Saúde Informa nº 29

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Boletim Informativo da Faculdade de Medicina da UFMG Nº 29 - Ano IV - Belo Horizonte, junho de 2013

Teste que salva vidas E

xame de triagem neonatal, mais conhecido como teste do pezinho, já pode identificar seis doenças genéticas em recém-nascidos. A partir do diagnóstico, rapidez no início do tratamento é fundamental para evitar sequelas graves ao longo da vida da criança. Página 3

GAGUEIRA Problema afeta 2 milhões no Brasil

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CÂNCER Radiofármaco será testado em humanos

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TRANSPLANTE Estudo avalia impacto na família

Foto: Banco de imagens www.sxc.hu

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Editorial Avanços

No mês em que se comemora o Dia Nacional do Teste do Pezinho – 6 de junho, o Saúde Informa destaca a inclusão de duas novas doenças no exame de triagem neonatal para as crianças nascidas em Minas Gerais. A análise das amostras de sangue é feita pelo Nupad, núcleo da Faculdade de Medicina da UFMG, por meio de parceria com a Secretaria de Estado da Saúde. Outro exame também é notícia na edição deste mês: a tomografia por emissão de pósitrons. Pela primeira vez no Brasil, a substância radioativa [18F] Fluorcolina será utilizada, em fase de testes, em seres humanos. A expectativa é que o radiofármaco ajude a diagnosticar tumores em estágios bem iniciais, aumentando as chances de cura do paciente. Na seção de Divulgação Científica, confira a pesquisa realizada com pessoas submetidas ao transplante de fígado, sobre o impacto dessa operação na família dos pacientes. E mais: gagueira, deficiência visual e futebol – isso mesmo: na seção Pessoas, conheça o ex-aluno de Medicina da UFMG que já atuou na Seleção Brasileira. Boa leitura!

Publicações

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Guia de Bolso de Ginecologia Com linguagem simples e objetiva, a proposta é que o livro sirva como guia de consulta rápida para o diagnóstico e tratamentos de significativas doenças ginecológicas. O conteúdo abrange questões práticas necessárias à rotina do profissional ginecologista, obstetra e de graduandos interessados nestas especialidades médicas. A autoria é do professor do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina da UFMG, Selmo Geber, com colaboração de Marcos Sampaio e Rodrigo Hurtado. Editora Atheneu

João Guimarães Rosa

Opinião Sua participação é muito importante para o Saúde Informa. Envie críticas e sugestões para

Cegrad Centro de Graduação

jornalismo@medicina.ufmg.br

Expediente

Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais – Diretor: Professor Francisco José Penna – Vice-Diretor: Professor Tarcizo Afonso Nunes – Coordenador da Assessoria de Comunicação Social: Gilberto Boaventura – Editora: Alessandra Ribeiro ( Reg. Prof. 9945MG) – Redação: Jornalistas: Larissa Rodrigues, Lucas Rodrigues, Mariana Pires, Marcos V. dos Santos e Rafaella Arruda – Estagiários: Karla Scarmigliat, Jordânia Souza, Jéssica de Almeida e Victor Rodrigues. Projeto Gráfico: Ana Cláudia Ferreira de Oliveira e Leonardo Lopes Braga. Diagramação: Luiz Lagares - Atendimento Publicitário: Desirée Suzuki – Impressão: Imprensa Universitária – Tiragem: 2.000 exemplares – Circulação mensal – Endereço: Assessoria de Comunicação Social, Faculdade de Medicina da UFMG, Av. Prof. Alfredo Balena, 190 / sala 5 - térreo, CEP 30.130-100, Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil – Telefone: (31) 3409-9651 – Internet: www.medicina.ufmg.br; facebook.com/medicinaufmgoficial; www.twitter.com/medicinaufmg e jornalismo@medicina.ufmg.br. É permitida a reprodução de textos, desde que seja citada a fonte.

