é maconha, eu juro

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é maconha, eu juro por Fabio Lopez

16:25, hora moribunda. Alguns dias depois do carnaval a cidade ainda se ressente de tanta folia...

Marcelinho não teve aula de macro – parece que o professor teve outra crise de hipertensão, passou mal e não apareceu. É terça-feira, início de semestre e porra nenhuma pra fazer em casa. Arrumou a mochila e veio descendo a Marquês. Teve a ideia: queimar aquela pontinha na travessia da Jardim Botânico - maior marasmo, podia andar pelado por ali que ninguém ia dar a menor bola. O baseado era bom: um soltinho baiano que sobrou da praia. O sudoeste apagou a mutuca e virou o tempo, mas deixou um tapinha pro meio da semana – nada mal. Passou o último ponto de ônibus e dali em diante eram 12 minutos de caminhada. Um bico certeiro no relógio: dava pra acender, travar, respirar fundo e atravessar o muro do jóquei numa paz esverdeada, distraída pelo vai e vem frenético dos automóveis. Encostou na parede encardida e fez uma conchinha pro vento não zoar a chama. Era um desses isqueiros de festa, que nascem em bolsos de jaqueta e sobrevivem em mesas sujas, sempre respingados de cerveja e engordurados por mão de aperitivo. Acendeu, tragou, e antes de desfazer o ninho de fumaça macia escutou o carro da polícia chegando... Os 2 canas pularam do veículo fazendo a maior cena: carro atravessado na rua, arma na mão, ignorância e pose de filme – pacote flagrante em alto estilo. - choque de ordem, porra!! isso é lugar de mijar, vagabundo?!? - que isso seu guarda!! eu-eu juro que só tava fumando maconha... sou estudante, tava vindo da universidade, só queria dar um tapinh... - calaboca seu mijão de merda!!.. tu tava urinando no muro que eu vi!!! tá achando que eu sou idiota?!? (esboçou um tapa na cara, mas lembrou do episódio do papai Noel e aliviou) - que isso, seu outoridade!! o-olha a maconha aqui... olha o cheiro... não é urina não, eu juro!!! Nisso o soldado mais exaltado revistou Marcelinho com truculência. Procurou manchinha na roupa e resto de xixi, minuciosamente. As pessoas no ônibus olhavam assustadas, e o taxista passou gritando alguma coisa. - rapaz, é melhor falar a verdade. se eu encontrar mijo na sua mão... eu vou te sacanear, hein!? fala logo que tava urinando na via pública e acerta esse capuccino em suaves prestações. depois vai ser bem pior... olha que eu tô te alertando, porra! O jovem se esticou pra trás e ensaiou um choramingo. Mostrou tatuagem do Bob Marley, foto com D2, pacote fechado de Smoking de Luxe... Acreditava na justiça dos homens e no Cristo fazendo polichinelo no alto da montanha. Era só um maconheiro. - é maconha, é maconha... putaquepariu... eu-eu sou playboy, mas não tava mijando não... olha meu dedo amarelo, o-olha o futum de bagulho... eu juro que tava fumando um baseado... porra, olha ele ali, olha ele ali!!! tá do lado da pocinha... - da ‘pocinha’, cidadão?!? - Varela, toca pra DP!

Fevereiro de 2010


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