website e podcast
Por FÁBIO LUÍS GASPARELLO MARCOLINO
CENTRO UNIVERSITÁRIO POSITIVO – UNICENP Curso de Comunicação Social – Jornalismo
website e podcast SOMBRAS DA REALIDADE: Jornalismo do Sobrenatural
Aluno: Fábio Luís Gasparello Marcolino Orientador: professor mestre Luiz Witiuk
CURITIBA 2007
CENTRO UNIVERSITÁRIO POSITIVO – UNICENP Curso de Comunicação Social – Jornalismo
website e podcast SOMBRAS DA REALIDADE: Jornalismo do Sobrenatural
Trabalho (produto/internet) de conclusão de curso apresentado como requisito parcial à obtenção de grau de Bacharel em Comunicação Social – Habilitação em Jornalismo ao Setor de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas, do Centro Universitário Positivo – UnicenP, sob orientação do professor mestre Luiz Witiuk.
CURITIBA 2007
Agradecimentos,
Agradeço a realização deste trabalho sobretudo a Deus, o Senhor do Texto correto em linhas garranchadas, que criou este universo maluco que vivemos, cheio de mistérios. Agradeço às pessoas que mais amo: pai, mãe (que se melhorassem estragavam), irmãzinha Kel (que está sempre ao meu lado), minha noiva amada e querida Jamille, e meu irmão adotado Gabriel Lopes pela paciência, pela calma, pela Força, pelo carinho, por eu existir e sorrir. Agradeço ao marinheiro desbravador e honrado digníssimo Gabriel Tabatcheik, que inventou comigo o Sombras da Realidade, o que jamais esqueceeir. Agradeço ao meu orientador Luiz Witiuk pelo apoio, compreensão e amizade, e aos colaboradores e amigos que me ajudaram com suor e alegria.
Mais agradecimentos Essas pessoas iluminaram meu caminho dos Sombras: Jamil Sallon Júnior (pela primeira das primeiras entrevistas) Professora Marília Ferreira (pelo teatro) Professora Elena Andrei (por me fazer gostar de folclore) Rafael Urban (pelo Zé do Caixão) Caetano Candal Sato (pelo pioneirismo Sombrio e ajuda sempre empolgada) Celina Soares (pelo prazer de me ajudar) Danielle Leucz (pela força e o Belzebu de Campo Largo) Silvia Valim (pelo “Sombras de la Realidad”) René Márcio Ruschel (pelos conselhos sempre valiosos) Milton Cavalcanti e a turma do café (eles realmente sabem o que é jornalismo!) Professor Marcelo Lima (pela co-orientação e discussão) Professora Cleide Luciane (pela Sociedade em Rede) Professor Geraldo Silva (pela participação especial) Professor Victor Folquening (pela sede do jornalismo criativo) Professor Fábio Marchioro (pelo “salto de Fé”) Professor Tomás Eon Barreiros (pela chatice) Professora Maria Zaclis Veiga (pelo 10º Sangue Novo) Professor Alexandre Grubber Castro (por ter acreditado quando o Sombras era só uma idéia) Professor Rafael Rosa (pelos materiais e a atenção)
E a todos tantos que estiveram comigo e me ajudaram direta ou indiretamente!
"O mais belo sentimento é o sentimento do mistério. É a origem de toda ciência verdadeira. Quem jamais conheceu esta emoção, quem não possui o dom de admiração, é como se estivesse morto: seus olhos estão cerrados." - Albert Einstein
RESUMO
As várias histórias que envolvem o sobrenatural presentes na humanidade são fruto de um processo folkcomunicacional, mas este acaba por não encontrar espaço na Grande Imprensa. Então, neste momento em que o misticismo está em alta, buscase a criação de um produto que se utiliza da internet – um meio alternativo - e do jornalismo – para o trabalho ser feito com seriedade - para resolver este problema. Com a importância da oralidade em mente, e com a possibilidade de se fazer um rádio mais interativo na internet, entende-se que o podcast é uma tecnologia nova que pode tornar mais eficiente esse processo, evitando vícios anteriores. Discorre-se sobre a questão da cultura na internet, a evolução do rádio, e do Sobrenatural as relações entre folclore, o ceticismo atual e a religiosidade. O produto final é um website para o público juvenil com material audível e textos criativos — um espaço novo que informa e de quebra privilegia culturas populares.
Palavras-chave: Folkcomunicação, lendas, folclore, cultura, sobrenatural, podcast, rádio, cibercultura.
SUMÁRIO INTRODUÇÃO ...............................................................................................................08 a) Problema da pesquisa......................................................................................10 b) Justificativa.......................................................................................................11 c) Objetivos ...........................................................................................................14 d) Metodologia ......................................................................................................15 1. O RÁDIO E A INTERNET: EVOLUÇÃO....................................................................16 1.1 Rádio: Nascimento, auge, decadência e reestruturação...........................16 1.2 Sociedade e tecnologia: ciberespaço – virtualização da comunicação....18 1.3 Webrádio: o rádio sai das cinzas para um novo universo .........................24 2. O PODCASTING.......................................................................................................30 2.1 Definições e história......................................................................................30 2.2 Humanização e Podcast — necessidade de melhoria................................34 3. AS SOMBRAS ..........................................................................................................40 3.1 Relações da cultura Folk na religião e no sobrenatural............................40 4. O PRODUTO SOMBRAS DA REALIDADE ..............................................................49 4.1 Visão geral......................................................................................................49 4.2 Metodologia aplicada ....................................................................................50 4.3 Viabilidade do produto: continuidade prevista ...........................................56 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...........................................................................................57 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..............................................................................58 ANEXOS ........................................................................................................................63
INTRODUÇÃO
Luiz Beltrão define folkcomunicação como “o processo de intercâmbio de informações e manifestações de opiniões, idéias e atitudes da massa, através de agentes e meios ligados direta ou indiretamente ao folclore” (2001, p.79). As lendas e histórias populares contadas de geração a geração que envolvem o sobrenatural é parte deste ramo de pesquisa iniciado por Beltrão. O jornalista, inventor do termo “folkcomunicação”, em sua tese de doutorado realizada em 1967, defende que os “causos”, as histórias trocadas entre “marginalizados” e “excluídos” não possuem acesso à grande imprensa, mantendo a disseminação dessas culturas segregadas a um nicho intangível. Da Telenovela [sic], passando pela espetacularização dos programas de auditório, pelo temário elencado no noticiamento dos grandes jornais diários e revistas semanais, pela programação jornalística e musical das rádios metropolitanas até chegarmos aos sites de grande acessibilidade e credibilidade na Web, verificamos que são poucos os espaços concedidos à chamada “cultura popular”, tão pulsante e diversificada, num país de dimensões continentais, que não se resume só aos grandes centros urbanos [...] e que, por tradição, tem uma memória a ser resgatada, bem como um universo de crenças e costumes a serem revistos e divulgados pelos MassMedia [sic](ORLANDO, 2002, p 4).
Porém, de acordo com Lílian Ribeiro (RIBEIRO, 2005), com o advento da internet e a sua crescente popularização, o cidadão comum, desligado da grande imprensa, ganha a chance de se tornar um agente social, podendo disseminar sua cultura, valores e pontos de vista na grande rede. A autora aponta que isto fica ainda mais forte com o advento do podcast — tecnologia que, de acordo com Foschini e Taddei, permite transferir arquivos de áudio digital que podem ser descarregados de um sítio da internet para computadores de mão (PDAs), modelos avançados de Ipods e determinados aparelhos celulares (FOSCHINI; TADDEI, 2006, p. 9) . Certamente, observando desta maneira, pode ser vista uma certa cibernetização do folclore se pensar em um produto que instale idéias seculares tradicionais de culturas no veículo de comunicação mais avançado e recente dos dias de hoje. O estudo folkcomunicacional, iniciado em 1967, não define uma data exata de quando a 8
humanidade começa a estabelecer suas relações culturais, mas é razoável supor que ela está arraigada ao homem desde suas primeiras relações sociais, provavelmente iniciadas antes mesmo que a palavra “sociedade” fosse criada. Os estudos sobre a internet são muito recentes (a maior parte da bibliografia data da segunda metade dos anos 90 aos dias de hoje), e do podcasting mais ainda, por ser um fenômeno ainda mais atual (toda bibliografia encontrada data a partir da virada do milênio). Por isso mesmo, por sua similaridade — como diz Marcello Medeiros “que fique claro que podcast não é rádio!” (MEDEIROS, 2005, p. 6) — o estudo se embasa também em teorias de radiodifusão (onde suas características forem similares) para elaboração de um programa radiofônico em podcast, chamado Sombras da Realidade. Nada impede que essas teorias sejam combinadas para criar um espaço1 que abrigue o programa e ainda centralize informações relacionadas ao sobrenatural, aplicando técnicas de jornalismo on-line — conforme Bruno Rodrigues (2005, p. 32) defende, com texto criativo — para assim privilegiar culturas locais e principalmente dar voz aos “excluídos” e “marginalizados”, disseminando sua cultura pela internet. A respeito da questão dos excluídos e do uso da internet, dados trazidos por Francilaine Munhoz de Moraes e Fábio Henrique Pereira da Universidade de Brasília mostram que no Brasil a internet decresce velozmente seu número de “excluídos digitais”. Hoje a internet já envolve um público suficiente para constituir uma audiência de massa nesse sentido. De acordo com um Mapa da Exclusão Digital, divulgado em abril pela Fundação Getúlio Vargas, 15,29% dos brasileiros já têm acesso a computadores. Para se ter uma idéia, a circulação média de jornais no Brasil atinge apenas 6,42% da população adulta, segundo dados da Associação Mundial de Jornais (WAN). Além disso, o expressivo crescimento da internet nos últimos anos mostra que a rede tem potencial para atingir um público comparável às mídias eletrônicas tradicionais. A internet se concretiza dentro de um novo processo comunicativo. Além de percebê-la dentro de seu contexto histórico social, devemos também entendê-la como prática social (MORAES; PEREIRA, 2003, p.4).
Isso significa que não demorará para que muitos desses excluídos tenham acesso à internet e também possam ver sua cultura sendo disseminada desta maneira. Portanto, esse espaço onde a cultura folclórica poderá ser difundida é o produto desenvolvido neste trabalho: o website Sombras da Realidade: Jornalismo do Sobrenatural, cujo tema específico é justamente o sobrenatural encontrado no folclore. 1
Vide capítulo 1.2, na página 3, que trata a discussão sobre a internet ser considerada um espaço.
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a) Problema da pesquisa A história da humanidade está rodeada de lendas e histórias inacreditáveis, ou no mínimo críveis apenas pelo advento da fé. Qualquer coisa que fuja da racionalidade, que não é compreensível como evento natural, tende a ser classificado como sobrenatural. Eis o fomento para o medo do desconhecido. Mas como as histórias do sobrenatural se propagam? Há realmente na sociedade atual uma descrença nessas histórias? Qual é e qual foi a importância delas para a sociedade? A ciência estaria sempre apta a explicá-las? De que maneira seria possível despertar a curiosidade sobre culturas regionais pela internet? Como privilegiá-las e não prejudicá-las desta forma? Após exaustivas pesquisas nas principais ferramentas de busca da internet realizadas no início de 2007, não foi possível encontrar algum site que trate o “sobrenatural” da cultura folk com um tratamento jornalístico. Claro, há sites2 que trazem lendas urbanas, contos e alguns que desmitificam essas histórias, mas sem tratamento jornalístico (e muitas vezes assim sem credibilidade) e mais ênfase apenas na segurança virtual, identificando vírus e fraudes on-line. O site “Nostalgia do Terror”, por exemplo, traz contos de terror em podcast3, no entanto, não há elementos de radiojornalismo nesses arquivos de áudio, muito menos uma busca por privilegiar culturas diversas respeitando suas raízes. Além do que ao observar esses sites, a constatação do estudo de Marla Cristiane Araújo Medeiros, realizado em 2002, se confirma: os processos tecnológicos que encurtam distâncias estão cada vez mais hibridando as diversas culturas populares, em um processo inevitável. 2
Os seguintes sites merecem atenção:
Estronho & Esquésito <www.estronho.com.br>. Acesso em 1.Mai.2007 Mr. Malas Lendas Urbanas <http://www.mrmalas.com/lendas/index.htm>. Acesso em 1.Mai.2007 Science Passion! <http://www.geocities.com/mpennafort/cetico.html>. Acesso em 4.Mai.2007 Urban Legends <http://www.urbanlegends.com/afu.faq/>. Acesso em 4.Mai.2007 Snopes.com the Urban Legends Reference Page <http://www.snopes.com/>. Acesso em 6.Mai.2007 Projeto Ockman <http://www.projetoockham.org/boatos_entrada.html>. Acesso em 5.Mai.2007 Vírus Myths <http://www.vmyths.com/>. Acesso em 5.Mai.2007 3
Disponível em <http://www.nostalgiadoterror.com/contos.html. Acesso em 6.Mai.2007>
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Muitos pesquisadores comungam da idéia de que se esse processo é inevitável, ao menos que seja mantida a raiz das manifestações e da sabedoria popular porque caso ela se perca perde-se os referenciais que dão sentido a nossa história, não só aquela que nos construiu, mas principalmente a que sucede esse tempo (MEDEIROS, 2002, p. 8).
Dadas essas considerações, tem-se formulado então o seguinte problema que o presente trabalho busca resolver: como funcionam as relações entre sociedade do ciberespaço, folclore e tecnologias audíveis on-line para que seja possível um Jornalismo do Sobrenatural? b) Justificativa O mercado possui “a necessidade de se apropriar de bens simbólicos tradicionais em seus circuitos massivos de comunicação, para atingir mesmo as camadas populares menos integradas à modernidade” (CANCLINI, 2003, p.215). Dessa maneira, manifestações da Indústria Cultural como, por exemplo, o sucesso de vendas dos livros da série “Harry Potter” (inspirado em símbolos pagão folclóricos europeus); os investimentos astronômicos para produção cinematográfica para os livros de “O Senhor dos Anéis” (a grande fonte de inspiração para a maioria dos universos de fantasia criados hoje em dia, também criado a partir de folclores europeus); a produção televisiva da obra fantástica de Monteiro Lobato “O Sítio do Pica-Pau Amarelo” renovada e índice de grande audiência na Rede Globo; e o fato dos livros de Paulo Coelho continuarem vendendo — todos esses eventos4 são apenas alguns exemplos que sustentam a afirmação de que hoje o misticismo está em alta, no Brasil e no mundo. O Sombras da Realidade, a exemplo desses produtos da Cultura de Massas, 4
Há um estudo aprofundado em torno da Hibridação Cultural em que as novas tecnologias de comunicação em massa interferem na cultura do imaginário popular, afetando seu folclore enquanto a própria Indústria Cultural se apropria de diversos símbolos da cultura popular (CANCLINI, 2003), como por exemplo o sobrenatural. O sobrenatural, ou como PELLEGRINI FILHO (2000) prefere se remeter, o Maravilhoso está presente em histórias não-folclóricas surgidas modernamente, como os Jedi de Star Wars, personagens de quadrinhos ou o Harry Potter. Esses personagens “são criações eruditas e — note bem — são produções estudadas em gabinete, planejadas, dirigidas, condicionadas a certos padrões comportamentais e a certos interesses econômicos e até ideológicos, para difusão na mais larga escala industrial [...], utilizando os veículos de massa”. Pellegrini Filho ressalta que há “profundas diferenças entre esse contexto da indústria cultural e as criações tradicional-populares, cujos frutos se cristalizaram na mentalidade do homem, atendendo as características do próprio gênero humano e a circunstâncias sócio-culturais” (PELLEGRINI FILHO, 2000, p. 92).
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trata do misticismo, uma vez que abraça o “sobrenatural” como tema principal. Assim, com o misticismo em alta, este é o momento ideal para criação deste produto. Porém, mesmo sendo também um produto de entretenimento, isso não significa que ele deve seguir os ditames da moda e assim desfigurar as velhas formas de poesia, história, crenças, costumes, canções e danças sobreviventes. Sobretudo, as histórias, ou “causos” como diria Beltrão (1997). A internet, um meio democrático por natureza,
permite
a
liberdade
de
publicação
e
discussão
de
conteúdos
independentemente do que está em voga. De qualquer maneira, pretende-se aplicar as técnicas jornalísticas5 para realização deste produto, pois o jornalismo em si preza por um tratamento mais sério. A desfiguração de histórias folclóricas vai contra o respeito à tradição que o produto busca. Doutor Braguez, em artigo da “Revista Folkcomunicação” conclui — em artigo que explana como está o andamento dos estudos iniciados por Beltrão no Brasil — que uma das tendências é que, ao veicular a folkcomunicação na grande mídia, isso ocorra. “Se [a folkcomunicação] viesse a concorrer com a indústria cultural, através de programas de rádio, televisão, teatro, disco, cinema ou livro, teria que se sujeitar aos ditames da moda para se impor no mercado e seria tudo, menos folclore” (BRAGUEZ, 2003, p. 109). Uma das grandes vantagens de um website é que, não pertencendo à grande mídia, ele não precisa estar sujeito à moda do momento. O único limite deste veículo é a necessidade de ter que atender ao pedido direto de seu público, que na internet se torna muito mais um agente ativo do que em qualquer outro meio, devido à sua grande capacidade de interação. E com o jornalismo em que uma de suas funções primordiais é dar voz a quem não tem, é possível estabelecer um canal folkcomunicacional, onde diversas culturas podem ser divulgadas a partir da voz de seus interlocutores. A riqueza do folclore de diversas culturas pode e deve ser também fonte de informação. São essas as principais razões para que esta pesquisa e este produto sejam realizados. No âmbito científico, este projeto auxilia no desenvolvimento do estudo da folkcomunicação, podendo futuramente se tornar artigo da revista científica que leva o mesmo nome desta linha de pesquisa. Isto porque este trabalho tem como um dos 5
As técnicas jornalísticas empregadas estão fundamentadas no capítulo 4.
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objetivos privilegiar as histórias da sabedoria popular que envolve o sobrenatural. Levando em conta o aspecto cético do programa, a ciência estará presente no conteúdo do site, criando oportunidade para os especialistas de diversas áreas do conhecimento darem os seus pareceres a respeito das histórias da cultura popular divulgadas. No âmbito jornalístico, o trabalho auxilia na questão de mostrar que é possível se fazer cidadania sem depender da Grande Imprensa, aplicando suas técnicas de reportagem na internet para mostrar as lendas de culturas não só de uma determinada região, mas de qualquer lugar que deseje ver suas histórias conhecidas mundo afora. Além disso, sabe-se, através da prática, que apesar da internet ainda não ser o meio mais popular (apenas 20% da população brasileira já teve acesso à internet, segundo estudo recente do IBGE6), por sua instantaneidade ela pauta um grande número dos programas jornalísticos de rádio e televisão, nos quais estes são palco da Grande Imprensa. Desta maneira o site do Sombras da Realidade pode sim se tornar um veículo de referência para fazer conhecidos e vivos os folclores regionais. De acordo com o mesmo estudo já citado realizado pelo IBGE, um terço dos usuários da internet tem idade de 15 a 17 anos. Também, entre os profissionais das ciências e das artes 72,8% são internautas. O site pretende atingir essa camada da população jovem brasileira em sua primeira fase, já que tem como fim trabalhar com um conteúdo criativo e de interesse para essa faixa etária. Este é o mesmo público alvo da literatura infanto-juvenil de Harry Potter e outros produtos da ficção cuja visibilidade nos noticiários a sua capacidade de atrair multidões de fanáticos é notável. Mas a idéia é conscientizar os juvenis que possuem acesso à internet da existência de outras histórias fantásticas — que vão além do já pop folclore europeu — temperadas com informação de ordem jornalística. Apesar de utópico, é de interesse também que a comunidade científica e artística sejam seduzidos pelo conteúdo do site, para que desta forma se abra um leque de crescimento da folkcomunicação, fazendo do sítio eletrônico referência para esses profissionais que possuem a capacidade de tornar o conhecimento dessas diversas 6
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Resultados da pesquisa disponível em <http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/noticia_visualiza.php?id_noticia=846&id_pagina=1>. Acesso em 6.Mai.2007
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culturas ainda mais proeminente. Na prática, o jornalismo deste site pode dar voz àqueles que não possuem acesso à grande imprensa neste novo canal da cultura folk para que profissionais das ciências sociais possam ao mesmo tempo usá-la como ferramenta e a comunidade artística se inspire para também divulgá-la. Preocupando-se com o desenvolvimento intelectual, tendo em mente que “o povo que perde sua identidade perde sua capacidade de construir cidadãos críticos, de construir cidadania de se reportar ao passado na busca de construir o futuro” (MEDEIROS, 2002, p. 9), o website pode, através do entretenimento, fortalecer identidades culturais dando voz a seu público-alvo. O entretenimento, ao qual o produto se propõe, é sempre alienante? Talvez o Sombras da Realidade, fazendo jornalismo cultural possa mostrar que essa premissa é falsa, sem medo. c) Objetivos •
Objetivo geral
Criar um website que disponibiliza um programa “Sombras da Realidade” semanalmente em forma de podcast. Além disso, que o site tenha o necessário fluxo de conteúdo atualizado diariamente sobre lendas, lendas urbanas, mitos e histórias curiosas — tudo que diz respeito ao sobrenatural dentro da cultura folk — para prestigiar e fortalecê-la permitindo que o jovem entenda e participe da cultura popular, por meio dessa tecnologia que quebra barreiras geográficas7, tão presente na vida deles. •
Objetivos específicos
- Identificar a função do “sobrenatural” na sociedade e no imaginário social; - Abrir um canal de comunicação oral e escrito com o internauta e os detentores da cultura folk, para que possam participarem discutindo e contando suas histórias; - Prestigiar e privilegiar folclores regionais, disseminando-os na internet pelo site; - Divulgar a folkcomunicação e assim auxiliar na expansão desses estudos. 7
É difícil delimitar um “alcance” quando se trata de internet. Através do conhecimento empírico com a experiência de trabalhar em websites sabe-se que hoje em dia a única “barreira geográfica” dela é a língua. Muitos websites projetados para Portugal acabam sendo acessados por brasileiros e vice-e-versa. Assim, o produto piloto está montado em português, mas nada impede que ele, doravante, seja disponibilizado em outras línguas, a exemplo da versão do programa em espanhol que está presente no produto. A idéia é abraçar o Brasil e no futuro o mundo.
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d) Metodologia Para o embasamento teórico, foi realizada uma pesquisa bibliográfica a respeito de Rádio, Webrádio, Podcast, Jornalismo On-line, e Folkcomunicação, no que tange o “sobrenatural” e a religião. O enfoque da pesquisa procurou ser feito na descrição da função desses elementos teóricos e no que eles podem contribuir para a realização do produto; no entanto o método utilizado foi o funcionalista. Este que é: Mais um método de interpretação que de investigação, enfatizando as relações e o ajustamento entre os diversos componentes de uma cultura ou sociedade. Assim sendo, este método visa ao estudo da sociedade do ponto de vista da função das suas unidades, uma vez que considera toda atividade social e cultural como funcional ou como desempenho de funções (SOMMA NETO, 2007, p 16).
Para esta pesquisa, foi importante identificar que “lenda”, “lenda urbana”, e “folclore” (no conceito do senso comum) fazem parte da cultura Folk descrita por Luiz Beltrão e que o “sobrenatural” e o “inacreditável” fazem parte do fenômeno folkcomunicacional (isto está explicado no capítulo 3). Dentro dos estudos sobre o que é sobrenatural, foi possível entender a postura cética moderna necessária para realização do produto. Foram descritos também os meios que o envolverão (internet, podcast, webrádio e rádio) com enfoque no jornalismo on-line. Quanto à construção do produto a metodologia utilizada pode ser consultada no capítulo 4.2 deste trabalho, na página 49.
