Proseando sobre cordel

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Fรกbio Sombra

PRO S E A N D O SOBRE CORDEL


lANÇAMENTO CORDEL INFANTO-JUVENIL

Governado pelo cruel Percival, aquele reino guardava um apavorante segredo, até o dia em que um violeiro caipira e magrelinho decide cruzar seus portões. Para desvendar o mistério e conquistar o coração da formosa princesa Jezebel, Magrilim se vê envolvido em uma perigosa disputa. E ai dele se for derrotado, pois um final terrível reserva-se aos perdedores... Quer saber o resto? Leia “ A Peleja do Violeiro Magrilim com a Formosa Princesa Jezebel”, escrito e ilustrado por Fábio Sombra e publicado pela Editora Lê.

PEDIDOS: 31 3423 3200


A Origem nas Feiras Medievais Nossa viagem em busca das origens do cordel começa na Europa, na Idade Média, num tempo em que não existia televisão, cinema e teatro para divertir o povo. A imprensa ainda não tinha sido inventada e pouquíssima gente sabia ler e escrever. Os livros eram raríssimos e caros, pois tinham de ser copiados à mão, um a um. Então, como as pessoas faziam para conhecer novas histórias? Pois bem, mesmo nos pequenos vilarejos existia sempre um dia da semana que era especial: o dia da feira. Nessas ocasiões, um grande número 1


de pessoas se dirigia à cidade, e ali os camponeses vendiam seus produtos, os comerciantes ofereciam suas mercadorias e artistas se apresentavam para a multidão. Um tipo de artista muito querido por todos era o trovador ou menestrel. Os trovadores paravam em um canto da praça e, acompanhados por um alaúde (um parente antigo dos violões e violas que conhecemos hoje), começavam a contar histórias de todo o tipo: de aventuras, romances de paixão e lendas de reis valentes, como o Rei Carlos Magno e seus doze cavaleiros. Para guardar tantas histórias na cabeça, os trovadores passaram a contar as histórias em versos. Dessa forma as rimas iam ajudando o artista a se lembrar dos versos seguintes, até chegar ao fim da história. Ao final da apresentação, o povo jogava moedas dentro do estojo do 2


alaúde. O trovador, satisfeito, agradecia a todos e partia em direção à próxima feira. Surgem os Primeiros Folhetos Com a invenção da imprensa pelo alemão Johannes Gutenberg, por volta de 1440, os livros e impressos ficaram com custo mais acessível, e mais pessoas vieram a se interessar pela palavra escrita. Foi quando os trovadores perceberam a oportunidade de aumentar seus rendimentos e passaram a oferecer também o texto impresso de seus poemas, ao final das apresentações. No início, esses versos não tinham ainda o formato de livrinhos encadernados e se constituíam de folhas soltas. Por isso, em Portugal ganharam o nome de folhas volantes. Na Espanha ficaram conhecidas como pliegos sueltos e na França como lttérature de colportage. 3


A Tradição Chega ao Brasil Junto com os colonizadores portugueses, a tradição dos trovadores e folhetos chegou ao Brasil e, aos poucos, começou a se difundir pelo interior do País. E foi no sertão do Nordeste que acabou ganhando mais força e aceitação. Apesar de estar presente em nosso país desde o século 16, somente no final do século 19 é que a literatura de cordel começou a adquirir a forma que conhecemos até hoje: livrinhos – também chamados de folhetos – encadernados e histórias contadas em estrofes de seis versos cada, as sextilhas. E nessa mesma época surgiram os primeiros grandes mestres da literatura de cordel, como Ugolino Nunes da Costa, Germano da Lagoa e o mais conhecido de todos, Leandro Gomes de Barros (1868-1918). 4


De Onde Vem o Nome Cordel? Para entender a origem do nome, precisamos compreender como trabalhavam os vendedores de folhetos. Em sua eterna correria de feira em feira, viajando a cada dia para um lugarejo diferente, os vendedores tiveram de inventar uma maneira prática e barata de expor seus livros aos clientes e leitores. Numa livraria tradicional, os livros são colocados em estantes e prateleiras. Como não podem carregar esses móveis pesados com eles, os vendedores de folhetos costumam trazer em suas malas, junto com os livros, vários rolos de barbante. Ao chegar à praça do mercado, eles esticam essas cordinhas (ou cordéis) entre dois postes ou duas árvores e nelas penduram os livrinhos abertos na página central. Foi daí que surgiu o termo literatura de cordel, 5