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NUPAD

Diagnóstico precoce que salva vidas Minas Gerais faz diagnóstico de mais duas doenças genéticas em recém-nascidos Mariana Pires e Rafaella Arruda

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rincar com os primos e colegas da escola e jogar bola são as atividades favoritas de Matheus Barbosa Dias de Souza, que mora com os pais no município de Formoso, Região Norte de Minas Gerais. Há cinco anos, quando nasceu, ele foi diagnosticado com hiperplasia adrenal congênita (HAC), por meio da triagem neonatal, exame conhecido como teste do pezinho. A HAC é hereditária e a estimativa de incidência é de um caso para cada 15 mil nascimentos. O diagnóstico nos primeiros dias de vida de Matheus, que permitiu o tratamento precoce e, consequentemente, uma vida normal, foi resultado do projeto piloto do Núcleo de Ações e Pesquisa em Apoio Diagnóstico da Faculdade de Medicina da UFMG (Nupad), realizado entre 2007 e 2008. Na época, a equipe do Nupad realizou o teste para a doença em 160 mil amostras de sangue do estado de Minas Gerais, e 11 crianças foram diagnosticadas com HAC. O projeto garantiu ao Núcleo aprendizado e experiência para que a triagem pudesse ser realizada nos 853 municípios do estado, conforme habilitação do Ministério da Saúde, a partir de maio deste ano.

Tratamento e controle “A coleta do sangue é realizada nas Unidades Básicas de Saúde (UBSs) de cada município, e deve ser feita entre o terceiro e quinto dia de vida da criança, para início imediato do tratamento, caso alguma doença seja diagnosticada”, orienta o professor José Nelio. Ele explica que a deficiência de biotinidase é assintomática nos primeiros dias de vida e, se não detectada precocemente, pode levar a graves lesões neurológicas, de caráter irreversível, e apresenta-se com alta morbidade e mortalidade. Já a HAC produz alterações hormonais no organismo do recém-nascido, podendo virilizar a genitália feminina ou causar um grave distúrbio hidroeletrolítico, que

“com o tratamento correto o desenvolvimento do meu filho seria como o de qualquer criança na idade dele” Além da HAC, a portaria do Ministério da Saúde também habilitou o estado a realizar os testes para a deficiência de biotinidase, distúrbio metabólico que acomete um em cada 20 mil recém-nascidos. O exame também já havia sido testado em projeto piloto anterior, em 2008 e 2009, quando foram triadas 180 mil amostras e identificados dez pacientes. Com a inclusão dessas doenças, agora são seis triadas pelo Programa de Triagem Neonatal (PTN-MG), da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais. Os testes também já eram realizados para hipotireoidismo congênito, fibrose cística, fenilcetonúria e doença falciforme. Para o diretor do Nupad, José Nelio Januário, a habilitação de Minas Gerais para a fase mais avançada do Programa Nacional de Triagem Neonatal, ao lado dos estados de São Paulo, Paraná e Mato Grosso do Sul, é uma demonstração de que Minas atingiu um grau de organização muito bom. “A nossa forma de trabalhar permite uma absorção rápida de novas propostas, que agilizou esse importante passo”, opina. Os testes são realizados nas amostras habitualmente colhidas pelo PTN-MG. “O fluxo atual do Programa não será alterado, com exceção do encaminhamento de casos suspeitos ou confirmados para os Serviços de Referência já pactuados para esta finalidade”, afirma José Nelio.

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A coleta do sangue deve ser feita entre o 3º e o 5º dia de vida do bebê Foto: Arquivo Nupad

pode levar ao óbito no período neonatal. Os tratamentos para as duas doenças são gratuitos. “No caso da HAC é feita a reposição hormonal, e para a deficiência de biotinidase, há a suplementação oral da vitamina biotina”, explica o diretor do Nupad. A mãe de Matheus, Juscilene Souza, conta que assim que recebeu o resultado do teste do pezinho, foi orientada a realizar o exame de confirmação em Belo Horizonte. Ela lembra que a primeira reação ao receber o diagnóstico foi de susto. “Eu e meu esposo não conhecíamos a doença. Com o tempo, as equipes de saúde foram nos repassando informações e vimos que com o tratamento correto o desenvolvimento do meu filho seria como o de qualquer criança na idade dele”, esclarece a mãe. A única diferença na rotina de Matheus é que de três em três meses são necessários exames de acompanhamento e controle junto ao serviço de apoio do Hospital das Clínicas da UFMG. “O Matheus é inteligente, tem as dificuldades normais dos colegas de escola, e é até muito danado”, brinca Juscilene. 3


