Saúde Informa Nº 14

Page 1

Boletim Informativo da Faculdade de Medicina da UFMG Nº 14 - Ano II - Belo Horizonte, setembro de 2011

Drogas e homicídios E

studo realizado junto ao Programa de PósGraduação em Saúde Pública da Medicina revela: quase metade das vítimas de homicídio pesquisadas havia consumido drogas ilícitas antes de morrer. Considerando também o álcool, o percentual ultrapassa 60%. Página 3

CENTENÁRIO A história dos fundadores da Faculdade de Medicina

4

CoNGRESSO O indivíduo, a mídia e a promoção da saúde

ENTREVISTA Pós-graduação precisa ultrapassar fronteiras

7

Ilustração: Ana Cláudia Ferreira

6


Editorial

Publicação

Saúde do português

Colaboração fundamental

Latinismos

A questão das drogas está em plena discussão. Mídia, especialistas, população e autoridades reconhecem que este é um tema urgente a ser resolvido no Brasil. Assim, a pesquisa apresentada na seção de Divulgação Científica é mais do que oportuna. Trata-se da análise de todos os homicídios ocorridos de 2004 a 2007 em Betim, cidade de grande porte da Região Metropolitana de BH. Num universo com mais de mil óbitos, a maioria das vítimas havia consumido drogas lícitas ou ilícitas. Os resultados levam a uma série de reflexões que podem orientar políticas conjuntas de Saúde e de Segurança Pública. Ademais, esta edição é especial pela contribuição do público. A reportagem sobre os fundadores da Faculdade de Medicina nasceu do comentário enviado por um visitante. Ele queria saber de quem eram as assinaturas na parede do hall de entrada. Do mesmo modo, a ideia de falar sobre internacionalização e pós-graduação partiu do próprio professor Manoel Otávio, ouvido na seção Entrevista. Tudo isso prova o quanto as opiniões são importantes para o Saúde Informa. Participe também!

O uso de termos latinos é desnecessário quando existe tradução para o Português. Termos anatômicos, embriológicos e até mesmo de algumas doenças têm a sua tradução nos diversos dicionários da Língua Portuguesa. Assim, no meio médico, sempre que possível, também devem ser trocados. Abdomen/ abdome, pubis/pube, sui generis/exclusivo. Dentre outros efeitos adversos, seu uso pode causar incompreensão e apreensão aos pacientes. O professor titular João Amílcar Salgado, da Clínica Médica, criador do Centro de Memória, que o diga. Ao tornar-se docente, Amílcar levara seus alunos para sua primeira corrida de leito, na Santa Casa. Com seus óculos de aros grossos e negros, cumprimenta e se apresenta ao paciente, portador de grave psoríase. Algo assustado, o paciente recosta-se ao leito. João Amílcar questiona o médico assistente. “Por que não realizar a limpeza diária da pele com soro fisiológico, antes de nova aplicação da pomada?” A resposta: “quod abundant non nocet” (o que é abundante não faz mal). Espanto geral. João Amílcar, com traço de malícia e humor, reage. ”Como?”. Com ar professoral, o assistente repete: “quod abundant non nocet”. O paciente, com os olhos arregalados, pula do leito e grita: “Na minha bunda, não doutor!”. Então, caso não haja preocupação com o Português, melhor evitar os termos latinos, ao menos para evitar confusões.

Boa leitura!

The Spleen (e-book) Editado pelo professor Andy Pretroianu, do Departamento de Cirurgia, o livro eletrônico, inédito, reúne estudos sobre o baço, principal órgão de defesa do corpo humano. São 15 capítulos escritos pelos especialistas em baço de maior proeminência em todo o mundo. As informações compreendem as áreas básica, clínica e cirúrgica, de interesse para estudantes de Medicina, clínicos, hematologistas, oncologistas, anatomistas e cirurgiões. O conteúdo está distribuído em mais de 500 páginas, em inglês, com centenas de ilustrações. Ed. Bentham Science Publishers.

Erramos No número 13, página 8, informamos que Hilton Rocha liderou a equipe responsável pelo primeiro transplante de córnea no Brasil. Agradecemos ao professor Nassim Calixto, que apontou o que ele chama de “equívoco histórico” na notícia: “o primeiro transplante de córnea em Belo Horizonte parece ter sido realizado pelo Prof. J. Santa Cecília em 1932 na Santa Casa”, afirma Calixto. Segundo ele, em 1932, Hilton Rocha não era nem mesmo formado e, portanto, não poderia ter feito a cirurgia pioneira.

