Responsabilidade Social - Unidade 2

Page 1

Emerson Kapaz

Miguel Krigsner

O QUE É RESPONSABILIDADE SOCIAL? MIGUEL KRIGSNER, PRESIDENTE DE O BOTICÁRIO, E EMERSON KAPAZ, DO INSTITUTO ETHOS, RESPONDEM A ESSA PERGUNTA E FALAM SOBRE OUTRAS QUESTÕES RELACIONADAS À RESPONSABILIDADE SOCIAL DAS EMPRESAS

Fernando Mendonça Responsabilidade Social é uma prática, um conceito apenas ou a soma dos dois? A partir da década de 1990, desenvolver a cultura da Responsabilidade Social tornou-se quase um imperativo de gestão para as empresas que pretendem se manter competitivas em seus respectivos mercados. Muitas, porém, tateiam o terreno, míopes, e não encontram o caminho para o que deve ser um legítimo programa de Responsabilidade Social. Abrem-se assim os flancos para as críticas. Há quem afirme que as empresas nada mais fazem do que expiarse tardiamente de uma culpa histórica por produzir bens e miséria a um só tempo. Teria portanto chegado o tempo de procurar "corrigir" esse mal por meio de ações sociais. Seria uma forma de reportar-se à sociedade nos seguintes termos: "OK, sabemos que durante os últimos 200 anos nós nos portamos muito mal, poluímos rios, devastamos florestas, extinguimos espécies animais e vegetais e produzimos milhões de famélicos ao redor do planeta, mas estamos dispostos a corrigir esse imenso equívoco. A partir de agora, manteremos a grama aparada nas praças da cidade". Os críticos garantem que, nesse escopo, trata-se de uma ação

8

revista FAE BUSINESS

número 9

setembro 2004

meramente de Marketing Social, sem resultados tangíveis. Os defensores da Responsabilidade Social dizem não ser bem essa a idéia. Segundo eles, as grandes empresas chegaram à conhecida "sinuca-de-bico": ou ajudam de fato a promover o bemestar social, independentemente da participação dos governos locais, regionais e federais, ou emborcam junto com as populações. E entram aí ações em prol do meio ambiente, da educação, da saúde, enfim, do resgate da qualidade de vida às pessoas, para que elas continuem e, em alguns casos, até voltem a ser cidadãos e consumidores. Para explicar um pouco sobre o que é ou pode ser a Responsabilidade Social, a Revista FAE Business entrevistou o empresário Miguel Krigsner, presidente de O Boticário. As mesmas perguntas foram dirigidas a Emerson Kapaz, do Instituto Ethos. Leia a seguir um pouco do que eles pensam sobre o assunto. O que é Responsabilidade Social para o senhor? Emerson Kapaz – Responsabilidade Social nas empresas significa uma visão empreendedora mais preocupada com o entorno social em que a empresa está inserida, ou seja, sem


deixar de se preocupar com a necessidade de geração de lucro, mas colocando-o não como um fim em si mesmo, mas sim como um meio para se atingir um desenvolvimento sustentável e com mais qualidade de vida.

Responsabilidade Social?

Miguel Krigsner – A forma de conduzir os negócios baseada no compromisso contínuo com a qualidade de vida atual e das gerações futuras, por meio de um comportamento ético, que contribua para o desenvolvimento econômico, social e ambiental. E, se a gente conseguir incorporar os interesses das diversas partes interessadas nas estratégias de negócio e na implementação das atividades, melhor ainda.

Krigsner – As críticas mais comuns são: as empresas podem usar isso como Marketing; ações pequenas e locais não fazem muita diferença; as empresas costumam investir em causa própria etc. Apesar disso, quando se tem a consciência de estar fazendo o melhor possível, as críticas não abalam aquilo em que acreditamos. Porém, hoje, há consciência crescente de que governos sozinhos não conseguem solução para questões crônicas e estruturais; talvez, um dos aspectos mais positivos da globalização econômica e social seja a possibilidade de atuarmos em bloco para enfrentarmos os grandes desafios mundiais. O Global Compact é um grande exemplo disso. O Boticário é signatário do Global Compact por acreditar que esse é um dos caminhos viáveis para uma aliança mundial.