FONOAUDIOLOGIA

Gagueira: nem sempre a causa é psicológica Problema pode ser genético ou desencadeado por lesões cerebrais, dentre outros fatores Jordânia Souza

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upturas no fluxo da fala, como prolongamento, bloqueios, repetição de sílabas ou sons. Estes são os sinais mais claros da gagueira, falha no processamento temporal da fala que está presente em cerca de dois milhões de brasileiros, segundo estimativas do Instituto Brasileiro de Fluência. E engana-se quem pensa que as causas desse problema são apenas de ordem psicológica. A professora do Departamento de Fonoaudiologia da Faculdade de Medicina da UFMG, Vanessa de Oliveira Martins-Reis, coordena pesquisas sobre a fluência de fala e suas características. Segundo ela, nas gagueiras

Ilustração: Carina Cadorso

Por que a pessoa não gagueja quando canta?

Quando se fala em gagueira, essa pergunta é muito comum e tem uma explicação simples. Isso ocorre porque, ao falar, a pessoa pode usar duas regiões cerebrais distintas. Há um circuito cerebral responsável pela fala espontânea ou proposicional e outro associado a uma fala pré-programada ou mediada por estímulos externos. Dessa forma, enquanto conversamos ocorre, ao mesmo tempo e de forma sincronizada, o planejamento do conteúdo, do ritmo e do controle motor na fala. Já na música, esse planejamento já está pronto e, portanto, a pessoa apenas o reproduz. “Algumas pessoas que gaguejam têm falhas nos circuitos cerebrais responsáveis pela fala espontânea, mas, quando cantam, elas usam a outra região cerebral, que em muitos não vai ter alteração, por isso eles não gaguejam”, explica Vanessa Martins-Reis.

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de desenvolvimento – causadas por disfunções no sistema nervoso central, com base genética – os fatores psicológicos agem mais como uma consequência do problema do que como causa. “Após tantas tentativas frustradas de se comunicarem, as pessoas que gaguejam podem começar a ter medo de falar, ficando inseguras em situações de comunicação verbal. Às vezes as pessoas pensam que é timidez, mas na verdade a pessoa tem consciência do seu problema e começa a evitar essas situações”, explica a fonoaudióloga. Há ainda as gagueiras adquiridas, que podem ser neurogênicas ou psicogênicas. No primeiro caso, o problema começa a partir de alguma lesão cerebral identificável, como traumatismos cranianos ou acidentes vasculares cerebrais. Já as gagueiras psicogênicas estão associadas a problemas psiquiátricos ou psicológicos bem definidos. Características A fonoaudióloga explica ainda que essas gagueiras têm características diferentes e gravidades que podem ser classificadas numa escala que vai de muito leve a muito grave. “Ninguém é 100% fluente, em alguns momentos esquecemos uma palavra e apresentamos rupturas na fala que refletem o planejamento da linguagem, hesitações, interjeições, dentre outras. Mas isso não necessariamente caracteriza um distúrbio da fala”, afirma. A partir das escalas de gravidade e dos valores de referência para os testes que avaliam a fluência da fala, é possível diferenciar o que é normal e o que é alterado. “A gravidade vai depender do número de disfluências gagas que a pessoa tem e da duração dessas disfluências, ou seja, quanto tempo o indivíduo leva para retomar a fluência”, afirma a professora Vanessa Martins-Reis. Tratamento Não existe cura para a gagueira, mas há tratamentos que podem melhorar muito as disfluências. No caso das gagueiras de desenvolvimento e neurogênicas, o tratamento mais indicado é a terapia fonoaudiológica. “Na terapia, a gente trabalha as técnicas de promoção da fluência. Algumas pessoas têm uma gagueira mais resistente, mas já estão sendo desenvolvidos internacionalmente medicamentos para essa finalidade”, adianta a fonoaudióloga. Já na infância, em muitos casos de gagueira do desenvolvimento, pode haver uma remissão espontânea do problema. Porém, Vanessa Martins-Reis pondera que, desde os primeiros sintomas, as crianças devem ser acompanhadas por um fonoaudiólogo especializado em gagueira. “Não necessariamente o fonoaudiólogo vai colocar a criança em terapia, mas vai levantar quais fatores de risco estão contribuindo para o aparecimento e persistência dos sintomas e tomar as condutas necessárias”, conta.