que conhecemos até hoje. Nos dias de vento, os vendedores prendem os livrinhos com pregadores de roupa, e pronto: está montada a livraria! A Figura do Vendedor de Folhetos Nem sempre os livrinhos são vendidos pelo próprio poeta que os escreve. No entanto, a maioria dos vendedores de livrinhos de cordel sabe cantar e declamar os versos que vende. Para aumentar o interesse pela mercadoria, os vendedores costumam reunir uma roda de interessados e, ali, começam a declamar os versos de algum livro de sucesso. Se o assunto é interessante, mais pessoas vão se aproximando. Quando a história chega ao momento de maior suspense, o vendedor interrompe a leitura, sorri para a multidão e pisca um olho, dizendo: 6


– Para conhecer o final da história, só comprando o livrinho! Todos correm a comprar os folhetos. Logo após o esperto vendedor recomeça com a leitura de um novo livro e, assim, num bom dia chega a vender centenas de obras. A Aparência dos Folhetos O livrinho – ou folheto – de cordel tradicional mede cerca de 10 x 16cm e tem geralmente 8, 16 ou 24 páginas. Raramente chega a 32 e raríssimos são os romances de 64 páginas. O papel é barato, bem fininho e de cor amarelada. O texto é todo em versos, quase sempre estrofes de seis versos cada uma. Outra característica dos livros de cordel pode ser encontrada nos últimos versos de um folheto, onde o autor assina sua obra por meio de um ACRÓSTICO. O acróstico é um 7


nome ou palavra resultante da união das primeiras letras de cada um dos versos de uma estrofe. Os folhetos de cordel tradicional quase nunca trazem ilustrações em seu interior, mas as capas costumam mostrar gravuras feitas em xilografia. Nessa técnica o artista reproduz seu desenho através de um carimbo de madeira, escavado cuidadosamente com canivete ou formão. Métrica e Rima no Cordel Tradicional Quando alguém canta ou declama versos de cordel logo se percebe um ritmo que vai se repetindo ao longo da história. Esse ritmo é resultado da métrica, ou seja, os versos precisam ser construídos com o mesmo número de sílabas. No cordel, os versos possuem geralmente sete sílabas. Vamos tomar a seguinte estrofe como exemplo: 8


Nesse instante o Magrilim Com voz mansa e bem pausada Disse olhando pra princesa: – Ouça aqui, minha adorada, Quero ver se você pode Destrinchar essa charada. Contando as sílabas poéticas do primeiro verso, teremos: NES-SEINS-TAN-TEO-MAGRI-LIM = Sete sílabas. Se transformarmos as sílabas tônicas (pronunciadas com mais força) no som TUM, vamos encontrar o seguinte ritmo: TÁ-TÁ-TUM-TÁ-TÁ-TÁTUM = Sete sílabas. Note-se que esse ritmo segue sempre igual nos versos seguintes. Mas, às vezes, pode acontecer 9


algo curioso. Observe-se o segundo verso: COM-VOZ-MAN-SAE-BEMPAU-SA-DA = Oito sílabas (?). Como é que pode? Os versos não deveriam todos ter sete sílabas? Acontece que estamos falando de sílabas poéticas. Em poesia, a gente só conta as sílabas de um verso até a última tônica, aquela mais forte. Nesse exemplo, a última sílaba tônica é SA, da palavra pausada. Portando aquele DA que sobrou no finzinho não entra na conta, e a gente continua com sete sílabas poéticas. No início parece um pouco complicado, mas depois que o poeta grava esse ritmo na cabeça, os versos começam a surgir com grande facilidade. Outra característica da poesia do cordel é o uso de rimas. No exemplo acima, encontram-se rimas no 10


segundo, no quarto e no sexto verso: paus(ada), ador(ada) e char(ada). Já os versos 1, 3 e 5 não precisam rimar com nenhum outro. Isso facilita a vida do poeta, que só precisa se preocupar em encontrar três rimas por estrofe. Temas na Literatura de Cordel São muitos e variados os temas encontrados nos folhetos de cordel. Alguns exemplos: • Histórias do ciclo do cangaço. • Folhetos jornalísticos que falam de notícias regionais ou nacionais de grande repercussão e interesse geral. • Biografias. • Sátiras de cunho social ou sobre política e os políticos. • Desafios e pelejas entre grandes violeiros. • Temas educativos ou de escla11


