Lógica e argumentação - Unidade 2

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A divisão da lógica Contextualizando Até aqui você vem sendo apresentado à lógica e pode conhecer sua definição e seu desenvolvimento na história. Esses são conteúdos indispensáveis para que você possa avançar na compreensão e uso desse conhecimento. Pode perceber que a preocupação com a lógica não é atual, já estava presente entre os gregos, e que a lógica é um instrumento bastante utilizado pela ciência, na medida em que todo conhecimento para ser científico tem que ser lógico. É muito importante, ainda, que você possa ter percebido, que a lógica deve ser aplicada na procura e demonstração da verdade. Quando falamos em procura da verdade, devemos ter claro que esse é um processo que envolve a relação do pensamento com a realidade. É exatamente em função desses elementos que se estabelecem as duas grandes divisões da lógica: a lógica formal e a lógica material – objeto deste capítulo. Quando falamos em verdade no campo da ciência, nos referimos ao mundo fenomênico, ou seja, à realidade concreta, aquilo que aparece a cada um que busca a verdade. No entanto, a definição/conceituação dos fenômenos, liga-se necessariamente a operações mentais. Assim, é necessária a observação do pensamento, a forma pela qual ele deve se apresentar para que possua validade. Em outras palavras, a validade de um argumento deve ser considerada no conjunto das operações do qual resultou. Desde o momento de formulação da ideia até a construção do novo conhecimento com a formulação do argumento. Veja que esse processo implica uma reflexão em dois níveis: o nível das operações mentais, que se inicia com a formulação da ideia, e o nível da articulação do pensamento com a realidade, que se efetiva na formulação do argumento. São esses os problemas que se explicitam na aplicação da lógica e em decorrência dos quais são definidas as duas divisões da lógica: a lógica formal e a lógica material. Ao final deste capítulo esperamos que você esteja apto a: identificar as duas grandes divisões da lógica; conceituar a lógica formal e a lógica material.

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Conhecendo a teoria A lógica formal Como você pôde ver nos capítulos anteriores, a lógica, sobretudo no que diz respeito à sua origem, configura-se como um instrumento que busca fazer com que nossas operações intelectuais sejam corretas e de acordo com a realidade. Essa busca se inicia com uma primeira preocupação: o acordo do pensamento consigo mesmo, para que não apresente contradições. Esta deve ser a primeira condição de nossas operações intelectuais na busca pela verdade. Estamos falando do campo de atuação do que chamamos de lógica formal, que é responsável pelo estudo das leis gerais do pensamento. Observe o exemplo a seguir: Todos os mamíferos têm asas.

Premissa 1

O gato é um mamífero. Premissa 2 _________________________________________________ O gato tem asas.

Conclusão

Temos duas premissas e uma conclusão. No que diz respeito ao pensamento em relação a si mesmo, ao seu aspecto formal, a conclusão desse argumento é deduzida corretamente das premissas, o que garante a sua validade. Confira o que estamos dizendo: da afirmação de que todos os mamíferos têm asas e da classificação do gato como mamífero, é lógica a conclusão de que o gato (uma vez tendo sido afirmado que é um mamífero) tem asas. Essa lógica se efetiva no campo formal. Não obstante, se recorrermos à realidade material, saberemos que a primeira premissa – todos os mamíferos têm asas – é falsa, o que faz com que, consequentemente, a conclusão a que se chega também seja falsa.

A divisão da lógica

O exemplo anterior deixa evidente que o objetivo da lógica formal não é avaliar o conteúdo em si, mas se o argumento apresentado foi bem construído.

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Partes e bases da lógica formal Para que você possa compreender o campo de reflexão da lógica formal é importante que possa saber identificar suas partes constitutivas. São elas: ideia, juízo e raciocínio – como elementos do pensamento;


termo, proposição e argumento – como representação concreta dos elementos do pensamento. De forma esquemática temos: Ideia

Termo

Juízo

Proposição

Raciocínio

Argumento

A ideia e o termo A primeira operação do intelecto na busca da verdade é a apreensão dos fatos, momento em que introjetamos em nós um conhecimento que vem da realidade. Esse conhecimento possibilita a formação da ideia. É este o ponto de partida da lógica formal: a ideia. Podemos defini-la como a representação intelectual de um objeto (homem, Brasil, Pedro, entre outros). Toda ideia apresenta uma compreensão e uma extensão. 1) A compreensão de uma ideia diz respeito ao seu conteúdo, ao conjunto dos elementos que a compõe. Assim, a ideia de homem supõe uma série de elementos para sua compreensão: ser, sensível, racional, bípede, entre outros. 2) A extensão diz respeito à quantidade de indivíduos que podem ser depreendidos da ideia. Da ideia de animal, por exemplo, participam uma grande quantidade de indivíduos: vertebrados, invertebrados, celenterados, e até mesmo o próprio homem. Quanto mais compreensiva uma ideia, menos extensa e vice-versa. Por exemplo, quando nos referimos à ideia de animal, podemos imaginar a partir dela todos os animais, e ao mesmo tempo não teremos condições de especificar nenhum. Sua extensão é ampla, ao mesmo tempo, sua compreensão é limitada. Fica difícil compreender plenamente o que uma pessoa quer dizer quando pronuncia a palavra animal.

As ideias podem ser divididas considerando a capacidade que têm de representar o objeto, a compreensão e a extensão.

A divisão da lógica

Já, se pensarmos a ideia de homem, esta se aplica a uma categoria de animal e traz consigo uma série de elementos que contribuem à sua compreensão. Tal ideia é mais compreensível do que extensa.

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a) Quanto à perfeição, as ideias podem ser: Adequadas – quando são esgotadas as possibilidades de conhecimento da coisa (ex.: relâmpago, Marco Polo). Quando as possibilidades não são esgotadas e as ideias podem referir-se a mais de uma coisa, elas classificam-se como inadequadas (ex.: clarão, som, vulto). Claras – quando os elementos percebidos são suficientes para distingui-la de outras (ex.: homem, peixe), ela nunca será confundida com outra. Quando falta clareza de seus elementos é classificada como obscura (ex.: objeto voador, animal peludo). Distintas – quando todos os seus elementos são suficientes para torná-la clara, apresentando dados significativos individualizantes (ex.: relógio-pulseira de ouro, marca ômega). Quando não há clareza, a ideia é classificada como confusa (ex.: relógio, veículo). b) Quanto à compreensão, as ideias podem ser classificadas como: Simples – quando é composta por um só elemento significativo sua compreensão é imediata (ex.: ser, ente). Compostas – quando é composta por mais de um elemento significativo, sua compreensão implica vários elementos (ex.: homem, animal). c) Quanto à extensão, por sua vez, as ideias podem ser classificadas como: Singulares – quando se referem a um determinado ser ( ex.: este lápis, o primeiro satélite espacial). Particulares – quando designam parte de uma classe ou gênero de seres (ex.: muitos soldados, alguns livros, várias televisões).

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Universais – quando designam todos os seres de uma mesma espécie ou gênero de seres (ex.: animal, racional, homem).

