRA, 2009).


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A vitamina D é muito importante, principalmente para crianças, pois auxilia na absorção do cálcio, ajudando na construção de ossos e dentes saudáveis. Sem a presença de vitamina D, a criança pode sofrer raquitismo e má formação óssea e dentária. A quantidade de vitamina D no organismo depende muito da exposição da pele a luz solar (STAPE; FERNANDES, 2009). O vegano consome, em sua dieta, baixa quantidade de vitamina D, e pode ter quantidades ainda menores caso não receba exposição solar adequada, como por exemplo, pessoas que moram em regiões muito frias e com poucas aparições do sol (SHILS, 2002). Os alimentos que fornecem a maior quantidade natural de vitamina D por grama são predominantemente de origem animal (óleo de fígado de bacalhau, peixes, crustáceos e moluscos), as únicas fontes de origem vegetal de ocorrência natural de vitamina D são determinados tipos de cogumelos em que esta está presente em pequenas quantidades (PARENTE, 2010, p. 4).

Por isto, crianças veganas devem receber luz solar em quantidades adequadas para a produção de vitamina D. “Recomenda-se a exposição solar, a partir da segunda semana de vida, sendo suficiente a exposição semanal de 30 minutos, com a criança usando fraldas ou de 17 minutos/dia com exposição da face e mãos da criança” (STAPE; FERNANDES, 2009, p. 6). “Pessoas de pele escura ou que vivem em latitudes mais ao norte ou em áreas nubladas ou fumacentas podem precisar de maior exposição” (ADA, 1997, p. 1), mas em horários adequados. Em casos em que a luz solar não é possível, um estudo demonstrou que a suplementação de “adequadas doses de vitamina D e baixo consumo de fosfatos conferem efeitos semelhantes à exposição solar sobre a saúde óssea” (MCCARTY, 2003 apud PÖPPER, 2008, p. 26), uma solução para indivíduos que vivem em regiões sem muita luz solar, tendo como efeito, prevenir “doenças como câncer, doenças autoimunes, pressão sanguínea e saúde vascular” (MCCARTY, 2003 apud PÖPPER, 2008, p. 26). Nenhum alimento vegetal não suplementado possui quantidades consideráveis de vitamina D, por isto, além de exposição aos raios solares, crianças veganas devem ter o nível desta vitamina monitorado regularmente. Já o zinco é um mineral importantíssimo para a criança por ser “fundamental para o crescimento e atua no metabolismo das proteínas e enzimas” (STAPE; FERNANDES, 2009, p. 5). Deve ser observado com atenção, pois estudos demonstram que as quantidades de zinco no organismo de crianças veganas são menores que em onívoras, mas ainda dentro do padrão saudável (ADA, 1997).


