Boletim Informativo da Faculdade de Medicina da UFMG Nº 36 - Ano V - Belo Horizonte, março de 2014
Tecnologia para um parto mais seguro P
esquisa desenvolve protótipo para informatização do partograma, documento que reúne informações sobre a evolução do parto. Trabalho foi desenvolvido na pósgraduação em Saúde da Mulher, em parceria com a Universidade do Porto e o Departamento de Ciência da Computação da UFMG. Centro de Informática em Saúde da Faculdade de Medicina (Cins) oferecerá suporte para criação do software.
Foto: Bruna Carvalho
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NOVIDADE Cantina vira ponto de encontro da Faculdade
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DEPRESSÃO Superação envolve mudança de comportamento
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ENTREVISTA Novos diretores tomam posse em abril
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Editorial Boas novas A primeira edição de 2014 do Saúde Informa chega no mês de aniversário da Faculdade de Medicina da UFMG. No dia 5 de março, a instituição completou 103 anos, com muitas realizações para celebrar. Para se ter uma ideia, este ano já estão garantidos R$ 800 mil de investimentos na Unidade, parte do montante dos R$ 3 milhões captados pela Assessoria Institucional, setor criado na gestão do diretor Francisco Penna, que entrega seu mandato também neste mês. O Saúde Informa entrevistou os diretores eleitos, Tarcizo Nunes e Humberto Alves, que tomam posse em abril. Eles falam sobre as expectativas, os planos e desafios da nova gestão. Não deixe de conferir também, na seção de Divulgação Científica, a matéria que destacamos na capa: a pesquisa que desenvolveu o protótipo de um software específico para o acompanhamento da evolução do trabalho de parto. A ferramenta promete reduzir os índices de mortalidade materna e neonatal. Mais uma boa notícia, que escolhemos para marcar o mês da mulher. Boa leitura!
Publicações Blackbook Clínica Médica Em sua segunda edição, o livro traz as principais informações para ajudar médicos de todas as especialidades nos momentos mais críticos do dia a dia profissional. Além dos 45 capítulos da edição anterior, que foram integralmente reescritos, apresenta capítulos inéditos como os de acidente vascular encefálico, refluxo gastroesofágico e dependência de crack e cocaína. A publicação é dos professores da Faculdade de Medicina da UFMG Reynaldo Gomes de Oliveira, do Departamento de Pediatria, e Enio Pietra, do Departamento de Clínica Médica. Blackbook Editora.
Neuroanatomia Funcional A terceira edição do livro apresenta 32 capítulos, sendo o último um atlas de secções do cérebro. Foram acrescidas imagens de tractografia, demonstrando fibras e conexões obtidas com auxílio de ressonância magnética (RM). Assinado pelo professor aposentado da UFMG, Ângelo Machado, com coautoria da neurologista infantil Lúcia Machado Haertel. Editora Atheneu.
05 103°
MARÇO
Aniversário
Faculdade de Medicina da UFMG “O maior compromisso de uma instituição de ensino superior de qualidade é a formação de profissionais competentes.”
Prof. Francisco Penna, 2014
Diretoria
Expediente
Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais – Diretor: Professor Francisco José Penna – Vice-Diretor: Professor Tarcizo Afonso Nunes – Coordenador da Assessoria de Comunicação Social: Gilberto Boaventura – Editora: Alessandra Ribeiro (Reg Prof. 9945MG) – Redação: Jornalistas: Larissa Rodrigues, Mariana Pires, Rafaella Arruda – Estagiários: Karla Escarmigliat, Deborah Castro. Projeto Gráfico: Ana Cláudia Ferreira de Oliveira e Leonardo Lopes Braga. Diagramação: Luiz Lagares - Atendimento Publicitário: Desirée Suzuki – Impressão: Imprensa Universitária – Tiragem: 2000 exemplares – Circulação mensal – Endereço: Assessoria de Comunicação Social, Faculdade de Medicina da UFMG, Av. Prof. Alfredo Balena, 190 / sala 55 - térreo, CEP 30.130-100, Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil – Telefone: (31) 3409-9651 – Internet: www.medicina.ufmg.br; facebook.com/medicinaufmgoficial; www.twitter.com/medicinaufmg e jornalismo@medicina.ufmg.br. É permitida a reprodução de textos, desde que seja citada a fonte.