Qual o passo mais importante a ser dado para desenvolver um autêntico programa de Responsabilidade Social? Kapaz – Acredito que o primeiro passo para qualquer ação de Responsabilidade Social em empresas passa pela conscientização dos empreendedores e, principalmente, dos acionistas majoritários de que, hoje, no mundo em que vivemos, o consumidor sabe e, essencialmente, valoriza a diferença entre empresas que são socialmente responsáveis e outras que não têm essa preocupação. Krigsner – Em primeiro lugar, temos que acreditar que cada um de nós, independentemente do tamanho do negócio ou da sua origem, pode trazer contribuições para um mundo melhor. Esse é o passo fundamental; o que acontece depois dessa predisposição genuína é conseqüência. Que dificuldades de percurso são mais comuns? Kapaz – Em primeiro lugar a consciência dos controladores e, depois, a capilarização dessa visão para toda a empresa, sem perder de vista a necessidade de sobrevivência, ou seja, de geração de caixa. Capilarizar a percepção em todos os escalões da empresa passa a ser a meta. Krigsner – Ser integralmente ético num mundo em que existem tantas forças... Conciliar a ética nos negócios, garantindo que a empresa caminhe com sustentabilidade, que os parceiros de negócio também invistam numa relação ganha-ganha em que o lucro final é das gerações futuras. Isso não é fácil, pois, como empresários, somos movidos por resultados. Quais são as críticas mais freqüentes aos programas de

O primeiro passo para qualquer ação de responsabilidade social em empresas passa pela conscientização dos empreendedores e, principalmente, dos acionistas majoritários de que o consumidor valoriza a diferença entre empresas que são socialmente responsáveis e outras que não têm essa preocupação (Kapaz)

Kapaz – A crítica mais comum é a de que a função principal da empresa é gerar lucro e não se preocupar com questões sociais.

A que o senhor atribui o despertar, tido como tardio, para as questões sociais nas empresas? Kapaz – Atribuo à visão de alguns líderes empresariais de que de nada adianta ter uma empresa sadia em uma sociedade miserável, e sem perspectivas de recuperação. Qual o verdadeiro papel de uma empresa que tem, além da visão econômica, a visão política, já que ela é formada por cidadãos? É muito difícil separar o empresário do cidadão empresário. Isso apareceu com uma mudança de mentalidade do próprio empresário, sobre seu papel na sociedade.

Os governos de forma geral em todo o mundo já não conseguem mais atender às demandas econômicas, sociais, políticas e ambientais, cabendo às empresas dividir essa responsabilidade, pois formamos uma grande força alavancadora na sociedade (Krigsner)

Krigsner – Não se trata de tardio. Nunca é demais lembrar que o papel da iniciativa privada é gerar lucro, pois sem isso não há desenvolvimento sustentável. O papel do governo é garantir condições que promovam o desenvolvimento humano em todas as suas dimensões. O que acontece é que a sociedade se tornou tão complexa e o nível populacional tão alto, que os governos de forma geral, em todo o mundo, já não conseguem mais atender às demandas econômicas, sociais, políticas e ambientais, cabendo às empresas dividir essa responsabilidade, pois formamos uma grande força alavancadora na sociedade. O que o senhor pensa sobre a eventual participação dos governos (municipais, estaduais, federal) nas ações sociais desenvolvidas pelas empresas? Kapaz – É uma parceria saudável, desde que respeitadas as diferenças e espaços de atuação.

