Revista Planeta - Agosto 2011

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Cerca de 4% dos jovens de Sao Paulo e do Rio de Janeiro, das classes A, 8 e C, jtl seguem a dieta que condena 0 con sumo de carne, sensivel ao sofrimento dos animais e a ecologia. Saiba por que a etica vegetariana atrai tantos admiradores

EXEMPLAR DE ASSINANTE VENDA PROIBIDA


Editor e Diretor Responsavel DOM INGO ALZUGARAY

Editora Cilia Alzugaray Presidente EXecutivo Carlos Alzugaray

Di

Planeta De todas as especies animais, s6 os humanos sao onivoros, capazes de comer quase qualquer coisa que a natureza ofew;:a. Apesar dessa vantagem evolutiva, a escala da tarefa de alimentar 7 bilh6es de pessoas gera, compreensivelmente, muita controversia. As discuss6es levantadas pelo vegetarianismo nesta edi~ao transcendem a questao alimentar e invadem territ6rio filos6fico, moral, politico, economico e ambiental. \ Segundo a ONU, desde 2000 0 mimero de obesos na popula~ao mundial (1 bilhao) ultrap<lssou 0 de subnutridos (800 milh6es). Ao mesmo tempo que a prosperidade aumenta e agrava os impactos ambientais, nossa cultura \ afunda na ansiedade alimentar. Pesquisas cientificas e revistas de gastronomia ora amaldi~oam, ora aben~oam as gorduras, os carboidratos e os lacteos. As dietas da moda, como a organica, a hortomolecular, a macrobi6tica e a de Atkins, se sucedem. A toda hora surgem epidemias alimentares, como a doen~a da vaca louca, em 1992,ou a recente contamina~ao de hortigranjeiros pela bacteria E. coli. Vivemos a era da "desordem alimentar" como diz 0 escritor americano Michael Pollan no livro dilema do onivoro. \ vegetarianismo tambem esta na moda, mas tern mais de 2 mil anos de vida. Ha seculos seus adeptos criticam a explora~ao hurnana dos animais. Talvez a civiliza~ao que tateia em busca de urn plano mais elevado de consciencia venha a considerar, no futuro, a pratica de comer anirnais como urn costume barbaro, resquicio de urn passado de ignorancia - como encaramos hoje a escravidao, 0 racismo e o machismo. Mas tambem e born lembrar que sonhos de inocencia nao passam exatamente disso. Frequentemente 0 moralismo radical segrega uma nega~ao da realidade que tambem pode ser preconceito, arrogiincia ou orgulho. Ha fil6sofos que sugerem que imoral e nao encarar a realidade tal como ela e, ou acreditar que basta a vontade para sobrepuja-la. Esperamos que nossa reportagem de capa fa~a voce refletir sobre 0 que come.

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RICARDO ARNT Diretor de Reda~ao ricardo@planetanaweb.com.br

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DlRHOR EDITORIAL Carlos Jose Marques DIRHOR EDITORIAL·ADJUNTO lui, Fernando Sa DIRETOR DE NOClEO Mario Simas Filho DIRETOR DE REDAy\O Ricardo Amt (ricardo@planetanaweb.com.br)

REDAY\O Eduardo Araia (eduardo@pianetanaweb.com.br), Fabfola Musarra (fabiola@planetanaweb.(om.br)e Maira Ue Chao (maira@planetanaweb,cor Assistente de reda~o Roseli Tadei Vieira SUPERVISAO DE ARTE Joao Carlos Alvarenga Freire

DIRHORA DE ARTE DebO<a Alves Pereira (debora@~a netanaweb.(om .br)

(OLABORARAM NESTA EDI~O Silvia Reali, Maria da Paz Trefaut. Aline StU Palmers e Milton Correia Jr. FOTOS Heitor Reali, Annebelle Gyllenspetz e Renal TRATAMENTO DE IMAGEM Daniel Costa (Chefe), Daniel Freire, Thiago Aleve e Romeu Ribeiro REVISAO Giacomo leone, lourdes Maria A. Rivera, Mario Garrone Jr.• Neuza ( Paula e Regina Grossi AG~NCIA ISTQE Editor-Executivo Cesar Itibere Editor Frederic Jean APOIO ADMINISTRAnvo Gerente Maria Amelia Scarcello SERVIf;OS GRAFICOS Gerente Industrial Fernando Rodrigues Coordenador Gri1fico lvanete Gomes MARKETING Diretor Rui Miguel Gerente Debora Huzian eWanderley Klinger Assistentes Mardana Martins e Marina Bonaldo Diretor deArte Bruno Barbo OPERAf;OES - Diretor Gregorio Fr~n~ Gerente de Opera~Qes Thorny Pel Assistente luiz Massa Assistentes Jr. Fabio Rodrigo e Paulo Sergio

