Revista Falando de Axé - 5ª Edição

Page 1

Falando de Axé “TUDO SOBRE UMBANDA, CANDOMBLÉ E CULTOS AFRICANOS CULTURA E RELIGIOSIDADE NEGRA”.

ANO 1 — Edição 05 Òrìsà do Mês Òsun, a Divina Rainha das águas doces e protetora de todas as crianças Santo do Mês Nossa Senhora de Aparecida, A Mãe Padroeira do Brasil Folha do Mês Àbámodá, Aquela que faz você realizar o que deseja Quem são os Bantus? Parte I Casa onde foi fundada a Umbanda é demolida, Intolerância Religiosa? 1

Outubro de 2011

Falando de Axé com o Bàbálóòrìsà Alexandre T’Lògùn Ede


EDITORIAL

No mundo, sempre existirão pessoas que vão te amar pelo que você é e outras, que vão te odiar pelo mesmo motivo, por isso, seja sempre você mesmo!!!

2

Chegamos com mais uma edição de nossa Revista Online, a edição de outubro, que está um pouquinho atrasada, rsrsrsrsrs, mas prontinha para ser apreciada por nossos amigos leitores e esperamos de todo coração, que gostem, já que, o nosso intento é sempre trazer o que há de melhor dentro da Cultura Afro e Afro-brasileira. Esta nossa edição ficou quase um Especial em homenagem à Òsun, hehehe. Pois, nela falaremos quem é Òsun, seu sincretismo religioso Afrocatólico com Nossa Senhora de Aparecida, o toque de tambor que lhe é peculiar - O Ìjèsà, etc. Mas, inúmeros outros assuntos também serão abordados, como o culto aos Ancestrais Ciganos dentro da Umbanda e muito mais... Uma ótima leitura!!!


Ìbà Olódùmarè Elédà mi - Saudações a Olódùmarè, O meu Criador. Ilè Ògéré Ìbà - Terra, cujo poder se espalha por todo o Universo, Saudações. Mo júbà Èsù Alágbára Irúnmalè - Eu respeitosamente saúdo Èsù, o Poderoso Venerável. Ìbà gbogbo - Saudações a Todos!!!

ÍNDICE Quem são os Bantus? Parte I

Pág. 04

Òrìsà do Mês: Òsun, a Divina Rainha das águas doces e protetora de todas as crianças Pág. 08 Odù do Mês: Òkànràn Méjì, o Odù da Fala Pág. 13 Ìjèsà de Lògùn Ede não é o mesmo Ìjèsà de Òsun? Pág. 16 Entrevista do Mês: Bàbá Alexandre T’Lògùn Ede Pág. 20 Folha do Mês: Àbámodá, Aquela que faz você realizar o que deseja Pág. 24 Os Ciganos na Umbanda

Pág. 26

Casa onde foi fundada a Umbanda é demolida, Intolerância Religiosa? Pág. 30 Santo do Mês: Nossa Senhora de Aparecida, a Mãe Padroeira do Brasil Pág. 34

3

Personalidades Negras: Lima Barreto

Pág. 38

Livro do Mês: Ifá Divination Poetry

Pág. 41


QUEM SÃO OS BANTUS? Parte I

O universo lingüístico bantu, ou seja, os povos de língua comum do tronco bantu ocupam grande porção do continente africano, do centro em direção ao sul, sendo milhares de falantes, compondo numerosos países. Entre os bantu foram os Bakongos e os Ambundos os dois povos que vieram em número mais expressivo para o Brasil na condição de escravizados e, conseqüentemente aqui deixaram sua marca, assim como em toda a América, continente que ajudaram a construir. Como eram numericamente superiores imprimiram também suas línguas e suas características culturais a outros povos bantu que chegavam em menor número.

4

O termo bantu foi utilizado pela primeira vez por Willelm Bleek, um filólogo alemão, para caracterizar e definir as línguas africanas que utilizam a palavra um-ntu (pl. ba-ntu) para designar a pessoa humana. NesQuando os portugueses chegasas línguas, agrupadas sob o termo genérico ba-ntu o radical é ntu e o ram à África, (COSTA E SILVA: 2002) na condição de comerciantes, em prefixo plural ba. 1483, foi com os Bantu do Reino do São cerca de 500 línguas apa- Congo, os bakongo, que eles tiverentadas, como demonstrou Mei- ram os primeiros contatos, àquela nhof, um dos estudiosos que confir- altura comerciais e amigáveis. Os maram a hipótese levantada por Blebantu de então, ao verem chegar as ek, línguas essas faladas por povos negros que vivem na África sub- naus portuguesas e delas descerem saariana, e que teriam um tronco lin- homens brancos, acreditaram num güístico comum, o proto-bantu. Por- primeiro momento que seus antetanto, quando falamos em bantu es- passados estavam retornando. De tamos nos referindo a povos e etni- acordo com suas crenças, as pessoas cujas línguas têm um tronco coas depois de mortas são levadas pamum e não a povos com traços raciais próximos. O que liga os bantu ra um local com um rio muito granentre si é uma língua oriunda do de, e após se lavarem na água desse mesmo tronco e que são gramatica- rio, ganham morada eterna no seu mente aparentadas, pois, em todas leito, em meio à lama branca, torelas as palavras são agrupadas por nando-se dessa forma brancos e puclasses em função de seu uso e na- rificados. Os portugueses foram retureza. cebidos pelo Rei do Congo, em sua


