Livro patrimônios vivos 2 edição

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Patrimônios

de Pernambuco 2ª EDIÇÃO REVISADA E AMPLIADA

Recife Fundarpe 2014


Copyright © Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco 1ª Edição:

Governo do Estado de Pernambuco Governador | João Lyra Neto

Coordenação editorial: Maria Acselrad Supervisão: Eduardo Sarmento

Secretaria de Cultura Secretário | Marcelo Canuto Mendes Diretor de Gestão | Maria de Lourdes Mergulhão Nunes Diretor de Políticas Culturais | André Brasileiro Diretor de Projetos Especiais | Félix Farfan Gestores de Comunicação | Michelle de Assunção e Tiago Montenegro

2ª Edição: Coordenação editorial: Jaqueline de Oliveira e Silva Supervisão: Janine P.C. Meneses Assistência: Gabriel Navarro de Barros Pesquisa e textos: Maria Alice Amorim

Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico

Fotografia: Aguinaldo Leonel,

de Pernambuco (Fundarpe) Presidente | Severino Pessoa dos Santos Diretora de Gestão | Sandra Simone dos Santos Bruno Diretor de Gestão do Funcultura | Thiago Rocha Leandro Diretor de Gestão de Equipamentos Culturais | Ascendina A. da Lapa Cyreno Diretora de Preservação e Patrimônio Cultural | Celia Campos Diretor de Produção | Luiz Cleodon Valença de Melo

Clara Gouvêa, Costa Neto, Cristiana Dias, Daniela Nader, Edmar Melo, Eric Gomes, Flávio Barbosa, Luca Barreto, Marcelo Lyra, Mateus Sá, Passarinho, Priscilla Buhr, Renato Spencer, Ricardo Moura, Roberta Guimarães, Rodrigo Ramos, Lívia Froes, Luiz Henrique Santos e Jaqueline Silva Projeto cartográfico: Luís Bulcão Projeto gráfico: Gilmar Rodrigues Diagramação: Flávio Barbosa da Silva Revisão: Maria Helena Pôrto Impressão: Companhia Editora de Pernambuco - Cepe

A981p Amorim, Maria Alice. Patrimônios Vivos de Pernambuco /Amorim, Maria Alice; 2. ed. rev. e ampl. Recife: FUNDARPE, 2014. 176 p.: il. ISBN 978-85-7240-093-0 1. Patrimônios vivos – Pernambuco. 2. Patrimônio imaterial. 3. Salvaguarda. I. Amorim, Maria Alice. II. FUNDARPE. III. Título. CDD 363.69


NOTA À SEGUNDA EDIÇÃO · 7 TEXTO INSTITUCIONAL · 9 Marcelo Canuto e Severino Pessoa

2005

BANDA MUSICAL CURICA · 23 CAMARÃO · 27 DILA · 31 J. BORGES · 35 LIA DE ITAMARACÁ · 39 MANUEL EUDÓCIO · 43 MARACATU LEÃO COROADO · 47 ZÉ DO CARMO · 51

2006

HOMEM DA MEIA-NOITE · 55 ÍNDIA MORENA · 59 JOSÉ COSTA LEITE · 63

2007

CONFRARIA DO ROSÁRIO · 67 ZEZINHO DE TRACUNHAÉM · 71

2008

CABOCLINHO SETE FLEXAS · 75 SELMA DO COCO · 79 TEATRO EXPERIMENTAL DE ARTE · 83

2009

CLUBE INDÍGENA CANINDÉ · 87 MARACATU ESTRELA BRILHANTE DE IGARASSU · 91 MAESTRO NUNES · 95

2010

CAPA-BODE - EUTERPINA JUVENIL NAZARENA · 99 DIDI DO PAGODE · 103 MAESTRO DUDA · 107

2011

MARIA AMÉLIA · 111 MESTRE GALO PRETO · 115 MARACATU ESTRELA DE OURO DE ALIANÇA · 119

2012

ASSOCIAÇÃO MUSICAL EUTERPINA DE TIMBAÚBA · 123

2013

BANDA REVOLTOSA · 127 LULA VASSOUREIRO · 131 MAESTRO FORMIGA · 135

TEXTO INSTITUCIONAL · 10 Luciana Azevedo VIVA OS PATRIMÔNIOS VIVOS!

10 ANOS DE APLICAÇÃO DA LEI DE REGISTRO · 12

Jaqueline Silva e Gabriel Navarro PATRIMÔNIO VIVO EM CONTEXTO · 17 Maria Acselrad CARTOGRAMA DE MESTRES E GRUPOS · 20


PATRIMÔNIOS VIVOS IN MEMORIAM · 139

REFERÊNCIAS · 170

2005

ANA DAS CARRANCAS · 141 CANHOTO DA PARAÍBA · 145 MESTRE SALUSTIANO · 149 MESTRE NUCA · 153

2007

FERNANDO SPENCER · 157

2012

ARLINDO DOS 8 BAIXOS · 161 JOÃO SILVA · 165


Nota à Segunda Edição Na presente obra Patrimônios Vivos de Pernambuco, 2ª Edição Revisada e Ampliada, a autora, Maria Alice Amorim, nos contempla com as histórias dos vinte e nove Patrimônios Vivos eleitos até 2013, acrescidos de outros sete textos sobre os patrimônios in memoriam. Dentre estes, contamos com os vinte e quatro textos da primeira edição e mais doze textos inéditos. Às fotografias originais, foram acrescentadas imagens de autoria do fotógrafo Costa Neto e do acervo de documentação da Fundarpe.

