Revista Enem

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L A N Ç A M E N T O !

Revista Enem - Ano 1 - Nº 1 - Abril 2011

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R$ 5,90

LINGUAGEM A redação do ENEM MATEMÁTICA A valorização do tratamento da informação no ENEM GEOGRAFIA Biodiversidade e Hotspots FÍSICA Energia e suas transformações QUÍMICA Combustão, queima ou explosão BIOLOGIA Eutrofização e esgotos domésticos HISTÓRIA A construção da identidade nacional LÍNGUA ESTRANGEIRA Inglês e espanhol no ENEM

A primeira revista inteiramente produzida por professores de cursos pré-vestibulares e especialistas no ENEM.


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Editorial

o ENEM

veio para ficar!

O

ENEM veio para ficar! E com ele lançamos a REVISTA ENEM, para informar, exercitar, atualizar, aprofundar e debater todas as questões relativas ao Exame Nacional do Ensino Médio.

E quem poderia estar mais capacitado para estas tarefas relativas ao ENEM? Professores de cursos pré-vestibulares, com larga experiência no ensino, elaboração e correção de provas das mais importantes instituições do país e , desde o princípio, do próprio ENEM. A REVISTA ENEM, em parceria direta com o site www.revistaenem.com.br, oferece a você, caro aluno e leitor, matérias com aprofundamento dos conteúdos, competência e habilidades exigidas nas provas, testes comentados, simulados, quiz , dicas, aulas gravadas em vídeo, além da atualização constante de informações sobre o país e o mundo no painel interativo do nosso site. Você poderá contribuir intensamente com a revista e o site da REVISTA ENEM, dando sugestões, fazendo críticas e respondendo aos nossos desafios. O objetivo é um só: prepará-lo para ser bem sucedido nos seus propósitos, obter uma excelente pontuação nas provas do ENEM e alcançar a vaga na Universidade dos seus sonhos. Para o sucesso, devemos estar cercados pelo que há de melhor: a REVISTA ENEM pretende ser uma ferramenta de auxílio constante a sua vitória. Aproveite! Equipe Editorial.

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Sumário

Ano 1, nº 1 - Abril de 2011

EQuIpE EDIToRIAL Prof. Adilson Longen Prof. Daniel H. Medeiros Prof. Euler de Freitas

Abril I 2011

Profa. Elaine Bueno Silva Prof. João P. A. Mateos Prof. Luiz F. Cordeiro Prof. Ricardo L. de Mello

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05 Especial ENEM: um vestibular diferente 08 Artigo Novo ENEM: O planejamento escolar diante do desenvolvimento de habilidades e competências 10 Matemática e suas tecnologias Valorização da informação 14 Ciências da natureza e suas tecnologias/ Biologia Esgoto Doméstico e a Eutrofização das Águas 18 Painel 22 Linguagens, Códigos e suas Tecnologias/ Redação Redação 26 Linguagens, Códigos e suas Tecnologias/ Inglês O que esperar da prova de língua inglesa em 2011 28 Ciências Humanas e suas Tecnologias/ História A construção da identidade nacional 34 Linguagens, Códigos e suas Tecnologias/ Espanhol Prova de Língua Espanhola no ENEM/2011 36 Ciências Humanas e suas Tecnologias/ Geografia Biodiversidade e Hotspots 40 Ciências da Natureza e suas Tecnologias/ Química Combustão, Queima ou Explosão 46 Ciências da Natureza e suas Tecnologias/ Física Energia e suas transformações 54 Opinião O olhar do observador

Prof. Yeso Osawa Ribeiro Rogério Verderoce Vieira CoLABoRARAM NESTA EDIçÃo Prof. Alexandre Detzel Prof. Floriano Guérios Profa. Inêz Gaias Profa. Marlus Geronasso Profa. Rosaly de O. Barros pRoJETo GRÁFICo E DIREçÃo DE ARTE Anderson L.A. (ala5@terra.com.br) REVISÃo Prof. Yeso Osawa Ribeiro Leonardo Bora FoToLIToS E IMpRESSÃo Posigraf S/A Tiragem desta edição: 40.000 exemplares. Todos os direitos reservados. A reprodução total ou parcial deste material é permitida mediante autorização prévia e expressa da Revista Enem, e desde que citada a fonte. O conteúdo dos artigos é de responsabilidade dos autores. “A responsabilidade pelo conteúdo dos anúncios, bem como pela sua produção e compromissos inerentes, é da agência e do anunciante.” FALE CoNoSCo/CoNTATo CoMERCIAL www.revistaenem.com.br faleconosco@revistaenem.com.br Twitter: @revistaENEM

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Especial

ENEM:

um vestibular diferente

O

Exame Nacional do Ensino Médio não é como qualquer outra prova de vestibular. Bem, isso todos sabem, mas quais são as principais diferenças entre o ENEM e os tradicionais vestibulares? Certamente, a distinção mais importante é que o ENEM traz questões baseadas em competências e habilidades, enquanto a maioria das outras provas se baseia nos chamados conteúdos programáticos. Pensando nisso, surge uma pergunta ainda mais relevante: o que muda quando um exame é feito para avaliar competências e habilidades dos alunos? O fato de os conteúdos não serem mais o foco principal deveria, em tese, alterar a forma de preparação dos candidatos, pois conhecer todos os afluentes de um rio, as equações da Física, a disposição dos elementos químicos na tabela periódica e o nome do tutor de D. Pedro II deixa de ser a essência. Para se mensurar o quanto um aluno é competente e hábil, são feitas perguntas de caráter mais reflexivo: como minimizar o impacto ambiental que uma usina hidrelétrica causaria se fosse instalada em determinado rio? Qual a economia mensal de energia elétrica

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em uma residência se seus moradores adotarem determinados hábitos sustentáveis? Por que a emissão de alguns gases poluentes pode provocar chuva ácida? Por que a nomeação de José Bonifácio como tutor de D. Pedro II pode ser encarada como um exemplo de conflito entre os poderes Executivo e Legislativo? Partindo das capacidades de, por exemplo, comparar, classificar, analisar, discutir e descrever, o ensino baseado em habilidades e competências fundamenta-se no como desenvolvê-las, enquanto o ensino baseado no conteúdo conceitual preocupa-se, principalmente, com o que se vai comparar, classificar, analisar...


Desenvolver competências passa por aprender a identificar e encontrar os conhecimentos pertinentes à resolução de uma dada situação. O ensino baseado em conteúdos conceituais fundamenta-se na ideia de se apreender conhecimentos sem necessariamente relacioná-los a situações reais e factíveis aos alunos. Quando um professor de História solicita aos alunos que comparem a escravidão em Roma e no Brasil Colônia, precisa notar que é responsabilidade sua ensinar como é que se compara uma coisa com outra. Avaliações e professores que se preocupam somente com o conteúdo e não com o significado de comparar tratam essa habilidade como se não fosse um pressuposto da escolarização.

A mudança importante em relação ao vestibular tradicional

O objeto da avaliação não é mais o conteúdo, mas as habilidades adquiridas e as competências resultantes Habilidades O “conteúdo” é, nesse novo contexto, um elemento-suporte sobre o qual será construída a prova e organizadas as questões

Enquanto algumas pessoas insistem em dizer que o ENEM não cobra conteúdos, outras já perceberam que esse exame os utiliza como pano de fundo para reconhecer quais alunos são capazes de transitar com fluência em cinco diferentes eixos cognitivos: I. Dominar linguagens: dominar a norma culta da Língua Portuguesa e fazer uso das linguagens matemática, artística e científica e das línguas espanhola e inglesa. II. Compreender fenômenos: construir e aplicar conceitos das várias áreas do conhecimento para a compreensão de fenômenos naturais, de processos histórico-geográficos, da produção tecnológica e das manifestações artísticas. III. Enfrentar situações-problema: selecionar, organizar, relacionar, interpretar dados e informações representados de diferentes formas, para tomar decisões e enfrentar situaçõesproblema. IV. Construir argumentação: relacionar informações, representadas em diferentes formas, e conhecimentos disponíveis em situações concretas, para construir argumentação consistente. V. Elaborar propostas: recorrer aos conhecimentos desenvolvidos na escola para elaboração de propostas de intervenção solidária na realidade, respeitando os valores humanos e considerando a diversidade sociocultural. Ao longo desse texto, surgiram algumas vezes as palavras competências e habilidades. Apesar de comumente serem utilizadas como sinônimos, elas possuem significados distintos. De forma simplificada, pode-se dizer que habilidades são adquiridas na busca de se conseguir competências.

Compõem o conjunto de capacidades a serem adquiridas para permitir a um sujeito produzir uma resposta competente A habilidade é um saber fazer No mundo da escola esse saber fazer pode ser exemplificado pela habilidade de identificar, compreender, relacionar, sintetizar, julgar, etc...

As palavras habilidades e competências não foram termos criados para a escrita desse texto. Ao contrário, elas são vastamente mencionadas em um documento oficial do INEP que versa sobre as quatro Matrizes de Referência do ENEM: Linguagens e códigos e suas tecnologias Matemática e suas tecnologias Ciências da natureza e suas tecnologias Ciências humanas e suas tecnologias

Essas matrizes têm como principal função apresentar as respectivas competências de áreas e as habilidades que as compõem. Aliado a isso, ao final do documento mencionado existe um anexo que elenca os objetos de conhecimento (conteúdos programáticos) das disciplinas curriculares de cada uma dessas quatro matrizes. Conhecer e entender as regras de um jogo são fatores essenciais para que alguém possa ser um jogador competente, mas outras habilidades são necessárias para que isso se torne uma realidade. De maneira similar, compreender que a estrutura do ENEM é diferente da apresentada na maioria dos vestibulares é um importante passo para se conseguir um bom rendimento nesse exame. É claro que apenas isso não é suficiente, visto que são muitas as habilidades a serem adquiridas para se tornar um pessoa com competências diversas. Assim, inteirar-se dos documentos oficiais divulgados pelo INEP, analisar provas anteriores do ENEM, e, se possível, acompanhar as próximas edições dessa revista são meios eficazes, para não ser surpreendido pelas exigências do próximo Exame Nacional do Ensino Médio. www.revistaenem.com.br / ABRIL 2011 / REVISTA ENEM

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Artigo

Prof. Elaine Bueno Silva elaine@revistaenem.com.br

o planejamento escolar esteja orientado por competências e não só por conteúdos, remodelando o currículo disciplinar para módulos de competência; as famílias sejam orientadas quanto às mudanças educacionais do país; questionamentos naturais sempre ocorrerão por parte das famílias e de professores quanto a: planejamento, transposição didática, avaliação e outros procedimentos envolvidos no processo educacional; a incorporação de novas tecnologias da informação e da comunicação no cotidiano escolar é necessária.

Novo ENEM,

novas posturas para todos Caro gestor, Sabemos que o ENEM não nasceu ontem, mas a verdade é que às vezes ele nos parece tão novo, nos traz tantas dúvidas, que nos perguntamos: por onde começar?! E então... nos deparamos com inúmeros desafios. O maior deles, sem dúvida, é a preparação do corpo docente para enfrentar a nova proposta educacional, tanto na teoria quanto, principalmente, na prática. Diante dessa realidade de transformação educacional, o certo é que as primeiras mudanças que realmente precisam ocorrer são as da direção escolar. É necessário que os gestores tragam o firme propósito de “ousar”, com novas posturas, e tenham em vista que:

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A partir de então, prepara-se o corpo docente diante de algumas de suas próprias competências, a saber: > ter capacidade de coordenação de grupos; > saber planejar, desenvolver e avaliar por competências; > trabalhar em equipes multidisciplinares; > incorporar inovações tecnológicas em seu campo de saber; > demonstrar capacidade de comunicação oral e escrita; > buscar autodesenvolvimento; > ter ousadia de propor e questionar ações. É somente partindo dessa quebra de paradigmas estabelecidos na educação formal, que, efetivamente, os alunos terão em seu cotidiano escolar acesso a uma formação como a estabelecida pelos documentos educacionais oficiais, em que: o planejamento se demonstra flexível e indicativo; as áreas do conhecimento se interrelacionam; consideram-se os conhecimentos como recursos a serem mobilizados; trabalha-se por resolução de problemas em situações contextualizadas; aprende-se por meio da criação e condução projetos educacionais; pratica-se uma avaliação formadora diante de situações reais; relaciona-se com as novas tecnologias da informação e da comunicação. Assim, a partir de hoje, comece as necessárias mudanças por você. Busque sempre conhecer mais sobre o assunto e... ouse, inove, recrie, partilhe, planeje e transforme!


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Prof. Adilson Longen

Matemática e suas tecnologias

adilson@revistaenem.com.br

VALoRIZAçÃo DA INFoRMAçÃo

E

m 2010 tivemos eleições, quando escolhemos os nossos representantes nas grandes decisões de nosso país. Questões relacionadas a diversas áreas foram discutidas. Verbas serão destinadas para a Saúde, para a Educação, para os Transportes ou mesmo para a Segurança. Como tais decisões são tomadas? Cada ministério do governo tem suas características próprias, mas todas têm em comum uma grande quantidade de informações que permitem um conhecimento vasto a respeito das necessidades. Essas informações são obtidas e alimentadas por meio de pesquisas, por dados colhidos em cada município de nosso país. A função principal das pessoas encarregadas de tomar as decisões está inicialmente ligada à forma como interpretam os dados. Exige-se de nossos dirigentes a capacidade de, diante da abundância de informações existentes sobre quaisquer ramos, filtrá-las, analisar as situações e decidir.

INFoRMAçõES 10

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ANÁLISE

DECISÃo


O profissional atuante no mercado de trabalho toma decisões a partir de informações que lhes são encaminhadas. O grande desafio está em interpretar de forma adequada essas informações. Pense, por exemplo, em uma grande indústria que pretende criar uma nova fábrica em alguma cidade brasileira. Se os produtos que desenvolver serão voltados à exportação, um dos fatores que deverá levar em consideração é a proximidade de sua fábrica até um porto ou aeroporto, para diminuir os custos de transporte. Assim, buscará informações sobre municípios localizados próximos a portos e aeroportos. De posse dessas e outras informações que julgar pertinentes, tomará a decisão quanto à instalação de sua indústria. A INFoRMAçÃo E o CoNHECIMENTo MATEMÁTICo As chamadas tomadas de decisões devem aparecer também em sala de aula. Nas aulas de Matemática, particularmente, desde os finais dos anos 1990 (com o surgimento dos Parâmetros Curriculares Nacionais) há um bloco de conteúdo denominado Tratamento da Informação. Apenas para que você tenha a idéia do status dado a esse bloco, os outros blocos de conhecimentos são: Números e operações; Espaço e forma; e Grandezas e medidas. Fazemos esse comentário aqui (leia o texto no quadro ao lado) para destacar a importância que atualmente é dada ao Tratamento da Informação. A relevância dos conhecimentos envolvidos pode ser observada nas revistas, nos jornais e em tantos outros meios de comunicação. Nos livros didáticos de Matemática, tanto no Ensino Fundamental como também no Ensino Médio, observa-se um número maior de atividades e de capítulos inteiros que conduzem os alunos ao trabalho de coleta de dados, de elaboração de tabelas, de construção de gráficos estatísticos e, principalmente, de análise das informações presentes nesses gráficos. O Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) observa na Matriz de Referência para Matemática e suas Tecnologias, das chamadas habilidades desejáveis de um futuro aluno dos cursos de graduação, três delas que estão relacionadas diretamente ao Tratamento da Informação: H24 - utilizar informações expressas em gráficos ou tabelas para fazer inferências. H25 - Resolver problema com dados apresentados em tabelas ou gráficos. H26 - Analisar informações expressas em gráficos ou tabelas como recurso para a construção de argumentos.