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TECNOLOGIA

Pesquisa de novo radiofármaco iniciará testes com humanos Substância será usada na tomografia por emissão de pósitrons, exame capaz de identificar tumores ainda na fase inicial

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acientes voluntários com câncer de próstata serão submetidos a exames de imagem com uma substância radioativa que será testada pela primeira vez no Brasil em humanos – a [18F]Fluorcolina. Os testes serão feitos pelo Centro de Imagem Molecular (Cimol) do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Medicina Molecular (INCT-MM) da Faculdade de Medicina da UFMG, em parceria com o Centro de Desenvolvimento de Tecnologia Nuclear (CDTN) – instituição vinculado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. Segundo o professor Marcelo Mamede, coordenador de Medicina Nuclear do Cimol, a toxicidade e a biodisponibilidade da substância radioativa já foram avaliadas e aprovadas na primeira fase das pesquisas, realizada com animais. Tudo correu como esperado. A próxima fase, prevista para começar em junho de 2013, vai avaliar seus efeitos em voluntários humanos. Os protocolos já foram aprovados no Comitê de Ética de Pesquisa em Seres Humanos da UFMG. “Podem participar pacientes encaminhados do Hospital das Clínicas da UFMG e do Hospital Luxemburgo, Imagem de modelo animal que possam se beneirradiado com o [18F] Fluorcolina ficiar dessa tecnologia para visualização”, avisa Marcelo Mamede. Inicialmente, de casos de câncer de próstata, em Foto: Cimol | Medicina UFMG determinados estágios da doença, pré-definidos. Mas a expectativa é de que sejam realizados outros avanços com a substância radioativa. O objetivo da parceria interinstitucional é alavancar o desenvolvimento da tecnologia necessária para produção nacional de radiofármacos, incentivar pesquisas e buscar a aprovação do uso rotineiro no país desse marcador de tumores. “Estudos na área também permitem a qualificação de profissionais e o avanço do conhecimento com técnicas diagnósticas dinâmicas”.

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Marcus Vinícius dos Santos

Atualmente, o país só dispõe de um radiofármaco que pode ser usado em exames de imagem molecular com tomografia por emissão de pósitrons (PET/CT): o [18F]FDG, ou F-18 Fluordeoxiglicose. O marcador é absorvido por certos órgãos do corpo, que “entendem” a substância como glicose, a qual é imprescindível para a produção de energia e sobrevivência das células. Essa técnica, porém, é inespecífica para certos tipos de câncer, como o de próstata e da glia, um determinado tipo de tumor cerebral. “Nesses casos, estudos mostram melhores resultados com o uso do radiofármaco à base de colina”, esclarece Mamede. O [18F]Fluorcolina é indicado para vários tipos de câncer, mas no caso do câncer de próstata, por exemplo, quando há aumento da produção das membranas celulares, a substância é melhor absorvida pela área afetada e permite visualização mais evidente da proliferação das células cancerosas pelo composto marcado por um isótopo radioativamente. Metaforicamente é como se o órgão afetado “brilhasse” e desse a posição exata do sinal emitido pela radiação. Mais ou menos igual às canetas marca-texto fluorescentes. PET/CT Exames de imagem convencionais, como tomografia e ressonância magnética, se baseiam na observação de alterações morfológicas. O problema é que esses métodos podem não ser eficazes em estágios iniciais do câncer ou quando o resultado se apresenta normal, afirma o radiologista. “Com o PET/CT é possível visualizar essas alterações, mas desde que utilizado o radiofármaco específico. Daí a necessidade de o Brasil alcançar a independência na produção de radiofármacos”, esclarece, chamando a atenção para a necessidade de linhas específicas de financiamento para essa área. O Cimol/UFMG está equipado com um dos mais avançados equipamentos de PET/CT da América Latina, o GE Discovery 690. A tecnologia permite detectar os fótons emitidos por partículas radioativas, usadas não só em exames oncológicos, mas também cardiológicos, psiquiátricos e neurológicos. Ao combinar duas técnicas de tomografia em um só exame, as tomografias computadorizada e por emissão de pósitrons, o PET/CT permite precisão na localização anatômica da imagem funcional. “Isso por sua vez propicia a identificação de tumores ainda muito pequenos para serem detectados pelos exames convencionais, representando não só aumento na chance de sobrevida, como também na qualidade de vida dessas pessoas”, afirma o médico nuclear. 5