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Editora Ties ltdi~ Rodovia AMangUera. kill 32.5Clj:mar - SP - UP 077SCHlOO I' Gr.ifica Sanla Marta ltda .• Rua HortirICio Rib~iro de Ima, 3333. 0istri1D InWstrialJoao fP«oa - PH - (EP 58081-400

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P LANETA


Por Fabfola Musarra

ilhares de pessoas vern abandonando 0 habito de comer carne em busca de urn estilo de vida alternativo inspirado pela rejeis:ao etica ao consumo de alimentos de origem animal. Varias celebridades ja abras:aram essa bandeira, como 0 ex-beatle Paul McCartney e 0 presidente norteamericano Barack Obama. Mas, longe de ser urn modismo, 0 vegetarianismo e urn movimento com 2 mil anos de historia e 200 anos de militancia: nos Estados Unidos, urn em cada cinco universitarios ja aboliu a carne. N o Brasil, a novidade e 0 avans:o da sua

vertente mais radical, 0 veganismo. Enquanto a dieta vegetariana recusa todo tipo de carne, mas consome queijo, leite, ovos, mel ou iogurte, 0 veganismo, surgido em 1944, na Inglaterra, a partir de uma dissidencia do vegetarianismo, nao admite nada derivado de animal, seja comida, seja roupas, . , . .. sep cosmetlcos ou JOlas. No fim do ana passado, uma pesquisa da Escola Superior de Propaganda e Marketing de Sao Paulo contabilizou 4% de vegetarianos entre jovens de Sao Paulo e Rio, das classes A, B e C. Nas grandes cidades aumenta 0 numero de restaurantes, sites, publicas:6es e a oferta de produtos proprios para 0 consumo vegetariano. As duas maiores industrias de carne do pais, a Sadia e a Perdigao (atualmente unificadas na Brasil Foods), ja criaram linhas de alimentos vegetarianos a base de proteina de soja. No ana passado, urn grupo de estudiosos fundou a Sociedade Vegana para estabelecer urn marco de referencia teorica e fornecer informas:ao ao movimento. No Orkut, urn site da comunidade vegana reune 19 mil adeptos. Ao largo dessa efervescencia, 0 consumo de carne cresce aceleradamente no Brasil devido a melhoria na distri-

buis:ao de renda e a democratizas:ao do consumo. Segundo 0 Ministerio da Agricultura, 0 consumo per capita de bovinos atingiu 37,5 quilos em 2010, 5% a mais do que em 2009 - apesar de uma alta de 38% no pres:o. Com a melhoria das dietas, a tendencia e aumentar 0 consumo de proteinas. 0 vegetarianismo, portanto, e urn nicho, e 0 veganismo 0 nicho do nicho. Muitos dos que estao aderindo a dieta etica atualmente rejeitam a carne por motivos ambientais. A pecuaria e 0 maior emissor de metano, urn dos gases mais poluidores do efeito estufa que esquenta a temperatura do planeta, 23 vezes mais duradouro na atmosfera do que 0 dioxido de carbono. 0 impacto da crias:ao e do abate de animais sobre o ambiente e a saude publica tambem preocupa orgaos como a Organizas:ao das Nas:6es Unidas para Agricultura e Alimentas:ao (FAO) e 0 Painel Intergovernamental de Mudans:as Climaticas (IPCC).