revista FAE BUSINESS

número 99 número

setembro 2004 setembro 2004 9


Krigsner – Acho importantíssima essa parceria, afinal todas as partes são interessadas num mundo melhor, porque obviamente todos ganham com isso. Se o governo fizer a sua parte e se aliar à iniciativa privada, o resultado será uma combinação muito positiva de visões diferentes e complementares que só beneficia a sociedade. Juntos, somos sempre mais fortes. E sobre uma forma de compensação fiscal às empresas que têm essas ações? Kapaz – Todo incentivo que puder ser dado às empresas que praticam Responsabilidade Social deve ser pensado, já que elas estão ajudando o Estado a cumprir parte de seu papel. Krigsner – Como empresário, acho justo e importante que isso venha a ocorrer, pois seguramente vai gerar um estímulo para novas iniciativas. O que podem ganhar as empresas que se mobilizam em prol de programas sociais? Kapaz – A confiança do consumidor e a percepção da sociedade de que aquela empresa se preocupa com algo maior do que seu próprio lucro. Krigsner – Maior retenção de talentos, maior envolvimento e comprometimento dos colaboradores, credibilidade de marca, maior chance de fidelizar o consumidor, reconhecimento da comunidade em que está inserida, valorização de capital para as empresas que têm ações em bolsa etc. E o mais importante de tudo: a satisfação em ajudar a promover o bem comum.

Se o governo fizer a sua parte e se aliar à iniciativa privada, o resultado é uma combinação muito positiva de visões diferentes e complementares que só beneficia a sociedade. Juntos, somos sempre mais fortes (Krigsner) Como pode ser medido e demonstrado o resultado das ações sociais? Kapaz – Não é fácil mensurar os resultados, e não sei se, na verdade, isso seria tão importante. Acredito que a mobilização que há, hoje, de empresas e Governo, na direção de um maior entrosamento sobre a Responsabilidade Social nas empresas já é um enorme passo. Outro dado importante é o número de trabalhadores que hoje estão empregados em empresas com essa prática, além de publicações que estão dando premiações e listando as mais responsáveis socialmente. Tudo isso mostra uma preocupação em avaliar e incentivar tais práticas. Krigsner -– O mais praticado é a publicação do relatório conhecido como Balanço Social, que nos últimos anos tem evoluído quanto aos indicadores e metodologia de apuração de resultados

1 0 revista FAE BUSINESS

número 9

setembro 2004

Passamos hoje por uma saudável evolução na conscientização de que não podemos mais fingir ser possível ao Brasil continuar como está. Esse é o primeiro passo para se reduzirem os níveis de pobreza no país (Kapaz) conquistados, graças à orientação de organizações como Instituto Ethos, Ibase etc. Na minha opinião, essa ferramenta – que em O Boticário chamamos de Relatório de Responsabilidade Corporativa – é a forma mais eficaz e transparente de demonstração de resultados. Que sugestões o senhor tem, seja a quem for, para se reduzirem os níveis de pobreza no Brasil? Kapaz – Eu precisaria de mais algumas páginas para tratar desse problema, mas acredito haver hoje uma saudável evolução na conscientização de que não podemos mais fingir ser possível ao Brasil continuar como está. É o primeiro passo. A partir dele, as ações se sucederão, e talvez a mais importante delas seja termos noção de que, como classe dominante, no empresariado, na política, no judiciário, nos sindicatos, nas entidades empresariais, nós podemos fazer a diferença. As propostas estão aí, não são segredo. É preciso ter vontade e fazê-las saírem do papel. Krigsner – Criar infra-estrutura na área de Turismo, por ser uma atividade geradora de mão-de-obra; melhorar o nível de escolaridade, pois são necessárias mais cabeças pensantes; melhorar a infra-estrutura de transporte, logística e comunicação para diminuir custos.


Antes de iniciar propriamente o Tutorial sobre a futura ISO 26000, propusemo-nos a “apresentar” o tema principal do nosso trabalho: Responsabilidade Social para que todos possamos entender a proficiência e a consideração que a vertente social pode e deve ter em todos as componentes empresariais.