Mbanza Congo e com ele fizeram aliança de amizade, como embaixadores do Rei Português, D. João II. Na partida das terras congolesas, levaram com eles alguns representantes do Rei, que iriam a Portugal conhecer outra civilização e também a religião cristã. De igual maneira, deixaram alguns homens em terras de África para ensinar aos congoleses e aprender com eles sua língua e alguns de seus costumes.

hábito de chamar essas línguas de dialetos. Na verdade, essas línguas não são dialetos, e, sim, línguas plenas e autônomas tais como o português, o inglês e outras línguas européias.

O princípio das relações entre portugueses e congoleses foi inicialmente de respeito mútuo e amizade, o que, infelizmente, não durou muito tempo. Logo, os portugueses passaram a participar de maneira ativa no comércio do tráfico de escravos de forma bilateral com o soberano do Congo, e aquelas relações iniciais que eram apenas de comércio de mercadorias e outros bens, deterioram-se em razão disso.

5

Os povos bantu fazem uso das línguas bantu que são aproximadamente em número de duzentos e cinqüenta afora variantes e dialetos. Entre essas tantas línguas há duas que nos interessam mais de perto, que é o Kikongo e o Kimbundo, faladas respectivamente, pelos bakongos e pelos ambundos.

Atualmente, essas línguas, que para nós funcionam apenas como línguas rituais, são utilizadas como veículo de comunicação em Angola, nos dois Congos, e em países limítrofes, faladas por milhares de pessoas.

No Brasil, principalmente no candomblé congo-angola se faz ainda uso dessas línguas que vieram com os africanos que foram obrigados a emigrar. O kikongo e o Kimbundo são as duas línguas mais usadas nos rituais e no cotidiano das casas de santo de raiz congo angola, ainda que alguns tenham o mau

Como já observamos, entre os vários povos bantu chegados ao Brasil na condição de escravizados a maior afluência se dá de dois povos, os Ambundos, de fala kimbundo e os Bacongos de fala kikongo, sem deixar de mencionar outros povos que também contribuíram em escala menor.


Esses dois grupos lingüísticos, ambundos e bakongos estão presentes na vida brasileira de maneira uterina através de danças, cantos, linguagens, modos de ser, religiões. É preciso destacar também que estes povos quando aqui chegaram já vinham cristianizados, pois o contato deles com os portugueses aconteceu ainda no século XV. Por essa razão estes homens e mulheres bantu escravizados eram chamados de negros ladinos pelos escravocratas porque geralmente já se comunicavam em português, conheciam a cultura européia e eram católicos. Alguns eram realmente convertidos, diferentemente de outros que eram católicos apenas por batismo obrigatório – prática usada pelos navios negreiros com anuência da igreja mas muitos por devoção por terem se convertido ou pelo menos tido algum contato com o cristianismo em suas terras de origem. A devoção a N.Sra. do Rosário já vinha enraizada nos seus espíritos, principalmente daqueles oriundos da área cultural bakongo. Os estudiosos concordam que o número de homens e mulheres bantu que vieram como escravos para o Brasil e para as Américas é muito superior ao número de escravizados de outras etnias e procedências. Como resultado, temos o fato de que a cultura brasileira recebeu maior aporte dos elementos culturais bantu que dos demais povos da emigração forçada. De origem bantu é nosso samba, nossa capoeira, nossos Reisados e Congadas, além de uma língua portuguesa adocicada – no dizer de Gilberto Freire – no contato com as línguas bantu. 6

Os bantu escravizados, que chegaram ao Brasil, mesmo pertencendo a etnias diferentes, acabaram ao longo do tempo sendo denominados de angola ou congo. As demais etnias foram pouco registradas e com o passar do tempo outras denominações acabaram sendo incorporadas a essa nomenclatura redutora - escravo congo ou escravo angola independente do local de origem dessas pessoas. Os grandes portos de embarque sempre foram Luanda, capital de Angola, ou Benguela, também em Angola e os portos de Cabinda, e Loango, no Congo. Os europeus encarregados do tráfico dos escravizados conheciam toda a linha costeira litorânea desde a foz do Zaire até o Cabo Lopes como Angola, e denominavam todos os escravizados embarcados nessa região como Angolas. Os embarcados na foz do rio Zaire, ou no porto Mpinda em Loango eram conhecidos como Congos ou Cabindas.


O candomblé de congo-angola é resultado da vinda de homens e mulheres bantu pertencentes a duas etnias bem marcadas; os bakongos e os ambundos. Os primeiros habitam no nordeste do país de Angola e parte dos dois Congos e adjacências e os Ambundos ocupam parte do território do oeste litorâneo do mesmo país. Porque afirmamos que o candomblé de congo-angola foi formado a partir da contribuição desses dois povos? Porque a língua ritual utilizada nas cerimônias, rezas e louvações são o Kikongo e o Kimbundo, idioma praticado por esses dois povos, além de que, as divindades cultuadas nas casas de congo-angola têm procedência congolesa, em sua maioria, ou procedência ambundo. Evidentemente estamos cientes de estar sendo um pouco reducionistas, pois temos ciência de que outros povos bantu deram sua parcela de contribuição e por essa razão vamos encontrar uma ou outra divindade com característica de outro povo bantu. No entanto, grosso modo, a predominância é dos congos seguida dos ambundos, até porque outros povos aqui chegados, dada a predominância numérica desses dois grupos, acabavam se adaptando a maneira de ser, à língua e à religiosidade dominante.