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Como a lógica formal estuda as regras do pensamento correto, regras essas que estão sustentadas pelos três princípios aristotélicos, vistos no capítulo dois, principalmente no princípio da não contradição, essas regras devem estar presentes desde o primeiro momento do pensamento que é a apreensão da ideia. A regra básica, no que diz respeito a este momento, é de que a ideia não pode conter nenhum elemento contraditório; em outras palavras, para que uma ideia tenha sentido e seja válida, ela não deve ser composta por elementos que se excluam. Explicitando: não podemos idealizar um círculo quadrado, um Deus mau, um Sol sem luz, entre outros.


Uma vez estabelecida uma ideia é necessário que ela seja comunicada. Passamos a falar do termo como expressão material da ideia, que permite que esta seja transmitida de uma pessoa para outra. Assim, o termo é a representação concreta de uma ideia. Da mesma forma que a ideia, o termo também se classifica a partir da capacidade que tem de representar o objeto, sua extensão e sua compreensão. a) Quanto à capacidade que apresenta de representar o objeto, o termo pode ser classificado como: Unívoco – quando se aplica a uma única ideia, designando sempre a mesma coisa, possui sempre o mesmo significado. Exemplos: Deus, casa, cadeira. Equívoco – quando se aplica a ideias diversas, possui duas ou mais significações completamente diversas entre si. Exemplos: manga (de camisa, fruta), vela (de barco, de acender). Análogo – quando possui vários significados que, apesar de se diferenciarem, guardam entre si alguns nexos. Exemplos: Visão/Olho = Intelecção/ Inteligência. b) Quanto à extensão, o termo pode ser: Singular – quando se refere a um único indivíduo. É exemplo: este livro. Particular – quando se refere a certo número de indivíduos. Exemplo: alguns homens. Universal – quando representa uma ideia universal. Exemplo: homem. c) Quanto à compreensão, o termo pode ser: Incomplexo – quando o termo é composto por um só elemento vocabular. Exemplo: casa, árvore. Complexo – quando é composto por mais de um universo vocabular. Exemplo: guarda-roupa, navio-escola.

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Praticando Agora teste sua compreensão sobre os termos classificando-os quanto à capacidade de representar o objeto, quanto à extensão e quanto à compreensão.

Termo

Quanto à capacidade de representar o objeto

Quanto à extensão

Quanto à compreensão

Cadeira Quadro-negro Animal Comunidade alemã

A explicação da ideia e do termo, de tal forma que não se estabeleça a contradição, remete-nos à exigência da definição. Na sua vida acadêmica, você, vez por outra, é solicitado a definir alguma coisa. Por exemplo, se está cursando direito é solicitado a definir justiça; se faz odontologia, deve saber definir saúde; se é aluno de pedagogia, deve definir educação e assim por diante. Definição: Apesar de muitas vezes usados como sinônimos, os termos definir e conceituar têm significados diferentes. Assim:

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Conceito – “Instrumento mental que nos serve para pensar as diversas realidades, representando-as no nosso espírito. Por ele nós pensamos um conjunto de propriedades (formando a sua compreensão) como realizadas num conjunto de objetos (constituindo a sua extensão) (M. Gex). O conceito reúne as características comuns ao conjunto de seres da mesma espécie, distinguindo-os dos seres constitutivos de outra(s) espécie(s). Enquanto representação mental, o conceito distingue-se do termo, a sua expressão verbal. Assim, o conceito de ser humano (animal racional) pode exprimir-se pelos termos homem, hombre, homme...” (DICIONÁRIO, 2011).

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Definir – “Enunciar os atributos, as características específicas de uma coisa (objeto, ideia, ser) de tal modo que ela não se confunda com outra. Dizer exatamente, explicar a significação de. Demarcar, fixar” (DICIONÁRIOWEB, 2011).


Uma boa definição deve estabelecer o gênero próximo e a diferença específica. Como exemplo, podemos citar a definição de homem, seu gênero próximo é animal e a diferença específica é que o homem é racional. Assim, temos como exemplo de uma possível definição de homem: o homem é um animal racional. Segundo Nerici (1988, p. 40), uma boa definição deve ser orientada por algumas regras, a saber: 1. “A definição deve convir somente ao definido.” Assim sendo, será possível substituir a definição pelo definido, sem possibilidade de equívoco. [...] 2. “Deve ser curta para ser memorizada.” É desejável que assim seja mas nem sempre isso é possível. [...] 3. “Deve ser clara e precisa.” Esta é uma exigência fundamental para a definição e, de certo modo, encerra as duas regras anteriores. [...] 4. A definição não deve ter elementos supérfluos. [...] 5. A definição não deve ser negativa quando pode ser positiva. O objeto deve ser definido, preferencialmente, pelo que é, e não, pelo que não é. 6. A definição não deve ser tautológica, isto é, não deve ser mera repetição do definido. Com essa orientação é possível construir uma boa definição, capaz de possibilitar a compreensão do que a coisa é. Quando definimos, estamos também delimitando.

O juízo Depois de formadas, as ideias passam a se relacionar entre si. Dessa relação surge o juízo. Ou seja, depois que o espírito apreende as ideias, o próximo passo consiste em compará-las e, consequentemente, produz-se um julgamento de inconveniência ou conveniência entre as mesmas. Temos assim um juízo. É por meio dele que tornamos as ideias falsas ou verdadeiras. O juízo, portanto, pode ser definido como “ [...] o ato em que o espírito ‘afirma ou nega uma coisa de outra’” (NERICI, 1988, p. 43).

A proposição é um enunciado no qual afirmamos ou negamos um termo (um conceito) de outro. No exemplo “Todo cão é mamífero“ (Todo C é M), temos uma proposição em que o termo “mamífero” afirma-se do termo “cão” (ARRUDA; MATINS, 2010, p. 131).

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Quando um juízo é expresso verbalmente, temos a proposição. Sobre a proposição estudaremos no capítulo cinco.

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Se o juízo ou proposição é fruto da correlação entre ideias, e se essa relação acaba por se estabelecer como um julgamento, cada ideia ou parte que compõe essa proposição deve ter uma função determinada. Estamos falando nas partes de um juízo, a saber: o sujeito – a ideia da qual se afirma alguma coisa; o predicado – a ideia que afirma alguma coisa do sujeito; o verbo – a afirmação em si, une o predicado ao sujeito. Exemplo: Maria

Está

Grávida

(ideia/sujeito)

(verbo)

(ideia/predicado)

Um juízo pode ser classificado como analítico ou sintético. Juízo analítico – aquele em que o predicado está contido na noção do sujeito. Exemplo: O leite é branco. Juízo sintético – aquele em que o predicado não está contido na noção do sujeito. Exemplo: Maria está doente. Kant, filósofo alemão, já precisava a especificidade dos juízos analíticos e sintéticos. Em todos os juízos, nos quais se pensa a relação entre um sujeito e um predicado [...], esta relação é possível de dois modos. Ou o predicado B pertence ao sujeito A como algo que está contido (implicitamente) nesse conceito A, ou B está totalmente fora do conceito A, embora em ligação com ele. No primeiro caso chamo analítico ao juízo, no segundo, sintético. (KANT, 1997 apud FERREIRA, 2011)

Segundo Kant, o juízo analítico independe da experiência, por isso é a priori; por sua vez, o juízo analítico é a posteriori, isto é, empírico – depende da experiência.