Essas três habilidades não aparecem necessariamente separadas em situações presentes no Exame Nacional do Ensino Médio. É muito mais freqüente observá-las, pelo menos duas a duas, juntas. Compreenda que as habilidades apresentadas estão contidas numa das competências (são sete competências ao todo). É a competência 6 assim especificada: Competência 6 - Interpretar informações de natureza científica e social obtidas da leitura de gráficos e tabelas, realizando previsão de tendência, extrapolação, interpolação e interpretação.

O conhecimento que está relacionado a essa competência é a representação e análise de dados. A leitura e também a interpretação das informações apresentadas por meio de tabelas e gráficos podem ser utilizadas como instrumento não apenas de compreensão como também de elaboração de estimativas e de previsões de questões diversas relacionadas aos contextos sociais e científicos. Pensando nessa competência e nas três habilidades correspondentes sendo empregadas como referência na elaboração de questões que compõem a avaliação de um aluno ao final do Ensino Médio, não é difícil imaginar a diversidade de formas de apresentação de situações-problema a serem resolvidas: tabelas com informações sobre desmatamento; gráficos evidenciando distribuição de riquezas conforme classe; contas de consumo de energia elétrica ou de água, etc.

TRATAMENTo DA INFoRMAçÃo A demanda social é que leva a destacar este como um bloco de conteúdo, embora pudesse ser incorporado aos anteriores [*São considerados blocos de conteúdos: Números e operações; Espaço e forma, Grandezas e medidas; Tratamento da informação]. A finalidade do destaque é evidenciar sua importância em função de seu uso atual na sociedade. Integrarão este bloco estudos relativos a noções de estatística, de probabilidade e de combinatória. Evidentemente, o que se pretende não é o desenvolvimento de um trabalho baseado na definição de termos ou de fórmulas envolvendo tais assuntos. Com relação à estatística, a finalidade é fazer com que o aluno venha a construir procedimentos para coletar, organizar, comunicar e interpretar dados, utilizando tabelas, gráficos e representações que aparecem frequentemente em seu dia-a-dia. Fonte: Parâmetros Curriculares Nacionais, p. 56, 1997 * Nosso comentário

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sobre o que esses dados dizem. É o caso principalmente das comparações que podem ser feitas nos conhecidos gráficos de setores. Um exemplo retirado dos meios de comunicação indica que o desmatamento detectado na chamada Amazônia Legal atingiu 216 km² em setembro de 2009. Segundo dados apresentados, houve uma queda de 33% em relação aos dados obtidos em setembro de 2008, quando o desmatamento atingiu 321 km². Observando a distribuição dessa área desmatada, obtemos o gráfico de setores abaixo. Um olhar para o gráfico aponta que no Pará houve uma área maior de desmatamento. Se resolvermos fazer uma comparação entre os dados de Pará e Rondônia, concluímos que o desmatamento ocorrido no Pará (62 km²) foi maior que o de Rondônia (50 km²).

Que é isso?

Só pode ser algum vazamento.

Desmatamento

INFoRMAçÃo ENGANoSA Não é incomum a informação ser manipulada para esconder ou até muitas vezes enganar. Em época de eleição, por exemplo, é bem possível o eleitor encontrar panfletos contendo gráficos sobre o desempenho dos candidatos. Apenas para exemplificar, considere que dois candidatos A e B disputam um cargo eletivo. Um pouco antes do dia da votação você se depara com o seguinte gráfico:

30%

Preferência Se o comprimento da barra A estiver correta (5 cm), o comprimento da barra B deverá ser de 7,5 cm.

Se o comprimento da barra B estiver correto (6 cm), o comprimento da barra A deverá ser de 4 cm.

uma pergunta muito interessante aqui seria: Qual foi o candidato que mandou elaborar o “distorcido” gráfico?

Apenas como exercício, procure argumentar sobre a veracidade das duas observações mencionadas nos gráficos acima. Vejamos mais um exemplo em que a informação precisa ser devidamente compreendida. Ao analisar dados presentes em informações, há um cuidado muito grande sobre tendências que são indicadas, ou

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Pará 29% (62 km2)

Acre 8% (17 km2)

Roraima 3% (7 km2)

45%

B

Mato Grosso 14% (31 km2)

Amapá 1% (2 km2)

Candidatos A

Amazonas 22% (47 km2)

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Rondônia 23% (50 km2)

Agora, se considerarmos o desmatamento desses dois estados em relação aos seus territórios, teremos possivelmente outra interpretação. Estado

Área total (km²)

Área desmatada (km²)

Pará

1 247 689,515

62

Rondônia

237 576,167

50

Utilizando uma aproximação para as superfícies desses dois estados, sabemos que 62 quilômetros quadrados em 1 248 000 quilômetros quadrados representam menos que 50 quilômetros quadrados em 238 000 quilômetros quadrados. Assim, o desmatamento em Rondônia foi, proporcionalmente ao seu território, maior que o ocorrido no estado do Pará. Outra análise poderia também ser feita, não do território de cada um desses estados, mas observando as áreas de desmatamentos quando comparadas às áreas existentes de matas.


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ANALISANDO QUESTÕES

A 01.

gora convidamos você a observar e analisar algumas questões que já fizeram parte do Exame Nacional do Ensino Médio. São questões que não exigem alto grau de conhecimento em sua resolução. Também não são trabalhosas. Podemos destacar a diversidade de contextos utilizados, além das possibilidades diferentes de resolução. Isso acaba, em nossa opinião, valorizando ainda mais o bom hábito de leitura, desejável em qualquer nível de escolarização. ENEM - Vinte anos depois da formatura, cinco colegas de turma decidem organização uma confraternização. Para marcar o dia e o local da confraternização, precisam comunicar-se por telefone. Cada um conhece o telefone de alguns colegas e desconhece o de outros. No quadro abaixo, o número 1 indica que o colega da linha correspondente conhece o telefone do colega da coluna correspondente; o número 0 indica que o colega da linha não conhece o telefone do colega da coluna. Exemplo: Beto sabe o telefone do Dino, que não conhece o telefone do Aldo.

Aldo Beto Carlos Dino Ênio

Aldo

Beto

Carlos

Dino

Ênio

1 0 1 0 1

1 1 0 0 1

0 0 1 0 1

1 1 1 1 1

0 0 0 1 1

O número mínimo de telefonemas que Aldo deve fazer para se comunicar com Carlos é: a) 1 b) 2 c) 3 d) 4 e) 5

HABILIDADE 24 Utilizar informações expressas em gráficos ou tabelas para fazer inferências. A resolução pode ser feita observando o seguinte: Ênio é o único que conhece os telefones de todos na tabela. Na tabela, 1 indica o conhecimento do número do telefone e zero (0) indica o não conhecimento. Aqui, não podemos deixar de comentar que, na resolução da questão, outra habilidade importante está presente: a construção de argumentos. Além disso, a habilidade 25,relacionada à resolução de problemas a partir de dados presentes em tabelas ou gráficos, também pode ser aqui indicada como presente. Importante também é a compreensão da informação essencial do enunciado que solicita o número “mínimo” de telefonemas. AMpLIANDo A QuESTÃo! Retorne ao enunciado e responda às seguintes questões: 1.

Qual o número mínimo de telefonemas que Beto precisa dar para se comunicar com Aldo?

2.

Beto, Carlos, Dino e Ênio precisam dar o mesmo número mínimo de telefonemas para se comunicarem com Aldo? Veja a solução no site.

02.

ENEM – A obsidiana é uma pedra de origem vulcânica que, em contato com a umidade do ar, fixa água em sua superfície, formando uma camada hidratada. A espessura da camada hidratada aumenta de acordo com o tempo de permanência no ar, propriedade que pode ser utilizada para medir sua idade. O gráfico ao lado mostra como varia a espessura da camada hidratada, em mícrons (1 mícron = 1 milésimo de milímetro) em função da idade da obsidiana. Com base no gráfico, pode-se concluir que a espessura da camada hidratada de uma obsidiana. a) é diretamente proporcional à sua idade. b) dobra a cada 10 000 anos. c) aumenta mais rapidamente quando a pedra é mais jovem. d) aumenta mais rapidamente quando a pedra é mais velha. e) a partir de 100 000 anos não aumenta mais.

HABILIDADE 26 Analisar informações expressas em gráficos ou tabela como recurso para a construção de argumentos. No gráfico, temos no eixo das ordenadas a espessura da camada hidratada, enquanto no eixo das abscissas, a idade correspondente da pedra. Pelo próprio enunciado e pela análise do gráfico, temos que a espessura da camada hidratada aumenta mais rapidamente quanto mais jovem for a pedra. Essa é a resposta correta (item c).

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Ciências da natureza e suas tecnologias BIOLOGIA

Prof. Ricardo Mello ricardo@revistaenem.com.br

Esgoto Doméstico e a Eutrofização das Águas

U

m grave problema ambiental associado à crescente urbanização é a eutrofização excessiva dos rios e lagos. Isto se deve ao fato de muitas cidades liberarem o esgoto doméstico diretamente em mananciais hídricos sem nenhum tratamento adequado. Fauna e flora sofrem diretamente o impacto desta ação descomprometida com a saúde ambiental Assim, para que possamos agir de forma ecorresponsável, é fundamental a compreensão dos elementos envolvidos no tratamento deste tipo de esgoto e as consequências ambientais associadas a esse fato.

Compostos biodegradáveis são amigos da natureza? Sim e não! É aqui que está o xis da questão! O fato de um composto ser biodegradável não implica dizer que ele não causa problemas ambientais. O excesso de compostos biodegradáveis sem tratamento nos rios leva a um fenômeno conhecido como eutrofização. A eutrofização se caracteriza pelo excesso de nutrientes minerais (sais minerais) em uma massa de água.

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Para melhor entender esta questão, vamos esquematizar os processos: a. Quando se lança esgoto doméstico em um rio sem as devidas condições de saneamento, a quantidade total de matéria orgânica do rio aumenta. b. À medida que aumenta a quantidade de matéria orgânica dissolvida na água, aumenta a quantidade de microorganismos aeróbios. c. Os micro-organismos aeróbios consomem boa parte do O2 dissolvido na água, o que reduz dramaticamente a concentração deste gás e influencia negativamente as demais populações de organismos que dependem do oxigênio para sobreviver. d. Com menos oxigênio dissolvido na água, peixes, moluscos e crustáceos


e. f.

g.

h.

i.

começam a morrer e entram em decomposição, o que, por sua vez, faz aumentar ainda mais a quantidade de micro-organismos na água. O nível de oxigênio fica muito baixo, favorecendo agora a proliferação de micro-organismos anaeróbios. A fermentação dos micro-organismos anaeróbios libera gases tóxicos e mal cheirosos bem como toxinas prejudiciais às demais formas de vida. A decomposição do material do esgoto e dos organismos mortos por asfixia libera grandes quantidades de sais minerais na água (eutrofização). Com mais sais minerais na água, aumenta muito a quantidade de vegetais aquáticos. A água fica esverdeada pelo excesso de algas na superfície, o que dificulta a passagem da luz para as camadas inferiores. Sem luz, os vegetais aquáticos das camadas inferiores morrem e param de fazer fotossíntese, o que, por sua vez, diminui ainda mais a quantidade de gás oxigênio disolvido na água, causando a morte daqueles organismos aeróbios mais resistentes.

TIpoS DE ESGoToS

1. Esgoto Doméstico - esgoto gerado nas residências. Contém restos de sabões e detergentes das lavagens, restos de comida, fezes e urina.

2.

Esgoto pluvial - formado a partir da água captada pelos bueiros.

3.

Esgoto Industrial - formado a partir dos resíduos produzidos pelas indústrias.

RESuMo Lançamento de esgoto biodegradável sem tratamento Microorganismos aeróbios oxigênio dissolvido peixes, moluscos, crustáceos Anaeróbios Toxinas e sais minerais população de algas Luz para camadas inferiores Algas de ca camadas inferiores

EuTRoFIZAçÃo = DECoMpoSIçÃo

TRANSFoRMAçÃo DA MATÉRIA oRGâNICA EM SAIS MINERAIS

MINERALIZAçÃo

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ANALISANDO QUESTÕES

01.

Com o objetivo de diminuir os impactos ambientais provocados pela liberação de resíduos de atividades humanas, foram feitas as seguintes propostas:

1. Permitir a liberação de esgotos nos rios somente se eles forem biodegradáveis, como o esgoto doméstico, por exemplo; 2. Estimular e financiar pequenos municípios a criarem aterros sanitários para depositarem o lixo; 3. Enterrar os materiais não-biodegradáveis a fim de evitar que contaminem os rios e lençóis freáticos;

02.

Pela análise das propostas, conclui-se que apresentarão eficiência na proteção ambiental a) b) c) d) e)

somente as propostas I, II e III somente as propostas I, II e IV somente as propostas I, III e IV somente as propostas II, e IV as propostas II, III e IV.

54,6 milhões vivem no país em moradia inadequada A população favelada no Brasil aumentou 42% nos últimos 15 anos e alcança quase 7 milhões de pessoas, segundo análise do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) com base na Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, do IBGE) de 2007.

pulação brasileiro ainda se vê obrigada a lançar seus dejetos diretamente nas vias fluviais e no mar.

Em 1992, havia 4,914 milhões de pessoas morando em favelas nas áreas urbanas (3,2% da população brasileira). Em 2007, esse número passou para 6,979 milhões (3,8% da população).

a) aumento das taxas de oxigenação na água prejudicando a microflora de organismos anaeróbios.

... Esgoto

Embora o saneamento básico tenha sido apontado como uma das prioridades do governo Lula, a falta de acesso a rede de esgoto ainda atinge mais de 40% da população urbana do país e é o principal desafio das políticas públicas na área, segundo análise feita pelo Ipea. Em 2007, subiu de 54,4% para 57,4% a parcela da população urbana com acesso a redes de esgoto. Foi o maior aumento nos últimos 15 anos, com mais 5,9 milhões de pessoas atendidas. (http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u458880. shtml ... 22/10/2008 - 09h25) Apesar de uma pequena melhora no número de pessoas com acesso às redes de esgoto, uma parcela enorme da po-

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4. Estimular as indústrias a instalarem equipamentos que diminuam o grau de toxicidade de seus efluentes líquidos.