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A biodisponibilidade de zinco em alimentos vegetais é baixa, além disto, quando o zinco se liga ao fitato, presente em muitos vegetais, diminui ainda mais sua biodisponibilidade. As técnicas de preparação como “germinação de feijão, grãos e sementes, bem como a fermentação” (PARENTE, 2010, p. 9) ajudam a aumentar a biodisponibilidade de zinco em alimentos vegetais, pois reduzem a ligação do zinco com o ácido fítico. O ácido fítico é um “ácido orgânico, que pode alterar o valor nutritivo do alimento” (COUCEIRO, SLYWITCH, LENZ, 2008, p. 370), tanto de alimentos que o possuem como os que não o possuem. Ele está presente principalmente em proteínas de leguminosas, raízes e tubérculos, sendo uma substancia que não se altera com processos digestivos nem cozimento. Em veganos, ocorre um “mecanismo compensatório que ajuda na adaptação a uma menor ingestão deste mineral” (CRAIG, 2009 apud PARENTE, 2010, p. 8 e 9), ou seja, mesmo com uma ingestão diminuída, os veganos tem uma absorção de zinco aumentada por este mecanismo, o que auxilia para não ocorrer carência deste mineral, mas isto não torna desnecessário um cuidado com este mineral. As recomendações de zinco para crianças até um ano de idade é de 100 a 200 µg/dia, a partir de um a dez anos de idade as necessidades aumentam para 150 a 300 µg/kg/dia (WAITZBERG, 2006, p. 132). Segundo Pedro (2010, p. 2), “o consumo de quantidades adequadas de proteínas vegetais deverá providenciar quantidades suficientes de ferro e zinco”. Caso as necessidades de zinco na alimentação não sejam alcançada e/ou não haja uma segurança no fornecimento de zinco através da alimentação, é sugerido a suplementação de zinco. Allen (1998 apud PÖPPER, G., 2008, p. 27) sugere “suplementar zinco para crianças veganas no período de alimentação complementar se não houver fontes suficientes ou se as fontes forem de baixa biodisponibilidade”. Todavia, as recomendações da ADA (1997) são de que vegetarianos devem “esforçar-se para igualar ou exceder as Doses Dietéticas Recomendadas para o zinco”, e assim, assegurar que as quantidades absorvidas sejam suficientes. A alimentação vegana, é muito questionada por esta dieta possuir apenas o tipo de ferro menos absorvido pelo organismo, que é o ferro não heme. Existem dois tipos de ferro, o ferro heme e o ferro não heme, o primeiro é facilmente absorvido pelo organismo humano, mas o segundo precisa da presença de vitamina C e do ferro heme para ser melhor absorvido.


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Além disso, os alimentos vegetais possuem substancias que podem diminuir ainda mais a biodisponibilidade do ferro não heme. Por outro lado, na dieta vegana, outros elementos encontrados em alimentos vegetais podem aumentar esta absorção. “O ferro é fundamental para que diversas reações químicas no nosso corpo aconteçam, assim como para que as células vermelhas do sangue, as hemácias, sejam construídas” (SLYWITCH, 2010a, p. 29). O ferro é importantíssimo para o organismo humano, “porque é uma parte central da hemoglobina, que transporta oxigênio no sangue” (MANGELS, 2006, p. 1). Com isto não pode ser dispensado na alimentação, e sua carência pode ser fatal, chamada de anemia ferropriva. “A anemia ferropriva é um problema de saúde mundial, que é especialmente comum em mulheres jovens e em crianças” (MANGELS, 2006, p. 1). O que faz do ferro ainda mais importante na dieta vegana para crianças em período de alimentação complementar. A prevalência de anemia ferropriva em veganos é igual que em onívoros, sendo que 1/3 da população mundial possui anemia ferropriva, principalmente em países em desenvolvimento, no Brasil, certa de 50% das crianças tem deficiência de ferro (SLYWITCH, 2010a). Embora todas estas dificuldades aparentes em ter quantidades suficientes de ferro na alimentação vegana, estudos demonstram que veganos tem quantidades adequadas de ferro na sua alimentação, isso se dá pelo consumo de diversos vegetais ricos neste mineral, associados a presença de alimentos ricos em vitamina C e outros ácidos orgânicos durante as refeições, o que melhora a sua absorção e regulariza os níveis séricos de ferritina, com isto, a anemia por deficiência de ferro é mais comum entre onívoros que em vegetarianos (MANGELS, 1999; SHILS, et al 2002). Por outro lado, “um estudo recente encontrou níveis significativamente mais baixos de hemoglobina em crianças vegetarianas na Inglaterra” (SHILS, et al 2002, p. 4), por isto é importante ressalvar que se a dieta vegana não for bem elaborada, pode haver carência de ferro, já que as reservas de ferro em veganos são menores. Por isto deve ser realizado um acompanhamento específico nos níveis séricos de ferritina na criança. Para garantir quantidades adequadas de ferro, as recomendações são 1,8 vezes superior à dos não vegetarianos, sendo de 12,6 mg/dia de ferro na dieta (CRAIG WJ, MANGELS, 2009; BARR; RIDEOUT CA, 2004 apud PARENTE, 2010). O ferro é muito sensível tanto a inibidores quanto aos estimuladores de sua absorção.