07



O

Registro de Patrimônio Vivo de Pernambuco tem como

instituição, em 2 de maio de 2002, pela Lei Estadual nº

missão reconhecer, valorizar e apoiar mestres e grupos

12.196 e regulamentada pelo Decreto nº 27.503, de 27 de

que detenham os conhecimentos ou as técnicas necessárias

dezembro de 2004, do Registro do Patrimônio Vivo de

para a produção e a preservação de aspectos da cultura

Pernambuco – RPV-PE. Em 2014 teremos a 10ª edição do

tradicional ou popular (formas de expressão, saberes, ofícios e

concurso, com a escolha de mais três novos patrimônios

modos de fazer). A transmissão desses conhecimentos,

pelo Conselho Estadual de Cultura.

valores, técnicas e habilidades possibilita o reconhecimento, acesso, difusão e fruição dos diversos bens, memórias,

Atualmente, estão registrados vinte e nove Patrimônios Vivos

saberes e histórias presentes nas culturas populares.

(além dos sete falecidos, em caráter in memoriam). São pessoas e grupos situados na Região Metropolitana, na Zona

O Governo do Estado, através da Secretaria de Cultura e da

da Mata, no Agreste e no Sertão. Entre eles estão

Fundarpe, ciente desta responsabilidade, apresenta a versão

ceramistas, poetas, xilogravuristas, cirandeiras, coquistas,

atualizada e ampliada do livro Patrimônios Vivos de

sanfoneiros, artistas circenses, grupos de teatro, agremiações

Pernambuco. Esta publicação reúne informações históricas e

carnavalescas, bandas de música, maracatus, caboclinhos e

culturais sobre pessoas e grupos registrados como Patrimônio

uma irmandade religiosa.

Vivo de Pernambuco, desde o primeiro ano deste concurso, em 2005. A primeira edição foi escrita em 2009, pela

Agradecemos à sensibilidade da Companhia Editora de

pesquisadora Maria Alice Amorim. De 2010 a 2013, mais

Pernambuco (CEPE), que entendeu a importância do projeto,

doze patrimônios foram eleitos, e ocorreram cinco

possibilitando a impressão deste novo catálogo. Desejamos

falecimentos, o que torna necessariamente importante uma

que esta iniciativa leve cada vez mais longe a história desses

nova edição, no propósito de dar continuidade à valorização e

reconhecidos mestres da cultura pernambucana. Boa leitura.

difusão do Patrimônio Cultural Pernambucano.

Marcelo Canuto Pernambuco está entre os estados pioneiros ao adotar uma legislação própria para reconhecimento dos saberes dos mestres e mestras da cultura popular e tradicional, com a

Secretário de Cultura

Severino Pessoa Presidente da Fundarpe

09


D

ocumentar, através deste livro, a trajetória dos “Patrimônios Vivos de Pernambuco” e, consequentemente, seus múltiplos saberes, histórias e memórias, representa para nós, da Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco – Fundarpe –, um momento oportuno de reconhecer, salvaguardar e difundir parte da diversidade cultural que constitui Pernambuco. Mais do que isso, reforça o nosso compromisso em promover e proteger o patrimônio cultural imaterial, contido nas tradições, no folclore, nos saberes, nas línguas, nas festas e em diversas outras manifestações, fortalecendo as “referências culturais” dos grupos sociais em sua heterogeneidade e complexidade. Cientes da importância dessa categoria do patrimônio, temos, nos últimos anos, nos esforçado para criar e consolidar instrumentos e mecanismos, de maneira coletiva e compartilhada, que visam garantir o seu reconhecimento, defesa e, acima de tudo, viabilidade. Assim, no ano de 2002, o Governo do Estado de Pernambuco lançou, de maneira pioneira no Brasil, a “Lei do Registro do Patrimônio Vivo”, possibilitando o reconhecimento e o apoio aos mestres e grupos da cultura popular e tradicional, avançando para uma concepção do patrimônio entendido como “o conjunto dos bens culturais, referente às identidades e memórias coletivas”. Nesse contexto, formas de expressão, saberes, ofícios e modos de fazer ganharam um novo espaço, quanto à apreensão dos seus sentidos e significados. Hoje, nosso desafio é asseverar a inserção dos nossos patrimônios vivos na Política Cultural do Estado, o que temos feito através da realização de oficinas de transmissão de saberes, exposições, apresentações culturais, palestras, entre outras ações, que para nós significa a apropriação simbólica e o uso sustentável dos recursos patrimoniais direcionados à preservação e ao desenvolvimento