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Saúde Informa - Março de 2014
DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA
Acompanhamento informatizado do parto pode reduzir mortalidade Documentação do trabalho de parto reúne informações que ajudam a melhorar assistência
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Deborah Castros
partograma é um documento que permite visualizar a cientes assistidas por um número limitado de profissioevolução do trabalho de parto. Nele devem ser inserinais que se alternam em plantões (turnos). Ficou comdas informações sobre sua progressão, gerando um gráfico provado que o uso correto do partograma está associado que possibilita reconhecer se tudo está ocorrendo como o à redução das intercorrências maternas e fetais durante o esperado. A facilidade de visualizar qualquer desvio do haparto, além de reduzir o número de cesarianas. bitual permite ao profissional intervir mais precocemente, quando necessário. Proposta Apesar da notória importância do partograma, o Para a melhoria na documentação dos atendimenobstetra Gabriel Costa Osanan identificou deficiências em tos, Osanan propõe a informatização do partograma. seu uso. É o que revela a tese defendida por ele junto ao Com isso, o preenchimento seria mais adequado e podePrograma de Pós-graduação em Saúde da Mulher da Faculria oferecer informações de qualidade que ajudassem um dade de Medicina da UFMG. A pesquisa foi uma das agramédico ou uma obstetriz na assistência ao parto, ou mesciadas com o Prêmio UFMG de Teses, mo um gestor de uma maternidade, no em 2013. diagnóstico de dificuldades de logística Gabriel Osanan analisou a utilino funcionamento de plantões. “Várias zação do partograma em maternidades das propostas e expectativas apresentapúblicas de Belo Horizonte e região, de das pelos entrevistados foram incluídas 2011 a 2012. Ele entrevistou 53 profisnas discussões de elaboração dos requisionais, dentre enfermeiras obstetrizes, sitos do sistema”, afirmou Osanan. médicos obstetras e residentes, gestores A intenção da pesquisa é transfore até advogados para entender as difimar o partograma de papel, preconizaculdades de preenchimento e a opinião do pela OMS, em um software adequado deles sobre o uso do partograma. Além para o uso rotineiro nas maternidades disso, analisou seu uso na prática diária. de todo o país. “Quando pensamos na “Os resultados encontrados foram preinformatização, queríamos facilitar a disocupantes: o preenchimento completo ponibilidade dele, inclusive para a rede do partograma foi encontrado na minoprivada”, diz. ria dos casos”, relata. Ele também detecUsando um computador, o protou que mais de 17% dos partogramas fissional só teria que inserir os dados de um hospital da rede pública foram coletados sobre o trabalho de parto e o extraviados. próprio sistema faria o preenchimento “Considerando a urgente necesdo documento e sinalizaria problemas. sidade do Brasil em reduzir as taxas de eventos adversos relacionados ao nasciModelo de Partograma Documento legal mento, resgatar, otimizar e incentivar o O partograma informatizado uso do partograma, no apoio à decisão clínica e gerencial, também poderá solucionar problemas relacionados à torna-se estratégia fundamental”, afirma Osanan. acessibilidade dos dados e à qualidade da informação. Gabriel Osanan lembra que este é um documento lePanorama gal imprescindível para a defesa do profissional ou para Estima-se que, no Brasil, dos 3 milhões de partos mostrar à paciente que sua assistência foi feita de forma realizados por ano, 17,4 bebês falecem para cada 1 mil nasadequada. Portanto, o extravio é um importante ponto a cidos vivos e cerca de 72 gestantes falecem a cada 100 mil ser solucionado. Com o partograma informatizado, seria nascidos vivos, por causas associadas à gestação. As estimapossível imprimir uma segunda via, trazendo mais segutivas também mostram que 92% dessas mortes poderiam rança e confiança para todos os envolvidos. ser evitadas. Para isso, seria necessária a avaliação da assistên- Título: Proposta de informatização do Partograma: análise dos processos cia hospitalar prestada ao nascimento, que muitas vezes é assistenciais relativos ao seu uso e definição de requisitos do sistema apresentada de forma incompleta. Mas sem os dados da Nível: Doutorado assistência ao parto, torna-se difícil promover ações para Programa: Saúde da Mulher Autora: Gabriel Costa Osanan reverter as ocorrências. Osanan menciona um estudo realizado pela Orga- Orientadora: Zilma Silveira Nogueira Reis nização Mundial de Saúde (OMS) em maternidades com Coorientador: Renato Celso Ferreira (DCC-UFMG) perfil semelhante às da nossa rede, ou seja, com muitas pa- Defesa: 18 de maio de 2012