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1. O RÁDIO E A INTERNET: EVOLUÇÃO A humanidade vive em uma era em que os grandes meios de comunicação se tornam presentes, de certa maneira, na grande rede mundial de computadores — a internet — e em que a webrádio ainda engatinha. Compreender como se chegou até aqui é elementar para entender a aplicabilidade das atuais técnicas de radiojornalismo para o Podcasting. Este capítulo visa trazer essa compreensão e, além disso, explanar as diferenças entre os veículos de rádio comum e o webrádio. 1.1 Rádio: Nascimento, auge, decadência e reestruturação Luiz Artur Ferraretto não considera que o rádio, como se conhece hoje, tenha surgido apenas quando se obteve a tecnologia necessária para transmitir sons usando ondas eletromagnéticas (2001, p. 88). Em termos tecnológicos, foi um longo caminho até este veículo — que pressupõe um fluxo unidirecional e público no qual se envia uma mesma mensagem por vozes e sons para centenas ou milhares de pontos de recepção — se consolidar como verdadeiro meio de comunicação de massa. Ferraretto traz a história dos primórdios no rádio no capítulo 5.1 de sua obra “Rádio – o veículo, a história e a técnica” (2001, p. 79-87), resumido no seguinte parágrafo. As primeiras experiências de transmissão de som, iniciadas aproximadamente em 1830, foram a base para que o veículo rádio crescesse. O desenvolvimento da telegrafia e da telefonia com fios paralelo aos estudos das ondas eletromagnéticas com o coesor de Edouard Brantly permitiram a existência de veículos bidirecionais, em que ainda só era possível a comunicação entre um emissor e um receptor. Com a descoberta da possibilidade das ondas eletromagnéticas poderem ser transmitidas pelo ar, o italiano Guglielmo Marconi conseguiu aumentar a distância das transmissões de sinais sonoros sem a utilização de fios. De 1894 até 1901 este grande empreendedor da comunicação obteve considerável avanço, conseguindo aumentar a distância de transmissão inicialmente de um quilômetro até chegar a um alcance transoceânico. Nesta mesma época, o padre gaúcho Landell de Moura estudava a transmissão radiofônica e já teria conseguido a façanha de transmitir voz pelo rádio antes mesmo do êxito de Marconi, mas não conseguiu avançar por falta de recursos e, como Fernando 16
Cauduro (apud FERRARETTO, 2001, p. 85) refere, possíveis raízes políticas e econômicas, dado os interesses militares e estratégicos britânicos por um meio que facilitasse de tal modo a comunicação. De qualquer maneira, não demorou muito para que John Ambose Fleming e Lee DeForest conseguissem desenvolver válvulas capazes de modularem as ondas eletromagnéticas para garantir a continuidade da transmissão e da recepção e assim permitirem a transmissão de voz, que ocorrera em 1906 graças a Reginald Fesseden e Ernest Alexanderson. Como se não bastasse todo esse percurso, somente 10 anos depois da descoberta se começou a pensar o rádio como meio de transmissão de entretenimento e informações para as massas. Ferraretto afirma no capítulo 5.2 da mesma obra já citada que através da proposta de Sarnoff, em 1920 surge a KDKA, primeira emissora com licença comercial para funcionar, transmitindo constantemente desde então. Dez anos depois, já havia surgido diversos gêneros de programas distribuídos na grade horária nas emissoras que foram aparecendo no mundo todo. Músicas, radionovelas, programas de auditório, programas humorísticos, programas de esporte e os (prestigiados) programas jornalísticos preenchiam então a programação, seguindo o American Way of Life8. Essa foi a conhecida como a era de ouro da rádio (FERRARETTO, 2001, p 119-131). Assim, o rádio cresceu e em 1955 perdeu muito de seu espaço para a televisão (FERRARETTO, 2001, p.135). Ele se reestrutura em 1970 quando a era FM de rádios musicais se consolida (FERRARETTO, 2001, p.155). Raquel Alves (2003) resume o desenrolar da história do rádio no Brasil.
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O modo de vida “americano” (melhor definição seria estado-unidense ) invadiu pelos meios de comunicação de massa a América Latina nos anos 40, incorporando no Brasil a cultura dos norte-americanos. Diversas empresas de lá, como a Coca-Cola, aplicaram seu merchandising aqui da mesma maneira que fazia lá (FERRARETTO, 2001, p. 116-118).
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Início do século XX. Uma nova tecnologia surgia: o rádio. A primeira transmissão radiofônica aconteceu em 7 de setembro de 1922, durante a inauguração da Exposição do Centenário da Independência da República, no Rio de Janeiro. No ano seguinte, Roquete Pinto inaugurou a primeira emissora, a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro. Logo em seguida surgiu a Rádio Clube do Brasil, marcando o início da expansão do veículo. À época a tecnologia era muito incipiente. Na década de 30, indústrias se instalaram no Brasil – o que proporcionou um grande impulso à expansão radiofônica. No início, a produção dos aparelhos era feita em pequena escala. Já nas décadas de 40 e 50 o rádio se popularizou e, chegou a milhares de lares brasileiros. Em meados de 60, os rádios ganharam mobilidade, pois começaram a ser feitos em novos tamanhos e formatos permitindo aos ouvintes carrega-lo consigo para onde quer que fossem. Foi então que o veículo ganhou alcance. O advento da televisão, na década de 50, chegou a ofuscar o rádio, mas não chegou a tirar do veículo a audiência. Onde quer que se vá, em qualquer canto do país ou do mundo, existe um rádio ligado. As ondas eletromagnéticas têm o poder de alcançar as comunidades mais distantes (ALVES a, 2003, p. 4-5).
Hoje, se sabe que o rádio se tornou um veículo barato e de fácil acesso às camadas pobres da população, principalmente aquelas que sofrem com o analfabetismo. A grande força do rádio se dá assim por suas características, citadas por Sabrina Brognoli D'aquino. O rádio, como todo meio de comunicação, tem suas características próprias. Entre elas, podemos citar imediatismo, instantaneidade, linguagem oral, penetração geográfica, mobilidade de emissão e recepção, sensorialidade e baixo custo. (...). Em relação ao público, a audiência do rádio – até mesmo por sua penetração geográfica e baixo custo de aquisição e uso – sempre foi relacionada principalmente com as classes mais populares (D'AQUINO, 2003, p. 4).
Na próxima fase, em que o rádio se encontra, suas características próprias mudam. O panorama recente e as diferenças da webrádio para a rádio comum merecem atenção neste estudo, principalmente se tratando de como isso afeta na produção do jornalismo radiofônico. Mas antes disso, é necessário entender as bases do webjornalismo — hoje utilizador de formas de conteúdos audiovisuais, audíveis, imagéticos e (desde suas origens) textuais. Isto pois sua morada é o novo espaço em que o rádio se encontra em comunhão — a internet. 1.2 Sociedade e tecnologia: ciberespaço – virtualização da comunicação Não é gratuitamente que foi utilizado no parágrafo anterior o termo morada para designar a grande rede das redes. Os recentes estudos sobre Cibercultura referem-se à internet como um espaço — o Ciberespaço. “A palavra ‘ciberespaço’ foi inventada em
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1984 por Willian Gibson em [...] romance de ficção científica.[...] esse termo designa o universo das redes digitais [...], nova fronteira econômica e cultural” (LÉVY, 1999, p. 92). Pierre Lévy, pai da internet, define “ciberespaço como espaço de comunicação aberto
pela
interconexão
mundial
dos
computadores
e
das
memórias
dos
computadores” (LÉVY, 199, p. 92). Para Lévy, “esse novo meio tem a vocação de colocar em sinergia e interfacear todos os dispositivos de criação de informação, de gravação, de comunicação e de simulação” (LÉVY, 199, p. 93). De acordo com Carlos Henrique Medeiros de Souza e Marco Aurélio Borges Costa, este também é chamado de espaço virtual e guarda “características de ambiente, no que se refere à sua capacidade de interferir na produção e reprodução da cultura. Sendo espaço, é também lugar” (COSTA; SOUZA, 2005 p. 4). Tanto que não faz muito tempo era costumeiro se utilizar o termo home-page9 para falar sobre “página pessoal”. No final dos anos 90, para construir sua “página-de-casa“, era necessário para o usuário — que ainda descobria as possibilidades deste novo mundo — até mesmo passar pela cansativa procura de um neighboorhood (vizinhança) pelos sites do velho Geocities, provedor mais popular de espaços (e aqui se fala sobre espaço físico em disco de computador, medido em bits10) para páginas pessoais até então. Nota-se que até o nome do provedor remetia à idéia de cidade11. Costa e Souza destacam que, como em qualquer espaço, uma determinada cultura se desenvolvia. Nesse novo espaço, o ciberespaço, surge uma cultura (a cibercultura), com toda uma possibilidade, garantida pela estrutura técnica do ciberespaço, que privilegia o nomadismo, o voyerismo, e que, por meio do anonimato, da distância espacial e da possibilidade do mascaramento, estimula a uma multiplicidade de identidades culturais (COSTA; SOUZA, 2005, p. 7).
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“`Página-de-casa”, em tradução literal livre do autor deste trabalho. Bit (simplificação para dígito binário, “BInary digiT” em inglês) é a menor unidade de informação usada na Computação e na Teoria da Informação. Um bit tem um único valor, 0 ou 1, ou verdadeiro ou falso, ou neste contexto quaisquer dois valores mutuamente exclusivos. Fisicamente, o valor de um bit é, de uma maneira geral, armazenado como uma carga elétrica acima ou abaixo de um nível padrão em um único capacitor dentro de um dispositivo de memória (OTMAN, 2000). 11 Pierre Lévy usa o termo “cibercidade” no capítulo XIII de sua obra (1999, 185), em que resumidamente ele discorre sobre uma experiência de se criar espaços análogos aos espaços físicos e critica a pseudodemocracia da internet. 10
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Para Pierre Lévy, a cibercultura está “longe de ser uma subcultura dos fanáticos pela rede, a cibercultura expressa uma mutação fundamental da própria essência da cultura” (LEVY, 1999, p. 247). Assim, em uma mesma página ou sala de bate-papo da internet é possível encontrar em plena discussão pessoas de vários lugares, de várias etnias e de vários costumes distintos — isso sem a necessidade de cada um se deslocar de seu local de origem. De acordo com a lógica desses autores, o que ocorre é que enquanto, por exemplo, um brasileiro discute com um árabe, um italiano e um americano ao mesmo tempo, eles não estão no Brasil, no Iraque, na Itália ou nos Estados Unidos. Eles estão no ciberespaço, regido pelas leis e costumes deste local.12 Na condição on line [sic], implica a relação, a sociabilidade, seja esta em tempo real ou não. Pressupõe a interatividade, a existência de um lugar a se entrar e a se sair. Sobre isso, Poster (op cit ROSA, 2001) vai afirmar que a internet (e poderia se dizer o ciberespaço) está muito mais para um território do que para uma coisa. Nascer ou viver no território da Alemanha, por exemplo, faz do indivíduo um alemão, sujeito à cultura e as contingências daquele lugar que se chama Alemanha. Por outro lado, o convívio na internet tem suas regras, seus crimes, suas ofensas, e configura os que nele habitam, instituindo etiquetas, normas sociais, hábitos, costumes, constituindo uma cultura no sentido pleno do termo (COSTA; SOUZA, 2005 p. 5).
Desta forma, não importa a identidade, muito menos a nacionalidade da pessoa, ou de onde ela vem quando se trata da internet. Todos os envolvidos se portarão de acordo com as regras que este novo país, ou melhor, comunidade estabelecer. Para Castells, “em geral entende-se que comunidade virtual [...] é uma rede eletrônica autodefinida de comunicações interativas e organizadas ao redor de interesses ou fins em comum, embora às vezes a comunicação se torne a própria meta” (CASTELLS, 2006, p. 443). A internet possibilita destarte uma discussão em que os aspectos físicos e étnicos pouco importam. Não que isso não afete em seu posicionamento diante de uma discussão, por exemplo, se há uma língua regrada como padrão, quem tem um domínio menor dessa terá maior dificuldades para se expressar. Mas de qualquer maneira, essa capacidade de igualar pessoas e conteúdos em um mesmo padrão permite um ponto 12
Não é relevante para o presente trabalho entrar na discussão da ética, crime e moral destes casos. Para constar, saiba que há uma grande discussão no campo dos estudos do Direito da internet ser considerada muitas vezes “uma terra sem lei”, cuja evidência está inclusive na amplitude que a pirataria on-line conseguiu chegar nos dias de hoje. Para discussão mais aprofundada, vide a obra “Direito Eletrônico” (BLUM, 2001) caso seja de seu interesse o assunto.
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interessante para um website que pretender tratar as diversas crenças de distintas culturas. A chave da cultura do futuro é o conceito de universal sem totalidade. Nessa proposição, o ‘universal’, significa a presença virtual da humanidade para si mesma. O virtual abriga o aqui e agora da espécie, seu ponto de encontro, um aqui e, agora paradoxal, sem lugar nem tempo claramente definíveis. Por exemplo, uma religião universal supostamente dirige-se a todos os homens e os reúne virtualmente em sua revelação, sua escatologia, seus valores. Da mesma forma, a ciência supostamente exprime o (e vale pelo) progresso intelectual do conjunto dos seres humanos, sem exclusões (LEVY, 1999, p. 247).
Essa característica permite dar o mesmo tratamento a essas, evitando-se assim que se privilegie uma cultura em detrimento de outra. Mais do que isso, “as novas tecnologias de comunicação, mediadas por computador, permitem mais do que o contato massificador da televisão ou do rádio, no paradigma um-todos13. Possibilita a troca real, [todos-todos14], em tempo real ou não” (COSTA; SOUZA, 2005 P. 7). Essa possibilidade de troca, se bem utilizada, pode ser um recurso bastante interessante para um website como pretende ser o Sombras da Realidade. A Prof. Dr. Sandra Portella Montardo explica, citando a obra de Dominique Wolton, como que decorre esta troca. Wolton confere à comunicação uma dimensão normativa (partilha, troca com o outro) e outra funcional (necessidade de troca). O elo entre essas duas dimensões dar-se-ia pelas tecnologias de comunicação e de informação. Também é dessa fase a desclassificação da Internet como meio de comunicação (2003), além da percepção de que as tecnologias de comunicação e de informação servem tanto aos ideais democráticos quanto aos fundamentalistas. De acordo com o autor, essa dupla hélice explicaria, em parte, a posição central que a comunicação ocupa na sociedade moderna. Primeiro porque a dimensão normativa encerraria um desdobramento do laço com o outro, em nome da tradição judaico-cristã, que consistiria na igualdade entre indivíduos. Por outro lado, essa questão se acomodaria bem em um horizonte da sociedade democrática de massas, que prevê a liberdade dos indivíduos. Já a dimensão funcional teria a ver com o direito à expressão condizente com a democracia de massa, que, por sua vez, viria a coincidir com as lógicas da rentabilidade e de instrumentalização, solicitadas pelas sociedades complexas (MONTARDO, 2005, p.5).
Essa idéia de troca faz a internet integrar sujeitos interativos, de acordo com o que dizem Fábio Henrique Pereira e Francilaine Munhoz de Moraes, da Universidade de Brasília. Assim, sua audiência não é passiva, e “isso possibilitou a sua diferenciação 13
Entenda o termo como “uma mensagem para todos”, como explica Lemos (2002): “a hierarquia da árvore”. 14 Entenda como “todos trocando mensagens com todos”, como explica Lemos (2002): “a multiplicidade do rizoma”.
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e subseqüente transformação da mídia de massa em segmentada” (MORAES; PEREIRA, 2003, p.3). Nesse sentido, é facilmente compreensível o porquê de “o menu informativo da mídia optar pelo conteúdo, cada vez mais, personalizado e segmentado. O caráter massivo dos meios cede lugar à heterogeneidade. A internet nasce dentro dessa nova lógica” (MORAES; PEREIRA, 2003, p.4). Mais do que um lugar onde há troca com a possibilidade de se tratar democraticamente os temas, a internet deve ser vista como a possibilidade de reunir todos os demais meios. Lemos trata essa questão. O que chamamos de novas tecnologias de comunicação e informação surge a partir de 1975, com a fusão das telecomunicações analógicas com a informática, possibilitando a veiculação, sob um mesmo suporte - o computador -, de diversas formatações de mensagens. Esta revolução digital implica progressivamente, a passagem dos mass-media (cujos símbolos são a TV, o rádio, a imprensa, o cinema) para formas individualizadas de produção, difusão e estoque de informação. Aqui a circulação de informações não obedece à hierarquia da árvore (um-todos) e sim à multiplicidade do rizoma (todos-todos). (LEMOS, 2002, p. 73).
Pierre Lévy mostra que durante esse desenvolvimento, na década de 80 inaugura-se então a era multimídia (LÉVY, 1999, p.32). “A informática perde progressivamente seu status de técnica ligada ao setor industrial e se funde com as telecomunicações, a editoração, o cinema e a televisão, através da digitalização” (MONTARDO, 2005, p.8). Isso possibilitou o webjornalismo funcionar em sites de quarta geração15, que passam a usar a capacidade multimídia da internet em tempo realpara fazer um jornalismo mais rico. Na Internet, também se copia muito os jornais e revistas. Uma conseqüência inevitável do crescimento de produções on-line oriundas das empresas jornalísticas tradicionais, cujo principal produto é a publicação impressa. No entanto, com o passar do tempo, elementos mais específicos da linguagem multimídia começam a ser incorporados ao jornalismo on-line. [...] Em sites brasileiros de natureza jornalística, a notícia apresentada em texto e foto está ganhando, aos poucos, arquivos correlatos de som contendo informação na 15
Há uma classificação de gerações de websites jornalísticos, lecionado em disciplina ministrada pela professora Cleide Luciane na disciplina de webjornalismo do Centro Universitário Positivo – Unicenp em agosto de 2006. Da 1º para a 2º o que difere é a presença do hipertexto, uma vez que a primeira geração de jornais online apenas copiava a informação em apenas um bloco de informações, sem um tratamento adequado pensado para o novo meio enquanto na segunda geração existe uma preocupação pela navegabilidade. Da 2º para a 3º o que difere é do site e o uso de imagens e outros recursos hipermediáticos. Da 3º para o 4º o que difere é justamente a presença dos recursos multimídia em tempo real, explicado acima.
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forma de trechos de entrevistas, depoimentos ou reportagens. Esse recurso multimídia é utilizado tanto em sites oriundos da mídia impressa como também naquelas que pertencem às emissoras de rádio. Por sua natureza, o ambiente da Internet favorece a integração dinâmica de diferentes linguagens e recursos hipertextuais e multimídia (som, imagem, texto, foto, animação, gráficos, etc) (BIANCO, 2001, p.1).
Esses recursos hipertextuais16 fazem parte de uma série de elementos que a notícia na internet possui, que pertencem à própria dinâmica da rede. Além da hipertextualidade alguns desses elementos são a não-linearidade17, volatilidade18, instantâneidade19 e a interatividade20. A internet jorra informação em fluxo contínuo e é estruturada pelo link e pelo hipertexto. Esse processo de escrita e leitura não-linear e não-seqüencial leva a questionar a forma narrativa convencional da notícia. A análise de Pereira e Munhoz, embasada em Nielsen, mostra que em detrimento desses elementos algumas características do jornalismo comum se mantém e outras se tornam mais importantes: Nielsen (1996) aborda o tema no artigo Inverted Pyramids in Cyberspace. Ele enfatiza que na web o modelo da pirâmide invertida se torna fundamental. Estudos sobre usuários demonstram que eles não ‘rolam’ o texto e lêem apenas a parte superior ou inicial. Segundo ele, cada página deve estar estruturada como a pirâmide invertida, mas o trabalho como um todo parecerá um conjunto de pirâmides invertidas pairando no ciberespaço, uma vez que os textos devem ser divididos em peças menores e coerentes. As notícias-flash, com cortes 16
O nome hipertexto surgiu em 1963, criado por Ted Nelson em seu projeto Xanadu para criar uma biblioteca interativa com uma interface simples. O nome hiper é utilizado na matemática para designar objetos geométricos que ultrapassam a terceira dimensão (hipercubos, hipercilindros, etc.), objetos inconcebíveis para os limitados cinco sentidos humanos. Então a idéia de um hipertexto é justamente o texto dentro do texto, a ponte (link) para outros textos, fazendo o mero texto ser muito maior do que aparenta para nós (OTMAN, 2001, p. 174). Segundo Pierre Lévy, “tecnicamente, um hipertexto é um conjunto de nós ligados por conexões. Esses nós podem ser palavras, páginas, imagens, gráficos ou podem ser eles mesmos. Funcionalmente, um hipertexto é um tipo de programa para a organização de conhecimentos ou dados, a aquisição de informações e a comunicação” (LEVY, 1993, p. 33). 17 Por não linear entende-se a lógica hipertextual, já presente desde a criação de enciclopédias, ou o sistema de versículos da própria Bíblia (OTMAN, 2001, p. 174). Um filme pode ter uma narrativa nãolinear, como é o caso de “Pulp Fiction”, de Quentin Tarantino. Uma curiosidade no campo literário, por exemplo, apresentada em oficina de Criatividade ministrada no primeiro semestre de 2005 pelo professor Leonardo Ferrari no Centro Universitário Positivo é a obra “A Metarmofose” de Kafka, feita de tal maneira que é possível compreender a história lendo os capítulos em ordem não linear. 18 Sabe-se, pelo conhecimento empírico do autor deste trabalho, que pela questão do espaço limitado bidimensional do monitor, uma informação publicada na web pode simplesmente “evaporar” com o tempo. Ou seja, encontrar uma informação em determinada data em certo sítio da web não é garantia que se encontrará ela novamente no mesmo endereço anos, semanas, horas ou até mesmo segundos depois. 19
“Qualifica um modo de interacção com um programa informático[...] em que a intervenção do utilizador provoca uma modificação no desenrolar do programa (OTMAN, 2001, p.199) 20 Sistema multimídia em que o usuário pode executar um comando e o programa responde, ou controlar ações e a forma como o programa funciona. Funciona como uma troca.
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rápidos e atualização constante, seriam fruto desse fracionamento. Por outro lado, como os sistemas de armazenamento digital da informação permitem a indexação, a internet torna-se não apenas a mídia da instantaneidade, mas também a mídia da memória [...]. Essa lógica gera a narrativa do fluxo e a narrativa da indexação, respectivamente (MORAES; PEREIRA, 2003, p.6).
Assim, de acordo com Suzana Barbosa, a busca por informação — notícias e pesquisa — é a principal razão que leva as pessoas a acessarem a rede. “Sob o paradigma da interatividade, o jornalismo se renova na cibercultura, constituindo uma nova espécie: a do jornalismo on-line, que redefine os aspectos de produção, redação, edição e publicação da notícia, circulação, audiência, e a relação com os receptores” (BARBOSA, 2001, p.2). Também concordando com os autores já citados, a informação traduzida em bits requer determinados parâmetros e assim potencializa características para a produção, redação, edição e publicação da notícia. 1.3 Webrádio: o rádio sai das cinzas para um novo universo "A rede das redes – a internet – tem atraído de forma acelerada e contundente veículos de comunicação de massa convencionais. O rádio informativo não poderia ficar ausente desse processo evolutivo no âmbito das telecomunicações" (ALVES a, 2003, p.1). Ainda nos dias de hoje, até mesmo as atuais milhares de estações de rádio espalhadas pela grande rede mundial de computadores seguem o modelo iniciado pela KDKA — elas seguem uma programação. Muitas seguem ainda a definição do modelo trazida por Luís Witiuk (2006, p.121) como rádio on-line, “com a programação do rádio dial e sua linguagem específica transmitido na internet”, ou seja, o conteúdo que se ouve no rádio convencional é o mesmo ouvido na web. Raquel Alves denomina esse tipo de rádio como fruto da interseção entre rádios comuns e rádios da Grande Rede. “A estação propriamente radiofônica que busca traduzir matérias para linguagem digital [formato digital, passível de ser reproduzido em um computador] e que existe previamente em ondas hertzianas. É o caso da CBN, aqui no Brasil; da BBC de Londres e da Rádio França Internacional, para citar alguns exemplos” (ALVES a, 2003, p. 3). É muito comum que essas sejam então apenas um clone digital de sua versão analógica, independentemente de sua modulação ou lugar de origem. Talvez a principal 24
razão para essa prática seja a necessidade de ampliar o seu alcance. Isso não é gratuito, pois, de acordo com Witiuk (2006, p. 123) neste novo ambiente não há fronteiras — com poucos cliques se sintoniza uma rádio digital inglesa em um computador instalado no Brasil, por exemplo. O rádio via web equipara todas as rádios. Caem as fronteiras regionais, nacionais e globaliza-se o rádio. Basta clicar com o mouse do computador para se ouvir as informações de emissoras de Nova York, de Estocolmo ou do interior da Bahia, por exemplo. É um mundo sem barreiras, sem possibilidade de cerceamento (ALVES a, 2003, p. 8).