10

econômico, social e cultural do Estado. Nessa trajetória, articulamos diversas ações institucionais que possibilitaram investir em atividades como pesquisa, documentação, proteção e promoção desses patrimônios vivos. Portanto, ao dar corpo a testemunhos de pernambucanos e pernambucanas, este trabalho ousa servir como um memorial, um “pergaminho identitário” fundamental para a construção do futuro. Um futuro que começa na percepção do que fomos e de quem somos, possibilitados pela “consciência patrimonial”. Sem dúvida, esta valiosa e inédita publicação é mais um fruto desses desafios! Queremos compartilhar com vocês, leitores – e por que não “patrimônios vivos”? –, um pouco das nossas descobertas e redescobertas. Saibam, desde já, que o livro em mãos é resultado de um trabalho de pesquisa e registro, de um olhar atento e sensível, e incompleto, por essência, pois a cada ano serão incorporados novos patrimônios vivos. Mais do que registrar, portanto, estas linhas e imagens que seguem nos possibilitam mergulhar num mosaico de experiências que marcaram e marcam as vidas de grandes mestres e grupos da cultura popular e tradicional, verdadeiros tesouros vivos, guardiões e sacerdotes de memórias e saberes. Em seus testemunhos, são revelados o simbólico, o imaginário e o real, numa dinâmica objetiva e subjetiva que articula um saber fazer, conhecimentos e empreendimentos sociais desafiadores à nossa maneira de pensar e agir. Um rico universo em que as pessoas se expressam e se relacionam com o mundo; que comunica vida, fatos, pensamentos, sonhos, ideias e sentimentos. Boa leitura!

Luciana Azevedo Diretora-presidente da Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco. (Exercício de 2007 a 2010)


15


Viva os Patrimônios Vivos! 10 anos de aplicação da Lei de Registro.

A lei de RPV prevê, além do incentivo financeiro mensal, uma série de outras ações, de forma a potencializar a transmissão

Jaqueline de Oliveira e Silva Gabriel Navarro1

de saberes, o acesso, a fruição e a majoração da visibilidade da instituição, dos mestres e das mestras. Neste intuito, os Patrimônios Vivos de Pernambuco são convidados a participar

Pernambuco é o estado brasileiro precursor em adotar uma

das ações culturais realizadas pela Fundarpe, como o Festival

legislação própria para as ações de reconhecimento e

de Inverno de Garanhuns, os Festivais Pernambuco Nação

valorização dos saberes de mestres e mestras do patrimônio

Cultural e a Semana do Patrimônio, esta última promovida

cultural imaterial. Em 2004, realizou-se a primeira edição do

anualmente pela Diretoria de Preservação Cultural da

concurso, sendo registrados, em 2005, doze patrimônios vivos

Fundarpe. Aqueles que trabalham com artesanato, desfrutam

(referente aos anos de 2002, 2003, 2004 e 2005). O ano de

da possibilidade de comercializar e exibir seus trabalhos no

2014, neste sentido, se consolida como o responsável pela 10ª

Centro de Artesanato de Pernambuco e na Alameda dos

edição do concurso. Atualmente, além de Pernambuco,

Mestres, situada na Feira Nacional de Negócios e Artesanato

2

apenas seis estados brasileiros e sete municípios possuem leis

(Fenearte).

específicas de valorização de seus mestres e mestras da cultura popular tradicional. A nível nacional está em tramitação,

Entretanto, constatamos alguns desafios concernentes à lei,

desde 2010, um projeto de lei que institui a “Politica nacional

relacionados de forma estreita com o contexto sócio cultural

de proteção e fomento aos saberes e fazeres das culturas

do estado. Pernambuco é repleto de expressões culturais

tradicionais de transmissão oral do Brasil”, conhecida como

populares, de forma que a quantidade de “patrimônios vivos

“Lei Griô Nacional”.

no cotidiano da cultura” é consideravelmente maior do que a possibilidade que o Estado possui em registrá-los de acordo com os ditames da Lei do RPV. Um dado significativo é o

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1 Jaqueline de Oliveira e Silva. Antropóloga pela Universidade Federal de Pernambuco. Gabriel Navarro. Mestrando em História pela Universidade Federal de Pernambuco.

número de inscrições que a Fundarpe vem recebendo desde as

2 Bahia (Lei dos Mestres de Saberes e Fazeres. Lei n° 8.899/2003), Ceará, (Lei dos Mestres/ Tesouros Vivos da Cultura. Lei 13.427/ 2003), Alagoas (Lei do Patrimônio Vivo. N° 6.513/2004), Paraíba (Lei Mestres das Artes Canhoto da Paraíba. Lei n° 7.694/ 2004), Rio Grande do Norte. (Lei do Patrimônio Vivo. Lei n° 9.032/2007) e Piauí (Lei do Patrimônio Vivo. Lei n° 5.816/2008). Os municípios de Cachoeira do Itapemirim, (ES); Irará (BA); Belém (PA), Fortaleza (Ceará), Belo Horizonte (MG), Laranjeiras (SE) e Tracunhaém (PE), também contam com leis próprias de registro e salvaguarda de seus Patrimônios Vivos.

