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UNIVERSIDADE POTIGUAR – UnP PRÓ-REITORIA DE GRADUAÇÃO NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA – NEaD

Espanhol Instrumental I Livro-texto EaD

Natal/RN 2010


DIRIGENTES DA UNIVERSIDADE POTIGUAR – UnP Reitoria Sâmela Soraya Gomes de Oliveira Pró-Reitoria de Graduação e Ação Comunitária Sandra Amaral de Araújo Pró-Reitoria de Pesquisa, Extensão e Pós-Graduação Aarão Lyra

NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA DA UNIVERSIDADE POTIGUAR – UnP Coordenação Geral Barney Silveira Arruda Luciana Lopes Xavier Coordenação Pedagógica Edilene Cândido da Silva Coordenação de Produção de Recursos Didáticos Michelle Cristine Mazzetto Betti Coordenação de Produção de Vídeos Bruna Werner Gabriel Coordenação de Logística Helionara Lucena Nunes

Revisão de Linguagem e Estrutura em EaD Priscilla Carla Silveira Menezes Thalyta Mabel Nobre Barbosa Úrsula Andréa de Araújo Silva Apoio Acadêmico Flávia Helena Miranda de Araújo Freire Assistente Administrativo Eliane Ferreira de Santana Gabriella Souza de Azevedo Gibson Marcelo Galvão de Sousa Giselly Jordan Virginia Portella

A553e Andrade, Iésu Garcia Mascarenhas de. Espanhol instrumental I / Iésu Garcia Mascarenhas de Andrade. – Natal: EdUnP, 2010. EdUnP, 2010. 80p. : il. . ; 20 X 28 cm Ebook – Livro eletrônico disponível on-line. ISBN XXX-XX-XXXXX-XX-X 1. Espanhol instrumental. I. Título. RN/UnP/BCSF

CDU 811.134.2


Iésu Garcia Mascarenhas de Andrade

Espanhol Instrumental I 1ª edição

Natal/RN 2010


EQUIPE DE PRODUÇÃO DE RECURSOS DIDÁTICOS Organização Luciana Lopes Xavier Michelle Cristine Mazzetto Betti Coordenação de Produção de Recursos Didáticos Michelle Cristine Mazzetto Betti Revisão de Linguagem e Estrutura em EaD Priscilla Carla Silveira Menezes Ilustração do Mascote Lucio Masaaki Matsuno

EQUIPE DE PRODUÇÃO DE MATERIAL DIDÁTICO Delinea - Tecnologia Educacional Coordenação Pedagógica Margarete Lazzaris Kleis Coordenação de Editoração Charlie Anderson Olsen Larissa Kleis Pereira Coordenação de Revisão Gramatical e Normativa Michelle Christie Olsen Revisão Gramatical e Normativa Raymi de Fátima Link Márcia Cristina Caetano de Carvalho Coordenação de Diagramação Alexandre Alves de Freitas Noronha Diagramação Fabricio Trindade Ferreira Ilustrações Alexandre Beck


Caro(a) aluno(a), é um grande prazer fazer parte do seu estudo como apresentador da Língua Espanhola. Sou Iésu de Andrade, professor de espanhol e de francês da Universidade Potiguar. Meu contato com língua estrangeira veio pelo meu prazer em viajar e conhecer outras culturas. Sempre fui um curioso pelo contato com as pessoas nas diversas “mochiladas” que fiz. Por isso, pouco depois de concluir o curso de Direito, fui convidado a dar aula de língua estrangeira. São mais de dez anos de estrada com muita dedicação, desde que isso se tornou minha profissão. Possuo especialização em Docência de Ensino Superior pela UFRJ, o D.E.L.E (Diploma de Español como Lengua Extranjera) nível superior e, em nível equivalente, o D.A.L.F (Diplôme Approfondi de Langue Française), além de cursos de formação de professores de espanhol pela Fundação Ortega y Gasset, em Buenos Aires, pela Universdidad de Alcalá, de Madrid – em parceria com o IFRN e a Embaixada da Espanha no Brasil -, e pela Asociación Argentina de Docentes de Español, da qual sou associado. Neste caminho, já há alguns anos que me dedico ao ensino de língua instrumental. Inicialmente, como professor na UFRN, ministrando a disciplina de Leitura em Língua Francesa I; posteriormente, na preparação de alunos de programas de pós-graduação, para exame de proficiência em língua estrangeira em francês e em espanhol. Foi, exatamente, esta trajetória que fez com que eu fosse convidado para a preparação deste material de Língua Espanhola Instrumental. Desejo assim, que este livro-texto traduza todo este caminho, toda a dedicação e a reflexão que costumo fazer em minhas aulas, com os meus alunos.