No entanto, Sabrina D’Aquino (2003) aponta questionamentos importantes quanto a essa prática: “Assim como a simples transcrição de textos para a internet não funcionou bem, será que a colocação da programação ‘normal’ da emissora funciona? No caso das rádios exclusivamente virtuais, como inserir o jornalismo?” (D’AQUINO, 2003, p. 2). No entanto, Alves afirma que já existem rádios que nasceram na internet, “embrionariamente digitais” e possuem um conteúdo já diferenciado, voltado ao público internauta. ”Um exemplo desse tipo de emissora é a espanhola Rádio Cable10, que, pioneiramente iniciou suas transmissões em 17 de maio de 1997” (ALVES a, 2003, p.3). Witiuk chama esse modelo de webrádio, “totalmente virtual, [existente] somente na internet e que proporciona ao usuário um novo conceito de rádio, totalmente interativo, que permite a interferência direta na programação” (WITIUK, 2006, p. 122). Mas mesmo no caso das webrádios, em sua maioria, transmitem mais música do que informação. Ao entrar em qualquer site que indexe os endereços virtuais tanto de webrádios quanto rádios on-line (como, por exemplo, o indexador do popular software de áudio digital Winamp, que dá acesso quase instantâneo à essas estações) se notará facilmente que de dez delas consultadas, dificilmente, se encontrará alguma que transmita freqüentemente informação jornalística. A maior parte ainda transmite mais música, seguindo o estilo das atuais rádios FM. Sabrina D'aquino ilustra muito bem essa observação citando o maior portal de rádios da internet da América Latina21 como referência. Para estudarmos o radiojornalismo e o rádio informativo on-line, no entanto, é preciso ressaltar que somente uma pequena parcela dessas emissoras oferece ao ouvinte-internauta algum tipo de noticiário. Das 5.200 rádios [cadastradas no 21
Disponível em <www.radios.com.br>
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portal], apenas 684 (13,15%) tinham algum tipo programação jornalística até março de 2002. Muitas das emissoras cadastradas como “jornalismo” na verdade possuem apenas um locutor que faz o “gilete-press” ou transmite notas de agências de notícias da própria internet (D’AQUINO, 2003, p 3).
De qualquer maneira, algumas características principais do meio permanecem sem perder qualidade, como a instantaneidade, a simultaneidade e a rapidez, com a vantagem da capacidade da disponibilização da informação que se perderia no rádio comum. No caso de uma rádio de jornalismo na internet, os contrastes entre as características dos dois meios podem ser combinados para tornarem vantagens para o ouvinte. Por exemplo, no caso da instantaneidade. Embora a internet precise do tempo de digitação de textos, no caso do rádio na internet é possível entrar no ar ao vivo durante o acontecimento. A notícia irá ao ar e quem estiver acompanhando não poderá ouvir novamente, exatamente como no rádio tradicional. Mas, alguns minutos depois, o mesmo boletim pode ser disponibilizado como arquivo de áudio, o que altera essa característica, uma vantagem para quem ouviu e quer ouvir de novo (para checar alguma informação) ou para aquele que não estava conectado no momento (D’AQUINO, 2003, p. 4).
No caso da webrádio, o veículo ainda agrega outras características, como é o caso do aumento da interatividade, “aspecto importante para os novos horizontes do rádio” (WITIUK, 2006, p. 124), cujo ouvinte tem ainda mais facilidade para interferir na programação já que seu leque de ferramentas de interação aumenta: além das maneiras convencionais praticadas pelo rádio dial, ele tem ainda os canais de contato por e-mail, chat, forums de discussão22 e ainda, caso o website permita, por chamada de voz sobre ip23 (popularizado pelo software Skype). Magaly Parreira do Prado ilustra bem essa nova idéia de rádio na internet. As novas rádios via internet não serão mais apenas transmissoras de programas em áudio. Os internautas querem mais. Querem consultar arquivos, obter dados, ouvir programas já apresentados, comunicar-se com a direção da rádio, apresentadores, comentaristas e programadores. A nova rádio terá de 22
Chat : serviço de mensagens de “diálogo em directo”, serviço de mensagens instantâneas disponíveis na internet — bate-papo virtual escrito (OTMAN, 2001, p. 347). Fóruns de discussão: serviço de mensagens em que as comunidades on-line costumam se reunir para discutir um tema através de um aplicativo padrão que pode ser acessado através de um navegador (OTMAN, 2001, p. 348). 23 Pelo conhecimento empírico do autor, sabe-se que a evolução da velocidade de conexão da internet permitiu a possibilidade de se conversar por voz, como em um telefone, pela internet, através da tecnologia de chamada de voz sobre ip. O ip — internet protocol — , por sua vez, é um número de controle de conexão concedido eletronicamente por qualquer provedor de acesso à web ao se conectar pela internet. Mais detalhes sobre como funciona esse processo e sobre o software citado — que é desenvolvido especialmente para chamada sobre ip — podem ser encontrados em <www.skype.com.br>.
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desenvolver uma grande e excelente quantidade de serviços se quiser que internautas-ouvintes estejam conectados. O núcleo de produção da rádio para a internet vai ser maior ou igual ao núcleo que produz a divulgação sonora da rede (PRADO a, 2005, p. 37-38.).
Mais do que isso, um webrádio pode permitir que o usuário faça sua própria programação disponibilizando para ele arquivos on-demand24 (e aqui entra o Podcasting, que será tratado no capítulo a seguir), “que se constituem em matérias, trechos de gravações ou programas que podem ser acessados no momento mais adequado ao internauta” (TRIGO-DE-SOUZA apud WITIUK, 2006 p. 123). A maior discussão que há é a diferença do público — acredita-se que a capacidade de penetração acaba fatalmente se tornando menor uma vez que ainda são poucos que acessam a internet. Um grupo muito restrito pode ter acesso à Rede através da banda larga25, essencial para uma boa transmissão on-line. Isso também ainda ocorre pois a tecnologia em streaming26 precisa evoluir muito para poder enviar em verdadeiro tempo real. O usuário precisa ter paciência para poder receber informação ao vivo. Alguns problemas, principalmente em relação ao acesso à internet, podem ser uma das causas da baixa audiência. Um deles é a qualidade da conexão. De acordo a Ibiznet, empresa de consultoria em e-business, cerca de apenas 3,5% da população brasileira tem acesso regular à internet. Se considerarmos que a maioria destes acessos ainda é feita por modem de baixa velocidade (menos de 56kbps), resta uma pequena parcela de internautas aptos a ouvir som na internet com um mínimo de qualidade. A tradição do rádio de ser voltado para as categorias C e D e a falta de adaptação da programação para a internet causa um certo choque, já que o perfil do internauta brasileiro é bem diferente. No site da Ibiznet, os números mostram que 50% dos usuários pertencem à classe A, 40% à B e 10% são da classe C. O ritmo de democratização ainda é lento: em termos sócio-econômicos, o maior crescimento no que diz respeito ao uso da internet aconteceu nas classes A e B – segundo o Ibope, 46% dos integrantes destas classes sociais estão utilizando a internet, contra 41% da pesquisa anterior. Na classe C, o crescimento foi de três pontos percentuais e nas classes D e E, dois pontos (D’AQUINO, 2003, p. 4-5). 24
Se pensar na tradução do termo, disponível em qualquer dicionário inglês-português, é fácil entender do que se trata: “sob demanda”, ou mais simples:“a pedido”. 25 Banda Larga ou Broad Band é o nome designado para o serviço de conexão à internet de alta velocidade de transmissão de bits. Em contrapartida, as conexões por discagem telefônica são chamadas no meio da Tecnologia da Informação como “Banda Estreita”, em que “banda” remete, de um modo simplista, à distância de espaço do diâmetro aproveitado em um fio (ou outro suporte de transferência) para transmissão de dados (conhecimento adquirido através da experiência empírica do autor deste trabalho). 26 É a tecnologia digital que permite a transmissão contínua multimídia por pacotes de bits. Com uma boa conexão, no caso da banda larga, se tem a impressão que o envio está sendo feito em tempo real. (SLOANE ; LAWRENCE, 2001)
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Sloane e Lawrence apontam que neste sentido então a internet seria um mesomedia, em comparação a meios como, por exemplo, o telefone (micro-media, meios que passam mensagens de um para o outro) e a TV e o rádio dial (mass-media, que uma única mensagem atinge milhares e às vezes até milhões de pessoas). Isso pois ela não abrange grupos gigantes, e sim grupos de médio porte (SLOANE; LAWRENCE, 2001, p.134). A explicação para este fato se dá pela existência de um colossal zapping on-line27. Por mais que seu alcance seja mundial, a concorrência é muito grande. O usuário entra e sai de uma página com grande facilidade, e diferente do rádio e da TV ele pode viajar entre um número muito grande de websites enquanto navega — usualmente até mesmo em vários de uma vez só, graças à capacidade de se executar várias tarefas ao mesmo tempo no computador. Prova disso é o sucesso que se deu do navegador Mozilla Firefox. Este software navegador da web (ou web-browser) — que permite acessar as páginas da internet —, de funcionamento semelhante ao popular Microsoft Internet Explorer, inovou com um sistema de abas, permitindo ao usuário acessar várias páginas de uma vez só em apenas uma única janela do sistema operacional utilizado — que pode ser o popular Microsoft Windows ou outro. Esse zapping se dá exatamente pela grande capacidade de interatividade da internet. Qualquer um pode abrir seu blog, sua rádio, sua página ou até mesmo sua TV na internet. É isso que cria uma grande diversidade de conteúdos, mas cada um desses são acessados então por um grupo meso, filtrado por dois grandes funis: a classe social (que permite monetariamente o acesso à internet) e os interesses (os grupos se reúnem por assuntos que lhe causem identificação). Assim, é na web onde ocorre a competição entre David e Golias — o blog do mero colega de trabalho contra o grande portal G1 de Notícias da Rede Globo de Comunicação28. Mesmo porque, não é difícil perceber que um dos pontos mais importantes para se haver sucesso nos objetivos de um website, levando então em conta essas observações é sua identificação, proximidade e a maior 27
Zapping, termo usado freqüentemente para designar concorrência entre canais de TV, adaptado e apropriado pelo autor deste trabalho com o intuito de discorrer brevemente a respeito da concorrência na internet. Zapping não é simplesmente navegar, é a troca rápida e até mesmo muitas vezes frenética de “canais” de comunicação, comum quando surge o controle remoto da televisão. 28 Disponível em <www.g1.com.br>
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capacidade de interação com o usuário. E são exatamente essas as características que devem ser observadas na elaboração de um programa radifônico para web, independentemente de estarem sendo veiculadas em webrádio ou podcast.
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2. O PODCASTING 2.1 Definições e história Podcasting ou Podcast? Para melhor compreensão deste capítulo, é importante elucidar a diferença entre um e outro. Ana Carmen Foschini e Roberto Romano Taddei explanam em sua obra on-line “Conquiste a Rede – Podcast” que se entende por Podcasting a prática de se fazer e acompanhar Podcasts na grande rede. A palavra é uma junção de iPod
— um aparelho que toca arquivos digitais em MP3 — e
broadcasting — transmissão em massa, normalmente utilizado para rádio e televisão (FOSCHINNI, TADDEI, 2006, p. 9). O Podcast é, simplificadamente, nada menos do que um arquivo de áudio gravado na web, disponibilizado on demand por qualquer usuário que se interesse em publicá-lo. Macello Santos de Medeiros explica: A principal característica do Podcasting é a produção descentralizada típica dos fenômenos produzidos no ciberespaço. Em tal fenômeno, o produtor do conteúdo tem a opção de não inserir seu produto numa programação ou fluxo predeterminado de transmissão sonora, como acontece com as transmissões radiofônicas. O produto é disponibilizado na Internet ficando a cargo do ouvinte decidir o momento em que deverá ouvi-lo (MEDEIROS a, 2005, p. 1).
Então Podcasting não é rádio, muito menos webrádio. A menor complexidade de publicação e a inexistência de programação dependente de grade horária são a grande distinção dessa nova maneira de comunicação. Sem contar que não existe transmissão em tempo real no Podcasting, “a principal descaracterização seria a inexistência de um fluxo de programação que, historicamente, era um dos anseios dos profissionais que faziam o rádio desde a sua criação. Estabelecer uma grade de programação e mantê-la no ar diariamente foi um projeto longo” (MEDEIROS a, 2005, p.6-9). Assim, a instantaneidade é algo inaplicável neste novo fenômeno. Arturo F. Velasco ainda traz um conceito novo do podcasting.
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La novedad que introduce el podcasting com respecto a la radio em internet es ell concepto de time-shifting, esto es, la posibilidad de escuchar un programa e radio em el momento elegido por el usuário y no el programado em la emisora. Este cambio hace que la radio pierda su carater de flujo, el oyente ya no tiene el carácter inmóvil frente a la programación que fluye en su receptor, sino que 29 puede eligir el consumo que realiza de los programas de su interés (VELASCO, 2007, p. 107).
Sendo assim, até seria possível que um site que transmite webrádio ou rádio online disponibilizasse também parte de seu conteúdo em Podcast, não obrigando o usuário a acompanhar a programação dessas. Mas isso descaracterizaria o podcasting. De acordo com Marcello Medeiros, uma de suas funções primordiais é justamente fugir do que é programação imposta: O invento [...] traz algo inovador e revolucionário principalmente para aqueles ouvintes mais exigentes com a programação de uma rádio convencional (ou até mesmo digital). Com o Podcasting, o ouvinte não fica a mercê da indústria sendo obrigado a ouvir aquela programação pensada e formulada para favorecer uma gravadora ou artista. A idéia é exatamente burlar esse tipo de prática incluindo na programação dos podcasts conteúdo sonoro alternativo, que pode ser desde uma banda ou artista sem gravadora até um conteúdo técnico não musical com discussões sobre algum tema específico (MEDEIROS , 2005, p. 2-3).
Velasco (2007, p. 106) afirma que o Podcasting é uma evolução multimediática do blog30, proveniente da facilidade para se publicar conteúdos na internet. Mais ainda do que a webrádio, cujo funcionamento depende de uma programação, Velasco afirma que esta nova forma de comunicação “rompe las barreras de entrada que suponía la radio para nuevos programas y creadores, ya que no se necesita realizar uma inversión
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“A novidade que o podcasting introduz a respeito do rádio na internet é o conceito de time-shifting, ou seja, a possibilidade de se ouvir um programa de rádio no momento escolhido pelo usuário e não o programado pela emissora. Esta mudança faz com que a rádio perca seu caráter de fluxo, o ouvinte já não fica mais imobilizado frente à programação que flui em seu receptor, sendo que pode escolher o consumo que faz dos programas de seu interesse” Tradução livre do autor deste trabalho. 30
De acordo com Suélen Hernandes Moraes Junges “a origem da palavra vem da junção dos termos em inglês web (rede) e log (diário de bordo). Os blogs constituem um novo tipo de escrita, tão novo e assustador como os romances foram, séculos atrás. O conteúdo e tema destas ferramentas do Jornalismo On-line abrange uma infinidade de assuntos que vão desde diários, piadas, links, notícias, poesia, idéias, fotografias, enfim, tudo que a imaginação do autor permitir. Os indivíduos que acessam um blog buscam informações novas, ângulos diferentes de um mesmo fato, em relação aos meios de comunicação tradicionais” (JUNGES, 2005, p. 3).
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em estaciones de radio y el número de posibles programas y emisoras es ilimitado”31 (VELASCO, 2007, p. 107). E foi com este intuito que o Podcast nasceu. De acordo com Medeiros, Adam Curry, ex VJ da MTV, é considerado o “pai” desta invenção da era digital. A idéia surgiu da cabeça de um ex-VJ da MTV que, cansado da programação das rádios convencionais (e de sua vida como apresentador da parada dos videoclipes mais pedidos), deu início a um longo embate com seus pensamentos em busca de uma maneira de reverter essa situação até chegar na idéia de uma transmissão diferenciada de programas de rádio personalizados (MEDEIROS, 2005, p. 1).
De acordo com Medeiros, o básico do Podcasting já existia. Qualquer um podia através do uso de um software de computador gravar em áudio usando um microfone e assim produzir os seus próprios programas e disponibilizar na internet. Adam fazia os seus com a duração de 30 minutos, em um formato convencional de um programa de rádio, com direito a aberturas, notícias, músicas e vinhetas deixando o arquivo na Internet de forma que qualquer pessoa pudesse acessar. Mas o ex VJ pensou em um diferencial que tornaria o podcast especialmente diferente, pois ele seria facilmente passado para um dispositivo que permitiria o ouvinte desfrutar do programa não só sentado na frente do computador, mas em qualquer lugar. Ele queria que os seus programas fossem imediatamente disponibilizados em um dispositivo para ser ouvido em qualquer lugar a qualquer hora. Nesse momento surge o “tocador de MP3” da Apple chamado Ipod, que, por sinal, acabou dando seu nome ao tal fenômeno, assumindo o papel do dispositivo pensado por Adam. Ainda assim, Adam precisava de um software que pudesse procurar os programas de rádio automaticamente na Internet e descarrega-los no seu computador ou diretamente no Ipod. Então ele criou o Ipodder com a colaboração de diferentes programadores através da Internet. Este software utiliza a tecnologia RSS (Really Simple Syndication) que permite a busca automática de arquivos que são de interesse do usuário criando uma espécie de “personalização de conteúdos”. Essa tecnologia é muito utilizada para a distribuição de notícias em portais de jornalismo on-line. Na prática o Ipodder – assim como outros softwares semelhantes que podem ser baixados gratuitamente pela Internet – [...] durante os intervalos de uso do seu computador, ele procura arquivos podcast (RSS em formato de áudio) em milhares de feeds [Os “feeds” são sites que agregam links de Podcast disponibilizando-os aos programas de procura (“Ipodders”).] espalhados pela rede, salvando-os no HD [disco rígido], ou diretamente em seu dispositivo portátil “leitor de MP3”. Uma vez armazenados poder-se-á ouvir os arquivos dos programas de rádio, onde e quando desejar. (MEDEIROS, 2005, p. 1-2). 31
“rompe as barreiras de entrada que a rádio teria para novos programas e criadores, já que não é necessário realizar um investimento em estações de rádio e o número de possibilidades para programas e emissoras é ilimitado.” Tradução livre do autor deste trabalho.
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Podcasting é, então, uma forma de publicação de programas de áudio pela Internet que permite aos ouvintes acompanhar a sua atualização automaticamente mediante uma espécie de assinatura. Mais que isso, é uma maneira de publicar conteúdo sonoro de uma maneira simplificada. Sua história é extremamente recente, “o fenômeno [...] surgiu efetivamente na rede no segundo semestre de 2004” (MEDEIROS a, 2005, p. 3). Até mesmo por isso, a finalidade do podcasting de ser um instrumento extremamente fácil de lidar ainda não chegou à sua maturidade. Ainda falta muito para torná-lo uma ferramenta de publicação tão instantânea quanto hoje são os blogs. Antes de seguir a trilha dos sons, é bom frisar que o podcast, embora seja uma nova possibilidade de comunicação que evolui velozmente, ainda não atingiu a maturidade. Não está no estágio dos blogs, por exemplo. Se compararmos essas duas ferramentas que transformam o cidadão comum em comunicador, percebemos que o podcast ainda pede do internauta [...] certo esforço para compreender como ele funciona. O blog já ocupa outro patamar no que diz respeito ao relacionamento com o autor: tudo é simples e sem custo, as ferramentas são fáceis de usar (FOSCHINNI;TADDEI, 2006 p. 14).
No entanto, Marcello Medeiros (2004) ainda conta que no Brasil, já existem dezenas de podcasters32 produzindo seus conteúdos sonoros e os disponibilizando na rede. Um exemplo que ele traz é o site DigitalMinds33 que foi um dos primeiros a disponibilizar essa forma de comunicação na rede com regularidade. Inclusive, já existem websites que chamam de podcast também a transmissão de fotos e vídeos usando o mesmo sistema idealizado por Curry. Alguns celulares modernos já estão possibilitando também o descarregamento deste tipo de dado sem a necessidade de ligá-lo a um computador, seja via bluetooth34, seja por descarregamento direto da internet para o celular.
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Quem faz podcast, de acordo com Marcello Medeiros. Disponível em <www.digitalminds.com.br>. 34 Bluetooth é uma tecnologia para a comunicação sem fio entre dispositivos eletrônicos a curtas distâncias. Funciona também como um cabo USB — espécie de cabo universal usado para transmitir dados de aparelhos diversos, como máquinas fotográficas digitais, mas sem fio. (Conhecimento empírico adquirido pelo autor deste trabalho). 33
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O podcast tem vários programas, ou episódios, como se fosse um seriado. Os arquivos ficam hospedados em um endereço na internet e, por download, chegam ao computador pessoal ou tocador. Você pode baixar o arquivo no computador, no iPod, no celular ou em um PDA (computador de mão). Para ouvir quando quiser. (FOSCHINI; TADDEI, 2006, p. 9)
Sem dúvida, se de acordo com Foschinni e Taddei podcast é uma tecnologia de comunicação que evolui velozmente, é possível e provável que não demore muito para que se torne prático e, talvez, até mesmo comum o acompanhamento de programas radiofônicos por celular ou em modelos avançados de “tocadores de MP3”. Aliás, o professor André Lemos afirma que este é um fenômeno que já está ocorrendo. A era da conexão é a era da mobilidade. A internet sem fio, os objetos sencientes e a telefonia celular de última geração trazem novas questões em relação ao espaço público e espaço privado, como a privatização do espaço público (onde estamos quando nos conectamos à internet em uma praça ou quando falamos no celular em meio à multidão das ruas?), a privacidade (cada vez mais deixaremos rastros dos nossos percursos pelo quotidiano), [...], etc. As novas formas de comunicação sem fio estão redefinindo o uso do espaço de lugar e dos espaços de fluxos (Castells, 1996). Nas cidades contemporâneas, os tradicionais espaços de lugar (rua, praças, avenidas, monumentos) estão, pouco a pouco, transformando-se em espaços de fluxos, espaços flexíveis, comunicacionais, “lugares digitais” (LEMOS, 2005, p.4).
Mas para que isso se consolide, a oferta de programas nesta nova forma de comunicação terá que ter uma maior qualidade. 2.2 Humanização e Podcast — necessidade de melhoria Já há uma produção considerável de podcasts na internet. Até mesmo há grandes sites de notícias que apostam no novo meio, disponibilizando versões audíveis de seu material publicado. Aliás, de acordo com Velasco, o gênero informativo é a classificação mais comum encontrada nos grandes diretórios deste novo meio. Esses oferecem notícias e informação da atualidade no geral e também há aqueles programas específicos que trazem informações sobre temas concretos. Velasco traz como uma observação curiosa que existe até mesmo o uso de softwares que convertem automaticamente texto em voz em alguns sites informativos para produção de podcast (2007, p. 108). Isso vai contra a conclusão de Witiuk (2006, p. 128) da necessidade de se “humanizar” o rádio na internet para que as novas tecnologias sirvam aos objetivos do homem e não o escravizem. Ora, se há quem troque a voz monótona de um
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computador para se fazer locução, que tipo de rádio está sendo trabalhada? E a magia da oralidade no rádio, que caminhos percorrerão? Witiuk afirma que “as novas tecnologias são irreversíveis, e o ser humano vai ter que se adaptar a esta nova revolução para superá-la, dominando-a para que sirva às suas necessidades como ser humano que convive numa sociedade de humanos, e não de ciborgs” (2006, p. 120). Assim, ainda há muito que melhorar. Velasco aponta que o podcasting está gerando importantes expectativas de crescimento, mas ainda é necessária uma melhoria na produção dos programas. Para que este fenómeno se consolide es necesario que se produzca un considerable aumento tanto en el lado de la demanda quanto en el de la oferta, el crecimiento de la primera requiere que los oyentes perciban el atractivo y descubran las ventajas del nuevo medio, al tiempo que encuentren programas 35 cada vez de maior calidad (VELASCO, 2007, p. 107).