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Seus principais inibidores são “fitato (presente em cereais integrais, leguminosas e frutos oleaginosos) e os polifenóis (encontrados no chá, café, vinho tinto, vegetais e cacau) enquanto a fibra parece ter um efeito menor sobre a absorção deste mineral” (PARENTE, 2010, p. 7). “Algumas técnicas de preparação de alimentos, tais como a fermentação, a imersão e germinação de feijão, grãos e sementes podem diminuir os níveis de ácido fítico e, assim, aumentar a absorção de ferro” (PARENTE, 2010, p. 7). Já as substâncias que auxiliam na absorção de ferro não heme são “vitamina C, e outros ácidos orgânicos, encontrados em frutas e vegetais podem aumentar a absorção de ferro e ajudar a reduzir o efeito do fitato” (PARENTE, 2010, p. 7). Outro fator importante, é que a “acidez do intestino favorece a absorção de ferro” (SLYWITCH, 2010a). Estes compostos que melhoram a absorção do ferro vegetal são chamados, segundo Slywitch (2010a), de ‘promotores de absorção’, e os que impedem a absorção são chamados de ‘inibidores’. Contudo, o ferro deve ser observado na dieta vegana para crianças, pois embora seja o mineral mais abundante no planeta, sua carência é comum em dietas mal balanceadas. A alimentação complementar é um período de mudanças, um processo de adaptação do organismo da criança a uma nova forma de se alimentar, por isso é divida em etapas, gradualmente trabalhadas para que a criança tenha um ótimo crescimento e desenvolvimento. Um esquema alimentar bem elaborado para as crianças veganas é fundamental para garantir que não ocorra carências nutricionais durante o período de alimentação complementar e por toda a vida.


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5 SUGESTÃO DE ESQUEMA ALIMENTAR

A pirâmide alimentar vegetariana demonstra que alimentos devem ser utilizados na alimentação de um vegano para alcançar quantidades suficientes se cada macro e micronutriente. Ela se distingue muito da pirâmide alimentar dos onívoros, tendo como principais grupos alimentares os cereais integrais, leguminosas, hortaliças, frutas, oleaginosas, óleos vegetais, laticínios, ovos e doces. Os três últimos grupos são considerados opcionais, e no caso dos veganos, os laticínios e os ovos e todo produto que utiliza esses alimentos em sua fabricação não são consumidos. O vegano retira de sua alimentação o topo da pirâmide vegetariana, formando assim um trapézio (Imagem 01), tendo como alimentos os cereais integrais, leguminosas, hortaliças, frutas, oleaginosas e óleos vegetais.

Imagem 01: Pirâmide Alimentar Vegetariana

Fonte: Loma Linda (apud COUCEIRO; SLYWITCH; LENZ ,2008).


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Desde este momento a principal preocupação em nutrientes deve ser a introdução de alimentos ricos em ferro na alimentação da criança vegana, mas também deve ser observada as quantidades de zinco, cálcio e proteína na dieta. Slywitch (2010a) divide os grupos de alimentos na dieta vegetariana em cereais, frutas, alimentos ricos em proteína, hortaliças e óleos. Sendo que dentro dos alimentos ricos em proteínas compreendem as leguminosas, derivados de soja, oleaginosas, sementes e derivados de sementes. O grupo dos grãos é constituído de cereais integrais, derivados de cereais integrais e cereais refinados. As verduras, os brotos, algas desidratadas, legumes, cogumelos secos, amiláceos (ricos em amido), condimentos secos e in natura são pertencentes ao grupo das hortaliças. As frutas são classificadas em um grupo específico, contendo as frutas desidratadas, frescas ou sucos. Os óleos ganham um grupo especifico, onde se encontram todos os óleos de origem vegetal. Para elaborar uma orientação alimentar para crianças veganas deve haver adequações específicas sobre quais alimentos introduzir a cada momento do período de alimentação complementar, para isso, as orientações foram baseadas nas indicações do Ministério Da Saúde (2010) e da Tabela de Alimentação Complementar Para Crianças Vegetarianas e Veganas de Grasiela Pöpper (2008, p. 36). Ao sexto mês de vida, a criança inicia a alimentação complementar, e passa associar a amamentação a outros alimentos. A diversidade de alimentos tem a mesma proporção em crianças veganas que em onívoras. Nos primeiros dias durante o início da alimentação complementar deve-se observar com cuidado a introdução de um novo alimento, tentar introduzir um alimento de cada vez, esperar um período de 2 a 3 dias antes de inserir um novo alimento facilitando assim identificar qual o alimento responsável se quais quer reação adversa ocorrer. (MANGELS; HOOD, 2002). Os primeiros alimentos devem ser introduzidos de forma pastosa, como purês e frutas, por exemplo: purê de abóbora e cenoura, banana amassada, maçã e pera raspada, iniciando a alimentação complementar sempre por alimentos mais adocicados. Obtendo a partir do sexto mês, ao menos um lanche e uma papa salgada por dia, de preferência no horário de almoço ou jantar e nos intervalos, além do leite materno pela manhã e a noite com


