Projeto - Sereias da Penha

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Projeto

Sereias da Penha



Motivamos pela nomenclatura empregada por Ronaldo Fraga em sua atuação no Workshop do projeto “Praia da Penha muito além de sol e mar” , o nome Sereias da Penha adotado carinhosamente para denominar as moradoras da Comunidade da penha e regiões circunvizinhas passou a representa-las tornando-se uma menção do encanto de suas atitudes, conhecimentos, iniciativas e experiências de vida. Não apenas um registro nominal de sereias, mas um elemento de identidade do que as representam: mulheres dedicadas ao ofício de mãos caprichosas, alusões de superação e artífices de suas próprias histórias. A construção projetual do elemento de identificação imagético do grupo que as mulheres passaram a representar fomentou a pesquisa sobre mitos e lendas relacionadas a história de umas das comunidades mais antigas da cidade de João Pessoa. Descobrir o que representava cada uma

das mulheres e envolver os subsídios que lhes unem, mergulhar nos referenciais históricos da comunidade, nos mitos, contos e lendas tornou-se indispensável e direcional para a gênese de todo o projeto.

Contexto





A Barreta de corais da Praia da Penha esconde grandes mistérios. Muitos pescadores relatam que, nas noites de lua, escutavam sons semelhantes aos de pífanos e de harpas, melodias fascinantes que vinham da Barreta. Antigos mestres contavam que um pescador encontrara uma sereia naquela região e que com ela vivera por muitos anos. Mulheres da vila dizem também que uma misteriosa mulher com as mãos esquisitas havia surgido por lá muito tempo atrás. Era uma mulher exótica, formosa, vestia-se de tule e tinha os braços e pescoço ornamentados com muitas joias. Ela apareceu cerca de duas vezes procurando por fios e agulhas.

Há registros datados de 1770 das histórias de D. Maria Stela da Penha Lavror Mares, uma das mais antigas moradoras da região.

Lendas e Contos


Uma moça bela, delicada e dedicada ao ofício. Suas mãos pareciam seda, leves e ágeis. Tecia ornamentos com tanta desenvoltura que todos se encantavam. Suas mãos bailavam sobre fios e laminas de pérolas com tamanha agilidade que era impossível acompanhar com os olhos. Entrances, alinhavos, furos e nós... um ofício caprichoso que transformava-se em adereços maravilhosos para moças. Conhecida como Sereia da Penha, de suas mãos saiam as mais notáveis joias já vistas em toda a região. As mulheres que usavam os adornos por ela confeccionados ficavam tão atraentes que seduziam a todos os homens. Mas nem sempre suas mãos foram assim admiráveis. O que poucos sabiam é que em tempos passados suas mãos eram estranhas, roliças, parecidas com barbatanas. Escutávamos histórias de que ela havia sido encontrada no oceano. Foi resgatada ainda jovem por um mestre pescador da vila que contou tê-la encontrado próximo à Barreta numa noite de grandes aventuras em alto-mar. Pescava no grande oceano quando de repente o tempo fechou. Nuvens escuras e uma forte chuva provocaram uma grande tormenta. Foi então que avistou um gigantesco veleiro holandês vindo em sua direção. Opulento, com muitos canhões e velas grandiosas. Antes que o mestre pudesse prever, eles o atacaram. Não haveria escapatória. Prostrou-se em sua jangada e fez preces a Nossa Senhora da Penha, pedindo que intercedesse a Cristo por sua salvação. Veio de repente a ideia de amarrar-se em sua jangada e esperar pelo fim.