CONHECENDO O AUTOR

Iésu de Andrade



Este livro-texto tem a intenção, antes de mais nada, de proporcionar o prazer da reflexão do idioma estrangeiro e materno, por meio do estudo instrumental, pois nosso trabalho se baseia no que costumamos chamar de estudo contrastivo. Este estudo nos permite perceber a língua espanhola que existe no português, e a língua portuguesa que existe na língua espanhola. Privilégio de línguas latinas. A fama que o francês tem de ser uma língua difícil, sem ser de fato, compara-se com a fama que o espanhol tem de ser uma língua óbvia. Por ser uma língua estrangeira, faz com que o estudo precise de um procedimento e de uma estratégia, específicos. No ensino da língua estrangeira, em geral, abordam-se quatro competências: expressões escrita e oral e compreensões escrita e oral. No caso do ensino instrumental abordaremos tão somente a compreensão escrita, já que não vamos precisar falar, escrever e nem compreender oralmente. A importância do latim na compreensão da estrutura do idioma cria quase que uma obrigação na percepção da sua herança. A estrutura do pensamento filosófico da civilização Greco-romana exigiu um idioma que suportasse as sutilezas deste raciocínio. Entretanto, todos nós reconhecemos no português certo grau de complexidade; o português é assim, pela mesma razão que o espanhol, o francês, o italiano e qualquer outro idioma latino o é, ou seja, a complexidade é a nossa semelhança. Sendo assim, a partir deste ponto, veremos que a vantagem do espanhol é de ser uma língua complexa tal qual o português, por isso a sensação da facilidade. Nossa meta é fazer da comparação entre semelhanças e diferenças, a nossa forma de estudar. Com isso, proponho a você, caro aluno, um estudo duplo para a leitura e a compreensão do espanhol. O estudo do espanhol, que é nosso objetivo de fato, e um estudo de certos aspectos do português que não costumam ser abordados.

CONHECENDO A DISCIPLINA

ESPANHOL INSTRUMENTAL I


Este estudo além de lhe dar a boa condição de leitura em língua espanhola, que é o seu objetivo imediato lhe dará também a condição de um estudo complementar do idioma pela base construída, dando-lhe confiança e autonomia no caminho que você irá trilhar.