vinte e três reconhecidos como inabilitados sob a justificativa

primeiras edições do Concurso. No ano de 2013 foram setenta e sete instituições, mestras e mestres inscritos, sendo de ausência de documentação. Sendo assim, constatamos ao fim do processo uma média de dezoito candidatos e candidatas para cada uma das três vagas. Porém, tendo em vista o fato de que a política de registro dos Patrimônios Vivos faz parte de uma ação mais ampla de


3

valorização do patrimônio imaterial , considera-se que uma

valorizar a memória do homem. A memória de um

maneira de diminuir esta discrepância é a contemplação de

pode ser a memória de muitos, possibilitando a

uma multiplicidade de expressões culturais, de forma que a

evidência dos fatos coletivos (THOMPSON, 1992: 17)

salvaguarda dos bens imateriais pernambucanos esteja garantida. Dentre os trinte e seis Patrimônios Vivos registrados

Nesta ação nos valemos também do método etnográfico, com

(sendo sete em caráter in memoriam), estão artistas do barro,

o objetivo de compreender as histórias contidas nas falas, nos

cordelistas, instrumentistas, bandas de música, representantes

gestos, na memória, de uma maneira que possibilitou

das artes cênicas, maracatus, caboclinhos, entre outros, de

perceber as condições de saúde, o modo como utilizam os

forma a compor uma pequena amostra da diversidade cultural

recursos provenientes da política, as condições de trabalho em

que caracteriza o estado.

seus estúdios, galpões e ateliês, e ainda acessar percepções dos mesmos acerca das ações de registro e salvaguarda.

No que diz respeito à documentação e ao diagnóstico, ações também previstas na Lei do RPV foram realizadas nos anos de

De maneira geral, a maioria ostenta com muito orgulho o

2013 e 2014, como visitas de acompanhamento nas

título, declarando o sentimento de reconhecimento e respeito

residências dos mestres, mestras e nas instituições. Tendo

aos seus trabalhos e trajetórias. Uma fala bastante significativa

como princípio o fato de que as tradições culturais se

foi feita por Ricardo, filho da artesã Maria Amélia, de 91 anos,

perpetuam em grande parte mediante a tradição oral e a

residente em Tracunhaém e eleita Patrimônio Vivo em 2007.

forma mais profícua de alcançar este conhecimento é através

Em suas palavras:

dos relatos e memórias de seus detentores, nos pautamos na metodologia da história oral, tendo como princípio o fato que

“artesanato em Pernambuco é igual a futebol no Brasil: todo mundo sabe um pouquinho e tem

[...] a história oral pode dar grande contribuição para

muito jogador bom. Mas o Patrimônio Vivo é como

o resgate da memória nacional, mostrando-se um

se fosse a seleção brasileira. Estão lá alguns

método bastante promissor para a realização de

escolhidos para representar a todos”.

pesquisa em diferentes áreas. É preciso preservar a memória física e espacial, como também descobrir e

Luiz Adolpho, presidente do Clube de Alegoria e Crítica Homem da Meia Noite, ressalta: “O Patrimônio Vivo foi um divisor de águas na vida do Homem da Meia Noite. A gente

3 O documento de referência para as ações de reconhecimento e valorização dos saberes de mestres e mestras da cultura popular é o Programa Tesouros Humanos Vivos, aprovado pela Organização das Nações Unidas para Educação, Ciências e Cultura (UNESCO) em 1993, a partir de uma proposta da República da Coréia, notoriamente inspirada na legislação japonesa em vigor desde 1950 (principal referência para a proteção das culturas orais e modos de fazer tradicionais).

dá valor ao prêmio, está na entrada da sede”. Com relação a aplicação do benefício do Patrimônio Vivo, foi possível perceber que grande parte dos mestres e mestras, gozando de saúde e disposição, utilizam os recursos para

13


impulsionar seus trabalhos, estruturando seus ateliês,

envolverem em mais apresentações, de participarem de

comprando equipamentos ou mesmo reformando suas casas.

encontros periódicos com outros Patrimônios Vivos e de

Outros, já em idade avançada, vivenciam problemas de saúde

sentirem, de forma mais acentuada, o crescimento da

que, por vezes, os impossibilitam de dar continuidade às suas

visibilidade de seus trabalhos.

atividades. Assim, a verba a eles destinada passa a se configurar como a principal renda, substituindo aquela que

Destaca-se, portanto, a necessidade de alguns avanços, no

antes era conseguida por meio do trabalho.

sentido de promover uma legítima expansão do alcance das ações do RPV, assim como aprofundar o debate e a

Já os grupos e agremiações, em sua maioria, aplicam o

participação popular em um sentido mais amplo, o que nos

benefício de um modo a proporcionar a continuidade de suas

direciona a uma efetiva democratização das políticas públicas.

tradições culturais. O discurso do vice-presidente da Sociedade

No intuito de erigir estratégias de incentivo às expressões dos

Musical Euterpina Juvenil Nazarena, João Paulo, opera para

Patrimônios Vivos, o estado de Pernambuco, a partir do

reforçar a positividade do RPV: “Com esse prêmio, hoje nós

reconhecimento das histórias de vida dessas pessoas, de seus

estamos tendo uma ajuda para fazer com que essa história de

anseios, necessidades e potencialidades, têm respeitado as

126 anos não venha a ruir, que os nossos instrumentos não

trajetórias percorridas por cada um dos mestres e mestras,

possam vir a ser calados. Foi muito bom, está sendo muito

assim como das instituições culturais, que são os arcabouços

boa essa ajuda”. Já a irmandade religiosa Confraria do

da cultura popular do estado.

