A pedra de Ribeirão Suave

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Passagem de ida1 Na prefeitura de Ribeirão Suave2 todos olhavam estupefatos para a pedra sobre a coluna grega coríntia de oitenta centímetros de altura, com sua elegante fuste, coberta com a cúpula de vidro extremamente transparente apesar de sua espessura. Muitas historias foram contadas a respeito de como aquela pedra teria sido encontrada em Ribeirão Suave, muito fantasiosas e contraditórias. Por mais de cinquenta anos aquela pedra fora encarada como o meteorito de Ribeirão Suave, coberta com uma camada de pedra chamuscada e derretida, escondia em seu interior uma peça poligonal metálica que emitia uma suave radiação incomum e aparentemente inofensiva. O seu segredo da radiação oculta foi desvendado quando um relapso funcionário da prefeitura percebeu as interferências da pedra enquanto jogava em seu celular no turno de segurança da noite. As imagens no smartphone ficavam levemente onduladas e mudavam sutilmente de cor quando se aproximava da pedra, mas não interferia no sinal 3g. A radiação não foi percebida antes porque quando a pedra foi encontrada não haviam equipamentos sensíveis o suficiente para a detecção. Os cientistas da cidade reunidos em volta da pedra discutiram se deveriam ou não submeter o meteorito a alguns caros e dispendiosos exames, pois a cidade passava por momentos difíceis, decidindo por fim em expor como atração turística o que atraiu realmente alguns curiosos para a Cidade tornando o turismo uma das fontes de renda para o municipio, por que Ribeirão Suave era uma bela cidade a aproximadamente 100 km da Capital com belos lagos, cachoeiras, cavernas e fazendas de gado de leite e corte, uma mina de bauxita, já nos estertores. Ribeirão Suave contava com uma estação de Trem desativada que virou um museu de geologia. Cercada por uma serra ao leste, e o lago da represa a oeste, ficava no vale do rio Ribeirão Suave, emancipada politicamente em 1960, conta com 250 mil habitantes, graças as três renomadas faculdades particulares, de tempo integral. Os reitores das três faculdades locais não demonstraram interesse, mesmo porque fugia da área de atuação de suas instituições, Mineralogia, Botânica e Agropecuária. A Faculdade Hebraica de Mineralogia talvez demonstrasse algum interessasse se a pedra tivesse origem ali em Ribeirão, mas a origem espacial da pedra não dava margens para investimentos, e até onde se sabia a radiação era ínfima, não sendo capaz de movimentar nenhum tipo de reator, o que demonstrou ser um ledo engano. 1 Tema do primeiro capitulo de “A Pedra” 2 Cidade fictícia que se encontraria a 100 km do centro de São Paulo, entre Bragança Paulista e Piracaia.


Quem mais se interessou foi a Universidade de São Paulo, USP que enviou uma equipe de seis Professores PHD, de Física, Química, Biologia, Astronomia, Radiologia e Arqueologia, para estudar o fenômeno. O líder Professor de Física Felix de Arruda, o Químico Francisco Orta, a Bióloga Marina Dias, o Astrônomo Ricardo da Cunha, o Radiologista Fernando Guimaraes e a Arqueóloga Helena Amantis. A descoberta da radiação não abalou nenhum principio cientifico, nem acadêmico, estava sendo tratado como um fenômeno natural que precisava ser melhor explicado. Embora a radiação interferisse em campos elétricos, de forma sutil, não apresentava outras características da eletricidade, tais como campo magnético. A química ainda era um mistério, por que aparentemente o artefato teria “caído” na terra a milhares de anos e os testes preliminares de carbono não precisavam em que era geológica teria acontecido e o mais significativo traço era a existência de sílica em toda a superfície, dando conta que estava misturada na casca carbonizada, como se houvesse derretido alguma peça de equipamento eletrônico. Embora o sítio arqueológico onde foi encontrada a pedra tenha sido muito prejudicado, porque foi em pleno canteiro de obras de uma rodovia próximo a cidade, o local apresentava condições peculiares, dando conta que o objeto havia incinerado aquele local criando uma cratera de aproximadamente quinhentos metros de diâmetro de rochas e terra queimada, com essas dimensões contrariando o esperado de um impacto de um meteorito que após a sua queima na atmosfera ainda restariam 5 quilos de massa, e a própria existência constrangedora da sílica em sua crosta que não poderia ter deixado restar nenhum traço após a queima em uma media de 7000 °C de temperatura. Quanto mais se analisava a pedra mais duvidas se obtinha. Muitas vezes a prefeitura de Ribeirão Suave foi acusada de ser uma fraude, mas quando chegou ao conhecimento da mídia à estranha radiação, a repórter do Diário de Ribeirão, Patrícia Pereira, fiel defensora da relíquia de Ribeirão Suave, colocou a boca no trombone alardeando a autenticidade do artefato. “Nova evidencia da origem alienígena da Pedra de Ribeirão Suave” foi a manchete daquele dia 25 de abril de 2016, uma segunda feira ensolarada. (Nova evidencia da origem alienígena da Pedra de Ribeirão Suave foi constatada nesta sexta feira quando a junta de cientistas vindos da USP de São Paulo, do Núcleo de Estudos Científicos Terrestres e Ambientais (NECTA)3, liderado pelo Doutor Felix Arruda, constataram particularidades no artefato que ainda não haviam sido observadas. “- A pedra emite uma radiação impar não enquadrada no espectro comum existente na terra, não provoca nenhum dano celular e é capaz de penetrar qualquer substancia inclusive a 3 NECTA é um nucle de estudos fictício.


própria cúpula de vidro de duas polegadas de espessura, ou mantas de proteção forradas de chumbo...” declarou a Doutor Fernando Guimaraes, especialista em radiologia de minerais. “- O sitio arqueológico tem características muito incomuns, a cratera da pseudo-queda do meteorito deveria ter impactado uma área muito maior abrangendo vários quilômetros, e não uma área tão restrita de quinhentos metros quadrados. E não apresenta os costumeiros minérios semi derretidos na media de 7000 °C de temperatura. São alguns mistérios que ainda não foram equacionados.” Declara a Arqueóloga Helena Amantis.


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