Capítulo 2 - Percebendo a Língua Espanhola ........................................... 29 2.1 Contextualizando ........................................................................................................... 29 2.2 Conhecendo a teoria ..................................................................................................... 30 2.2.1 A cara do texto ...................................................................................................... 30 2.2.2 O passo a passo .................................................................................................... 32 2.3 Aplicando a teoria na prática...................................................................................... 42 2.4 Para saber mais ............................................................................................................... 43 2.5 Relembrando ................................................................................................................... 44 Onde encontrar ...................................................................................................................... 44 Capítulo 3 - Relacionando-se Com a Língua Espanhola ........................... 47 3.1 Contextualizando ........................................................................................................... 47 3.2 Conhecendo a teoria ..................................................................................................... 48 3.2.1 Técnicas de leitura e interpretação de texto .............................................. 52 3.2.2 Técnicas para identificar palavras ................................................................... 58 3.3 Aplicando a teoria na prática...................................................................................... 60 3.4 Para saber mais ............................................................................................................... 62 3.5 Relembrando ................................................................................................................... 62 3.6 Testando os seus conhecimentos ............................................................................. 63 Onde encontrar ...................................................................................................................... 63 Capítulo 4 - Sabendo mais sobre a língua espanhola .............................. 65 4.1 Contextualizando ........................................................................................................... 65 4.2 Conhecendo a teoria ..................................................................................................... 66 4.2.1 Substantivos .......................................................................................................... 67 4.2.2 Pronomes ................................................................................................................ 73 4.2.3 Relação entre objeto direto e objeto indireto............................................ 82 4.3 Aplicando a teoria na prática...................................................................................... 83 4.4 Para saber mais ............................................................................................................... 85 4.5 Relembrando ................................................................................................................... 85 4.6 Testando os seus conhecimentos ............................................................................. 86 Onde encontrar ...................................................................................................................... 86 Capítulo 5 - Tratando da Língua Espanhola ............................................... 87 5.1 Contextualizando ........................................................................................................... 87 5.2 Conhecendo a teoria ..................................................................................................... 88 5.2.1 Uso da música na aprendizagem da língua espanhola ......................... 89

SUMÁRIO

Capítulo 1 - Conhecendo a Língua Espanhola ........................................... 13 1.1 Contextualizando ........................................................................................................... 13 1.2 Conhecendo a teoria ..................................................................................................... 14 1.2.1 Breve história da língua espanhola ............................................................... 14 1.2.2 A fonética da língua espanhola ......................................................................XX 1.3 Aplicando a teoria na prática ..................................................................................... 23 1.4 Para saber mais ............................................................................................................... 25 1.5 Relembrando ................................................................................................................... 27 1.6 Testando os seus conhecimentos ............................................................................. 27 Onde encontrar ...................................................................................................................... 27


5.2.2 Uso do filme na aprendizagem da língua espanhola ...................................................... 90 5.2.3 Uso de contos na aprendizagem da língua espanhola.................................................... 92 5.2.4 Uso de poesias na aprendizagem da língua espanhola.................................................. 93 5.2.5 Uso de notícias na aprendizagem da língua espanhola.................................................. 94 5.2.6 Uso de sites na aprendizagem da língua espanhola......................................................... 95 Como buscar na internet............................................................................................................................................... 98 5.3 Aplicando a teoria na prática............................................................................................................... 99 5.4 Para saber mais ......................................................................................................................................101 5.5 Relembrando ..........................................................................................................................................102 5.6 Testando os seus conhecimentos ....................................................................................................102 Onde encontrar .............................................................................................................................................103

Capítulo 6 - Aprofundando-se na língua espanhola ...................................................105 6.1 Contextualizando ..................................................................................................................................105 6.2 Conhecendo a teoria ............................................................................................................................106 6.3 Aplicando a teoria na prática.............................................................................................................117 6.4 Para saber mais ......................................................................................................................................119 6.5 Relembrando ..........................................................................................................................................119 6.6 Testando os seus conhecimentos ....................................................................................................119 Onde encontrar .............................................................................................................................................120 Capítulo 7 - Verbalizando a língua espanhola .............................................................121 7.1 Contextualizando ..................................................................................................................................121 7.2 Conhecendo a teoria ............................................................................................................................122 7.2.1 As semelhanças ...........................................................................................................................122 7.3 Aplicando a teoria na prática.............................................................................................................136 7.4 Para saber mais ......................................................................................................................................137 7.5 Relembrando ..........................................................................................................................................137 7.6 Testando os seus conhecimentos ....................................................................................................137 Onde encontrar .............................................................................................................................................138 Capítulo 8 - Elementos para auxiliar a leitura .............................................................141 8.1 Contextualizando ..................................................................................................................................141 8.2 Conhecendo a teoria ............................................................................................................................142 8.2.1 Fazer seu vocabulário ................................................................................................................143 8.2.2 Uso de vocabulário contextualizado ...................................................................................143 8.2.3 Expressões idiomáticas..............................................................................................................153 8.3 Aplicando a teoria na prática.............................................................................................................154 8.4 Para saber mais ......................................................................................................................................156 8.5 Relembrando ..........................................................................................................................................156 8.6 Testando os seus conhecimentos ....................................................................................................157 Onde encontrar .............................................................................................................................................157 Referências .....................................................................................................................................................159




