Saúde informa 33 web

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Médico 24 horas E

les se desdobram em múltiplos empregos, precisam se atualizar fora do horário de trabalho e atendem pacientes até de madrugada. Tanta correria coloca a saúde dos próprios médicos em risco, já que o estresse é um fator de adoecimento. Mas isso não impede os profissionais de se dedicarem à sua vocação.

Páginas 4 e 5

PESQUISA Treinamento para emergências pode ser mais eficaz

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PEDIATRIA Orientações para aliviar a cólica do bebê

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ENTREVISTA Medicina da UFMG e os rankings nacionais

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Editorial Para lembrar o Dia do Médico, comemorado em 18 de outubro, destacamos, nesta edição, o cotidiano destes profissionais que cuidam da saúde alheia, mas nem sempre conseguem ter uma vida saudável, como recomendam aos seus pacientes. Veja o depoimento de especialistas que se desdobram para conciliar o trabalho com a vida pessoal. Confira também uma pesquisa que analisa a fixação dos conhecimentos transmitidos em cursos de capacitação para o atendimento de emergência. Para os pais de primeira viagem, uma pediatra ensina como amenizar o desconforto dos bebês com as cólicas e a identificar o refluxo. O Saúde Informa também entrevistou a subcoordenadora do Colegiado de Medicina da UFMG para analisar o desempenho do curso, que teve destaque em rankings nacionais. E na sequencia dos temas que serão discutidos no 3º Congresso Nacional de Saúde, conheça o eixo “Multifaces da violência: realidade e enfrentamento”. Boa leitura!

Publicação Epidemiologia e Saúde Pública 3ª edição

Tema: Lidando com a perda Especialista em medicina preventiva e saúde pública, o professor da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais, Carlos Henrique Mudado Maletta, aborda em seu livro questões epidemiológicas de maneira didática, com um conteúdo teórico que reflete a realidade de forma simples. O autor tem a preocupação de tornar sua obra uma fonte de consultas acessível a todos os que se dedicam aos serviços de saúde. “Epidemiologia e Saúde Pública” foi lançado pela Editora Atheneu em 1988, e chega à sua terceira edição como uma leitura necessária a todos aqueles que se dedicam à área da medicina preventiva. Editora Coopmed

Professor

Frederico Garcia 16 de Outubro | Quarta-feira | 12h30 www..medicina.ufmg.br/quartadasaude

Local: Sala 150 Faculdade de Medicina da UFMG Av. Prof. Alfredo Balena, 190, 1º andar Santa Efigênia - Belo Horizonte

Entrada gratuita e aberta ao público

Erramos Na edição 32 do Saúde Informa, de setembro de 2013, mencionamos na página 2 que o livro Neuropsicologia do Envelhecimento foi editado pela Fólium. Na verdade, a publicação é da editora Artmed. Já na matéria “Reabilitação ajuda a viver bem com deficiências” (páginas 4 e 5), citamos o nome do professor Marcos Aguiar como Marcelo Aguiar. Na mesma edição, na página 8, a data informada do 3º Congresso Nacional de Saúde da Faculdade de Medicina da UFMG, de 26 a 28 de março, se refere ao ano de 2014.

Expediente Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais – Diretor: Professor Francisco José Penna – Vice-Diretor: Professor Tarcizo Afonso Nunes Coordenador da Assessoria de Comunicação Social: Gilberto Boaventura – Editora: Alessandra Ribeiro ( Reg. Prof. 9945MG) – Redação: Jornalistas: Larissa Rodrigues, Mariana Pires e Rafaella Arruda (Nupad) – Estagiários: Jéssica de Almeida, Karla Escarmigliat, Tayrane Corrêa e Victor Rodrigues. Projeto Gráfico: Ana Cláudia Ferreira de Oliveira e Leonardo Lopes Braga. Diagramação: Luiz Romaniello - Atendimento Publicitário: Desirée Suzuki – Impressão: Imprensa Universitária - Tiragem: 2000 exemplares – Circulação mensal – Endereço: Assessoria de Comunicação Social, Faculdade de Medicina da UFMG, Av. Prof. Alfredo Balena, 190 sala 55 - térreo, CEP 30.130-100, Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil – Telefone: (31) 3409-9651 – Internet: www.medicina.ufmg.br; facebook.com/ medicinaufmgoficial; www.twitter.com/medicinaufmg e jornalismo@medicina.ufmg.br. É permitida a reprodução de textos, desde que seja citada a fonte.