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Nesse conflito entre moradias adequadas e ações governamentais que garantam os direitos básicos de nossa população, quem paga a conta é o ambiente, recebendo imensas doses de esgoto doméstico sem tratamento, e a principal consequência para esses ecossistemas é:

b) decomposição dos esgotos, o que colabora com a liberação de gases destruidores da camada de ozônio e permite uma maior entrada de radiação ultravioleta ionizante. c) redução do teor de sais minerais na água, causando sérios problemas para a nutrição das algas que dependem desses nutrientes para seu desenvolvimento. d) maior suprimento de matéria orgânica necessária ao metabolismo das algas, que aumentam em quantidade e dificultam a passagem de luz para as camadas mais baixas do rio. e) redução sistemática dos níveis de oxigênio dissolvido graças à proliferação excessiva de micro-organismos decompositores da matéria orgânica.


Soluções comentadas

01. d

Comentário: A proposta 1 não é eficiente, pois os esgotos biodegradáveis produzem impactos ambientais. O fato de um composto ser biodegradável não implica dizer que não cause impactos ambientais. A proposta 2 é eficiente porque a construção de aterros protege o ambiente de problemas associados à descarga direta de lixo em locais inadequados. Aproposta 3 não é eficiente. Caso o local de aterro do lixo não seja adequado, poderá haver contaminação do lençol freático. A proposta 4 é eficiente na medida em que uma boa legislação pode obrigar as empresas a implementarem estações de tratamento e utilizarem produtos menos tóxicos, o que, por sua vez, pode evitar uma série de problemas ambientais.

02. e

Comentário: a) (F) Os esgotos biodegradáveis estimulam a reprodução de micro-organismos aeróbios, implicando uma redução dos níveis de oxigênio dissolvido na água. b) (F) Os decompositores liberam CO2 e metano, gases ligados ao efeito estufa e não à destruição da camada de ozônio como, por exemplo, gases à base de CFC (cloro-flúor-carbono e óxidos de nitrogênio). c) (F) A decomposição da matéria orgânica dos esgotos domésticos resulta em aumento dos teores de sais minerais dissolvidos nos ambientes aquáticos. d) (F) As algas não absorvem a matéria orgânica. As algas absorvem água, sais minerais e CO2 do ambiente. A partir destas moléculas eles produzem a matéria orgânica necessária a seu metabolismo. e) (V) O esgoto fornece material para alimentar os micro-organismos aeróbios, que aumentam em número nos ambientes aquáticos. Com o aumento do número de micro-organismos aeróbios, ocorrerá uma redução da concentração de oxigênio dissolvido.

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Painel

[ ESTANTE ] O novo livro do físico brasileiro Marcelo Gleiser, Criação imperfeita, apresenta novas opiniões do autor sobre a ciência. Mantendo a mesma linguagem simples utilizada nas obras de sua autoria, Gleiser contesta a idéia de que a natureza é regida pela perfeição. Independente de ter ou não conhecimentos em Física, vale a pena investir na agradável leitura deste livro, apontado pela crítica especializada como um best-seller da área.

Você sabia que notas musicais podem ser diferenciadas pela sua freqüência de vibração? Em um violão, por exemplo, quanto apertamos a corda em determinada posição, alteramos o comprimento de vibração da corda. Quanto menor for o comprimento, maior será freqüência e, consequentemente, mais agudo é o som. É por isso que um cavaquinho tem o som mais agudo que o de um violão.

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Você sabe o que é amplitude térmica? É a diferença entre as temperaturas máxima e mínima, medidas durante um determinado período de tempo, em uma determinada região. Em locais em que há muita água, as amplitudes térmicas tendem a ser menores do que em locais com pouca água. Isso se explica pelo fato de esta substância ter um calor específico muito alto se comparado, por exemplo, com o da areia. Por isso, grandes represas artificiais podem alterar a amplitude térmica de uma microregião e... “mexer”com a natureza sempre traz impactos.


Você sabe o que é “bônus demográfico”? É o momento em que a população em idade produtiva é maior que a população de idosos e crianças, condição que favorece o crescimento econômico. Este é o momento vivido atualmente pelo Brasil. Quel tal ler e pesquisar sobre esse tema? Lembre-se: atualidades fazem parte da prova do ENEM. Por isso...

DoRMIR pARA ApRENDER? Pois é. Até agora se sabia que a finalidade do sono era “descansar” o corpo, tendo em vista as atividades diurnas. Acontece que, pelas recentes descobertas neurocientíficas sobre a aprendizagem humana, enquanto se dorme, o cérebro registra na sua superfície – córtex – as memórias que serão as de longo prazo e que até então estavam armazenadas em outra região - hipocampo – e que lá eram chamadas de curto ou mesmo de médio prazo. É como se o cérebro “passasse a limpo”, e utilizasse lápis nas anotações feitas durante o dia. Nas memórias de longo prazo, aquelas que foram “salvas” enquanto se dormia, estão os arquivos do conhecimento adquiridos em salas de aulas ou mesmo em outras situações e que serão evocados por ocasião, por exemplo, das provas do Enem. Então, é de se postular que a humanidade evoluiu porque o homem dormiu. Assim, quem aprende mais? Aquele que é “bom de cama”, ou seja, quem dorme bem, e à noite. Ivo Carraro é professor, psicólogo e coordenador de atendimento ao aluno do Curso Positivo – Batel - Curitiba - Paraná

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[ INSTITuCIoNAL ]

uma revista no site ou um site da revista? Vai ter vídeo e áudio? Que tal podcasts, Interatividade? Jogos e testes? E espaço para os alunos? um Blog é uma boa. Desde as primeiras conversas sobre a criação da Revista Enem, um assunto recorrente nas reuniões da equipe sempre foi o conteúdo on-line. Considerado fundamental por todos os colaboradores da revista, o site revistaenem.com.br é a ferramenta que nos permitirá o compartilhamento de informações e conhecimento. A navegação do site é simples, por meio de abas nas quais você clica para selecionar o que deseja, e já na home page você encontra tudo de que precisa para a navegação se tornar rápida e objetiva. Além de todo o conteúdo disponível na revista, o site revistaenem.com.br permite que os leitores, por meio de um cadastro simplificado (nome e e-mail), acessem diversos tipos de mídia que complementam ou exemplificam trechos da matéria. Por exemplo: o leitor da revista conclui o estudo de uma matéria, lê as soluções dos testes, comentadas pelos autores, e quando houver um ícone ele saberá que pode encontrar no site um vídeo com conteúdo extra ou um podcast e mais alguns testes para avaliar se compreendeu o assunto. Em seguida, pode publicar um comentário sobre o material e indicar para um amigo um conteúdo interativo. Uma vez cadastrado, o leitor poderá personalizar um campo com áreas de interesse selecionando os assuntos de sua preferência; dessa forma, toda vez que houver um novo conteúdo disponível, ele será automaticamente relacionado à sua área pessoal. É um verdadeiro universo digital que promove a integração entre as diversas formas de propagar conhecimento. Tudo isso gera uma infinidade de possibilidades ao leitor para o aprofundamento dos conteúdos da revista. Acesse o site revistaenem.com.br e perceba como é fácil aprender quando o conhecimento está a um clic de você. DISCIPLINAS: aqui você encontra as matérias com conteúdo igual ao da revista ANALISANDO AS QUESTÕES: nesta aba estão as questões que não foram para a revista. Aqui você poderá ver as gravações em vídeo e áudio feitas pelos próprios professores. EM DESTAQUE: aqui tem matérias especiais, assuntos extras que merecem destaque dentro do universo do ENEM. BIBLIOTECA: Clicando aqui você poderá navegar pelas mídias do site: vídeos, áudios, animações, imagens, textos e muito mais a seu dispor. TESTES: são testes elaborados pelos professores; você poderá avaliar seu conhecimento em relação aos conteúdos disponíveis tanto na revista impressa quanto do próprio site. QUIZZ: interativos e dinâmicos, aqui você pratica o que aprendeu. DESAFIO: um desafio a cada semana! O tema é aleatório e o conhecimento necessário é específico. GUIAS: os mais importantes guias de profissões, universidades e vestibulares. NOTÍCIAS: notícias sobre o universo ENEM. ENTREVISTAS: entrevistas em multimídia ou texto. CADASTRO.

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Linguagens, Códigos e suas Tecnologias REDAÇÃO

Prof. Yeso osawa Ribeiro yeso@revistaenem.com.br

Redação V

ocê sabe: a prova de Redação sempre representa um dos momentos cruciais do aluno em qualquer exame de que ele participe; afinal, ali é cobrada a expressão da competência escrita do candidato aliada à sua percepção sobre os principais debates que circulam no meio em que vivemos. Quer dizer: é preciso unir – de modo claro e coerente – a expressão formal com um bom nível de conteúdo, de maneira que o leitor possa entender objetiva e fluentemente o que se pretende com o texto produzido. No ENEM, sem dúvida todo esse caráter se reveste ainda de maior importância. Desde 1998, ano em que foi realizado o primeiro ENEM, a prova de Redação apresenta um perfil mais ou menos constante quanto ao tipo de discussão proposta ao debate. Nesse sentido, alguns procedimentos e orientações acabam se repetindo na maioria dos temas ao longo dos anos, o que nos dá pistas sobre o espírito da prova. >> o modelo cobrado tem sido o da dissertação, exigindo-se uma argumentação sobre temas acerca de questões relevantes na / da sociedade brasileira; >> em termos formais, portanto, o texto produzido deve respeitar a chamada estrutura ortodoxa, o que significa que apresentará, no mínimo, três parágrafos; >> na maioria esmagadora dos casos, a proposta do ENEM toca um tema mais “objetivo”, “concreto”, justamente porque parte de uma discussão pontual; >> textos de apoio – uma breve coletânea – costumam servir de referência para que o aluno se situe no debate; >> mencioná-los, expandindo suas ideias ou negando-as, faz parte do jogo; >> costuma-se pedir que o texto seja propositivo, quer dizer, que o aluno encaminhe soluções ou atitudes que possam ser tomadas com relação ao tema enfocado; tudo isso deve ser sustentado por um discurso e uma argumentação que se pautem pelo respeito aos direitos humanos, preservando-se os valores da diversidade em seus mais amplos sentidos. Em outras palavras, que o seu enfoque seja orientado pelo espírito do politicamente correto, a partir do qual se organiza o modelo do exame do ENEM.

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Veja, agora, algumas das dúvidas mais comuns com relação a uma prova de redação que cobre a dissertação.

Como abordar temas mais abrangentes, gerais? E os temas mais específicos? Costuma-se tomar como ASSUNTO o elemento mais amplo, circulante no debate público, ponto de partida para as polêmicas. Por exemplo, COMPORTAMENTO, POLÍTICA, MEIOS DE COMUNICAÇÃO, LÍNGUA, entre tantos outros. O TEMA nasceria de uma segmentação dentro do assunto. Seria uma espécie de subconjunto, via de regra enfocando uma discussão mais datada, porque mais ou menos no calor do debate público. Se tomarmos temas gerais no seu sentido mais amplo, teríamos algo como VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER ou, por exemplo, a recorrente discussão sobre ÉTICA e CORRUPÇÃO, CIDADANIA, discussões caras ao ENEM. Diante de temas tão amplos, muitas vezes o aluno tende a divagar, porque não sabe exatamente o que segmentar dentro da discussão. Um ponto importante nesses tipos de temas, que aparentemente – mas só aparentemente! – não cobram uma tomada de posição, é que o candidato defina o ponto exato que queira abordar em seu texto, e a que ponto quer chegar. Ou, em outras palavras: o que ele quer defender. É comuníssimo que o aluno até tenha noção de que isso deva ser feito, mas aí aparecem as circularidades, a repetição de uma mesma ideia, quase


É preciso unir – de modo claro e coerente – a expressão formal com um bom nível de conteúdo, de maneira que o leitor possa entender objetiva e fluentemente o que se pretende com o texto produzido

sempre de tom panfletário, beirando o lugar-comum. Propostas assim são “desperdiçadas” pelos candidatos, que teriam um percurso possível e bem concreto se expusessem CASOS ESPECÍFICOS como exemplificação daquilo que é mais geral. Um ou outro exemplo sempre refletiria aquele conhecimento de mundo tão necessário à redação. Outra possibilidade é que se explicitem as causas e os efeitos existentes naquilo que se debate. Saber o porquê das coisas é uma maneira de argumentar sobre elas.

Como desenvolver temas objetivos? Temas ditos “objetivos” são aqueles que se baseiam em um contexto mais ligado ao cotidiano, à ordem do dia. Costumam ter relação estreita com algum fato ou polêmica de ampla repercussão. São temas que beneficiam muito um candidato atualizado nas discussões que o rodeiam, porque atento ao noticiário. Em uma situação dessas, conhecer o problema em questão e poder lançar mão de exemplos concretos sempre poderá fazer muita diferença, sem dúvida. A argumentação se valoriza neste caso. Não cair no lugar-comum de sempre citar o que é mais óbvio, ou evidente na discussão, mas procurar relacionar a ela exemplos correlatos, é uma estratégia possível. Temas que abordam, por exemplo, a chamada ‘lei seca’, a proibição de cigarros em ambientes fechados, a manutenção das cotas nas universidades públicas ou a união civil entre pessoas do mesmo sexo são casos dessas propostas mais objetivas.

E sobre temas subjetivos? Temas mais subjetivos, ditos “filosóficos” ou abstratos, tendem a trabalhar com discussões mais genéricas, amplas, que

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não se pautam por episódios específicos do nosso dia a dia, mas procuram investigar aspectos distintos que marcam a condição humana. Assim, uma questão como a da identidade numa sociedade tão massificada; o tempo como mediador de nossas vidas; o eterno embate entre essência e aparência são temas com essa feição mais abstrata. Obviamente, propostas subjetivas sempre assustam muito o candidato, pois a primeira impressão é a de que não se tem o que dizer. Mas essa é uma falsa impressão: um tema subjetivo sempre parte de um questionamento inerente à nossa vida, à nossa vivência em grupo. Portanto, em tese, todos teríamos algo a dizer sobre isso. Um caminho possível nesse tipo de discussão é justamente a análise do problema colocado: saber os porquês da existência do fenômeno em questão, as consequências de sua existência à sociedade, exemplos que ilustrem tal situação. Propostas subjetivas permitem muito mais esse tipo de abordagem, de modo que o aluno – pensando nas relações de causa e consequência do problema – passa a notar que há, sim, o que dizer sobre tais temas.