CAPÍTULO 1 Conhecendo a Língua Espanhola

1.1 Contextualizando Espanhol é fácil, é parecido demais com o português! Espanhol, é como se fosse português errado. Quantas vezes você já ouviu isso? Quantas vezes já dissemos isso? Precisamos refletir sobre esse aspecto. Na verdade, trata-se de uma simples questão de referência. O português é uma língua que teve o mesmo processo histórico do espanhol, também nasceu do latim, são línguas irmãs, ambas são línguas neolatinas. Além disso, as línguas podem parecer mais fáceis ou mais difíceis basicamente por conta da origem e da estrutura fonética, como também pela predominância no contexto social. Muitos estudiosos dizem que a vantagem que têm os nativos de línguas próximas no processo de aprendizagem é enorme. Isso parece óbvio porque no campo lexical, aproximadamente, 85% das palavras de ambos os idiomas possuem a mesma origem. Apesar da proximidade na pronúncia, o que há de mais próximo é, realmente, a escrita, uma vez que, com a mesma estrutura linguística as bases são as mesmas. A prova disso é que quanto mais distante um dado texto está da norma culta, mais diferente estará da língua — alvo. De qualquer maneira, ainda com a mesma origem, às vezes não temos a impressão de tanta semelhança, como é o caso do francês. Contrária e estranhamente, pode ocorrer de não tendo a mesma origem, ter-se uma familiaridade e uma sensação de semelhança muito grande, como é o caso do inglês. Mas isso não é um fenômeno linguístico, e sim político, econômico e social. Além de discutirmos estes aspectos, neste capítulo você poderá perceber que uma noção da história da língua e uma base fonética lhe darão a condição ideal da compreensão da estrutura do idioma que estudaremos nos capítulos seguintes.

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Capítulo 1

Ao final deste capítulo, esperamos que você seja capaz de: •• compreender por que e em que o espanhol é próximo da língua portuguesa, a partir do seu processo histórico; •• identificar a estrutura fonética do espanhol.

1.2 Conhecendo a teoria 1.2.1 Breve história da língua espanhola Em texto sobre a formação da língua espanhola, Raúl Rivadeneira Prada (2010, p. 1, Tradução nossa), da Academia Nacional de Ciências de Bolívia, diz: Durante seis séculos (Do séc. II a. C. ao séc. V d. C.) a península ibérica esteve sob a dominação romana. O conquistador levou consigo o latim vulgar, que logo se impôs às línguas nativas (ou vernáculas). Muitas desapareceram sem deixar rastro; outras foram absorvidas, fenômeno que se conhece por glotofagia. Desses, só sobrevive o euskera, idioma falado no País Basco. A base do espanhol, língua romance como o francês, o italiano, o português, entre outras, é o latim vulgar falado pelos soldados, pelo povo nas ruas e mercados, muito diferente do latim culto de Horácio, Virgílio e Sêneca. As invasões bárbaras (vândalos, suevos, visigodos) do século V d. C., ao isolar as províncias, conseguiram que se acentuasse o uso do latim em cada uma delas, e o inevitável contato lingüístico permitiu a introdução de um bom repertório de vocabulário germânico.

Muitos idiomas nasceram, cresceram e morreram durante o processo histórico que resulta no que, hoje, é a nossa língua. Quem sabe como serão os idiomas no futuro? O fato é que, por força das colonizações, África, América, Oceania e alguns países da Ásia têm, como língua oficial, um idioma europeu. O que vamos tratar neste capítulo, certamente, aconteceu em vários países do mundo com o cruzamento de várias línguas que não necessariamente as nossas, mas no mesmo processo. Colônias francesas, inglesas, portuguesas e espanholas se espalharam. Mudou o país colonizado e mudou o colonizador. A língua do dominador nunca mais foi a mesma. Pelo menos no vocabulário, sofreu alterações com a inclusão de palavras das línguas nativas. Um simples exemplo é a palavra papa, de origem quéchua (língua de povos indígenas do norte do Chile e Argentina, e sul da Bolívia), significa batata; é uma palavra usada em todos os países de língua espanhola.