O~o existenclal "0 que eu mais gosto no veganismo e saber que passei mais urn dia sem ter de matar alguem para continuar vivo", orgulha-se 0 tatuador paulista Fernando Franco Enei Franceschi, 36 anos, mais conhecido por Tete. Vegetariano desde 1993, Tete nao tolera os metodos industriais de crias:ao intensiva e de abate dos animais, que considera crueis. ''Acho intoleravel os bichos sofrerem e ser sacrificados para nos ali-

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Se um prato de sushi contivesse todos os animais que loram morlos para aquela porc;:ao, 0 prato precisaria ter

redes

da Floresta Arnaz6nica brasileira js. loi destrufda sobretudo pela expansao da pecus.ria

de

mentar", diz. Em 1997, ele aderiu ao veganismo, adotando a decisao de nao mais compactuar com a explora~ao dos animais. Tete nao compra produtos feitos com couro, la ou materiais provenientes de bichos. De casacos a tenis, sua op~ao sempre recai em modelos manufaturados com lona, algodao, materiais sinteticos e jeans. Qyanto aos xampus, sabonetes, cremes de barbear e demais itens de perfumaria e higiene, s6 usa os que respeitam a filosofia vegana, de nao incluir substancias animais na composi~ao. "Fa~o duas tatuagens por dia. Esse e meu ganhapao. Mas mesmo a tinta que uso para tatuar nao contem nenhum derivado animal", afirma. Em Sao Paulo, a tribo vegana ja disp6e de 17 restaurantes cadastrados, inumeras lojas de tatuagem e livrarias. A capital paulista conta com um festival anual de rock hardcore, 0 Verdurada, que e replicado em Brasilia, e cultua as pr6prias bandas, como Violator, Confronto e Mercenarios do Rock. Entre os lugares ~...... mais frequentados na cidade destacam-se os res~

• com 48 km de comprimento cada,

sao usadas por uma Irota para pescar uma especie de peixe

taurantes Vegacy, na Rua rianos ou em transiAugusta, e 0 Avi Alkalay, ~ao para 0 veganismo. na Vila Madalena. "Essas pessoas nao S6cio do Vegacy, Tete precisam obrigatoriaressalta que a dieta vegana nao mente consultar um propo de ser feita de modo aleat6rio. fissional, mas e imprescindivel Ha necessidade de orienta~ao, porque que se informem sobre como sera a nao se pode decidir abolir a carne e sua dieta e sobre quais alimentos que derivados do cardapio sem substituir substituirao a carne", aconselha. suas propriedades nutricionais por ouVegetariano desde os 4 anos e vegatros alimentos. "Qyando isso acontece, no desde 1994, Guimaraes conta que, inevitavelmente a pessoa fica doente, inicialmente, decidiu abolir a carne por porque 0 organismo humano preci- uma questao de saude, pois "a dieta vesa de todos os grupos de alimentos." getariana e mais saudavel". Abolir a A advertencia e importante acima de carne significa diminuir a ingestao de tudo para crian~as que precisam de gordura, reduzir 0 risco de colesterol e proteinas e de ferro. de hipertensao e aumentar a prote~ao Mas 0 vegetarianismo e muito ao sistema cardiovascular. Sua convicmais do que uma dieta. Nutricionista ~ao foi refor~ada por argumentos etie criador do Veddas, ONG de defesa cos e pelo exemplo de pensadores que dos direitos dos animais, George Gui- criticaram 0 consumo de animais, des" maraes, 37 anos, e um dos fund adores de 0 grego Pitagoras e 0 romano Pluda Sociedade Vegana, cuja filosofia, tarco ate Leonardo da Vinci, passando oriunda da tradi~ao filos6fica indiana, por Newton, Voltaire, Wagner, Tolstoi, esta exposta no site www.sociedadeGandhi e Kafka. vegana.org. Profissionalmente, GuiPara os vegetarianos, os bichos maraes dirige a NutriVeg, uma sao seres sencientes (que sentem dor, consultoria em nutri~ao me do, frio, desejos e prezam a vida). vegetariana que orienta Por isso, nao devem ser usapacientes vegeta".--.....,.... dos pelos homens na

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Segundo

aONU

40% de animais marinhos sao morlos na pesca de arrastao para capturar 1kg de camarao

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a mars do que 0 setor de transportes . aVll)es. carros, caminhoes. navios e trens Juntos


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m de toneladas de leite e 1,2 bilhao de ovos Icram consumidos em 2008

