Saudeinforma 34

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Boletim Informativo da Faculdade de Medicina da UFMG Nº 34 - Ano IV - Belo Horizonte, novembro de 2013

Para elas, por elas

C

ombate à violência contra a mulher requer atuação multiprofissional e centralizada, para evitar que a vítima sofra repetidamente, cada vez que relata a agressão. Especialista defende também envolvimento maior dos homens, que não deveriam ser tratados como inimigos, mas como parceiros na defesa dos direitos das mulheres.

Páginas 4 e 5

PESQUISA Tomografia ajuda a diferenciar asma e bronquiolite

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ENSINO Reforma curricular entra em vigor em 2014

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Foto: Hadassah Sorvillo

CONGRESSO Evento será realizado depois da Copa do Mundo

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Editorial O Dia Internacional de Combate à Violência contra a mulher é lembrado em 25 de novembro. Para marcar a data, o Saúde Informa destaca o Projeto de Atenção Integral à Saúde da Mulher em Situação de Violência, parceria entre o Ministério da Saúde e Faculdade de Medicina da UFMG. Ouvimos a coordenadora da iniciativa, a professora Elza Melo, que desfaz alguns mitos relacionados ao tema. Na seção de Divulgação Científica, confira a pesquisa que buscou diferenciar duas doenças respiratórias cujos sintomas são parecidos: a asma grave e a bronquiolite obliterante pós-infecciosa. Nesta edição apresentamos também as principais mudanças previstas com a implementação da reforma curricular do curso de Medicina, que começa a vigorar a partir do segundo semestre de 2014. Também na segunda metade do ano que vem será realizado o 3º Congresso Nacional de Saúde da Faculdade de Medicina da UFMG, que foi remarcado em razão do cronograma da Copa do Mundo de Futebol. E mais: veja a participação do Nupad no mutirão “Direito de ter pai”. Boa leitura!

Publicações Tratado Gastrointestinal e Doenças do Fígado A nova edição revisada, em português, reúne autores de pelo menos 12 países, e acrescenta três novos capítulos, completando os 127 do primeiro volume. São apresentadas as inovações técnicas ocorridas nas últimas quatro décadas, o que há de mais recente sobre cirurgia bariátrica, ultrassonografia endoscópica, endossonografia e tratamento de doenças hepáticas. A publicação tem chancela da Federação Brasileira de Gastroenterologia e foi revisada pela professora do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da UFMG, Maria do Carmo Friche Passos. Editora Elsevier

Autopsy and Case Reports

Tema: Aprendendo a conviver com Diabetes Professora

Anelise Impelizieri Nogueira

20 de Novembro| Quarta-feira | 12h30 www.medicina.ufmg.br/quartadasaude

Local: Sala 150 Faculdade de Medicina da UFMG Av. Prof. Alfredo Balena, 190, 1º andar Santa Efigênia - Belo Horizonte

Publicação eletrônica trimestral, de acesso aberto, do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo (USP), com o objetivo de disseminar informações e conhecimento científico focados principalmente nas autópsias acadêmicas. O editorial da edição de julho a setembro de 2013, “Clinicopathological Conferences: a testimonial”, é assinado pelo professor emérito da UFMG Luiz Otávio Savassi Rocha. Ele também é membro do Comitê de Publicação, juntamente com o professor Geraldo Brasileiro Filho, do Departamento de Anatomia Patológica e Medicina Legal da Faculdade de Medicina da UFMG. www.autopsyandcasereports.org

Entrada gratuita e aberta ao público

Assessoria de Comunicação Social

Expediente

Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais – Diretor: Professor Francisco José Penna – Vice-Diretor: Professor Tarcizo Afonso Nunes – Coordenador da Assessoria de Comunicação Social: Gilberto Boaventura – Editora: Alessandra Ribeiro ( Reg. Prof. 9945MG) – Redação: Jornalistas: Larissa Rodrigues e Mariana Pires – Estagiários: Karla Escarmigliat, Tayrane Corrêa, Jéssica Almeida e Victor Rodrigues. Projeto Gráfico: Ana Cláudia Ferreira de Oliveira e Leonardo Lopes Braga. Diagramação: Luiz Lagares - Atendimento Publicitário: Desirée Suzuki – Impressão: Imprensa Universitária – Tiragem: 2000 exemplares – Circulação mensal – Endereço: Assessoria de Comunicação Social, Faculdade de Medicina da UFMG, Av. Prof. Alfredo Balena, 190 / sala 55 - térreo, CEP 30.130-100, Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil – Telefone: (31) 3409-9651 – Internet: www.medicina.ufmg.br; facebook.com/medicinaufmgoficial; www.twitter.com/medicinaufmg e jornalismo@medicina.ufmg.br. É permitida a reprodução de textos, desde que seja citada a fonte.