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Capítulo 1

As misturas geraram uma série de opiniões, conceitos e preconceitos sobre as línguas ditas “originais” e suas variantes. O inglês da Nova Zelândia não é o mesmo da Inglaterra; como o dos EUA também não, nem o da Austrália. O francês do Canadá, certamente, não é igual ao falado na França, na Suíça, na Bélgica, em Camarões ou na Costa do Marfim. Nós sabemos que o português dos países Africanos, como Angola, Moçambique ou Guiné Bissau, até é mais próximo do português falado em Portugal, mas também é diferente, como o do Brasil. Enfim, esse processo também se repete no espanhol. Você pode imaginar que, com a quantidade de países que falam espanhol nos dias de hoje, as particularidades são em grande número. Algumas pessoas insistem em dizer que existe um lugar que fala melhor um dado idioma que outros. Quer dizer, se o francês se originou na França, o de lá é melhor do que o do Canadá? Ou de Camarões? Se o português se originou em Portugal, o de lá é melhor do que o nosso. E o espanhol da Espanha, assim, é melhor que o de qualquer país da América Latina. Isso não faz o menor sentido. Lembre que, dentro de um mesmo país, há uma grande diferença entre vocabulário, sotaque, misturas de idioma; entre mais de um país que fala a mesma língua isso segue a mesma lógica. É claro que o espanhol falado no Chile terá diferenças do falado no México, ou do falado na Argentina, ali, do outro lado dos Andes. Isso não quer dizer que são línguas diferentes.

REFLEXÃO

Pense bem: se de fato existisse “a língua pura”, você não acha que hoje nós ainda estaríamos falando latim?

Ora, o espanhol, ou melhor, o castelhano, nasce do encontro de línguas pré-românicas existentes na região da Calábria, Burgos, Álava e La Rioja (das atuais províncias do norte da Espanha), com o latim vulgar. Foi essa mescla que originou o dialeto do reino de Castela, localizado entre Cantábria e o norte de León, região sob influência vasca (reino antigo e atual Província do norte da Espanha).

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Capítulo 1

SAIBA QUE A língua oficial da unidade espanhola, da Espanha atual, é um idioma nascido, provavelmente, no século IX, d. C., no reino de Castela, que unido ao de Aragão foram o princípio da expansão do império hispânico. Sendo o idioma do reino de Castela, aí está a origem do nome castelhano. Os espanhóis dizem que o castelhano é a língua da unidade, mas que língua espanhola são todas as que compõem o que hoje é a Espanha, portanto, o catalão, o galego, o euskera (do país Basco), entre outros dialetos de menor expressão nacional. É natural que, fora da Espanha, para outros países, a língua da unidade nacional espanhola seja o espanhol; portanto, espanhol e castelhano são a mesma língua.

Então, vamos refletir: se dentro do país existe diferença de sotaque, de vocabulário e a língua segue sendo a mesma, o que falar da mesma língua falada em países diferentes? Neste contexto, a língua espanhola teve a contribuição de vários idiomas locais do continente americano, como o aimara, náhuatl, guaraní, chibcha, mapudungun, taíno, maya e quechua, contribuindo, assim, para o vocabulário do idioma de uma maneira geral, não só nas áreas de atuação de cada língua indígena. A história da língua portuguesa não é diferente; passa pelo mesmo processo, mas com outros elementos. O que se pode notar é que a língua castelhana também serviu para unificar muitas tribos que, por falarem idiomas diferentes, não tinham contato entre si. Com o espanhol, isso se tornou uma realidade.