Opinião Sua participação é muito importante para o Saúde Informa. Envie críticas e sugestões para jornalismo@medicina. ufmg.br.

Washington Cançado de Amorim Professor do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia O conteúdo desta coluna é de responsabilidade do autor. Contribua para a ‘Saúde do Português’. Envie sua sugestão ou opinião para wamorim@medicina.ufmg.br.

Expediente Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais – Diretor: Professor Francisco José Penna – Vice-Diretor: Professor Tarcizo Afonso Nunes – Coordenador da Assessoria de Comunicação Social: Gilberto Boaventura – Editora: Alessandra Ribeiro (Reg. Prof. 9945/JP) – Redação: Jornalistas: Larissa Nunes, Léo Rodrigues e Marcus Vinicius dos Santos – Estagiários: Fernanda Campos, Fernando Maximiano, Lucianna Furtado, Victor Rodrigues. Projeto Gráfico: Ana Cláudia Ferreira de Oliveira e Leonardo Lopes Braga. Diagramação: Ana Cláudia Ferreira de Oliveira - Atendimento Publicitário: Desirée Suzuki – Impressão: Imprensa Universitária – Tiragem: 2.000 exemplares – Circulação mensal – Endereço: Assessoria de Comunicação Social, Faculdade de Medicina da UFMG, Av. Prof. Alfredo Balena, 190 / sala 5 - térreo, CEP 30.130-100, Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil – Telefone: (31) 3409-9651 – Internet: www.medicina.ufmg.br; www.twitter.com/medicinaufmg e jornalismo@medicina.ufmg.br. É permitida a reprodução de textos, desde que seja citada a fonte.

2

Setembro de 2011


Divulgação Científica

Pesquisa investiga uso de drogas em vítimas de homicídio Entre mais de mil assassinados, quase metade usava drogas ilícitas. Somando-se os que consumiram somente álcool, o percentual ultrapassa 60%

U

Márcia Dayrell: “Ficou evidenciada a falta de cuidado e de preocupação com o valor desses dados”

Setembro de 2011

Importância da informação A pesquisa alerta para a importância dos sistemas de informação, uma vez que esse foi justamente um dos obstáculos encontrados no desenvolvimento do estudo. “Ficou evidenciada a falta de cuidado e de preocupação com o valor desses dados”, observa a autora. Ela reafirma que as informações podem ser úteis para a análise e planejamento de ações e políticas na área da saúde e da segurança pública no país. Márcia Dayrell defende ainda a continuidade do estudo como forma de buscar respostas para algumas das questões levantadas com o maTítulo: Drogas e vulneterial disponível até o momento. rabilidade à morte por “Se aprofundássemos a análise homicídios: um estudo em seria possível tentarmos entenuma área urbana der, por exemplo, características Autora: Márcia Dayrell sociais de populações mais afeNível: Mestrado tadas por esse problema, dentre Programa: Saúde Pública outras informações importantes Orientadora: para entender como se dá a conProfª Waleska Caiaffa figuração da violência dentro de um território”, explica. Defesa: 27/05/ 2011