 O que é “Responsabilidade Social”?

A responsabilidade social das empresas é a integração voluntária de preocupações sociais e ambientais nas suas operações e na sua interacção com todas as partes interessadas. Assim, as empresas contribuem para a satisfação das necessidades dos seus clientes, gerindo simultaneamente as expectativas dos trabalhadores, dos fornecedores e da comunidade local.

Trata-se de contribuir, de forma positiva, para a sociedade em geral, de gerir os impactos ambientais da empresa, garantir a segurança dos seus colaboradores, assegurar a qualidade dos seus produtos ou dos seus serviços, o que poderá proporcionar vantagens directas para o negócio e assegurar a competitividade a longo prazo.

Podemos considerar a responsabilidade social como um investimento, através da qual se pode adoptar uma abordagem inclusiva do ponto de vista financeiro, comercial e social, conducente a uma estratégia a longo prazo.

Controlo de Qualidade 1/17


 Qual o significado prático da Responsabilidade Social das Empresas A motivação dos trabalhadores e seu consequente aumento produtividade podem ser alcançados adoptando medidas, como:   

de

a aprendizagem ao longo da vida; a igualdade em termos de remuneração e de perspectivas de carreira para ambos os sexos; uma preocupação relativamente à empregabilidade e à segurança dos postos de trabalho.

Uma redução na exploração de recursos, nas emissões poluentes ou na produção de resíduos contribui para:  

a redução das despesas energéticas e de eliminação de resíduos; a redução dos custos de matéria-prima e despoluição.

A reputação empresarial, uma melhor contratação e fidelização dos colaboradores e estabelecimentos de contactos com individualidades com influência e efectivação de protocolos com as autoridades locais constituem alguns dos componentes que têm uma importância crucial para garantir o sucesso no mercado. Tudo isto poderá ser conquistado através de:    

qualidade dos produtos e/ou serviços prestados; um empenho contínuo em práticas comerciais ortodoxas; boas relações com clientes e fornecedores; uma boa rede de contactos.

Resumindo, num período em que os negócios se fazem à escala global, cada vez mais, exige-se às Organizações que considerem os impactes sociais e éticos das suas actividades e políticas. As Organizações que forem capazes de demonstrar uma abordagem responsável a questões sociais e éticas ganharão vantagens competitivas e a confiança de accionistas, clientes, comunidades locais e consumidores.

Controlo de Qualidade 2/17


NORMA INTERNACIONAL DE RESPONSABILIDADE CIVIL

 Precedentes Normativos De um mundo cada vez mais globalizado surge uma opinião pública mais exigente sobre o desempenho das organizações, no sentido de adoptarem práticas socialmente responsáveis que ultrapassam o contexto legislativo local. Neste contexto, a Responsabilidade Social constitui uma das principais preocupações a nível mundial, quer a nível institucional e empresarial, quer a nível social e filantrópico. Na prossecução dos objectivos do desenvolvimento sustentável, entidades de todo o mundo sentiram cada vez mais a necessidade de definir políticas de intervenção favoráveis ao desenvolvimento global do interesse de todos. Como consequência surgiram diversas teorias e práticas em redor do tema da responsabilidade social, entendida frequentemente como uma ferramenta de operacionalização do desenvolvimento sustentável nas organizações. Ostentamos as duas referências normativas que precedem a futura ISO 26000:

 SA 8000 – Sistemas responsabilidade social

de

gestão

da

A SA 8000 foi o primeiro referencial normativo de Responsabilidade Social. Surgiu em 1997 emanado pela SAI – Social Accountability International.