CURIOSIDADE Há um fenômeno importante que explica algumas diferenças entre variantes de idiomas como o espanhol ou o português. Espanha e Portugal espalharam seus territórios e impuseram seus idiomas; as terras conquistadas, hoje independentes, seguem usando a mesma língua, e muitas vezes conservam aspectos ainda da época da chegada do conquistador em seu território. São arcaísmos que fazem com que se diga que o português falado no Nordeste do Brasil, hoje, é a variante do português mais antiga do mundo, incluindo entre elas o português de Portugal atual. No caso do espanhol, o uso do vos no lugar do tú atual do castelhano, é um exemplo. O vos certamente nasceu na língua espanhola e não depois da saída dos espanhóis da América.

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Capítulo 1

O império romano, como foi dito, espalhou seus soldados por todo seu território e, no seu auge, se estendeu de Portugal até o Oriente Médio, e da Inglaterra até o norte da África. Eles foram os maiores responsáveis pelas misturas do latim (vulgar) com outros idiomas. Essa foi a língua latina aprendida e usada nas situações do dia a dia.

CURIOSIDADE O latim é uma língua originada da região do Lácio, na atual Itália. É muito comum se ouvir falar em latim clássico e latim vulgar. O clássico era falado e escrito pelas pessoas cultas, de acordo com a normatização. O caso do latim vulgar era, simplesmente, a língua falada nas ruas, pelo povo, e que originou todas as neolatinas conhecidas.

O latim vulgar é a base de todas as línguas ibéricas atuais, com exceção do euskera, idioma falado no País Basco que, ainda assim, teve influência no léxico, ou seja, no seu vocabulário. Na região, muitos idiomas pré-romanos desapareceram, ficaram no caminho, mas, a herança de palavras das línguas nativas seguiu junto com os novos idiomas que se formaram e que existem nos nossos dias. Veja alguns exemplos de palavras que demonstram essa transição: cervesia > cerveja; camisia > camisa; lancea > lança. Com o fim do Império Romano do Ocidente, todo o território que, um dia, falou latim, ficou sob a influência de novos povos conquistadores. É claro que, em cada região da Europa, esta mistura aconteceu com elementos diferentes. Essa combinação com o latim gerou idiomas diferentes; em alguns se nota mais, em outros se nota menos, porém todos têm a estrutura do latim como um código genético. O que nós vamos estudar, neste capítulo, é justamente o fruto deste processo de histórias semelhantes, mesma estrutura gramatical - que se conserva até hoje - e, na maioria das vezes, uma estrutura fonética inconfundível entre as línguas desta família. O espanhol, como o português, nasceu da combinação de línguas já existentes na região da península ibérica. Entre os povos pré-românicos que lá estiveram estão os celtas, bascos, gregos, fenícios, cartagineses, entre muitos outros. Muitos desses povos viveram em regiões diferentes da península na mesma época.

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Capítulo 1

Os romanos ocuparam toda a península e lá ficaram por muitos séculos; deram unidade geopolítica à região e fizeram do latim a língua principal, a língua da unidade do império. Nesta província romana, denominada Hispânia (terra dos coelhos), os romanos saíram com o fim do Império do Ocidente (476 d.C.). Tempos depois, chegaram os árabes que, por sua vez, ficaram oito séculos presentes em quase toda a península. Viveram séculos luminosos com a fundação de universidades, com a liberdade da prática e da tolerância religiosas e das liberdades de expressão de maneira geral; com a introdução da noção de conforto, que até então os europeus não conheciam (e a herança de palavras como almofada, alcatifa, tapete etc.); com a construção de esgotos nas cidades. Outra presença, nas nossas vidas, são os números que usamos nos dias de hoje, os algarismos arábicos; os árabes sempre foram forte nas matemáticas, daí os termos usados para medição como quilate, quintais métricos, fanegas e arrobas. É claro que, diante de uma civilização tão forte, a língua e a cultura se enraizaram por onde ela (neste caso, a civilização) passava. Circular por Espanha e Portugal, nos dias de hoje, é presenciar a arquitetura árabe espalhada pelas cidades, sobretudo no sul de ambos os países. Esse foi mais um elemento para definir nossos idiomas neolatinos da península ibérica. O português, o galego, o catalão, o castelhano, e outros de menor difusão, todos têm, em seu vocabulário e em sua pronúncia, a importância da língua árabe na península ibérica. Nesta breve história da língua espanhola, vimos o processo de formação e transformação de um idioma e pudemos perceber, também, que esse processo foi percorrido por todas as línguas neolatinas, para terem a forma que têm hoje. Fazendo parte da mesma família e com processos históricos parecidos, percebemos o porquê da semelhança entre o espanhol e o português. Na sequência, vamos nos dedicar ao estudo dessa estrutura para você conhecer as semelhanças e as diferenças. Algo interessante a observar é que, mesmo entre as línguas latinas, há as que são mais semelhantes que outras, tomando como ponto de referência o português, claro. A fonética é a maior responsável por essa aparência. O que as pessoas não percebem é que o contato, a frequência com que se usa o idioma-alvo, e a presença deste no seu dia-a-dia nos dá, muitas vezes, uma impressão de facilidade e de consequente proximidade. Um exemplo que podemos dar é a observação a seguir:

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Capítulo 1

Você acha o francês uma língua difícil, complexa? Veja que interessante: o francês faz parte da mesma árvore genealógica do português. Parece estranho, não é? Afinal, sua estrutura fonética, aparentemente (quando se escuta), não parece com a do português, como é o caso do espanhol, ou ainda do italiano; no entanto, ambas são línguas latinas. O que realmente define isso é o pouco contato que temos com o francês. Muito diferente do que temos com o inglês, por exemplo. Este está presente em nomes de centros comerciais (shopping center); de pessoas (Jennifer); de hábitos (happy hour); de alimentos (hambúrguer, quando antes da chegada deste modelo de congelado vindo dos EUA, no Brasil, o chamávamos de “bife alemão”); de filmes (Hollywood é mais presente para nós do que o cinema nacional); de músicas (basta lembrar que os CDs de novela versão internacional, em geral, são 100% de músicas em inglês. É claro que, como isso acontece, historicamente, desde o regime militar no Brasil, são então mais de 40 anos em que vivemos sob esta influência. Sendo assim, muita gente acha o inglês familiar. É compreensível que as pessoas não saibam que o vocabulário da informática, por exemplo, que nos chega com sotaque inglês, é quase todo de origem latina ou grega. Esse é o efeito de uma influência de uma língua sobre a outra. Diferente do espanhol e do francês, o inglês não tem nenhuma relação histórica com o português, não tem uma relação fonética estreita, mas a familiaridade é tamanha que há quem diga que o inglês é mais fácil do que o francês, por exemplo. Para um caso assim, basta que vejamos as pessoas da conjugação do português, do espanhol, do francês e do inglês, para que percebamos a proximidade e a semelhança de fato entre os idiomas: Espanhol

francês

Português

Inglês

Yo

Je

Eu

I

Tu

Tu

You

Él, ella, usted

Il, elle

Ele, ela (você)

He, she, it

Nosotros

Nous

Nós

We

Vosotros

Vous

Vós

You

Ellos, ellas, ustedes

Ils, elles

Eles, elas, (vocês)

They

Quadro 1 - Comparativo entre os pronomes pessoais das línguas latinas e do inglês

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Referências ADVÉRBIOS. Disponível em: <http://www.123teachme.com/learn_ spanish/sp_ adverbios>. Acesso em: 18 jun. 2010. ANDALUCIA. Disponível em: <http://www.mundanotours.com.ar/usr/ archivos/73_Andalucia.pdf>. Acesso em: 17 jun. 2010. ARIAS, S. L. Espanhol para o vestibular. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006. BENTES, A. C.; REZENDE, R. C.; MACHADO, M. A. R.(Orgs.). Língua como prática social: das relações entre língua, cultura e sociedade a partir de Bourdieu e Bakhtin/ William F. Hanks. São Paulo: Cortez, 2008.

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