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Praticando

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Vamos praticar? Identifique as partes dos juízos abaixo e classifique-os (analíticos ou sintéticos):


1. Cláudia estudou a matéria da prova. 2. O círculo é redondo. 3. A casa é de taipa.

O argumento e o raciocínio Chegamos ao momento da lógica formal, que pode ser considerado a síntese de todo processo sobre o qual ela se debruça e que, ao mesmo tempo, se constitui o ponto de partida para o desenvolvimento da lógica material: estamos falando do argumento. Recapitulemos o que foi dito até então sobre o processo intelectivo. Em primeiro lugar, o nosso intelecto apreende as ideias, logo depois, relaciona-as formando os juízos que são ordenados de forma a se chegar a uma conclusão sobre determinado assunto, produzindo novo conhecimento. Todo esse percurso constrói um argumento. É fundamental que tenhamos argumentos convincentes, argumentos capazes de garantir o nosso ponto de vista. Veja o caminho que vai da ideia ao argumento: o primeiro momento é a apreensão dos fatos e a formação das ideias, que são enunciadas por meio do termo; a seguir, da relação das ideias entre si formula-se o juízo. A enunciação do por meio através da palavra falada ou escrita recebe o nome de proposição. A formulação de juízos nos encaminha para conclusões. Toda essa operação mental recebe o nome de raciocínio, cuja enunciação, por meio da palavra escrita ou falada, recebe o nome de argumento. O argumento pode ser definido como “[...] um discurso em que encadeamos proposições para chegar a uma conclusão” (ARRUDA; MARTINS, 2010, p. 133). O argumento é, ainda, o meio utilizado para convencer alguém acerca de algo. Podemos inferir que o raciocínio, e sua enunciação através do argumento, é o remate final de todo o processo do pensamento. Quando você estudou a história da lógica pôde conhecer sobre o silogismo aristotélico, que não é outra coisa senão a maneira mais básica de se demonstrar um argumento. O silogismo é a fórmula que possibilita analisar, por meio do argumento, o grau de perfeição e validade do raciocínio.

1) Se as premissas forem verdadeiras, a conclusão será verdadeira. Veja o exemplo:

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Você também viu que o silogismo é um argumento formado por dois antecedentes e uma conclusão. Os antecedentes são chamados de premissas. A veracidade da conclusão do silogismo é orientada por duas regras fundamentais:

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Todo metal conduz energia.

antecedente

V

O bronze é um metal.

antecedente

V

consequente

F

Premissas

Logo, O ouro conduz energia.

Conclusão

2) Se as premissas foram falsas, a conclusão será falsa. Veja o exemplo: Todo animal voa.

antecedente

F

O homem é um animal.

antecedente

F

consequente

F

Premissas

Logo, O homem voa.

Conclusão

Afinal, o que significa argumentar? De forma sintética podemos afirmar que argumentar é apresentar uma proposição como sendo uma consequência de duas ou mais proposições. De modo geral, um argumento é constituído por premissas (p, p1, ..., pn) nas quais nos baseamos para afirmar outra premissa, que é a conclusão. Um argumento pode ser apresentado de duas formas: 1) A forma simbólica c

p1, p2, ..., pn premissas

conclusão

A divisão da lógica

2) A forma padronizada

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P1 P2 ...

premissas


Pn ___ C

conclusão

Um argumento válido é aquele cuja conclusão decorre do que foi afirmado nas premissas. É preciso, ainda, que as premissas e a conclusão estejam relacionadas corretamente. Nesse sentido, quando a conclusão é uma consequência necessária das premissas, dizemos que o argumento é válido. Quando a conclusão não é uma consequência necessária das premissas, dizemos que o argumento é inválido. Veja o exemplo: Bruno é uma pessoa que tem boa memória para fatos ou objetos vistos anteriormente, pois é paranaense e todo paranaense tem boa memória para fatos ou objetos vistos anteriormente. Veja agora a forma lógica desse argumento: Bruno é paranaense

Premissa 1

Todos os paranaenses têm boa memória para fatos ou objetos vistos anteriormente.

Premissa 2

Logo, Bruno é uma pessoa que tem boa memória para fatos ou objetos vistos anteriormente.

Conclusão

Nesse caso, a conclusão decorre necessariamente das premissas 1 e 2. Portanto, podemos afirmá-lo como argumento válido.

Praticando Considerando a forma simbólica e a forma padronizada de apresentar um argumento, exercite sua compreensão sobre o assunto colocando o argumento anterior na forma simbólica e na forma padronizada. A divisão da lógica

Até aqui falamos da validade formal de um argumento. Torna-se necessário agora assegurar a validade material, esse é o campo de ação da lógica material.

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A lógica material Até aqui, você foi apresentado à lógica formal, responsável pelo estudo das leis gerais do pensamento. Convidamos você, agora, a pensar a relação do nosso pensamento com os fatos da realidade. Esse é o campo da lógica material. A lógica material se desenvolveu com as transformações no conceito de ciência. Momento em que se passou a exigir a comprovação empírica do conhecimento produzido para explicar a realidade. Sabe-se que a partir do século XVI, com a consolidação da revolução científica, a ciência, até então um conhecimento voltado à explicação da realidade, passou a ser um conhecimento experimental voltado à transformação da natureza.

A verdade e o erro A relação pensamento/realidade move o homem a estabelecer juízos sobre a realidade do mundo. Esse processo pode se desenvolver em duas perspectivas: a da verdade lógica, quando se verifica a correspondência do pensamento com a realidade; ou a do erro, quando não há essa correspondência. Apesar do conhecimento dos princípios do raciocínio correto, postulados pela lógica formal, o homem continua sujeito ao erro, tomando o falso como verdadeiro. Você pode perceber que a lógica, como todo conhecimento filosófico e científico, constrói-se tendo como referência a verdade. O que é a verdade? Podemos elencar uma série de definições. Veja algumas: 1. Correspondência entre o conhecimento e o objeto – É o conceito mais antigo e que pode ser expresso como “o acordo do pensamento com seus objetos”. 2. Coerência lógica – Segundo este conceito, a verdade exclui o objeto, que não pode ser conhecido em sua essência, em si [...]. Logo, um juízo será verdadeiro quando se ajustar às normas e leis do pensamento. 3. Utilidade prática – É o conceito de funcionalidade, de utilidade que vai prevalecer (NERICI, 1988, p. 17-18).

A divisão da lógica

Podemos definir duas perspectivas de verdade: a verdade ontológica e a verdade lógica.

