Boletim Informativo da Faculdade de Medicina da UFMG Nº 22- Ano III - Belo Horizonte, agosto de 2012
Bullying E
m cada quatro estudantes de Belo Horizonte, um já sofreu agressões físicas ou psicológicas por parte de colegas. É o que revela a análise de questionários aplicados a quase 600 jovens da capital, apresentada em dissertação de mestrado defendida na Faculdade de Medicina da UFMG.
Ilustração: Ana Cláudia Ferreira
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CIRURGIA Anestesia: sem dor e sem medo
Visão Daltonismo: detecção precoce é importante
paternidade Nupad e Justiça garantem teste de DNA
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Editorial
Publicações
Mudança de foco Agosto marca a temporada de volta às aulas e reacende o debate sobre um tema que está em alta nos corredores das escola: o bullying. Uma pesquisa realizada na Faculdade de Medicina da UFMG ajuda a entender melhor o conceito e propõe analisar o problema de um ângulo diferenciado, saindo do foco do agressor para o da vítima. Este mês é também o momento de lembrar o Dia dos Pais, por isso o Saúde Informa traz uma reportagem sobre o projeto Pai Presente, que conta com a participação do Núcleo de Ações e Pesquisa em Apoio Diagnóstico (Nupad), responsável pelos testes de DNA solicitados pela Justiça em todo o Estado. Confira também a matéria sobre anestesia. Especialistas afirmam que não há motivo para pânico ao entrar no bloco cirúrgico e garantem que os casos de alergias mais graves como o choque anafilático são exceções. A edição traz ainda informações sobre daltonismo e adianta o projeto que promete facilitar o acesso de quem circula pelo edifício da Faculdade de Medicina. Boa leitura!
WHO Classification of Tumours of the Breast
Em sua quarta edição, o livro da Organização Mundial da Saúde faz parte da série “Classificação Histológica e Genética dos Tumores Humanos”, conhecida como Blue Books. A versão traz novas descrições dos cânceres de mama, os códigos internacionais para a classificação da doença e os aspectos relativos à clínica, macroscopia, microscopia, genética, prognósticos e fatores preditivos. A publicação é enriquecida por 340 figuras coloridas, tabelas e 1.631 referências bibliográficas. Uma das colaboradoras é a professora da Faculdade de Medicina da UFMG, Helenice Gobbi. Ed. OMS.
Tema:
Dieta: comer ou não comer?
Profª. Maria Isabel Correia
22 de Agosto | Quarta-feira | 12h30
Local: Sala 150 Faculdade de Medicina da UFMG
Av. Prof. Alfredo Balena, 190, 1º andar Santa Efigênia - Belo Horizonte
Escleroterapia com espuma
O livro apresenta as técnicas do tratamento de varizes com a aplicação de espuma nas veias comprometidas pelo problema. A espuma, ao entrar em contato com o endotélio, provoca sua esclerose e reduz a dilatação dos vasos sanguíneos. A técnica é defendida por possibilitar o tratamento de um maior número de pessoas, sem riscos cirúrgicos e dispensando a internação do paciente. O autor, Francisco Reis Bastos, é ex-professor do departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da UFMG. Ed. Folium.
Entrada Franca
Assessoria de Comunicação Social
Expediente Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais – Diretor: Professor Francisco José Penna – Vice-Diretor: Professor Tarcizo Afonso Nunes – Coordenador da Assessoria de Comunicação Social: Gilberto Boaventura – Editora: Alessandra Ribeiro (Reg. Prof. 9945/MT) – Redação: Jornalistas: Larissa Nunes, Lucas Rodrigues e Mariana Pires – Estagiários: Fernanda Campos, Jordania Souza, Lucas Garabini, Luíza França e Victor Rodrigues. Projeto Gráfico: Ana Cláudia Ferreira de Oliveira e Leonardo Lopes Braga. Diagramação: Ana Cláudia Ferreira - Atendimento Publicitário: Desirée Suzuki – Impressão: Imprensa Universitária – Tiragem: 1.000 exemplares – Circulação mensal – Endereço: Assessoria de Comunicação Social, Faculdade de Medicina da UFMG, Av. Prof. Alfredo Balena, 190 / sala 5 - térreo, CEP 30.130-100, Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil – Telefone: (31) 3409-9651 – Internet: www.medicina.ufmg.br; www.twitter. com/medicinaufmg e jornalismo@medicina.ufmg.br. É permitida a reprodução de textos, desde que seja citada a fonte.