Neste mesmoanoa mundial produs:ao de bens, rodeios ou circos. "Essa e a fronteira que ainda estamos ultrapassando: a de colocar os animais como sujeitos de direito, • • • como seres que tern as propnas vontades e direitos", ressalta Guimaraes. Ha muita controversia sobre a titularidade desses direitos. Sem duvida, a emergencia ambiental global esta incentivando a ops:ao vegetariana. Para os veganos, a produs:ao de alimentos de origem animal e ineficiente porque requer mais terras e recursos ambientais e gera muito mais poluis:ao do que a produs:ao de alimentos de origem vegetal. 0 boi precisa de urn vasto espas:o de terra por bastante tempo (0 abate e feito com 4 ou 5 anos) e ainda ocupa outras areas destinadas ao cultivo do milho e da soja para alimenta-lo. "E muito desperdicio de recursos naturais. Se considerarmos as proteinas, apenas 10% do que • • a vaca consome e convertJ.do em carne, leite e derivados. Se falarmos em fibras e carboidratos, 100% sao

perdidos" , pugilista Eder Jofre, 75 9 depessoas explica Guianos. Vegetariano desde maraes. Ele cita os 19 anos,Jofre sao relat6rio Livestogrou-se bicampeao munck's Long Shadow, da FAO, dial de boxe em 1973 e, em 1983, foi eleito 0 maior peso gala que afuma ser vital uma mudans:a global em dires:ao it dieta vegana, para de todos os tempos pela Confederaevitar a fome, a falta de combustiveis e s:ao Mundial de Boxe. "Foi a mistura os impactos da mudans:a do clima. "A de vegetarianismo com talento que populas:ao global prevista para 2050 e me tornou bicampeao mundial", diz 0 de 9,1 bilh6es de pessoas. A dieta rica pugilista. "Ate hoje, me sinto bern sein em carne e em derivados de origem carne, do momenta em que acordo animal, caracteristica do Ocidente, se ate a hora de dormir. Raramente fico doente. Por isso, posso recomendar 0 tornara insustentavel, ja que os recursos necessarios para a crias:ao e alimenvegetarianismo para todos." tas:ao desses animais sao mais danosos Segundo Marly Winckler, 56 anos, do que a queima de combustiveis f6spresidente da Sociedade Vegetariana seis", afuma 0 documento. Brasileira (SVB) e coordenadora para America Latina e Caribe da Uniao Vegetariana Internacional, "0 vegetariaControversia Os que acham que a carne e imno tern 31% a men~s de cardiopatia e 50% a menos de diabete". Sediada em prescindivel ao ser humano estao enFlorian6polis (SC), a entidade brasileigariados. Apesar de as associas:6es mera tern como missao difundir 0 vegedicas exibirem dados assegurando que o consumo e fundamental para todas tarianismo e os beneficios que a dieta proporciona it saude, ao meio ambienas fases de vida humana, sobrete e aos animais. Para tanto, tambem na infiincia, na gestas:ao e na pratica de esportes, hi certifica produtos vegetarianos com 0 sdo SVB - uma atividade "comercial" provas abundantes em contrario. Urn exemplo e 0 excondenada pelos veganos. Em outubro

da populagao adulta (4 milh6es de pesscas) no Reino Unido, vegetariana

do desmatamento do planeta respcnsabilidade da pecuaria

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Fontes: livro Comer Animais, Jonathan Safran Foer;

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de toneladas de carne Icram consumidas em 2008 no mundo todo

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Long Shadow", relat6rio da FAD

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o tatuador Franco Franceschi 56 usa tintas desprovidas de derivados de anima is: ':Acho intoleravel os bichos sofrerem e ser sacrificados para nos alimentar."