Isto leva a uma reflexão profunda quanto a necessidade do próprio rádio (independente se ele está em um novo suporte) se renovar. E ainda se o podcast é por natureza um rádio em time-shifting, sem capacidade de transmitir em tempo real (e aí se perde a simulteneidade e a instantaneidade), ele provavelmente funcionará melhor com programas bem produzidos. Bruck em artigo intitulado como “Suporte sonoro e as novas mediações” aponta que, em detrimento das discussões sobre as novas tecnologias do rádio, o desenvolvimento de narrativas seria um caminho para que o rádio melhorasse. A discussão quase sempre estéril sobre o futuro do rádio, sobre como estará o rádio na internet, a partir da efetividade da transmissão digital...[sic] ocupamonos [sic], muito mais, até agora, do aparato técnico-tecnológico e damos pouca atenção às tecnologias da linguagem e do desenvolvimento de narrativas. É preciso vencer a construção burocrática e constrangedora do sentido (BRUCK, 2004, p. 12).
Bruck ainda afirma que antes da televisão, o rádio era responsável pelo forte uso do imaginário. Um exemplo disso está em obra organizada por Eduardo Medistch (1998). Em 1938, a rádio-novela literária de Orson Welles adaptada da obra de H.G Wells “A Guerra dos Mundos” foi capaz de criar pânico nos Estados Unidos. E isso foi 35
“Para que este fenômeno se consolide é necessário que se produza um considerável aumento tanto no lado da demanda quanto no da oferta. O crescimento da primeira requere que os ouvintes percebam o atrativo e descubram as vantagens do novo meio, enquanto encontrem programas cada vez de maior qualidade”. Tradução livre do autor deste trabalho.
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feito pois a rádio, em sua plena era de ouro, (entre os anos 1930 e 1950, como já foi citado, em que Brasil seguia o American Way of Life em voga nos EUA) usava de toda a sua força para passar a mensagem. Eduardo Meditsch, em artigo intitulado como “O pecado original da mídia: o roteiro de A Guerra dos Mundos” no livro “Rádio e Pânico”, afirma que Welles e equipe conseguiram adaptar com maestria e muita criatividade a obra literária de Wells. Além do clima e da ansiedade da época, quando a voz do rádio só trazia verdades, Meditsch afirma que o conhecimento das características do meio foi essencial para que tornasse tão verossímil a obra de ficção — ouvintes realmente acreditaram que marcianos invadiram a Terra. O rádio empobreceu [a obra literária] A Guerra dos Mundos pela simplificação, mas também aumentou a sua força dramática. Contribuiu para isso, além do tempo real da narração, o fantástico poder de sugestão da palavra sonora e invisível. MCLUHAN (1964) observou que o rádio toca em profundidades subliminares da mente, e que as palavras desacompanhadas de imagem, como quando conversamos no escuro, ganham uma textura mais rica e mais densa. RODRIGUES (1988) relaciona a força psicológica do rádio à voz primordial que ouvimos no útero da mãe, e BANG (1991) atribui ao mesmo fenômeno o poder emocional da música. DE SMEDT (1992) observa que o som nos toca e nos envolve. Como BAKHTIN (1979), salienta que percebemos o visto como algo externo ao corpo, enquanto o que ouvimos ressoa dentro de nós. [...] No rádio, a mesma descrição do suspense [na obra de Wells], da perplexidade diante de máquinas incompreensíveis e do asco provocado pela aparência dos monstros sai da forma congelada da palavra escrita para tomar vida na angústia, na surpresa e no horror expressados por gargantas humanas [na rádio novela de Welles] (MEDITSCH, 1998, p. 32).
Meditsch define a simplificação como “um imperativo do meio e de sua linguagem, lei sustentada por todos os teóricos do rádio, desde seus primórdios, quando começaram a notar a incompatibilidade entre as formas demasiadamente complexas e o veículo exclusivamente auditivo” (MEDITSCH, 1998, p. 31). Bruck (2004) alerta sobre o problema do exagero do uso da simplificação. Acusa o rádio de hoje ter se enfraquecido, deixando para trás o poder de sua musicalidade. Nas últimas três décadas, o que se observou no rádio foi uma involução em termos de plasticidade – de formatos, linguagens e riqueza discursiva. Ao contrário da televisão, que mais e mais habilita-se [sic] para lidar com o suporte imagético, no rádio a sonoridade ficou entregue ao abandono do investimento estético. Para enfrentar a riqueza da imagem em movimento, o rádio tentou responder cada vez mais com o imediatismo e a instantaneidade, que só se tornariam possíveis com a plenificação da mensagem pela palavra. Cada vez mais palavras, mais locuções, cada [vez] menos efeitos, cada vez menos trilhas... O mundano, pobre e restrito universo da palavra expulsou do rádio a força sígnica da trilha sonora, dos efeitos especiais... o [sic] poder que o rádio
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teve de tocar a memória e a imaginação do ouvinte pela sensorialidade se enfraquece diante de um mundo tomado pela imagem e cada vez mais deseducado para a escuta.[...] É preciso oferecer mais ao receptor, para libertalo da miséria sensorial para a qual o empurramos. Contra o rádio encharcado de palavras, muitas vezes repetitivo, nem sempre estimulante, um rádio cultural (BRUCK, 2004, p. 7-12).
Este autor ainda traz reflexões fundamentais sobre a importância do rádio resgatar o uso de toda essa força. É óbvio que não se deseje que a rádio cause pânico como houve em 1938, mesmo porque se acredita que isso hoje seria inaplicável, mas que ela se torne tão mais interessante quanto era naquela época. Gaston Bachelard [em sua obra "O direito de sonhar"] fala em um rádio diferente, que aguce a imaginação. No texto “Devaneio e rádio”, Bachelard defende que o rádio é ‘verdadeiramente, a realização integral, a realização cotidiana da psique humana”. Para o filósofo, é necessário que o rádio se transforme na possibilidade de o homem encontre o poder do fantástico, da abstração. Um fantástico só possível de ser encontrado no fundo do inconsciente. (...) Fugindo de nostalgias e ressentimentos, é importante registrar que, na época de ouro do rádio (entre as décadas de 40 e 60), emissoras como as rádios Nacional, Tupi, Globo e Inconfidência tiveram em seus quadros rádioatores, orquestras e outros profissionais que se especializaram na garantia da qualidade do som como o contra-regra, os produtores e os fiscais de estúdio. O mundo mágico que o rádio proporcionava aos ouvintes era constituído de um universo sonoro tornado possível por profissionais que se especializaram na narrativa acústica, na arte de levar o ouvinte a criar imagens mentais, envolvendo-o e entorpecendo-o, como as sereias teriam feito a Ulisses, na Odisséia (BRUCK, 2004, p. 2-7).
Mais importante do que “entorpecer” o ouvinte com um programa bem produzido em podcast, é ter como norte a humanização do rádio na internet. De acordo com Witiuk “a tecnologia, por ela mesma, é fria. O sentido de valor lhe é conferido pelo ser humano, agente manipulador inteligente e criativo das novas tecnologias que agregam novos conceitos ao rádio para continuar servindo à sociedade da informação cada vez mais exigente do século XXI” (2006, p. 126). Há três exemplos de humanização que merecem atenção neste trabalho. Velasco (2007) traz dois tipos bem humanos de uma série de diferentes usos do podcast. Ele afirma que este tem sido usado na educação. Professores de universidades da Espanha têm disponibilizado os arquivos sonoros para difusão de aulas ou seminários e como ferramenta pedagógica. O podcasting também têm sido interessante para os estudantes de idiomas, que com o arquivo de áudio tem a facilidade de aprender a pronúncia (VELASCO, 2007, p. 109). 37
Outro uso é o que ele chama de “Podcast cultural y para el entretenimento”. O autor afirma que existe uma diversidade de conteúdos disponíveis de caráter meramente lúdico e outros de difusão cultural, que tratam de cinema, música ou literatura. Um dado interessante que Velasco traz é a produção de guias em áudio em podcast de museus que permitem aos visitantes escutar comentários e explicações sobre as obras expostas, tornando a experiência mais viva com a cor que o áudio confere (VELASCO, 2007 p.109-110). Mas talvez a experiência mais humana no campo da cultura que é possível fazer com o podcasting é a possibilidade de usá-lo como ferramenta de cidadania. Podemos observar o surgimento de novos mediadores culturais, que não se enquadram na posição de receptores passivos, mas sim na de produtores e divulgadores de cultura. Funcionando como agentes comunicacionais (MAIA, 2004), estes indivíduos se colocam na cena cultural da cidade trazendo elementos do popular e da identidade comunitária. A idéia de uma industrialização da cultura também exige ser revisitada, uma vez que o que vemos é um processo de produção cultural fragmentado e polifônico; vozes antes caladas, agora, se fazem ouvir. É uma nova forma de o sujeito se posicionar no mundo e ser visto por ele, utilizando a cultura como recurso para formação da cidadania, entendida, assim, como uma cidadania cultural.(...) Estes, por sua vez, pesquisam os podcastings a partir de suas preferências pessoais, de seus estilos de vida. As características desta ferramenta nos levam a pensar que indivíduos, até bem pouco tempo, ignorados, agora podem se fazer ouvir e disponibilizar numa dimensão global e multicultural os produtos culturais e simbólicos que, inclusive, reflitam uma identidade local. (RIBEIRO, 2005, p.2)
Luiz Witiuk aponta a importância de se manter as raízes culturais de um povo, e que a internet possui essa capacidade de manter vínculos: O rádio se beneficia, com sua programação na internet, por se transformar num agente agregador de culturas que podem ser compartilhadas, de resgate cultural para milhares de migrantes que, por meio do rádio na internet, não perdem o contato com suas raízes culturais, formando comunidades virtuais que ajudam a preservar vínculos (WITIUK, 2006, p. 127).
No estudo de Ribeiro (2005), foi tomado como referência para discussão o uso que se faz de algumas ferramentas tecnológicas por moradores da Candelária, sublocalidade da comunidade da favela da Mangueira, na cidade do Rio de Janeiro. O que ela observou em seu estudo sobre cidadania cultural e podcasting é caminho interessante para um uso humanitário das novas tecnologias de rádio.
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Alunas matriculadas no curso da ONG Meninas e Mulheres do Morro participam [...] de oficinas de Expressão, Redação e Comunicação.[...] O objetivo fundamental deste trabalho é o de, através do uso de múltiplas linguagens, possibilitar que estas meninas possam ler o mundo e se inscrever nele como cidadãs. Ali, elas vão costurando informações de diversos origens: do cotidiano da comunidade, das histórias do local, do que elas encontram na internet ou na TV a cabo. Toda esta pluralidade se reflete nos textos produzidos, revelando um universo de representações sociais e culturais. A construção de um site para o grupo está entre os projetos desenvolvidos. O grande contato e familiaridade que as alunas já apresentam com o universo digital, foi importante para que fosse possível visualizar na utilização da ferramenta da internet um espaço muito interessante para o trabalho da linguagem. O desenvolvimento da página virtual se dá paralelamente à uma pesquisa sobre as tradições, histórias e origens da Candelária. Buscando entre os moradores antigos, fotos, registros e relatos, essas adolescentes resgatam a memória local e vão descobrindo mais sobre sua própria história. Além de divulgarem as fotos e de produzirem textos sobre suas descobertas, as meninas fazem também um trabalho de resgate das narrativas através da fala. Entrevistas com moradores mais antigos, artistas e figuras representativas da comunidade são divulgadas na internet através do podcasting (RIBEIRO, 2005 p. 9).
Para uma produção de qualidade de podcasting na internet, dentro da proposta do Sombras da Realidade, deve-se então levar em conta esses aspectos. Uma produção técnica eficiente, inspirada na obra prima de Orson Wells com o intuito de se fazer um rádio na internet humano, privilegiando as diversas culturas locais, preocupado-se com a identidade e vínculos comunitários. Como qualquer um tem acesso para publicar informação na web, o trabalho do jornalista é essencial para trabalhar os dados com credibilidade e ética. Essa é a sua função. Esse é o seu dever.
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3. AS SOMBRAS "Os humanos pensam que sabem o que é a realidade e sobre o que é a vida. Eles acham que sabem porque podem pensar. ‘Penso, logo existo’. Essa atitude é ‘Eu sou o topo da cadeia alimentar, então eu decido o que é real e o que não é’. O que eles não querem que exista, simplesmente não existe. Exceto, talvez, em seus sonhos. Ou pesadelos. Então, eles acabam vendo as sombras na parede da caverna, pensando que aquilo é como o mundo é realmente. Eles nunca olham para quem faz as sombras..." (Nancy Collins, In the Blood).
3.1 Relações da cultura Folk na religião e no sobrenatural Desde quando o homem se deu conta de sua racionalidade, histórias fantásticas o acompanham em seu imaginário, levando-o a crer nelas para dar sentido à sua vida, espantando assim a idéia enlouquecedora da existência. Sabe-se que desde a madrugada dos tempos que o homem procura desvendar os grandes mistérios da criação. Peter L. Berger, em sua obra “Um Rumor de Anjos”, na qual disserta sobre a suposta morte e a redescoberta do sobrenatural na sociedade moderna, diz que “os homens primitivos e antigos [...] aceitavam a idéia de um outro mundo sobrenatural de seres e forças divinas como o pano de fundo do mundo ordinário e admitiam que o »outro mundo« [sic] influenciava este de várias maneiras“ (BERGER, 1973, p. 16). No entanto, a ciência surgiu e, com a luz da razão, iniciou um combate para desmitificar qualquer coisa que não possa ser provada, atacando inclusive a crença religiosa. Uma busca pela verdade se iniciou. “Nós hoje abraçamos o que consideramos ser a »racionalidade« [sic] (ou »naturalismo« [sic]) da moderna ciência e filosofia; e que desejaríamos admitir que a consciência »natural« é a única possível e desejável” (BERGER, 1973, p. 16).
Mas o que seria o Sobrenatural36? A obra de Karren
Farrington “a História do Sobrenatural” faz um compêndio das principais manifestações do que envolvem os fenômenos desta natureza. Artes antigas (Merlim, Rituais, Supertição, Halloween, bruxas, caça às bruxas), magia branca (alquimia, talismãs, curas e misticismos tribais), satanismo, magia negra, Fausto, possessões, exorcismos, Ouija, maldições, agouros, fantasmas, espíritos e criaturas de fábulas (assombrações, poltergeists, vampiros, 36
Os vários autores consultados para essa pesquisa parecem trabalhar com um nome específico para tratar do Sobrenatural. O texto de 1919 “O Estranho”, de Sigmund Freud (FREUD, 1996, p. 237) faz uma longa discussão sobre o significado do título do texto original em alemão “Das Unheimliche”, que teria significados bem mais extensos do que na língua portuguesa, e envolveria também o sobrenatural: cita histórias fantásticas da literatura européia, em especial “O Homem da Areia” que viria arrancar os olhos das crianças que não iam dormir cedo, já considerado folclore anglo-saxão. Outros autores preferem falar do sobrenatural como o “ fantástico” ou o “maravilhoso”.
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lobisomens e fadas), cultos, bruxaria moderna (Vodu, Hodu, Zombies, Druidas, autores como Rasputione S. Germano, Aleister Crowley e Alex Sanders), místicos, videntes (como Nostradamus), premonições, psíquicos, médiuns, efeito Geller, curas, percepção extrasensorial, psicocinese, teleportação, vidas passadas, experiências fora-do-corpo, anjos, adivinhações (astrologia, tarot, quiromancia, adivinhação e numerologia), círculos nas culturas, linhas na paisagem, vedores, pedras verticais, estranhas chuvas, combustão humana espontânea e coincidências (FARRINGTON, 1999, p.5).
Por mais que os historiadores da religião e antropólogos culturais critiquem o termo Sobrenatural ressaltando que este sugere a divisão da realidade num sistema fechado da “natureza” — sendo um racionalmente compreensível e o outro um mundo misterioso — esta é uma concepção caracteristicamente moderna. Desorientadora, se levar em conta as noções religiosas de culturas primitivas ou arcaicas. Assim, os teólogos cristãos também o atacam, considerando-no como ofensivo às suas próprias implicações de afirmação do mundo, resultantes da doutrina da encarnação, se não, na verdade, da doutrina da criação. No entanto, o termo particularmente no seu uso quotidiano, denota uma categoria fundamental da religião, nomeadamente a afirmação ou a fé de que há uma outra realidade, e de significação última para o homem, que transcende a realidade dentro da qual se desenrola nossa experiência diária. E este pressuposto fundamental a respeito da realidade, antes que esta ou aquela variante histórica dele, que está supostamente morta, ou no processo de desaparecer do mundo moderno (BERGER, 1973, p. 14).
Supostamente morta. Usando as palavras de Luiz Beltrão (2001, p. 13), “nas conversas de boca de noite, nas cidades interioranas, na farmácia ou na barbearia, pelo chofer de caminhão, pelo representante comercial, pelo bicheiro, ou pelos versos do poeta distante impressos no folheto da feira” se espalham pelo povo a sua sabedoria. E nesta sabedoria do povo, no folclore37, estão os diversos “causos”, que além de manifestar a opinião e a manifestação das massas, também trazem muitas dessas histórias que tratam dessa outra realidade. Luiz Beltrão afirma que na produção midiática popular se encontra então aspectos do sobrenatural.
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O verdadeiro criador da expressão “folclore” foi o arqueólogo inglês Willian John Thoms, que publicou pela revista Athenauen, de Londres, em 1846, ele propôs que se designassem essas antiguidades populares com duas raízes saxônicas, Folk(povo) e lore(sabedoria). Note que as relações entre as palavras folk e popular permanecem incertas e variadas, já que especialmente em meados do século IXX, o conceito de POPULAR se torna algo realmente complexo. (WILLIANS, 2007, P. 184-186). É importante ressaltar que Folclore não se limita apenas a mitos, lendas, artesanatos, comidas típicas, e mais alguns poucos assuntos (GUIMARÃES, 2002, p v).
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O encantamento das estórias e lendas, que transmitiam no seu simbolismo as normas de conduta aos clãs primitivos, aplicáveis ou de mistura com fatos correntes, e a sabedoria acumulada na experiência dos pajés, dos feiticeiros, dos magos tupis e africanos, mesclada com os ensinamentos dos evangelizadores de Loyola — relativos à salvação das almas como à conservação dos corpos e à afirmação da liberdade humana (BELTRÃO, 2001, p. 78).
Nos dias atuais, borbulham muitas dessas diversas histórias de veracidade duvidosa, conhecidas no meio urbano como Lendas Urbanas38. Essas histórias populares se proliferam amplamente de boca-em-boca e recentemente pela internet, tomando novas versões, incorporando detalhes. De acordo com Beltrão, o folclore — o que inclui em seus aspectos de histórias, lendas39, mitos40 e causos — contados pelos denominados pelo autor como folkjornalistas é fruto de um jornalismo de paixão. De calor, de integração com o pensamento e as necessidades do público. Daí a sua popularidade, sua aceitação. E daí também o seu escapismo a qualquer espécie de censura, desde que as classes bem pensantes — entre as quais se colocam autoridades policiais e judiciárias — não tomem a sério o conteúdo das suas mensagens, consideradas, na imensa maioria dos casos, apenas curiosas (BELTRÃO, 2001, p. 258).
Pode-se pensar que o sobrenatural na religiosidade seja algo pertencente ao passado. “Hoje, nas sociedades modernas, o sobrenatural, como realidade cheia de sentido, está ausente ou distante dos horizontes da vida cotidiana de grande número de pessoas, [...] que parece dar um jeito de viver bastante bem sem ele” (BERGER, 1973, p. 19). Rubem Alves (1999) salienta que ao contrário do que hoje ocorre, os descrentes, os sem amor a Deus e sem religião no passado eram raros. Tão raros que chegavam a esconder sua própria descrença, como se fosse uma praga contagiosa. Pelo fato do panorama atual ser diferente, em que hoje muitos bradam um orgulho de ser cético com a frase de Nietzche que diz “Deus está morto”, isto poderia ser considerado como um sintoma de que a religiosidade está acabando. [No passado] todos eram educados para ver e ouvir as coisas do mundo religioso, e a conversa cotidiana, este tênue fio que sustenta visões de mundo, 38
Entendo “Lendas Urbanas” como fenômeno recente pós industrial, narrativas populares de caráter maravilhoso, sobrenatural, associado a determinados ambientes urbanos específicos ou generalizados mais recentes. (Ou seja, esse conceito envolve tanto a loira do banheiro de qualquer metrópole quanto a história da Maria Bueno de Curitiba). 39 Narrativa popular de caráter maravilhoso, sobrenatural, associada a determinado lugar e/ou determinado tempo passado (PELLEGRINI FILHO, 2000, p. 43-58). 40 Narrativa popular de caráter maravilhoso, com a presença de um personagem constante. São relatadas diferentes histórias sobre esse personagem mitológico (PELLEGRINI FILHO, 2000, p. 58).
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confirmava, por meio de relatos de milagres, aparições, visões, experiências místicas, divinas e demoníacas, que este é um universo encantado e maravilhoso no qual, por detrás e através de cada coisa e cada evento, se esconde e se revela um poder espiritual.[...] O universo físico se estruturava em torno do drama da alma humana. E talvez seja esta a marca de todas as religiões, por mais longíquas que estejam umas das outras: o esforço para pensar a realidade toda a partir da exigência de que a vida faça sentido. (ALVES, 1999, p. 7)
Rubem Alves afirma que hoje é indubitável que há em nossa sociedade moderna um certo ceticismo-religioso. Alguma coisa ocorreu. Quebrou-se o encanto. O céu, a morada de Deus e seus santos, ficou de repente vazio. Virgens não mais apareceram em grutas. Milagres se tornaram cada vez mais raros, e passaram a ocorrer sempre em lugares distantes com pessoas desconhecidas. A ciência e a tecnologia avançaram triunfalmente, construindo um mundo em que Deus não era necessário como hipótese de trabalho. Na verdade, uma das marcas do saber científico é o seu rigoroso ateísmo metodológico: um biólogo não invoca maus espíritos para explicar epidemias, nem um economista os poderes do inferno para dar contas da inflação, da mesma forma como a astronomia moderna, distante de Kepler, não busca ouvir harmonias musicais divinas nas regularidades matemáticas dos astros. (ALVES, 1999, p. 8)
Apesar da exposição de Alves, o autor acredita que a religião não desapareceu. Desapareceu a religião? De forma alguma. Ela permanece e freqüentemente exibe uma vitalidade que se julgava extinta. Mas não se pode negar que ela já não pode freqüentar aqueles lugares que um dia lhe pertenceram: foi expulsa dos centros do saber científico e das câmaras onde se tomam as decisões que concretamente determinam nossas vidas. (ALVES, 1999, p. 9)
Mas mesmo nos religiosos, chega a existir uma relutância natural em admitir uma crença ou até mesmo uma experiência paranormal, com medo de serem apelidadas de lunáticas. É o que Karren Farrington explana, na introdução de sua obra “A História do Sobrenatural”. No entanto até os mais endurecidos dos cépticos devem sentir-se incomodados com estranhos acontecimentos que surgem para lá das fronteiras das verdades conhecidas. Os anos noventa assistiram a um ressurgimento das reinvidicações — na desconcertante busca do paranormal —, para que se joeirem as provas e pesem os factos. (FARRINGTON, 1999, p. 6)
A autora nessa mesma obra relata que em 1983 o falecido escritor Arthur Koestler e sua esposa chegaram a legar propriedades no valor de 1,6 milhões de libras para a investigação de “fenômenos parapsicológicos”. O suficiente para “financiar o Instituto Koestler, ligado à Universidade de Edimburgo, que levou a cabo algumas investigações estatísticas no campo da Percepção Extrasensorial“ (FARRINGTON, 43
1999, p. 6). Inclusive, os estudos do Instituto obtiveram resultados de que algumas pessoas são capazes de receber mensagens telepáticas de outra pessoa, instalada numa sala separada. Farrington afirma que as probabilidades de isso se tratar de uma coincidência foram reduzidas ao valor de catorze milhões para uma. Contudo, mantém-se o problema de que sem provas claras, não há bases para o conhecimento dessa espécie. As religiões do mundo, os filósofos, os pseudo-cientistas, os mágicos e até os charlatães tentaram fornecer respostas, mas apesar de todos os esforços nesse sentido, o conceito de uma verdade comprovada se mantém no silêncio. Talvez esse seja um problema de nossa época. [Pode-se] admitir que há no mundo moderno um certo tipo de consciência que tem dificuldades com o sobrenatural. A afirmação, contudo, permanece no nível da diagnose sócio-histórica. A condição diagnosticada não é por causa disto elevada à posição de um critério absoluto; a situação contemporânea não está imune da análise relativizante. Poderíamos dizer que a consciência contemporânea é desta ou daquela forma; ficamos com a questão de saber se lhe daremos nosso assentimento. Poderíamos concordar, digamos, com o fato de a consciência contemporânea ser incapaz de conceber anjos ou demônios. Ainda ficamos com a questão de saber se, talvez, anjos e demônios não continuam a existir, apesar desta incapacidade de nossos contemporâneos em concebe-los (BERGER, 1973, p. 62).