GRADUAÇÃO

Alunos com deficiência visual estimulam avanços na Faculdade Estudantes dos cursos de Medicina e Fonoaudiologia da UFMG superam desafios da visão comprometida com o apoio de professores e colegas Lucas Rodrigues

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afaela Alves Nunes é cega e está no terceiro perío- deste e do próximo semestre. Foi por isso que criamos do de Fonoaudiologia da Faculdade de Medicina da essa organização além do CADV, com o objetivo de já UFMG. Suas aulas se dividem entre os campi Pampulha e entrar na próxima disciplina com todo o material dispoSaúde. Desde maio, Rafaela passou a contar com o apoio nível”, conta. sistemático de outras duas estudantes do curso. Elas recebem bolsas do Departamento de Fonoaudiologia para Precursor desenvolver material didático com tecnologias específicas Saulo Rosa Ferreira é estudante do nono período para a aluna e acompanhá-la nas atividades teóricas e prá- de Medicina da UFMG. Sua trajetória acadêmica e a posticas da graduação. tura militante se sobrepõem a um problema degenerativo Segundo a estudante, o projeto é importante pois sem tratamento: o comprometimento de cerca de 80% da as monitoras bolsistas a apoiam na produção dos materiais sua visão, denominada subnormal. próprios do curso, além de descreverem imagens apresenApesar das peculiaridades da sua situação em comtadas em slides na sala de aula. “Estudamos juntas. É claro paração com a de Rafaela, Saulo relembra um projeto que dentro da Faculdade sempre tem algo a ser aperfeiçoa- semelhante ao da Fonoaudiologia, viabilizado por meio do, mas em relação à atitude dos professores tem sido me- da Fundação Universitária Mendes Pimentel (Fump), que lhor do que eu esperava o auxiliou no início do quando ingressei. Com curso. Segundo ele, o certeza essa iniciativa projeto foi idealizado abre portas para novos em parceria com a chefe alunos do curso”, desdo Colegiado na época. taca. “Nós o escrevemos e ele A professora foi aprovado pela Fump. Ana Cristina Côrtes O bolsista também proGama é uma das resduzia material, fazia amponsáveis pelo projeto pliações. Ficou mais de de produção do matedois anos em vigor.” rial didático. Ela afirma Desde 2009, que a ideia surgiu do quando Saulo ingresmovimento dos professou na Faculdade, novos sores do Colegiado e se recursos tecnológicos concretizou a partir do foram disponibilizados contato com o Centro para a comunidade acade Apoio ao Deficiendêmica, por meio da te Visual (CADV), loPró-Reitoria de Graducalizado na Biblioteca ação (Prograd): teclados da Fafich, no campus com caracteres ampliaRafaela, estudante de Fonoaudiologia e Pampulha. No acervo dos, lupa eletrônica para Saulo, de Medicina. do CADV, é possível ampliação de textos e encontrar artigos e capíimagens, dentre outros. tulos digitalizados, além Os equipamentos pode livros e impressora dem ser encontrados na em braile, scanner para Foto: Lucas Rodrigues Biblioteca J. Baeta Viandigitalização de textos, dentre outros suportes. na e no Departamento de Anatomia Patológica da Facul“Eu tenho uma disciplina que é basicamente vi- dade de Medicina. sual, em que o fonoaudiólogo tem que fazer uma análise Saulo ainda acredita que o início do processo de de traçados acústicos da voz e da fala. E isso me deixou inclusão social deveria ser valorizado na escola básica. ansiosa, porque eu não sabia como trabalhar esse tipo de “Com a inclusão do deficiente desde o maternal, por conteúdo com a Rafaela”, revela Ana Cristina. Estas difi- exemplo, ele não somente irá se desenvolver mais, até por culdades levaram à criação de materiais didáticos que ofe- uma questão de competitividade, mas os próprios colegas recessem para a estudante um apoio tátil das informações já irão começar a ter uma visão diferenciada das capacidavisuais, além do acompanhamento de uma colega de sala des dele”, defende. da estudante. “Hoje a gente está priorizando as disciplinas