Rosário, da cidade de Floresta, efetivou a reforma da sua sede, a gravação de um documentário e a produção de um

A segunda edição do presente livro se pauta numa perspectiva

calendário anual, além de custear, em parte, a sua

de valoração da diversidade cultural que se revela em terras

tradicional festa, que acontece no dia 31 de dezembro,

pernambucanas, bem como de assegurar o prestígio que nos

desde 1972.

enlaça em contribuir para a continuidade de políticas públicas que assegurem o fomento a um leque de expressões que

É importante ressaltar que as políticas públicas norteadas pela

emprestam brilhantismo e vislumbre aos habitantes do estado

concepção de patrimônio imaterial lidam diretamente com

e visitantes.

pessoas e, por conseguinte, seus sentimentos e valores, que dizem respeito às suas trajetórias de vidas em uma estreita

Desejamos uma boa leitura, firmada com o prazer que advém

conexão com o meio social e cultural em que vivem, de forma

da imaginação sonora, visual e táctil, impossível de não vir à

que as visões dos mestres e mestras não são consensuais.

tona através das palavras inscritas neste livro e que reforçam a

Muitos desses indivíduos declararam o desejo de se

riqueza cultural do estado de Pernambuco. Recife, julho de 2014.

14


15


1 96


O Patrimônio Vivo em Contexto

Vale ressaltar, de acordo com Barbosa e Couceiro (2008), que algumas experiências, consideradas exemplares, de programas

Maria Acselrad1

nacionais de salvaguarda – realizadas por países como Japão, Tailândia, Filipinas e Romênia, conhecidas como Tesouros

Um dos instrumentos mais relevantes das políticas públicas

Humanos Vivos – em prática desde o fim da Segunda Guerra

voltadas para o reconhecimento das culturas populares

Mundial, contribuíram de forma significativa para a ampliação

desenvolvidas no Brasil, nas últimas décadas, tem sido as

das agendas políticas patrimoniais no mundo, inserindo o tema

patrimonializações de bens culturais imateriais. É inegável que para

da salvaguarda através da transmissão de saberes e apoio direto

o enriquecimento desse processo a circulação de documentos,

a mestres e grupos, na pauta de diversos debates públicos de

como a Recomendação sobre a Salvaguarda da Cultura Popular e

âmbito nacional. Num mundo cada vez mais globalizado, em

Tradicional, de 1989, e, mais tarde, a Convenção para Salvaguarda

constante e acelerado processo de transformação, a preocupação

do Patrimônio Cultural Imaterial, de 2003, ambas promulgadas

com as especificidades culturais alçava a um novo patamar a

pela UNESCO, e das quais o Brasil é signatário, foram decisivas

discussão sobre o patrimônio cultural.

para a reverberação de um debate público sobre o assunto. A resposta a esse movimento, por parte dos órgãos gestores

Nesse contexto, as políticas de patrimonialização de pessoas

de cultura, deu-se através da criação de instrumentos jurídicos

ou grupos da cultura popular e tradicional, amparadas por

apropriados que procuravam atender à demanda que se impunha

leis de registro estaduais, surgem no rastro de uma série de

em relação à lacuna gerada pelas políticas patrimoniais até aquele

discussões acerca da salvaguarda do patrimônio imaterial que

momento, no que diz respeito à dimensão imaterial do patrimônio

encontram repercussão no âmbito local. Em Pernambuco, a

cultural brasileiro.

Lei do Patrimônio Vivo3 surge como uma tentativa pioneira, no contexto brasileiro, de instituir no âmbito da administração

A repercussão dessa discussão, no cenário brasileiro, ganha

pública estadual, o instrumento do registro, procurando

destaque com a criação do Decreto 3.551 de 4 de agosto de 2000,

fomentar diretamente as atividades de pessoas e grupos culturais

ápice de um longo processo de debates políticos e intelectuais, que

representantes da cultura popular e tradicional, contribuindo

institui o Registro dos Bens Culturais de Natureza Imaterial e cria

para a perpetuação de suas atividades. O registro prevê a

o Programa Nacional do Patrimônio Imaterial, abrindo um espaço

implantação de ações de formação, difusão, documentação e

para o reconhecimento, por parte do Estado, de bens de caráter

acompanhamento das atividades desenvolvidas pelos premiados.

processual e dinâmico como patrimônio cultural do Brasil, tendo

Nesse conjunto de ações, o processo de transmissão de saberes

“como referência a continuidade histórica do bem e sua relevância

assume papel de destaque na salvaguarda das expressões,

nacional para a memória, a identidade e a formação da sociedade

celebrações e ofícios aos quais os mestres e grupos encontram-se

brasileira”. 2

vinculados, através do repasse de seus conhecimentos às novas gerações de alunos e aprendizes, em sua comunidade ou fora

1 Antropóloga e professora do Depto. de Teoria da Arte e Expressão Artística da Universidade Federal de Pernambuco/UFPE. 2 Decreto 3.551 de 4 de agosto de 2000 in: Patrimônio imaterial no Brasil – legislação e políticas estaduais.VIVEIROS DE CASTRO e FONSECA, Maria Laura e Maria Cecília Londres. Brasília: UNESCO, Educarte, 2008.

dela.