Assim, hoje se encontra muitas vezes o sobrenatural destacado da religiosidade. É isso que permite a existência de agnósticos, pessoas com um lado espiritual independente de religiões, e os que seguem um humanismo religioso. Edgar Morin, citado por Luís Mauro de Sá Martino, faz uma observação sobre esse dado. Do século XVIII ao princípio do século XX, a astrologia, a alquimia, a quiromancia, a vidência, a telepatia, privadas do direito de cidadania nacional e científica, ou se dispersam sobre a civilização como uma vaga névoa de supertições, ou então, sob forma doutrinária, se concentram no undergroundgheto do ocultismo. Por um lado, de fato, essas diversas magias, privadas de corpus doutrinal, são supertições às quais se ligam os espíritos ‘incultos’, ‘ignários’, ‘atrasados’, ‘fracos’ (MORIN apud MARTINO, 2003, p.27).
Martino conclui que essa dispersão seria reflexo de que a religião estaria sofrendo um processo lento, embora contínuo, de desestruturação e desintegração, não só pela sua forma, mas pelo seu conteúdo.
As migalhas dessa ruptura — as
supertições — estão presentes na sabedoria popular, apesar da demagogia intelectual distanciada de Morin ao dizer que as supertições se ligam a espíritos fracos. Elas desempenham papel importante a ponto de que a “massa, ao contrário do que 44
pretenderam os céticos teóricos de Frankfurt41, a partir do inconformado Dialética do esclarecimento, de Horkheimer/Adorno — não é passiva, mas profundamente ativa” (HOHLFELDT in BELTRÃO, 2001, p. 38). Desta maneira ela é capaz de ajuntar essas migalhas e, com muita criatividade criar algo novo — como por exemplo ocorre com os cultos sincréticos42 afro-brasileiros derivados de práticas religiosas e divindades dos povos africanos trazidos ao Brasil como escravos, tais como os bantos, como o candomblé e a umbanda. A respeito disso, Marla Cristiane Araujo Medeiros cita o antropólogo João Hélio Mendonça em artigo da Intercom sobre a riqueza do folclore brasileiro associada com a religião. O antropólogo João Hélio Mendonça refere-se ao folclore como “fenômeno extenso, dinâmico, rico e muito diversificado que no Brasil caminha constantemente junto com a religião.” A unidade religiosa que firmou-se aqui, desde o início da colonização, condicionou e favoreceu o estabelecimento de um catolicismo com expressão religioso dominante, inteiramente acomodado e penetrando, com seus valores, em todos os setores da vida social. Constitui-se como um catolicismo tradicional, rural, impregnado de conteúdos e expressões populares que existiu e existe no país. Embora, ao longo do tempo o monopólio do catolicismo tenha perdido força nas manifestações folclóricas de muitas festas religiosas do país ganhando espaço os cultos africanos e místicos (MEDEIROS, 2002, p. 5).
A investigação das origens de determinadas supertições podem gerar infinitas pautas para matérias jornalísticas, buscando a que cidadania nacional ou corpus doutrinal elas pertencem. Principalmente se levar em conta a conclusão de José de Marques Melo na introdução do livro de Beltrão sobre a Folkcomunicação. [os] jovens discípulos [da folkcomunicação] procuram desvendar de que maneira a Folkcomunicação atua como retroalimentadora das indústrias culturais, seja pautando matérias jornalísticas, gerando produtos ficcionais, embasando campanhas publicitárias e de RP ou invadindo os espaços de entretenimento (MELO in BELTRÃO, 2001, p. 21).
Desta maneira, em um país multi-cultural como o Brasil, onde a miscigenação não é só genética e etnográfica, mas também é elevadamente cultural, isto é plausível. Simone M. G. Orlando disserta sobre a diversidade cultural brasileira.
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“Escola de Frankfurt” é nome dado a um grupo de filósofos e cientistas sociais que se encontram no final dos anos 1920 para discutir a sociedade (ASSOUN, 1991, p. 7). Deve-se à Escola de Frankfurt a criação de conceitos como "indústria cultural" e "cultura de massa". 42 Sincretismo: 1. Reunião de idéias ou de teses de origens disparatadas. 2. Amálgama de doutrinas ou concepções heterogêneas. (PORTAL DO ESPÍRITO, 2007).
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O Brasil apresenta grande diversidade no campo cultural. Seu folclore é riquíssimo. Nesse contexto entram, entre outros, as festas religiosas, o artesanato e a medicina popular, danças, canções e os ‘causos’ contados pelo Brasil afora. O Brasil não é só o país do futebol e do carnaval . Isso seria restringir demais nossa capacidade de enxergar e expressar o mundo em que vivemos. O Folclore é uma das formas de representar e expressar a identidade de uma comunidade e através da interação com esse tipo de conhecimento ampliamos e enriquecemos mais o nosso próprio (ORLANDO, 2002, p. 3).
Essa grande diversidade se dá, de acordo com Marla Cristiane Araujo Medeiros, pois o Brasil é um país marcado por muitas diferenças culturais, mesmo com sua forte base religiosa católica, o vasto território nacional criou dentro de um mesmo país diversos mundos culturais completamente diferentes, e esta distinção passa pelas raízes herdadas dos povos de que o brasileiro descende. Existe um fato inusitado neste país no que se refere ao folclore, é a adaptação regional marcada pelas diferenças climáticas do extenso território, diferença de cultura alimentar e uma noção de temporalidade bastante evidente quando comparado a grupos sociais mais urbanos e outros extremamente isolados de grandes centros, estes apresentam-se como fatores estruturais de constituição do folclore. São essas sabedorias que fazem o fenômeno folclore tornar-se, no Brasil, genuinamente uma identidade que jamais foi homogênea e tem a marca de sua riqueza na ênfase das diferenças culturais, fruto do cruzamento de muitos povos (MEDEIROS, 2002 p. 8).
Até pelo fato do território nacional ser extenso e suas culturas serem internamente diversas, de acordo com Cristina Schmidt quando alguém migra de um lado para outro dentro do país, ele fica “distante de sua paisagem natal, das casas, das ruas, dos vilarejos. A natureza se apresenta diferente nas árvores, na água, na forma de se relacionar com os animais e com as máquinas” (SCHMIDT, 2005, p. 7). E assim, fica longe de seus familiares, sons, das cores, dos aromas, sotaques, rezas e conversas de seu local de origem. Neste contexto, em muitos momentos, os meios de comunicação, tentam criar uma intermediação com este público transformando um valor cultural de vivência e de raiz em um produto de entretenimento e consumo. “A cultura midiática apresenta daí produtos que têm como referência a cultura folk. Tais produções recebem um tratamento plástico e estético adequado aos padrões da cultura hegemônica e que são próprios aos meios massivos para o recontar da história ou do fato” (SCHMIDT, 2005, p. 8) . Cristina Schmidt conclui: 46
O migrante, ao ter contato com esse produto da mídia, certamente identificará alguns elementos de seu arcabouço cultural. Porém, não é a sua história, não é a sua terra. O produto midiático é uma imagem fugidia de sua cultura, e se apresenta sem raiz e sem memória. É uma conjunção de fragmentos, uma colcha de retalhos de uma cultura folk, ou melhor, quando passa pela tecnologia torna-se um “patwork midiatizado” que vem como uma revelação de algo novo, fashion, promissor e justo. (SCHMIDT, 2005, p.9)
Este é um pecado que deve ser evitado ao criar um produto que se utilize da cultura folk. Para resolver este problema, é interessante que se tenha como aliado um interlocutor da cultura folk. Alguém que seja preparado — um líder de opinião — que tenha a capacidade de traduzir as idéias passadas. Em função da estrutura social discriminatória mantida em nações como a nossa, a massa camponesa, as populações marginais urbanas e até mesmo extensas áreas proletárias se comunicam através de um vocabulário escasso e organizado dentro de grupos de significados funcionais próprios. Quando se pretende transmitir uma mensagem a essas porções de indivíduos — e, especialmente, quando a mensagem insere um novo sistema de valores e conceitos, como no caso de campanhas mudancistas — é preciso “traduzirlhes” a idéia, adequando-a aos seus esquemas habituais de valoração. O líder de opinião tem essa capacidade: é um tradutor, que não somente sabe encontrar palavras como argumentos que sensibilizam as formas pré-lógicas [...] que caracterizam o pensamento e ditam a conduta desses grupos sociais (BELTRÃO, 2001, p.69-70).
Marla Medeiros aponta para outra preocupação do estudo da Folkcomunicação — a hibridação da cultura popular. Hoje, o estudo desta área preocupa-se com a hibridação da cultura popular visto que o contexto social e tecnológico está aproximando grandes distâncias permitindo a penetração de práticas massivas que interferem na constituição da vontade popular. Esta interferência é inevitável faz parte do processo maior das sociedades. No entanto, muitos pesquisadores comungam da idéia de que se esse processo é inevitável, ao menos que seja mantida a raiz das manifestações e da sabedoria popular porque caso ela se perca perde-se os referenciais que dão sentido a nossa história, não só aquela que nos construiu, mas principalmente a que sucede esse tempo (MEDEIROS b, 2002 p. 8).
Deve-se então ter em mente esses aspectos para não tropeçar nos mesmos erros que têm sido cometidos por outros produtos que trabalharam com a cultura folk. Utilizando-se dessas noções sobre folkcomunicação, e o sobrenatural presentes nas religiões e crenças, vê-se a possibilidade da criação de um produto que tem capacidade de se utilizar das novas tecnologias levando em primeiro lugar em conta o lado 47
humano. Um produto que tenha como propriedade a finalidade de respeitar as raízes das diversas culturas existentes, para assim evitar que seu respectivo povo perca sua identidade, não deixando assim que percam sua capacidade de construir cidadãos críticos que construam cidadania de se reportar ao passado na busca de construir o futuro.
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4. O PRODUTO SOMBRAS DA REALIDADE 4.1 Visão geral O produto Sombras da Realidade é um espaço na web que trata o sobrenatural, embasado na prática do radiojornalismo (para o podcasting, seu principal diferencial), e do jornalismo on-line. Ao abrir a página, imediatamente o visitante é convidado a ouvir um programa radiojornalístico disponibilizado no formato podcast. Logo abaixo, há uma entrevista, que neste piloto anexado é a entrevista com Zé do Caixão exclusiva para o Sombras da Realidade, que está disponível tanto para se ler quanto para se ouvir. Além disso, o site possui na seção da capa “reportagens do além” um espaço para resenhas, histórias, matérias e artigos de cunho folkcomunicacional, procurando sempre se focar no lado sobrenatural das lendas urbanas, “causos” e lendas folclóricas — aspectos da folkcomunicação — e além disso abrange também os produtos da Indústria Cultural que se apropriam do aspecto maravilhoso, sobrenatural dela. A forma que é tratada procura ser o mais próximo de um produto jornalístico. Principalmente no programa de rádio (“história desta semana”), nota-se que, apesar de se utilizar o recurso de rádio-teatro típico da ficção — usado somente para contar a lenda — diversos especialistas foram entrevistados para tratar, neste piloto, a Maldição do escravo Josino. A idéia de haver um programa em áudio foi para não se perder a oralidade de uma história contada, aspecto este tão importante para cada cultura. Note que o sotaque gaúcho, por exemplo, é muito forte entre os entrevistados de Porto Alegre que contam a história de sua cidade. Outro aspecto importante do website é um lado cético, que procura, quando aplicável, explicar através de entrevistas com especialistas da ciência e outras fontes alguns desses fenômenos assustadores que envolvem as lendas e mitos, buscando prestigiá-las, já que são temas principais no website. “Edval Marinho diz que no folclore está contida a essência nacional onde encontramos fontes de nossa origem e expressão de sentimentos do povo com ligações históricas, não escritas, porém transmitidas pela oralidade, tornando-se tradição” (2001 apud MEDEIROS, 2002, p 6) . Desta forma, ele se encaixa perfeitamente em forma de podcast em programa radiofônico, pois procura prestigiar essa oralidade. A produção de resenhas de livros 49
sobre o assunto, curiosidades folclóricas, lendas, entrevistas e notícias escritas sobre o tema procuram ter um cuidado muito grande para não se estereotipar as crenças nem mesmo manipulá-las de tal forma que se perca suas raízes. Há outras seções no site, que levam em conta as características próprias do meio como a interatividade (Fale conosco e Participe) e a volatibilidade (Baú das Sombras). A seção “Sobre o Sombras” conta a história e a proposta do Sombras da Realidade de maneira coloquial, contando as curiosidades referentes. 4.2 Metodologia aplicada Sempre valorizando a prática criativa — “pois uma das definições [essenciais] para o webwriting é redação online criativa” (RODRIGUEZ 2001, p. 32) deixando o vício e a necessidade da rapidez para trás — o primeiro passo foi pensar o conteúdo programado textual. Com a ajuda dos colaboradores que assinam as matérias, foi explicado para cada um a motivação do produto e como deveria ser o texto quando a fundamentação teórica estava pronta. A partir de uma discussão informal, foram definidas as pautas, acompanhamento e prazo de entrega. Com todos os textos em mãos, foi decidido que, pela diversidade de estilos de cada autor, seria respeitado cada tipo de texto em vez de padronizá-lo a um molde. A filosofia das “Reportagens do Além” do Sombras da Realidade é respeitar a liberdade criativa de cada colaborador, uma vez que o texto criativo (é importante reforçar) é prioridade na internet, de acordo com Bruno Rodrigues (2001). Um texto bastante criativo encontrado nesta versão piloto do website é o de Danielle Leucz sobre o “Belzebu de Campo Largo”. A forma que foi concebida o texto é tão criativa que até poderia ser definido como um jornalismo gonzo.43 Se um leitor futuramente quiser mandar a sua história, e essa for dirigida de maneira interessante, a edição deverá então ser mínima. Rodriguez aconselha que se use e abuse da emoção no texto de web para que o visitante seja persuadido (2001, p. 12). Mas ele também diz que a “verdade é a melhor arma” para tratar de determinado assunto. O texto sobre o Lobisomem, de Celina Soares, é um belo artigo que fala algumas verdades desse personagem folclórico tão 43
“Gonzo Journalism é um formato extremamente peculiar de se fazer uma reportagem, desde a captação dos dados até a sua redação. Assim como o New Journalism, o Gonzo Journalism é um movimento que carece de manifestos ou regras”. (CZARNOBAI, 2003, p. 34).
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atraente e presente em diversas culturas. Por ser longo, o texto foi dividido em blocos, seguindo as regras estabelecidas para webwriting na obra de Rodrigues. “É absolutamente falsa a idéia de que a internet foi feita para textos curtos” (2001, p. 21). A relação feita entre o chupa-cabra e o Arquivo X de Caetano Candal no website trata de verdades e inicia o texto com um diálogo retirado do episódio que ele fala a respeito. Assim, o estilo de seus dois textos é mais sóbrio, porém também criativo. Mas o mais importante foi deixar claro para os colaboradores quem é o público-alvo do site. Os assuntos tratados e as informações mostradas, com uma linguagem leve e descontraída, devem atrair o público juvenil. “Não importa qual é o estilo. O importante é que se fale a linguagem do público alvo”. (RODRIGUES, 2001, p.33). O período de atualização das reportagens do além deverá ser o mais curto possível. O objetivo é que haja conteúdo textual diário, atualizado constantemente. Levando em conta o princípio de visibilidade (“a missão de deixar as informações principais de um website visíveis”, de acordo com Bruno Rodrigues (2001)) e da volatilidade (explicado na página 9 deste trabalho) as informações novas estarão sempre visíveis na home do site, que seria o correspondente à capa de um periódico impresso, enquanto as informações antigas ficam no Baú das Sombras do site. Assim, se garante que a navegabilidade permita ao visitante a chegar rapidamente à informação desejada sem tornar a página um labirinto poluído e desconexo, pois “uma home page carregada é um convite para o internauta sair da página e não voltar mais” (RODRIGUES, 2001, p.25). O segundo passo foi o trabalho em rádio. No campo do radiojornalismo, a edição foi prioridade. Como está dito na página 19 deste trabalho, a finalidade do podcasting de ser um instrumento extremamente fácil de lidar ainda não chegou na sua maturidade. Ainda falta muito para torná-lo uma ferramenta de publicação tão instantânea quanto hoje são os blogs. (FOSCHINNI;TADDEI, 2006 p. 14). Foi adotada uma voz distorcida para o Narrador do programa e entrevistas, que seria então a Voz do Sombras. A justificativa para isso é que a voz do locutor (que neste caso é o autor deste presente trabalho) é aguda demais para a proposta de se falar do além. Foi verificado durante a produção do programa que a voz mais grave, mais masculina, tecnicamente dava maior impacto e até mesmo mais credibilidade ao programa. Voz possui personalidade. A característica “universitária” de um locutor jovem imberbe 51
depois da distorção (com a entonação teatral devidamente interpretada) se tornou mais velha, mais experiente, mais sábia. Foi criado um personagem, uma espécie de ancião dos causos macabros, um ogro típico dos contos da cripta. Prado afirma “que acabou a era dos vozeirões da rádio” (PRADO, 1989, p.10), mas neste caso, tratando do sobrenatural, o tratamento antiquado para a voz traz outras mensagens implícitas. “A voz faz presente o cenário, os personagens e suas intenções; a voz torna sensível o sentido da palavra, que é personalizada pela cor, ritmo, fraseado, emoção, atmosfera e gesto vocal” (ALBANO DA SILVA, 1999). Para até mesmo testar as possibilidades do podcast, experimente baixar o arquivo mp3 e tocá-lo em um aparelho mais potente que sua caixa de som do computador, de preferência com sistema de tratamento de graves woox ou home theater. Aumente o volume e note que a voz faz tremer até mesmo as paredes... Para tornar a narrativa oral mais viva, foram usados efeitos, músicas e rádioteatro. Lembre-se, o podcast é um recurso é similar ao rádio, que de acordo com Eduardo Meditsch, historicamente é conhecido por ser um veículo que possui apelo à magia. Estudar a rádio envolve uma tentação quase irresistível de ceder ao apelo de sua magia. A comunicação radiofónica possui vários componentes que remetem a um universo fora do alcance da racionalidade, do qual se ocupam os místicos, os feiticeiros e muitos charlatães. A ação à distância, sem contato físico evidente, a invisibilidade, o poder encantatório da palavra e da música, são efeitos que continuam a desafiar o imaginário social no final do século XX e a lotar os auditórios dos mágicos, por mais que tenham sido banalizados pela tecnologia. O domínio sobre seus mecanismos não parece afetar este fascínio: os próprios engenheiros que há um século viabilizaram a comunicação sem fio Marconi, Tesla, Landell de Moura - não resistiram ao seu poder encantatório e em alguns momentos perderam a noção dos seus limites: teriam tentato utilizála para comunicar com os mortos, com os extra-terrestres e para captar a aura das pessoas (MEDITSCH, 1999, p 17). .
Todo o texto feito para o roteiro (anexo I) busca a clareza e a simplicidade expressivas e muitas das regras trazidas por Emílio Prado (1989). Procurou-se interpretar o texto para que ele fosse dito e não lido, levando em conta sua vocalização, entonação, ritmo e altitude, evitando as formas complexas, usando frases curtas, de maneira coloquial. No programa “A Maldição dos Cem Anos”, com exceção do estudante Bruno Santini, que é o interlocutor folk do programa que conta a lenda de sua cidade, todos os 52
entrevistados são especialistas de variadas áreas da ciência. Há a arquiteta da Igreja Batista — Beatriz Ansay , o coordenador do CIAI do Grupo de Trabalho Clóvis Moura (Governo do Estado do Paraná) que trata de comunidades remanescentes de Quilombo — Geraldo Silva, e a produtora cultural da igreja citada “almadiçoada” — Glaci Braga. Cada entrevista, sem edição, durou em torno de 15 minutos. As entrevistas foram feitas de maneira diferida, que “oferece a possibilidade da montagem antes da emissão, com o que sempre é possível controlar sua duração e polir pequenos erros” (PRADO, 1989, p.59), seguindo as técnicas de Prado (1989, p. 64), cujo esquema de perguntas pode ser encontrado no anexo II. A partir dessas gravações, foram selecionados os trechos para a confecção do roteiro (anexo I). Ao escrever o roteiro, foram escritas — com base nas descrições das entrevistas e dos materiais que cada fonte passou — as dramatizações em rádio-teatro, que tem como finalidade ilustrar e deixar a história mais clara para o ouvinte, além de ser um atrativo. O programa de rádio tem uma estrutura que pode ser chamada de docudrama, semelhante a um programa televisivo que foi ao ar na Rede Brasil Sul (RBS), no Rio Grande do Sul. Em 2003 estréia na RBS a série Histórias Extraordinárias, composta por 13 episódios que tem como fio condutor, a cada programa, uma “lenda urbana”, ou seja, histórias reais que tenham acontecido em uma determinada região do [coincidentemente, no caso deste sombras] Rio Grande do Sul. Os episódios são unitários do gênero docudrama, que consiste em um documentário realizado por meio de narração e entrevistas, mesclado com cenas de dramaturgia. (SILVA;DELGADO, 2005, p. 3)
No caso do Sombras da Realidade, no primeiro bloco foi contada uma história “fantástica”, narrada pelo apresentador e contada pelo inter-locutor folk, ilustrada com rádio-teatro. No segundo bloco, resolução da história (também com o recurso de rádioteatro) e entrevistas com especialistas sobre o assunto em torno dessa, de tal maneira que sempre se buscou respeitar a história contada. A principal diferença do produto televisivo mencionado é que, sendo um produto veiculado na internet, onde é possível acessá-lo de qualquer lugar do planeta, não há a necessidade de se limitar a privilegiar culturas de determinada região, ao invés disso é possível contar histórias de qualquer localidade. Por coincidência, este programa especialmente desenvolvido para este trabalho teve uma história originada de Porto Alegre, no RS, mas de acordo com o estudante Bruno Santini, que acompanhou todos os programas de TV da RBS, essa 53
história que ele contou não foi tratada na televisão. Então, a história é inédita na mídia radiofônica. Tanto é coincidência, que no Baú das sombras, presente no produto, é possível ouvir outras histórias que não se passam no Rio Grande do Sul, e sim no Paraná. O programa A Maldição dos Cem Anos ficou com uma duração de vinte e cinco minutos. A Entrevista com José Mojica Marins — o Zé do Caixão — fala do tratamento “folclórico” dado ao personagem dele. Transcrita e em áudio, teve também a voz do entrevistador modificada. Foi montada no formato de uma entrevista de informação em profundidade, pois “através dela se fornecem ao ouvinte [...] os dados adicionais que ajudarão a compreender o fato [no caso, o percurso do Zé do Caixão], a conhecer suas causas e efeitos, e, em definitivo, a atribuir-lhes um valor pessoal” (PRADO, 1989, p. 63). A entrevista ficou com 13 minutos. Muitos recursos interativos (que são acessórios, mas importantes, de acordo com a fundamentação teórica) só funcionam on-line, como, por exemplo, mandar e-mail a partir do site, enviar matéria para amigos, comentar o texto, ou o “conversa na lareira”, infelizmente permanecem inativos no piloto. O sistema XML, base do sistema de notificação de novos programas em podcast também não funciona offline. De qualquer maneira, esses sistemas já estão todos planejados para o site. Após hospedagem, que muitas vezes define sistemas técnicos que serão utilizados, em pouco tempo esses sistemas podem ser incorporados. A parte final foi o desenvolvimento do design do site. Elaborado e realizado pelo autor deste trabalho, foi levado em conta que o “design e texto andam juntos” (RODRIGUES, 2001, p. 29). Foi utilizado o violeta escuro com o preto como cor base de fundo, para transmitir um tom proposital de melancolia (TISKI-FRANCKOWIAK, 1990, p. 203), inspirado no céu nublado noturno para passar a idéia de algo “assombroso” e, para contrabalançar esse frio com mais calor, fornecendo dinamismo à disposição, foi escolhido o amarelo e alaranjado para criar o contraste, por ser uma cor festiva, e fala mais de perto “à alegria despreocupada daqueles que ainda não tiveram experiências amargas na vida” (TISKI-FRANCKOWIAK, 1990, p. 204), já que o público é juvenil.