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DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA

Tomografia ajuda a diferenciar asma e bronquiolite Pesquisa utilizou protocolo de baixa radiação no exame, para reduzir risco de câncer em crianças

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sma grave e bronquiolite obliterante pós-infecciosa são doenças crônicas que obstruem as vias aéreas do pulmão. Por terem sintomas semelhantes, são muito confundidas, o que dificulta o tratamento. Com o objetivo de evitar erros no diagnóstico, dissertação de mestrado defendida na Faculdade de Medicina da UFMG compara exames que ajudam a diferenciar as duas doenças. O estudo transversal envolveu todos os pacientes encaminhados ao Ambulatório de Asma de Difícil Controle e ao Ambulatório de Pneumologia Geral do Hospital das Clínicas da UFMG, no período de 2010 a 2013. “Ao todo, foram analisados 20 crianças ou adolescentes com asma grave, entre 5 e 18 anos de idade, e o mesmo número com a bronquiolite obliterante”, relata Raquel Vidica Fernandes, autora da dissertação. Segundo ela, antes de participar dos estudos, todos os pacientes tinham sido internados nos últimos 12 meses, sendo 30% em Centro de Terapia Intensiva (CTI). “As várias crises podem levar ao remodelamento das vias aéreas, que não irão responder totalmente aos medicamentos. Isso ocasiona as internações”, explica. Métodos não invasivos foram testados para avaliação da especificidade e da precisão dos diagnósticos: análise da citologia e citometria do escarro induzido, fração exalada do óxido nítrico (FeNO) e tomografia computadorizada de alta resolução. Os resultados mostraram que a tomografia é o exame mais fidedigno para ajudar a diferenciar as duas enfermidades. “Só as alterações tomográficas apresentaram sensibilidade e especificidade de 95% e 100%, respectivamente, para discriminar as duas doenças”, afirma Raquel. O exame mostrou que alterações como dilatação dos brônquios, retenção de excesso de ar nos pulmões, redução volumétrica do pulmão e colapso de parte ou de todo o pulmão foram mais frequentes na bronquiolite obliterante do que na asma grave. Redução de riscos A pesquisa teve como diferencial a utilização de um protocolo de baixa radiação para a tomografia. “A radiação aumenta o índice de câncer em crianças. Elas são irradiadas demais, pois fazem radiografia desde um ano de idade”, alerta a pesquisadora. O exame aplica dose quatro vezes menor de radiação nas tomografias de tórax normal. “Fizemos os exames de radiação sem prejudicar as crianças e conseguindo separar as doenças”, ressalta. Raquel explica que o exame já faz parte de um protocolo internacional, mas que poucos radiologistas acreditam ser possível realizá-lo. “É possível utilizar o equipamento de forma mais eficiente, modificando apenas a dosagem. Basta que os radiologistas estejam treinados para isso”, garante. Com os resultados da tomografia, segundo a autora, foi possível fazer o diagnóstico e contro-

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Karla Escarmigliats

lar os pacientes, sem morte ou internação de nenhum deles no CTI. Semelhanças A asma é a quarta doença mais prevalente no mundo todo, segundo a Organização Mundial de Saúde. Sua gravidade está relacionada ao grau de intensidade e à persistência das crises. Já a prevalência da bronquiolite obliterante não é muito conhecida. Está associada a doenças respiratórias do pulmão, provocadas por vírus comuns dos pafoto: Karla Escarmigliat íses em desenvolvimento, como os do resfriado. “É uma doença denominada órfã, pois não existem ainda protocolos definidos para tratamento”, afirma a professora do Departamento de Pediatria, Laura Lasmar, orientadora da pesquisa. As duas doenças apresentam alta morbidade e levam crianças e adolescentes a terem Raquel Fernandes defende a uma qualidade de tomografia como melhor exame vida ruim. “A difipara o diagnóstico culdade do diagnóstico vem do fato de a criança com bronquiolite iniciar com um quadro viral respiratório agudo, e isso leva a apresentar histórico de sintomas como falta de ar, tosse seca, chiado e opressão no peito, que são parecidos com o da asma”, explica a autora do estudo. Segundo ela, com o diagnóstico errado, os pacientes são tratados a vida inteira sem melhoras significativas. As crianças e adolescentes com bronquiolite obliterante, por exemplo, podem chegar aos centros de referência para tratamento tardiamente, já com a doença avançada e muitas lesões pulmonares. “Por isso, a importância do diagnóstico precoce”, ressalta.