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GESTÃO
Assessoria Institucional capta recursos para a Faculdade Em 2014, R$ 800 mil serão investidos na Unidade Karla Escarmigliat
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os últimos quatro anos, a Faculdade de Medicina da UFMG passou por uma visível transformação em sua infraestrutura. Novos equipamentos médicos e ambulatoriais, computadores, modelos anatômicos e materiais químicos, que hoje ajudam no funcionamento da Faculdade, trouxeram crescimento visível à instituição. O que nem todos sabem é que toda essa transformação só foi possível graças ao investimento de cerca de R$ 3 milhões captados pela Assessoria Institucional da Faculdade. Criada na gestão dos professores Francisco Penna (diretor) e Tarcizo Nunes (vice-diretor), a Assessoria Institucional é responsável pela captação de verbas por meio de emendas parlamentares, modalidade ainda pouco difundida na Universidade. A função do setor consiste em potencializar a arrecadação de recursos junto aos órgãos públicos, especialmente o Ministério da Saúde, e intensificar parcerias com as instituições privadas. Segundo a professora Maria Cecília Diniz Nogueira, assessora do setor, a atividade é feita em parceria com a bancada mineira do Congresso Nacional. Os recursos estão ligados ao Orçamento Geral da União, sancionado pela Presidência da República. “É uma fonte que até então não tinha sido explorada pela Faculdade e abriu novas frentes para ações estratégicas, sempre tendo como 4
questão as políticas públicas”, explica. Proponentes A Faculdade de Medicina tem longa história de captação de recursos, tradicionalmente feita pelos professores. Com a criação da Assessoria Institucional, nos últimos anos, as ações tornaram-se suprapartidárias, o que passou a viabilizar um volume maior de recursos em prazos menores. “São parlamentares de diversos partidos que dão apoio ao setor: Jô Moraes, do PC do B; Eduardo Azeredo e Eduardo Barbosa, do PSDB; Júlio Delgado, do PSB; Gabriel Guimarães, Nilmário Miranda e Reginaldo Lopes, do PT; e Saraiva Felipe, do PMDB”, cita Cecília Nogueira. A professora ressalta que a credibilidade da Faculdade tem peso decisivo no processo de liberação dos recursos pelos parlamentares. “Além de formar o maior número de médicos do Brasil, a instituição tem um impacto nacional muito grande. Por isso, é reconhecida nacionalmente e internacionalmente”. Cecília Nogueira lembra também a importância da experiência adquirida nos últimos anos neste setor. “Isso facilitou a interface da Faculdade com outros órgãos do governo”, completa. Melhorias Os recursos são disponibilizados no segundo semestre de cada ano. Mas
Foto: Bruna Carvalho
Laboratório de Anatomia foi um dos contemplados com verbas captadas por emendas parlamentares
a Assessoria começa a receber as demandas no início de cada exercício. Para 2014, serão liberados R$ 800 mil, valor referente à última parcela do montante captado durante toda a atuação do setor. “Para o planejamento interno, foi enviada a relação do que foi possível realizar em 2013 com os recursos das emendas. Assim, os departamentos têm o conhecimento do que foi concluído e o que ainda pode ser demandado para este ano”, explica Cecília Nogueira. São vários os benefícios gerados pelos recursos captados pela Assessoria Institucional. O setor também planeja eventos como o Congresso Nacional de Saúde, organiza reuniões estratégicas com subsecretários e estabelece articulações internacionais. Essas ações já possibilitaram reformar e equipar diversos laboratórios, dentre eles o de Cirurgia e o de Anatomia Patológica, bem como os acervos da Biblioteca J. Baeta Vianna. Outro benefício direto foi a expansão do programa de rádio Saúde com Ciência. Com novo estúdio inaugurado em 2013, o programa, coordenado pela Assessoria de Comunicação (ACS) da Unidade, ganhou maior autonomia. Já são 38 emissoras de Minas Gerais, do Paraná e dos Estados Unidos que recebem informações sobre saúde geradas na Faculdade. O Centro de Memória da Medicina também foi contemplado. A obra de infraestrutura realizada no local permitiu a exposição permanente da história da medicina por meio de vídeos interativos e de fotografias.