7

Por Dr. Sérgio Paulo Adolfo (Tata Kiundudulu)


ÒRÌSÀ DO MÊS Òsun, a Divina Rainha das águas doces e protetora de todas as crianças

Oxum, senhora das águas que fluem suavemente. Oxum, graciosa mãe, plena de sabedoria! Que enfeita seus filhos com bronze. Que fica muito tempo no fundo das águas gerando riquezas. Que se recolhe ao rio para cuidar das crianças. Que cava e cava a areia e nela enterra dinheiro. Mulher poderosa que não pode ser atacada. É na Nigéria, mais precisamente em Òsogbo, no Estado de Òsun, que corre o Rio Òsun, lugar de origem, culto e homenagem a Grande Divindade (Irúnmolè) regente das águas doces e dos nascimentos (Crianças). Filha de Yèmoja (Nasce no Odù Òsér’ogbè) é Òsén’ibùomi (Òsun), Aquele que nasce da profundeza das águas, Aquela que flui com as águas. Òsun foi rainha (Ìyába) em Òsogbo e em algumas outras cidades Iorubá, onde em cada uma recebeu um título e passou a ser cultuada de uma forma. Foi esposa de diversas divindades, dentre elas Sàngó, Ògún, Òsóòsì, Òrúnmìlà e segundo algumas fontes, até do próprio Obàtálá (Òsàlá). É considerada Mãe de Ológùn Ede, o Poderoso Feiticeiro de Ede, filho que teve com Ode Òsóòsì segundo alguns e com Ode Erínlè, segundo outros. Seu culto veio para o Brasil através de escravos Ìjèsà, e no Brasil, Òsun passou a ser cultuada como a Senhora de todas as águas doces, rios e cachoeiras. Deusa do amor e do ouro. Uma das divindades mais cultuadas na Umbanda, no Candomblé e até mesmo na Santeria (em Cuba). 8


No Brasil, a mesma tem seu sincretismo afro-católico com diversas santas como: Nossa Senhora Aparecida, Nossa Senhora da Glória, Nossa Senhora da Conceição entre outras. Muito cultuada por Mães que desejam ter filhos e por pessoas que buscam um amor, a faceira Òsun é cultuada com muitas oferendas e presentes. É também grande musa inspiradora de inúmeros cantores e compositores brasileiros, a Vênus Africana. Teve seu culto miscigenado ao das Minkisi Ndandalunda e Kisimbi e também com as Vodùn Azili e Tobosi. Contando no Brasil com respeitosas sacerdotisas, como a saudosa Ìyá Menininha – Àse Gantois, a saudosa Mãe Senhora – Àse Òpó Àfònjá e a Saudosa Ìyá Nitinha – Àse Casa Branca. Òsun é a deusa coquete amada por todos, assim como foram suas filhas. Seu mais célebre Sacerdote foi o Africano Òsunt’adé (José Firmino dos Santos), Bàbálawo fundador da Casa Matriz de Candomblé Nação Èfòn no Brasil. 9

É no Odù Òsér’ogbè que encontramos o Ìtàn que fala do nascimento de Òsun: Yèmoja desejosa de ter filhos, consulta Òrúnmìlà para saber como proceder, já que não conseguia engravidar, Òrúnmìlà consulta Ifá (o oráculo sagrado) e determina que a cada cinco dias ela deviria dirigir-se ao rio próximo a sua casa, carregando sobre a cabeça um pote pintado de branco. Deveria preparar ègbo (milho branco cozido), yánrin (refogado de uma determinada folha), èkuru (de inhame com dendê) e èko (pudim de milho branco). Juntar a essas comidas obì e orógbó e, antes da alvorada, levar tudo ao rio, acompanhado por um grupo de crianças cantando em coro. Ao chegarem, deveria encher o pote branco com água do rio e retornar cantando. A água seria então despejada num pote chama Àwè e, nos cinco dias subseqüentes, deveria ser usada para banhos diários e também para beber. Isso tornou-se um hábito e, ao chegar o dia marcado, bem cedo pela manhã, as crianças esperavam por ela à porta. Yèmoja repetiu incansavelmente essa caminhada, por longo tempo. Finalmente engravidou e mesmo assim prosseguiu com os rituais prescritos por Òrúnmìlà, sendo que tornaram-se muitos cansativos à medida que a gestação progrediu. Em uma dessas manhãs, logo após entregar as oferendas no rio, sentiu uma forte dor. Chamou as crianças e disse-lhes que esperassem um pouco e então recolheu-se a um lugar escondido e ali dar a luz. Assim que ficou de cócoras, ouviu o choro de uma criança. Não precisou usar medicamento nenhum, além da água vinda do rio. E então nasce Òsén’ibùomi (Aquela que nasce da profundeza das águas), que passa a ser conhecida como Òsun (síntese do termo Òsén’ibùomi).