Uma melodia então ecoou em meio a chuva, e a tormenta findou-se. O grandioso veleiro fora direcionado à fonte do som e para lá seguiu sem não mais voltar. Pouco restou de sua jangada, destruída pela tormenta e pelos tiros de canhão. Amarrado ao mastro, à deriva, conseguiu boiar até a Barreta, onde encontrou uma vistosa moça, de olhar profundo e gestos delicados. Seus braços e pescoço estavam ornamentados de encantadores colares feitos em fios de cabelo e lâminas de pérolas. Ela o ajudou e o levou onde pudesse esperar a maré baixar para então nadar até a costa. Em minhas andanças quando infanta pela praia, encontrei uma senhora que me convidou para descansar próximo das pedras de corais. Apontou para o mar e narrou a história de uma mulher que por lá vivia. Disse que uma bela e graciosa moça havia nascido com mãos e cauda de peixe. Nas noites lua, essa moça via os nativos de nossa praia tecendo e entrelaçando fios de suas redes. Seu desejo era poder um dia tecer fios com suas mãos e cobrir-se deles. Entretanto, suas mãos eram barbatanas, não conseguia sequer laçar seus cabelos. Decidida, procurou pela rainha dos mares e lhe fez o pedido para que pudesse ter mãos com dedos. A rainha disse-lhe que um dia



ela encontraria um amor capaz de transformá-la, aí então seu grande desejo seria realizado. Certa vez, distraída com as pedras e conchas que encontrava no mar, entrelaçou-se na peça produzida pelos pescadores. O que lhe era encantador aos olhos, agora lhe aprisionara. Viu-se fortemente arrastada pelas redes forçada a subir para a superfície quando subitamente seu olhar assustado foi de encontro ao olhar surpreso de um pescador. Os dois entreolharam-se por um tempo e ficaram inertes. Algo inexplicável acontecera entre eles e ele a devolveu ao mar. Todos os dias retornava ao mesmo lugar e com ela se encontrava. Levava-lhe presentes, fios e tranças, mimos que a deixava feliz. Com o passar do tempo, a profecia da rainha do mar se cumpriu. A paixão dos dois a transformou em uma linda mulher e seu maior desejo pôde ser realizado. Com suas mãos, entrelaçava pedras do mar e lâminas de pérolas aos fios de seus cabelos. De suas mãos eram produzidos os mais belos ornamentos. Depois de contar essa história, a senhora perguntou meu nome, sorriu e entregou-me raspas de pérolas e fios avermelhados. Levantou-se, removeu as areias de suas pernas e seguiu em direção o mar.

” Tempos posteriores, histórias e lendas formaram-se a cerca de quem era conhecida como a suposta Sereia da Penha.



Mapa Mental


Proposta 01

“ As

águas misturam cores No papel formam fulgores. A mistura assim se faz O papel, a cor e a água Aquarela tú és doçura Delicadeza nos traz. ”

Atentamos para a elaboração de uma proposta que promovesse a aproximação com a produção manual a partir da aplicação de tinturas e da tipografia. Ao nome, utilizamos uma tipografia próxima ao lettering – combinação de letras e formas projetadas e desenhadas – e as formas associadas, utilizamos a aplicação de aquarelas – tinturas a base de água, leve e mutável. Ao “S” de “Sereias” agregamos a referencia a forma de cauda e rabo de sereia e as formas da aquarela estimulam os movimentos dos mares e as cores do céu estrelado *** A aplicação de cores ainda não promovida. Objeto com formas e cores em análise e estudo ***



Proposta 02 “As Linhas ganham as formas que desejamos.” Os signos buscam representar os objetos e assim buscamos referencias e elementos que promovessem o reconhecimento da comunidade da praia da penha a fim de promover um estudo iconográfico da região a qual o projeto representa. Coqueiros, cajueiros, casas, capela, escadaria, águas, sereia, ponta e farol do cabo branco aqui são representadas como aspectos e referenciais histórico da cultura das mulheres que vivem na comunidade da praia da penha e regiões circunvizinhas.


Dos elementos, projetamos de um brasão com representatividade de força, compromisso, história, tradição, vida, percursos e sentimentos. Os signos remontam lendas e contos de atos de coragem e bravura de historias contadas e pelas sereias. *** A aplicação de cores ainda não promovida. Objeto com formas e cores em análise e estudo ***


Proposta 03 A formação da proposta baseia-se na projeção manual tipográfica. De formas e desenhos feitos nas areias da penha, promovemos uma ligação entre as formas de uma sereia. As curvas de seus cabelos o formato de sua cauda e a representação do rebo de uma sereia. A abstração da imagem de uma sereia a partir da forma construída pela tipografia. A ele, associamos ilustrações náuticas antigas que remetem ao teor histórico da região.




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