Ilustração: Ana Cláudia Ferreira

Foto: Bruna Carvalho

ma análise das necropsias de 1010 vítimas de homicídios ocorridos em Betim, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, entre 2004 e 2007, revela que 43% apresentavam traços de cocaína ou maconha no sangue. O percentual de vítimas com presença de drogas ilícitas na corrente sanguínea é mais que o dobro do verificado entre as que apresentaram apenas álcool - 19%. A pesquisa foi realizada pela epidemiologista Márcia Dayrell, junto ao programa de pós-graduação em Saúde Pública da Faculdade de Medicina da UFMG. “Este é um dos primeiros trabalhos desse tipo no Brasil”, afirma a professora orientadora da pesquisa, Waleska Caiaffa, da equipe de coordenação do Observatório de Saúde Urbana de Belo Horizonte (OSUBH), que funciona na Faculdade. Para a autora, Márcia Dayrell, esse é um passo importante para mudar a maneira como os sistemas de saúde e de segurança pública se relacionam. “A violência é vista hoje como um problema apenas da segurança pública. Mas a saúde sempre discutiu a questão da droga. É importante que também se preocupe com o contexto no qual ela se insere”, afirma. Um fato preocupante apontado pela pesquisadora, do ponto de vista do conhecimento sobre a circunstância das mortes, foi o percentual de 15% sem a realização dos exames. Isso sugere que o momento do óbito pode ter ultrapassado o período previsto para detecção das drogas no indivíduo e, portanto, uma importante circunstância ficou desconhecida. Estes óbitos que não foram examinados também apresentaram perfis muito peculiares: a maioria ocorreu em estabelecimentos de saúde e, relativamente aos outros grupos, havia um maior contingente de mulheres. “Talvez pressuponham uma menor probabilidade da mulher usar droga”, avalia a epidemiologista.

Victor Rodrigues

3


Centenário

Nomes da no

Conheça os homens que fundaram a Facu

Larissa Nunes

“B

Foto:s Bruna Carvalho

asta de doutores” foram as palavras empregadas pelo Jornal do Comércio, em uma edição de março de 1911, para, duramente, combater o projeto de criação da escola que hoje é conhecida como a Faculdade de Medicina da UFMG. Com base em argumentos de que o país precisava do máximo de “observação e experiência” e do mínimo de “teoria”, sociólogos, jornalistas e outros estudiosos se opuseram ao ensino médico na capital mineira. Treze homens, porém, foram determinantes para mostrar que as escolas do Rio de Janeiro, Bahia e Rio Grande do Sul já não eram suficientes para atender à demanda de médicos do país. Conheça mais sobre cada um dos fundadores da Medicina da UFMG, na ordem das assinaturas:

4

1 - Cícero Ribeiro Ferreira Primeiro diretor e um dos nomes mais importantes para a criação da Faculdade de Medicina da UFMG. Nela instalou, em 1918, um hospital de emergência, durante a Gripe Espanhola. Foi diretor de Higiene Municipal e um dos fundadores da Sociedade de Medicina e Cirurgia. 2 - Alfredo Balena Nascido na Itália, foi diretor da Faculdade de Medicina por quase vinte anos. Entre 1933 e 1935, não pôde ocupar o cargo por ordem legal, já que o exercício de direção pública não era permitido a brasileiros não-natos. Em sua homenagem, batizaram o órgão de representação estudantil de Diretório Acadêmico Alfredo Balena. 3 - Eduardo Borges da Costa Segundo registro da Sociedade Brasileira de História da Medicina, Borges da Costa atendeu à maioria dos casos de urgência cirúrgica de Belo Horizonte nas três primeiras décadas do século XX. Em 1918, foi para a Europa, como membro da Missão Médica Brasileira na Primeira Guerra Mundial. Também foi diretor da Faculdade de Medicina entre 1920 e 1926. 4 - Hugo Werneck Foi o responsável por introduzir, na Santa Casa de Belo Horizonte, modernas normas de higiene e assepsia. Também contribuiu para alertar a população sobre o alto índice de morbimortalidade materna e fetal e sobre a necessidade da criação de uma maternidade na Santa Casa, o que ocorreu em 1916. 5 - Antônio Aleixo Primeiro a apontar para a necessidade de criação de uma biblioteca na Faculdade de Medicina. Assumiu o cargo de diretor no período de afastamento de Alfredo Balena, entre março de 1933 e maio de 1934. 6 - Olyntho Deodato dos Reis Meirelles Prefeito de Belo Horizonte entre 1910 e 1914, tam-