Título: Asma grave refratária e bronquiolite obliterante pós-infecciosa em crianças e adolescentes: como diferenciá-las quanto aos aspectos tomográficos, funcionais e de marcadores não invasivos do processo inflamatório? Nível: Mestrado Programa: Saúde da Criança e do Adolescente Autora: Raquel Vidica Fernandes Orientadora: Laura Maria de Lima Belizario Facury Lasmar Defesa: 4 de outubro de 2013

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Combate à violência envolve home Considerar o homem como inimigo no combate à violência contra a mulher é

Jéssica de Almeida e Karla Escarmigliat

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tos de violência contra a mulher costumam ser trataO projeto também realiza treinamentos em hosdos como casos de polícia. No entanto, a área da saú- pitais para o atendimento de vítimas de violência sexual. de também tem importância no tratamento e na prevenção “Muitas vezes temos preconceito contra a vítima e contra desses casos. Os profissionais da saúde, responsáveis por o agressor, e a saúde deveria atender as pessoas para entenacolher e tratar as feridas físicas e mentais das vítimas, são der o que está acontecendo, escutar, participar de soluções. fundamentais na prevenção de futuros atos de violência. Além de curar a ferida, dar o remédio, ela também tem “A saúde inteira tem esse papel, mas a atenção primária esse papel da reconstrução do sujeito”, defende a profesestá cravada onde as pessoas estão vivendo”, afirma a co- sora Elza Melo. ordenadora do Núcleo Saúde e Paz da Faculdade de Medicina da UFMG, Elza Melo, também à frente do Projeto Lei Maria da Penha de Atenção Integral à Saúde da Mulher em Situação de Apesar da criação da Lei Maria da Penha, em 2006, Violência, financiado pelo Ministério da Saúde. não houve uma redução significativa dos casos de violência O Sistema Único de Saúde (SUS) ainda não con- contra a mulher no país. Segundo estudo do Instituto de ta com uma rede de atenção preparada para atender com Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), no período de 2001 humanização mulheres em situaa 2006, anterior à lei, as taxas Foto: Mariana Pires ção de violência. “A mulher chega de mortalidade eram de 5,28 violentada, receosa, com medo por 100 mil mulheres; de 2007 de falar e muitas vezes encontra a 2011, depois da lei, a taxa profissionais que não acolhem ou registrada foi de 5,22 mortes que não estão preparados, pois para cada 100 mil mulheres. não tiveram formação para isso”, Na opinião da professoafirma Elza Melo. ra Elza Melo, apesar da tentaMas existem experiências tiva de proteção das mulheres que possibilitam centralizar o com uma lei que as ampare atendimento, evitando que a mude atos de violência, o erro lher tenha que repetir a história consiste em manter uma posda agressão em todos os lugares tura opositora entre homem e por onde passaria. Locais que mulher. “O homem é decisivo oferecem atendimento integrado e nós não podemos trabalhar às mulheres vítimas de violência, na perspectiva de que um seja chamados de cadeias de custódia, inimigo do outro, eles são já são encontrados nos estados de complementares, são parceiMinas Gerais e São Paulo e conros, são pai e filha, são mãe e tam com equipes multiprofissiofilho”, alerta. Ainda segundo a nais, formadas por médicos, psiprofessora, por isso é tão doOficina do Seminário Para Elas, cólogos, policiais, dentre outros. realizado em fevereiro loroso para as mulheres notificarem casos de violência: “tanPor elas e por eles to o homem quanto a mulher querem voltar para o seu habitat”, completa. A abordagem integrada no atendimento à mulher vítima de violência é promovida pelo Projeto de Atenção Integral à Saúde da Mulher em Situação de Violência, lan- Fortalecer relações çado em fevereiro de 2013 na UFMG, com o Seminário Para O caminho defendido por Elza Melo é apostar no elas, por elas, por eles, por nós. A capacitação de profissionais fortalecimento das relações humanas. Segundo ela, a viode referência no atendimento às vítimas é a estrutura cen- lência brota de relações enfraquecidas pela individualidade tral do projeto, por meio de cursos e seminários em todo e da fragilidade dos laços afetivos. “Briga-se por tudo, a o país. nossa sociedade é a do individualismo possessivo. Eu cuiO objetivo é formar profissionais humanizados, ca- do de mim, eu escolho o melhor para mim e não quero pazes de receber e acolher as mulheres de modo que elas saber do outro”. se sintam seguras para procurar ajuda e denunciar os casos Assim, a mobilização dos setores deve ser feita em – o que não acontece na maioria das vezes, já que apenas conjunto com uma conscientização social. “A luta contra cerca de um terço das mulheres denuncia atos de violência a violência é de todos, da sociedade, dos profissionais, das sofridos. mulheres, dos homens”.