Diversos são os títulos (chamados de qualidade no Brasil) de Òsun, ou seja, os nomes pelo qual ela é conhecida e saudade, chamados pelos Iorubá de Oríkì. Ìyánlá (Grande Mãe), Rora Yèyé (Mãe Graciosa), Ìyámi Àkókó (Minha Mãe Ancestral Suprema, título que a mesma recebe na Egbé Òsòròngà), Olùtójú àwon omo (Aquela que vela pelas crianças), Aláwòyè omo (Aquela que cura crianças), Ìjùmú, Ìpòndá, Òpàrà, Lògùn e inúmeros outros. Òsun é saudada por seus devotos com as expressões Yèyé mi (Minha Mãezinha) ou Káre ó (Você que nos proporciona felicidade). Diversos são os ìtàn que explicam como Òsun transformou-se no rio Òsun (Odo Òsun), na Nigéria, mas o mais conhecido é o que fala que ela ao descobrir que seu marido (Sàngó) morreu, desesperada transforma-se em um rio. Sua ligação com Ológùn Ede é mostrada em diversos ìtàn (relatos antigos sagrados), seja como seu filho, seja apenas como seu mensageiro. São duas divindades que são cultuadas juntas. Foi Òsun a criadora do oráculo Mérìndínlogún Ifá (Jogo de búzios), na época em que era Apetebí (Esposa) Òrúnmìlà e foi a mesma quem ensinou as suas sacerdotisas e depois a sacerdotisa de outras divindades. Foi Òsun também, aquela que preparou o primeiro Iniciado (Awòrìsà) em òrìsà. E é da responsabilidade desta Deidade a vida das crianças enquanto ainda encontram-se no ventre de suas mães. Por todas essas situações fica clara a importância de Òsun na Terra (Àiyé) e no Culto a Òrìsà. 10


seus devotos, é também cultuada para proporcionar filhos a todos aqueles que desejam essa segunda maior riqueza do mundo. Sua ligação com Ìyámi Òsòròngà, faz de Òsun uma divindade qual devemos ter cautela ao manipular energeticamente, é aquela que dá e assegura a vida, mas também é aquela capaz de matar, até mesmo com um copo de água (engasgado). Òsun como Òrìsà funfun, veste-se de branco, mas no Brasil, criou-se o hábito de vestir seus iniciados de amarelo, dourado e rosa.

Seu dia de culto na Nigéria é o Ojó Awo (Dia do Segredo, primeiro dia da semana ioruÒsun é aquela que pode proporcionar à ba de quatro dias), no Brasil a mesma passou um apaixonado devoto uma vida repleta de a ser cultuada no Ojó Àbáméta (Sábado), dia riquezas! em que é cultuada junto a sua mãe, Yèmoja. A Òsun é oferecido Otí sèkété (cerveja de milho), que no Brasil passou a ser substituído pelo vinho branco suave, Obì (nós de cola), Èko (pudim de milho branco), Yánrin (refogado de uma determinada folha), Iyán (inhame pilado), Carne de cabra e frangas. Senhora do cobre (ide), ouro (ìwóòrò) e bronze (àdàlú bàbà àti tánganran), é uma exímia apreciadora de jóias de cobre, ouro e bronze, foi a divindade que descobriu o cobre e o ouro na Terra, encavando rios. Seus símbolos ritualísticos de culto são: Eta (pedras de rio), owó eyo (búzios), àwè (pote de cerâmica para água), aso funfun (pano branco), ide wéwé (pulseiras de cobre), Òòyà (pentes de madeira, cobre, etc), Abèbè (leques), Ìrùkèrè (elemento símbolo de realeza), etc. Na Umbanda é festejada nos meses de outubro (12/10) ou dezembro (08/12). Algumas casas de Candomblé a festejam em Maio (o mês das mães). O principal festejo de Òsun, nas casas de Candomblé Kétu do Brasil é o Ìpètè, que deu origem a uma conhecida oferenda realizada a ela a base de inhame. Òsun é cultuada e festejada para que propicie saúde, paz e muita prosperidade a

11

Òóré Yèyé o (Mãe da Bondade)!

Por Hérick Lechinski (Ejòtolà T’Òsùmàrè)


Características dos filhos de Oxum Dão muito valor à opinião pública, fazem qualquer coisa para não chocá-la, preferindo contornar com suas diferenças com habilidade e diplomacia. São obstinadas na busca de seus objetivos. Oxum é o arquétipo daqueles que agem com estratégia, que jamais esquecem suas finalidades, atrás de sua imagem doce se esconde uma forte determinação e um grande desejo de ascensão social. Têm uma certa tendência à gordura, a imagem do gordinho risonho e bem-humorado combina com eles. Gostam de festas, badalações e de outros prazeres que a vida possa lhes oferecer. Tendem a uma vida sexual intensa, mas com muita discrição, pois detestam escândalos. Não se desesperam por paixões impossíveis, por mais que gostem de uma pessoa, o seu amor-próprio é muito maior. Eles são narcisistas demais para gostar muito de alguém. Graça, vaidade, elegância, uma certa preguiça, charme e beleza definem os filhos de Oxum, que gostam de jóias, perfumes, roupas vistosas e de tudo que é bom e caro.