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DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA

Treinamento para emergências pode ser mais eficaz Tese de doutorado defendida na Faculdade de Medicina da UFMG reúne informações que podem contribuir para a melhoria dos cursos de capacitação Victor Rodrigues

Ilustração: Bruna França

om o objetivo de entender e desmistificar o ensino da emergência médica, o cardiologista Heberth César Miotto investigou vários aspectos relacionados à instrução da ressuscitação cardiopulmonar para leigos e profissionais da saúde. De acordo com o médico, a preocupação maior é com a retenção desse conhecimento. “O índice de esquecimento desses procedimentos é muito alto. Um exemplo é a dificuldade apresentada por muitos para realizar movimentos coordenados durante o atendimento à parada cardíaca, um ano após terem passado por um treinamento do tipo”, afirma Heberth. Foram cinco estudos diferentes desenvolvidos durante a pesquisa, com dados recolhidos entre os anos de 2010 e 2011, envolvendo cerca de 2 mil pessoas no total. O maior dos estudos apresentou dados de 1284 alunos dos cursos de Suporte Avançado de Vida, ministrados pelo cardiologista. Com base em um questionário aplicado ao fim do curso, Heberth montou um banco de dados com fatores que poderiam influenciar a retenção do conhecimento.

Influências O que mais interferiu na fixação dos conhecimentos foi a idade. “O aluno mais velho apresentou mais dificuldade para aprender, quando comparado com os alunos mais novos”, afirma o pesquisador. A hipótese que justificaria essa constatação é o fato desse aluno, com mais de 30 anos, ter uma rotina mais complicada que os jovens. “Eles trabalham mais, são mais atarefados, ficam mais cansados e não têm tanto tempo para estudar”, explica Heberth. O uso de antidepressivos e a residência fora da Região Metropolitana de Belo Horizonte também foram indicadores de pior aprendizado. “Sabendo que esses fatores são importantes, podemos preparar estratégias que foquem mais nessas pessoas e aumentem a chance de manterem esse conhecimento”, argumenta o autor da tese. Heberth ressalta a importância de se manter atualizado, particularmente para profissionais da área que não fazem atendimentos desse tipo com frequência. “É interessante repetir anualmente esse tipo de treinamento para fixar o conhecimento e, quando se fizer necessário, realizar com sucesso um atendimento desse tipo”, afirma o pesquisador. Ensaios clínicos Os outros estudos que integram a pesquisa, por outro lado, responderam perguntas mais pontuais. O primeiro envolveu a comparação entre o ensino apenas teórico e o ensino teórico-prático. A avaliação, realizada com manequins especialmente preparados para esse tipo de situação, mostrou desempenho consistentemente melhor entre os alunos que realizavam um treinamento simulado como parte do curso. Já o segundo estudo mostrou que a diluição da car-

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Foto: Bruna Carvalho / Arquivo ACS