Como abordar temas da atualidade? Estes são os temas que propiciarão maior margem de manobra àqueles que estão sempre atualizados. A tendência é sempre valorizar mais o fato que traduz o “calor da hora”, portanto, os exemplos mais recentes e óbvios. Eles até podem ser usados, mas podem também vir acompanhados de casos correlatos que fujam ao que é muito evidente. Saber comparar e correlacionar é uma das virtudes da argumentação. Assim, numa discussão sobre o avanço do Brasil como protagonista no cenário das relações internacionais, muitos gostariam de citar sua inclusão nos BRIC, ou a frase de Obama sobre Lula. Esses são exemplos mais óbvios, conhecidos da maioria das pessoas. Neste caso, daria, por exemplo, para tentar a abordagem por aquilo que parece, à primeira vista, contrário a esta ideia: quando o Brasil tentou intervir na situação golpista de Honduras, teve um papel de protagonista; quando endurece as relações comerciais com os EUA, também mostra essa outra face de nossa condição atual no cenário internacional. Uma “química” interessante aqui é saber relacionar o que seja mais óbvio, como ponto de partida, com aquilo que vai ter um efeito muito mais expressivo. Obviamente, este segundo item depende do conhecimento de mundo de cada um, de seu repertório.

Quais os cuidados para não fugir do tema proposto? O primeiro ponto é saber reconhecer claramente o tipo de texto pedido. É uma dissertação, uma carta argumentativa, um resumo, uma chamada de primeira página?No caso do ENEM,

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sabemos que se trata de uma dissertação em prosa, um texto argumentativo em que você irá expor a sua opinião diante de um tema, defendendo-a. Num segundo momento, não confundir o foco da proposta. O ENEM já pediu que se discutisse a participação cidadã dos jovens em nosso meio social. Muitos alunos discutiram cidadania e a necessidade de sermos cada vez mais ativos como cidadãos, mas se esqueceram de que o tema e a coletânea se referiam à participação dos jovens no processo de construção de nossa cidadania. Quer dizer, houve muito tangenciamento em relação ao tema, pois não se enfocava exatamente o pedido, mas algo mais amplo do que ele.


Se o tema vier sob a forma de pergunta, o texto deve ser uma resposta a ela. Quando o corretor finalizar a leitura, terá de ter clara a resposta do candidato à pergunta formulada. Se houver opções à escolha, que se tome uma como referência – a que vai ser defendida -, mas que não se esqueça das outras. Uma breve menção ao que foi preterido pode ajudar a dar maior consistência ao enfoque.

Diante de temas mais “polêmicos”, quais os cuidados para não radicalizar demais? Defender uma posição, qualquer que seja, não significa desfraldar uma bandeira ou imaginar um panfleto como meio de convencimento. A persuasão se faz muito mais expressiva quando “serena”, porque objetiva e concreta, sólida. “Discursos” que possam parecer fundamentados em críticas pertinentes quase sempre caem num lugarcomum indesejado. Basta perguntar numa sala de aula qualquer e se notará que praticamente todos os alunos, quando questionados, assumem que já finalizaram uma redação pedindo “uma conscientização urgente por parte das autoridades ou pessoas sobre a situação vivida atualmente, etc,etc,etc...” É um chavão próprio para temas polêmicos. Evite-o, portanto.

Como abordar, então, temas polêmicos? Não há fórmulas específicas para os diferentes tipos de textos e propostas, porque todo bom texto reflete a competência escrita e visão de mundo de quem redige. Fechando toda esta discussão, novamente pode ser citada a importância do conhecimento de mundo, da nossa constante curiosidade sobre o que nos cerca, como fator de amadurecimento diante das tarefas e dos temas postos à nossa frente. Quem lê mais e melhor, quem está atento ao mundo, sabe perceber naturalmente a essência de certas polêmicas, inclusive aquilo que elas permitem em termos de abordagem, sem radicalismos, sem simplismos, mas com uma simplicidade objetiva que nos garanta um enfoque claro a qualquer que seja o tema. Um tema polêmico pode sugerir, à primeira vista, apenas duas posições possíveis – o sim ou o não; o a favor ou o contra. Não precisa ser assim, pois toda discussão é recheada de diversos matizes de enfoque. Saber reconhecer os limites daquilo que defendemos e daquilo de que discordamos é um caminho mais seguro, mais maduro, para que sustentemos nossa posição diante das mais variadas polêmicas. Repito: essa maturidade de enfoque que leva em conta, por exemplo, as ressalvas diante de nossas teses, é um poderoso fator diferencial. Exemplificando: ao defender o fim do voto obrigatório, eu posso fazer a ressalva – uma

espécie de reconhecimento contrário à minha tese – de que após a ditadura militar o voto direto foi uma conquista dos brasileiros, e isso é verdade, mas não mais forte do que o fato de que as pessoas devem ser livres para poderem escolher se querem ou não votar. Em suma, toda discussão permite os “prós” e “contras”. Assumida uma posição, nada me impede – sem cair em contradição, porque é um mero reconhecimento – que eu enfoque brevemente algo contrário a ela, como forma da expressão maior da minha visão de mundo. Esse é o argumento de ressalva.

observe, logo abaixo, os temas do ENEM, desde 1998. 1998 “Viver e Aprender” 1999 “Cidadania e participação social” 2000 “Os direitos da criança e do adolescente” 2001 “Desenvolvimento e preservação ambiental” 2002 “O direito de votar: como fazer dessa conquista um meio para promover as transformações sociais de que o Brasil necessita?” 2003 “A violência na sociedade brasileira: como mudar as regras desse jogo?” 2004 “Como garantir a liberdade de informação e evitar abusos nos meios de comunicação?” 2005 “O trabalho infantil” 2006 “O poder de transformação da leitura” 2007 “Diversidade cultural” - o desafio de se conviver com as diferenças. 2008 “Preservação da floresta Amazônica” – o candidato deveria escolher uma entre três possibilidades de ação propostas. 2009 (prova anulada) “A valorização do idoso” 2009 “O indivíduo frente à ética nacional” 2010 “O trabalho na construção da dignidade humana”

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Profs. Floriano Guerios e Rosaly de O. Barros

Linguagens, Códigos e suas Tecnologias INGLÊS

floriano@revistaenem.com.br rosaly@revistaenem.com.br

O que esperar da prova de língua inglesa em 2011

A

creditamos que a prova de língua inglesa do Enem/2011 valorizará a capacidade do aluno de reconhecer informações através da compreensão, interpretação e do conhecimento lexical de artigos, tabelas, gráficos, propagandas, cartuns, charges, tirinhas. No aspecto gramatical, o aluno deve dominar assuntos como Modals, Indefinite and Relative Pronouns, Verb Tenses, If-Clauses, Quantifiers, Possessive Case, Links, Passive Voice, degrees of adjectives, Reported Speech e Phrasal verbs. A resposta para uma pergunta pode – eventualmente - estar na própria questão. É aconselhável que o aluno procure se informar sobre temas da atualidade e de assuntos como economia, trabalho, saúde, ecologia e preservação do meio ambiente, as crises mundiais e transformações da humanidade registradas pela História. Por isso, é importante que o aluno se mantenha atualizado com a ajuda dos principais veículos de comunicação para saber o que acontece ao seu redor. Veja um modelo:

Organ donation: the gift of life Today more than 9,000 people in the UK need an organ transplant that could save or dramatically improve their life. Most are waiting for a kidney, others for a heart, lung or liver transplant. But less than 3,000 transplants are carried out each year. Desperate need for more donors Last year more than 400 people died while waiting for a transplant. One ��������������� in ten people waiting for a heart transplant will die and many others will lose their lives before they even get on to the waiting list.

Analisando Questões 01 According to the text, which alternative is not correct? a) There are fewer organ donors than people waiting for organ transplants. b) There are more than 9,000 Americans waiting for a kidney transplant. c ) Fewer than three thousand transplants are performed in The United Kingdom annually. d) There are a lot of peoplewaiting for a kidney transplant. e) About ten percent of people waiting for a heart transplant will lose their lives before they even get on to the waiting list. 02 The word “need” in: “Today more than 9,000 people in the UK need an organ transplant that could save or dramatically improve their life”, indicates: a) prohibition b) advice c) necessity d) obligation e) capacity

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Soluções comentadas

01. b

Comentário: A única alternativa incorreta é a alternativa b, porque o texto não diz que há mais de 9.000 “americanos” e que esperam exclusivamente por um transplante de rim, e sim por outros transplantes, como o de coração, pulmão e fígado. Todas as informações das outras alternativas encontram-se no texto: a) There are fewer organ donors than people waiting for organ transplants. (Há menos doadores de órgãos que pessoas que esperam por transplantes). c) Fewer than three thousand transplants are performed in The United Kingdom annually.(Menos que 3.000 transplantes são realizados no Reino Unido). d) There are a lot of people waiting for a kidney transplant. (Há muitas pessoas esperando por um transplante de rim). e) About ten percent of people waiting for a heart transplant will lose their lives before they even get on to the waiting list. (Cerca de 10 % de pessoas que esperam por um transplante de coração perderão suas vidas antes que elas até mesmo entrem na lista de espera).

02. c

Comentário: A palavra need na sentença: “Today more than 9,000 people in the UK need an organ transplant that could save or dramatically improve their life”, indica necessity (necessidade). Alternativa C. (Hoje em dia mais que 9.000 pessoas no Reino Unido precisam de transplante de órgãos que poderia salvar ou melhorar drasticamente a sua vida). As demais alternativas indicam: a) proibição; b) conselho; d) obrigação; e) capacidade.


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Ciências Humanas e suas Tecnologias HISTÓRIA

Prof. Daniel H. de Medeiros daniel@revistaenem.com.br

A construção da identidade nacional

O

ENEM propõe, na matriz de referência de Ciências Humanas e suas Tecnologias, 6 competências e 30 habilidades. A primeira competência diz assim:

Competência de área 1 - Compreender os elementos culturais que constituem as identidades. Dela depreendem-se 5 habilidades, a saber: H1 - Interpretar historicamente e/ou geograficamente fontes documentais acerca de aspectos da cultura. H2 - Analisar a produção da memória pelas sociedades humanas. H3 - Associar as manifestações culturais do presente aos seus processos históricos. H4 - Comparar pontos de vista expressos em diferentes fontes sobre determinado aspecto da cultura. H5 - Identificar as manifestações ou representações da diversidade do patrimônio cultural e artístico em diferentes sociedades. A pergunta é: como desenvolver essa competência e estas habilidades com os conteúdos de que dispomos em manuais didáticos e fontes de consulta? Vamos explorar juntos, a partir de agora, uma dessas “construções” históricas da identidade dos brasileiros. Trata-se da visão romântica que se consolida na primeira metade do século XIX e remete a visões históricas e filosóficas dos séculos XVI, XVII e XVIII. Você verá que estas “construções” têm uma importância muito grande na percepção que temos de nós mesmos como povo e nação, o que demonstra a importância de sermos capazes de interpretar, analisar, comparar e identificar com clareza essas teorias, e assim, assumirmos uma posição crítica quanto às formas como o tema se apresenta a nós nos dias de hoje. Então vamos lá! Em 1840, o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro premiou o alemão Carl Friedrich Von Martius pelo seu trabalho Como se deve escrever a história do Brasil, vencedor do concurso sobre o mais apropriado “programa” de História. Publicado em 1845, o trabalho de Von Martius inspirou Francisco Adolfo Varnhagen e o seu História Geral do Brasil, de 1854, considerado uma “fonte” básica e fundamental para o estudo da história de nosso país. Martius advogou a tese de que o Brasil foi povoado por uma “mescla” de raças, cabendo, porém, ao elemento branco o papel dirigente. A nação seria o resultado da

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composição racial e cultural dos elementos branco, negro e índio, sendo os dois últimos a reboque do direcionamento do primeiro, único capaz de garantir o “progresso” ao país, ou seja, sua construção como espelho do modelo europeu. Assim, a tese do pensador premiado pelo Instituto Histórico Geográfico permitiria construir a origem da identidade nacional e, ao mesmo tempo, absorver seus aspectos singulares, tropicais, sem perder de vista o ambicioso desejo da elite letrada e economicamente hegemônica brasileira: traduzir-se a si mesma como branca e europeia, ou seja, civilizada. ORIGENS No entanto, a trajetória dessa concepção de identidade nacional remonta ao começo da relação entre o território do Brasil e os europeus. É preciso lembrar que o início do século XVI é marcado por profundas mudanças na sociedade europeia em geral. A imprensa, inventada na segunda metade do século XV, divulgava as notícias e as novas ideias com uma velocidade impressionante. O comércio e a expansão marítima alteravam o universo estático e hierarquizado do mundo feudal. A burguesia tomava o lucro cada vez mais como um fim, e a Igreja, ao mesmo tempo em que proibia a usura, vendia a salvação nos céu por preços exorbitantes! Consta que o papa Leão X ( que foi papa de 1513 até 1521), ao ser eleito, teria dito: O Senhor deu-nos o papado, agora gozemo-lo.


Escritores e filósofos refletiram estes tempos, buscando um contraponto que pudessem apresentar como alternativa aos exemplos de ganância, exploração e devassidão moral que pululavam por boa parte da Europa. Para estes pensadores, a visão da Europa não era exatamente a visão do paraíso, e a suntuosidade das construções e o espanto das conquistas não conseguiam apagar os horrores das guerras, da ganância e da miséria que se via em todo lugar. É em meio a este alarido que as notícias da América começaram a se tornar populares. Os relatos de Américo Vespúcio, o diário de Colombo, Jean de Léry, Hans Staden e tantos outros, além do envio de vários nativos para a Europa encheram a mente de muitos europeus, que passaram a produzir um mundo tropical no qual os males que eles presenciavam não existiriam.

Leia o que nos conta a este respeito o escritor uruguaio Eduardo Galeano: As aventuras do Novo Mundo fazem ferver as tabernas deste porto flamengo ( Amberes,1519).Uma noite de verão, frente ao cais, Thomas Morus conhece ou inventa Rafael Hithloday, marinheiro de uma das naves de Américo Vespúcio, que diz que descobriu a Ilha da Utopia em alguma costa da América. Conta o navegante que em Utopia não existe o dinheiro nem a propriedade privada. Ali se fomenta o desprezo pelo ouro e pelo consumo supérfluo e ninguém se veste com ostentação.(..)Não existe egoísmo, que é filho do temor;nem se conhece a fome;(...)Divide-se o trabalho e o descanso; divide-se a mesa(...) Os jardins e as hortas ocupam o maior espaço e em todas as partes soa a música.