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DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA

Diálogo ajuda a enfrentar espera por transplante de fígado Segundo pesquisa, pacientes com cirrose hepática relacionada ao abuso de álcool recebem menos apoio do que pacientes com hepatites B e C Victor Rodrigues

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constatação da necessidade de um transplante de fígado é um momento delicado para o indivíduo e sua família. Mas vários fatores têm influência direta na maneira como as relações familiares e sociais se estabelecem após essa notícia. Este suporte social e o impacto que a doença causa na família foram objeto de estudo do psicólogo Clerison Stelvio Garcia, em dissertação de mestrado defendida em abril de 2013 na Faculdade de Medicina da UFMG. O caráter do transplante foi destacado como um dos pontos mais delicados a serem enfrentados, tanto pela pessoa que espera por ele, quanto por sua família. “Todos têm consciência de que a cirurgia é a última alternativa para a sobrevida, que a pessoa poderá falecer se o transplante não for bem-sucedido”, explica o autor do trabalho. Para ele, o diálogo franco é o melhor caminho. “A aproximação entre o paciente e seus familiares, com boa disponibilidade para troca justa de informações, é importante para superar este momento difícil”, orienta. A divisão de tarefas também facilita, evitando sobrecarregar apenas uma pessoa com todos os cuidados. A própria reação do paciente durante o processo afeta a maneira como a família se comporta. “Os familiares sentem menos o impacto do diagnóstico quando o paciente se sente mais confortável e também os ajuda a passar por esse momento”, afirma Clerison. “Já quando o paciente apresenta encefalopatia - que se caracteriza por confusão mental, dificuldade de fala e de locomoção, a família sente mais as dificuldades”. Fatores determinantes As entrevistas dos 119 pacientes em espera para transplante de fígado no Hospital das Clínicas da UFMG e seus familiares mostram que o suporte oferecido a estas pessoas, em geral, se relaciona à assistência, ajuda material e expressão de afeto positivo. Escolaridade mais elevada e a ausência de doenças paralelas foram associadas a um menor impacto na família e ao maior suporte social para essas pessoas. Por outro lado, o indivíduo com mais complicações, em geral, gera maior impacto e, consequentemente, conta apenas com um pequeno núcleo de parentes e amigos mais próximos. A reação da família ao diagnóstico variou também de acordo com o motivo que levou à necessidade do transplante. Pacientes com cirrose hepática relacionada ao abuso de álcool recebiam menos suporte social do que pacientes com outros diagnósticos, como as hepatites B e C. O psicólogo atribui essa relação ao trabalho que esses pacientes já deram para a família devido ao alcoolismo, com possíveis episódios de agressões e constrangimento público. “O diagnóstico é encarado como mais um pro-

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Foto: Bruna Carvalho

blema provocado por aquela pessoa, algo até certo ponto esperado”, afirma. “Nos outros casos, é mais comum a família ser pega totalmente de surpresa pelo diagnóstico”. Métodos Dois questionários foram utilizados no estudo para avaliar o tema. O primeiro, chamado “Inventário de Rede de Suporte Social” (SSNI, na sigla em inglês), avalia a quantidade e qualidade de relações sociais de um indivíduo. Já a “Escala de Zarit” mede a sobrecarga que os cuidados com o candidato a transplante causam na família. Os resultados desses questionários foram também comparados com dados socioeconômicos desses pacientes. A análise mostrou também a influência de fatores como sexo e idade do paciente. Pacientes mais jovens tiveram mais suporte social. Uma hipótese levantada foi a importância da presença e apoio dos pais, comum principalmente entre os pacientes com menos de 30 anos. A família também sofreu maior impacto quando os candidatos a transplantes eram homens. Para Clerison, isso pode ser uma questão cultural, ainda focada no homem como chefe da família. “Em geral, esses pacientes estão em idade economicamente ativa, são os principais provedores da família, e esta dependência aumenta o sofrimento frente ao risco de morte deste parente”, conclui. Título: O suporte social e o impacto na família de candidatos a transplante de fígado Nível: Mestrado Programa: Cirurgia e Oftalmologia Autora: Clerison Stelvio Garcia Orientador: Agnaldo Soares Lima Defesa: 18/03/2013