3

LEI nº 12.196 de 02 de maio de 2002. Idem.

10 17


Nos últimos anos, o Governo de Pernambuco, através da Fundação

saúde debilitado, para continuar efetivamente trabalhando, já têm

do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco – Fundarpe –,

em seus filhos um caminho que aponta para o futuro da tradição.

vem realizando oficinas, palestras, aulas-espetáculo, apresentações culturais, homenagens, exposições, numa experiência inédita de

O universo dos mestres e grupos contemplados abrange

inserção dos patrimônios vivos na política de cultura do estado.

expressões das diversas linguagens artísticas, dos ofícios artesanais,

Essas ações, cujos formatos diferem de acordo com a expressão

da religiosidade popular, entre outras manifestações culturais.

cultural, idade e disponibilidade do mestre, revelam algumas

Dentre os grupos registrados até o momento, podemos encontrar

questões importantes para a reflexão sobre a transmissão de

de forma predominante manifestações culturais ligadas ao

saberes populares e tradicionais, quando fomentada pelas

Carnaval: um clube de frevo, dois maracatus de baque virado

políticas públicas de cultura, por exemplo: 1) o reconhecimento da

e dois caboclinhos. Também foram registrados: uma banda de

importância de serem preservadas as singularidades das tradições

música, um grupo de teatro e uma irmandade religiosa. Entre

culturais representadas pelos mestres e grupos contemplados;

os mestres, encontramos uma diversidade de tradições culturais,

2) a valorização da diversidade de técnicas, conteúdos e formas

através do registro de representantes da ciranda, do coco, da

de repasse praticadas pelos mestres, características de processos

xilogravura, da cerâmica, do forró, do cordel, do circo, da pintura,

pedagógicos identificados com os princípios da educação não

do cinema, entre outras.

formal; e 3) o entendimento de que o processo de aprendizado do mestre é fator relevante para compreensão do seu processo

Segundo Gonçalves (2003), se relativizarmos a noção moderna de

de transmissão de saberes, entre outros aspectos. Todos esses

patrimônio – criada no século XVIII, com o surgimento dos estados

fatores implicam na concepção de que ações de salvaguarda não

nacionais –, podemos encontrar correspondência na experiência

devem prescindir dos atores sociais que se encontram em foco e

universal do “colecionamento”, prática comum entre muitos povos

que isso vem a ser decisivo para que a própria produção de sentido

e comunidades, ao longo da história da humanidade. A atribuição

das tradições por eles representadas se atualize e se perpetue no

de valor, onipresente nos processos de identificação e registro do

tempo e no espaço.

patrimônio, faz com que essa tendência ao “colecionamento” venha a oferecer um panorama daquilo que de mais representativo

Em Pernambuco, entre 2005 e 2010, foram registrados 24

e singular compõe o patrimônio cultural de um povo. São histórias

patrimônios vivos. Dentre eles, 16 mestres e oito grupos, através

de vida, processos de aprendizado, dinâmicas de trabalho, escolhas

da publicação de cinco editais. O lançamento do primeiro edital

estéticas, processos criativos e de transmissão de saberes de nossos

rendeu excepcionalmente a premiação de 12 mestres4. Nos anos

patrimônios vivos, compartilhados com a pesquisadora Maria

subsequentes, três patrimônios vivos foram eleitos a cada edital

Alice Amorim e com o fotógrafo Luca Barreto que, através desta

publicado, através de um processo de inscrições que já soma mais

publicação, temos o imenso prazer de apresentar.

de 250 candidaturas ao registro. Em 2008, Pernambuco perdeu três mestres – Ana das Carrancas, Canhoto da Paraíba e Manoel

Sendo assim, é com muita alegria que oferecemos aos nossos

Salustiano –, e hoje conta com 21 patrimônios vivos, a maioria em

patrimônios vivos este trabalho, em retribuição a toda uma vida

atividade; e mesmo aqueles que se encontram com o estado de

dedicada à cultura.

4 A publicação tardia do Decreto nº 27.503, de 27 de dezembro de 2004, que traz a regulamentação da Lei, gerou este acúmulo.

18 11

Recife, novembro de 2009.