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Divulgação Científica
Bullying afeta 26% dos jovens em BH Análise feita a partir de pesquisa do Observatório de Saúde Urbana de Belo Horizonte foca as vítimas, em vez dos agressores Victor Rodrigues
Ilustração: Ana Cláudia Ferreira
Relatos de jovens que já foram vítimas de agressões, O próximo passo é tentar entender como esses intimidações e brincadeiras humilhantes mostram que tan- fatores influenciam o comportamento dos adolescentes. to características pessoais quanto do contexto familiar e “Por exemplo, temos que investigar se a associação com a social são importantes para entender o fenômeno hoje desestrutura familiar e o fato de não conseguir conversar amplamente conhecido como bullying. A escola é o cenário com os pais é resultado de uma influência forte na persofrequente, mas por uma questão bem simples: é o local nalidade desses adolescentes que os impede de socializaonde os adolescentes passam mais tempo juntos. “Os mais rem-se adequadamente e os predispõem como vítima de velhos descrevem o mesmo comportamento também em bullying”, afirma Michelle. “Ainda temos muitos dados e outros locais, como o trabalho”, acrescenta a psicóloga muitos aspectos, como a maneira que as relações sociais Michelle Ralil da Costa, autora de dissertação de mestra- entre os jovens se desenvolvem, para explorar”. do defendida na Faculdade Dentre 598 adolescentes de 14 a 17 anos, 26% de Medicina da UFMG que Comparativo sofreram bullying em algum momento da vida. descreve o bullying e fatores O resultado ficou associados. aquém do encontrado na Foram analisados 598 Pesquisa Nacional de Saúde adolescentes entre 14 e 17 do Escolar (Pense), realizada anos que responderam ao pelo Ministério da Saúde em questionário sobre bullying todas as capitais brasileiras. dentro da pesquisa Saúde em Nela, 35% dos entrevistados Beagá, realizada pelo Obserafirmaram terem sido alvo de vatório da Saúde Urbana em bullying no último mês, perBH (OSUBH). Dentre eles, centual que colocava Belo 26% relataram que sofreram Horizonte atrás apenas do esse tipo de violência em alDistrito Federal. gum momento da vida. O Michelle Costa justifica fenômeno foi abordado por as diferenças entre os estumeio de seu conceito, sem dos. “A amostra da Pense foi utilizar o termo bullying. Isso maior, o que ajuda a entender evitava qualquer confusão ou o elevado percentual enconsupernotificação, por esta ser trado”, esclarece. “Além disuma expressão em evidência so, eles perguntavam sobre o Comportamentos presentes nos jovens alvos de atualmente. Com tal cuidado, último mês, enquanto nossa bullying: o foco da pesquisa mantevepergunta era sobre qualquer • entrar em brigas se no relato dos comportaperíodo. Isso tende a registrar mentos característicos. • sentir-se sozinho ou excluído em festas os casos que foram mais impactantes para a pessoa, não • não poder conversar com os pais Diferencial apenas aqueles que causaram O fato de procurar ressentimento ou estresse Fonte: Pesquisa Saúde em Beagá (OSUBH) entender o assunto por meio momentâneos”. dos relatos das vítimas vai de encontro à O que é bullying? maioria dos estudos sobre o assunto. “EstuTítulo: Bullying entre adolesA palavra vem do inglês “bully“, valentão, dos internacionais, principalmente, tentam centes de um centro urbano: entender esse comportamento concentrandoe é utilizada para se referir a episódios estudo saúde em Beagá se na figura do agressor”, afirma a autora. recorrentes de agressão, intimidação ou Autora: Michelle Ralil da Esse modo de adentrar o tema permite rebrincadeiras dirigidas sempre à mesma Costa lacionar os fatores associados aos relatos de pessoa e que causem dor, exclusão, Nível: Mestrado bullying e entender melhor o perfil das vítimas. humilhações ou discriminação, entre outros. Programa: Saúde da Criança A pesquisa identificou, por exemplo, comporO bullying acontece sempre entre pares, e do Adolescente tamentos presentes em grande parte dos jocomo estudantes de mesma faixa etária. Orientadores: Waleska vens alvos de bullying , como entrar em brigas, Teixeira Caiaffa Em geral, o alvo do agressor é alguém se sentir sozinho ou excluído em festas e não Defesa: 23/03/2012 mais fraco, não apenas fisicamente, mas poder conversar com os pais. também psicologicamente ou pelo fato de estar sozinho contra um grupo.