Controlo de Qualidade 3/17


A sua estrutura baseia-se nas 12 Convenções do OIT – Organização Internacional do Trabalho, na Declaração dos Direitos do Homem das Nações Unidas e na Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos das Crianças. A SA 8000 é orientada para o incremento da capacidade competitiva de qualquer organização que voluntariamente garanta a componente ética do seu processo e ciclo produtivo, prevendo a adequação à legislação nacional e ao cumprimento dos seus nove requisitos:         

Trabalho Infantil; Trabalho Forçado; Segurança e Saúde; Liberdade de Associação e Direito à Negociação Colectiva; Discriminação; Práticas Disciplinares; Horário de Trabalho; Remuneração; Sistema de Gestão.

As principais vantagens da implementação e consequente certificação de sistemas de gestão de acordo com o referencial SA 8000 são:        

Referencial de reconhecimento internacional, responsabilidade social; Aumento da produtividade; Diminuição da conflituosidade laboral; Credibilização da Marca; Melhoria da Imagem; Diferenciação positiva face à concorrência; Diminuição das taxas de absentismo; Aumento do envolvimento dos trabalhadores.

no

âmbito

da

Controlo de Qualidade 4/17


 NP 4469-1:2008 – Norma Portuguesa de Responsabilidade Social

Em Fevereiro de 2008, o IPQ – Instituto Português de Qualidade editou a NP 4469-1 relativa a “Sistemas de gestão da responsabilidade social. Parte 1: Requisitos e linhas de orientação para a sua utilização”, elaborada pela Comissão Técnica 164 “Responsabilidade Social” e coordenada pelo ONS (Organismo de Normalização Sectorial) e APEE – Associação Portuguesa de Ética Empresarial. No quadro do desenvolvimento do projecto da Norma Internacional ISO 26000, que teve início em 2004, foi recomendado que cada país ou região criasse uma resposta de acordo com a sua realidade de modo a que as organizações possuíssem instrumentos localmente adaptados para a definição e implementação da responsabilidade social. Daqui decorre a decisão de propor uma Norma Portuguesa neste domínio. A actividade das organizações gera impactes positivos e negativos ao nível económico, social e ambiental, à escala global. A identidade das organizações, aliada à diversidade dos requisitos legais, levou a opinião pública a um maior grau de exigência sobre o seu desempenho, no sentido de adoptarem práticas socialmente responsáveis que vão para além do contexto legislativo local. Para aplicação desta Norma entende-se como responsabilidade social as acções voluntárias das organizações tendo em vista a criação e maximização dos seus impactes positivos, bem como a redução ou eliminação dos seus impactes negativos. A presente Norma especifica os requisitos para um sistema de gestão da responsabilidade social e é aplicável a organizações de todos os tipos e dimensões, podendo adaptar-se a diversas condições geográficas, culturais e sociais.

Controlo de Qualidade 5/17


A finalidade global desta Norma é incentivar e orientar as organizações para uma actuação mais socialmente responsável, no contexto dos desafios do desenvolvimento sustentável. No entanto, a implementação e eventual certificação do sistema de gestão da responsabilidade social de acordo com os requisitos desta Norma não significa, por si só, que a organização seja socialmente responsável, mas sim que a sua gestão possui mecanismos para que, potencialmente, venha a sê-lo cada vez mais. Com o objectivo de permitir que a organização alinhe ou integre o seu próprio sistema de gestão da responsabilidade social com os requisitos de sistemas de gestão relacionados, para benefício dos seus utilizadores, a concepção da presente Norma teve em consideração as seguintes normas: NP EN ISO 9001:2000, NP EN ISO 14001:2004, NP 4397:2001 e NP 44601:2007 e os modelo adoptado baseia-se em dois ciclos interligados, sendo um deles de gestão estratégica e outro de gestão operacional. É importante salientar que esta Norma distingue-se da “futura” ISO 26000 porque, como já foi referido, assenta num sistema de gestão compatível com os referenciais acima mencionados e permite a certificação da Empresa segundo esta norma.