19


Cartograma dos Mestres e Grupos contemplados pelo Registro do Patrimônio Vivo Pernambuco (2005-2013) Goiana

Aliança 26

Timbaúba

Nazaré da Mata Tracunhaém

Condado

3 35

Igarassu 25

18

3

Ilha de Itamaracá

33

19

28 30 35 36

Paulista 29

Olinda Petrolina

Floresta

1

10

Recife Caruaru 12 34 24

Bezerros 16 20

Jaboatão dos Guararapes 15

2

6

7 8 9 11 13 17 21 22 23

20

14 27 31 32


Ano da

Legenda

Nome Artístico

Tradição cultural

Data de nascimento

Cidade

1

Ana das Carrancas

Artesanato em cerâmica

18/02/1923

Petrolina

2005

2

Arlindo dos 8 Baixos

8 Baixos / Forró

16/04/1942

Recife

2012

3

Associação M. E. de Timbaúba

Banda filarmônica

09/02/1928

Timbaúba

2012

4

Banda Musical Curica

Banda filarmônica

08/09/1848

Goiana

2005

5

Banda Revoltosa

Banda filarmônica

14/01/1915

Nazaré da Mata

2013

6

Caboclinho Sete Flexas

Caboclinho

Fundado em 1973

Recife

2008

7

Camarão

Forró

23/06/1940

Recife

2005

8

Canhoto da Paraíba

Choro

17/03/1931

Recife

2005

9

Clube Indígena Canindé

Caboclinho

05/03/1897

Recife

2009

10

Confraria do Rosário

Irmandade Religiosa

Fundada provavelmente em 1777

Floresta

2007

11

Didi do Pagode

Samba e Pagode

12/12/1943

Recife

2010

12

Dila

Xilogravura e Cordel

23/09/1937

Caruaru

2005

13

Fernando Spencer

Cinema

17/01/1927

Recife

2007

14

Homem da Meia-Noite

Clube de Frevo

02/02/1932

Olinda

2006

15

Índia Morena

Circo

13/07/1943

Jaboatão dos Guararapes

2006

16

J. Borges

Xilogravura e Cordel

20/12/1935

Bezerros

2005

17

João Silva

Música / Forró

16/08/1935

Recife

2012

18

José Costa Leite

Xilogravura e Cordel

27/07/1927

Condado

2006

19

Lia de Itamaracá

Ciranda

12/01/1944

Ilha de Itamaracá

2005

20

Lula Vassoureiro

Artesanato

02/11/1944

Bezerros

2013

21

Maestro Ademir

Frevo

15/10/1942

Recife

2013

titulação

21


Legenda

22

Ano da

Nome Artístico

Tradição cultural

Data de nascimento

Cidade

22

Maestro Duda

Frevo

23/12/1935

Recife

2010

23

Maestro Nunes

Frevo

22/06/1931

Recife

2009

24

Manuel Eudócio

Artesanato em cerâmica

28/01/1931

Caruaru

2005

25

Maracatu Estrela Brilhante

Maracatu de baque virado

Fundado provavelmente em 1824

Igarassu

2009

26

Maracatu Estrela de Ouro

Maracatu de baque solto

01/01/1966

Aliança

2011

27

Maracatu Leão Coroado

Maracatu de baque virado

08/12/1863

Olinda

2005

28

Maria Amélia

Artesanato em cerâmica

18/04/1923

Tracunhaém

2011

29

Mestre Galo Preto

Coco e Embolada

08/10/1935

Paulista

2011

30

Mestre Nuca

Artesanato em cerâmica

05/08/1937

Tracunhaém

2005

31

Mestre Salustiano

Rabeca, Cavalo-Marinho e Maracatu

12/11/1945

Olinda

2005

32

Selma do Coco

Cult. Popular/ Coco de roda

10/12/1929

Olinda

2008

33

Sociedade M. E. Juvenil Nazarena

Música/ Banda filarmônica

01/01/1888

Nazaré da Mata

2010

34

Teatro Experimental de Arte

Teatro

16/07/1962

Caruaru

2008

35

Zé do Carmo

Pintura e escultura

19/11/1933

Goiana

2005

36

Zezinho de Tracunhaém

Artesanato em cerâmica

05/07/1939

Tracunhaém

2007

titulação


Luca Barreto

Teatro Experimental de Arte 83 88


que há por trás de um nome? Teatro Experimental de Arte

Quando Argemiro se muda de Bezerros para Caruaru, em 1951,

é o nome que resume toda uma vida dedicada às artes

de modo intermitente atuava na cidade o Grupo Intermunicipal

cênicas e à formação de jovens e estudantes. Sociedade civil de

de Comédia, com a participação dos atores Rui Rosal, Joel Pontes,

caráter puramente artístico cultural, é assim que se autodefine a

Pedro Valença. Em 1956, o declarado apreciador da linguagem

organização fundada em Caruaru, a 16 de julho de 1962, pela

cênica decide fundar o Teatro de Amadores de Caruaru (TAC),

pedagoga, atriz e encenadora Arary Marrocos Bezerra Pascoal

com Cosme Soares, Creuza Soares, Antônio Medeiros e Wilson

e pelo contador, ator e autor teatral Argemiro Pascoal, cuja

Feitosa. Entretanto, é em julho de 1962, ocasião em que a

nomenclatura primeira – Movimento Teatral Renovador – foi

cidade recebe o I Festival de Teatro de Estudantes do Nordeste,

logo substituída pela atual, na ocasião da assembleia inaugural

coordenado por Joel Pontes, caruaruense radicado no Recife,

para aprovação do estatuto. Ao lado de Arary e Argemiro, a

que surge o TEA, justamente a partir da breve, mas instigante,

lista de fundadores inclui Antonio Paulino de Medeiros, Carlos

experiência e da constatação de que algo precisava ser feito

Fernandes da Silva, José Gustavo Córdula, Fernando Gomes de

quanto à cena teatral local.