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Treinamento em ressuscitação cardiopulmonar feito com manequins

ga horária de um curso de Suporte Avançado de Vida em mais dias – quatro, contra os dois usuais – não fez diferença na capacidade dos alunos absorverem o conhecimento. “A partir desses dois estudos, temos argumentos para prepararmos os cursos desse tipo da melhor maneira possível em termos de metodologia e duração”, comenta Heberth. A preocupação com a facilidade de aprendizado também se refletiu no terceiro ensaio clínico. O pesquisador comparou o desempenho de dois grupos de técnicos de enfermagem treinados de acordo com diretrizes distintas recomendadas pela Associação Americana do Coração (AHA, na sigla em inglês) – um com a diretriz 2005, outro com a 2010. Novas avaliações foram feitas 30 e 60 dias após esse treinamento inicial. O grupo que agiu de acordo com a diretriz 2010, mais simples, apresentou melhor qualidade no procedimento de emergência mais importante para o paciente, as compressões. “Reduzir e simplificar os procedimentos a serem realizados durante a ressuscitação cardiopulmonar mostrou-se realmente eficaz para a melhora no atendimento de emergência”, pondera o autor. O último estudo comparou alunos de medicina com alunos de ciências humanas. A primeira avaliação, logo após o treinamento, apontou os dois grupos no mesmo patamar. No entanto, as avaliações posteriores, passados 30 e 60 dias, mostraram dificuldade maior dos estudantes de humanas em realizar alguns procedimentos ou de realizá-los na sequência correta. “O leigo é capaz de aprender essas técnicas, mas a retenção a longo prazo é facilitada pelos conhecimentos adquiridos por quem faz um curso na área de saúde”, analisa Heberth. Título: Fatores envolvidos na capacitação cognitiva e manutenção da habilidade psicomotora de curto e médio prazo para a realização de ressuscitação cardiopulmonar Nível: Doutorado Autor: Heberth César Miotto Defesa: 10 de julho de 2013 Orientadora: Maria da Consolação Vieira Moreira Programa: Saúde da Mulher

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QUALIDADE DE VIDA

Faça o que eu digo Eles cuidam da saúde dos pacientes, mas nem sempre têm uma vida saudável

Foto: Divulgação

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uem nunca saiu do consultório médico com conselhos para uma vida saudável? Praticar exercícios físicos, alimentar-se corretamente, evitar o estresse e abuso de álcool, não usar drogas nem se automedicar ... mas será que o médico que faz as recomendações também as coloca em prática na própria vida? Uma publicação do Conselho Federal de Medicina (CFM), de 2007, organizada a partir de pesquisas com profissionais de todo o país, afirma que os médicos precisam aderir, para si, ao que preconizam para seus pacientes. Mas alerta: nem sempre isso é possível, em virtude das condições muitas vezes adversas no exercício da profissão. Para o professor do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da UFMG, João Gabriel Fonseca, o médico é o profissional de nível superior que enfrenta a pior condição profissional, no momento. “Em todo o mundo pesquisas mostram que o médico sofre muito mais pressão, em comparação com outros profissionais de nível superior, como executivos e agentes do judiciário”, afirma. Um dos fatores citados pelo CFM como preocupante para a saúde do médico é o estresse como fator de adoecimento. Para João Gabriel, são exigidas decisões de alta responsabilidade sem condições ou tempo para tomá-las adequadamente. “A vida do médico tem por natureza tomar decisões. O médico lida o tempo todo com situações inesperadas. O tempo de decisão que ele tem pode ser determinante entre a vida e morte de um paciente”, exemplifica. Ao mesmo tempo, o estado emocional de um médico após um plantão é comparado ao de uma pessoa alcoolizada. “A privação do sono pode levar à desorientação e alteração na capacidade de decisão”, afirma o professor. A pesquisa mostra ainda que, quando comparados a outros trabalhadores, os médicos apresentam prevalência maior de quadros de hipertensão, distúrbios mentais, eczema crônico (doença de pele), doenças do aparelho digestivo e dores lombares. Múltiplos empregos Uma situação comum ao médico brasileiro hoje, de acordo com João Gabriel, é trabalhar em mais de um lugar. De acordo com o CFM, aproximadamente 60% dos médicos trabalham mais de 41 horas semanais. “Um mesmo médico pode acumular funções em um pronto atendimento, hospital e consultório particular, por exemplo”. Em muitos casos, ele atravessa a cidade para ir de um local ao outro, reduzindo o tempo para sua alimentação, descanso e lazer. “Alimentar-se bem é muito difícil.