______________________________________________________________

“O correr das águas, a passagem das nuvens, o brincar das crianças, o sangue nas veias. Esta é a música de Deus.”

Hermann Hesse 12


ODÙ DO MÊS

Ele ensinou as pessoas que ninguém poderia unir a água com uma corda... Está ligado a todos os sons e barulhos, acidentes explosivos, explosões, guerras, brigas e intensas discussões. Protetor da oratória, também é regente dos excessos de fala. - Àwon Òrìÿà que falam neste Odù = Èÿù, Ìbejì, Ôya, Õránmíyàn e Sàngó. - Suas cores = São o vermelho, preto, branco e azul.

Õkàràn méjì - O Odù da Fala Õkàràn méjì é o oitavo (8º) Odù na ordem do Ifá, fala no mërìndínlógún Ifá com um (1) búzio aberto e quinze (15) fechados. É um odù de natureza feminina, ligado ao elemento fogo. Õkàràn méjì é o principal Odù (signo) de Ìbejì (gêmeos), chegando a simbolizá-los, sendo um dos odù’s responsáveis pela vinda dos mesmos a Terra (àiyé). A fala humana, assim como todas as línguas (idiomas) do Mundo, foi introduzida neste através do signo de Õkàràn méjì. O Çbôrí feito às pessoas deste signo (odù), será sempre bem recompensado... 13

- Suas folhas = As principais são o àgogó (Datura stramonium = estramônio, figueira do inferno, trombeteira, erva do diabo, pomo espinhoso), igún, ogbó. - Corpo Humano = Rege a boca, a língua e a garganta. - Os filhos deste Odù = As pessoas nascida sob este odù (signo) são pessoas bastante negativas, ruins, geniosas, maquiavélicas, chegando a serem muitas vezes diabólicas. Falantes, gostam de se meter em confusão, prepotentes, muitas vezes fofoqueiras. Se vierem a ser iniciadas no culto a Òrìÿà, deve ser verificado se não são filhas de Èÿù, Ôya ou Sàngó, caso não sejam, devem mesmo assim cultuar estas divindades de maneira positiva, para que sejam apalaçadas estas energias em sua vida.


Dificilmente devem ser iniciadas em Òrìÿà, pois, são pessoas que dão muito trabalho. Deve procurar se manterem afastadas de sujeiras. Quando gêmeas, devem cultuar Ìbejì... - Èwò’s deste Odù = Os gêmeos não podem comer carne de macaco, cachorro (ajá) e juntar feixes de madeira. Os nativos deste odù não podem comer àkàsà (èko enrolado em folha), quiabo, não podem queimar galhos da árvore Ìrókò, não podem amarrar feixe de lenha, não devem chegar perto e nem tocar em cipós, pedir dinheiro emprestado, devem evitar ir a hospitais, não devem ser infiéis e não devem ser vingativos. Não devem pegar em inhame ìgangán, comer carne de galo (akúko), leopardo, abutre, búfalo e feijão pàkálà. - Odù em Ire – Positivo Pessoa com grande vocação religiosa, bom orador. Pessoa capaz de solucionar os problemas através de muito pouco. Alguém que será muito valorizado por suas idéias e planos. Receberá a ajuda de uma pessoa próspera (rica). Se há problemas, serão resolvidos através de simples entendimento entre os envolvidos... *Saúde = Mostra virilidade para os homens e forte sexualidade para as mulheres... *Financeiro = Mostra caminhos de enriquecimento repentino, dinheiro e prosperidade, será uma pessoa bastante procurada, ganhará bastante dinheiro. Será reconhecido por suas idéias e planos... Profissão ideal relacionada à oralidade, comerciante, político, etc... *Amoroso = Mostra um relacionamento onde impera a paixão e o sexo, pessoas que se completam na cama... *Família = Mostra caminhos de prosperidade para a família, tendência a nascimento de gêmeos. *Religiosidade = Pessoa com grande tendência a religiosidade. Deve cultuar Èsù, Oya e Sàngó... Se for ìbejè (gêmeos), é a bênção da casa e da família, deve cultuar Ìbejì... *Inimigos = Vitórias sobre os inimigos com a ajuda de Sàngó e Oya. Será ajudado por pessoas poderosas. 14


- Odù em Ibi – Negativo Fala de fanatismo religioso. Pessoa medrosa, tímida, que está sofrendo de complexo de inferioridade e isto tem atrapalhado suas coisas. Confusões, brigas, acidentes com fogo, explosões. *Saúde = Mostra problemas na boca, língua e garganta (faringe). Cuidado com acidentes com fogo e explosões... *Financeiro = Mostra dificuldade financeira, roubo, percas, prisões, traição em ambiente de trabalho por pessoas falantes, desespero por dinheiro, ruína por orgulho e prepotência... *Amoroso = Mostra abandono, confusões, separação, paixão passageira, incertezas, traição... *Família = Mostra problemas em casa, problemas com filhos, filho que faz coisa errada, filha leviana, brigas, filhos ingratos... *Religiosidade = Pessoa fanática, que mesmo tendo uma forte religiosidade, está padecendo por fanatismo. Aplacar Èsù, Oya ou Sàngó... *Inimigos = Falsos amigos, inimigos oculto, inimigos poderosos, traições, falsidade, injustiças. Vitória de inimigos (falso amigos)...