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Jolivet (2011) define as duas perspectivas de verdade afirmando que: 1) A verdade ontológica exprime o ser das coisas, enquanto corresponde exatamente ao nome que se lhe dá, por conseguinte, é conforme à ideia divina de que procede. As coisas, com efeito, são verdadeiras enquanto são conformes


às ideias segundo as quais foram feitas. Conhecer esta verdade, quer dizer, conhecer as coisas tais quais são, é tarefa de nossa inteligência. 2) A verdade lógica exprime a conformidade do espírito às coisas, isto é, à verdade ontológica. Desde que eu afirme: “Este ouro é puro”, enuncio uma verdade, se verdadeiramente a pureza pertence a este ouro, isto é, se meu julgamento está conforme ao que é. Ainda segundo Jolivet (2011), diante do verdadeiro, o espírito humano pode se apresentar em quatro estados diferentes: 1) Ignorância – caracteriza-se pela ausência de conhecimento do objeto. 2) Dúvida – caracteriza-se pelo estado de equilíbrio entre afirmação e negação do objeto, levando a uma suspensão de juízo. 3) A opinião – consiste na afirmação ou negação acerca do objeto com medo de estar equivocado. 4) A certeza e a evidência – enquanto a certeza é a adesão a uma verdade sem temor de engano; a evidência é o que fundamenta nossa certeza. Uma vez explicitada a compreensão de verdade, é fundamental também dizer alguma coisa sobre o seu oposto: o erro. Segundo o filósofo Régis Jolivet (apud COTRIM, 1989) o erro tem causas lógicas, psicológicas e morais. Em lógica, o erro se chama falsidade, em moral chama-se mentira. As causas lógicas ligam-se à falta de inteligência. Causas psicológicas ligam-se à falta de atenção e de memória. As causa morais, para este pensador, verdadeiras causas do erro, são basicamente de três ordens: a vaidade, o interesse e a preguiça. Como remédios contra o erro, o filósofo aponta: Os remédios lógicos – constituem-se em uma higiene intelectual, estimulando-se a memória, controlando-se a imaginação.

Pode ocorrer de um raciocínio sobre a realidade se apresentar com aparência de verdade. Nesse caso estamos diante de um sofisma.

A divisão da lógica

Os remédios morais – que podem ser sintetizados no amor à verdade, que nos impulsiona a julgar com imparcialidade, paciência e perseguição da verdade.

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Definição: Sofisma – “não é mais do que um raciocínio falso. Essa falsidade pode nascer da má aplicação do raciocínio em premissas certas ou do raciocínio certo em premissas falsas. O sofisma pode ou não ser empregado com intenção de enganar” (NERICI, p. 77).

Vejamos agora quais os tipos mais frequentes de sofisma. a) Equívoco e ambiguidade – esse sofisma resulta do emprego de uma mesma palavra em dois ou mais sentidos. Exemplo:

Toda barata é um inseto. Esta flor é barata. Logo, esta flor é um inseto.

b) Ignorância da causa – esse sofisma resulta daquelas inferências cotidianas, quando concluímos que um fato foi causado por circunstâncias acidentais que o antecederam, e que não necessariamente sejam a causa verdadeira. Exemplo: Não levo meu primo em jogo do meu time, porque das vezes em que levei, meu time perdeu: ele é pé-frio. c) Comparação indevida – esse sofisma resulta das semelhanças que estabelecemos entre objetos, sem, no entanto, preocuparmo-nos com as diferenças dos mesmos. Exemplo: Os animais são seres vivos como os vegetais. Os animais se locomovem. Logo, os vegetais também se locomovem. d) Petição de princípio – esse sofisma ocorre quando resolvemos tomar como verdade demonstrada aquilo que já está em discussão. Exemplo: Tal ação é injusta porque é condenável; e é condenável porque é injusta.

A divisão da lógica

Superar o erro é, portanto, o que o ser humano almeja. Essa superação implica distingui-lo da verdade. Anteriormente falamos sobre o erro, agora vamos entender a verdade.

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A lógica, seja na reflexão sobre as operações do pensamento (lógica formal), seja na reflexão sobre a relação deste com a realidade (lógica material), persegue o raciocínio correto, buscando superar o erro. Para finalizar, veja que essa é uma preocupação presente em cada um de nós, descrita em ditos populares: “Errar é humano, persistir no erro é burrice.”


Aplicando a teoria na prática Veja o que afirmamos a seguir e pense em uma situação em que você já foi convencido, em algum momento, a partir do argumento dado por alguém. A formulação de argumentos válidos em nossa vida pessoal ou profissional possibilita levarmos adiante nossos projetos. Saber argumentar é uma forma efetiva de inserção na realidade. É tão evidente o valor da boa argumentação que, em muitas situações, uma disputa é vencida pelo que chamamos de argumento de autoridade. Ou seja, a conclusão de um argumento se sustenta no conhecimento, ou reputação de uma autoridade. Essa autoridade pode ser uma pessoa, uma instituição. No entanto, é importante destacar que um argumento de autoridade apenas é um bom argumento se a autoridade em causa é realmente qualificada em relação ao assunto acerca do qual desejamos provar a conclusão. Por exemplo, quando afirmamos que, segundo órgãos de defesa ambiental, há 90% de probabilidade de o aquecimento global ter uma causa humana, estamos afirmando que é muito provável que o aquecimento global tenha sido causado pelos seres humanos. Nesse caso, procura-se provar a participação do homem no aquecimento global recorrendo à autoridade dos órgãos responsáveis pelo meio ambiente. Se aceitarmos que esses órgãos são qualificados, temos um bom argumento.

Para saber mais VELASCO Patrícia Del Nero. Educando para a Argumentação: contribuições do ensino da lógica, Autêntica, 2010. Esse livro oferece uma introdução às noções elementares de lógica, possibilitando um contato com os seus conceitos fundamentais. Apresenta noções elementares da chamada lógica não formal, que independe da formalização e da simbologia típicas da matemática. Com a utilização de fragmentos jornalísticos, quadrinhos e outras ferramentas que ilustram e dão suporte aos conceitos apresentados, possibilita uma incursão prazerosa ao universo da lógica. A divisão da lógica

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Relembrando Neste capítulo você aprendeu que a lógica apresenta duas grandes divisões: a) Lógica formal – trata do acordo do pensamento consigo mesmo e tem como ponto central de estudo o argumento e o raciocínio em si, especificamente os elementos básicos que o compõe: a ideia, a proposição e enfim ele mesmo, o argumento. b) Lógica material – trata do estudo do raciocínio em sua dependência em relação ao conteúdo material, aos objetos da realidade a que se dirige. São partes constitutivas da lógica formal: ideia, juízo e raciocínio – como elementos do pensamento; termo, proposição e argumento – como representação concreta dos elementos do pensamento. De forma esquemática temos: Ideia

Termo

Juizo

Proposição

Raciocínio

Argumento

A ideia é o ponto de partida da lógica formal. O termo é a representação concreta de uma ideia. O juízo pode ser definido como “[...] o ato em que o espírito ‘afirma ou nega uma coisa de outra’” (NERICI, 1988, p. 43). Quando um juízo é expresso verbalmente temos a proposição. A operação mental que vai da ideia ao argumento recebe o nome de raciocínio. A enunciação deste por meio da palavra escrita ou falada recebe o nome de argumento.

A divisão da lógica

A lógica, como todo conhecimento filosófico e científico, constrói-se tendo como referência a verdade.

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O conceito de verdade é amplo, pode ser pensado em duas perspectivas: a verdade ontológica e a verdade lógica. O oposto da verdade é o erro.