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Cirurgia
Lucas Rodrigues
Alergias e choque anafilático são menos comuns do que se imagina
A
anestesia consiste no uso de medicamentos com o objetivo de bloquear a dor durante procedimentos que envolvem desde pequenos curativos, exames diagnósticos e extrações dentárias até partos e grandes cirurgias. Apesar de amplamente utilizada, é comum que algumas pessoas sintam receio ao saber que precisam ser submetidas a algum anestésico. Mas não há razão para maiores preocupações, garante o anestesiologista Renato Santiago Gomez, professor do departamento de Cirurgia da Faculdade de Medicina da UFMG. Segundo ele, os centros cirúrgicos têm material de suporte à vida adequado, em caso de complicações. “Milhares de anestesias são aplicadas com total segurança diariamente, mas na maioria das vezes, os insucessos ganham mais repercussão”, diz. A presença do anestesiologista é uma garantia de tranquilidade. “O médico não apenas administra os medicamentos, mas acompanha as funções vitais e a evolução de cada paciente durante o ato anestésico”, detalha Gomez. Além disso, a visita pré-anestésica permite que o profissional avalie cada pessoa e tenha conhecimento de suas características individuais. O paciente deve dizer se é portador de algum tipo de alergia ou de outras doenças e se utiliza algum medicamento que pode interferir na anestesia. Como exemplo dessas substâncias, ele menciona os antibióticos, relaxantes musculares, analgésicos, anti-inflamatórios e antieméticos – cuja principal característica é aliviar os sintomas relacionados ao enjoo. “A alergia relacionada a esses medicamentos é mais comum em pacientes expostos a várias anestesias com drogas repetidas ou similares. No entanto, a mortalidade relacionada exclusivamente à reação alérgica é baixa, em média uma morte a cada 20 mil casos”, observa. Normalmente, o sexo feminino é mais vulnerável. “Há maior incidência de reações aos anestésicos locais em mulheres, provavelmente por reação cruzada a um radical encontrado tanto nos frascos de anestésicos locais como em alguns cosméticos”, explica o professor. Além da anestesia, quem é alérgico ao látex também pode ter reações adversas no momento da cirurgia, já que produtos contendo essa substância são muito comuns em ambientes hospitalares, em especial nas salas de cirurgia. Histórico As reações alérgicas resultam de efeito colateral do sistema imunológico, que tenta proteger o organismo de substâncias estranhas e outros antígenos. As alergias podem surgir mesmo sem uma história de contato prévio com o agente, mas não são tão frequentes, embora se reconheça o crescimento dos casos. “A incidência está aumentando, com uma média de um para cada 500 casos, devido ao maior rigor nas investigações e a um maior número de fármacos utilizados em associação à anestesia”, justifica Gomez. Pessoas que já tiveram complicações anteriores, ou que têm dúvidas quanto à possibilidade de uma reação ao anestésico, devem sempre informar o médico responsável. As reações alérgicas aos anestésicos locais podem ser prevenidas por meio da avaliação clínica e análise do episódio anterior, seguidas da realização de teste cutâneo (de pele) com o anestésico alternativo.
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Anestesia
Máscara Anestésica
Um dos primeiros equipamentos para a realização da aneste significativamente para o desenvolvimento da cirurgia. Por sua América Latina, onde foi usada por aproximadamente meio séc (1871-1956) é datado de 1901. Em 1918, a máscara chegou a 1946.