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As cores combinam com a logo, inspirada na do desenho animado Scooby 44
Doo , produto bastante popular da Indústria Cultural que trata de maneira humorística também o sobrenatural para jovens e crianças. A letra usada no logotipo chama-se Frankendork, e é a mesma utilizada no remake do filme “Frankenstein” da década de 90. Afinal, “ao criar [um logotipo] deve-se escolher um símbolo de fácil compreensão e memorização, com uma cor que represente essencialmente ‘o que a companhia faz’” (TISKI-FRANCKOWIAK, 1990, p. 209). Os desenhos das cabeças ao lado da logo foram desenvolvidas pelo artista chileno Oliver “Compulsive” Contreras, que autorizou informalmente o uso de seus desenhos para o site (anexo V). Aliás, as imagens utilizadas para as reportagens do além (com exceção da matéria sobre o retorno do chupa-cabra) foram selecionadas do site da comunidade artística Deviantart ao qual Oliver pertence e as escolhas estão assinaladas dentro de uma opção de publicação do Creative Commons cujo uso para fins não comerciais é automaticamente autorizado. Para melhor legibilidade possível, a letra principal utilizada para o texto é verdana, fonte sem serifa, pois de acordo com Elisabeth Heinicke deve-se usá-la, sempre quando possível “to create a clean, uncluttered look45.”(HEINICKE, 2002, p. 13), e o tamanho escolhido (apesar de variar de configuração para cada monitor), foi seguida a orientação de Antônio Celso Collaro — “o corpo ideal para uma composição está relacionado ao público-alvo a que se destina”, em que a partir dos 12 anos pode já se utilizar do corpo 10 (COLLARO, 2001, p. 111). As fotos do Zé do Caixão foram extraídas do site dele. Vide apresentação gráfica da capa (Anexo III).
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Disponível em <http://www.fajnezabawki.com.pl/images/logo/scooby%20doo%20logo.gif>, acesso em 20.Mai.2007. 45 “Para criar um visual limpo e harmônico”. – Tradução livre feita pelo autor deste trabalho.
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4.3 Viabilidade do produto: continuidade prevista Sombras da Realidade é um produto viável, pois a internet é um meio fácil e muito barato de se publicar. Para isso, basta pagar uma hospedagem em um domínio próprio (que poderia ser www.sombrasdarealidade.com), que normalmente não passa de R$ 50,00 mensais. Fora do meio acadêmico, se o site atingir bastante acesso, além de ganhar uma rentabilidade com o sistema dos Anúncios Google como vários sites (pequenos e gigantes) fazem, ainda é possível conseguir um bom sustento fazendo a publicidade de livrarias, lojas de moto, e com outros anunciantes que procuram se propagar em meios culturais. Não é gratuitamente que o programa é dividido em blocos. A divisão possibilita mais espaço para anúncios.
Para conseguir bastante acesso,
basta divulgar o endereço em sites já bastante acessados, como por exemplo o www.baixaki.com.br e orkut, e fazer a publicidade do programa gerando adesivos e outras estratégias de marketing. Tudo para que o site possa sustentar uma equipe de produção, com no mínimo quatro pessoas trabalhando. Ainda que os podcasts possam também fazer parte de alguma(s) grande(s) e pequenas Rádios FM, que podem ser transmitidos pelo Brasil todo. Como já discutido neste trabalho, inspiração para pautas na cultura folk não faltam. Não foi realizada uma pesquisa de campo formal, mas a experiência dos programas anteriores transmitidos em uma rádio comunitária no litoral do Paraná leva a crer que o produto tem muito futuro. Foi constatado, vendo a reação do público participante da rádio com as ligações, mensagens e pela conversa informal com ouvintes, que as pessoas gostam e querem ver sua cultura disseminada — ainda é um privilégio dado a poucos estar na mídia mostrando sua identidade cultural. O próximo programa, por exemplo, poderá tratar da Lenda Indígena da Gruta das Encantadas, da Ilha do Mel no litoral paranaense, onde sereias cantavam chamando os homens para a morte, contada da boca de um índio de lá. Além disso, o site no ar poderá estar sempre divulgando cursos e eventos ligados à cultura popular, folkcomunicação e ao esoterismo e misticismo. O site pode também cobrir jornalisticamente uma viagem pelo Brasil místico. Futuramente também, ao ser traduzido em outras línguas (da mesma maneira que foi produzida uma versão em espanhol presente no produto), o site e o programa podem ganhar o mundo. Por que não? 56
CONSIDERAÇÕES FINAIS Senti muita empatia com todo o estudo sobre o folclore brasileiro, e aposto que qualquer um que prestasse mais atenção em todas as histórias fantásticas que nos rodeiam também sentiriam. Isso, pois o folclore faz parte de nossa alma, ele está incrustado em todos nós. O Brasil é um país riquíssimo em todas essas lendas. Uma pequena viagem, menor que seja, já basta para que lhe agucem os ouvidos para histórias maravilhosas, tenebrosas e algumas até mesmo engraçadas. É incrível como as histórias do povo se encontram em qualquer lugar. Tenho esperança que o Sombras facilite a todos sentir o mesmo prazer que senti ao ouvir tantas histórias. E que ainda possa trazer mais histórias do mundo todo para Wide World no website, já que o estudo comprova que este é um meio muito interessante e fácil para tratar esses temas. Sempre prezei pelo jornalismo criativo, diferente, inusitado, novo. Ajuntar três coisas diferentes foi um samba do crioulo doido.
Espero que esse bolo com
ingredientes de Rádio, Internet e Sobrenatural seja um prato saboroso de um jornalismo inovador. “A Maldição dos Cem Anos” para mim foi o programa mais bem produzido de toda a série Sombras da Realidade, que pode ser ouvida no baú das sombras no produto. A minha dúvida quanto ao fato de meu produto ser jornalismo cultural ou entretenimento alienante morreu quando pude ouvir o programa pronto. A conclusão do programa fala de uma maldição bem real, que é o dinheiro e me senti assim realmente como um jornalista “construindo a realidade” retratada no programa. A Maldição do escravo Josino pode até ser mentira, mas todo o sangue derramado de escravos brasileiros em solo dessa pátria amada era bem pulsante e real, assim como é a dificuldade para se levar um projeto cultural para frente (como a restauração da Igreja das Dores) e a demora da construção da Igreja Batista. Se você se sentiu perturbado com os gritos do Josino fictício, espero que tenha ficado claro que a vida real foi e é ainda pior. Não quero que entendam meu produto como propaganda satânica, trabalho de sabedoria arcana, ou retórica esotérica. Entenda como o “jornalismo do sobrenatural”, um espaço que informa e de quebra ainda privilegia a sabedoria do povo. 57
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ANEXOS
ANEXO I: Roteiro do programa “ A Maldição dos Cem Anos”.
SOMBRAS DA REALIDADE Trabalho de conclusão de curso de Fábio Marcolino sob orientação do professor-mestre Luiz Witiuk Jornalismo / UnicenP (09/2007) – Episódio Número 4 -
“A Maldição dos Cem anos” Tempo: (23’54’’) Lauda 1
TÉCNICA -
CARACTERÍSTICA (Pendrive:\“Sombras Característica.wav” )- RODA 12" E VAI A BG (ATENÇÃO: aproveita o silêncio da música).
Narrador TÉCNICA -
Apague as luzes e preste muita atenção.../ SOBE, RODA ATÉ A MARCA 27’’ E VAI A BG
Narrador -
... Pois agora começa o SOMBRAS DA REALIDADE!/
TÉCNICA -
SOBE, RODA ATÉ A MARCA 37’’ E VAI A BG
Narrador -
O programa que investiga as coisas entre o céu e a terra que vão além de sua vã filosofia./
TÉCNICA -
SOBE, RODA ATÉ A MARCA 52’’ E VAI A BG
Narrador História desta semana: “A Maldição dos Cem anos”.//
TÉCNICA
SOBE, RODA ATÉ A MARCA 67’’ E DESCE
(Continua...)
SOMBRAS DA REALIDADE Trabalho de conclusão de curso de Fábio Marcolino sob orientação do professor-mestre Luiz Witiuk Jornalismo / UnicenP (09/2007) – Episódio Número 4 -
“A Maldição dos Cem anos” Tempo: (23’54’’) Lauda 2
Narrador -
Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul./ Ano mil oitocentos e sete, pleno início do século dezenove, a cidade ainda alvorecia em raios tímidos de sol./ Os membros da irmandade devota a NOSSA SENHORA DAS DORES lançavam a pedra fundamental às margens do rio GUAÍBA para construção de seu próprio templo.//
TÉCNICA -
RODA FUNDO MUSICAL - PENDRIVE:\STABAT_MATER DOLOROSA.MP3 - NO PONTO INICIAL 50’’ E VAI A BG
Freira Portuguesa -
— Oh, Nossa Senhora das Dores.../ Quaaantos fiéis tu tens em nossa igreja matriz./ Nossa Senhora, Beata Maria Virgo Perdolens, Mater Dolorosa,tens seu coração ferido por sete espadas das dores.../ Dor de ver teu filho Jesus em calvário./ Oh Nossa Senhora das Dores./ Tu já mereces um Templo só teu em solo deste Porto Alegre.//
TÉCNICA -
RODA 3’’ E CORTA NA MARCA DE 2’07’’ RODA EFEITO DE SINO BATENDO - PENDRIVE:\CHURCH BELLS.WAV - ATÉ MARCA 10’ E CORTA
Narrador -
Seis anos depois, a Capela-Mor dessa que seria uma das primeiras igrejas de Porto-Alegre foi inaugurada./ A partir daí, as energias e as esmolas voltaram-se para a construção do interior da igreja./ O estudante BRUNO SANTINI, morador de Porto-Alegre é quem nos conta a história dessa igreja de sua cidade, e ele ressalta que naquela época a construção era feita com mão de obra escrava.//
TÉCNICA Narrador -
RODA SONORA BRUNO-AUREA - PENDRIVE:\1BRUNO-AUREA.MP3 (10’’)
De acordo com Bruno, reza a lenda que um Senhor proprietário de muitos escravos chamado DOMINGOS JOSÉ LOPES, cedeu o negro JOSINO para as obras da igreja //
(Continua...)
SOMBRAS DA REALIDADE Trabalho de conclusão de curso de Fábio Marcolino sob orientação do professor-mestre Luiz Witiuk Jornalismo / UnicenP (09/2007) – Episódio Número 4 -
“A Maldição dos Cem anos” Tempo: (23’54’’) Lauda 3 obras da igreja.// TÉCNICA RODA EFEITO SONORO FUNDO OBRAS PENDRIVE:\“ambiente_obras.mp3” - E VAI A BG Domingos -
— Bom dia, padre! Venho fazer minha parte com a bondade de um bom cristão e te emprestar um de meus melhores escravos./ JOSINO!!! VEM AQUI, AGORA!!!// (gritando)
Padre — Oh, isso é ótimo!/ Sua caridade irá lhe garantir um espaço no céu, Senhor Domingos!// Josino — Meu sinhô...// Domingos -
— Vosmicê agora trabalha pra construir um templo de Nossa Senhora mãe de Deus, DEUS, ouviu?!!!./ (barulho chicotada) Agora vai trabalháá!!!/ Pare de ficar aí olhando pro chão fingindo que sabe contar os dedos do pé e mexa-se, inútil!!!//
Josino — Sim sinhô...// TÉCNICA
SOBREPÕE EFEITO DE PASSOS - (PENDRIVE:\PASSOS.WAV) E FUNDE COM EFEITO DE MARTELO BATENDO(PENDRIVE:\WORK.WAV).
Domingos -
— É, padre./ Esse é um escravo muito potente./ Com ele, em pouco tempo as obras logo terminarão!.Hahahahahah!!!//
Padre — Deus ouça tua prece, Senhor Domingos! Deus te ouça!!!// TÉCNICA SOBE EFEITO SONORO FUNDO OBRAS RODA 2’’ E CORTA . VINHETA (MISTERIO.wav)
(Continua...)
SOMBRAS DA REALIDADE Trabalho de conclusão de curso de Fábio Marcolino sob orientação do professor-mestre Luiz Witiuk Jornalismo / UnicenP (09/2007) – Episódio Número 4 -
“A Maldição dos Cem anos” Tempo: (23’54’’) Lauda 4 RODA FUNDO MUSICAL - PENDRIVE:\ESCRAVA ISAURA.mp3 - ATÉ TÉCNICA -
MARCA 21’’ VAI A BG E CORTA. De acordo com levantamento feito pela historiadora DÓRIA MENEZES, neste
Narrador -
início de construção um negro forro conhecido como PRETO JOSÉ era responsável pelas medidas da obra./ Isso leva a crer que realmente escravos participaram da construção da igreja, embora em minoria se comparar com o número de trabalhadores contratados de acordo com o levantamento.// O “Secretário” dos Quilombares em Curitiba e historiador GERALDO SILVA explica sobre como eram as relações entre Senhor e Escravo na época.//
TÉCNICA –
RODA SONORA GERALDO-SR - PENDRIVE:\2GERALDO-SR.MP3 (16’’)
E para realmente complicar a história, GLACI BRAGA, produtora cultural responsável pelo projeto de restauração da igreja Nossa Senhora das Dores, Narrador -
conta que, segundo a lenda, o escravo Josino teria sido acusado por furto de material da igreja.// RODA SONORA GLACI-LENDA - PENDRIVE:\3GLACI-LENDA.MP3 (20’’)
TÉCNICA -
Narrador -
Eis que, de acordo com o estudante gaúcho BRUNO SANTINI, o negro proferiu sua maldição// RODA SONORA BRUNO-MALDIÇÃO - PENDRIVE:\4BRUNO-MALDIC.MP3
TÉCNICA-
(11’’)
VINHETA DE BLOCO - PENDRIVE:\“vinheta-bloco.wav”Narrador-
A maldição teria realmente se concretizada até os dias de hoje?/ Qual é a opinião de especialistas e da arquiteta de uma outra igreja que já está há
(Continua...)
SOMBRAS DA REALIDADE Trabalho de conclusão de curso de Fábio Marcolino sob orientação do professor-mestre Luiz Witiuk Jornalismo / UnicenP (09/2007) – Episódio Número 4 -
“A Maldição dos Cem anos” Tempo: (23’54’’) Lauda 5 TRINTA anos em construção?/ Não perca....// No próximo bloco!// (FIM DO PRIMEIRO BLOCO) TÉCNICA (RODA INTERVALO1) VINHETA DE BLOCO - PENDRIVE:\“vinheta-bloco.wav”Narrador-
Você está ouvindo SOMBRAS DA REALIDADE./ (Atenção: Espera 4”) Programa dessa semana: “A Maldição dos Cem anos”.// A última pedra da igreja jamais será posta, teria dito o escravo Josino minutos antes de morrer.../ Outras versões apontam que ele teria dito que seu Senhor jamais veria a obra acabada./ Mas todas as versões da lenda apontam que o negro Josino foi acusado de furto e por isso sofreu muito.../ Sob pena de morte, ele rogou sua praga!/ Você está pronto para o desfecho desta história?!// RODA FUNDO MUSICAL - PENDRIVE:\MONTSERRAT CABALLE.mp3
TÉCNICA
ATÉ MARCA 33’’ ATÉ A MARCA32 E VAI A BG. SOBREPÕE COM FUNDO SONORO FUNDO DVD (“SOM DE CENA VIOLENTA DE EXECUÇÃO EM PÚBLCIO DO DVD ‘O PROCESSO DA REVOLUÇÃO’) E VAI A BG
Domingos –
— Negrinho safado.../ MISERÁVEL!!!/ LADRÃO!!! Tu vai pagar com o teu sangue...// — Pur favô, meu sinhôôô…/ Misericódia, eu sul inocente!!! EU SOU
Josino –
TÉCNICA Josino
INOCENTE!!!// SOBREPÕE COM EFEITO DE CHICOTADA - CHICOTADA.MP3
— AAAAAAAAAAAAAAAAAAAH!!!!//
(Continua...)
SOMBRAS DA REALIDADE Trabalho de conclusão de curso de Fábio Marcolino sob orientação do professor-mestre Luiz Witiuk Jornalismo / UnicenP (09/2007) – Episódio Número 4 -
“A Maldição dos Cem anos” Tempo: (23’54’’) Lauda 6
Domingos TÉCNICA
— CALA A BOCA, VERME! QUANTO MAIS TU GRITAR, PRETO, MAIS TU VAI SOFRER!// LADRÃOZINHO!!! SOBREPÕE COM EFEITO DE CHICOTADA 3 VEZES — AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAHHHHOOOOOOOOWWW!!!
Josino SOBE EFEITO SONORO DVD TÉCNICA
SOBE FUNDO MUSICAL MONTSERRAT CABALLE EFEITO (CHICOTADA.MP3) x3, x4, x5 — (ATENÇÃO: dar gritos repetidos de muita dor misturado com choro).
Josino EFEITO SONORO DVD VAI A BG TÉCNICA
FUNDO MUSICAL MONTSERRATE CABALLE VAI A BG FUNDE COM SONORA BRUNO-TORTURA – PENDRIVE:\5BRUNOTORTURA.MP3 (18’’)
— Eu xou INOXENTE!/ IINOXEEEEEEEENTE!!!! NOCHA SENHORAAAAA!!! MOU XINHÔ!! QUE VOXÊ JAMAICH VEJA ESSA Josino (com IGRECHA TERMINAAAAR! A ÚLCHIMA PEDRA JAMAIS XERÁ líquido na boca, POSTA!!! JAMAICH! JAAAAAAAAAAMAAAAAAAAAAAAIch!!!!!! à “beira da morte”) SOBREPÕE COM EFEITO DE CHICOTADA 3 VEZES TÉCNICA
RODA FUNDO SONORO DVD POR 5’’ E DESCE RODA MUSICAL MONTSERRATE CABALLE POR 5’’ E DESCE Isso que você acabou de ouvir, teria acontecido há 200 anos./ Por mais que essa seja uma parte da história da lenda, execuções violentas de escravos como essa
Narrador -
eram comuns naquela época./ GERALDO SILVA, coordenador do CIAI do grupo Clóvis Moura, confirma esse dado histórico.//
(Continua...)
SOMBRAS DA REALIDADE Trabalho de conclusão de curso de Fábio Marcolino sob orientação do professor-mestre Luiz Witiuk Jornalismo / UnicenP (09/2007) – Episódio Número 4 -
“A Maldição dos Cem anos” Tempo: (23’54’’) Lauda 7 RODA SONORA GERALDO-COMUM - PENDRIVE:\5GERALDO-COMUM.MP3 (22’’) TÉCNICA
GERALDO SILVA ainda diz que uma execução em local público possui um motivo pedagógico./ De acordo com o que o “secretário” nos conta, em termos Narrador -
simplificados... “Cabeças rolavam para mostrar quem manda”...// RODA SONORA GERALDO-EXECUÇÃO - PENDRIVE:\6GERALDOEXECUCAO.MP3 (45’’)
TÉCNICA -
Além dos fatos mencionados realmente fazerem parte da história brasileira, a produtora GLACI BRAGA cultural responsável pelo projeto de restauração da igreja em Porto-Alegre afirma que foi feito um levantamento histórico pela
Narrador -
historiadora NAIDA MENEZES que aponta detalhes da lenda como verdadeiros./ Alguns dados da lenda foram confirmados...// RODA SONORA GLACI-CONFIRMADO - PENDRIVE:\7GLACI-CONFIRMADO.MP3 (38’’)
TÉCNICA -
Há pelo menos 5 anos, a IGREJA NOSSA SENHORA DAS DORES está em obras./ E é exatamente por isso que muitos moradores de Porto Alegre Narrador -
acreditam que a maldição do escravo Josino ainda persiste./ É o caso do estudante BRUNO SANTINI.// RODA SONORA BRUNO-ANDAIMES - PENDRIVE:\8BRUNO-ANDAIMES.MP3 (16’’)
TÉCNICA -
Mas na verdade, o que ocorre é que essas obras da IGREJA NOSSA SENHORA DAS DORES é apenas uma RESTAURAÇÃO./ A construção da igreja foi concluída em 1903, e como comemoração ainda foi colocada uma
Narrador -
coroa em cima dos portões da igreja que está lá até hoje para quem quiser ver./ A produtora cultural GLACI BRAGA comenta que a confusão entre construção reforma e restauração é recorrente inclusive entre jornalistas //
(Continua...)
SOMBRAS DA REALIDADE Trabalho de conclusão de curso de Fábio Marcolino sob orientação do professor-mestre Luiz Witiuk Jornalismo / UnicenP (09/2007) – Episódio Número 4 -
“A Maldição dos Cem anos” Tempo: (23’54’’) Lauda 8 construção, reforma e restauração é recorrente inclusive entre jornalistas.// RODA SONORA GLACI-CONFUSÃO - PENDRIVE:\9GLACI-CONFUSAO.MP3 (6’’)
TÉCNICA -
A arquiteta BEATRIZ ANSÉ, responsável pelo acompanhamento da obra da Narrador -
PRIMEIRA IGREJA BATISTA de Curitiba que já está há em construção desde 1985, nos elucida a diferença entre construção, reforma e restauração.//
TÉCNICA -
Narrador -
RODA SONORA BEATRIZ-RESTAURO - PENDRIVE:\10 BEATRIZ-RESTAURO.MP3 (39’’)
Independente disso, a versão de que o Senhor DOMINGOS JOSÉ LOPES foi amaldiçoado a jamais ver a igreja construída teria se concretizado./ De acordo com levantamento histórico, o senhor de escravos morreu antes das obras da igreja concluírem.//
TÉCNICA
RODA FUNDO MUSICAL – PENDRIVE:\FUNERAL MARCH.MP3 NA MARCA POR 16’’ E VAI A BG
Freira Portuguesa (mais velha, em tom de funeral)
— Domingos José Lopes.../ Bravo homem!/ Nossa Senhora das Dores, guia este homem Lutador! Ele nos apoiou durante todos esses anos na construção do Templo de Nossa Senhora das Dores./ É uma infelicidade que ele não a veja ainda concluída nos Reinos dos Homens, mas... Que tua Alma SEJA BENDITA, Senhor meu DEUS!!! Que todos os esforços deste nobre homem para levantar a Igreja sejam gratificados para sua alma que neste momento está adentrando... O Reino dos Céus...//
(Continua...)