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GESTÃO
Cantina é novo ponto de encontro Espaço é aberto à comunidade interna e externa do campus Saúde
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a hora do almoço, estudantes, professores e servidores já podem ser vistos circulando e até dividindo mesas na nova Cantina da Faculdade de Medicina da UFMG, inaugurada no dia 17 de fevereiro, no subsolo, ao lado do Laboratório do Movimento. A cena não era vista há décadas no edifício Oscar Versiani, sede da Unidade. “Não temos uma cantina aqui há cerca de 30 anos. Isso é importante para a Faculdade e para toda a comunidade que participa do nosso dia a dia”, disse o diretor da Faculdade de Medicina, Francisco Penna, durante a inauguração, quando também aproveitou para agradecer todos os envolvidos no projeto de criação e execução do novo espaço. “Será um local de integração, onde as pessoas possam se encontrar, conversar e tomar um lanche. Ficou um espaço muito agradável e de alta qualidade, tenho certeza que será muito bom para a nossa comunidade como um todo”, completou o diretor. Na ocasião, o vice-diretor, Tarcizo Nunes, lembrou da sua época de estudante. “Quando eu
Os professores Francisco Penna e Tarcizo Nunes inauguram o local.
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Fotos: Bruna Carvalho
Larissa Rodrigues
fui aluno dessa Faculdade havia a Cantina do Tião, os mais velhos devem se lembrar. Era um local de encontro dos estudantes, esperamos que essa cantina tenha o mesmo sucesso”. Atual estudante do 9º período do curso de Medicina, Júlia Duarte elogiou a nova canti- As estudantes Júlia Duarte e Michelly na. “Eu estou achando Monteiro participaram da inauguração o máximo. Faltava esse espaço de convivênO horário de funcionacia para os alunos fazerem um lanche nos in- mento é das 7h às 21h, o que tervalos ou almoçar. Fazia falta para a gente atende também aos estudantes um local com tantas opções”, avaliou a aluna. do curso de Tecnologia em RaPara a funcionária Maria das Graças diologia, que estudam à noite. Ribeiro, assessora de escuta acadêmica do “Achei muito bom. Até então, Centro de Graduação, a nova cantina tam- tínhamos que ir fora da Faculbém será um local de encontro. “Faz falta dade para fazer um lanche, em um lugar mais perto para lanchar e para en- uma área que é perigosa no contrar as pessoas. A gente sempre tem que horário noturno. Com a nova atravessar a rua e procurar lanche longe da cantina irá facilitar muito”, coFaculdade. Aqui é a oportunidade de vermos menta o estudante do 8º períoos colegas e contar um caso”, comentou. do do curso de Tecnologia em Radiologia, Rafael Brandão. Espaço Segundo a administração da Cantina, em breve serão Para a construção da nova cantina foi aceitos cartões de débito, Ticket necessária a transferência de alguns laboratóRefeição e Sodexo. Para sugesrios de pesquisas para outros locais da Facultões, reclamações ou dúvidas: dade. O espaço tem 140 m², com mesas, balwww.facebook.com/hrlanches cão self-service, área de higienização, cozinha, banheiros e dispensa. “Foram feitas reforma e instalações próprias para cantina: sistema de ventilação, de exaustão, bancadas em aço inox, estrutura elétrica, instalações sanitárias, adaptações para deficientes, depósito, redes de gás, de prevenção contra incêndio e iluminação de emergência”, enumera o engenheiro civil da Faculdade, Vinícius Milleo. Variedade A cantina oferece lanches e almoços. O contrato prevê buffet de saladas; arroz branco, composto e integral; feijão simples e composto; carnes; ovos; soja texturizada; guarnições; molhos para saladas; sobremesas; salada de frutas; café e chá de ervas; pão de queijo; salgados variados, salgados para vegetarianos e açaí.
Professores, alunos e funcionários participam da inauguração.