O erro tem causas lógicas e causas morais. Em lógica, o erro se chama falsidade, em moral chama-se mentira. Existem raciocínios que se apresentam com aparência de verdade – são os sofismas. Os tipos mais frequentes de Sofisma são: equívoco e ambiguidade; ignorância da causa; comparação indevida; petição de princípio.

Testando seus conhecimentos 1. Observe os sofismas I e II e responda o que se pede: I. Toda violeta é roxa Toda violeta é flor Logo, toda flor é roxa II. Alguns humanos são sábios Alguns humanos não são inteligentes Logo, alguns sábios não são inteligentes a) Em cada um desses sofismas identifique as premissas e a conclusão. b) Identifique os três termos que compõem o silogismo. 2. Considerando os tipos mais frequentes de sofismas estudados neste capítulo, classifique-os: a) O cigarro prejudica a saúde porque faz mal para o organismo. b) Toda barata é um inseto. Esta flor é barata. Logo, esta flor é um inseto. c) Maria viu um gato preto antes de cair da escada. Logo, ela caiu porque viu um gato preto.

Referências ARANHA, M. L. de A.; MARTINS, M. H. P. Filosofando. Rio de Janeiro: Moderna, 2010.

DICIONÁRIO de Filosofia. Sobre as Definições de Conceito. Disponível em: <www. terravista.pt/ancora/2254/lexc.htm>. Acesso em: 12 abr. 2011.

A divisão da lógica

COTRIM, G. Fundamentos da Filosofia. São Paulo: Saraiva, 1989.

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DICIONÁRIOWEB. Definir. Disponível em: <www.dicionarioweb.com.br/ definir.html>. Acesso em: 20 abr. 2011. FERREIRA, I. L. A Distinção Analítico-Sintético. Disponível em: < www. diaadiaeducacao.pr.gov.br/diaadia/diadia/arquivos/File/conteudo/artigos_ teses/FILOSOFIA/Dissertacoes/Isaias.pdf>. Acesso em: 25 abr. 2011. JOLIVET, R. Lógica Material. Disponível em: <www.consciencia.org/ cursofilosofiajolivet6.shtml>. Acesso em: 25 abr. 2011. ______. Curso de Filosofia. Rio de Janeiro: Agir, 1966. NERICI, I. G. Introdução à Lógica. São Paulo: Nobel, 1988.

A divisão da lógica

VELASCO, P. D. N. Educando para a Argumentação: contribuições do ensino da lógica. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2010. (Coleção Ensino de Filosofia, 3).

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Argumento e raciocínio – dedução e indução Contextualizando Você viu no capítulo anterior, quando estudou a lógica formal, que o raciocínio e sua expressão verbal, o argumento, constituem o remate final de todo o processo do pensamento. Quando afirmamos alguma coisa sobre algo, precisamos apresentar evidências sobre a nossa afirmação. Nesse caso, estamos argumentando. Não podemos saber tudo só por observação. Por exemplo, por testemunho sabemos que a Terra é redonda – são os cientistas que o dizem. Mas como eles sabem isso? Sabem-no raciocinando intensamente a partir de vários dados relevantes. Esses dados constituem as evidências que sustentam suas afirmações. Assim, o argumento tem importância fundamental no processo de apreensão e intervenção na realidade. Quando apresentamos uma ideia e queremos que seja considerada, precisamos de um bom argumento. O bom argumento é aquele que convence. Isso serve para qualquer plano da vida: para o homem do senso comum, para o advogado, para o engenheiro, para o assistente social, ou para o médico. No ensino de excelência procura-se que o estudante ganhe autonomia para raciocinar por si, isso significa que não se quer que ele se limite a repetir o que diz o professor ou o livro. Essa autonomia é possibilitada quando sabemos raciocinar bem. Basicamente, há dois processos segundo os quais organizamos os nossos raciocínios: a dedução e a indução. Ao final da leitura do capítulo, esperamos que você seja capaz de: diferenciar um raciocínio dedutivo de um raciocínio indutivo; conhecer as técnicas de dedução; identificar os tipos de indução; identificar um argumento inválido, expresso nas falácias.

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Praticando Definindo a dedução Até aqui você pôde perceber que raciocinar ou argumentar é um ato próprio da inteligência humana. Esse ato se efetiva quando partimos de premissas que apresentam evidências e que levam a uma conclusão. Podemos raciocinar ou argumentar logicamente de três modos: dedutivamente, indutivamente ou analogicamente – apesar de a analogia ser apresentada como um modo de raciocínio, ela será estudada enquanto uma “[...] indução imperfeita, que conclui do particular para o particular” (NERICI, 1988, p. 74). Vamos começar estudando o modo dedutivo de raciocinar. O raciocínio dedutivo mereceu destaque entre os lógicos desde o tempo de Aristóteles. A dedução é um tipo muito específico de raciocínio porque não produz nenhum conhecimento novo. A dedução é tão somente um esclarecimento. Esse raciocínio torna visível aquilo que já sabemos. O resultado é, portanto, um resultado óbvio, mesmo para quem não conhece o assunto tratado. Ou seja, o argumento dedutivo tem como característica principal a necessidade lógica que o acompanha. Veja a seguir algumas formas lógicas do raciocínio dedutivo:

Argumento e raciocínio – dedução e indução

Todo A tem a propriedade f. X é A. Logo, X tem a propriedade f.

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Vamos entender o raciocínio anterior. Perceba que: ele inicia com uma proposição universal (“Todo A tem a propriedade f”), que é seguida por uma proposição particular (“X é A”), e termina numa conclusão que também é uma proposição particular (“Logo, X tem a propriedade f”). Agora veja o exemplo:

Todo metal é dilatado pelo calor.

(Premissa maior)

– Proposição universal

A prata é um metal.

(Premissa menor)

– Proposição particular

Logo, a prata é dilatada pelo calor.

(Conclusão)

– Proposição particular


Veja outra formula válida de raciocínio dedutivo: Todo A tem a propriedade f. Todo B é A. Logo, todo B tem a propriedade f. Vamos entender com o exemplo: Todos os sul-americanos são homens. Todos os brasileiros são sul-americanos. Logo, todos os brasileiros são homens. Nesse caso temos duas premissas universais e uma conclusão que também é universal. O raciocínio dedutivo procede do universal para o particular. Anteriormente dissemos que, mesmo sem entender, considerando as formas do raciocínio dedutivo, chegamos a sua conclusão. O que estamos dizendo está expresso no exemplo que segue: Todo zebetrix é zibilex. (Todo A é B) Zapalix é zebetrix. (C é A) Logo, zapalix é zibilex. (Logo, C é B) No caso específico, você não deve saber o que é um zebetrix, nem um zapalix e nem tampouco um zibilex. No entanto, pela forma lógica, pode inferir a validade do argumento.

Saiba que

Em síntese, podemos dizer que os raciocínios dedutivos são aqueles em que a verdade das premissas é logicamente preservada na conclusão. Quando você estudou a história da lógica, no capítulo dois, viu que Aristóteles foi um filósofo que desenvolveu importantes estudos sobre a lógica. Ele chamou de silogismo (teoria do raciocínio ou cálculo) os processos lógicos do raciocínio perfeito. Pois bem, o silogismo, enquanto argumentação lógica perfeita, é um tipo de raciocínio demonstrativo ou dedutivo.