 Porquê a ISO 26000? Consideramos oportuno abordar a “futura” ISO 26000 por estar directamente relacionada com o desenvolvimento sustentável e a tão “problemática e delicada” Responsabilidade Social envolvente. Além desta razão, cada vez mais as organizações estão a adoptar por Sistemas Integrados de Gestão onde, obviamente, a responsabilidade social não pode, nem deve ser colocada de parte. Controlo de Qualidade 6/17


 Como tudo começou? Em 2002 a International Organization for Standardization (ISO) iniciou um processo de reflexão sobre a sua eventual envolvência na elaboração de uma norma internacional de Responsabilidade Social. Após dois anos de profundas análises sobre a relevância e a conveniência de a ISO ingressar no assunto, surgiu um grupo de trabalho, ligado ao Conselho de Gestão Técnica (TMB) e com liderança compartilhada entre dois países, um desenvolvido e outro em desenvolvimento, que deveriam ser escolhidos em processo eleitoral. Na escolha, sairam “vencedores” os países Brasil e Suécia. Em Março de 2005, realizou-se a primeira reunião do grupo de trabalho em São Salvador. Estiveram presentes 43 paises e 24 organismos internacionais – estava dado o primeiro “grande passo” para o desenvolvimento da ISO 26000. Só a titulo de curiosidade, Lisboa teve o privilégio de ter sido a cidade escolhida para a realização da terceira reunião Internacional. A ISO e a OIT assinaram um termo de entendimento, o Memorandum of Understanding (MoU), para a cooperação entre ambas ao longo do desenvolvimento dos trabalhos de construção da ISSO que, actualmente, já envolve mais de 430 pessoas de 72 países e 35 organizações internacionais.

 Qual é a sua principal finalidade? Será consistente e não conflituante com normas ISO e outros documentos, tratados e convenções já existentes. A intenção é que se torne um documento guia de Responsabilidade Social, capaz de orientar organizações em diferentes culturas, sociedades e contextos, para estimular a melhoria do desempenho e resultados.

Controlo de Qualidade 7/17


Porque vai ser aplicável a diversos tipos de organizações, e não somente às empresas, a ISO 26000 utilizará a terminologia responsabilidade Social (RS) e não responsabilidade social empresarial (RSE). A sua finalidade será apresentar directrizes de responsabilidade social e orientar organizações de diferentes tipos e natureza – pequenas, médias e grandes empresas, governos, organizações da sociedade civil, entre outras – a incorporá-la na sua gestão. No entanto, não será certificável, nem será um sistema de gestão.

 Qual será a sua composição?

 A ISO 26000 abrangerá três tipos de princípios:

No primeiro, denominado Gerais, se aplicam todas as circunstâncias, como por exemplo, respeito à lei, a convenções e a declarações reconhecidas internacionalmente. Os princípios que fazem parte do segundo critério, chamados Substantivos, são voltados a resultados e avanço de critérios internacionalmente reconhecidos nas diversas áreas da responsabilidade social. Por fim, os ditos Operacionais dizem respeito à natureza e qualidade do processo, englobando inclusividade, accountability, transparência, materialidade e responsabilidade, entre outros aspectos.

 A norma será constituída por seis secções:

  

A primeira secção serve de introdução ao envolvimento das partes interessadas. A segunda secção define o objectivo e o âmbito da norma. A terceira secção contém a definição de algumas palavras utilizadas no documento.

Controlo de Qualidade 8/17


 

A quarta secção revela as condições necessárias para um envolvimento das partes interessadas de qualidade. A quinta secção fornece orientação em relação às condições necessárias para um envolvimento das partes interessadas de qualidade. A sexta secção apresenta critérios para avaliar a qualidade do envolvimento das partes interessadas.

 Quais os aspectos relevantes da Responsabilidade Social que terá em consideração?