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ens e mulheres

Para Elas

um erro, defende professora

por elas,por eles,por nós

Foto: Karla Escarmigliat

“A mulher está vinculada a essas pessoas e não quer vê-las presas ou afastadas” A professora Elza Machado de Melo, coordenadora do Projeto de Atenção Integral à Saúde da Mulher em Situação de Violência, explica a proposta de formação de uma rede nacional de atendimento às vítimas. E aponta estigmas culturais que ainda colocam a mulher em situação de vulnerabilidade:

Sexo frágil

Para Elas

“Embora a mulher tenha assumido um papel, ela ainda é vista como sendo um sexo frágil, ainda se considera que o homem manda mais (ela esta à sombra do homem), que ela é responsável pelos crimes violentos que ela sofre, que ela que incita. Tem toda uma cultura que ainda atribui à mulher a culpa dela ser vítima.”

“A estrutura central do projeto é a capacitação de profissionais, então nós transformamos os seminários em momentos em que nós ouvimos pessoas do país inteiro, e a partir disso nós ajustamos a matriz. Os seminários foram mudando nesse tempo, a gente estava canalizando para profissionais de saúde do nível superior, depois ampliamos para agentes comunitários e profissionais de funções técnicas, agora ampliamos para movimentos sociais. À medida que fomos trabalhando com as pessoas, elas foram colocando as demandas. O agente comunitário, por exemplo, foi demandado no Norte do país; em Salvador, eles pediram a participação dos movimentos sociais; no Sudeste, foram pedidos para profissionais de referência no atendimento à violência. A ideia de autonomia é isso, é ouvir e considerar as pessoas. Nós já fizemos um seminário nacional em quatro macrorregiões. Falta só o Centro-Oeste, então, esta meta está cumprida. Os seminários são berços, eles dão para gente esse elemento de interlocução para criação da rede. A partir dele, nos ajustamos a matriz de capacitação”.

Bate e assopra “A maior parte da violência que a mulher sofre é dentro de casa e de pessoas que ela ama. Então, o fato de ser dentro de casa, e aí a cultura de novo tem um papel importante, pois ele diz: olha lá, na vida deles não vamos nos meter. Tem a cultura, mas também tem o vínculo. O vínculo é muito forte. A gente sabe que mais ou menos um terço das mulheres denuncia o ato de violência que sofre, porque imagina a dor e sofrimento de uma mulher que vai denunciar o filho, o pai ou companheiro? Então geralmente a violência surge assim. Geralmente acompanhada de um pedido de desculpas, carícias, um ‘bate e assopra’”.

Autonomia “É uma questão de autonomia sim, mas não financeira. A mulher está inserida no mercado de trabalho e teria como se virar e ter condições de sustentar a família. Eu digo que é autonomia na concepção ampla da palavra, nos direitos, de ser levada em consideração: liberdade para enfrentar o mundo e segurança para assumir a sua condição de direito no mundo. Essa autonomia falta porque a mulher está vinculada a essas pessoas e não quer vê-las presas ou afastadas. Ela quer conviver com essas pessoas, então fica dentro das paredes da casa e não se notifica”.