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“Não têm limites de reinos e de províncias; não têm Rei; não obedecem a ninguém, cada um é senhor de si; nem favor, nem graça, a qual não lhes é necessária, porque não reina ente eles a cobiça”

O inglês Thomas Morus (1478-1535) escreveu o seu livro “Utopia” fortemente influenciado pelos relatos das novas terras e, principalmente, dos seus moradores. Religioso, a imagem do paraíso certamente associou-se aos relatos , em contraposição à sua Inglaterra, com seus conflitos políticos e religiosos. Agora observe o que o próprio Américo Vespúcio relatou em uma carta de 1502 sobre os homens que viu no litoral do Brasil: São corpos bem dispostos e proporcionados, de cor branca, de cabelos pretos e de pouca barba ou de nenhuma (Não têm lei, nem fé nenhuma, e vivem segundo a natureza. Não conhecem a imortalidade da Alma, não têm entre eles bens próprios, porque tudo é comum; não têm limites de reinos e de províncias; não têm Rei; não obedecem a ninguém, cada um é senhor de si; nem favor, nem graça, a qual não lhes é necessária, porque não reina ente eles a cobiça. Thomas Morus foi executado em 1535, por divergências com o rei da Inglaterra. Nesse mesmo período já se contava na casa dos milhões os nativos dizimados pela “conquista” europeia. Mas a ideia de Utopia permaneceu e tornou-se palavra ainda hoje usada como sinônimo de sonho impossível e lugar perfeito. A festa em Rouen: Em 1562, as tropas do menino rei da França, Carlos IX (1550-1574), invadem a cidade de Rouen, então nas mãos dos protestantes. O próprio rei vai até a cidade e festejos lhe são preparados. Entre os “atrativos” da cerimônia para o monarca estava um grupo de nativos do Brasil, enviados pelos franceses liderados por Nicolau Villegaignon. O rei então conversa – por meio de intérpretes – com três deles e pergunta-lhes o que eles consideram mais admirável na cidade europeia: Disseram, antes de tudo, que lhes parecia estranho tão grande número de homens de alta estatura e barba na cara, robustos e armados e que se sujeitavam em obedecer a uma criança e que fora mais natural se escolhessem um deles para o comando. Em segundo lugar, observaram que há gente bem alimentada enquanto há muitos emagrecidos, esfaimados e miseráveis, mendigando às portas dos outros. E achavam extraordinário que esses homens suportassem tanta injustiça sem se revoltarem e incendiarem as casas dos demais. Quem descreve esse encontro é o pensador Michel de Montaigne (1533-1592), que esteve presente na festiva cerimônia para o rei Carlos IX e que já havia lido diversos textos de visitantes franceses às terras americanas. Quando comparamos seus textos com os de Jean de Léry (missionário francês que visitou a “França Antártica”, na Guanabara, e deixou um relato sobre sua estada por aqui), por exemplo, descobrimos neste último várias passagens descritas por Montaigne. Na descrição (ou invenção!) que fez da fala dos índios de Rouen, Montaigne tece uma crítica ao poder monárquico e, ao mesmo tempo, à condição social da França. Os nativos são usados como um pano de fundo, estereotipados, para servir à reflexão do autor. No entanto, uma leitura sem uma crítica histórica da obra – como foi feito amiúde – delega, por herança, uma visão dos nativos que até hoje é lida como “verdadeira”. Em 1592, mesmo ano em que o escritor inglês Shakespeare publica Ricardo III, Montaigne morre vitimado por um tumor na garganta. Hoje, suas obras, bem como as de Shakespeare – que eram encenadas para a população pobre de Londres,

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que enchia o teatro Globe, na margem sul do Tâmisa – são símbolos de apuro intelectual. Rousseau e o bom selvagem Em 1712, nascia em Genebra Jean Jacques Rousseau. Filho de um relojoeiro, dividiu com 14 irmãos os parcos ganhos do pai. Vivendo em uma sociedade em ebulição, de comércio ativo e em plena transformação das máquinas, Rousseau vai inspirarse igualmente nos nativos americanos para tecer umas das mais interessantes críticas à sociedade europeia de sua época. No seu Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens, o pensador afirma que a transformação do “homem da natureza” em “homem social” provoca uma degeneração do seu caráter, e que a introdução da propriedade, que divide os homens, condena- os também à miséria e à exploração. Isto é: O homem é bom, a sociedade é que o corrompe! Rousseau figurou entre os pensadores chamados de “iluministas”, cujas ideias foram consideradas fundamentais como interpretação e, ao mesmo tempo, inspiração das Revoluções Burguesas, que inauguraram um novo período para a “civilização ocidental”. E serviram também de inspiração para que a nossa letrada elite forjasse um conceito sobre a nossa própria identidade: a identidade romântica. O índio dos românticos: “belo e forte como um europeu...” Em 1836, morando na França, “berço da cultura e da civilização europeia”, Gonçalves de Magalhães funda a revista Niterói, considerada o marco do romantismo brasileiro. No primeiro dos dois únicos números da revista – que circulou em Paris! –, Gonçalves publicou o artigo Ensaio sobre a História da Literatura Brasileira, no qual afirma que “papel” o Brasil deveria desempenhar, “civilizando-se”:


Não, oh! Brasil! No meio do geral merecimento tu não deves ficar imóvel e tranquilo, como o colono sem ambição e sem esperança. O germe da civilização, depositado em teu seio pela Europa, não tendo dado ainda todos os frutos que deveria dar, vícios radicais têm tolhido o seu desenvolvimento. Tu afastaste do teu colo a mão estranha que te sufocava (referindo-se à Independência); respira livremente, respira e cultiva as ciências, as artes, as letras, as indústrias, e combate tudo o que entrevá-las pode. Buscando uma identidade nacional que singularizasse a “civilização” brasileira, a exaltação do índio desenvolveu-se como um aspecto marcante em muitos autores românticos. O romantismo “construiu” uma ideia de pátria fundada pela força e pureza do índio. Em I –Juca-Pirama, de Gonçalves Dias, outro importante nome dessa corrente, esta “criação” é mostrada de forma bem evidente: Meu canto de morte, Guerreiros, ouvi: Sou filho das selvas, Nas selvas cresci; Guerreiros, descendo Da tribo tupi.

Jean Jacques Rousseau

No entanto, o índio romântico não era porta-voz de uma cultura original, leitora das contradições e dos conflitos sociais do Brasil do século XIX. Pelo contrário, ao invés de “rebelde”, era dotado de “valores” europeus. Construção ficcional, não continha elementos da realidade, não rememorava o massacre dos colonizadores, não expunha a vergonha da escravidão, a destruição da sua cultura rica e diversificada. O índio dos românticos era o antepassado do membro da elite branca brasileira. Sem passado de glória próprio, escreveram os autores românticos histórias nas quais o elemento fundador da natividade espelhava os valores do colonizador para poder dotar de “dignidade” o seu presente, como o das mais altas linhagens da Europa.

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“Sem passado de glória próprio, escreveram os autores românticos histórias nas quais o elemento fundador da natividade espelhava os valores do colonizador, para poder dotar de “dignidade” o seu presente, como o das mais altas linhagens da Europa”

Dentre os autores deste período, quem melhor personificou esta fusão entre o nativo e o europeu foi José de Alencar, ao afirmar que entre o nativo e o europeu colonizador havia uma espécie de casamento, de troca de favores: enquanto o índio oferecia a natureza virgem, o solo esplêndido, os europeus ofereceriam a cultura. Da soma destes fatores resultaria o Brasil independente. FECHANDo A REFLEXÃo: E aqui voltamos ao ponto de partida: em 1840, o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro premiou o alemão Von Martius pelo seu trabalho “Como se deve escrever a história do Brasil”. (...) Martius advogou a tese de que o Brasil foi povoado por uma “mescla de raças”, cabendo porém, ao elemento branco, o papel dirigente, de “civilizador”. Com tais palavras começamos esta matéria, para mostrar um aspecto de como foi construída a identidade nacional que muitos , ainda hoje, perseveram em afirmar “correta”. Como propõe o Enem, é necessário desenvolvermos a competência crítica de desconstruir estes conceitos para compreender os elementos culturais que o constituem. Para sermos capazes de formular, por exemplo, a crítica que Oswald de Andrade fez ao romantismo, ao afirmar que ele mostra (...) o índio vestido de senador do Império. Ou figurando nas óperas de Alencar cheio de bons sentimentos portugueses... Não podemos deixar de considerar que, mesmo quando afirmamos que temos “opiniões próprias” sobre as coisas, valemo-nos de referências para compormos

estas nossas opiniões. Os autores que foram trabalhados neste texto – Thomas Morus, Montaigne, Rousseau, José de Alencar e Oswald de Andrade – figuram, certamente, em qualquer lista da Filosofia e da Literatura Ocidental. Mesmo que você nunca os tenha lido, seus trabalhos estão por aí, diluídos em milhares e milhares de textos (como este, por exemplo!) ou como ideias, ou pensamentos, frases ou meras palavras que usamos no cotidiano, mesmo sem saber. O que este texto propõe , assim como as matrizes de referência do ENEM, é que você, através desse revisitar histórico, perceba que certas construções – como a da nossa identidade de “brasileiros” – são marcadas por intenções, ou inclinações, ou, explicitamente, mascaramentos. E que conhecer, como seguramente desejamos todos, passa por aprender a se valer de certos filtros, como o da reflexão histórica crítica.

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ANALISANDO QUESTÕES

01.

No clássico livro da historiografia brasileira A Cultura Brasileira, de Fernando de Azevedo (primeira edição de 1945), o primeiro capítulo trata do País e da Raça. Depois de traçar longamente o perfil do território brasileiro, o autor inicia suas considerações sobre a raça: Foi nesse cenário imenso e perturbador, de um país de clima quente, “de vida aparentemente fácil”, mas na realidade de condições físicas adversas, que se exerceu o

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esforço colonizador dos portugueses de que proveio, com seus primeiros colonos, a semente, e com que se constituiu o núcleo fundamental do povo brasileiro (...) as três raças – branca, vermelha e negra – misturaram-se sobretudo nos primeiros séculos, em grande escala, dando lugar a uma notável variedade de tipos (...) Dessas três raças, porém, que desde a origem confluíram na formação das populações do Brasil, em proporções desiguais e variáveis com as diversas regiões do país, a dos conquistadores brancos tornou- se o elemento fundamental, embora tivesse constituído parcela menor.


As conclusões do autor derivam, em boa parte: I. Das construções “científicas” que marcaram a segunda metade do século XIX e que buscavam explicar a superioridade da raça branca frente às demais; II. Da visão construída pelos brancos, pela qual o seu papel hegemônico se situa já na fundação da sociedade brasileira, legitimando assim sua condição atual; III. Na maioria consensual das teorias sobre a constituição

02.

Observe esta passagem de O Guarani, de José de Alencar:

Se tu fosses cristão, Peri! O índio voltou-se extremamente admirado daquelas palavras. – Por quê?...Perguntou ele. – Por quê?... Disse lentamente o fidalgo. Porque se tu fosses cristão, eu te confiaria a salvação de minha Cecília (...) O rosto do selvagem iluminou-se;seu peito arquejou-se de felicidade, seus lábios trêmulos mal podiam articular o turbilhão de palavras que lhe vinham do íntimo da alma. – Peri quer ser cristão! Exclamou ele! Analisando o texto, podemos afirmar que o escritor atribuiu as seguintes características aos seus personagens: I. O fidalgo se reconhece na coragem e na determinação de Peri, desejando ser como ele;

da sociedade brasileira que reconhecem a participação “menor” dos negros e índios; IV. O conceito de identidade é fixo e o autor apenas reproduz, no seu texto, esta conceituação. a) Se todas estiverem certas; b) Se apenas uma estiver certa c) Se nenhuma estiver certa d) Se apenas duas estiverem certas e) Se apenas três estiverem certas.

II. O fidalgo reconhece os valores de Peri, mas mesmo assim recusa seu apoio porque o índio é um gentio, um pagão; III. Peri é ciente de sua cultura e orgulhoso de seus valores, por isso recusa a oferta do fidalgo em transformá-lo. IV. Peri sonha com o mundo dos brancos e a mão da linda Cecília e, para isso, não hesita em abrir mão de sua cultura; V. Peri é um “branco em forma de índio”, um retrato romântico que José de Alencar faz dos nativos brasileiros. a) Apenas a I, II, III e IV estão corretas; b) Apenas a I, II, IV e V estão corretas; c) Apenas a II, IV e V estão corretas; d) Todas estão corretas; e) Apenas a II, III e V estão corretas

Soluções comentadas

01. e

Comentário: A leitura do texto demonstra que as afirmações do autor derivam de uma convicção resultante das idéias e teorias vigentes na sua época e que, assim como as idéias românticas da primeira metade do século XIX ou as que fundamentaram a obra de Von Martius, estabeleciam uma diferença de qualidade entre as “raças” branca, vermelha e negra. Assim, o pensador branco, escorado nessas idéias – na segunda metade do século XIX, o darwinismo social, por exemplo – estabelecia o seu papel no conjunto formador da identidade brasileira, sempre hegemônico. Po isso, a resposta certa é a letra e, visto que apenas o item IV é incorreto: não existe um conceito fixo de identidade. O que há é uma gama de concepções que atendem às visões e interesses dos grupos dirigentes da nossa sociedade. Construções que, pela repetição e pelo tempo, naturalizam- se, isto é, parecem tornar-se “naturais”, óbvias, à opinião geral.

02. c

Comentário: Na visão romântica de José de Alencar, o “valor” de Peri está na proximidade de seus gestos e ações às do fidalgo. Ele é bom porque cultiva os valores bons europeus. Mas, mesmo assim, falta-lhe “a alma” cristã. E ele, num arroubo, quer ser cristão também, quer a conversão total para ser inteiramente merecedor do apreço do fidalgo. Essa visão estereotipada caracterizou o romantismo e ainda hoje é a mais forte imagem que se tem do índio nas escolas brasileiras. Por isso a resposta certa é a letra c. O fidalgo NÃO deseja ser como Peri e Peri não deseja ser como de fato é, mas sim um fidalgo, “um filho de algo”, cristão e merecedor da mão de Ceci.

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Prof. Inez Gaias

Linguagens, Códigos e suas Tecnologias ESPANHOL

inez@revistaenem.com.br

Prova de Língua Espanhola no ENEM/2011

O

estudo de línguas estrangeiras é uma necessidade cada vez maior, seja para viajar, para atuar no mercado de trabalho, para conhecer novas pessoas ou para ingressar na tão sonhada universidade. Comprovando esta real tendência, a prova do ENEM também exige questões de língua estrangeira, podendo o candidato optar entre espanhol ou inglês. Acreditamos que a prova de espanhol do ENEM manterá a tendência dos grandes vestibulares, que é exigir do candidato a compreensão de textos originais, e esta interpretação pode ser tanto em espanhol quanto em português, o que chamaríamos de espanhol instrumental. Quanto à gramática, será aplicada ao texto; porém, é imprescindível o conhecimento das conjunções, das formas de tratamento formal e informal, dos pronomes pessoais, dos tempos verbais, por exemplo. Fundamental também é conhecer um amplo vocabulário, prestando muita atenção às divergências que existem entre espanhol e português, os falsos cognatos. Para obter êxito na prova de espanhol, sugirimos ler o texto mais de uma vez; se encontrar palavras desconhecidas, não interromper a leitura, mas ir até o fim; respeitar sempre as idéias do autor; localizar cada resposta no texto e ter muito cuidado com o enunciado de cada questão. Segue um modelo de questão para que você possa testar os conhecimentos. BUENA SUERTE.