SOMBRAS DA REALIDADE Trabalho de conclusão de curso de Fábio Marcolino sob orientação do professor-mestre Luiz Witiuk Jornalismo / UnicenP (09/2007) – Episódio Número 4 -
“A Maldição dos Cem anos” Tempo: (23’54’’) Lauda 9 SOBE FUNDO MUSICALFUNERAL MARCH , RODA 6’’ E FUNDE TÉCNICA
COM FUNDO MUSICAL – PENDRIVE:\JOHN WILLIANS – DUEL OF FATES.MP3 A PARTIR DA MARCA 1’17’’ E RODA ATÉ A MARCA 2,08 — Huhuhuhahahahahahahah!!! HAAAAHAHAHAHAH!!!
Josino (voz com efeito)
HAAAAHAHAHAHAHAHAHA AHAHAHAHHHH!!! HAAAAAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHH!!!! DESCE FUNDO MUSICAL FUNERAL MARCH
TÉCNICA DESCE FUNDO MUSICAL JOHN WILLIANS - DUEL OF FATES GERALDO SILVA nos conta que no Brasil há o problema da “demonização” Narrador -
da cultura afro./ Geraldo ainda diz que muitos dos símbolos recorrentes na religião em África, como por exemplo, o uso do chifre de boi que para eles representa a força, para o católico teria um significado diabólico.// RODA SONORA GERALDO-MACUMBA - PENDRIVE:\11GERALDO-MACUMBA.MP3 (45’’)
TÉCNICA
Para Geraldo, temos uma cultura muito arraigada de um catolicismo místico./ Narrador -
De acordo com ele, as pessoas acreditam que “pragas pegam”./ Geraldo diz que o sujeito, em um estado de desespero, tem o simples ato de gritar e as pessoas no Brasil tendem a absorver isso como uma maldição.// RODA SONORA GERALDO-MALDIÇÃO - PENDRIVE:\12GERALDO-MALDICAO.MP3
TÉCNICA
(20’’)
Mas talvez a maior maldição que permeia as obras de uma Igreja é a maldição Narrador -
do dinheiro...// RODA FUNDO MUSICAL MUSICAL – PINK FLOYD – MONEY.MP3 ATÉ A
TÉCNICA
MARCA 11’’ E VAI A BG
(Continua...)
SOMBRAS DA REALIDADE Trabalho de conclusão de curso de Fábio Marcolino sob orientação do professor-mestre Luiz Witiuk Jornalismo / UnicenP (09/2007) – Episódio Número 4 -
“A Maldição dos Cem anos” Tempo: (23’54’’) Lauda 10 Muitos moradores de Porto-Alegre ligam a demora da restauração da IGREJA NOSSA SENHORA DAS DORES à “Maldição dos Cem Anos” do escravo Narrador -
Josino./ Mas se há algo de estranho nessa história, a produtora cultural responsável pelo projeto de restauração afirma que é estranho a falta de dinheiro para concluir o restauro.// SOBE FUNDO MUSICAL E CORTA RODA SONORA 13GLACI-DINHEIRO1- PENDRIVE:\ 13GLACI-DINHEIRO1.MP3 (38’’)
TÉCNICA
A arquiteta BEATRIZ ANSÉ, responsável pelo acompanhamento das obras de construção da PRIMEIRA IGREJA BATISTA DE CURITIBA diz que não é Narrador –
estranho uma obra de restauração ser lenta./ Para isso é necessária uma pesquisa histórica detalhada./ RODA SONORA 16BEATRIZ-ATUALIZAR- PENDRIVE:\ 16BEATRIZ-ATUALIZAR.MP3 (36’’)
TÉCNICA
RODA FUNDO MUSICAL MUSICAL – PINK FLOYD – MONEY.MP3 ATÉ A MARCA E VAI A BG
Tudo isso demanda muito tempo.../ E dinheiro./ Imagine se essa obra fosse feita somente com o dinheiro da comunidade./ De acordo com a arquiteta, levaria Narrador –
mais um século!/ Como a própria GLACI BRAGA disse, e a arquiteta BEATRIZ ANSÉ concorda, há outras prioridades em uma obra./ CORTA FUNDO MUSICAL
TÉCNICA
Narrador –
As pessoas.../ RODA SONORA 14BEATRIZ-DINHEIRO2- PENDRIVE:\ 14BEATRIZ-DINHEIRO2.MP3 (12’’)
RODA FUNDO MUSICAL MUSICAL – PINK FLOYD – MONEY.MP3 NA
TÉCNICA
MARCA 5’’ E VAI A BG
(Continua...)
SOMBRAS DA REALIDADE Trabalho de conclusão de curso de Fábio Marcolino sob orientação do professor-mestre Luiz Witiuk Jornalismo / UnicenP (09/2007) – Episódio Número 4 -
“A Maldição dos Cem anos” Tempo: (23’54’’) Lauda 11 Tanto a IGREJA NOSSA SENHORA DAS DORES DE PORTO-ALEGRE quanto a PRIMEIRA IGREJA BATISTA DE CURITIBA foram e têm sido Narrador –
levantadas apenas com o dinheiro da comunidade./ A arquiteta BEATRIZ ANSÉ, diz que construir com o dinheiro da comunidade é algo difícil, complicado...// RODA SONORA 15BEATRIZ-DINHEIRO3- PENDRIVE:\ 15BEATRIZ-DINHEIRO3.MP3
TÉCNICA
(21’)
Do que adianta então todo tempo do mundo sem dinheiro?/ Acredite, uma obra, Narrador –
qualquer que seja, deve ter seu dinheiro bem administrado./ É a luta diária para não se tornar um escravo do dinheiro./ É cuidando do dinheiro que ele se torna uma benção.../ Caso contrário, ele se torna uma maldição.// SOBE FUNDO MUSICAL MUSICAL – PINK FLOYD – MONEY.MP3 ATÉ A
TÉCNICA
MARCA 1’16’’ E CORTA
CARACTERÍSTICA (CD ARQUIVO “Sombras Característica.wav” – RODA A PARTIR DA MARCA 1’32” E VAI BG.
Narrador –
TÉCNICA
Nós ficamos por aqui./ Sempre temos uma história assombrosa para contar./ Não perca o próximo programa ... SOMBRAS DA REALIDADE.//
SOBE E RODA ATÉ O FINAL (RISADA)
(FIM)
Colaboraram neste programa: Mauro Abatti: como Domingos José Lopes Laura Gelbecke: como freira
(Continua...) Josino, Padre, Narração, edição e entrevistas por: Fábio Marcolino.
ANEXO II: Esquema de perguntas para as entrevistas.
SOMBRAS DA REALIDADE Entrevista – arquiteta Beatriz
Essa entrevista é referente ao programa SOMBRAS DA REALIDADE - A MALDIÇÃO DOS 100 ANOS, que conta a história de uma das primeiras igrejas de Porto Alegre que demorou 99 anos para ter suas obras concluídas por razão de uma maldição feita por um escravo./ Nossa entrevistada é a arquiteta BEATRIZ______, responsável pelo projeto arquitetônico da PRIMEIRA IGREJA BATISTA de Curitiba./ Bom dia, Beatriz!/ - Qual é a diferença técnica entre "construção", "reforma" e "restauração"?// (Qual é mais demorado, mais trabalhoso e mais caro?) - Como era construir Igrejas, em especial as com estilo colonial português e com estilo eclético, com as técnicas existentes no século 19 e no início do século 20? Por natureza, era demorado?// - Uma igreja católica que demorou um século para ser construída seria algo comum? - Beatriz, há quanto tempo a Igreja Batista está em construção?// - Em julho, o blog Curitiba Deluxe ganhou as páginas de diversos jornais./ Seguindo a linha da votação das Sete Novas Maravilhas do mundo, os internautas do site elegeram os pontos mais "bizarros" de Curitiba./ A Primeira Igreja Batista ganhou o 3º lugar por estar, de acordo com eles, "eternamente em construção"./ Hoje em dia, é motivo de vergonha estar em construção durante um longo período de tempo?// - Como é construir uma Igreja, seja ela católica ou evangélica, seja hoje ou seja no século retrasado, com apenas o dinheiro da comunidade?// - E uma restauração, mesmo com incentivos financeiros, é estranho que se demore para concluir?// - O que normalmente mais falta para uma obra: tempo ou dinheiro?// - Acredita que uma maldição de um escravo, proferida no momento de sua execução, possa atrasar uma obra?// O Sombras da Realidade agradece sua entrevista./ Muito obrigado, Beatriz.// Fábio Marcolino para o “Sombras da Realidade”.//
SOMBRAS DA REALIDADE
Perguntas para entrevista com Geraldo Silva.
Você está ouvindo uma entrevista integrante do episódio “A Maldição dos Cem Anos”, e nosso entrevistado é GERALDO SILVA, coordenador do CIAI.// •
A lenda que esse episódio trata é a história de uma das igrejas mais antigas de Porto Alegre, que demorou 99 anos para ser construída graças, supostamente, à uma maldição de um escravo que teria sido injustamente punido por roubo durante a construção da igreja./ Geraldo, isso teria se passado no início do século 19./ Até que ponto chegava a crueldade humana com os escravos nesta época?//
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Como você descreveria uma execução em praça pública de um escravo?//
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O senhor de engenho Domingos José Lopes, de acordo com a lenda, foi o responsável pela acusação do escravo./ Como eram as relações entre senhor e escravo?//
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Qual é a sua visão da força da religião-afro?//
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Acredita que essa seja apenas uma versão muito modificada da lenda do “Neguinho do Pastoreio”?//
Geraldo, muito obrigado pela entrevista!// Fábio Marcolino para o SOMBRAS DA REALIDADE.//
SOMBRAS DA REALIDADE
Perguntas para entrevista com Glaci Braga. Essa entrevista é referente ao episódio do programa SOMBRAS DA REALIDADE – A MALDIÇÃO DOS CEM ANOS.// Nossa entrevistada é GLACI BRAGA, Produtora Cultural responsável pelo projeto de restauração da IGREJA NOSSA SENHORA DAS DORES.// Boa noite, Glaci.// 1) Há muitas variações quanto a Lenda do Escravo Josino. Qual é a história que vocês trabalmham e em que detalhes ela varia? - No que me contaram era porão em vez de praça. 2) Quem é a historiadora responsável pela revisão dos dados históricos? 3) Nessa revisão, chegou-se a alguma constatação de que a lenda é verdadeira? 4) Quais são as evidências de que a história é real? (Perguntar quanto à alusão da lenda em um jornal da época em que a obra foi finalizada.) 5) Onde poderíamos encontrar o pelourinho citado na lenda, que ficava na frente da praça? 6) Durante esse período de restauração, em andamento, tem pessoas que ligam ainda a lenda à demora do restauro. Como você vê isso? 7) (Existe alguma confusão quanto a “restauração”e “reforma”?) 8) Sabe de alguma coisa “estranha” já ocorreu durante a restauração? 9) Até que ponto a Lenda é um atrativo turístico cultural para a igreja? Glaci, muito obrigado pela entrevista!// Fábio Marcolino para o SOMBRAS DA REALIDADE.//
ANEXO III: Apresentação gráfica do website.
ANEXO IV: Matérias e conteúdo do produto sem formatação impressos.
Nas garras do homem lobo Por Celina Soares É difícil definir onde surgiu o primeiro relato sobre o lobisomem, mas é possível afirmar que esse fenômeno ficou mundialmente conhecido por ser considerado uma maldição sobrenatural, capaz de metamorfosiar um homem em um lobo sanguinário. Porém, a cultura indígena não compartilha dessa mesma idéia, para eles o lobo é considerado um "Animal de Poder", ou seja, um animal sagrado o qual os Xamãs e Pajés buscam incorporar o espírito para trazer cura, proteção, recomendações sobre a tribo, etc. Essas histórias que foram tão exploradas no passado perdem cada vez mais o seu vigor na atualidade, é o que diz o Padre Hildo Afonso Camilo Ferrarini da Paróquia do Senhor do Bom Jesus, localizada no bairro Cabral de Curitiba. “Para dizer a verdade o lobisomem não existe, isso faz parte de lendas populares! Muitas vezes as pessoas vêem certas coisas e já inventam que é lobisomem ou que é Fogo Fátuo. Na realidade não existe nada disso, as lendas são invenções para assustar as pessoas”, conclui o Padre. Porém, a ciência reconhece dois fenômenos que ligam ou explicam a causa do mito do lobisomem: a hipertricosis e a Licantropia. A hipertricosis é uma doença genética denominada síndrome do "lobisomem" que causa o crescimento anormal de pêlos em todo o corpo (exceto nas palmas das mãos e plantas dos pés). Em 2005 os irmãos mexicanos Larry e Danny Gomez, portadores dessa doença ficaram bastante conhecidos por entrarem para o como os homens mais peludos do mundo. Licantropia do grego vem de Lykaánthropos, nome de um rei mitológico que, na Grécia Antiga, fora transformado em lobo por Zeus. Assim, na psiquiatria e na parapsicologia, Licantropia é uma forma de doença mental em que a pessoa imagina e passa a agir como se fosse um lobo. O médico psiquiatra Dr. Joaquim Monte conta que pacientes com psicose, esquizofrenia, transtorno afetivo bipolar e outras psicopatologias podem apresentar alucinações e delírios com animais, mas que “no entanto, nunca atendeu algum paciente que achasse que era ou que se sentia um lobo ou que tinha visto um lobisomem”. Porém, de acordo com o psiquiatra, é possível encontrar na literatura médica psiquiatra “citações de situações como essa”, afirma o psiquiatra. ALUCINAÇÕES Segundo o Dr. Joaquim as alucinações podem ocorrer quando o metabolismo do cérebro está alterado do seu nível normal, o que resulta em um quadro alucinatório visual caracterizado por visões de vultos e imagens, animais ou monstros . Essas pessoas não têm apenas a impressão de ter visto, mas possuem uma plena convicção inabalável “real” de que o objeto inexistente está lá, mesmo que esses objetos não sejam percebidos por outras pessoas. O psiquiatra também afirma que as alucinações podem ser causadas por febre alta em crianças e ocasionalmente, em adultos. Além disso, perturbações orgânicas no cérebro, causadas pela intoxicação do fumo, álcool e outras drogas, podem fazer com que a pessoa “veja” coisas e interaja com elas.
As alucinações são mais características em pacientes com psicose ou que sofram de esquizofrenia, é o que diz o Dr. Joaquim. “A psicose é um transtorno de personalidade com perda do senso da realidade com prejuízo da percepção, do pensamento e do julgamento”. A desconexão com a realidade é, portanto, um traço marcante que se revela através de alucinações, delírios e comportamento inadequado. Por outro lado, na esquizofrenia não é muito comum as alucinações visuais (são mais auditivas, os pacientes escutam vozes!). No delírio psicótico e esquizofrênico as pessoas podem acreditar que são deuses, personalidades, animais, etc. Sempre as alucinações visuais tem uma temática predominantemente de bichos e animais peçonhentos (lobos, cobras, aranhas, percevejos, jacarés, lagartos, etc ) e elas são denominadas zoopsias. LICANTROPIA A Encyclopaedia of Psychic Science, de Nandor Fodor, diz que a Licantropia é "a crença em que um ser humano pode, sob certas condições, transformar-se em um animal". A definição dada não especifica como sendo exclusivamente a transformação em lobo. Ela generaliza, citando, inclusive, um artigo de Richard Bargot, publicado sob forma de sumário no Jornal da Society for Psychical Research, em julho de 1919, The Hyaenas of Pirra que conta a história de um capitão que se viu transofrmado em um homem-hiena! A “Encyclopedia of Occultism”, de Lewis Spence, também define a licantropia como sendo a "transformação de um ser humano em um animal". A crença local costuma definir que tipo de animais humanos se "transformam". Em algumas regiões da Ásia, o tigre é um animal mais frequentemente assimilado; na Rússia é o urso e, na África, o leopardo. Inclusive, a crença corrente entre os selvagens de lá é que “cada indivíduo possui um animal em que particularmente poderia transformar-se, ou em vida ou após a morte." Na psicanálise o lobisomem representa o id – lado instintivo do ser humano. Quando uma pessoa diz ser um lobisomem ela pode agir da maneira que quiser com a desculpa de que o IDE está sobreposto ao SUPEREGO — o nosso freio repressor e controlador social. O Parapsicólogo e Orientador em Parapsicologia Reginaldo Hiraoka, acredita que o comportamento licantrópico se difundiu durante a idade média devido a utilização de ervas para fabricação de porções relacionados com a bruxaria, onde era comum o uso de plantas com o princípio ativo alucinógeno, como exemplo: as sementes de papoula e de beladona que eram transformadas em uma pasta e utilizada sob a pele ou ingerida, que por conseguinte atingia a corrente sanguínea e afetava o sistema nervoso central, causando sintomas como delírio, alucinações e agitação intensa. “Certamente muitas alucinações foram causadas pela ergotina, ou seja, uma substância originada de um fungo da mesma família do LSD que contaminava o centeio do pão. Juntando tudo isso, uma pessoa normal podia ter comportamento alterado de maneira agressiva repentinamente, ou seja, uma manifestação de licantropia." Hiraoka também menciona que existem outros relatos na Biologia, sobre fungos alucinógenos. “Houve uma época na Europa em que o arroz foi infestado por um fungo que causava alucinações nas pessoas que o ingeriam. Ocorrendo especificamente alucinações coletivas que relatavam visões ou encontro com lobisomens!”.
Ele esclarece que essas visões não são resultantes apenas de alucinógenos, mas podem acontecer através de projeções decorrentes de algum medo armazenado em nosso subconsciente que podem ser acionados como uma defesa mental em momentos de stress, situações de luta ou fuga. “As imagens são rastreadas de nossas memórias antigas, por exemplo: algumas histórias infantis falam do Lobo da Floresta, e por estar associado ao medo, e geralmente a floresta lembra algo escuro, quando se aciona o escuro, o inconsciente pode projetar aquele medo do lobo, ou lobisomem, para fora de si” . No livro Poltergeist: Algumas de Suas ocorrências no Brasil, o autor Hernani G. Andrade constata no estudo de caso "Poltergeist de Guarulhos", realizado pelo Instituto Brasileiro de Pesquisas Psicobiofísicas, cita o depoimento de um dos entrevistado que luta com o monstro. "Ela alega que viu um vulto cabeludo, uma onça, como se fosse um gorila, ou um macaco... Ela disse que viu aquele vulto, um bicho feio, horrível..." Da mesma maneira, a escritora Rebecca Brown, autora do livro Ele Veio Para Libertar Os Cativos, afirma a existência dos Lobisomens “Eu, pessoalmente, encontrei um lobisomem durante o dia e não era época de lua cheia. Satã os mantém muitos bem guardados e vigiados. Ninguém pode controlá-los, exceto Satanás e seus mais poderosos demônios...” Brown explica que possuímos um corpo espiritual moldado pelo nosso corpo físico, e que os satanistas se utilizam do corpo espiritual para projetar os corpos humanos e de animais a fim de espiar ou confrontar cristãos, ou seja, um humano pode possuir o corpo de outro humano se souber controlar seu corpo espiritual. “Os vampiros e os lobisomens são conhecidos como lendas há muitos e muitos anos... Espantem-se. Estas criaturas existem...” diz a autora. Portanto, tenha bastante cuidado enquanto estiver caminhando sozinho no escuro...
O Belzebu de Campo Largo por Danielle Leucz*
A casa estava lotada, a fila já atingia o portão ao lado da entrada da boate. Lá dentro todos estavam no clima da festa: os homens tomando suas primeiras cervejas e a mulherada com a maquiagem ainda sem borrões, olhavam exigentemente para os homens como que procurando o melhor, ou o menos pior para despejarem o seu charme. Quando parte das pessoas já haviam entrado e a festa começava a “bombar”, ele chega. Lindo, bem vestido, perfumado. Seu visual destoava da maioria dos homens presentes, o que fazia com que as atenções de todas as mulheres se voltassem para ele. Sem precisar beber para entrar no clima da festa, como fazem a maioria dos rapazes que freqüentam o local, no meio da pista ele começa a dançar. Ao seu redor, apenas elas, insinuando-se, tentando receber um simples soslaio daquela figura encantadora. Seu jeito de dançar foi atraindo todas as mulheres presentes, como o canto da Iara que hipnotiza pescadores até afogá-los. Quando todas as mulheres da festa concentraram-se no meio da pista, formando um círculo em volta do belo rapaz, ele decide subir em uma das grandes caixas de som e ali continua dançando, agora como se estivesse em um palco sendo que, de fato, ele era a principal atração. De repente, como que num passe de mágica, do corpo definido e desejado pelas presenças femininas em geral, surgiram pés de bode. Ninguém entendeu nada, algumas nem viram, cegas pela beleza que ofuscava mais do que a psicodélica iluminação da boate. Mas na medida em que todos foram percebendo a anormalidade, um silêncio se fez presente e logo foi dando espaço para os comentários amedrontados e para rostos assustados e estupefatos, pois o belo rosto do rapaz começou a se transformar, ao passo que chifres lhe surgiram no alto da cabeça. O dj da festa, alucinado com o som que produzia, nem se deu conta do que estava acontecendo e por isso a música não parou. Mas de repente, um barulho ensurdecedor fez o local estremecer. Era a voz daquela estranha forma humana, mais alta que a música, dizendo em tom grave: “Vou levar todos vocês comigo. Vocês vão conhecer o inferno!”. Todos foram afastando-se do rapaz, até porque na parede a sombra, 5 vezes maior que o seu tamanho, desenhava as peculiares formas do “coisa ruim”. Era o diabo. Ele desceu do lugar onde estava e o tumulto aumentou. Assustados todos tentaram correr e meio sem saber o que se passava, um segurança desinformado tentou contê-lo, e foi surpreendido com um simples tapa no peito, mas que fez com que o pobre homem voasse por 5 metros, caindo morto do outro lado da pista. Do meio de toda aquela confusão, uma moça completamente bêbada voltava do banheiro, onde acabara de vomitar, empurrando todo mundo até chegar no rapaz que, mal viu ela, tinha se transformado no próprio Belzebu. Sem notar que todos se afastaram por medo, ela achou que o caminho estava livre e começou a dançar rente àquele corpo estranho, de olhos fechados. Virou-se, como que exibindo o que ela tinha de mais atraente, seu bumbum. E este mesmo foi o alvo da besta, que lhe passou a mão de leve, fazendo com que a moça uivasse de dor, segundos depois. O simples toque do diabo no volumoso traseiro causou uma grave queimadura e a moça, que já estava tonta, caiu de cara no chão, deixando a mostra uma ferida fedorenta, onde antes era um objeto de desejo.