Oliveira, Edvaldo Pereira de Castro, Antonio Silva, Margarida Miranda, Maria José Bezerra, Abias Amorim, Paulo Roberto e

Marcado pela ininterrupta atuação no agreste pernambucano,

Sá, Maria Ezinete de Melo, Inácio Tavares e Jonas Mendonça.

o grupo é o criador do Festival de Teatro Amador e Estudantil

Filiado à Federação de Teatro de Pernambuco (Feteape), o TEA é

do Agreste (Feteag), promovido desde 1988, e do Festival de

considerado, por lei municipal, um órgão de utilidade pública.

Teatro do Estudante de Pernambuco (Festep), que acontece a

Peça Teatral "A Hora Marcada" de Isaac Gondim Com Arari sentada ao fundo da foto e Argemiro Pascoal, atrás da personagem central ao fundo da foto.

84

Reprodução

Reprodução

partir de 2002. Tais eventos contam com a participação de alunos

Peça teatral "A Derradeira Ceia" de Luiz Marinho, 1970, com o ator Argemiro Pascoal, atuando como o Soldado.


de colégios privados e escolas públicas municipais e estaduais

TEA é considerado um dos principais responsáveis pela renovação

daquela região, visto que um dos principais objetivos do grupo é

da cena teatral do interior do estado. Além de já haver encenado

exatamente contribuir com o desenvolvimento de jovens talentos e

diversos textos de qualidade inquestionável, tais como A bruxinha

promover intercâmbios artísticos mediante a promoção de festivais

que era boa, O Baile do Menino Deus, Cancão de fogo, Morte e vida

e mostras de artes cênicas. Outro importante projeto é o Teatro na

severina, e os clássicos Antígona, Romeu e Julieta, A metamorfose,

Comunidade, que consiste em apresentar espetáculos populares

entre os anos de 1967 e 1979 o grupo registrou participação

em palco ou praças públicas da cidade e zona rural, inclusive

contínua no espetáculo da Paixão de Cristo, em Fazenda Nova. O

promovendo debate acerca de questões de interesse das próprias

primeiro seminário do teatro de Caruaru foi promovido pelo TEA.

comunidades.

Desde a fundação, mais de 50 espetáculos foram encenados pelo grupo que, inclusive, vem acompanhando o despertar de novos

Construída com recursos próprios, a sede fica no bairro de

talentos, a exemplo do premiado teatrólogo Vital Santos.

Indianópolis. Chama-se Teatro Lício Neves, em tributo ao poeta na Bahia; São Cristóvão, em Sergipe; Maceió, em Alagoas;

da Silva e Carlos Alves, sob a coordenação de Argemiro Pascoal. O

João Pessoa e Campina Grande, na Paraíba; Recife, Garanhuns,

Arary Marrocos.

Luca Barreto

Argemiro Pascoal, in memoriam.

Luca Barreto

São José do Rio Preto, em São Paulo; Feira de Santana e Salvador,

teatral, ministradas por Arary Marrocos, Jô Albuquerque, José Carlos

Luca Barreto

pernambucano. Anualmente, são oferecidas oficinas de iniciação

Sede do TEA, em Caruaru.

85


Costa Neto/SecultPE

Serra Talhada, Arcoverde, São José do Egito, Bonito, Limoeiro, Pesqueira, Belo Jardim e Gravatá, em Pernambuco, são algumas das cidades nas quais o grupo participou de festivais, mostras de teatro e com as quais estabeleceu intercâmbio cultural. Ao longo de todas essas décadas, o TEA se ocupa, igualmente, em promover palestras, debates, seminários, simpósios. Diversos cursos têm sido ministrados por importantes profissionais da cena teatral e das artes, a exemplo de Clênio Wanderley, Marco Camarotti, Luiz Maurício Carvalheira, Isaac Gondim Filho, Didha Pereira, Rubem Rocha Filho, Romildo Moreira, Ivan Brandão, Valdeck de Garanhuns, Roberto Benjamin, José Manoel, Zélia Sales, José Francisco Filho, Feliciano Félix, Ivonete Melo, Valdi Coutinho,

Costa Neto/SecultPE

Antonio Miranda Cavalcanti, José Soares da Silva (poeta e xilógrafo Dila), ceramista Manoel Galdino, Vavá Paulino, Jorge Clésio, Joel Pontes, Luiz Marinho Filho. Obstinação: este é o motor que move o casal cheio de amor pelas artes cênicas. O que resulta daí são as muitas trajetórias artísticas que vêm ganhando o mundo, com a decisiva colaboração de Arary

Costa Neto/SecultPE

e Argemiro.

Atual elenco do TEA, 2014.

86



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FONTES

Chino ITC e Frutiger

PAPEL

Couché brilho 120g/m²

IMPRESSÃO

Companhia Editora de Pernambuco - Cepe



GOVERNO DO ESTADO


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