LA DEUDA LATINOAMERICANA La deuda latinoamericana asciende a casi 300.000 millones de dólares. El Brasil no es un caso aislado. México estaba en crisis hace unos años y se ponía aBrasil como ejemplo de disciplina, ahoraMéxico está tranquilo, tras la inyección de 12.000 millones de dólares, y es el Brasil el que entra en crisis. Debería crearse un nuevo sentimiento de urgencia ante hechos de este tipo. Si Brasil, igual que México, cayese en el caos económico, el centro de atención de la política norteamericana se desplazaría indudablemente hacia el sur del continente americano. Cualquier enfoque realista del problema de la deuda exterior debe comenzar por el reconocimiento de que no se han solucionado todos los problemas subyacentes. Habrá que echar mano de un fondo internacional seguro, a la vez que será preciso asegurar el proceso de reforma en los países afectados. Pero todo ello es factible si existe voluntad política y decisión. Analisando Questões 01 De acuerdo con el texto, se puede afirmar que: a) tanto México como Brasil deben 300.000 millones de dólares. b) México siempre está en crisis. c) Brasil no es el único país deudor de Latinoamérica d) Brasil entró en el caos económico como todo el sur del continente americano e) Brasil quiere 12.000 millones de dólares

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02 La expresión “ ... largo rato...” se traduce por: a) minutos. b) Loucos minutos. c) Maus momentos. d) Um tempo qualquer. e) Um momento prolongado.

Soluções comentadas

01. c

Comentário: a) Falsa - porque o montante da dívida se refere a toda América Latina . b) Falsa – o texto afirma que México estava em crise. c) Verdadeira - Para responder a esta questão faz-se necessário recuperar a seguinte informação explícita no texto: “La deuda latinoamericana asciende a casi 300.000 millones de dólares. El Brasil no es un caso aislado.” A palavra “aislado” significa “isolado”; sendo assim, além do Brasil há outros países endividados, e um destes países é o México, que se encontra na América Latina. d) Falsa – o texto cogita a possibilidade, mas não afirma que Brasil está vivenciando um caos na economia. c) Falsa - o valor se refere ao montante injetado na economia mexicana.

02. e

Comentário: Nesta questão foi solicitado que se encontrasse o equivalente em português para a expressão “Largo rato”, que em espanhol é um falso cognato e significa, em português, “momento prolongado”


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Ciências Humanas e suas Tecnologias GEOGRAFIA

Prof. Alexandre Detzel alexandre@revistaenem.com.br

Biodiversidade e H N

este artigo vamos conhecer um pouco mais sobre a biodiversidade e os ambientes que ainda restam com grande variedade de vida na Terra. A variedade de micro-organismos e de espécies animais e vegetais – a biodiversidade – representa muito mais que mero aspecto paisagístico de uma região. Fruto da interação de fatores como clima, geologia/relevo e águas, a biodiversidade também representa um “patrimônio” econômico e cultural. Da biodiversidade retiramos matérias-primas e nela encontramos a origem de crenças e rituais. Presente e importante em todo o planeta, a biodiversidade é maior nas grandes florestas tropicais, onde são abundantes a luminosidade, o calor e a umidade. As florestas

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tropicais, caso da Amazônia e da Mata Atlântica, ocupam cerca de 7% da superfície da Terra, mas detêm 90% da variedade de vida. Com o avanço dos movimentos ambientais, a partir das décadas de 1960/70, a biodiversidade ganhou destaque nos estudos e políticas preservacionistas. Porém, foi na Rio-92 (ou ECO92) que ocorreu a intensificação das pre-


HoTSpoTS Do CoNTINENTE AMERICANo ocupações e das políticas ambientais voltadas à biodiversidade. Fruto da Rio92, foi aprovada a Convenção sobre a Diversidade Biológica, em que mais de 160 países se comprometeram com a preservação ambiental. Também na Convenção sobre a Diversidade Biológica destaca-se o Protocolo de Biossegurança (Protocolo de Cartagena), que prevê cuidados com as pesquisas nos ramos químicos e biológicos e permite aos países não importarem produtos geneticamente alterados. Curitiba abrigou, em 2006, uma rodada de negociações no âmbito da biodiversidade. Na capital paranaense, foi realizada a conferência da biodiversidade COP-8, em que estiveram reunidas, apresentando e discutindo problemas e soluções, as delegações de vários países, pesquisadores e acadêmicos. Também foi realizada a MOP-3, que representa a convenção dos países signatários do Protocolo de Cartagena, reunião em que os países trataram de acordos e medidas que serão adotadas no âmbito da conservações da biodiversidade. A importância da biodiversidade levou a oNu/uNESCo a considerar o ano de 2010 como “o Ano Internacional da Biodiversidade”. Com essa medida, a ONU procurou aumentar o conhecimento, a conscientização e o desenvolvimento de tecnologias acerca da necessidade da valorização e da preservação da biodiversidade.

Província Florística da Califórnia Bosques de Pino - Encino Mesoamérica Tumbes Chocó-Magdalena Andes Tropicais Floresta Chilena Valdiviana Ilhas do Caribe Cerrado Mata Atlântica

e Hotspots Além dos acordos internacionais para preservação da biodiversidade, devemos reconhecer a existência de zonas com maior concentração de biodiversidade e merecedoras de atenção especial – os chamados hotspots. Diante da necessidade de identificar as principais áreas com riquezas naturais que, ameaçadas pelas atividades humanas, devem ser preservadas, em 1988 o ecólogo inglês Norman Myers destacou 10 áreas denominadas hotspots. Myers considerou como hotspots áreas com pelo menos 1.500 espécies endêmicas de plantas e que tenham perdido mais de 3/4 de sua vegetação original. Mais tarde, liderado pelo primatólogo estadunidense Russell Mittermeier, um grupo de cientistas ampliou os hotspots para 34. Os

atuais hotspots ocupam cerca de 2,5% das terras emersas, com 50% das plantas e 42% de vertebrados já conhecidos. o Brasil abriga duas áreas consideradas hotspots: a Mata Atlântica e o Cerrado. Obviamente, outras áreas do Brasil, como a Floresta Amazônica e o Pantanal do MS, também são riquíssimas em biodiversidade, mas a Mata Atlântica e os Cerrados são enquadrados no conceito de hotspots em função do elevado índice de degradação e importância biológica. A Mata Atlântica cobria 15% do território brasileiro e agora, por conta do desmatamento iniciado com o ciclo do pau-brasil e acelerado pelos ciclos do

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café e da urbanização, tem menos de 7% do tamanho original. Além da ameaça à biodiversidade, a redução da Mata Atlântica põe em risco o abastecimento d´água e a estabilidade das encostas numa das áreas de maior concentração demográfica do país. O Cerrado já esteve presente em quase 25% do Brasil e hoje está reduzido à metade. O avanço das grandes lavouras e a obtenção de carvão vegetal figuram como os vilões da derrubada do cerrado. Neste hotspot, além da redução da biodiversidade, a localização do cerrado no centro do Brasil o relaciona às nascentes de diversas bacias hidrográficas, com destaque para a Amazônica, a do Tocantins e a do Paraguai. Por isso, o Cerrado é considerado a “caixa d’água do Brasil”. Para concluir, vamos ressaltar alguns fatos que destacam a biodiversidade como futuro tema para o ENEM: 1) foi realizada em Nagoya, no Japão, em 2011, mais uma rodada de negociações sobre a biodiversidade;

3) os incêndios foram grandiosos no cerrado;

2) os deslizamentos de terra foram dramáticos no espaço da Mata Atlântica – com destaque para as ocorrências do Rio de Janeiro;

4) as propostas de mudanças no Código Florestal Brasileiro alertam para o risco de mais degradação das matas ciliares e de encostas.

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ANALISANDO QUESTÕES

01.

(ENEM) “A biodiversidade diz respeito tanto a genes, espécies, ecossistemas, como a funções, e coloca problemas de gestão muito diferenciados. É carregada de normas de valor. Proteger a biodiversidade pode significar: – a eliminação da ação humana, como é a proposta da ecologia radical; – a proteção das populações cujos sistemas de produção e cultura repousam num dado ecossistema; – a defesa dos interesses comerciais de firmas que utilizam a biodiversidade como matéria-prima, para produzir mercadorias.”

(Adaptado de GARAY, I. & DIAS, B. Conservação da biodiversidade em ecossistemas tropicais)

agrícola floresta regenerada floresta natural

Flluxo fluvial

02.

(ENEM) O gráfico abaixo representa o fluxo (quantidade de água em movimento) de um rio, em três regiões distintas, após certo tempo de chuva.

De acordo com o texto, no tratamento da questão da biodiversidade no planeta: a) O principal desafio é conhecer todos problemas dos ecossistemas, para conseguir protegê-los da ação humana. b) Os direitos e os interesses comerciais dos produtores devem ser defendidos, independentemente do equilíbrio ecológico. c) Deve-se valorizar o equilíbrio do meio ambiente, ignorando-se os conflitos gerados pelo uso da terra e seus recursos. d) O enfoque ecológico é mais importante do que o social, pois as necessidades das populações não devem constituir preocupação para ninguém. e) Há diferentes visões em jogo, tanto as que só consideram aspectos ecológicos, quanto as que levam em conta aspectos sociais e econômicos. Comparando-se, nas três regiões, a interceptação da água da chuva pela cobertura vegetal, é correto afirmar que tal interceptação: a) é maior no ambiente natural preservado. b) independe da densidade e do tipo de vegetação. c) é menor nas regiões de florestas. d) aumenta quando aumenta o grau de intervenção humana.

0

30

60

Tempo depois que a chuva começa (min.)

e) diminui à medida que aumenta a densidade da vegetação.

SoLuçõES CoMENTADAS

01. e

Comentário: A biodiversidade, além do seu valor natural, representa fonte de matérias primas. Também na atualidade, diante da enorme devastação, os países que detêm maior biodiversidade guardam uma verdadeira “poupança”. Como ressalta o texto, a preservação pode representar medidas radicais, como “a eliminação da ação humana”, ou “a defesa dos interesses comerciais”. Na última conferência sobre biodiversidade (COP-10 – Nagoya – outubro/2010), os países ricos não aceitaram colaborar financeiramente para a preservação das reservas em países mais pobres, mostrando que os interesses econômicos ainda suplantam os conservacionistas.

02. a

Comentário: Veja que no ambiente natural o rio leva mais tempo para encher, mostrando que a interceptação da água pela cobertura vegetal é maior. A importância das coberturas vegetais na preservação de cursos d´água e encostas reside na redução do escoamento superficial, que promove a alimentação dos lençóis subterrâneos, mantém a umidade no ar e evita os processo erosivos e o assoreamentos dos rios.

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Ciências da Natureza e suas Tecnologias QUÍMICA

Prof. João pedro A. Mateos joaopedro@revistaenem.com.br

Combustão, Queima o

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a ou Explosão É

a reação mais utilizada quando se quer obter energia. Veja alguns casos: – Nos motores dos automóveis,motocicletas, ônibus e caminhões; – Nos fogões; – Nas termelétricas de carvão, óleo diesel, gás natural etc. Sua ocorrência depende de dois tipos de substâncias, o Oxigênio (O2) - classificado como comburente - e o combustível, como os derivados de petróleo, o álcool etílico (Etanol), o carvão, etc. Quando ocorre a combustão, na verdade está acontecendo uma série de reações simultâneas e, como conseqüência, a obtenção de vários produtos. Vamos ver cada uma dessas transformações a partir dos combustíveis mais convencionais , a gasolina e o álcool etílico.

Hidrocarbonetos são compostos constituídos exclusivamente por átomos de carbono e hidrogênio. Derivados de petróleo, como gás natural, GLP (gás liquefeito de petróleo) gasolina, querosene, óleo diesel, etc, são misturas de hidrocarbonetos.

* Gasolina – é uma grande mistura de hidrocarbonetos constituída por compostos de 5 a 10 carbonos; ela pode ser representada por Cx Hy; * Etanol—obtido essencialmente da cana-de-açúcar, é representado pela fórmula C2H5OH. A maior parte do combustível sofre combustão completa, produzindo gás carbônico (CO2) e água (H2O), sendo que numa pequena fração ocorre a combustão incompleta, formando Monóxido de Carbono (CO) e fuligem (C). No caso, ainda, da gasolina, ocorrem hidrocarbonetos não queimados, e no do álcool, a obtenção de Etanal (C2H4O). O Oxigênio utilizado vem do *ar atmosférico, portanto misturado com outros compostos, especialmente o Nitrogênio (N2), um gás praticamente inerte, ou seja, pouco reativo. Porém, pequenas quantidades dessas substâncias (N2 e O2) reagem formando Óxidos de Nitrogênio (N x O y), dos Podemos representar essas reações da seguinte forma: quais vamos considerar apenas o Monóxido de Nitrogênio (NO). CO2 (combustão completa) CxHy + N2 + O2 Se o combustível for CO combustão um derivado de petróleo C incompleta derivado de ar atmosférico como GLP (gás liquepetróleo feito do petróleo), gás Natural, gasolina, diesel etc., ainda temos os compostos com enxofre (S), que, sofrendo a CO2 (combustão completa) + N2 + O2 C2 H5OH queima, produzem seus CO combustão óxidos SO2 (Dióxido de C incompleta Etanol ar atmosférico Enxofre) e SO3 (Trióxi(álcool etílico) do de Enxofre).

*O ar atmosférico despoluído e seco é uma grande mistura de gases em que predominam o Nitrogênio, com cerca de 78%, e o Oxigênio, com 21%.

+ H2O +

C x Hy

(Hidrocarboneto não queimado)

NO

(produto da reação entre N2 e O2 )

SO2

(originado pelos compostos com enxofre presentes em combustíveis fósseis como os derivados de petróleo)

C2 H4O (Etanal, produto da oxidação parcial do etanol) + H 2O +

NO

(produto da reação entre N2 e O2 )

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CHuVA ÁCIDA Em regiões metropolitanas, devido ao tráfego intenso de ônibus, caminhões, etc., juntamente com as chaminés das fábricas, o ar atmosférico apresenta os gases SO2, SO3 e NO2 entre outros. Esses gases reagem com a água, produzindo ácidos, de acordo com as seguintes equações: SO2 + H2O → H2 SO3 (ácido sulfuroso) SO3 + H2O → H2 SO4 (ácido sulfúrico) 2NO2 + H2O → HNO2 + HNO3 (ác. nitroso) (ác. nítrico) Na grande maioria das vezes, quando se faz referência à chuva ácida em regiões metropolitanas citam-se apenas os ácidos sulfúrico e nítrico por serem mais fortes.