Ninguém sabe ao certo como terminou essa história. O que se sabe é que a possível aparição do diabo em pessoa na casa noturna Limão Mel, em Campo Largo, deu muito que falar. A narrativa descrita acima, reúne um pouco de cada relato contado pelo povo da cidade, que fez questão de difundir essa história cabulosa. Na verdade não se encontra em Campo Largo alguém que tenha realmente confirmado o ocorrido, alguém que tenha dito “eu vi”, no entanto, inúmeros depoimentos surgiram a partir do “ouvi dizer”. O proprietário da casa, que não quer ter seu nome divulgado, explica que nada aconteceu naquela noite, que provavelmente seus concorrentes inventaram tal história para prejudicá-lo. “Isso porque já estamos há 8 anos funcionando e é a única casa noturna da cidade que sempre se manteve”, afirma o dono do Limão Mel, negando qualquer hipótese que prove a realidade dos fatos. No entanto, ele próprio não pôde confirmar o que se passou naquela noite, pois não estava na casa. Além disso, seus funcionários foram orientados a não fornecer informações à imprensa. Boato ou não, o que se sabe por meio da sabedoria popular é que onde há fumaça, há fogo e, independentemente de como surgiu a história ela espalhou-se rapidamente, como o fogo na palha. O que reforça o mistério, é que a festa aconteceu no sábado entre um feriado religioso. Seria uma aparição provocadora em um ambiente onde Deus é dificilmente lembrado? Ou quem sabe um caso raro de alucinação coletiva, onde supostamente todos consumiram da mesma droga? Tudo são especulações, hipóteses e rumores devidamente difundidos pelo povo e, como se tem por certeza pelo velho ditado, a voz do povo, é a voz de Deus. * Danielle Leucz é jornalista e moradora de Campo Largo. — danileucz@gmail.com
El mundo gira
O arquivo desconhecido do chupa-cabra Por Caetano Candal* — SCULLY: El Chupacabra? — MULDER: Sim, é uma lenda do folclore mexicano. El Chupacabra, o chupa-cabra. É uma criatura pequena e cinza com uma cabeça grande e um corpo pequeno e grandes olhos pretos protuberantes.
O diálogo acima foi retirado do 11º episódio (El Mundo Gira) da quarta temporada do seriado X-Files. Como exemplificado nessa transcrição, o roteiro de diversos episódios da série tem como gancho lendas urbanas, folclores, contos e mitos populares. O caráter investigativo dessa produção televisava aborda temas sobre o sobrenatural, o oculto, a atividade paranormal e o extraterrestre. O episódio El Mundo Gira, escrito por John Shiban e dirigido por Tucker Gates, foi ao ar nos EUA no dia 12 de janeiro de 1997. O enredo mostra a investigação dos agentes especiais do FBI Fox Mulder e Dana Scully após a morte da jovem Maria Dorantes. No início do episódio um trovão ilumina um acampamento de trabalhadores mexicanos imigrantes. O barulho é seguido de uma chuva amarela. No alto de uma colina, Maria é encontrada morta ao lado de uma cabra coberta por fungos. O principal suspeito é Eladio Buente, considerado por parte da população imigrante da região o próprio chupa-cabra. A história se desenrola como em uma telenovela mexicana, com conflitos amorosos, vinganças e assassinatos. Ao fim do episódio, os agentes Mulder e Scully apresentam o laudo sobre a investigação ao diretor-assistente do FBI Walter Skinner. Na versão oficial, os agentes desmentem a história do chupa-cabra, afirmando que as causas das mortes foram infecções de fungos, aceleradas por uma enzima que Mulder afirma ser alienígena. Ironicamente o episódio apresenta outros dois finais alternativos, contados por imigrantes que testemunharam a história. Como boatos, as duas versões apresentam pontos de vistas diferentes e incoerentes, mas ambas apontam o chupa-cabra como o culpado de toda tragédia. Alimentando, dessa forma, o mito da criatura extraterrestre. — SKINNER: El Chupacabra? — SCULLY: Sim, senhor. — SKINNER: Honestamente, eu fiquei confuso com esta história. Criada por Chris Carter, a série X-Files estreou em setembro de 1993, pelo canal Fox, nos Estados Unidos. Ficou no ar por nove temporadas e é considerada um marco na história da televisão. * Caetano Candal é jornalista, fã de seriados, e foi repórter do primeiro programa do Sombras da Realidade. — caetanocs@hotmail.com
O retorno do chupa-cabra Novas aparições revivem a lenda por Caetano Candal *
Canion’s Ranch, Cuero, Texas, Estados Unidos da América. Sexta-feira, 31 de agosto de 2007 – Encontrado o que afirmam ser o animal responsável pela morte de dezenas de galinhas na região. Mais do que isso: encontrado o que afirmam ser o chupa-cabra. Diversos blogs e sites oficiais de noticias divulgaram a informação de que a caçadora Phylis Canion havia encontrado a carcaça de um chupa-cabra. O mito do sugador de sangue data aparições anteriores à década de 90. Em 1987, os jornais El Vocero e El Nuevo Dia, ambos porto-riquenhos, publicaram reportagens sobre a morte inexplicável de diversos animais, incluindo cabras. Diferente do resultado de um ataque de predadores normais, as vítimas desses casos tinham o sangue completamente drenado através de pequenas incisões circulares. Os ataques se espalharam pela América, incidentes foram relatados em paises como Estados Unidos, México, Porto-Rico e Brasil. Apesar dos esforços de autoridades e das comunidades locais para capturar a criatura, nenhuma evidência prova a real existência do chupa-cabras. O caso relatado no Texas ainda aguarda resultados de testes, mas especialistas afirmam – através da análise de fotos - que o chupa-cabra de Canion não passa de uma raposa com um caso extremo de sarna. Há quem afirme, no entanto, que o chupacabra é de fato um extraterrestre capturado pelo governo americano e que escapou de uma base militar. Uma versão alternativa a essa explicação diz que o animal é resultado de uma experiência genética que acabou fora de controle. Apesar da veracidade não comprovada, a história do chupa-cabra se tornou uma lenda urbana digna de referências em camisetas, filmes, quadrinhos e séries de TV. As explicações para a origem desse animal alimentam ainda mais o imaginário popular.
* Caetano Candal é jornalista e foi repórter do primeiro programa do Sombras da Realidade. — caetanocs@hotmail.com
O Mestre do Horror
Entrevista Exclusiva com ZÉ DO CAIXÃO para o Sombras da Realidade! Aumente o volume, respire fundo e preste bem atenção! Pois neste momento, você ouve a entrevista exclusiva do Sombras da Realidade com nada mais, nada menos, que ele, o Senhor das Trevas brasileiro, o Arauto do Inferno, Zé do Caixão! Zé do Caixão: Oi! Você!!! Você!!! E todos vocês que estão assistindo o Sombras da Realidade. Prestem atenção e siga realmente a risca o que é para o seu bem, e o que não é. Porque de repente você pode ter uma praga, e com certeza a minha praga não é praga de mãe, mas é mais forte, é praga de Zé do Caixão. Então seguimos, começamos. Sombras da Realidade: Noite sombria hoje, não é, Zé? Zé do Caixão: Hoje foi, realmente, uma noite muito corrida, né? Basta dizer que eu tive na prefeitura até agora pouco, né? Então você sabe que dentro dos órgãos realmente políticos, tem muita força oculta. Então eu to realmente com alguns espíritos querendo sair, e não sei quem eles querem pegar, mas vamos lá. Sombras da Realidade: Bem, Zé, ou melhor, José Mojica Marins, o Brasil lhe conhece como Zé do Caixão, e esse é o apelido do seu personagem, alter ego, Josefel Zanatas... Zé do Caixão: É, é o apelido de Josefel Zanatas, Zé do Caixão. Sombras da Realidade: ... Que no seu filme, à Meia Noite Levarei sua Alma, é o agente funerário do interior que acaba amaldiçoado pelo sobrenatural. Zé do Caixão: Exatamente. Sombras da Realidade: Como você lida com essa confusão entre o personagem e você, que as pessoas costumam fazer? Zé do Caixão: Olha, eu acredito que até os anos 93, foi barra, né? As pessoas me viam, se benziam, confundiam uma coisa com a outra. Mas aí eu fui pros Estados Unidos, fui homenageado. Eu aqui tive 50 revistas, realmente, em mais de 50 anos. E lá eu tive 50 capas de revista em um mês, né? Então de repente eu senti que o primeiro mundo me punha lá em cima, e quando eu voltei aqui consegui começar palestrar em faculdade e tal, e graças a toda essa criatividade minha, essa maneira de ser, eu acabei, hoje, se há uma confusão do que era no passado, era 90% que me confundia. Hoje é 90% que aceita José Mojica Marins, e 10% ainda tá confuso, quem é Zé do Caixão, se é José Mojica, ou não. Sombras da Realidade: O Zé do Caixão, pelo menos em sua estréia no cinema, é um materialista, ele não crê no sobrenatural... Zé do Caixão: Pessoal chama de satanismo, é só um filme ali, não tem nada que ver, ele não crê em deus, mas não crê no diabo também, como ele não crê em espíritos, né? Então ele é um cara, eu diria, que é um ateu, mas é um ateu inteligente, que acredita em vida em outras galáxias, outros planetas, né, não só resumindo nesse satélite pequenino, experimental que é o nosso, né? Então eu acho que ele é até inteligente demais quando ele procura uma mulher que possa pensar como ele, para ele ter um filho realmente, que saia através da hereditariedade do sangue, do pensamento, que puxe o pai, ou a mãe, né? Então seria o filho perfeito, porque seria uma pessoa que não seria uma pessoa provida
de sentimentos, nem do amor e nem do ódio. Uma pessoa que fosse justa, que visse o mundo de solidariedade que o Zé procura. Você vê que na fita, Zé do Caixão sempre defendeu a pureza e a inocência das crianças, e vai continuar defendendo. Sombras da Realidade: Você acredita que o Zé do Caixão, antes de todos o conhecerem, já existia no imaginário do povo brasileiro? Zé do Caixão: Olha, há quem diz que Zé do Caixão existia há mais de 15 bilhões de anos. Antes, realmente, de nascer o novo universo. Que ele já vinha de lá. E isso já houve muita discussão, tal. E segundo muitos dizem que Zé do Caixão realmente escolheu um corpo nos anos, realmente, 30, para encarnar. E achou o corpo do cineasta José Mojica Marins, o ideal. E de repente encarnou, e, segundo a maioria, eu falo como Zé, como se eu tivesse descobrido, mas quem me descobriu foi o próprio Zé. E isso aí é mais um povo que lida com macumba, com sobrenatural, que tem essa ideologia. Mas eu acho que não. Eu acho que eu criei o personagem, um personagem que o povo brasileiro precisava ter, um personagem que não tem nada que ver com vampiro, Drácula, Frankenstein, lobisomens, múmia. É um personagem nosso, e isso aí eu vou me orgulhar sempre, criei um folclore em torno disso, nos temos um personagem fortíssimo, que pode concorrer com os europeus, asiáticos, americanos e todo mundo que vier pela frente. Sombras da Realidade: O fenômeno "Zé do Caixão" é tipicamente um fenômeno da mídia, você concorda quando dizem que o personagem faz parte do folclore brasileiro? Zé do Caixão: Faz. O problema da mídia, eu já por natureza sou sensacionalista, né? Então o sensacionalismo fez com que eu tivesse a mídia até hoje, estando comigo aonde quer que eu vou, eu tenho uma mídia muito grande, né? Mais pelo sensacionalismo. Mas sempre procurei no sensacionalismo, mostrar alguma coisa que os outros não tem coragem de mostrar. E eu, não tenho vergonha, não tenho medo de dizer que sou brasileiro, bato o pé, se é o terceiro mundo, que seja o terceiro mundo. Mas nos vamos chegar no primeiro mundo, devagarzinho, mas nós chegamos lá. Sombras da Realidade: Zé, seja na cidade, seja no interior, você acredita que as pessoas ainda levam a sério o sobrenatural? Zé do Caixão: Olha, muito mais do que você pensa, rapaz. Eu tive na Paraíba, há uns 15, 20 dias, fui pra Recife, e o que se fala no sobrenatural na Paraíba é fora de série. E eu tive que estar com os caras, numa boa, porque também a gente não pode desprezar as pessoas, tem que trazer elas pra coisa séria, mas sempre usando um vocabulário a altura. Então, Recife... Tocantins, também se fala. Tocantins, eu estive lá perto dos índios, até índios canibais, quase. E de repente os caras me tem lá, a lenda viva. Os caras me olharam, só faltavam ficar tudo se ajoelhando diante dos meus pés. Eles me vêem assim, com uma força sobrenatural muito grande. E eu não vou tirar essa coisa de ninguém, né. Não adianta, na hora que eu morrer, vão falar coisas fantásticas, que eu atravesso parede, que eu saio numa vassoura, voei, ih, o que vai dar aí de papo. Fazer o que, quem é que vai brecar isso? É o imaginário do povo brasileiro que tava carente de uma pessoa forte como o Zé do Caixão. Sombras da Realidade: Você poderia nos contar como foi o seu pesadelo que inspirou a criação do personagem? Zé do Caixão: Isso aconteceu, o pesadelo, foi por volta do dia 10 a dia 11, né, de outubro de 63. Eu ia fazer um filme que chamava Geração Maldita. De repente, eu
adormeci por volta das 11, 11 e meia, jantando, adormeci. E dentro do meu pesadelo vinha uma figura de preto, que me arrastava para um túnel, aonde tinha, realmente, a inscrição num túmulo, do meu nascimento e da minha morte. Eu não quis ver da morte. Do nascimento sim. Aí, de repente eu acordava, as 5 da manhã, com um pai de santo dizendo “Tirei o diabo dele”. Eu disse “não tirou diabo”. Eu não tava com diabo. Eu tava tendo uma visão de algo que tenho que fazer, que eu comecei muito novo a fazer, depois parei, e fiz outras fitas, e agora eu vou voltar a fazer o que eu realmente quero. Vou fazer “A Meia-Noite levarei a sua Alma”. Aí já cheguei em São Paulo, acordei a minha secretária, já pus ela pra escrever o resumo da história, reuni os associados, ninguém quis fazer e eu não me preocupei não. Eu tava com uma casa, construindo com minha esposa, conversei, convenci ela a ir pra casa dos pais, . Vendi a casa, peguei o dinheirinho que eu tinha. Meu pai tinha uma poupancinha, também peguei, ele me emprestou, vendeu o carro, e aí eu consegui financiar a fita. Só que fiquei muito endividado, e antes que a fita fosse lançada, porque deu muito problema, começava a ditadura exatamente quando a fita minha ia lançar, 64. E aí foi um problema muito grande, né? E aí eu tive que vender a fita por 20% do que eu realmente havia gastado. Então eu ficava na porta do cinema Parque Palácio, deu, numa semana, 50 mil pessoas. Jô Soares escrevia na Última Hora aqui em São Paulo, “Ao Meio-Dia Levarei seu Dinheiro”. Mas era o contrário, eu tinha vendido e ficava contando as pessoas, pra saber o dinheiro que eu perdi na época, que a gente vendia por 5 anos, né? E souberam explorar os 5 anos bem. Então eu não fiquei rico por besteiras minhas, por estar endividado demais, e eu precisava pagar minhas dívidas e voltar a viver com a minha mulher. Sombras da Realidade: Quais são seus projetos atuais em andamento, agora? Zé do Caixão: Olha, antes de eu dar a saideira, eu já quero passar para os ouvintes, para quem está comunicando, o telefone 011, de São Paulo, para quem se interessar, eu devo ter uma oficina de cinema de 3 dias, até o final de outubro. Tem escola de arte dramática. Então o pessoal pode anotar aí o telefone é 33374440, né, 011 sempre, ou 68496434, São Paulo. 011 sempre, né? E aí o cara que quer fazer cinema, oficina, eu estou a disposição. Porque agora o projeto é o seguinte. Eu to montando “A Encarnação do Demônio” [veja a imagem abaixo], a maior fita da minha vida, que levou aí 41 anos para poder fazê-la, né? Então eu to em montagem, escolher as músicas, que será lançada no meu aniversário, dia 13 de março de 2008. E logo em seguida vem outra fita que eu terminei, que chama-se “A Praga”. Quatro meses depois do lançamento, ou seja, em setembro do ano que vem, será lançado “A Praga”. O Encarnação é o último filme de Jesse Valadão, que veio a falecer no decorrer, até, das filmagens. E “A Praga” é a última fita de uma mulher que foi história no Brasil, como atriz, como diretora da antiga Tupi, Vanda Costa. Então eu tenho dois grandes monstros do nosso cinema, da nossa comunicação em duas fitas que lanço o ano que vem. E começo, no fim de outubro, “A Sacerdotisa”, um curta metragem de terror pesado, mas bem pesado. E de repente, se aparecer gente diferente, estranha, não importa de que estado seja, pode ser aí do Paraná, que eu tenho muito público no Paraná, né? Estarei a disposição, se a pessoa servir pra trabalhar, tanto homem como mulher, eu estarei contratando essas pessoas. Este são os projetos, realmente pra esse ano, e já to acertado com o Canal Brasil, vou fazer umas entrevistas com Marylin Manson, que vem aí, vou fazer com o Inri Cristo, vou fazer com o Paulo Coelho, e estaremos lançando no Canal Brasil, da televisão, no ano que vem. Sombras da Realidade: Zé do Caixão, muito obrigado pela sua entrevista. E agora com vocês... A praga da noite... Com vocês... ZÉ DO CAIXÃO!!!
Zé do Caixão: VOCÊ..... Que não prestigia nossa cultura, não prestigia os mais fracos, o nosso cinema em si. Que os vermes que habitam sua carcaça devorem todo o seu cérebro, e você continue sentindo dores da fornalha do inferno por toda a eternidade. Isto realmente vai acontecer, não é praga de mãe, mas é de Zé do Caixão. E acontece se você não apreciar nossa cultura.... Até lá. Até lá. Tchau tchau!
SOBRE O SOMBRAS DA REALIDADE "Os humanos pensam que sabem o que é realidade e sobre o que é a vida. Eles acham que sabem porque podem pensar. 'Penso logo existo'. Essa atitude é 'Eu sou o topo da cadeia alimentar, então eu decido o que é real e o que não é'. O que eles não querem que exista, simplesmente não existe. Exceto, talvez, em seus sonhos. Ou pesadelos. Então, eles acabam vendo as sombras na parede da caverna, pensando que aquilo é como o mundo é realmente. Eles nunca olham para quem faz as sombras...." — Nancy Collins, In the Blood A história No início do ano de 2004, vozes do além assombravam a mente de Fábio Marcolino para a criação de um programa de rádio que falasse de fantasmas. Não aguentando mais toda aquela pertubação do além, o estudante de jornalismo convidou seu colega Gabriel Tabatcheick para o que viria a ser o primeiro programa de rádio. Em uma conversa com o coordenador de seu curso sobre a idéia, Marcolino foi apresentado ao jornalista e fã do ocultismo Jamil Sallon Júnior, que já havia se formado pelo Unicenp, onde Fábio e Gabriel estudavam. Jamil contou para eles duas histórias de arrepiar, que em uma noite chuvosa, foi gravada com um gravador de mão dentro de um carro. Um pajé teria curado todos os vermes de um cão com apenas um gesto e um homem captava rádio em seu cérebro. A segunda história logo rendeu o primeiro sombras, que foi veiculado na Rádio Teia, a rádio-laboratório online do curso de jornalismo do Unicenp. O Sombras da Realidade começou então, ainda de maneira tímida sua vida na internet. A correria Universitária impediu que fosse dado continuidade no sonho de se fazer o Sombras semanal, mesmo com a aceitação ter sido muito boa entre alunos e professores que ouviam a rádio. No final do ano, com o prazo apertado para inscrições no Prêmio Sangue Novo de Jornalismo Paranaense , o programa foi inscrito na categoria "Reportagem Jornalística". Infelizmente, essa era a categoria errada (a correta seria "projeto de programa jornalístico"), mas mesmo assim, pela qualidade do programa, foi ganho Menção Honrosa no Prêmio (na foto, Gabriel Tabatcheik e Fábio Marcolino no dia da premiação). Ainda foram produzidos mais dois programas. Um em 2005, que Fábio teve bastante dificuldade pois era a primeira vez que trabalhava sozinho na criação de um programa e em 2006, que foi feita uma edição em espanhol que conseguiu superar e muito, pelo menos, o segundo programa. Os dois programas em português ainda foram veiculados em uma rádio comunitária no litoral do Paraná, e o retorno foi bastante interessante. Muitas pessoas queriam contar suas histórias no Sombras da Realidade. Foi constatado lá que há muitas lendas, folclores e mitos para serem contados no formato do programa.
Em 2007, uma maldição obrigou que Marcolino desse continuidade ao projeto o ampliando para ser veiculado na internet. Eis que agora o Sombras é o Trabalho de Conclusão de Curso dele, orientado pelo professor Luiz Witiuk. Proposta Como projeto jornalístico, o Sombras se propõe a dar um certo teor cientítico às histórias mirabolantes contadas. A história pode até mesmo não ser confirmada, mas em todas as entrevistas e fontes consultadas têm autoridade para falar a verdade. No formato de programa de rádio, é utilizado um recurso comum em docudrama: a dramatização de cenas contadas, feita no formato de rádio-novela. Os "atores" são escolhidos sem muito critério, e as histórias sempre apareceram de maneira natural, informalmente. Todo mundo sabe que histórias assombrosas estão aí, em qualquer lugar. Independentemente de classe social, sexo, idade e credo. E é no "credo" que encontramos muitos contos. Nota-se, na maioria deles, um lado religioso muito forte. E o Sombras sempre busca prestigiar todas essas crenças sem ferí-las, prestigiando folclores regionais e folclores mundialmente conhecidos. Em Hamlet, é dito a Horácio que "há mais coisas entre o Céu e a Terra que sonha sua vã filosofia". Há muito mais neste mundo que seus olhos não conseguem ver. Nós tentamos pelo menos lhe mostrar a pontinha desse imenso iceberg estranho chamado realidade. Nós tentamos olhar para quem faz as sombras...
ANEXO V: Autorização informal de Oliver Contreas.
Gmail - Conversa com Oliver Contreras
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Fรกbio Marcolino <fabiomarcolino@gmail.com>
Conversa com Oliver Contreras 1 mensagem Oliver Contreras <compulsive.suicidal@gmail.com> Para: fabiomarcolino@gmail.com eu: Compulsive? 02:04 Oliver: yup hello eu: Heloooo!! :D Oliver: :) eu: Remeber me? Oliver: sure youre from brazil journalist or im wrong? eu: Yeah, you're right So... I'm working now on the design of my site "Sombras de la Realidad", can I use your pics? 02:05 (I'm a journalist student.. yet.. :( ) 02:06 Oliver: sure eu: yupii :) Man, you draw a lot. You know I've became your fan. 02:07 I was watching you on devianart I'm fuzi666, you know damn, I love your drawnings. 02:08 So.. How are you doing? Oliver: fine :) you? eu: Fine too! I'm feeling that my website will finally turn to real 02:09 Gosh,.. Not just a feel.. It's certain. I was thinking to ask you to do some drawings, but just if you want.. 02:10 Oliver: tell me about eu: Your mad way would be great for my site. It's about "supernatural stuff". 02:11 A little bit folcloric.. Did you remeber I sent you a radio program? "El Viernes Santo"...? 02:12 Oliver: yup eu: :) It's about that! There is more two programs. One it's already done. 02:13 And it's about a man who started to hear radio... In his head! 02:14 There will be more histories like that ("Lendas Urbanas"), and I'll need ilustrations for each program. 02:15 Oliver: mm 02:16 eu: If you want to inspire in this histories to make more drawnings man, it will help me so much! I would be very very much apreciated. 02:17 And this site will have a lot of accesses.. I have contat with people from Baixaki. They are from Curitiba, my neighboor! :D 02:18 But just if there is no problem to you make it. Using your old pics is already a very strong help. :) 02:19 You know.. Thank you.. :) Oliver: i`d love to do, but im out of time 02:21 im in the university and working too eu: oh, I know how it is. I know that drawning take a lot of time, in special the final art on PC 02:22 but if you would make just in scrap (just by pencil) and send it to myself art-finalize, there's no problem too. 02:24 dunno, it's professional stuff, but I have too this fan thing to have any drawning from you made specailly for me! :D Understand? :) 02:26 Oliver: okish 02:27 mm send me the concepts by mail gotta go right now eu: ok! I'll send you in gmail. Ok? I gotta go too. 02:28 Have a good night (? it's night there? :P) and thank you for your attention. Oliver: yup bye! eu: bye, sleep well, bro 02:29 sleep well, hermano. :)
http://mail.google.com/mail/?ui=1&ik=609a600b01&view=pt&th=113570e4e5208e1b&s... 23/11/2007