O objeto era formado por três partes: uma máscara metálica co um depósito esférico, também de metal, com pedaços de feltro partir de uma bexiga de porco. Por meio dessa bolsa, o médico acordo com a necessidade, aproveitar parte do anestésico exal
A máscara vinha acompanhada de um suporte próprio para quando não fosse utilizada e de um estojo de madeira para guardá-la ou transportá-la.
A máscara era utilizada para inalação de éter anestésico, puro o oxigênio a essa mistura gasosa, graças a uma peça característ
O instrumento pesava quase quatro quilos, mesmo vazio. “Ha durante toda a cirurgia, sem nenhum apoio, com o objetivo de Maria de Lourdes Alvarenga, do Hospital São José, da Faculdad recipiente da máscara continha em seu interior um material assim evitar o seu derramamento ao movimentá-la.
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sem medo
e podem ser reduzidos por meio do diálogo entre médico e paciente
esia inalatória foi a Máscara de Ombredanne, que contribuiu a simplicidade e baixo custo, alcançou grande popularidade na culo. O invento do cirurgião plástico francês Louis Ombredanne a Belo Horizonte, sendo utilizada na Santa Casa da capital até
om uma reborda de plástico que se ajusta ao rosto do paciente; o no seu interior; e uma bolsa de reinalação, geralmente feita a o podia observar os movimentos respiratórios do paciente e, de lado.
Ilustração: Ana Cláudia Ferreira
Em alguns casos, está indicada a administração pré-operatória de medicamentos corticoides – anti-inflamatórios inibidores da histamina, a substância mediadora de uma reação alérgica – e anti-histamínicos, que também são preventivos e visam diminuir a liberação de histamina. Em caso de reações alérgicas à anestesia, é importante que se procure também um alergologista, para que ele possa analisar a história do paciente de forma minuciosa e indicar a conduta mais adequada para cada situação. Choque anafilático Principal causa de morte por alergia, o choque anafilático pode ser desencadeado por antibióticos, como a penicilina; venenos, como o da abelha; além de látex, hormônios, vitaminas e alimentos – caso do camarão. Trata-se de uma reação imediata resultante da dilatação súbita dos vasos sanguíneos capilares pela ação da histamina, estimulando as secreções salivar, gástrica e pancreática. Os sintomas começam com sensação de mal-estar, palidez, tosse seca, falta de ar, coceira generalizada, náuseas, vômitos e diminuição da pressão. A vasodilatação pode levar ainda à queda de pressão arterial, deficiência de irrigação cerebral, perda da consciência e até mesmo ao coma e à morte. Mas essa cadeia de acontecimentos pode ser evitada pela aplicação de medicação de emergência, como a epinefrina, mais conhecida como adrenalina, ou com doses extras de oxigênio. No entanto, nem toda alergia é anafilática. “Muitas situações podem simular uma reação alérgica, como a reação vasovagal, distúrbio do sistema nervoso que leva o corpo a uma reação exagerada devido ao estresse, infarto agudo do miocárdio, convulsão, arritmia cardíaca, embolia pulmonar ou uma crise de asma aguda”, exemplifica Renato Santiago Gomez. Ele destaca que as reações alérgicas mais comuns, denominadas anafilactoides, são menos graves do que as anafiláticas.
Evolução Diferentemente do éter, os anestésicos de hoje são mais seguros. “O éter é inflamável, tem cheiro forte e, por isso, havia mais perigo no bloco cirúrgico. Atualmente, a partir do momento em que o paciente está entubado, o medicamento vai direto para o pulmão, o anestésico fica dentro de um vaporizador e ninguém precisa ficar exposto àquele odor, que pode fazer mal”, compara a anestesiologista Maria de Lourdes Alvarenga.