Comparando os dois combustíveis, os derivados de petróleo são classificados como mais poluentes, principalmente por causa dos óxidos de Enxofre que reagem com a água, formando os ácidos Sulfuroso (H2SO3) e Sulfúrico (H2SO4), que caracterizam a CHuVA ÁCIDA . Abaixo, mais informações sobre os outros produtos dessa reação: >> Gás Carbônico (CO2) – em quantidades excessivas na at-

mosfera intensifica o efeito estufa.

Efeito estufa – fenômeno natural e fundamental para o controle térmico da Terra. Porém, com a emissão excessiva de gases, especialmente o CO2 , na atmosfera, esse efeito vem se intensificando, sendo muito provavelmente o principal responsável pelo aquecimento global. >> Água (H2o) - ao chegar uma frente fria, precipita na forma

de chuva.

>> Monóxido de Carbono (Co) – gás altamente tóxico que,

inalado, mesmo em pequenas quantidades, pode levar à morte. Por isso, não se deve deixar o motor do carro ligado em ambientes fechados como garagens; aliás, essa substância é a responsável por aquela EM CASO DE placa presente em alguns túneis.

>> Fuligem (C) – único produto sólido

CONGESTIONAMENTO DESLIGUE O MOTOR

da combustão. É um dos responsáveis por doenças respiratórias como asma e bronquite, tão comuns em pessoas que moram ou trabalham em regiões metropolitanas.

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>> Monóxido de Nitrogênio (No) – ao ganhar a atmosfera, esse

gás reage quase que instantaneamente com Oxigênio, transformando-se em Dióxido de Nitrogênio (NO2). Nas regiões onde há o tráfego intenso de automóveis, ônibus, caminhões, etc, e há alguns dias sem chuvas, o céu adquire uma coloração castanha, cor característica do NO2. Esse óxido, em contato com a água da chuva, produz os Ácidos Nítrico (HNO 3) e Nitroso (HNO 2), também responsáveis pela CHuVA ÁCIDA . Na ausência da chuva, o Dióxido de Nitrogênio vai se acumulando na atmosfera e reage com o Oxigênio, produzindo Ozônio (O 3), que é importantíssimo na camada de Ozônio, pois lá na estratosfera ele filtra os raios solares, retendo cerca de 95% dos raios ultravioleta. Porém, em nosso meio é extremamente poluente devido ao seu alto poder oxidante. A reação entre o óxido e Oxigênio é representada pela equação a seguir: NO2

(g)

+ O2

(g)

→ NO

(g)

+ O3

(g)

Para se ter uma idéia da reatividade do O3 , se você mora numa região metropolitana faça o teste: Pegue um elástico de borracha e pendure em qualquer local do lado de fora da sua casa por uns dez ou quinze dias. Passado esse tempo, observa-se uma série de buracos no material. Foi o Ozônio quem o corroeu. As quantidades de cada uma dessas substâncias lançadas no ar por um veículo é pequena, mas nossa frota é de milhões de automóveis, o que faz suas concentrações ficarem alarmantes. Mas, e as autoridades, o que estão fazendo?


No final da década de 90, houve uma reunião internacional entre os países mais industrializados – o Protocolo de Kyoto – na qual se discutiu a emissão excessiva desses gases na atmosfera e as suas consequências. A maior parte dos países, em princípio, concordaram em tomar medidas para a sua diminuição, porém os Estados Unidos e o Japão se recusaram a tais procedimentos com a justificativa de que não poderiam, em hipótese alguma, diminuir sua produção industrial. A discussão continua... Por outro lado, a indústria automobilística, cada vez mais desenvolvida, está produzindo motores mais eficientes e muito menos poluentes. Nos carros mais modernos há um equipamento chamado conversor catalítico, localizado no cano de escapamento; no seu interior ocorrem várias reações, transformando substâncias poluentes em outras não poluentes. Abaixo, temos esquematizado esse aparelho de forma simplificada:

O conversor catalítico tem esse nome porque em seu interior acontecem várias reações (conversor). Como o tempo em que os gases ficam retidos não seria suficiente para tais transformações, há a presença de catalisadores, substâncias que aumentam a velocidade das reações.

Os gases CO2 e H2O passam pelo aparelho sem sofrer transformações, mas todas as outras substâncias reagem. O NO se decompõe em N2 e O2; esse Oxigênio produzido reage com CO, Cx Hy e C2H4O, transformando-os em gás carbônico e água. Portanto, os carros com esse equipamento jogam para a atmosfera quantidades maiores de CO2 e H2O, mas em compensação nos livram de todas as outras substâncias mais maléficas, ou seja, diminuem sensivelmente a emissão de poluentes. Além disso, os derivados de petróleo estão sendo comercializados com teores bem menores dos compostos com enxofre, o que diminui a concentração de seus óxidos na atmosfera, acarretando, como consequência, uma chuva menos ácida. E NUM FUTURO, ESPERAMOS, NÃO TÃO DISTANTE... Já existem vários estudos para a utilização do Hidrogênio (H2) como combustível, inclusive há protótipos de carros que estão sendo testados. A produção de Hidrogênio pode ser feita a partir da água, num processo Agora, saiba por que devemos esperar anchamado eletrólise, representado siosos pela utilização do Hidrogênio: >> É um combustível bastante energético; >> A obtenção do H2 pode ser feita a partir da água, uma fonte inesgotável; >> O produto de sua combustão é a água, ou seja, é um combustível não poluente.

simplificadamente por: H2O → H2(g) + 1 O2(g) (l) 2

l = líquido g = gás

A combustão do Hidrogênio pode ser representada pela equação: H2(g) + 1 O2(g) → H2O 2 (l)

Perceba que esse realmente é o combustível ideal, porque, além de ser altamente energético, é limpo, já que não polui, e totalmente reciclável, uma vez que o produto da sua queima é a matéria-prima para sua produção. www.revistaenem.com.br / ABRIL 2011 / REVISTA ENEM

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ANALISANDO QUESTÕES

01.

Um dos índices de qualidade do ar diz respeito à concentração de monóxido de carbono (CO), pois esse gás pode causar vários danos à saúde. A tabela abaixo mostra a relação entre a qualidade do ar e a concentração de CO. QuALIDADE Do AR

CoNCENTRAçÃoDE Co- ppm* (MÉDIA DE 8h)

Inadequada Péssima Crítica

15 a 30 30 a 40 Acima de 40

* ppm (parte por milhão) = 1 micrograma de CO por grama de ar -6 1 micrograma = 10 g Para analisar os efeitos do CO sobre os seres humanos,

02.

dispõe-se dos dados ao lado:

SINTOMAS EM SERES HUMANOS

10

Nenhum

15

Diminuição da capacidade visual

60

Dores de cabeça

Suponha que Tonturas, fraqueza 100 muscular você tenha lido Inconsciência 270 em um jornal que Morte na cidade de São 800 Paulo foi atingido um péssimo nível de qualidade do ar. Uma pessoa que estivesse nessa área poderia: a) não apresentar nenhum sintoma. b) ter sua capacidade visual alterada. c) apresentar fraqueza muscular e tontura. d) ficar inconsciente. e) morrer.

POLUIÇÃO ZERO - CARRO MOVIDO À ÁGUA

Foi apresentado no Congresso Mundial de Petróleo (RIO – 2002) um carro BMW,movido a gás hidrogênio.

O gás é armazenado em forma líquida num cilindro reforçado. Os brasileiros poderão conferir uma concepção diferente, a do BMW 745, cujo motor queima hidrogênio como se fosse gasolina com a grande diferença de não emitir poluentes para a atmosfera. Analise as afirmativas abaixo: I. O texto enfatiza o carro ser movido à água porque é desta substância que é extraído o gás hidrogênio.

H2O(l)

CONCENTRAÇÃO DE CO (ppm)

corrente elétrica

H2 + gás Hidrogênio

1 2

O2

gás Oxigênio

II. O título “poluição zero” refere-se ao produto formado da queima do gás hidrogênio no motor, que fornece água como produto, segundo a reação:

H2 + gás Hidrogênio

1 2

O2

H2O(l)

gás Oxigênio

III. A água, no processo global, funciona como reagente e produto, uma vez que sofre combustão no motor do automóvel. É (São) correta(s) a(s) afirmativa(s): a) I, II e III. b) I e II, apenas. c) II e III, apenas.

d) I e III, apenas. e) II, apenas.

SoLuçõES CoMENTADAS

01. b

Comentário: De acordo com a primeira tabela, a qualidade do ar como péssima indica uma concentração de CO entre 30 e 40 ppm (30 e 40 microgramas de CO por grama de ar).

44

a)

Errada. Para que não haja nenhum sintoma, segundo a tabela, a concentração de CO é 10 ppm; logo, abaixo da condição citada na pergunta.

b)

Correta, pois para haver dor de cabeça a concentração de CO (2ª tabela) tem que atingir 60 ppm. Estamos entre 30 e 40 ppm, logo acima de 15 ppm e abaixo dos 60 ppm, indicando alterações na capacidade visual.

c)

Errada, pois para haver fraqueza muscular e tontura a concentração de CO tem que atingir 100 ppm.

d)

Errada, pois a inconsciência é atingida quando a concentração de CO chega a 270 ppm.

e)

Errada, pois para uma pessoa morrer a concentração de CO tem que chegar a 800 ppm.

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Obs.: 800 ppm = 800 microgramas de CO por grama de ar � 800.10–6g de CO por grama de ar � 0,0008 g de CO por grama de ar Interpretando: Se em 1g de ar houver de 0,0008g de CO ou mais, ocorrerá a morte de uma pessoa. O monóxido de carbono é mesmo um gás altamente tóxico, e por isso é totalmente desaconselhável, para não dizer proibido, ficar com um motor de carro ligado numa garagem fechada ou em um túnel congestionado a ponto de os carros ficarem parados.

02. e

Comentário: I. Errada. Apesar de ser verdade que o gás Hidrogênio (H2) pode ser obtido pela eletrólise da água, o texto não enfatiza isso. II. Correto. A combustão do Hidrogênio produz água, uma substância não poluente. III. Errado. No processo global, a água é reagente e produto. Reagente na eletrólise para obtenção do H2 gasoso, e produto na combustão do Hidrogênio, ou seja, não é a água que sofre combustão.


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Ciências da Natureza e suas Tecnologias FÍSICA

Prof. Luiz F. Cordeiro cordeiro@revistaenem.com.br

Energia e suas transformações

E

ste artigo visa desenvolver a competência de área 6 – apropriar-se de conhecimentos da física para, em situações-problema, interpretar, avaliar ou planejar intervenções científico-tecnológicas – e a habilidade 23 – avaliar possibilidades de geração, uso ou transformação de energia em ambientes específicos, considerando implicações éticas, ambientais, sociais e/ou econômicas.

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Desde que o ENEM foi implantado em 1998, todas as provas apresentaram algumas questões cujo tema principal foi energia e suas transformações. Isto já era previsível, pois a proposta deste exame é a de relacionar conceitos científicos com situações e problemas do nosso cotidiano. Esse assunto, além de atual, passa por diversas áreas do conhecimento, como Física, Química, Biologia, Geografia, dentre outros, tendo, portanto, um caráter interdisciplinar. Neste artigo comentaremos um pouco sobre as usinas de produção de energia elétrica, presente em 11 das 12 provas realizadas.

>> o QuE É uMA uSINA ELÉTRICA Usina elétrica é um conjunto de instalações que visa transformar algum tipo de energia em energia elétrica. Quando se fala em energia, a máxima do grande químico francês AntoineLaurent Lavoisier (1743-1794), guilhotinado durante a revolução francesa, se aplica perfeitamente: “nada se perde, nada se cria, tudo se transforma”. Apesar de Lavoisier ter feito tal afirmação para reagentes e produtos de uma reação química, quando se fala em energia a idéia é a mesma e, por isso, frases como “gerar” ou “produzir” energia devem ser entendidas como “transformar”, respeitando assim um dos tópicos mais importante da Física: a Lei da Conservação da Energia.

>> CoMo SE TRANSFoRMA DETERMINADo TIpo DE ENERGIA EM ENERGIA ELÉTRICA? Existem várias maneiras. Uma das soluções é utilizar placas fotovoltaicas, que transformam energia solar em elétrica. Porém, a maioria das usinas hoje em atividade utiliza um sistema baseado em um gerador. De uma maneira simplificada, o gerador é constituído por um condutor elétrico em formato de espira (circunferência), imerso em um campo magnético. Conforme a espira gira, surge em suas extremidades uma diferença de potencial (“voltagem”) e, como conseqüência, a corrente elétrica necessária para alimentar casas, escolas, hospitais, indústrias. A figura abaixo é extraída de uma prova do ENEM e, esquematicamente, mostra alguns dos componentes de uma usina elétrica que utiliza gerador.

Gerador

Basicamente, para que o gerador possa “produzir” energia elétrica é necessário que sua espira gire e, para que isto ocorra, ela deve ser acoplada a uma turbina através de um eixo. Turbina é um dispositivo que transforma, por exemplo, a energia cinética associada ao deslocamento de uma massa de fluido (líquido ou gás) em energia cinética de rotação. Esquematizando

Energia cinética de uma massa fluída (exemplos água no estado líquido ou gasoso; ar)

Turbina girando: energia cinética associada a rotação do eixo

Quando a espira do gerador gira, energia cinética é transformada em elétrica

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Alguns Tipos de usinas que utilizam Geradores (classificadas pelo fluido que move a turbina)

>> o QuE É ENERGIA CINÉTICA?

Deslocamento de água na fase líquida

Energia cinética é um tipo de energia associada ao movimento de uma determinada massa (sólida, líquida ou gasosa). Essa energia é calculada pela equação: Ec = m . v2 2 Onde: Ec m v

energia cinética massa em movimento velocidade

Pela equação é possível concluir que quanto maior a massa ou quanto maior a velocidade, maior será a quantidade de energia cinética.

>> o QuE DIFERENCIA oS VÁRIoS TIpoS DE uSINAS QuE uTILIZAM GERADoR? Em linhas gerais, todas as usinas que utilizam um gerador funcionam praticamente da mesma forma. O que diferencia uma hidrelétrica de uma termelétrica ou de qualquer outro tipo que possa existir é a maneira de se fazer a turbina girar. O quadro a seguir relaciona os principais tipos de usinas hoje em funcionamento, classificadas quanto à massa fluida que aciona a turbina.

termelétrica

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HIDRELÉTRICA

A usina hidrelétrica utiliza a energia potencial de uma grande massa de água armazenada em uma represa. Quando liberada, a água desce através de um duto até alcançar as turbinas. Neste deslocamento, a energia potencial da água se transforma em cinética e, ao entrar na turbina, esta energia é transformada em energia cinética de rotação no eixo que acopla turbina e gerador.