Por Hérick Lechinski (Ejòtolà T’Òsùmàrè) 15


Ìjèsà de Lògùn Ede não é o mesmo Ìjèsà de Òsun? Hoje vou comentar um pouco sobre esse que é, sem dúvidas, o toque mais popular do Candomblé, o Ìjèsà. Digo mais, esse toque extrapolou os limites da religião africana, tomando espaço também no cenário musical brasileiro. Prova disso, são os chamados Grupos Carnavalescos de Afoxé, que possuem em sua estrutura rítmica o Ìjèsà (Filhos de Gandhi, Korin Efan, etc.). Ademais, há ainda, diversas músicas de conhecimento público cuja base é o Ìjèsà, como exemplo, menciono o quase hino “É D’Oxum” de Gerônimo (imortalizado por Gal Costa, Jauperi e, tantos outros) e “Muito Obrigado Axé”, interpretada por Ivete Sangalo e Maria Bethânia. Sobre a última, é importante frisar que, a marcação rítmica do Ìjèsà realizada por Márcio Brasil, percussionista de Ivete é primorosa, invejando a muitos Ogans (vejam vídeo abaixo e comprovem um verdadeiro Ìjèsà Nàgó). http://www.youtube.com/watch?v=SbEwxtBFBw&feature=player_embedded No entanto, a ampla divulgação do toque, associada às suas diversas interpretações, a depender do segmento religioso ou na música profana, não foi somente benéfico ao mesmo. Hoje, deparamo-nos com alguns ―Ditos Ijexás‖, que em nada nos faz lembrar o toque como originalmente era executado. Em suma, esse ritmo é mais utilizado para Òsun, a grande Deusa das Águas Doces, mas há, também, uma infinidade de cânticos em Ìjèsà para Èsù, Ògún, Lògùn Ede, Yánsàn, Òsanyìn, Òsàlá, dentre outros. Muito embora, seja comum nos tradicionais Candomblés Kétu, ouvir um representativo número de cânticos em Ìjèsà, eu estaria sendo leviano se olvidase a origem deste toque, o identificando como Kétu. A origem desse ritmo no Brasil remete-nos à Nação de nome análogo, que teve seu prestígio alavancado pelo patriarca Eduardo Ìjèsà, dito detentor supremos do Culto a Òsun e Lògùn Ede no Brasil. Na casa de Pai Eduardo, contam os antigos que o único toque executado era o Ìjèsà, à exceção de uma cantiga, que por motivos óbvios não cabe mencionar aqui. Essa cantiga, não louvava nem Òsun, nem Lògùn Ede, mas sim, o povo de Ede, uma antiga província africana. Há também o Ilé Àse Kalè Bókun, da célebre Mãe Estelita do Ìjèsà. Além do Candomblé de Seu Eduardo e o Kalè Bókun, havia o Candomblé do Olóòròkè. Meu Pai Tarrafa, venerável Ògán baiano, um dos meus Mestres, que fora suspenso no Olóòròkè,

16


certa vez me disse que na Casa de Dona Matilde (assim que ele chamava a casa), tocava-se somente Ìjèsà. Narrou-me que, a própria Divindade de Dona Matilde quando chegava a terra, entoava certos cânticos no ritmo ìjèsà, tal como ―Olóòròkè Olóòròkè‖. Comentava que era algo muito bonito, pois ao som do Ìjèsà (tocava-se somente Ìjèsà) as pessoas dançavam em homenagem à Divindade da Casa. Outra importante casa, cujo toque era o Ìjèsà, era a de Júlia Bugan, na Língua de Vaca. Na casa de Mãe Júlia Bugan, o ritmo do Ìjèsà era tocado por mulheres, nos tambores chamados ―Ilú Bata Demi‖. Essas mulheres à época das festividades de Òsun iam até o Gantois, tocando nestes tambores, onde eram recebidas por Mãe Menininha. Achei oportuno esse intróito, ante a importância deste toque para o Candomblé e, sobretudo, por Ìjèsà não ser somente um ritmo, mas também uma Nação. Mas, como enuncia o título: Ìjèsà de Lògùn Ede não é o mesmo Ìjèsà de Òsun? Não! Não é o mesmo! Há uma confusão generalizada no que diz respeito ao Toque de Ìjèsà de Lògùn Ede. Nesse sentido, não preciso discorrer muito, basta observar a dança. Vejamos, se os toques do Candomblé estão com consonância com a 17dança dos Orixás, como fica a dança de Lògùn Ede, com o Ìjèsà de Òsun?


Bom, vou procurar mostrar essa diferença, fundamentando-me em 4 discos, todos realizados por renomados membros do Candomblé. São eles: Ìjèsà Ìjèsà Ìjèsà Ìjèsà

de de de de

Òsun: Cinqüentenário de Mãe Menininha; Òsun: Odún Orin; Lògùn Ede: Candomblé da Casa de Òsùmàrè; Lògùn Ede: Luiz da Muriçoca.