 Organização Comando Legitimidade Conduta Justa e Ética Responsabilidade Transparência Desempenho  Direitos humanos Direitos civis e políticos Grupos vulneráveis Direitos económicos, sociais e culturais Direitos fundamentais do trabalho  Práticas de Trabalho Emprego Direitos no trabalho Protecção Social Diálogo Social Saúde e Segurança

Controlo de Qualidade 9/17


 Meio Ambiente Uso sustentável da terra Uso sustentável de recursos Conservação e restauração de ecossistemas e natureza Prevenção da poluição Mudanças climáticas Energia Agua  Questões Relativas ao Consumidor Informações adequadas e verdadeiras Produtos seguros e confiáveis Mecanismos para Re-Calls Serviço e suporte pós-fornecimento Resolução de disputas Práticas justas de propaganda e marketing Produtos ambientalmente e socialmente benéficos Segurança da informação e privacidade  Práticas Leais de Operação Práticas justas de fornecimento e pós-fornecimento Práticas éticas e transparentes Combate a corrupção Promoção dos stakeholders desfavorecidos Promoção de concorrência justa Respeito pelos direitos de propriedade  Desenvolvimento Social Envolvimento comunitário Contribuição para o desenvolvimento social Contribuição para desenvolvimento económico

Controlo de Qualidade 10/17


 Linhas específicas de orientação

 Governo das Organizações • Adaptação da estrutura da organização • Transparência e carácter ético das actividades • Informação, consulta e participação das partes interessadas • Corrupção e suborno/extorsão • Relações com os fornecedores • Relações com os clientes/consumidores • Relações com os investidores/accionistas, incluindo o empoderamento dos pequenos accionistas

 Direitos humanos Direitos civis e políticos • Direito à vida • Direito a casa própria, privacidade e família • Direito à liberdade de expressão • Direito a não ser sujeito a abuso físico, tratamento degradante, desumano e cruel • Direito à liberdade de movimentos • Direito a não ser privado da liberdade através de qualquer forma de escravatura ou servidão Direitos Económicos, Sociais e Culturais • • • • •

Direito Direito Direito Direito Direito

ao trabalho e condições dignas de trabalho aos alimentos e a uma vida digna à saúde à educação a constituir família Controlo de Qualidade 11/17


• Direito à liberdade religiosa, pensamento, orientação sexual e cultura • Direito à propriedade

Igualdade de oportunidades • • • • • • • • • •

Diversidade Não discriminação Igualdade de género Direitos de maternidade e paternidade Conciliação entre a vida profissional, familiar e pessoal Direitos de personalidade Integração de pessoas com deficiência e com capacidades reduzidas Direitos das crianças: vida, sobrevivência e desenvolvimento Direitos indígenas, autóctones e de minorias étnicas Direitos dos trabalhadores migrantes

 Práticas laborais Trabalho e Emprego • • • • • • • • • • • • • • • •

Trabalho infantil Trabalho forçado Segurança do emprego Cessação da relação de trabalho Tempo de trabalho Férias Protecção social Liberdade de associação e negociação colectiva Liberdade sindical e protecção do direito sindical Práticas disciplinares Reconhecimento e recompensa do trabalho Remuneração e benefícios pecuniários Mobilidade profissional (funcional e geográfica) Envelhecimento activo Assédio sexual Assédio moral

Controlo de Qualidade 12/17


Saúde, Higiene e Segurança do Trabalho • • • • •

Saúde no trabalho Higiene no trabalho Segurança no trabalho Doenças profissionais Acidentes de trabalho

Formação profissional e valorização de recursos humanos • Formação profissional (inicial, continua, de requalificação, de reconversão, etc.) • Desenvolvimento de carreiras • Desenvolvimento de competências • Empregabilidade • Estágios profissionais e curriculares