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O médico é, provavelmente, o profissional que mais se alimenta em pé, ou em trânsito”, diz. Outro problema é a automedicação. “Existe uma dificuldade do médico em lidar com ele mesmo como paciente, e muitas vezes ele não procura um colega para o diagnóstico, por reconhecer os próprios sintomas”, cita. Sobre o uso de drogas e álcool, o professor alerta que João Gabriel: “Existem orquestras só de médicos” o conhecimento sobre os males algumas vezes tem pouca importância para o profissional. “Os médicos são, sobretudo, pessoas como as outras pessoas, que buscam alternativas para frustrações e solidão”. O uso de ansiolíticos, por exemplo, é comum para aliviar as angústias. Já o sedentarismo chegou a ser maior entre os médicos, mas é possível ver uma mudança de perfil, de maneira geral. “Aumentou o hábito de praticar exercícios físicos, principalmente. Muitos médicos praticam a caminhada, ou jogam futebol, ou optam por outro esporte, como motociclismo e trilhas”, conta. A opção pela música também é comum: “Existem orquestras só de médicos, e inúmeras bandas de colegas de profissão”.

Fotos: Bruna Carvalho

Mariana Pires

Saúde mental O dia a dia estressante devido aos plantões extensos, a necessidade de atualização constante sobre os avanços da Medicina e a intensidade das cobranças acabam afetando a qualidade de vida do médico e sua saúde emocional. Além desse cenário complicado, o profissional é exposto a situações desgastantes no contato com os pacientes, como o diagnóstico de uma doença sem cura, o erro e, muitas vezes, a morte. A pesquisa do CFM mostra que essas situações de estresse e a vulnerabilidade a crises pessoais levam a sentimentos de solidão, depressão, ansiedade, insônia, problemas com álcool ou drogas psicotrópicas, assim como outras manifestações físicas. Acesse a pesquisa completa do CFM: http://www.portalmedico.org.br/include/asaudedosmedicosdobrasil.pdf

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Apoio na graduação Tayrane Corrêa

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ara lidar com todas as questões que afetam a saúde emocional do médico e, consequentemente, seu desempenho profissional, algumas escolas de medicina oferecem serviços de apoio psicológico e psiquiátrico, dando suporte ao aluno durante sua formação. A Faculdade de Medicina da UFMG presta esse serviço por meio do Núcleo de Apoio Psicopedagógico ao Estudante da Faculdade de Medicina (Napem). Segundo o coordenador do núcleo, o psicólogo Gilmar Tadeu de Azevedo Fidelis, o apoio oferecido prepara os estudantes para encarar o dia a dia do médico. “Nós tentamos fazer com que o aluno desenvolva padrões de amadurecimento para que ele aproveite plenamente o curso, já que eles lidam com um cenário da condição humana, que às vezes é muito difícil”, alerta. A relação entre médico e paciente também é trabalhada. “A função é fazer com que o estudante e o jovem médico desenvolvam competências de envolvimento e, ao mesmo tempo, de autopreservação, para que assim, eles possam ter uma vida plena e saudável”, completa Gilmar.

Equipe do Napem oferece apoio psicológico para estudantes

O Napem presta atendimento exclusivo aos alunos, mas Gilmar defende um núcleo que preste apoio também ao profissional. “Médicos já me procuraram, e de vez em quando cai um residente aqui pra gente atender. Não é o objetivo do Napem, mas se for uma situação mais emergencial nós atendemos. Eu atendo muitos médicos no meu consultório particular, e é por situações como essa que você percebe claramente que a demanda pra esse tipo de profissional também existe”, analisa Gilmar.