O Ìjèsà de Òsun: Antes do que vou dizer, é importante frisar que, há diferenças entre casas, mas vou falar sobre o modo o qual aprendi e da forma que está registrada nos Discos de Mãe Menininha e no Disco Odún Orin. Assim sendo, é importante saber que em nenhum dos três atabaques, o toque de Ìjèsà é executado da mesma forma. Ou seja, a marcação no Hunlé (o menor dos atabaques) é distinta do Hunpi (médio) e, obviamente do Hun (o maior dos três e que faz as variações). Além disso, há a importante marcação do Agogo. Como sei que muitos vão indagar: ―O Hunpi é diferente do Hunlé‖? Peço que escutem atentamente a faixa de Òsun, do disco Odún Orin (pode ser o de Mãe Menininha também, mas pelo fato da gravação ser antiga, o ouvido tem que estar bem apurado, razão pela qual peço que escutem o Odún Orin. Está 18bem mais fácil de identificar a diferença).


Bom, peço que vejam (com atenção) a marcação básica do Hunlé, iniciada aos 23 segundos (slep, "slep, open, slep" – 1, 2, 3). Aos 25 segundos, entra o Hunpi, com uma marcação de 4 batidas invertidas (totalmente distintas do Hunlé, identificaram?). Esse é o chamado Ìjèsà de Òsun. E o Ìjèsà de Lògùn Ede? Bom, valho-me do antológico disco de Seu Luiz da Muriçoca e do Disco de Meu Tio Erenilton: CLIQUE AQUI (SEU LUIZ DA MURIÇOCA) CLIQUE AQUI (OGAN ERENILTON) Aqui não há muito que dizer, basta ouvir a diferença deste Ìjèsà (de Lògùn Ede) nestes dois Discos, para o Ìjèsà de Òsun, constantes nas outras gravações. Basta falar que, no Ìjèsà de Lògùn, diferente do Ìjèsà de Òsun, o Hunpi e Hunlé começam com batidas e tempos diferentes. Vejamos: Vamos tentar ilustrar da seguinte forma: Open (batida aberta) e Slap (a batida seca – fechada).

Hunlé do Ìjèsà de Òsun: Slap – Open – Slap

Hunlé do Ìjèsà de Lògùn Ede:

Open – Open – Slap – Open – Slap – Slap – Slap – Open – Open Bom, nesse sentido, acho que a diferença é notória. Vale destacar, também que, no Ìjèsà de Òsun, há casas (das três principais escolas) que a marcação no Hunpi e no Hunlé é a mesma. Mas em todas, o Ìjèsà de Lògùn Ede é distinto do Ìjèsà de Òsun. Parece algo simples, mas há uma diferença significativa. Muitos almejam as ―17 passagens da Hamunya‖ ou ―Toque Daju-a‖, mas há ainda, uma profusão de toques que devemos nos atentar e que estão sendo esquecidos. Espero, uma vez mais, ter esclarecido um pouco sobre mais um dos importantes toques do chamado Candomblé Nàgó-Kétu, o qual pertenço.

Por Ògán Carlos Vinícius (Òpotún do Ilé Àse Ibùalámo – SP) http://www.opotunvinicius.com/2011/08/ijesa-de-logun-ede-nao-eo-mesmo-ijesa.html 19


ENTREVISTA DO MÊS

Falando de Axé com Bàbá Alexandre T’Lògùn Ede A Falando de Axé tem o prazer de entrevistar e homenagear nesta edição, o Bàbálóòrìsà Alexandre Cheuen T’Lògùn Ede Falando de Axé Bàbá Alexandre, com que idade você começou a se envolver com o Candomblé? Na sua época, candomblé já era “coisa pra criança” ou ainda existia um preconceito em cima disso? Bàbá Alexandre Candomblé naquela época era tabu. Na rua onde nasci tinha um candomblé, do falecido Sr. Marinho de Ogun Ayres. Cresci indo escondido da minha mãe no candomblé do seu Marinho. Aquilo tudo já me fascinava! Falando de Axé Sua família já era do candomblé? Se sim, desde quando? Se não, como foi a aceitação deles? Bàbá Alexandre Minha avó carnal era iniciada à Nàná. Mas minha mãe mantinha certa distância do candomblé. Fui uma criança muito doente. Minha mãe levava ao médico que não me achava nenhuma doença. Um dia ela me levou no Seu Marinho que disse a ela que eu tinha que me iniciar, porém, ela se negou permitir a minha iniciação. Vim a me iniciar já com 21 anos, fui com minhas próprias pernas. Minha família foi na minha saída. A aceitação foi difícil. Falando de Axé Você é um sacerdote que possui uma casa com um número considerável de filhos e amigos, como é a convivência com o ser humano no meio religioso, você acha fácil? 20