Argumento e raciocínio – dedução e indução

Em um raciocínio dedutivo a conclusão se segue necessariamente das premissas.

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Está lembrado do exemplo clássico do silogismo aristotélico, visto no capítulo dois do nosso livro? Sugerimos que volte a esse capítulo e retome o exemplo. Naquela ocasião você soube que Aristóteles queria captar e traduzir o mundo, as coisas, as relações, por meio de um raciocínio perfeito que pudesse ser posto num discurso correto, inteligível, sem ambiguidades ou contradições. Assim é que a base da teoria do silogismo de Aristóteles é a correspondência necessária e mediadora entre a realidade e o discurso. Uma vez que o silogismo se apresenta como a forma perfeita do raciocínio dedutivo, a expressão formal do método dedutivo, apesar de já ter sido abordado no capítulo dois, é importante que aprofundemos um pouco seu conhecimento. Você já estudou que um silogismo é composto por premissas – uma premissa maior, uma premissa menor e a conclusão. Saiba também que é composto por três termos: maior, médio e menor. a) O termo maior apresenta a maior extensão, integra a premissa maior e aparece como predicado na conclusão. b) O termo médio tem extensão intermediária e não aparece na conclusão. c) O termo menor tem menor extensão, integra a premissa menor e é o sujeito da conclusão. Parece complicado não é? Vamos utilizar um exemplo para facilitar a sua compreensão. Exemplo: Todo brasileiro é sul-americano.

Argumento e raciocínio – dedução e indução

Os natalenses são brasileiros.

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Logo, os natalenses são sul-americanos. A partir do exemplo dado vamos analisar a relação entre as premissas e a relação entre os termos. Relação entre as premissas: Premissa maior

Todo brasileiro (A) fala português (B).

Todo A é B

Premissa menor

Os natalenses (C) são brasileiros (A.)

Todo C é A

Conclusão

Os natalenses (C) falam português (B).

Todo C é B


Relação entre os termos:

Termo maior:

Falar português

Apresenta a maior extensão, integra a premissa maior e aparece como predicado na conclusão.

Termo médio:

Brasileiro

Tem extensão intermediária e não aparece na conclusão.

Termo menor:

Natalense

Tem menor extensão, integra a premissa menor e é o sujeito da conclusão.

E agora? Esperamos que o exemplo tenha possibilitado uma melhor compreensão sobre a composição de um silogismo. A veracidade da conclusão de um silogismo é orientada por duas regras: a) Se as premissas forem verdadeiras, a conclusão será verdadeira. O homem é mortal.

– premissa

– verdadeira

João é homem.

– premissa

– verdadeira

João é mortal.

– conclusão

– verdadeira

b) Se as premissas forem falsas, a conclusão poderá ser verdadeira ou falsa.

– premissa

– falsa (isso não pode ser afirmado)

Jaci é homem.

– premissa

– falsa (Jaci pode ser mulher)

Jaci é inteligente.

– conclusão

– (pode ser verdadeira ou falsa)

Praticando Vamos praticar um pouco a partir de uma questão sobre silogismo elaborada pela Fundação Getulio Vargas, no ano de 2009, para um concurso do MEC. O silogismo é uma forma de raciocínio dedutivo. Na sua forma padronizada, é constituído por três proposições: as duas primeiras denominam-se premissas e a terceira, conclusão.

Argumento e raciocínio – dedução e indução

Todo homem é inteligente.

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As premissas são juízos que precedem a conclusão. Em um silogismo, a conclusão é consequência necessária das premissas. São dados três conjuntos formados por duas premissas verdadeiras e uma conclusão não necessariamente verdadeira. Premissa 1: Todos os mamíferos são homeotérmicos. I.

Premissa 2: Todas as baleias são mamíferas. Premissa 3: Todas as baleias são homeotérmicas.

Premissa 1: Todos os peixes são pecilotérmicos. II.

Premissa 2: Todos os tubarões são pecilotérmicos. Premissa 3: Todos os tubarões são peixes.

Premissa 1: Todos os primatas são mamíferos. III.

Premissa 2: Todos os mamíferos são vertebrados. Premissa 3: Todos os vertebrados são primatas.

Assinale: a) se somente o conjunto I for um silogismo; b) se somente o conjunto II for um silogismo; c) se somente o conjunto III for um silogismo;

Argumento e raciocínio – dedução e indução

d) se somente os conjuntos I e III forem silogismos;

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e) se somente os conjuntos II e III forem silogismos. Agora, vamos comentar um pouco sobre a questão anterior que você acabou de resolver. Veja que a alternativa “a” é a correta uma vez que segue uma das formas do raciocínio dedutivo, ou seja: Todo A é F / X é A / Logo, X é F. Assim, só no conjunto II a conclusão é consequência necessária das premissas.


O raciocínio indutivo Diferente do raciocínio dedutivo que, como você viu anteriormente, não produz novo conhecimento – apenas esclarece o conhecimento já produzido – o raciocínio indutivo amplia o conhecimento. É um raciocínio pelo qual, partindo de dados particulares, suficientemente constatados, infere-se uma verdade geral ou universal. O dicionário de filosofia define a indução como: Operação mental que consiste em remontar de um certo número de proposições dadas, geralmente singulares ou especiais, a que chamaremos indutoras, a uma proposição ou a um pequeno número de proposições mais gerais, chamadas induzidas, tais que implicam todas as proposições indutoras. (LALANDE, 1999, p. 559)

Veja o que estamos dizendo a partir de um exemplo prático: da observação de que o ferro conduz eletricidade, o cobre conduz eletricidade, o zinco conduz eletricidade; da observação de que ferro, cobre e zinco são metais – por meio de um raciocínio indutivo conclui-se que o metal conduz energia. Assim, o método indutivo parte de premissas observadas para chegar a uma conclusão que contém informações sobre fatos não observados. O objetivo dos argumentos indutivos é levar a conclusões cujo conteúdo é muito mais amplo do que o das premissas nas quais se baseiam. É justamente nesse aspecto que se efetiva a crítica à indução. Estamos falando do salto indutivo. Vamos explicar. A ciência moderna é construída com base nesse tipo de raciocínio. À medida que conclusões são construídas a partir da observação de casos particulares, constrói-se novo conhecimento. A questão que se coloca é que por mais ampla que sejam as observações, existirão casos que não serão considerados – ou porque já ocorreram, ou porque ainda ocorrerão, ou mesmo porque escaparam à análise do pesquisador. Considere-se que um caso que contrarie a observação, nega a conclusão.

1) o número de proposições de observação que forma a base de uma generalização deve ser grande; 2) as observações devem ser repetidas sob uma ampla variedade de condições; 3) nenhuma proposição de observação deve conflitar com a lei universal derivada.

Argumento e raciocínio – dedução e indução

Para que um raciocínio indutivo seja legítimo é necessário que:

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O raciocínio indutivo se efetiva em três etapas:

1.ª etapa

Observação dos fenômenos – Pedro, Paulo, ..., João são mortais.