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Rede “Nós estamos construindo essa rede de atendimento à mulher. Nós fazemos um planejamento estratégico e participativo durante uma semana, montamos um plano de ação, e lá vamos para o hospital e capacitamos o atendimento da mulher em situação de violência, depois trazemos dois profissionais para acompanhar, aqui, nossos serviços de referência. Por fim, o material didático que vai ser produzido dessa experiência. Nós já fizemos todos os seminários, vai inteirar 60% dos 10 municípios, e já fizemos o mapeamento parcial da rede. E o ano que vem todo será dedicado aos cursos de curta duração e à seleção dos multiplicadores. O projeto é lindo. A imagem do projeto é muito significativa. Essa ideia de ter as pessoas participando do trabalho em rede de fato funciona, as pessoas se sentem parte do projeto. Eu acho que nós temos conseguindo ter um retorno e uma mobilização das pessoas”. 5


ENSINO

Reforma curricular começa a valer em 2014 Medicina terá disciplinas de atenção primária no início do curso, dentre outras mudanças Larissa Rodrigues

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partir do segundo semestre do ano que vem, os alunos que ingressarem no curso de Medicina da UFMG irão iniciar os estudos com um novo currículo acadêmico. Além disso, os estudantes do 2º ao 9º períodos serão beneficiados com vários avanços do novo currículo. No último dia 18 de setembro, foi instituída a Comissão de Implementação e Acompanhamento da Reforma Curricular (Ciar). Coordenadora do Ciar e subcoordenadora do Colegiado, a professora Cristina Alvim avalia que as mudanças curriculares são sempre necessárias. “Ocorrem transformações na sociedade, nas necessidades de saúde e no desenvolvimento de conhecimento científico. Então, as mudanças curriculares devem acontecer periodicamente. O novo currículo propõe uma formação mais integrada e humanista”, afirma.

Ela cita como exemplos as disciplinas de ética, a propedêutica contextualizada e as disciplinas de iniciação à atenção primária, no começo do curso, que irão possibilitar um contato mais precoce dos estudantes com a realidade da atenção à saúde das pessoas. “Outros avanços significativos se referem às mudanças na organização do ensino da Semiologia e da Urgência, que certamente contribuirão para a formação de um médico generalista mais competente”, exemplifica. De acordo com a professora, o momento agora é de planejar as turmas, os horários e revisar os planos de ensino por causa da fase de transição. “Esse momento é delicado, porque tiveram mudanças de disciplinas que aconteciam em períodos diferentes e isso gera um momento de duplicação. Por exemplo, o internato de cirurgia antes acontecia no último perío-

Foto: Bruna Carvalho

Docentes do Departamento de Cirurgia participam de discussão sobre novo currículo

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NOVO CURRÍCULO

MEDICINA 2014 do e agora será do décimo. Em algum momento teremos duas turmas: uma na versão antiga e outra na nova,” exemplifica. Ainda segundo a professora, a intenção é que em 2016 não haja mais a versão curricular antiga. Apresentação Alguns fóruns e assembleias departamentais já estão sendo realizados para que os docentes sejam apresentados às mudanças. Em outubro, aproximadamente 30 professores do Departamento de Cirurgia reuniram-se para discutir a implementação do novo currículo, juntamente com representantes do Colegiado. O professor do Departamento de Cirurgia e representante do departamento na Ciar, Marco Antônio Gonçalves Rodrigues, explica os objetivos da assembleia. “A proposta de reestruturação do ensino de cirurgia é muito antiga e grande parte dos nossos professores já a

conhecia muito bem, então, nós convocamos essa assembleia, em primeiro lugar, para notificar o grupo da aprovação da reforma, com a viabilização da nossa proposta, que seguramente vai melhorar o ensino de cirurgia em nossa Faculdade”, avalia. Ele lembra que o último contato dos professores com os planos de ensino das disciplinas foi há mais de dois anos, tempo que o projeto de reforma tramitou até ser aprovado. “Um segundo objetivo da assembleia era discutir a necessidade de se fazer revisão de conteúdos e práticas, verificando as demandas de pessoal e infraestrutura para colocar a reforma em prática”, afirma. Além disso, a ideia era colocar os novos professores dentro desse histórico e das mudanças. A previsão é que no início de 2014 um seminário seja realizado para apresentação das propostas a professores, estudantes, funcionários e demais interessados.