Setembro de 2011


ossa história

uldade de Medicina da UFMG há 100 anos

bém assumiu o cargo de diretor da Faculdade de Medicina durante o afastamento de Alfredo Balena, de maio de 1934 a junho de 1935. Em seguida, tornou-se vice-diretor. 7 - Samuel Libânio Nasceu em Pouso Alegre, no sul de Minas, e graduou-se pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, em 1905. Foi responsável pela criação do hospital que leva seu nome, em sua cidade natal, quando era diretor de Higiene do Estado de Minas Gerais. 8 - Cornélio Vaz de Mello Primeiro vice-diretor da Faculdade de Medicina da UFMG, no mandato de Cícero Ferreira. Um dos membros da comissão que aprovou o plano de criação de uma escola médica em Belo Horizonte. 9 - Ezequiel Caetano Dias Atendendo a um desejo do pai, formou-se em Farmácia para, depois, tornar-se médico. Como discípulo do sanitarista Oswaldo Cruz, chegou a Belo Horizonte para dirigir uma filial do Instituto Manguinhos (atual Fundação Oswaldo Cruz). Publicou vários artigos em jornais da imprensa mineira. 10 - Octávio Machado Foi relator do estatuto de fundação da Faculdade de Medicina da UFMG. O jornal Minas Gerais, em 10 de dezembro de 1914, faz uma homenagem ao professor, falecido no dia anterior, chamando-o de “médico das crianças”. 11 - Zoroastro Rodrigues de Alvarenga Professor responsável pela primeira aula na Faculdade de Medicina, da disciplina de Física Médica. Conforme relato do jornal “Estado”, que fez a cobertura da aula inaugural, ele era um “emérito professor” com “grande método e admirável clareza de exposição”. 12 - Honorato Alves Destacou-se pela luta política em Minas Gerais. Em 1916, quando a primeira turma de Medicina deveria ter os cursos de Clínica Oftalmológica e de Clínica Otorrinolaringológica, ele estava impedido de exercer a docência. Na época, ocupava o cargo de deputado federal, que exerceu entre 1906 e 1929. Para preencher a vaga, um concurso foi aberto. 13 - Aurélio Pires Mesmo sem ter sua assinatura registrada em ata, foi reconhecido com um dos fundadores e um principais atuantes para a criação da Faculdade de Medicina da UFMG. Usando pseudônimo, rebateu inúmeras críticas e argumentos contrários à criação da escola. “Ele manteve o assunto aceso, mesmo com toda a oposição”, aponta Ajax Pinto Ferreira, coordenador do Centro de Memória da Faculdade de Medicina da UFMG.

Setembro de 2011

Da esquerda para a direita, sentados: Cornélio Vaz de Mello, Eduardo Borges Ribeiro da Costa, Cícero Ribeiro Ferreira Rodrigues, Olyntho Deodato dos Reis Meirelles. De pé: Honorato Alves, Hugo Furquim Werneck, Zoroastro Alvarenga, Antônio Aleixo, Samuel Libânio, Ezequiel Dias, Alfredo Balena, Octávio Machado e Aurélio Pires.

Curiosidades • No quadro de fundadores da Faculdade de Medicina, uma imagem intriga. Entre Samuel Libânio e Ezequiel Dias, há um vulto, que pode ser percebido ao olhar a imagem de lado, na claridade. A hipótese é de que uma pessoa possa ter sido apagada. • No saguão da Faculdade de Medicina da UFMG, estão, em monumentos de bronze, as assinaturas dos 13 fundadores da instituição. O último nome a ser incluído no painel foi de Aurélio Pires, que só foi reconhecido como fundador em 2006. • Por várias vezes, ao defender a criação de um curso médico em jornais, Aurélio Pires usou o pseudônimo “Avérrhoes”. A escolha pode ter sido uma referência ao filósofo e médico árabe, que viveu no século 12, também conhecido por essa alcunha. • No último relatório anual como diretor da Medicina, em 1919, Cícero Ferreira escreveu: “É assim que se vence na vida; é da solidariedade que surge a força, e é a boa harmonia que conquista o acatamento social. Lembremo-nos sempre destas verdades...”. Ele morreu em 1920. • As primeiras referências sobre a necessidade de criação de um curso de Medicina em Minas Gerais datam de 1879. Em 1801, foi criada, em Vila Rica, atual Ouro Preto, uma cadeira de “Cirurgia, Anatomia e Arte Obstetrícia”. • Fontes: Cinquentenário da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (1961); Revista do Archivo Público Mineiro (1927); Revista Médica de Minas Gerais (v.21). www.sbhm.org.br www.medicina.ufmg.br www.historal.kit.net www.fiocruz.br www.univas.edu.br

5


Entrevista

“Internacionalizar é investir em nós mesmos” Coordenador do Centro de Pós-Graduação da Faculdade de Medicina da UFMG, o professor Manoel Otávio da Costa Rocha fala sobre a contribuição de parcerias com universidades de outros países Léo Rodrigues

