LIVRO DÁ POESIA - Fábio Fernando

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...em memรณria a todos os poemas esquecidos na memรณria.


Livro dá Poesia

velhas árvores. barroco natural. incremento sem idéia. os metálicos postes de luz se parecem garçons amarelos perto destas construções de células. vivas e persistentes, as árvores não murcham antes do seu tempo. e o seu tempo não as sabe vivas, espera, lento, que acordem e lhe peçam clemência. por isso, em silêncio, velhas árvores vivem mais que certos animais barulhentos.

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todos nos negamos. todos nús, negamos. todos nós, sem inocências. nos gastamos. nús, gastamos. todos nós negamos.

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Livro dรก Poesia

lavagem cerebral:

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a mente aberta mente.

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o meu pensamento hermético é minha voz. um som hermético. um som “Hermeto”

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De tanto buscar o paraíso tornei minha vida um inferno

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o momento é uma passagem estreita sobre o pano escuro da existência. sabe-se dele apenas a forma. e sente-se a dor da inércia ao redor... das convulsões do passado. (o futuro é um parto).

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A liberdade é um escudo conscientemente aberto. E a realidade, um número calculado – em descoberto A alma que sofre por tudo se passa num sonho eterno, por responder ao futuro não vê o tempo mais belo. 07

Nada se diz ser mistério quando há mais, no fundo, que um tempo-manifesto. Cala teu silêncio, tédio. Entre tua voz e o mundo há vários universos.

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Jamais pensei em mentir. A mentira tem de ser praticada na fala, não no pensamento. – Se assim não ocorrer, seremos os primeiros enganados. Eu não minto. Mas sei, comigo mesmo, que isto é verdade. 08

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tua forma é minha expressão sentimento e gosto que deflora teu corpo exposto na multidão

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estranha na entranha da noite não houve nem ouço seu êxito no exo de mim 10

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O talento? Nada mais é do que a combinação, no seu maior grau, da sinceridade com a coragem.

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Amo – E quero ser livre. Tenho prazeres, não bens. Vivo a coragem, não tenho dons. E amo, a sós, sem desilusões.

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A tristeza é o solitário a noite partindo seu sono num campo de tempo imantado que atrai partículas de números e horários e dinheiros e rumos para seus sonhos se abrindo como uma mina no espaço. – A chance de ir ao alcançe do desnecessário absurdo. 13

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Meu amor começa ao raiar do dia. Não acorda – renasce ao primeiro pensamento em minha cabeça. Não dorme, porque sua morte o encerra na saudade que adormece

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Há quem leia no poema o melhor dos sons de sua cabeça brotando letras-imagens de outros tempos, estranhos, a oração para fora de si, o começo e o fim entrelaçados. 15

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sobre o tempo a natureza do meu amor já se revela não na suposta beleza de palavras corretas – as mais vãs... mas num sentimento [tão elevado quanto quisera a minha alma, ser de um poeta.

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o que penso de mim no escuro, é um risco por não enxergar meu próprio pensamento

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O que acontece é que a razão é tão tênue quanto a ilusão. Já nos definimos na prepotência de ser o que queremos, mas o fato do não saber nada de sí, isto então já nos parece demasiado conhecimento. Assim como os pensamentos se confundem aos instintos, o amor se confunde com a loucura. E isto é uma verdade temerosa, pois todo o alicerce da razão está no equilíbrio emocional. E daí?...desequilibrado (uma vez amoroso), então a canção, então a pá sobre as costas, se abrindo... 18 A voz se tornando uma dor inteligente. Mas não há linguagem, não há entendimento. O efeito da natureza sobre a realidade é matemático e, por isso mesmo, apenas virtual.