24 horas

Larissa Rodrigues

Receber ligações de pacientes fora do horário de que quando eu estava começando a operação, uma outra atendimento, fazer cirurgias de madrugada ou cancelar paciente me ligou dizendo que estava em trabalho de pareventos em função de alguma emergência: em certas es- to e que também estava indo para o hospital. Um colega pecialidades médicas, o tempo dedicado terminou a cesariana por mim e eu aos pacientes é ainda maior. fui para o outro hospital e acompanhei o outro parto. Quando se tem É o caso da Obstetrícia. A gesboa vontade, no final dá tudo certante pode entrar em trabalho de parto”, diz. to e precisar da ajuda do profissional a qualquer momento. A professora Outra especialidade que deda Faculdade de Medicina da UFMG, manda tempo e dedicação do proAlamanda Kfoury, conta que o obstefissional é a Pediatria. A professora tra não tem uma rotina. “Nós fazemos associada do Departamento de Peuma previsão, uma possibilidade de fadiatria, Jussara Fontes, reconhece zer um agendamento de consultas ou que há uma preocupação excessiatividades cirúrgicas, mas boa parte da va dos pais com seus filhos. “Meu atividade é imprevisível”. Isso porque marido também é pediatra e antes os partos normais correspondem a quade me formar via os pais ligando o se metade dos partos realizados no Brasil tempo todo e eu achava desneces(48%) – embora o percentual ainda esteja sário. Porém, quando minha filha abaixo do recomendado pela Organizateve a primeira febre, fiquei muito ção Mundial da Saúde, de 85% . Nesses preocupada e percebi o que aquelas casos, não há como ter uma previsão pessoas sentiam”, relembra. exata do dia e horário em que a mulher Ainda de acordo com JusAlamanda Kfoury já teve que atender duas entrará em trabalho de parto. pacientes em trabalho de parto sara, essa preocupação é comum, Em 26 anos como obstetra, ainda mais quando os pais são de Alamanda relembra a história que ela primeira viagem. Por isso, a imporconsidera uma “situação muito angustiante”. “Era final tância de mostrar a eles que esse profissional está à disdo ano, a semana entre o Natal e o Ano Novo. Tive uma posição. “Ao passar o número do nosso celular, os pais se paciente que a bolsa rompeu e ela foi para o hospital. Ela sentem mais seguros e percebem que estaremos ali para o me ligou à meia-noite e eu fui fazer a cesariana dela. Só que precisarem”, ressalta.

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PEDIATRIA

Choro do bebê pode ser problema de digestão Cólicas e golfadas são comuns nos recém-nascidos e só devem consideradas como um problema se interferirem no desenvolvimento das crianças Karla Escarmigliat

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choro é uma das formas de comunicação dos recém -nascidos. E o que mais chama a atenção dos pais. Apesar de bastante frequente nos primeiros dias de vida, pode ser o sinal de que algo não está bem com a criança. Dentre os principais motivos de preocupação estão os desconfortáveis problemas digestivos, como a cólica e o refluxo. Esses transtornos estão relacionados à imaturidade do sistema digestivo e nervoso central e, para alívio das crianças e dos pais, tendem a serem minimizados antes dos doze meses de vida. Irritabilidade, agitação ou choro durante pelo menos três horas por dia, mais de três dias na semana em pelo menos três semanas, nas crianças que estão crescendo e se desenvolvendo bem, pode ser sinal de cólica. “Geralmente o transtorno surge na segunda semana de vida e se intensifica entre a quarta e a sexta semana”, explica a professora do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da UFMG, Maria do Carmo Barros de Melo. Segundo a professora, a cólica é uma condição transitória e sem riscos. “O transtorno normalmente ocorre no período da tarde e à noite, e pode durar desde alguns minutos até várias horas”, esclarece. Nas crises, o bebê normalmente encolhe as pernas sobre o abdômen, abre os braços e fecha as mãos, fica muito vermelho e chora, parecendo não se acalmar com nada. “Depois de o choro desaparecer o bebê volta a ficar com o seu aspecto normal”, completa. Orientações Embora pareça incontrolável, o choro não pode trazer sensação de incompetência nos pais ou discórdia entre o casal. “A cólica pode ser aliviada com a interação das crianças com os pais. Para isso, eles precisam ter paciência”, orienta o professor Marcos Carvalho de Vasconcelos, também do Departamento de Pediatria. Para amenizar os quadros de cólica, a criança pode ser colocada de bruços e ter a barriga aquecida com um pano morno. Outra forma é abraçar o bebê para que ele sinta os batimentos cardíacos e a respiração dos pais, como se fosse uma “volta ao útero”, aconselha o professor. Já os medicamentos devem ser evitados. “O que menos ajuda a amenizar a cólica é o medicamento. Os da família do paracetamol podem ser tóxicos ao fígado do bebê e os da família da simeticona têm pouco valor, são mais um efeito placebo”, explica Marcos Carvalho. Refluxo O refluxo, golfada de pequeno volume, é outro motivo para o choro dos bebês. A maioria dos pais fica muito preocupada em ver a criança devolvendo o alimento pela boca. Entretanto, é preciso ter calma. “Não é qualquer regurgitação de leite que o bebê apresenta que pode indicar algum problema”, ressalta a professora Maria do Carmo. A regurgitação ocorre porque a transição entre o