Qual é a importância de desenvolver um processo de internacionalização das universidades brasileiras? Quando estabelecemos contato com outros modos de trabalhar, de encarar a disciplina do estudo e de desenvolver o profissionalismo acadêmico, nós também criamos um ambiente acadêmico mais fértil. Então, mesmo que tenhamos núcleos de excelência, não significa que podemos nos fechar para o mundo. Pelo contrário, o trabalho se desenvolve mais quando estabelecemos parcerias. Não defendo uma ação subserviente. Não se pode aceitar a condição de simplesmente fornecer os dados para eles fazerem estudos. A internacionalização é uma troca, uma parceria acadêmica.

A política de diversas grandes universidades envolve a concessão de bolsas de estudo aos estrangeiros. Qual é o retorno de oferecer bolsas de estudo pra uma mão de obra que não irá atuar no país? Eles vão usar os seus produtos e também serão agentes da sua cultura. O estudante que cria um vínculo no Brasil automaticamente vira um agente cultural, faz propaganda, ajuda a abrir portas e oportunidades para o nosso país. Isso tem impacto do ponto de vista político, econômico e acadêmico. Isso é investimento dos mais baratos.

Foto: Marcus Vinícius dos Santos

Qual o principal ganho para o ensino de se ter, nos departamentos, professores de diferentes origens? As grandes universidades dos Não podemos ter endogenia demais. EUA, como Columbia, Harvard, Nós temos que valorizar as boas Stanford e Cambridge, contam pessoas que se formam aqui. Mas com cerca de 20% de graduandos também é importante balancear as e pós-graduandos estrangeiros. equipes com gente de fora. Muitas No Brasil, as universidades que boas universidades se caracterizam mais recebem estudantes de oupor essa diversidade. Elas não estão tras nacionalidades têm em torno preocupadas com a origem dos prode 2%. A que razão se pode atrifessores. Desde que o professor seja buir essa diferença? bom, pode ser qualquer um. Grande “O Brasil precisa valorizar Eles têm esta abertura porque há parte do desenvolvimento dos EUA interesse acadêmico, político e tamfoi devido a essa política. Mesmo os seus docentes e, ao bém econômico. Se você estuda em momentos de acirrada disputa mesmo tempo, estimular Radiologia na Alemanha, qual equipolítica, os EUA foram pragmáticos pamento radiológico você vai usar e aceitaram pesquisadores de ponta a vinda de professores quando voltar pro Brasil? Siemens, vindos de países considerados iniestrangeiros” claro! Isso acontece, mas eu acho migos. O Canadá é outro exemplo. Professor Manoel Otávio que nós temos que cultivar também Eles pegam produto formado de o princípio de fraternidade e solidariedade, sobretudo com várias partes do mundo. Já imaginou quanto custa você os países de língua portuguesa: Timor Leste, Moçambique, formar um professor doutor experiente e com linha de Cabo Verde, etc. Nós temos obrigação moral com esses pesquisa estabelecida? Então, o Brasil precisa valorizar os países em função da importância deles na formação étnica seus docentes e, ao mesmo tempo, estimular a vinda de e cultural do Brasil. Temos que ter essa vontade política. professores estrangeiros. Obviamente também existe o interesse acadêmico nessa Recentemente, o Centro de Tecnologia em Saúde relação. Angola, por exemplo, é um país rico de recursos naturais, mas não tem recursos humanos. Isso precisa ser (Cetes) da Faculdade de Medicina organizou uma desenvolvido pela academia. Ao dar essa contribuição, nós defesa de tese por videoconferência, proporcionando a participação de um professor estrangeiro. Qual a aumentamos a expressão da UFMG. importância disso? E qual a melhor estratégia para aumentar o número É você dar uma visão não provinciana. Porque quando se de alunos estrangeiros nas universidades brasileiras? trabalha com a mesma equipe há muito tempo, existe semÉ preciso ter mais visibilidade, mostrar o portfólio, a qua- pre o risco de se criar uma ideia fechada. Você constrói a lidade do corpo docente, as linhas de pesquisa, o tamanho crítica sempre dentro de uma mesma lógica. Um docente da universidade, etc. Tem que investir em divulgação. É de outro espaço acadêmico e outra realidade cultural apreisso que Havard faz. O nosso site, por exemplo, tem que senta uma nova visão e fomenta a reflexão. ter versões em inglês, espanhol e português. A diretoria da Faculdade já está cuidando disso. Leia a entrevista na íntegra no www.medicina.ufmg.br 6