Principais recursos usados atualmente
ou misturado com álcool ou clorofórmio, sendo possível agregar tica em formato de “T”.
abitualmente, o anestesiologista tinha que suportar seu peso e não machucar o rosto do paciente”, conta a anestesiologista de de Ciências Médicas de Minas Gerais. Segundo ela, a esfera esponjoso onde se depositava o anestésico líquido, podendo
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Sevoflurano: anestésico volátil líquido, inalatório e não inflamável, que permite a administração conjunta da maioria dos medicamentos utilizados em cirurgia e potencializa a ação dos relaxantes musculares. Anestesia venosa: realizada por meio de bombas de infusão, onde se coloca o anestésico e o administra de acordo com o peso e a idade do paciente. Um aparelho faz as contas automaticamente após a inclusão dos dados. As principais substâncias são o remifentamil, a dexmedetomidina, entre outras. Aparelhos: oxímetro de pulso, capnógrafo, entre outros. O oxímetro mede a quantidade de oxigênio no sangue de um paciente. Já o capnógrafo monitora gases anestésicos inalados pelo paciente durante a cirurgia. 5
Visão
Diagnóstico precoce ajuda a viver com o daltonismo Fernanda Campos e Jordania Souza
ara a maioria das pessoas, diferenciar as cores é quase tão natural quanto conversar, se alimentar ou dormir. Este discernimento é essencial para a realização de inúmeras atividades cotidianas, desde a percepção de que é preciso parar no sinal vermelho até a escolha de peças de roupa que combinem entre si. Para os daltônicos, no entanto, reconhecer e distinguir cores são tarefas bem mais complicadas. O daltonismo é um distúrbio de visão caracterizado pela dificuldade em diferenciar as cores, especialmente o verde e vermelho, como explica o professor do departamento de Oftalmologia e Otorrinolaringologia da Faculdade de Medicina da UFMG, Galton Vasconcelos. Segundo ele, o prejuízo do senso cromático geralmente é congênito, ou seja, a pessoa já nasce com ele; mas também pode acontecer na fase adulta, como consequência de outras doenças oftalmológicas que acometem a retina ou o nervo óptico. Em alguns casos, o daltônico não enxerga nenhuma das cores. Diagnóstico De acordo com o oftalmologista, é comum que o problema passe despercebido nos três primeiros anos de vida, quando a criança tem dificuldades de se expressar. “Geralmente pais e educadores começam a perceber a deficiência durante a execução de atividades escolares mais complexas, quando já é exigido que a criança discrimine cores, objetos e formas”, observa. A indefinição de cores, sequências de cores ou de tonalidades específicas são as primeiras pistas de que a criança pode ser daltônica. O diagnóstico precoce é fundamental para que o paciente desenvolva estratégias e alternativas para a realização de tarefas corriqueiras. “A família tem Foto: Bruna Carvalho mais possibilidades de aprender a lidar com a deficiência, ajudar a criança a fazer adaptações e ensiná-la que as cores existem, sozinhas ou em sequência, ainda que elas não possam enxergar”, orienta.
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Testes Após a suspeita do problema, é preciso consultar um oftalmologista, que irá aplicar os testes necessários. A criança deve passar por um exame oftalmológico completo que, entre outras funções, inclui a avaliação do senso cromático. Atualmente, a maioria dos testes realizados aplica-se a crianças a partir de três anos e trabalha com sequências de cores e números, que exigem conhecimento prévio para nomear os elementos. Para permitir a avaliação de crianças mais novas, em fase pré-verbal, o Setor de Baixa Visão Infantil do Hospital das Clínicas da UFMG está desenvolvendo um novo teste, com foco no comportamento cotidiano. “A proposta é trabalhar com o pareamento de cores iguais, sem a necessidade de que a criança saiba o nome delas. Estamos estudando a utilização de tampinhas de garrafas PET para que o custo seja baixo”, adianta Galton Vasconcelos. Apesar de não definir o diagnóstico, o novo teste fornecerá pistas contundentes para a suspeita de daltonismo.
Herança Genética Se há casos de daltonismo na família, o cuidado deve ser maior. Isto porque o daltonismo é um problema genético ligado ao cromossomo sexual X. Os homens só apresentam um cromossomo deste tipo, e caso carreguem o gene, fatalmente a doença se manifestará, o que explica o que explica a maior incidência na população masculina. Por outro lado, as mulheres têm dois cromossomos X, sendo possível carregar a informação genética para o daltonismo em apenas um deles e enxergar normalmente. Para serem daltônicas, elas devem ter o gene nos dois cromossomos.