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Foto: Bruna Carvalho

A professora Maria do Carmo ensina a lidar com os bebês

esôfago e o estômago, conhecida como esfíncter esofagiano, ainda está em desenvolvimento. Com a imaturidade, o esfíncter relaxa e não trabalha como deveria. Por isso, o retorno de um pouco de leite após a mamada, quando o bebê arrota, é normal. “Nesse caso, a criança é um ‘regurgitador feliz’, pois golfa após o aleitamento e os pais não devem se preocupar”, ressalta o professor Marcos Vasconcelos. A golfada só vai ser considerada problema quando interferir no desenvolvimento da criança. “O refluxo gastroesofágico pode ser ocasionado por alteração na entrada ou na saída do estômago, ou alergia ao leite de vaca”, diz o professor. De acordo com ele, o bebê com esse tipo de refluxo não engorda, e pode ter problemas relacionados à aspiração do leite, como tosse e bronquite. O tratamento do refluxo gastresofágico passa por mudanças na postura dos bebês ou pela utilização de medicamentos. Alimentar os pequenos em intervalos menores, deitar somente depois de uma hora da mamada, primeiro para o lado direito e depois do esquerdo, são algumas medidas que contribuem para a melhor absorção do alimento pela criança, recomenda Maria do Carmo.

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ENTREVISTA

Medicina da UFMG entre as 10 melhores do Brasil “A sociedade reconhece a necessidade da nossa existência e espera que formemos médicos competentes” Larissa Rodrigues