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NUPAD
Educação a serviço da saúde Centro de Educação e Apoio Social propõe práticas educativas para promover a saúde Rafaella Arruda
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cada 15 dias, Maria Nazaré viaja 410 quilômetros de Mutum, no interior de Minas Gerais, para Belo Horizonte. Ela traz a filha Maria Eduarda, de nove meses, à consulta de acompanhamento da fenilcetonúria, cujo tratamento consiste em uma dieta alimentar com restrição de proteínas. A doença genética é uma das diagnosticadas pela triagem neonatal, o teste do pezinho. Enquanto aguarda a consulta, Maria Nazaré permanece com a filha no Centro de Educação e Apoio Social (Ceaps) do Núcleo de Ações e Pesquisa em Apoio Diagnóstico da Faculdade de Medicina da UFMG (Nupad). Ela faz parte das 250 famílias que se dirigem semanalmente ao Ceaps nos dias de consulta nos ambulatórios de Belo Horizonte para o acompanhamento das doenças diagnosticadas pelo Programa de Triagem Neonatal de Minas Gerais. Além de oferecer uma estrutura de acolhimento, o Ceaps desenvolve práticas educativas para pacientes e familiares atendidos pelo Programa de Triagem Neonatal, com a proposta de promover saúde integral por meio da educação. “O acolhimento e a orientação de suporte perpassam as ações de educação”, explica a psicóloga e coordenadora do Ceaps, Isabel Spínola. “Diferentemente do caráter assistencialista, temos uma abordagem diretiva, resolutiva, que busca fazer o sujeito entender melhor a doença e aderir melhor ao tratamento”, observa. Com uma equipe multidisciplinar formada por profissionais de enfermagem, nutrição, pedagogia, psicologia e serviço social, o Ceaps também desenvolve ações de capacitação para profissionais e tem como base de trabalho a Política Nacional de Promoção da Saúde do Ministério da Saúde. Atividades As práticas educativas compreendem a educação em saúde e a Brinquedoteca. Com os adultos, sejam pais ou pacientes, são feitas rodas de conversa e dinâmicas para promover informação e conhecimento sobre saúde e autocuidado. “Falamos dos direitos e deveres de cada um, discutimos temas atuais, propomos reflexão. Assim, o usuário pode chegar à cidade onde mora e lutar por seus direitos, pois sabe os caminhos a percorrer para garantir assistência”, conta a coordenadora do Ceaps. Para Maria Nazaré, mãe de Maria Eduarda, a oportunidade de interagir com outros pais é muito importante: “É muito bom poder trocar experiência, já participei de conversas aqui sobre expectativas para o futuro e a importância do vínculo materno e gosto muito”. Com atividades realizadas todos os dias, a Brin6
Foto: Bruna Carvalho
Atividade na Brinquedoteca do Ceaps
quedoteca é, segundo a coordenadora do Ceaps, a grande mediadora da ação. A proposta é trabalhar a cidadania, mas com metodologia diferente daquela destinada a adultos e adolescentes: “Nesse espaço lúdico, trabalhamos com a criança a corresponsabilização no tratamento e
gosta de colorir e brincar de carrinho com os outros meninos”. No Ceaps, as famílias têm acesso ainda a transporte em todo percurso das unidades assistenciais da capital, refeitório, sala de descanso e berçário, além de orientação de suporte para o
“Diferentemente do caráter assistencialista, temos uma abordagem diretiva, resolutiva, que busca fazer o sujeito entender melhor a doença e aderir melhor ao tratamento” damos noções gerais de saúde, além de ser uma oportunidade para ela se divertir com outras crianças”. A Brinquedoteca também é onde Natan, de um ano e meio, paciente de fenilcetonúria, se diverte e interage com outras crianças, conta a avó, Maria de Lourdes, de Araxá, que frequenta o Ceaps uma vez ao mês. “Ele é muito novo ainda, mas
tratamento. Como lembra Isabel Spíndola, a proposta de ser não apenas um local de apoio social, mas, principalmente, um centro de educação, é uma marca nacional do Nupad enquanto Serviço de Triagem Neonatal. “Como propõe o educador Paulo Freire, queremos empoderar o sujeito, dar a ele autonomia para ter o controle da própria vida e acreditar que é agente transformador da realidade”, garante.