Deslocamento de água na fase líquida

MARÉS

Para utilizar a energia das marés, devese construir uma barragem separando o mar de um grande reservatório, mantendo-os ligados por um duto. Quando a maré estiver o mais alta possível, abre-se o duto e água se desloca para o reservatório, passando por uma turbina. Depois que o reservatório se enche, o duto é fechado até que a maré baixe e atinja seu nível mínimo. Neste instante, o duto é reaberto e a água se desloca em sentido contrário ao anterior, ou seja, do reservatório, agora cheio, para o mar, acionando novamente a turbina.

Deslocamento de água na fase de vapor

TERMELÉTRICA

As usinas termelétricas, em geral, utilizam a energia cinética da água vaporizada dentro de uma espécie de caldeira. Para vaporizar a água, queima-se algum tipo de combustível, que pode ser de origem fóssil e, por isso não renovável (gás, diesel, carvão, gasolina), ou algum tipo de biomassa, que se constitui numa fonte renovável e menos poluente. Classificam-se como biomassa os combustíveis de origem animal ou vegetal (resíduos agrícolas, madeira, lixo urbano), independentemente da fase em que se encontram (sólida líquida ou gasosa).

HINRICHS, R. A.; KLEINBACH, M. Energia e meio ambiente. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2003 (adaptado).

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Deslocamento de água na fase de vapor

NuCLEAR

Assim como a termelétrica, a usina nuclear também utiliza a energia cinética da água vaporizada dentro de uma espécie de caldeira. Essa energia vem do calor liberado durante a fissão nuclear. Como o nome já diz, fissão consiste na divisão de átomos mais pesados em átomos mais leves. Porém, se somarmos as massas antes e depois da fissão, observaremos que a massa antes é maior que depois. O que explica isso é a equação de Einstein (E = m . c2), levando-nos à conclusão de que parte da massa se transformou em calor.

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Deslocamento de ar

EÓLICA

Esta solução energética é apontada como uma das melhores saídas que já foram encontradas, pois, além de não emitir gases poluentes, tem um custo da produção de energia muito baixo. Uma fazenda eólica, nome que se dá ao conjunto de aerogeradores que forma a usina, normalmente é instalada em locais cuja média anual da velocidade dos ventos seja, de preferência, superior a 7m/s. Essa exigência é explicada pela equação da energia cinética. Quanto maior a velocidade dos ventos, mais energia poderá ser transformada em energia elétrica.


Deslocamento de ar

oNDAS

Há usinas que utilizam a energia das ondas para acionar as turbinas. Quando a onda se desloca em direção à praia, ela entra em uma tubulação cheia de ar. Ao entrar no ducto, a água empurra o ar em direção a turbina, que é acionada.

Equação de Einstein

E = m . c2 Onde: E – energia m – massa c – velocidade da luz (300.000 km/s)

Quando a onda volta da praia para o mar, o ar retorna ao tubo pelo mesmo local de onde saiu, como se estivesse sendo sugado e, ao passar pela turbina, novamente ela é acionada.

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ANALISANDO QUESTÕES

01.

Exemplo do que foi cobrado sobre usinas elétricas nas provas do Novo ENEM

Habilidade H8 (ENEM – 2009) O esquema mostra um diagrama de bloco de uma estação geradora de eletricidade abastecida por combustível fóssil.

Se fosse necessário melhorar o rendimento dessa usina, que forneceria eletricidade para abastecer uma cidade, qual das seguintes ações poderia resultar em alguma economia de energia, sem afetar a capacidade de geração da usina? Para responder à questão, o aluno terá que analisar as alternativas e, para isso, a habilidade (H8) é a de identificar etapas em processos de obtenção, transformação e utilização de recursos energéticos, considerando os processos físicos envolvidos. a) Reduzir a quantidade de combustível fornecido à usina para ser queimado. b) Reduzir o volume de água do lago que circula no condensador de vapor. c) Reduzir o tamanho da bomba usada para devolver a água líquida à caldeira. d) Melhorar a capacidade dos dutos com vapor conduzirem calor para o ambiente. e) Usar o calor liberado com os gases pela chaminé para mover um outro gerador.

02.

Agora é com você:

Em locais como, por exemplo, a ilha de Fernando de Noronha, duas opções viáveis para o abastecimento de energia são as usinas do tipo termelétrica e a do tipo eólica. Em 1992, foi instalada ali uma turbina eólica com capacidade de 75 kW, suprindo, na época, aproximadamente 10% das necessidades locais. Isso proporcionou uma economia de 70.000 litros de óleo diesel por ano, implicando menor custo financeiro e menor emissão de CO2. Estima-se que o custo de geração de energia em uma termelétrica seja de aproximadamente R$ 600,00 por megawatt . hora (MWh) enquanto em uma usina eólica é de R$ 250 por MWh. Em 2001, outra turbina eólica entrou em funcionamento atendendo, juntamente com a primeira, 25% de toda a energia elétrica lá consumida. A partir das informações acima, podemos concluir: I. As duas turbinas eólicas proporcionam uma economia de 175.000 litros de óleo.

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II. Para que a ilha fosse abastecida exclusivamente por energia eólica, seriam necessárias 5 (cinco) turbinas iguais á que foi instalada em 2001. III. Se apenas a usina termelétrica fosse usada para abastecer a ilha, seriam necessários, aproximadamente, 700.000 litros de óleo. IV. A geração de energia a partir dos ventos é quase 60% mais barata que a gerada por uma termelétrica. Do ponto de vista da Física, a habilidade exigida é (H23) a de avaliar possibilidades de geração, uso ou transformação de energia em ambientes específicos, considerando implicações éticas, ambientais, sociais e/ou econômicas. a) b) c) d) e)

São verdadeiras: Apenas as afirmações I eII. Apenas as afirmações I eIII. Apenas as afirmações II eIII. Apenas as afirmações I, II e IV. Apenas as afirmações I, III e IV.


Soluções comentadas

01. e

Comentário: Para resolver a questão, é conveniente saber o que é “rendimento” e, por isso, damos aqui uma rápida definição desse conceito. Rendimento (ícone de multimídia) (η) também pode ser entendido como eficiência. Do ponto de vista físico, esta grandeza pode ser definida como a razão entre a energia útil (Eu) que se obtém no final do processo e a quantidade total de energia (Et) que entra no processo.

c) Reduzir o tamanho da bomba usada para devolver a água líquida à caldeira. Falsa, pois ao reduzir o tamanho da bomba, uma menor quantidade de água será levada de volta à caldeira, diminuindo a quantidade de vapor que irá mover a turbina. Isto pode implicar em uma redução da quantidade de energia elétrica produzida o que implica em menor rendimento. d) Melhorar a capacidade dos dutos com vapor conduzirem calor para o ambiente. Falsa. Esta alternativa não implica em aumentar o rendimento. Isso apenas aceleraria o processo de condensação.

A equação que mede tal grandeza é:

η = Eu / Et Relembrando a pergunta da questão: qual das seguintes ações poderia resultar em alguma economia de energia, sem afetar a capacidade de geração da usina? a) Reduzir a quantidade de combustível fornecido à usina para ser queimado. Falsa, pois se a quantidade de combustível fornecida for reduzida, a quantidade de energia útil final será reduzida proporcionalmente. Porém isso não altera a relação Eu / Et, o que implica em que o rendimento será mantido. b) Reduzir o volume de água do lago que circula no condensador de vapor. Falsa, mas antes de explicar o porquê, vamos ampliar a compreensão, mostrando como funciona o condensador. Como o nome já diz, esta parte da usina provoca a condensação do vapor que anteriormente acionou a turbina. Para se condensar, o vapor perde calor para um encanamento em forma de serpentina cheia de água que, normalmente, se encontra à temperatura ambiente. Essa água pode vir de um lago, de um rio ou do mar. Após a condensação (vapor água líquida), a água originada desse processo é bombeada de volta para a caldeira e o ciclo se reinicia. A água que estava dentro do encanamento recebe calor do vapor que se condensa e, ao voltar para o lago, ela se encontra mais aquecida que antes. Isso pode provocar poluição térmica e, consequentemente, desequilíbrios ecológicos. Respondendo a alternativa b A princípio, a quantidade de água no lago não afeta o rendimento. Porém caso a redução seja muito grande, é possível que determinada massa de água, que passou pelo condensador e ainda se encontra mais aquecida que o normal, possa ser novamente bombeada para o condensador. Isso pode implicar em um aumento gradativo da temperatura do lago e, em um caso extremo, a água dentro do encanamento do condensador poderia atingir a temperatura de ebulição. Como conseqüência, as trocas de calor com o vapor cessariam, assim como o processo de condensação, afetando negativamente o rendimento.

e) Usar o calor liberado com os gases pela chaminé para mover um outro gerador. Verdadeira: ao aproveitar o calor liberado pelos gases, aumenta a energia útil (transformada em elétrica), o que implica em aumentar o rendimento.

02. e

Comentário: I. As duas turbinas eólicas proporcionam uma economia de 175.000 litros de óleo. Verdadeira: se 10% de economia corresponde a 70.000 litros, 25% corresponde a 175.000 litros Esse valor pode ser obtido por uma regra de três simples. 10% -------------- 70.000 litros 25% -------------- x II. Para que a ilha fosse abastecida exclusivamente por energia eólica, seriam necessárias 5 (cinco) turbinas iguais a que foi instalada em 2001. Falsa: pois as duas usinas eólicas juntas suprem 25% da necessidade total de energia da ilha, o que implica em a usina eólica mais nova suprir 15% da demanda. Assim, 5 (cinco) usinas iguais a ela supririam 75%, sendo assim insuficiente. III. Se apenas a usina termelétrica fosse usada para abastecer a ilha, seriam necessários, aproximadamente, 700.000 litros de óleo. Verdadeira: pois, se 10% do óleo gasto corresponde a 70.000 litros, 100% corresponde a 700.000 litros. IV. A geração de energia a partir dos ventos é quase 60% mais barata que a gerada por uma termelétrica. Verdadeira: pois, o custo de geração de energia de uma termelétrica é de aproximadamente R$ 600,00 por megawatt . hora (MWh) (ícone de multimídia) enquanto a eólica é de R$ 250 por MWh. Se dividirmos 250 por 600 obteremos 0,42 (aproximadamente), ou seja, o custo da eólica é 42% da termelétrica. Isso significa uma economia de aproximadamente 58%.

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Prof. Daniel H. de Medeiros

O olhar do Observador

daniel@revistaenem.com.br

ENEM:

E CoMo FICAM AS VoCAçõES?

O

Exame Nacional do Ensino Médio, na medida em que vai se consolidando pelo país, provoca mudanças de hábitos até então profundamente arraigados na nossa prática estudantil.

Uma delas é a da conformação geográfica. Quando a escolha da faculdade implicaria uma grade de opções tão ampla de Estados diferentes? Medicina no Amazonas ou no Rio Grande do Sul? Direito na Paraíba ou no Mato Grosso? Pois tem sido assim e será cada vez mais assim! A questão que preocupa é a seguinte: vem lá o estudante das Alagoas estudar em Santa Catarina, porque seu escore permitiu a inscrição nessa universidade. O governo garante, de forma inédita, esse movimento migratório estudantil ( que sempre existiu, não há dúvida, mas jamais nessa proporção). No entanto, não há – por enquanto – medidas concretas para garantir a adaptação econômica, social e cultural desses novos “migrantes universitários”. O resultado – também por enquanto – é que as vagas não são efetivadas. Na universidade Tecnológica do Paraná, por exemplo, o grau de ociosidade ampliou-se consideravelmente. Vagas caras e raras. Não é á toa que o SISU realiza primeira, segunda e terceira chamada, mais aproveitamento de segunda opção, mais lista de espera ...ufa! O ano letivo começa e os alunos vão chegando e indo. Há ganho em integração, dinâmica social com o aumento de oportunidade para alunos de regiões carentes estudarem em centros de excelência, etc. Mas – por enquanto – não tem funcionado. Simplesmente não tem funcionado. Segundo o professor Miguel Franklin, responsável pelo SiSU na UFC, a taxa de matrículas está diretamente relacionada ao número de aprovados que não Os aprovados em primeira chamada no são do estado do Ceará. “Durante as insSiSU tiveram três dias para realizar a crições pelo sistema, muitos alunos desismatrícula nas instituições em que obtitiram dos cursos que realmente tinham veram vagas em primeira ou segunda opção. Mas nem todos compareceram interesse por não atingirem as notas de com os documentos necessários para corte necessárias e acabaram se candidaconcretizar a inscrição. Na Universidade tando em outras graduações apenas para Federal do Pampa (Unipampa), no Rio Grande do Sul, dos 2.661 candidatos obter aprovação”. aprovados, 740 confirmaram interesse (27% do total das 2.725 vagas oferecidas; 64 sobraram já na primeira fase porque estão reservadas para cotistas). O número, embora pequeno, representa mais do que o obtido pela universidade no ano passado, quando apenas 17% das vagas foram preenchidas na primeira fase de matrículas.

O outro problema que parece ser mais paradigmático: o fim das vocações. O sistema adotado pelo governo permite que o aluno se inscreva em mais de uma instituição e em mais de um curso. O aluno com escore elevado pode escolher entre várias opções e, obviamente, elas vão diFonte: http://ultimosegundo.ig.com.br/educacao/ aprovados+em+2+chamada+do+sisu+devem+con minuindo na medida em que os escores firmar+matricula/n1237991933072.html diminuem. Assim, o aluno bem sucedido na prova do Enem e que desejava fazer, por exemplo, Administração, ao perceber que conseguiu um escore para Medicina pensa: “Por que não?” E, igualmente, o contrário: aluno que sonha em ser médico não é bem sucedido e obtém escore para ingressar em Administração. E diz: “Por que não?”

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O problema – e esse segundo ano de Enem já permite perceber isso – é que a vocação muitas e muitas vezes fala mais alto que a facilidade de ingresso e a empolgação inicial de estar em uma universidade pública. E então vem o abandono. Vagas caras e raras. Acesse esse link, http://i0.ig.com/ infograficos/sisu/sisu.jpg para você pode entender melhor como é o processo de escolha das vagas pelo SISU e como ela estimula opções não vocacionadas.

Imaginamos que o governo deveria prestar atenção a estas observações. Por que não um Enem regionalizado e por que não uma escolha setorizada por áreas afins? Provas regionalizadas, com logísticas mais simples permitiriam menos falhas. Alunos da mesma região, próximos ou relativamente próximos de sua residência de origem teriam mais apoio e estímulo para continuar o curso que escolheram. Escolhas que não firam exageradamente as vocações, os desejos de formação, contribuiriam para uma permanência maior nos cursos escolhidos e uma chance maior de formação mais sólida e , portanto, de usufruto no mercado de trabalho. E por que não?


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