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livre demanda, como demonstra a tabela I. Nenhuma fruta é contra indicada para as crianças no período de alimentação complementar.

Quadro 2 - Esquema alimentar a partir do sexto mês Sexto Mês Leite Materno (livre demanda) Papa de Fruta Papa Salgada Papa de Fruta Leite Materno (livre demanda) Fonte: Brasil (2010).

Pode-se observar que no 6º mês a criança já deve começar comer duas porções de fruta ou suco de fruta e uma papa salgada, sempre respeitando a vontade da criança, não devendo trocar em nenhum momento a papa salgada ou a fruta por leite materno. No sétimo mês o bebe deve receber mais uma papa salgada geralmente sendo oferecida no lugar do jantar. Observar tabela 02.

Quadro 2 - Esquema alimentar a partir do sétimo mês Sétimo Mês Leite Materno (livre demanda) Papa de Fruta Papa Salgada Papa de Fruta Papa Salgada

Fonte: Brasil (2010).

Nessa fase a criança já pode receber além do leite materno, frutas amassada, sucos naturais, legumes cozidos e amassados, haver a introdução se cereais integrais socados e bem cozidos passados na peneira, ser oferecido o suco verde (espinafre, folhas de erva doce, maçã e quinua, germinada, couve) utilizando folhas verdes com frutas, batidas podendo ser enriquecidas com sementes germinadas, entre outros. Caso a criança sinta a necessidade de ingerir mais leite materno, esse deve ser ofertado sempre que possível, pois sua demanda é livre e adequada a necessidade da criança. No oitavo mês a criança deve continuar recebendo cinco, ou seis refeições (veja tabela 02), sendo que em duas refeições deve ser oferecido leite materno, em duas frutas, duas papas salgadas. Essas papas salgadas já podem conter caldo de feijões, grãos integrais como arroz, trigo, milho, cevada, centeio, aveia, entre outros tubérculos como batata, mandioca, cará, que


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também podem ser usadas amassadas. Uma das papas de fruta pode ser substituindo por um suco verde. No nono e décimo mês a criança já tem capacidade de receber alimentos como frutas, legumes e tubérculos pequenos e macios, cereais socados bem cozidos e amassados, grãos de leguminosos bem cozidos, tofu amassado, oleaginosas trituradas utilizando um tipo por vez. No décimo primeiro e no Décimo segundo mês o bebê já deve esta alimentando com a alimentação básica da família sendo que a primeira refeição pode ser leite materno, fruta ou tubérculo mais tarde deve ser oferecido fruta a refeição básica da família veganas, geralmente na hora do almoço, respeitando sempre a vontade da criança, na hora correspondente ao lanche deve ser oferecido uma porção de pão simples tubérculo ou cereal na refeição correspondente ao jantar deve ser oferecido a refeição da família vegana.