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PESSOAS

Acontece

Do campo para a clínica

Obesidade

Ex-jogador da Seleção Brasileira de Futebol formou-se em Medicina na UFMG Lucas Rodrigues

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duardo Gonçalves de Andrade, ou simplesmente Tostão, nasceu em 1947, em Belo Horizonte, e aos 23 anos já era campeão do mundo pela Seleção Brasileira de Futebol. Antes, já havia vencido a Taça Brasil e, por quatro edições consecutivas, foi artilheiro do Campeonato Mineiro. Tudo isso entre os anos de 1960 e 1970. Mas as conquistas pessoais e profissionais do notável ponta esquerda foram além das quatro linhas. A carreira nos gramados foi encerrada precocemente, devido a um grave descolamento da retina, agravado em um lance casual de jogo. Depois disso, Tostão fez o curso de Medicina, na UFMG, entre 1975 e 1981. O médico também fez residência no Hospital das Clínicas da Universidade. Após a formação acadêmica, lecionou na Faculdade de Ciências Médicas por 12 anos, entre 1983 e 1995, nos Departamentos de Semiologia e Clínica Médica. “O convívio com os estudantes foi enriquecedor na minha formação médica e humana”, garante Tostão. “Além das aulas teóricas, dava aulas práticas, na Santa Casa e no Hospital São José, onde trabalhava na enfermaria”, conta. No entanto, ele revela um dos motivos que o levaram a encerrar a carreira de professor. “O profissional era usado como cargo de trabalho e, ao mesmo tempo, tinha que ensinar os alunos, que ficavam prejudicados”. Hoje, Tostão não

atua mais na área médica, mas explica que escolheu a profissão “por achar que poderia entender e conhecer melhor o ser humano.” Ele também fez cursos de psicanálise e diz que sua experiência na Medicina contribuiu para o ofício de colunista em jornais impressos, graças a uma percepção maior que adquiriu em relação ao comportamento das pessoas. Futebol Tostão, claro, também opina sobre discussões atuais do futebol. “Os estaduais deveriam ser mais enxutos, para sobrar datas para o Brasileirão e outros compromissos mais interessantes. Mas não acho que eles devam acabar.” E sobre o ano de 2013 para Atlético e Cruzeiro, ele conclui: “pelos elencos atuais, ambos têm boas chances de ganhar títulos nacionais”. Médicos jogadores Tostão não é o único exemplo de exjogador de futebol que cursou Medicina. O Doutor Sócrates e Afonsinho, ídolos de Corinthians e Botafogo, respectivamente, seguiram rumo semelhante. O primeiro inaugurou, no início da década de 1990, em Ribeirão Preto, interior paulista, uma clínica médica para atender tanto pacientes comuns quanto profissionais de modalidades esportivas. Já o último trabalhou como médico do INSS e foi pioneiro na luta pelo passe livre do jogador no Brasil.

A obesidade infantil e o marketing de alimentos direcionados às crianças serão temas do fórum virtual do Observatório da Saúde da Criança e do Adolescente (ObservaPED), promovido pelo eixo “Prevenção de obesidade e doenças associadas”. O debate prossegue até 30 de junho. Para participar, basta acessar o endereço eletrônico www. medicina.ufmg.br/observaped e se registrar.

Pró-PET Saúde A 3ª Mostra do Pró-PETSaúde será realizada no dia 15 de junho, das 8h às 17h, no Centro de Atividades Didáticas 1 (CAD 1), no Campus Pampulha da UFMG. O objetivo é divulgar projetos, promover debates e estimular a produção do conhecimento na área da saúde.

Especialização O Curso de Especialização em Cardiologia Pediátrica recebe inscrições para o processo seletivo até 21 de junho. A seleção incluirá conhecimento técnico de língua inglesa, avaliação de currículo e arguição do projeto de pesquisa. Informações: 3409-9641

IMPRESSO

Ilustração: Carina Cardoso

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