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SAÚDE MENTAL
Ajuda para subir o poço É possível vencer a sensação de desesperança e desamparo, sintoma da depressão
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la não escolhe idade, cor, credo ou status social. A depressão, comumente chamada de mal do século, atinge de 10% a 15% da população mundial e já é a segunda principal causa de incapacitação, atrás apenas das doenças cardiovasculares. A depressão é uma “doença devastadora”, reconhece o professor do Departamento de Saúde Mental da Faculdade de Medicina da UFMG, Breno Satler, mas ele ressalta que, por outro lado, ela tem um tratamento muito eficaz. O professor explica que existem dois conceitos, interligados, que são sintomas característicos da depressão: o desamparo aprendido e a desesperança aprendida. O desamparo é quando a pessoa tem a sensação de que não consegue receber a ajuda. Já a desesperança é quando ela acredita que nada que fizer terá resultados. “O paciente se queixa que nada vai melhorar, não vê saída, e considera o futuro sombrio. É quando a pessoa para de reagir. Ela acha que fazendo ou não algo para mudar de situação, vai sofrer do mesmo jeito”. Quando os sintomas aparecem, muitas vezes, a pessoa não busca ajuda sozinha. “Ela não consegue estabelecer uma crítica sobre a situação, e nesse momento é importante que alguém a leve ao médico”, recomenda o professor. Sinais
Breno ensina que quando a pessoa está deprimida é comum a apresentação de uma série de manifestações. É a tristeza que não tem explicação ou razão de ser, perceptível pela mudança de comportamento. “No trabalho, a pessoa perde a iniciativa e a motivação, diminui a produtividade”. Já na vida social e familiar, o pro-
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Foto: Bruna Carvalho
O professor Breno Satler ressalta que a depressão tem tratamento eficaz
“O paciente se queixa que nada vai melhorar, não vê saída, e considera o futuro sombrio. É quando a pessoa para de reagir. Ela acha que fazendo ou não algo para mudar de situação, vai sofrer do mesmo jeito” fessor exemplifica o isolamento e a perda do entusiasmo. “É importante frisar, porém, que o mais importante é observar a relação da pessoa com ela mesma. Pode ser característica de algumas pessoas mais introvertidas, por exemplo, esse isolamento social. Não significa que ela está deprimida”, explica. Dentro das situações indicativas, Breno cita também os distúrbios do sono. “A dificuldade de dormir é muito comum não só em quadros de depressão, mas na maioria dos transtornos psiquiátricos, e em situações clínicas também”, explica. Isso inclui insônia, acordar muito cedo, dormir mal, acordar no meio da noite e não retomar o sono. O diagnóstico começa com uma boa avaliação médica e psiquiátrica. “O abuso de
Mariana Pires
álcool e o uso de drogas podem levar a sintomas parecidos com a depressão”, exemplifica o professor. Só depois que as causas secundárias são excluídas, é realizado o diagnóstico e, aí sim, é iniciado o tratamento que busca a remissão da doença. Qualidade de vida Para o professor, uma das medidas mais eficazes na prevenção e combate à depressão é a mudança de comportamento. “Atividades físicas leves e moderadas, como ir a pé à padaria, descer do ônibus um ponto antes, subir e descer escadas são pequenas ações, simples e gratuitas, para a pessoa se manter ativa”, aconselha. O professor destaca ainda a importância da alimentação correta. “O que a pessoa come reflete o seu estilo de vida”. Outra dica é buscar o engajamento em atividades sociais, grupos de estudo, com interesses em comum, hobbys. “É importante estar socialmente ativo e envolvido com a comunidade”, frisa. Uma coisa que é simples e faz muita diferença na qualidade de vida da pessoa é adequar o sono. “Ter hora certa para dormir e para acordar todos os dias”. Breno Satler afirma que existem no mercado, hoje, cerca de 40 medicamentos antidepressivos com eficácia comprovada, que podem ser prescritos pelo psiquiatra. “Porém, é fundamental que o paciente busque a psicoterapia associada aos remédios. O antidepressivo não resolve tudo. Ele vai motivar o paciente, mas não vai resolver suas dificuldades. É um trabalho em conjunto para que haja a melhora do paciente”, orienta. 7
INSTITUCIONAL
Acontece Chocolate