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curso de Medicina da UFMG ficou em 8º lugar na tes da evolução do conhecimento e suas competências para avaliação de ensino e alcançou a 5ª posição na ava- compreender temas exteriores ao âmbito específico de sua liação de mercado do Ranking Universitário Folha 2013. profissão, ligados à realidade brasileira e mundial e a outras No quesito ensino, valem pontos trabalhos científicos pu- áreas do conhecimento. Os resultados do Enade produblicados pela instituição, citações desses trabalhos em outras zem dados para a construção de referenciais fundamentais pesquisas, publicações e citações por docentes, dentre ou- à definição de ações voltadas à melhoria da qualidade dos Foto: Bruna Carvalho cursos de graduação. tros. Já no critério de mercado, foram ouvidos 1.681 Pertencemos a uma responsáveis pela área de Faculdade centenária, com recursos humanos de emboa infraestrutura e corpo presas. Em outra avaliação, docente com excelência do Guia do Estudante da acadêmica. Somos também Editora Abril, pelo segunuma universidade pública, o do ano seguido, o curso foi que significa que a sociedade reconhece a necessidade avaliado com cinco estreda nossa existência e espelas, que correspondem ao ra que formemos médicos conceito excelente. Convicompetentes. A avaliação é damos a subcoordenadora uma forma de prestarmos do Colegiado de Medicina contas a essa sociedade. da UFMG, Cristina Alvim, para repercutir o desempeApesar disso, nosso nho nas avaliações. Confira: resultado no último Enade, em 2010, foi aquém do Saúde Informa esperado. Ficamos em 67o O curso de Medicina da Cristina Alvim, subcoordenadora do Colegiado de Medicina lugar, no quesito relativo à UFMG apareceu entre os prova escrita dos estudan10 primeiros colocados, tes. Houve muita discussão tanto no quesito mercaa respeito dos motivos que levaram a este resultado, consdo, quanto no ensino. Como você avalia esta colocatituindo uma oportunidade para a reflexão sobre o ensino, ção? a avaliação e a formação do nosso estudante. Cristina Alvim: Todos nós desejamos e trabalhamos SI - O que ainda é preciso fazer para que o curpara o aprimoramento contínuo do nosso curso. A qualidaso melhore ainda mais de posição? de é resultado da diversidade de atuação no ensino, pesquisa Cristina Alvim: Como disse, a posição em rankings e extensão. A posição no ranking das universidades da Folha de São Paulo não é um objetivo, mas um reconhecimento não é um objetivo. Em relação ao que podemos fazer para melhorar, acredito que a reforma curricular será um dos deste trabalho. SI - Na avaliação de ensino, que também con- marcos desta mudança. O investimento de vários professosidera a nota do Exame Nacional de Desempenho de res em estudar e aplicar métodos de ensino e aprendizagem Estudantes (Enade), o curso ficou em 8º lugar. Já na mais adequados, a construção da matriz de competências avaliação do mercado, o curso ocupa a 5ª posição. O essenciais do curso de Medicina da UFMG e o aprimoramelhor desempenho no Enade poderia melhorar a co- mento do nosso sistema de avaliação são avanços importantes. Cuidar do nosso cenário de ensino para preservar a locação da Faculdade no ranking? tradição de formação de médicos com base na integração Cristina Alvim: Sim, o Enade é um dos componen- ensino-serviço. tes considerados por este sistema de avaliação. É importante SI - Com a UFMG aparecendo em 3º lugar geral ressaltar que a UFMG ficou em segundo lugar no quesito na avaliação e com a nova seleção do vestibular, por ensino. meio do Sisu (Sistema de Seleção Unificada, do MiSI - Os estudantes do curso de Medicina vol- nistério da Educação), você acredita que o curso de tarão a ser avaliados pelo Enade este ano. Qual é a Medicina será ainda mais disputado? expectativa do Colegiado com relação à participação Cristina Alvim: Esperamos que o curso de Medidos alunos da UFMG? cina esteja sempre entre os primeiros a serem escolhidos Cristina Alvim: A expectativa é que o aluno te- pelos candidatos do processo seletivo do Sisu. Como uninha consciência da responsabilidade de sua participação versidade pública federal, temos que ter a possibilidade de no Enade. O Enade avalia os participantes em relação aos receber estudantes de todo o Brasil e desejamos que aqueconteúdos previstos nas diretrizes curriculares nacionais; les que aqui ingressem sintam orgulho de pertencer a esta suas habilidades para ajustamento às exigências decorren- casa.

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Acontece

AGENDA

Congresso propõe enfrentamento da violência Ideia é promover debate que extrapole a área da saúde Jéssica de Almeida