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INCLUSÃO

O nome do pai Nupad realiza exames de DNA em mutirão promovido pela Defensoria Pública

ão centenas de histórias. No último dia 18 de outubro, 611 mães, filhos e supostos pais de Belo Horizonte compareceram à sede da Defensoria Pública de Minas Gerais para esclarecer dúvidas sobre a filiação das crianças, durante o mutirão “Direito de ter pai”. Uma oportunidade de registrar a paternidade voluntariamente, ou, ainda, fazer o teste do DNA em estrutura montada na própria defensoria. Foi o caso de Milda Maria, mãe de Pedro Henrique, de sete anos. Enquanto a criança se distraía entre brincadeiras, mesas de colorir, pula-pula e piscina de bolinhas, ela e o pai do menino aguardavam a chamada para a realização do teste. Segundo Milda, o convite para comparecer ao mutirão foi feito pelo próprio pai, a partir de um anúncio de jornal. “Pedro já conhece o pai. Eles têm uma relação bacana e para oficializar, basta o registro”, conta. Para ela, a decisão de buscar o exame será importante para o futuro de Pedro. “É fundamental ter o nome do pai na carteira da identidade. Não quero que meu filho sofra bullying na escola ou em outras situações”, afirma. Caso semelhante é o de Daysiane de Castro, 25 anos, mãe

Foto: Bruna Carvalho

A defensora pública Andréa Garzon

de Pedro, de dois anos. Daysi também cresceu sem o nome do pai na carteira de identidade, e garante que não quer isso para o filho. “Hoje em dia, principalmente, criança sente muita falta. Por mais que o Pedro conviva com o pai e com a família dele, é complicado, pois vivemos vidas Crianças participaram de atividades separadas. Ele tem outra recreativas durante o mutirão mulher, e é justo que não haja dúvidas entre nenhum envolvido”, des, é muito alta. “A chance de considera. “A gente sabe que o amor que já haver erro é praticamente zero. existe é muito importante, mas infelizmente Desde 1997, quando passamos ter o nome do pai no documento faz muita a realizar esse exame, nenhum laudo foi contestado”, afirma. diferença para qualquer pessoa”, opina. O laboratório, referência na área, domina técnicas interMutirão De acordo com a defensora pública nacionais padrão ouro para anáAndréa Garzon, essa é a segunda vez que o lise e comparação de marcadomutirão acontece em Belo Horizonte e em res de DNA presentes no filho e algumas cidades do Triângulo Mineiro. “Em herdadas da mãe e do pai. A participação no muUberlândia, que é nosso projeto piloto, já é a sexta vez. O sucesso foi tanto que resolvemos tirão é voluntária: pais, mães e expandir, e em 2013 chegamos a 25 municí- outros parentes se cadastraram antecipadamente, para a possipios de Minas Gerais”, comemora. Dentre as motivações para a mobiliza- bilidade da realização do exame ção está a ampliação da cidadania em um mo- e mudança do registro. Andréa mento que antecede a ação judicial, num am- lembra, porém, que o serviço é biente que propicia o encontro e a alegria. “O realizado todos os dias do ano, mutirão promove o desafogo do judiciário, já basta que as partes interessadas que é um processo a menos. Isso leva a uma procurem a Defensoria Pública. economia considerável aos cofres públicos, já que cada ação custa de três a cinco mil reais. Nupad Além disso, esse espaço promove a possibiliO Laboratório de Gedade de um encontro longe da tensão do judi- nética e Biologia Molecular do ciário. Vemos, aqui, pais que nunca abraçaram Núcleo de Ações e Pesquisa em os filhos antes, brincando”, conta Andréa. Apoio Diagnóstico da Faculdade Um dos parceiros da iniciativa é o Nú- de Medicina da UFMG (Nupad) cleo de Ações e Pesquisa em Apoio Diagnós- é o responsável pela realização tico da Faculdade de Medicina da UFMG, dos exames. A coleta do mateque realiza o exame em seu Laboratório de rial é realizada em papel filtro, o Genética. O coordenador acadêmico do Nu- mesmo utilizado para a triagem pad, professor Marcos Borato, lembra que o neonatal (o teste do pezinho). As censo escolar de Minas Gerais apontou para amostras de Belo Horizonte e quase 50 mil crianças no Estado que não têm dos outros municípios serão anao nome do pai registrado. Ele explica que a lisadas para emissão de laudos de confiabilidade do teste, que será feito nos exa- inclusão ou exclusão de paternimes recolhidos nos mutirões de todas as cida- dade (positivo ou negativo).