Quadro 3 - Esquema alimentar a partir do décimo mês A Partir Décimo Segundo Mês Leite Materno fruta cereal ou tubérculo Fruta Refeição básica da família Fruta ou pão simples ou tubérculo ou cereal Refeição básica da família Fonte: Brasil (2010).

Nessa fase a criança continua a consumir leite materno, já consume frutas e pedaços de frutas, pedaços macios de legumes e o suco verde. Pode ser oferecido pedaços macios de tubérculos, grãos integrais socados bem cozidos e amassados, além dos pães, biscoitos e tofu podem com tranqüilidade. As oleaginosas já podem ser oferecidas, sendo trituradas ou em pastas como tahine (pasta de gergelim). A partir do décimo segundo mês a criança pode seguir a alimentação básica da família (veja tabela 03), caso da família possua uma alimentação vegana, oferecendo lanches como frutas inteiras com supervisão, sucos de frutas, e frutas desidratadas, pedaços mais tenros de hortaliças e verduras devem ser oferecido a medida que os molares forem aparecendo. Deve ser oferecido o suco verde, pedaços macios de tubérculos, grãos de cereais cozidos que já podem ser oferecidos sem serem amassados a medida que os molares aparecerem. Amendoim cozidos podem ser oferecido para a crianças partir deste período.


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‘Leite’ de oleaginosas trituradas devem ser oferecido

chegando a oferecer

pedaços inteiros de oleaginosas conforme aparecerem os molares. Assim, o processo de introdução de novos alimentos além do leite materno garante uma abrangência de todos os micronutrientes e macronutrientes importantes para a criança em quantidades adequadas para o organismo, com exceção da vitamina B12 que sempre deve ser suplementada. A criança deve continuar sendo alimentada com estes alimentos até os dois anos de idade juntamente com o leite materno.


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6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O vegetarianismo esteve presente em vários momentos da história, na maioria das vezes associados a uma questão religiosa, já o veganismo, sendo a maneira mais rígida do vegetarianismo, nasceu com intenção de proteger os animais e o meio ambiente. Só no Brasil, cerca de 9% da população é vegetariana, e este número tende a crescer. A alimentação complementar vegana para crianças de até 2 anos de idade precisa de muitos cuidados específicos, como é caso das vitaminas D e B12, cálcio, ferro, zinco, proteína e energia. Sendo assim, os alimentos devem ser ofertados a criança em consistência gradual, e no devido momento devem ser introduzidos os alimentos que possam substituir a carne, ovos, leites e derivados na alimentação da criança. A pesquisa demonstrou que a dieta vegana traz uma série de benefícios que perduram por toda a vida. Uma criança que tenha se alimentado através de uma dieta vegana tem grandes chances de manter uma alimentação saudável ao longo da vida, formando o hábito de consumir frutas e verduras com mais frequência, mesmo não se tornado um adulto vegano. A suplementação de nutrientes como cálcio, zinco e ferro de um lactente vegano é similar ao de um lactente onívoro, mas nem sempre necessária. No entanto, profissionais de saúde como nutricionistas e pediatras que acompanham o desenvolvimento da criança devem cuidar para não haver carência dos mesmos em seu organismo. A alimentação complementar para crianças veganas é segura quando planejada de forma adequada e acompanhada através de avaliação clínica e exames laboratoriais. Por não haver a presença de vitamina B12 naturalmente na dieta vegana, e seu consumo só poder ser efetuado através de suplementação, esta dieta não é totalmente completa em micronutrientes, mas este fator não torna a dieta vegana prejudicial à saúde. A alimentação vegana é saudável e possível ser oferecida durante a alimentação complementar dos 6 meses aos 2 anos de idade, assim como em todos os ciclos da vida, pois comporta todos os macronutrientes e micronutrientes essenciais para o organismo humano. É possível que uma criança vegana em uma sociedade em que a maioria das pessoas é onívora encontre algumas dificuldades. Poderá sofrer algum processo de exclusão social devido às suas restrições alimentares, o que levanta outras discussões, sendo necessárias pesquisas específicas sobre o assunto para explicá-lo melhor.


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