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nserir a violência como pauta permanente a violência desde o seu enfrentamento ao na saúde e encará-la de maneira interdisci- sistema socioeducativo e cultural. As meplinar é o que propõe o eixo “Multifaces da sas terão convidados de diversas áreas, que Violência: realidade e enfrentamento”, do 3º promovam um diálogo para além da saúde. Congresso Nacional de Saúde da Faculdade Dentre os nomes confirmados estão o cônsul da Nigéria, que participará da mesa “Gêde Medicina da UFMG. À frente das discussões estão as profes- nero e Étnico-racial”, e a juíza Maria Lúcia soras Elza Machado de Melo, coordenadora Caran, que participará da mesa “Drogas”, do Programa de Pós-Graduação em Promo- ao lado de psicólogos e sociólogos. “Fica ção da Saúde e Prevenção da Violência da Fa- uma expectativa de fortalecimento dessa inculdade de Medicina da UFMG; e Cristiane terlocução entre saúde, educação, direito e psicanálise”, afirma a Freitas Cunha Grillo, do Departamento de “A importância de ter o tema como professora. Ainda segundo Pediatria, responsável um eixo dentro de um congresso de pelo eixo “A criança, saúde dessa dimensão e a interface Cristiane, as mesaso adolescente e a viocom outras áreas é muito valiosa” redondas serão sempre finalizadas com uma lência”, do Observatório da Saúde da Criança e do Adolescente conversa com os professores e estudantes presentes. “Será aberto um debate com o pú(Observaped). Para Cristiane Freitas, a discussão mos- blico ao final de cada mesa. Queremos protra uma abertura para a formulação de novas mover debates produtivos sobre o assunto políticas públicas e para a interlocução de se- proposto”, adianta. Dentre as novidades, estão atividades tores. “A importância de ter o tema como um eixo dentro de um congresso de saúde des- culturais que serão oferecidas, como oficisa dimensão e a interface com outras áreas é nas de arte, em parceria com a área de Saúmuito valiosa. Além de abrir espaço para falar de Mental da Secretaria Municipal de Saúde sobre o adolescente e o jovem, que ainda fi- de Belo Horizonte, além da participação da cam à margem de discussões“, explica. ONG Undió, com oficinas de teatro, música, O tema será discutido em cinco mesas- artes plásticas e comunicação, coordenadas redondas, que fomentam discussões sobre pela arte-educadora Thereza Portes.

3° Congresso Nacional de Saúde Faculdade de Medicina da UFMG

“Cenários da Saúde na Contemporaneidade” é o tema eleito para o 3º Congresso Nacional da Saúde, que será realizado de 26 a 28 de março de 2014, na Faculdade de Medicina da UFMG. As inscrições já estão abertas. Informações: www.medicina.ufmg.br/3congressosaude

Nos dias 21 e 22 de outubro serão recebidas as inscrições dos candidatos para eleição de diretor e de vice-diretor da Faculdade de Medicina, com mandato de quatro anos, a partir de abril de 2014. A consulta à comunidade acadêmica está marcada para os dias 2 e 3 de dezembro. Mais informações: www.medicina.ufmg.br/editais/eleicoes.php

Workshop Nos dias 29 e 30 de outubro será realizado, em Belo Horizonte, o Workshop Projeto Atenção Especializada em Doença Falciforme (PAE), promovido pelo Centro de Educação e Apoio para Hemoglobinopatias (Cehmob-MG), parceria entre o Núcleo de Ações e Pesquisa em Apoio Diagnóstico (Nupad) e a Fundação Hemominas. O evento, voltado para especialistas, acadêmicos do PAE e hematologistas indicados pela Fundação, irá abordar a neurologia, pneumologia e nefrologia em doença falciforme. Informações: www.cehmob.org.br

Oportunidade O Laboratório de Neurociência da Faculdade de Medicina da UFMG recebe inscrições para seleção de novos membros até 21 de outubro. Podem participar profissionais das áreas da Saúde, Biológicas e Exatas, com interesse em desenvolver pesquisas em genética molecular e análise de imagens. Os candidatos serão submetidos a análise do currículo Lattes e entrevista. Interessados devem enviar seu número de identificação do Lattes para o e-mail inctmedicinamolecular@gmail.com .

IMPRESSO

Multifaces da violência: realidade e enfrentamento Mesa 1: Investigação da Violência Mesa 2: Enfrentamento da Violência Mesa 3: Gênero e Étnico-racial Mesa 4: Adolescente e Violência Mesa 5: Drogas

Nova diretoria

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