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Teste de daltonismo realizado no HC/UFMG utiliza tampinhas de garrafa PET Normal
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Daltônico
Portadora
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Ilustração: Ana Cláudia Ferreira
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DNA
Paternidade reconhecida em todo o Estado Coleta de DNA no interior de Minas Gerais agiliza processos judiciais Mariana Pires
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ais de 12 mil exames de DNA realizados pelo Núcleo de Ações e Pesquisa em Apoio Diagnóstico da Faculdade de Medicina da UFMG possibilitaram a conclusão de cerca de 75% dos processos de reconhecimento de paternidade que estavam parados no Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais (TJMG) nos últimos três anos. Os números são referentes ao projeto “Pai presente”, realizado por meio de uma parceria entre o órgão de justiça e o Nupad. O Laboratório de Genética e Biologia Molecular do Nupad (LGBM) é o responsável por realizar todos os exames de DNA solicitados nas ações de investigação de paternidade ou maternidade do TJMG. Para Dora Mendez del Castillo, coordenadora do LGBM, a maior vitória neste período foi conseguir fazer a coleta do material genético em todo Estado, por meio do credenciamento de laboratórios no interior. “A distância era uma grande vilã. Muito tempo era perdido com o deslocamento, e coletas eram canceladas quando uma das partes não conseguia comparecer”, afirma, lembrando das dificuldades iniciais. Foto: Bruna Carvalho
das pessoas e o sigilo do seu conteúdo”, explica Dora. A médica geneticista prevê um constante aumento nas demandas de exames. “O laboratório está em condições de atender à grande demanda de casos e conta com o trabalho que está sendo realizado com os laboratórios do interior de Minas Gerais. Estamos preparados para o aumento das solicitações, graças à competência e eficiência da nossa equipe técnica, dos juízes e comarcas de Minas Gerais e dos laboratórios credenciados”, garante. Coleta e envio mais práticos A partir de setembro, o método de coleta do DNA passará por mudanças. Dora explica que não serão mais usados seringas e tubos de armazenamento de sangue. De acordo com a coordenadora, em poucos minutos serão coletadas algumas gotas de sangue dos dedos das pessoas submetidas ao teste, com uma lanceta própria para isso, e a amostra será depositada em papel filtro, que conserva o DNA. O manuseio das lancetas é prático, e a substituição do método vai simplificar desde a realização do teste até o armazenamento e transporte das amostras, reduzindo custos em todo o processo. Outras atividades Há um ano, o projeto “Pai presente” foi ampliado, com a implantação da busca ativa de crianças que não tenham o registro do pai nas escolas públicas e cartórios de Belo Horizonte. “Dos cerca de 15 exames realizados diariamente, três horários são reservados para essas demandas”, explica Dora. Segundo ela, por não ser um processo encaminhado pelo juiz da vara de família, a marcação do exame e a coleta de sangue acontecem de forma mais simplificada e ágil. De acordo com a coordenadora, o Laboratório também realiza o exame para investigação de maternidade. “Os casos representam menos de 1% dos nossos exames. São situações raras, onde há necessidade de identificação da mãe biológica, ou suspeita de troca em maternidade”, explica.
Laboratório do Nupad faz a análise de todos os exames de DNA solicitados pelo TJMG
Hoje, são cerca de 300 laboratórios credenciados pelo Nupad que cobrem todas as regiões de Minas Gerais. “Mais de 70% das solicitações de investigação de paternidade são realizadas no interior do Estado”, destaca Dora. Ela explica que o credenciamento dos laboratórios é idôneo: “quem indica é o próprio juiz, e a equipe do Nupad fornece o material e treina a equipe para coleta, identificação e envio das amostras”. A amostra é enviada para o LGBM, onde é processada. “O laudo final é encaminhado diretamente para o juiz do caso, garantindo a privacidade
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Pai falecido ou ausente Também é possível investigar a paternidade quando o suposto pai já faleceu, ou não pode ser encontrado. Veja as possibilidades: •
Exame realizado com a mãe, filho e pais biológicos do suposto pai;
•
Exame realizado com a mãe, filho e três parentes do suposto pai (pais, irmãos ou filhos);
•
Exame realizado com o filho e pais biológicos do suposto pai;
•
Exame realizado com o filho e três parentes do suposto pai (pais, irmãos ou filhos);
•
Exame realizado com o filho, dois filhos biológicos do suposto pai e mãe biológica desses filhos.