de 2009, a sociedade lan<;:ou a campanha Segunda-feira sem C arne, que vern :conquistando urn numero crescente de seguidores em todo 0 pais. "O s impactos ambientais causados pelo consumo de carne sao pesados. A pecuaria responde por 80% do desmatamento do planeta", diz Marly. No Brasil, 20% da Floresta Amazonica ja foi destruida e no C errado esse percentual e muito maior. "Nossos biomas estao d esaparecendo graps a pecuaria e a soja, cultivada para alimentar os animais. Alinal, sao necessarios de 7 a 9 quilos de soja para gerar urn quilo de carne." impacto ambienta! e mUltiplo. gada produz dez vezes mais dejetos do que os humanos, mas esses nao sao tratados e acabam abandonados na natureza, contaminando c6rregos e aguas subterraneas. Marly acrescenta que a pecuaria tambem e 0 segmento que mais emprega trabalho escravo e mao de obra infantil no Brasil. Cerca de 50% dos abates em territ6rio naciona! sao clandestinos. "Se 0 abate industria! e horroroso, 0 clandestino e'infernoso', porque 0 boi morre com uma marretada" , afirma. "Muitas vezes ele ainda

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esta vivo e seu couro ja esta sendo arrancado, uma tarefa da qual tambem . . . " cnan~as parttclpam.

Futuro sombrio Os maus-tratos infligidos aos animais durante a cria~ao e abate industrial inspiraram muitas reflexoes. 0 Iivro Libertariio Animal, de Peter Singer, lan~ado em 1975 (traduzido por Marly Winckler), e urn maiores difusores da defesa dos direitos dos animais e na exposi~ao da realidade cruel da industria pecuaria e dos testes de produtos em macacos e ratos. Ft!6sofo e especialista em bioetica da Universidade de Princeton, nos Estados Unidos, Singer lan~ou 0 conceito do especismo - a supremacia da especie humana sobre os interesses das outras especies - como uma analogia com 0 racismo. A obra inspirou 0 surgimento de organiza~oes e movimentos pela mudan~a de atitude em rela~ao aos bichos como 0 People for the Ethical Treatment of Animals (Peta), hoje com 2 milhoes de membros, especialista em pressionar a industria da moda. Tambem recem-Ian~ado no Brasil,o livro Comer Animais (Editora Rocco), do escritor norteamericano Jonathan

Safran Foer, e mais urn que denuncia as condi~oes das granjas industriais modernas, nas quais nao ha ilumina~ao natural, ventila~ao nem espa~o. As aves sao comprimidas em gaiolas, ocupando uma area menor do que uma folha de papel sulfite. Safran Froer relata que os bicos sao serrados para evitar 0 estresse 0 canibalismo. Gra~as a genetica capaz de criar galinhas exclusivamente poedeiras (que s6 botam ovos) e de corte (que s6 fornecem carne), muitas nascem deformadas, com ossos quebrados por nao suportar 0 peso do corpo,levando uma vida de dores e sofrimentos comparaveis a de urn campo de concentra~ao. Essas acusa~oes sao prontamente recha~adas pela Uniao Brasileira de Avicultura. "Ha uma serie de equivocos. 0 primeiro deles e que 0 frango nao tern seu bico serrado durante a cria~ao, pois nao se faz necessario", wma a entidade a PLANETA. "No Brasil, as granjas, quase em sua totalidade, possuem galpoes telados lateralmente,o que permite a manuten~ao do ambiente com ilumina~ao e ventila~ao naturais, ao contrario de muitos paises com clirna frio. A alimenta~ao e balanceada, 0 que significa que 0 animal rece-

be os nutrientes necessarios para sua manuten~ao e desenvolvimento." Os grupos Sadia, Perdigao e Marfrig nao responderam as entrevistas solicitadas pela revista. No mundo todo, segundo os vegetarianos, crueldades similares sao praticadas com perus, porcos e bovinos, cujo metodo de abate industrial muitas vezes nao da cabo da vida, embora a legisla~ao estabele~a que a morte do animal deva ser rapida e indolor. As criticas induziram os paises da Uniao Europeia a se comprometer a acabar com a cria~ao de Frangos em caixas de arame ate 2012. Nos Estados Unidos, a rede McDonald's ja exige que seus fornecedores criem galinhas em areas de 2 metros quadrados por animal. Safran Froer denuncia que metade de todos os antibi6ticos fabricados e destinada ao gado, 0 que induz o surgimento de bacterias cada vez mais resistentes as drogas. Bacterias resistentes tern sido encontradas em animais, em alimentos, nos seres hu• manos que os consomem e no mew ambiente", confirma 0 especialista Luiz Carlos Dematte Filho, veterinario e gerente industrial da Korin, uma das maiores empresas produtoras de Frangos organicos do Brasil. Teorica-

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Bicampeao mundial

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vegetariano desde 05 19 anos. "Raramente fico doente. Posso recomendar o vegetarianismo a todos."