Nova diretoria assume em abril Professores falam sobre expectativas, propostas e desafios Larissa Rodrigues
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s professores Tarcizo Nunes e Humberto Alves, dos departamentos de Cirurgia e Anatomia e Imagem, respectivamente, serão empossados no dia 11 de abril como diretor e vice-diretor da Faculdade de Medicina da UFMG. Em consulta feita à comunidade em dezembro do ano passado, a Chapa 2, formada por Nunes e Alves, recebeu 67,25% dos votos válidos e foi a vencedora para assumir o mandato 2014-2018. Em números absolutos, a Chapa 2 recebeu 217 votos de professores, 62 de funcionários técnicos-administrativos e 525 de estudantes. Às vésperas de assumirem a direção da Unidade, Tarcizo Nunes e Humberto Alves adiantam um pouco do que será a gestão da Faculdade de Medicina nos próximos quatro anos. Confira:
Durante a campanha, os senhores solicitaram sugestões da comunidade. Essas sugestões serão aproveitadas? Todas as sugestões feitas pelos discentes, docentes e técnicos-administrativos em educação serão aproveitadas, após serem discutidas nas reuniões com os diversos segmentos nos primeiros meses da gestão. A reativação do Conselho Departamental é uma delas, uma vez que será ampliado um importante fórum de discussão.
Há um compromisso de continuidade com a atual gestão? A gestão atual foi coroada por inúmeras realizações, como é de conhecimento da comunidade. Há compromisso em dar continuidade a todos os projetos relevantes da atual gestão e que são fundamentais para o desenvolvimento da Faculdade de Medicina, tais como as obras de revitalização do prédio.
Qual o principal desafio para esta gestão e qual a estratégia para enfrentá-lo? O principal desafio é a implantação do novo currículo do curso médico, sobretudo quanto à ampliação do quadro de docentes com o perfil para a atenção primária e dos cenários de prática. Para tanto, já iniciamos as discussões com o Colegiado de Graduação, o reitor e gestores de saúde.
Doença Falciforme Assuntos como oftalmologia, cardiologia e saúde da mulher com doença falciforme serão abordados nos dias 1º e 2 de abril, durante o II Workshop Projeto Atenção Especializada para Doença Falciforme (PAE). Promovido pelo Centro de Educação e Apoio para Hemoglobinopatias (CehmobMG), o evento é voltado para especialistas, estagiários do PAE, hematologistas indicados pela Fundação Hemominas e demais interessados. Inscrições e informações:www.cehmob.org.br
Revalidação As inscrições para o processo de revalidação de diplomas estrangeiros da UFMG serão abertas no dia 17 de março e prosseguem até 10 de abril. Requerentes que participaram do processo no ano passado e tiveram parecer indeferido poderão solicitar o aproveitamento da documentação já enviada. O edital está disponível no site da Pró-Reitoria de Graduação da UFMG: www. ufmg.br/prograd .
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O que o professor, o aluno e o funcionário da Faculdade de Medicina podem esperar da nova gestão? Muito trabalho e dedicação para atender as demandas e propor melhorias no ensino, na pesquisa e na extensão.
Quais medidas os senhores pretendem implantar logo no começo do mandato? Na realidade, a transição da gestão já está acontecendo gradativamente. O professor Francisco Penna tem agido de maneira magnânima, pois em todas as decisões importantes somos chamados a opinar. Foto: Bruna Carvalho As medidas que terão impacto no futuro, como os cenários de ensino para os cursos de graduação, já foram discutidas com o reitorado eleito e gestores da saúde do município e federal. Outro ponto discutido com o reitorado eleito foi a participação de membros da Faculdade de Medicina na equipe que está sendo formada, assim como as modificações nos hospitais das Clínicas e Risoleta Neves.
A primeira edição de 2014 do projeto Quarta da Saúde terá como tema o chocolate, com a participação da nutróloga e cirurgiã Maria Isabel Correia, professora do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Medicina da UFMG. A especialista irá falar sobre o assunto e, em seguida, esclarecerá as dúvidas da plateia. Gratuita e aberta ao público, a palestra será no dia 26 de março, às 12h30, na sala 150 da Faculdade de Medicina da UFMG. Informações: www.medicina.ufmg. br/ quartadasaude
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