2.ª etapa

– Pedro, Paulo, ..., João são homens. Descoberta da relação entre (há uma relação entre ser homem e ser esses fenômenos mortal para estes casos observados)

3.ª etapa

Generalização da relação encontrada entre os fatos – Todo homem é mortal. semelhantes

Praticando Considere o raciocínio a seguir: Está comprovado cientificamente que o hábito de ler melhora a capacidade de interpretação, raciocínio e aumenta o conhecimento das pessoas. – Premissa maior Pedro procura ler cada dia mais. – Premissa menor Pedro irá conseguir melhorar a sua capacidade de interpretação, raciocínio e aumentar o seu conhecimento. – Conclusão O exemplo anterior trata-se de indução ou dedução? Por quê?

Argumento e raciocínio – dedução e indução

Agora considere mais este raciocínio:

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Cristina, João, Mauro e Joana são alunos da Universidade Potiguar e têm um comportamento disciplinado e comprometido. – Premissa maior Valter e Rômulo também são alunos da Universidade Potiguar. – Premissa menor Portanto, Valter e Rômulo são disciplinados e comprometidos. – Conclusão Isso é deduzir ou induzir? Justifique.


Existem vários tipos de indução. Navega (2011) destaca em seus estudos como principais tipos: Indução enumerativa - é o tipo de raciocínio utilizado quando se chega a uma generalização sobre um grupo de coisas, após observar apenas alguns dos membros desse grupo. Veja o que estamos dizendo com o exemplo a seguir: O cobre conduz energia. O bronze conduz energia. Todos os metais que vi até agora conduzem energia. Todo metal conduz energia. – Conclusão indutiva. Nesse caso de indução, quanto maior a amostragem, mais forte e representativa a conclusão. Indução analógica – É um dos raciocínios que mais fácil e espontaneamente a mente humana elabora. Nesse tipo de raciocínio, a partir da constatação de similaridade, sob certos aspectos, entre duas coisas, amplia-se a outros aspectos. Veja o exemplo: Maria apresentou tosse e febre noturna. O médico diagnosticou pneumonia. Manuel está apresentado tosse e febre noturna. Logo, Manuel está com pneumonia. – Conclusão indutiva.

Indução hipotética – também conhecida domo abdução ou inferência pela melhor explicação – esse raciocínio acontece quando frente a mais de uma explicação para o fenômeno observado, prefere-se a melhor. O exemplo a seguir pode esclarecer melhor esse tipo de raciocínio. O motor de um carro pode falhar devido ao uso de combustível adulterado, velas velhas ou problemas com a injeção eletrônica. Meu carro é novo e ontem abasteci no posto e coloquei meio tanque. É provável que seja devido ao combustível adulterado. – Conclusão indutiva.

Argumento e raciocínio – dedução e indução

Nesse caso, a conclusão tem apenas certa probabilidade de estar correta; quanto maiores as similaridades, maior a probabilidade.

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Essa forma de raciocínio é bastante utilizada por médicos, engenheiros, professores, enfim, pela maioria de nós no dia a dia.

Praticando Vamos praticar um pouco? Complete o enunciado: O método indutivo induz conclusões a partir______________________. a) de um grupo de casos particulares. b) de uma lei geral. c) da observação da realidade. d) da teoria existente.

Falácias e erros de raciocínio

Argumento e raciocínio – dedução e indução

A comunicação é, em nosso tempo, fator fundamental de inclusão. Cada vez mais precisamos estabelecer relações. Nesse sentido, é preciso estar atento às mensagens que recebemos. Hoje em dia é preciso ter habilidade para lidar com discursos, com textos, com o que nos dizem, com argumentos que nos apresentam nos debates do dia a dia. Por isso deve-se ter critérios para aceitar ou rejeitar enunciados, argumentos, declarações feitas. Muitas dessas declarações não têm fundamentação, são falaciosas. Para evitar ser enganado é importante reconhecer argumentos falaciosos.

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Os argumentos falaciosos se apresentam como tentativas de persuadir o interlocutor mediante um raciocínio equivocado. Essas formas de argumentar estão presentes em todos os discursos: na publicidade, na política, nas religiões, na economia, no comércio, entre outros. São aparentemente válidos, mas, na verdade, incorretos. Levam-nos ao erro. Designa-se por falácia um raciocínio errado com aparência de verdadeiro. O termo falácia deriva do verbo latino fallere que significa enganar. As falácias que são cometidas involuntariamente designam-se por paralogismos; as que são produzidas de forma a confundir alguém numa discussão designam-se por sofismas (sobre os sofismas você já viu no capítulo três, quando estudamos sobre o erro). Um argumento é falacioso se contiver:


Premissas inaceitáveis – são tão duvidosas quanto a alegação que pretendem apoiar. Exemplo:

Tudo que comemos ou mata, ou engorda. Comer cenoura não mata. Logo, comer cenoura engorda.

Premissas irrelevantes – quando não têm relação com a verdade da conclusão. Exemplo:

O filme “O Sexto Sentido” teve ótima direção. Os atores que atuaram se destacaram na performance. Portanto, o filme trata de caso verídico.

Premissas insuficientes – quando deixam dúvidas quanto à validade da conclusão. Exemplo:

Comida com muito sal não é saudável. Governos devem zelar pelo bem-estar das pessoas. Portanto, o Governo deve controlar a venda de sal.

Podem ser destacadas duas formas de gerar argumentos incorretos. Cometendo erros de raciocínio com informações verdadeiras, erro formal, ou raciocinando corretamente com informações falsas, erro informal. Com essa compreensão e para efeito de nosso estudo vamos classificar as falácias em dois grandes tipos (COPI, 1968): a) As falácias formais, aquelas que apresentam erro em sua construção, em geral uma violação das regras do silogismo. b) As falácias não formais, argumentos em que as premissas não sustentam a conclusão em virtude de deficiências no conteúdo.

A falácia de afirmação do consequente deriva da confusão entre condição suficiente e condição necessária. Veja o exemplo a seguir: Se jogamos bem, ganhamos.

Antecedente

Ganhamos.

Consequente

Logo, jogamos bem.

Conclusão

Argumento e raciocínio – dedução e indução

Segundo Moreland e Craig (2005), entre as chamadas falácias formais, as mais comuns são a falácia de afirmação do consequente e a falácia de negação do antecedente.

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Esse é um exemplo de afirmação do consequente. Observe que a conclusão não segue das premissas, não é, portanto, condição necessária das premissas, já que o time poderia ter ganhado porque, por exemplo, o time adversário não só jogou pior como o árbitro ajudou numa má atuação. Estamos diante de uma falácia. Veja mais um exemplo: Se a fábrica estivesse poluindo o rio, então veríamos o número de peixes mortos aumentar.

Antecedente

Há cada vez mais peixes mortos.

Consequente

Logo, a fábrica está poluindo o rio.

Conclusão

Mais uma vez a conclusão não é condição necessária das premissas. Por exemplo, a morte dos peixes pode ser provocada pela aplicação de pesticidas e não pela fábrica. Vamos entender a outra forma de falácia formal: a de negação do antecedente. Nesse caso, mais uma vez confunde-se a condição suficiente com a condição necessária. Se estou em Natal, então estou no Rio Grande do Norte.