Setembro de 2011


Centenário

Promoção da saúde começa no plano individual Ciência, arte e religião podem levar ao equilíbrio necessário para uma vida saudável Colaboração: Lucianna Furtado

A

Fotos: Bruna Carvalho

limentação saudável, lazer, espiritualidade. Alguns dos pilares da promoção da saúde, que levam a uma vida equilibrada e ao bem-estar individual, começam justamente no plano pessoal. “A ideologia da promoção da saúde nasceu na concepção do indivíduo. As campanhas públicas de conscientização e intervenção só serão eficazes se tiverem uma repercussão direta na vida das pessoas”, avalia o professor da Faculdade de Medicina, João Gabriel Marques Fonseca. O assunto será discutido no Eixo 6 do 2º Congresso Nacional de Saúde da Faculdade de Medicina da UFMG: Programa de Promoção de Saúde na Perspectiva dos Indivíduos, coordenado por João Gabriel. “A ideia é mostrar o ponto de vista desse indivíduo, o conjunto de ações que podem ser executadas, o que cada um pode fazer”, explica. As relações entre espiritualidade e saúde serão debatidas em três perspectivas diferentes – ciência, arte e religião. Haverá também uma discussão em torno da importância da inclusão do lazer e da atividade física para a saúde física e mental. O eixo contará ainda com relatos de experiências de sucesso na conscientização de modos de vida saudáveis.

O médico e músico João Gabriel coordenará os debates sobre a saúde do indivíduo

Palestrantes Os aspectos nutricionais dos hábitos saudáveis de vida serão apresentados por Gisele Araújo, coordenadora do curso de Nutrição do Uni-BH, juntamente com Márcia Rocha Parizzi, coordenadora de Atenção à Saúde da Criança e do Adolescente da Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte. A médica e professora Luciana Fornari, da Universidade de São Paulo, trará experiências de intervenção familiar relativas ao tabagismo e outras situações de risco cardiovascular, com medidas educativas para as crianças, que cobram hábitos saudáveis dos pais. A professora Maria Betânia Parizzi, da Escola de Música da UFMG, abordará os benefícios da música no bem-estar e na saúde do indivíduo, ao lado da professora Maria Yuka de Almeida Prado, do Departamento de Música da Escola de Comunicações e Artes da USP.

Setembro de 2011

Patrocinadores O 2º Congresso Nacional de Saúde da Faculdade de Medicina da UFMG será realizado entre os dias 2 e 5 de novembro, no Minascentro, em Belo Horizonte. Simultaneamente, será realizada a 10ª Conferência Internacional de Saúde Urbana (ICUH 2011), sediada pela primeira vez na América Latina. Informações e inscrições: www.medicina. ufmg.br/congressosaude O Congresso tem como patrocinadores platinum o Ministério da Saúde, Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais, Prefeitura de Belo Horizonte, Sicoob Credicom e Amil; como patrocinadora diamante, a Unimed. O evento também conta com o apoio do Banco BMG, União Brasileira de Qualidade (UBQ), Associação Médica de Minas Gerais (AMMG) e a cooperativa Cemil. Mídia e a Promoção da Saúde Na primeira edição do Congresso Nacional de Saúde da Faculdade de Medicina da UFMG, em 2008, um dos eixos de discussão era sobre o papel da mídia na promoção da saúde. Agora, em 2011, a proposta do eixo 7, Mídia e a Promoção da Saúde, avança para a análise da cobertura midiática, sobretudo em momentos recentes de epidemias, como as da gripe H1N1 e da dengue. Serão abordados temas atuais, a exemplo do uso das redes sociais digitais como instrumentos de propagação da promoção da saúde, assim como o papel das assessorias de comunicação social das instituições da área na reação durante os momentos de crise. Serão apresentadas ainda experiências realizadas na televisão, seguidas de debates. Uma das participações já confirmadas é da editora-chefe do programa Bem Estar, da Rede Globo, Patrícia Carvalho. De acordo com o coordenador do eixo, o jornalista Gilberto Boaventura Carvalho, à frente da Assessoria de Comunicação Social (ACS) da Faculdade de Medicina, a intenção é reunir, no mesmo eixo, profissionais das áreas da Comunicação e da Saúde. “A ideia é incentivar o diálogo entre esses profissionais, que vivem fatores como tempo e linguagem diferentes, mas que precisam chegar a um entendimento para poder informar a população”, explica.