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Institucionais
Acontece
Prédio da Medicina ganhará sinalização Luíza França
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uem entra na Faculdade de Medicina pela primeira vez costuma ter dificuldades para se localizar. Nem sempre é fácil entender a lógica de organização das salas. Pensando nisso, o setor de Arquitetura e Engenharia e a Assessoria de Comunicação Social (ACS) trabalham num projeto de sinalização do edifício Oscar Versiani.
Simulação da sinalização vertical do saguão de entrada. Andar térreo será utilizado como piloto para implantar projeto em todo o prédio.
Oscar Versiani O edifício da Faculdade de Medicina leva o nome de um dos seus exdiretores, Oscar Versiani Caldeira. Professor da cátedra de Doenças Tropicais e Infectuosas, foi empossado como diretor em 17 de dezembro de 1959 e continuou até 1970. Nesse período, foi inaugurado o prédio onde a Faculdade está instalada atualmente, na avenida Alfredo Balena. Versiani teria pedido demissão após desentendimentos com os estudantes no período da ditadura militar.
O Centro de Informática (CIN) disponibilizou na Intranet os novos modelos da papelaria da Faculdade de Medicina: papel timbrado, cartão de visita e cartão de agradecimento. As peças, desenvolvidas pela Assessoria de Comunicação Social (ACS), já estão com a nova identidade visual da UFMG. Para baixar os arquivos para impressão, acesse a Intranet e clique na aba “modelos”.
Neuropsiquiatria Geriátrica O XXVI Curso sobre Neuropsiquiatria Geriátrica será realizado nos dias 24 e 25 de agosto, na sala 150 da Faculdade de Medicina. A iniciativa é do departamento de Saúde Mental. Estudantes interessados em apresentar pôsteres têm até o dia 12 de agosto para enviar os resumos para neuropsiquiatriageriatrica@ gmail.com.
Biologia Celular Os últimos avanços em biologia celular e molecular serão apresentados no V Simpósio de Biologia Celular da UFMG, nos dias 27 a 31 de agosto, no campus Pampulha. Pela primeira vez, o simpósio ganha caráter internacional. Informações: www.icb. ufmg.br/sbc
IMPRESSO
A necessidade de melhorar as indicações de acesso no prédio sempre existiu, mas, a partir das obras de 2008, que reorganizaram algumas unidades, e da atualização do painel do saguão principal em 2011, criou-se a demanda por completar a sinalização iniciada. O setor de Arquitetura e Engenharia desenvolveu, então, um projeto adaptando as placas indicativas que ficam próximas às portas em todo o edifício. “O objetivo é permitir um deslocamento mais fácil para alunos, funcionários
e visitantes da Faculdade”, afirma a arquiteta Eneida Ferreira Ricardo. O projeto foi analisado pelos profissionais de design da ACS, Luiz Romaniello e Luiz Lagares, que definiram alguns critérios para a nova sinalização. Antes, eles observaram o comportamento dos transeuntes, conversaram com usuários do prédio, para definir os locais mais procurados, e fizeram um estudo dos lugares em que serão colocadas as peças indicativas. “Decidimos utilizar o mesmo material e as novas placas parecidas com as que já estão nas salas, para manter o padrão e não poluir visualmente o prédio”, explica Luiz Lagares. A proposta é utilizar placas aéreas no saguão principal e em todos os corredores, com a numeração das salas e os setores mais procurados, além de indicações do acesso a outros andares e da saída do prédio. Será feito um piloto no térreo para observar as adaptações durante dois ou três meses. “Após a consolidação do piloto nós avaliaremos a sinalização nos outros andares”, adianta Eneida Ferreira.
Papelaria
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