Antecedente

Não estou em Natal.

Consequente

Logo, não estou no Rio Grande do Norte.

Conclusão

Argumento e raciocínio – dedução e indução

Mais uma vez, a conclusão não é condição necessária das premissas, nesse caso a conclusão extrapola as informações contidas nas premissas. Estamos diante de uma falácia.

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Vimos exemplos de falácia formal, agora vejamos algumas falácias não formais (aquelas que apresentam erro de conteúdo): Apelo à força – é o argumento que ameaça com consequências desagradáveis se não for aceita ou acatada a proposição ou regra apresentada. Exemplo: Ou você segue as orientações do partido, ou será expulso. Apelo de misericórdia – é o argumento que apela para a piedade, ou a misericórdia para o estado ou mesmo para as virtudes de alguém. Exemplo: Ele não pode ser condenado: é bom pai de família, contribuiu com a escola, com a igreja etc.


Apelo ao povo – argumento que busca sua comprovação pela quantidade de pessoas que defendem a ideia propagada. Nesse argumento estão incluídos os boatos. Exemplo: Dizem que um disco voador caiu em Minas Gerais, e os corpos dos alienígenas estão com as Forças Armadas. Apelo à autoridade – argumento que procura sustentar sua validade utilizando uma autoridade. Exemplo: Segundo Schopenhauer, filósofo alemão do século XIX, “toda verdade passa por três estágios: primeiro, ela é ridicularizada; segundo, sofre violenta oposição; terceiro, ela é aceita como autoevidente”. Falso dilema – é uma forma de argumentar que apresenta duas opções de escolha apesar de existirem mais. Exemplo: Quem não está a favor de mim está contra mim. Finalizamos nossa reflexão sobre falácias convidando-o(a) a ficar atento(a) às falácias do nosso cotidiano. Um bom profissional é alguém que sabe “separar o joio do trigo”.

Aplicando a teoria na prática Sherlock Holmes é um personagem criado pelo médico e escritor britânico Sir Arthur Conan Doyle. Sherlock Holmes ficou famoso por utilizar, na resolução dos seus mistérios, o método científico e a lógica dedutiva.

Se você proceder a essa reflexão com certeza verá que utiliza os dois tipos de raciocínio no seu dia a dia. Veja: O horário de encerramento das aulas na universidade é 11h30min; alguém o questiona sobre o horário do término da sua aula naquele dia; imediatamente, por dedução, você conclui que as aulas encerrarão às 11h30min. Se durante toda semana choveu e você observou que o trânsito de Natal ficou complicado, você, por um raciocínio indutivo conclui que toda vez que chover, em Natal, o trânsito ficará complicado.

Argumento e raciocínio – dedução e indução

Com base nas ideias de Sherlock Holmes, que tal agora analisarmos o seu dia a dia? Examine-o e identifique qual o raciocínio que utiliza para resolver seus problemas. Geralmente utiliza a dedução? A indução? Os dois?

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Para saber mais VELASCO, Patrícia Del Nero. Educando para a Argumentação: contribuições do ensino da lógica. Autêntica, 2010 Essa obra discute o lugar da lógica na sala de aula. Suas reflexões estão voltadas para pensar a apropriação que os alunos têm a respeito da lógica, especificamente sobre os conteúdos que vêm sendo ministrados. A autora propõe o ensino de conteúdos lógicos sob um ponto de vista essencialmente informal. Há uma reflexão no campo da argumentação fornecendo ao aluno elementos que ajudam no reconhecimento de argumentos em textos, bem como a capacidade e as dificuldades que esses alunos têm de avaliar os argumentos.

Relembrando Neste capítulo você estudou que: O raciocínio e sua expressão verbal, o argumento, constituem o remate final de todo o processo do pensamento. Existem dois processos segundo os quais organizamos os nossos raciocínios: a dedução e a indução. São características da dedução e da indução:

Argumento e raciocínio – dedução e indução

Dedução

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Indução

Particulariza a conclusão pela confirmação geral.

Generaliza a partir da comprovação de casos.

Premissa maior é verdade universal.

Premissa maior não é verdade universal.

Lógica, comprovada.

Empírica, hipotética.

Propõe verdades.

Comprova induções.

Os argumentos falaciosos se apresentam como tentativas de persuadir o interlocutor mediante um raciocínio equivocado. As falácias se classificam em dois grandes tipos (COPI, 1968): a) As falácias formais, aquelas que apresentam erro em sua construção, em geral uma violação das regras do silogismo.


b) As falácias não formais, argumentos em que as premissas não sustentam a conclusão em virtude de deficiências no conteúdo.

Testando seus conhecimentos Agora é com você! A partir do que você estudou neste capítulo responda às questões a seguir. 1. Marque C (certo) ou E (errado). (

) A indução é um método de raciocínio que parte de uma premissa geral, chamada de premissa maior e conclui sobre as características de um ser particular.

(

) A indução parte da observação de casos particulares com variáveis comuns e chega à formulação de uma conclusão geral que abrange todos os casos.

(

) O seguinte exemplo é um caso de dedução corretamente formulado. Todos os animais respiram. Ora, o mosquito é um animal. Logo, o mosquito respira.

2. Marque a alternativa correta. O método dedutivo é composto pela: a) premissa maior, premissa média e conclusão. b) premissa maior, premissa menor e conclusão.

d) lei, premissas e conclusão. 3. Considere o raciocínio a seguir: é uma indução ou dedução? Premissa maior Está comprovado cientificamente que o hábito de ler melhora a capacidade de interpretação, raciocínio e aumenta o conhecimento das pessoas. Premissa menor Pedro procura ler cada dia mais.

Argumento e raciocínio – dedução e indução

c) lei, casos e premissa.

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Conclusão Pedro irá conseguir melhorar a sua capacidade de interpretação, raciocínio e aumentar o seu conhecimento.

Referências LALANDE, A. Vocabulário Técnico e Crítico de Filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 1999. MORELAND, J. P.; CRAIG, W. L. Filosofia e Cosmovisão Cristã. São Paulo: Edições Vida Nova, 2005. NAVEGA, S. Pensamento Crítico e Argumentação Sólida. São Paulo: Publicações Intelliwise, 2005. NERICI, I. G. Introdução à Lógica. São Paulo: Nobel, 1988. QUESTÕES de concurso. Disponível em: <www.questoesdeconcursos. com.br/imprimir/caderno/raciocinio-logico-fgv-155693>. Acesso em: 30 maio 2011. RODRIGUES NETO, C. Lógica: dedução e indução. Disponível em: <www.each.usp.br/ camiloneto/tadi/aula4.pdf>. Acesso em: 25 maio 2011. REBOUÇAS, F. Sofisma. Disponível em: <www.infoescola.com/filosofia/ sofisma/>. Acesso em: 16 maio 2011.

Argumento e raciocínio – dedução e indução

VELASCO, P. D. N. Educando para a Argumentação: contribuições do ensino da lógica. Belo Horizonte: Autêntica, 2010. (Coleção Ensino de Filosofia, 3).

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