O jornalista Gilberto Boaventura é o coordenador do eixo Mídia e a Promoção da Saúde

7


Estudantes

Acontece

Encontro de gerações no DAAB Confraternização foi oportunidade de refletir sobre a representação estudantil Fernando Maximiano

O

Diretório Acadêmico Alfredo Balena promoveu um encontro com os integrantes de todos os tempos do DA, os chamados DAABs. O evento, realizado na tarde do sábado, 20 de agosto, foi organizado com o objetivo de promover a troca de experiências entre gerações. O encontro superou as expectativas do coordenador geral da atual gestão, Guilherme Lima. “A intenção era esse reencontro, mas também, convidar todos a participarem dos projetos do curso”, explica. “Aproveitamos o momento para compartilhar as memórias dos integrantes e preencher as lacunas históricas do diretório”, conta.

les. Foi emocionante”, lembra. No momento em que a atual administração finalizou as apresentações dos projetos, os membros honorários, antigos integrantes do diretório, foram convidados a expor suas opiniões. Sebastião de Araújo, diretor social do DAAB nos anos de 1959-60, saiu de longe para estar presente. “Moro em São Paulo e quando recebi o convite não tive dúvidas, claro que iria participar”, revelou. “A sensação de fazer parte deste encontro é indescritível”, disse. Já Gustavo Lima, da turma de 2009, contou que reunir todos os membros do DA era um desejo antigo. “Ver todos reunidos aqui por

Festival Cultural O DAAB remarcou para 24 de setembro o Festival Cultural em comemoração ao Centenário da Faculdade de Medicina. A festa será no Chevrolet Hall. Ingressos à venda no saguão de entrada da Faculdade e na bilheteria da casa de eventos.

Homenagem O Centenário das faculdades de Medicina, de Farmácia e da Escola de Engenharia da UFMG foi lembrado em uma reunião especial da Câmara Municipal de Belo Horizonte, no dia 31 de agosto. A homenagem foi proposta pelo vereador Tarcísio Caixeta.

Foto: Bruna Carvalho

Jornada A Jornada Acadêmica de Doenças Infectoparasitárias (Jadip) será realizada nos dias 4, 6 e 7 de outubro, das 18 às 22h, no Salão Nobre da Faculdade de Medicina. Inscrições: www.cursoseeventos.ufmg.br.

MedCine

Desejo dos DAABs é que este seja o primeiro de muitos encontros

um objetivo em comum é fantástico”, afirma. “Essa é uma oportunidade para que os alunos possam compreender a importância da representação estudantil para a vida acadêmica”, avalia. Ao que tudo indica, o projeto terá continuidade. “Só através de eventos assim que tanto os membros honorários quanto os atuais poderão ter uma representação ativa em defesa dos interesses dos profissionais médicos”, afirma Guilherme Lima. “Todos adoraram. Esse encontro precisa acontecer novamente”.

IMPRESSO

Além de Guilherme, as alunas Clarice Coimbra e Brenda Godói participaram da organização da festa. “Graças a esta equipe, as discussões aconteceram de forma que a história dos acadêmicos da Faculdade de Medicina pudesse ser disposta para todos conhecerem”, diz. Segundo o atual coordenador, o ponto forte do encontro foram os relatos sobre o impacto da representação estudantil na vida de cada um. “Eles falaram de suas experiências e sobre o que representou o DAAB na vida de-

O filme Caminhos da Vida (Dodes’Ka-Den), de Akira Kurosawa, será a atração da tradicional sessão de cinema da Medicina, no dia 28 de setembro. A sessão começa às 18h, no anfiteatro Amílcar Viana (sala 34 da Faculdade). Após a exibição, haverá debate com o professor Leonardo Diniz, da Clínica Médica.

8

Setembro de 2011


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.