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Somos o que precisamos. Sem querer e sem saber atingimos o caso do momento. Mas o tempo chega e nos mata sempre; destruindo o que ali conquistamos – a custo do que já não havemos. E assim, somos outra coisa que não compreendemos. 19

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Entre as palavras trocadas escondem-se pensamentos mudos, como cegos no silêncio. Dispensam formas ou sentidos,. mas sentimo-los, tanto quanto existem sonhos. E no entanto parece-nos nunca tê-los visto. É estranho que haja poesia, tristeza ou alegria nas cores/dores/amores, quando sabemos que, entre si, as palavras são intermediárias daquilo que não se diz. Uma luz nunca dura mais do que seu fim, apenas se oculta, entre as palavras trocadas.

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A madrugada é a memória antecipada; mágica temporal. As horas estão nuas de sua luz real. As várias cabeças são só ornamentos para o corpo. O pensamento é passado. Pois, sonho é revolta. – Não há o despertar. 21

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Até o mal faz bem. Às vezes ele toca aonde nunca foi tocado. Ocorre uma dor, mas é só um alerta de que novos territórios foram alcançados. O prazer facilita o acesso ao que for insuportável. 22

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Como um orgasmo Ressonante A bela paisagem urbana E o canto do pรกssaro-lira Engolido pelo que dizem Ser tempo Ser homem Sem pensamento 23

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O sol é um sonrisal dissolvendo... Som de riso. Resolutamente lindo como o céu dos comprimidos. 24

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Não há tempo a se perder. O tempo que não se teve nunca existiu para o ser. Mas, o tempo que restar, desde que guardado nos atos, será sempre um futuro um presente da realidade; em forma de realidade. Não há pensamento. A reflexão nos trás somente a impressão do concreto, do sólido. Seus efeitos de objetos pré-exisentes, é o que nos isenta de idealizá-los, de pensar neles como sonho. E o sonho... este fica por conta do tempo, do sinal do relógio e da loucura esgotada pelo mesmo medo que antecede toda necessidade de um fim.

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As coisas que digo em poesia, de alma ainda não nascida, e que talvez nunca se digam, vide um ponto onipresente, – qual sentido algum o sente – são o canto ao meu vazio impossível de haver-me só em delírio de ser outro e nada mais um pouco; sou o silêncio no avesso do que penso.

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No sentido do sonho mais novo assomo a palavra estranha. Há o encontro e nos tornamos sentimento. Um certo canto nos fala – a mim e à palavra procuramos o pensamento nas estepes, em folhas de esperanças. Caímos, sem alturas. Nossa humanidade é plana sob este azul de neutralidade. E descobrimos que há necessidade de contrários, pois, cremos num único fato que nos soçobra e arrasta pelo tempo. No chamado das horas ao óbolo do conhecimento, rende-se a eternidade a um numerário de mitos.

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Au revoir... Já o passado se escreve por sí, não houve idéia, a marca é verdadeira, a tinturação recobre o verbo. Adeus aos deuses; amuletos imolados na carne da memória. Vão-se para um inferno de cigarros brancos, descolarinhados de suas auras. E os filetes que não respingaram no jornal, a boca murcha a cada menos dente; pedinte da outra beleza que também já partiu... Numa só noite, um pedaço de vida do que já foi um deus.

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Em toda palavra há paixão – e consumada – até mesmo a palavra sem paixão (paixão pela palavra)

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liberdade é crime.

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Morte, dá-nos, a cada noite dormida, um pouco de tua paz. Nos entremeios da vigília, vem ser a sombra que resfria todos os pensamentos, congelando-os, sem sonhos, durante o ruir da memória. A aurora da meia-hora que trava os espaços, minimizados de suas cores durante o sono, é arte de uma foto-síntese. A alma fugidia cede-te o lugar: um jardim? um pomar? Ou um campo muturo e baldio?... Há uma negação do juízo em vestir-te um corpo final. 31 Mas deita, súmula e vírgula na expiação moral de nossas vidas, a ti subordinadas.

Fábio Fernando


Livro dá Poesia

A poesia é arte invisível. Sem audição nem representação. Não pode saber cores ou cheiros. Nenhuma idéia de construção. Como a própria vida de um, a poesia não é arte. E, se o quiser, será arte comum.

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