recimento público, usados em campanhas de governos e prefeituras. No entanto, os grandes campeões de vendas sempre foram mesmo os chamados romances, com narrativas de fantasia e encantamento. Esses folhetos trazem histórias de reinos misteriosos, localizados na Europa medieval, na Ásia ou no Oriente. Neles, guerreiros lendários, princesas, fadas e criaturas fantásticas adotam usos, costumes e até nomes bem brasileiros. Sendo assim, o leitor não precisa se assustar se, num romance de cordel, encontrar o rei Carlos Magno descansando de uma batalha numa rede, aos pés de um cajueiro ou dividindo uma rapadura com seus doze cavaleiros. Os romances de cordel também criaram uma série de heróis populares que vencem seus inimigos através da astúcia e da esperteza, fazendo os 12


poderosos de bobos e reparando injustiças. Entre eles, os mais queridos são Pedro Malasartes, João Grilo e o Amarelo. Desafios e Pelejas O desafio é como uma batalha, só que travada em versos e ao som de violas. Quando dois poetas, bons de rimas e improviso se encontram, daí pode surgir um desafio. O objetivo do desafio é desfazer-se do adversário, fazê-lo parecer ridículo ou abobalhado perante a platéia. No entanto, termos grosseiros, ofensas pessoais ou que envolvam a família do adversário não são bem recebidos pelo público. Ao ouvir o ataque que lhe é dirigido o adversário reage, sempre em versos rimados, desfazendo as acusações e lançando sua própria artilharia poética. Quando os adversários são 13


experientes e talentosos, um desafio chega a durar horas e horas e se decide, geralmente, mediante uma das seguintes situações: 1. A platéia aclama o vencedor através de gritos e palmas. Geralmente, ao final de uma saraivada demolidora de versos. 2. Um dos adversários reconhece sua inferioridade e desiste da peleja por vontade própria. 3. Um dos adversários não consegue encontrar resposta para alguma provocação que lhe é dirigida. 4. Um dos adversários “empaca” e demora muito para encontrar a rima certa para seu verso. 5. Um dos adversários apela para a violência física. Nesse caso ele é imediatamente declarado perdedor. Para participar de um desses embates, o violeiro precisa possuir um 14


grande domínio do ritmo e da arte de se improvisar. Pensamento rápido e jogo de cintura também não podem faltar e já fizeram a fama de muitos cantadores. O Cordel Hoje e Suas Perspectivas Para o Futuro No início da década de 1970 dizia-se que o cordel estava morrendo. Hoje em dia a situação é completamente diferente. Assiste-se a um forte movimento de resgate e renovação do gênero. Novas editoras vêm surgindo, novos autores estão publicando seus folhetos e muitos textos clássicos vêm sendo reeditados. Educadores hoje reconhecem o valor do cordel e o utilizam, cada vez mais, em sala de aula e em oficinas de criação literária e poética. E as perspectivas para o futuro mostram-se também muito gran15


des. Hoje a Internet e os recursos de editoração caseira barateiam e facilitam, sempre mais, a vida dos poetas, além de oferecerem novos espaços para que divulguem sua produção. E até mesmo as pelejas e desafios surgem de maneira renovada, com os combates acontecendo por e-mails ou em salas de bate-papo e torneios virtuais. Sinal de que o cordel vem resistindo bravamente às mudanças e aos desafios dos novos tempos.

FIM

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PALESTRAS E OFICINAS DE CORDEL com FÁBIO SOMBRA Nesses encontros, sempre acompanhado por sua viola e utilizando uma linguagem acessível ao público infantil, Sombra nos convida a um passeio pelo fascinante universo da literatura de cordel. Durante a oficina, os participantes poderão manusear folhetos originais, matrizes de xilogravuras e ouvir trechos de poemas, recitados ou cantados. Através do site www.fabiosombra.com.br você pode acompanhar algumas dessas visitas e também conhecer mais sobre o trabalho e as atividades culturais do autor.

CONTATOS & RESERVAS: fabiosombra@hotmail.com.br Oficina de: 1h20min. Público-alvo: Educadores e escolas: infanto-juvenil a partir de 9/10 anos.


EDITORA LÊ Um dos melhores acervos da literatura Infantil e Juvenil do País.

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