 Ambiente • Consumo de materiais • Consumo de substâncias perigosas • Consumo de energia, incluindo energias renováveis • Uso do solo • Consumo de água • Efeitos sobre a biodiversidade e património natural, incluindo a paisagem • Emissões para a atmosfera, incluindo gases de efeito de estufa, resultantes das actividades da organização, incluindo transporte de pessoas e bens • Descarga de águas residuais • Produção de resíduos, incluindo resíduos perigosos • Ruído, vibrações, odores, poeiras, efeito visual e outros com efeito a nível local

Controlo de Qualidade 13/17


 Praticas Operacionais Cadeia de valor • • • • •

Parcerias para o desenvolvimento de novos produtos Práticas de comércio justo Abuso de influências Segregação de mercados, fornecedores, clientes e territórios Subcontratação (outsourcing)

Concorrentes • • • •

Comportamentos “anti-cartel” e monopólios Propriedade intelectual Espionagem industrial Concorrência leal

Instituições Públicas • • • •

Exercer pressão legítima de forma responsável (lobbying) Cooperação com instituições Contribuições e envolvimento politicamente responsáveis Envolvimento na realização de fins públicos

Fornecedores • Relações de parceria • Partilha de conhecimento • Desenvolvimento mútuo e sinergias Inovação • Inovação tecnológica em prol do desenvolvimento sustentável • Atracção e retenção de talentos • Respeito pelas patentes, direitos de autor e propriedade intelectual

Controlo de Qualidade 14/17


 Consumidores • Saúde e segurança do consumidor • Informação sobre conteúdo, segurança de utilização, manutenção, armazenagem e eliminação de bens e/ou serviços • Resolução de conflitos e litígios (custo, celeridade, reparação de prejuízos) • Práticas enganadoras, falaciosas, fraudulentas ou desleais • Privacidade e protecção de dados pessoais • Satisfação de necessidades e expectativas • Relações de venda e pós-venda • Qualidade de bens e serviços • Informação, formação e educação para o consumo sustentável • Garantias • Rastreabilidade de bens e serviços • Publicidade responsável

 Desenvolvimento da Sociedade • Educação/formação para a vida/formação da sociedade e das comunidades locais • Património cultural • Mecenato/filantropia • Voluntariado • Actividades sociais, culturais e de lazer • Saúde pública/bem-estar • Acesso à informação/participação dos cidadãos e organizações/participação pública • Apoio ao comércio local • Apoio ao desenvolvimento da comunidade local • Envolvimento com a comunidade • Condições e factores que afectem/melhorem o bem-estar e as condições de vida da vizinhança (idosos, pessoas com deficiência, crianças, etc.) • Contratação local

Controlo de Qualidade 15/17


 Âmbito Concludente Uma das preocupações do grupo de trabalho é criar um fundo para viabilizar a participação de pessoas, entidades ou segmentos da sociedade de países que não tenham recursos estarem no processo. Todo o procedimento é aberto à participação multi-stakeholder, envolvendo cinco segmentos da sociedade representados por consumidores, empresas, governo, organizações governamentais e organizações não-governamentais. As organizações deverão definir e formalizar o conjunto de valores que irão orientar a sua actuação, a nível interno e a nível externo. Para facilitar a identificação dos valores de cada organização, a Gestão de Topo deverá interrogar-se e procurar responder, de forma clara e concisa, a questões como:    

O que é mais valorizado na organização? Como se pretende que as pessoas que trabalham para a organização interajam no dia a dia? Que características podem diferenciar esta organização dos concorrentes ou de outras organizações similares? Que atitudes fundamentais devem ser premiadas ou reconhecidas na organização?

Caberá à Gestão de Topo assumir a responsabilidade da decisão final sobre os valores desejados para a organização, após consulta das partes interessadas internas e, se tal for considerado recomendável e vantajoso para a organização, externas.

Controlo de Qualidade 16/17


 Recursos Utilizados: www.apcer.pt www.eicpme.iapmei.pt www.bureauveritas.pt www.ipq.pt Outros sites da internet – motor de busca Google

Controlo de Qualidade 17/17


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.