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Foto: Bruna Carvalho

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Mariana Pires

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AGENDA

Acontece

Congresso de Saúde será em setembro de 2014 Alteração no calendário acadêmico, em razão da Copa de 2014, levou à mudança Larissa Rodrigues

O

3º Congresso Nacional de Saúde da Faculdade de Medicina da UFMG, que seria realizado em março de 2014, foi remarcado para o período de 3 a 5 de setembro do ano que vem. A coordenação da comissão científica do Congresso explica que, com a realização da Copa do Mundo em 2014, o calendário acadêmico de toda a UFMG sofreu alterações: no primeiro semestre as aulas começarão antes do previsto, e serão encerradas com antecedência também, já que a Fifa exige que não haja atividades na Universidade durante o período de realização dos jogos, nos meses de junho e julho.

Congresso Nacional de Saúde também foram informados, e disseram estar de acordo com a alteração. Nova gestão Uma das vantagens da realização do Congresso em setembro será a utilização do Salão Nobre da Faculdade de Medicina para as principais conferências, uma vez que a reforma do espaço terá sido concluída. Outra vantagem apontada pela coordenação da comissão científica é que, caso fosse realizado em março, o Congresso seria às vésperas da mudança de diretoria na Unidade – a gestão atual irá até 11 de abril. Desta forma, o adia-

3° Congresso Nacional de Saúde Faculdade de Medicina da UFMG Cenários da Saúde na Contemporaneidade 3 a 5 de setembro de 2014 mento propicia maior atenção à prestação de contas do mandato que acaba e à posse da próxima gestão. Como o Congresso será realizado já na nova gestão, a comissão científica esclarece que a atividade é institucional, da Faculdade de Medicina da UFMG, e não da Diretoria. Assim como as aulas, cursos, obras, e tudo que está em andamento. A atual Diretoria informa que já procurou os candidatos para uma conversa sobre o Congresso de Saúde. De acordo com a Diretoria, provavelmente quem está na organização continuará, e tudo seguirá conforme o planejado.

O Centro de Graduação (Cegrad) orienta os alunos inscritos no Enade 2013 a preencherem o “Questionário do Estudante”, disponível no endereço portal.inep.gov.br, até o dia 24 de novembro. O preenchimento é obrigatório e só depois disso o estudante poderá imprimir o cartão com a informação do local do exame.

Eleição de Colegiado Nos dias 25 a 27 de novembro será realizado o processo eleitoral para formação do Colegiado de Pós-Graduação em Ciências Fonoaudiológicas. O processo é aberto a professores permanentes do Programa de PósGraduação, com título de doutor ou grau equivalente. A votação será na Secretaria do Centro de Pós-Graduação, sala 533 da Faculdade de Medicina da UFMG.

Jornada de Anatomia A X Jornada Acadêmica de Anatomia Aplicada (Janp) será realizada nos dias 23 e 24 de novembro e envolve estudantes da Faculdade de Medicina da UFMG, da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais, do Uni-BH e da Faseh. O objetivo é promover a discussão de temas relacionados à importância da anatomia em diversas áreas da Medicina. Para outras informações, acesse www.janp.com.br .

IMPRESSO

Inicialmente, a ideia era solicitar ao Colegiado uma pausa nas aulas da Faculdade de Medicina para a utilização da estrutura da Unidade no evento. Mas, por causa das alterações no calendário, tornou-se inviável interromper as atividades já previstas sem prejudicar a comunidade acadêmica. Ainda de acordo com a comissão científica, a mudança de data não irá alterar a programação do Congresso, uma vez que o evento já está todo planejado – os eixos já estão definidos, as comissões formadas, e as reuniões continuam acontecendo. Todos os parceiros da Faculdade na realização do 3º

Enade

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