Dematte. Em consequencia, em 2008, a Agencia Nacional de Vigilancia Sanitaria (Anvisa), do Brasil, estabeleceu 0 Programa Nacional de Monitoramento da Resistencia B acteriana em Frango, cujo relatorio apontou para uma baixa incidencia do problema nos 14 Estados pesquisados, mas anunciou a intenc;:ao de ampliar 0 monitoramento. A ampliac;:ao, entretanto, nao foi realizada. Em 2008, segundo a FAO, 0 mundo consumiu cerca de 280 milh6es de toneladas de carne, 700 milh6es de toneladas de leite e 1,2 bilhao de ovos. Em termos ambientais, isso gerou derrubada de florestas, pradarias aradas, erosao do solo, perda de agua para irrigac;:ao, gastos com adubac;:ao, combustivel, tratores, pesticidas, fertilizantes e perda de biodiversidade. • A pecuaria emite em tomb de 18% de gas carbonico

mente, a produc;:ao organic a baseia-se na alimentac;:ab natural e na criac;:ao de animais soltos. Varios estudos relacionam a resistencia bacteriana ao emprego abusivo de antibioticos nos animais, que aumenta 0 risco de exposic;:ao a epidemias e paridemias. "0 crescimento das taxas de resistencia bacteriana preocupa especialistas em saude publica do mundo inteiro, a ponto de paises europeus decretarem a proibic;:ao ao uso de antibioticos como me!horadores de desempenho", diz 0 especialistao "Me!horadores de desempenho", na verdade, sao substancias quimicas que promovem 0 rapido crescimento dos animais por meio da selec;:ao de 05 metodos • • mlcro-orgamsmos no seu aparedeabateede cria~ao intensiva '"elmn !ho digestivo. 0 processamento confinamento permitem industrial de alimentos ja gerou a engorda rapida uma epidemia grave em 1992, a de animais, mas os sujeitam a vidas doenc;:a da vaca louca, ocasionada artificiais e pelo aproveitamento de restos de de priva~ao. . . ammalS nas rac;:oes. "A doenc;:a da vaca louca foi provocada pelos metodos demasiadamente intensivos de produc;:ao que buscam reduzir custos e aumentar a eficiencia produtiva sem considerar ou adotar principios de maior precauc;:ao quanto ao potencial de causar danos", explica

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Para ver 0 filme de campanha do Peta, busque no site do you tube: Paul McCartney: "Sc os

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do efeito estufa e 37% de metano. "Os custos ambientais por unidade de produc;:ao animal devem ser cortados pela metade, para evitar que os problemas se agravem alem do nivel atual", diz 0 relatorio da FAO. Entretanto, convencer 0 mundo a abandonar o bife nao sera faci!. Com 0 aumento da prosperidade global, as pessoas consomem cada vez mais carne e produtos Iacteos.A produc;:ao de carne devera ul" trapassar 465 milh6es de toneladas em 2050, enquanto a de leite devera subir de 580 milh6es para 1,043 bilhao de toneladas. Para fazer frente a demanda de consumo dos paises emergentes, 0 mundo precisara mais do que dobrar a produc;:ao de carne. Outra complicac;:ao para 0 movi• • • mento vegetarlano e 0 lmpacto ambiental da agricultura. Nas areas de . . pastagens naturalS, a pecuarla e uma atividade sustentavel que revolve 0 solo com os cascos dos animais e 0 fertiliza com esterco. Os ruminantes transformam capim em proteina. Se todos aderissem ao vegetarianismo ou ao veganismo, as pastagens teriam de ser substituidas por lavouras de cultivo intensivo, que reduzem a biodiversidade e aumentam a dependencia da industria por combustiveis fosseis e fertilizantes quimicos. Com 9 bilh6es de habitantes em 2045, a agricultura tambem esgotaria recursos como solo, agua e florestas. Segundo a FAO, cerca de 70% do volume de agua consumido pelo homem e usado na agricultura. Alem disso, ha uma outra fronteira etica a considerar: se os animais tern interesses e direitos, por que os vegetais nao deveriam ter? •

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