Bàbá Alexandre Convivência humana é difícil em qualquer grupo, principalmente no religioso. O sacerdote precisa ser imparcial, olhar todos os filhos com os mesmos olhos. O que serve pra um servirá para o outro. Assim tenho feito. Falando de Axé Sua comunidade no Orkut – Candomblé Aqui Eu Sou Feliz, é muito conceituada pelos temas brilhantes que são abordados e também pela postura da mesma, desde sempre foi assim? Bàbá Alexandre Sim, o objetivo da comunidade sempre foi exaltar a religião. Quando criei o espaço foi numa época onde existia uma comunidade que falava mal de todo mundo, principalmente de mim. Creio que ferramentas como o Orkut não pode servir de denúncia, pois é um prato cheio para os católicos e protestantes. Existem outras formas de protesto ou denúncia. Até porque nas comunidades o negócio toma outra proporção, vira mais para o lado pessoal, ridicularização. Conto com um grupo de moderadores que são atentos. Não adicionamos qualquer um e nem aceitamos temas que exponham o sagrado. Falando de Axé A Internet tem o seu lado bom e ruim, em sua opinião no que a internet fez bem à você? E mal, fez algum? Qual? Bàbá Alexandre A internet é uma ferramenta positiva para quem faz dela bom uso. Pra mim faz bem porque nela procuro entretenimento. Acho que religião deve ser buscada em templos da religião. Por isso evito certos temas lá na comunidade. 21


Através da Net conheci pessoas maravilhosas como Ìyá Valéria, que se tornou minha amiga pessoal. Falando de Axé Você tem um conhecimento bem interessante, nos diga: Você já bebeu de outras fontes, ou se mantém fiel aos ensinamentos de seus mais velhos? Bàbá Alexandre Beber de fontes variadas é uma faca de dois gumes. Me considero muito novo ainda, tenho apenas 23 anos de iniciado e 13 de sacerdócio. Sou um eterno aprendiz! Ainda falta muita coisa para eu aprender dentro da minha família de orixá. Talvez no futuro eu me interesse por outras culturas, de outras nações. Falando de Axé Como o irmão explica essa grande diferença de conhecimento entre os sacerdotes do candomblé de uma mesma nação, ou seja, porque há uns que fazem coisas tão coerentes e outros que fazem tantas loucuras? Bàbá Alexandre Antigamente a transmissão de cargo era coisa respeitada. Só abria casa quem realmente tinha caminhos pra isso. Hoje em dia todo mundo quer ser sacerdote. Brigam com seus antecessores e abrem suas casas sem vínculo com ninguém. Catam aqui, ali, inventam um bocado e o resultado está no Youtube da vida. Falando de Axé Você já sentiu vontade de sair do Rio de Janeiro para outro estado da 22federação?


Se sim, qual? Se não, o que lhe prende ao RJ? Bàbá Alexandre Sou feliz no Rio de Janeiro. Sinto falta de viver o candomblé da Bahia apenas. Falando de Axé Olóògùn-ede é seu òrìsà, o que você pode nos falar dele? E o que o mesmo representa em sua vida, tanto material, quanto espiritual? Bàbá Alexandre Fiz santo numa época que o Àbían ia pra roça apenas com o enxoval e um monte de incertezas. Quase fui iniciado a Oxalá. Logunedé é minha existência. O que sei de Logun é o básico, trivial nas casas antigas: Pequeno caçador/ pescador, filho de Ipondá e Erinlé/Ibualamo mas que também é um grande feiticeiro. Não consigo me ver sem meu orixá. Falando de Axé Para finalizar essa nossa espetacular entrevista, a qual tivemos grande prazer de realizar, deixe uma mensagem para todos os nossos leitores: Bàbá Alexandre Tratem o candomblé como RELIGIÃO e seremos mais felizes! Obrigado pela oportunidade e até a próxima!

AXÉ!!!

23


FOLHA DO MÊS Àbámodá, Aquela que faz você realizar o que deseja choe. Mesmo a folha da fortuna (Àbámodá) sendo uma substituta da folha da costa, são duas folhas distintas. Àbámoda é uma folha feminina, de Èrò (calma). Regida pelas divindades Èsù, Òrúnmìlà e Obàtálá. Com diversas utilizações, tanto medicinal, quanto litúrgica. Seu nome (Àbámodá) signifiNome Yorùbá = Àbámodá, Erú ca: “O que você deseja, você faz”. òdúndún, Kantí-kantí e Kóropòn. Pelo seu uso em substituição ao Nomes Populares = Folha da fortu- Òdúndun, também é chamada de Ena, fortuna, folha grossa, milagre rú Òdúndun – Escravo de Òdúndun. de São Joaquim. Nome Científico = Bryophyllum pinNa Nigéria, mais precisamente natum. em Ilé Ifè, Àbámodá faz parte de uma ritualística mistura de ervas que Àbámoda é uma folha bastante serve para banhar as estatuetas de conhecida e utilizada no culto a Obàtálá e sua esposa Yèmowó, aÒrìsà, Nkisi e Vodùn. pós os sacrifícios rituais. De origem asiática, foi introduzida há muito nas Américas, hoje encontrada em todo o território nacional. Uma planta de fácil cultivo, já que, brota com grande facilidade, principalmente em lugares e terras úmidas.

Como folha de Èsù, representa a multiplicação e a prosperidade, capaz de multiplicar qualquer Àse, trazer prosperidade, afastar coisas nefastas e trazer muitas realizações. Uma folha que não pode faltar no Àgbo que sacraliza o Yangí de Èsù.

Muito confundida com a Folha É considerada por muitos Bàda costa (Òdúndun) e com uma flor bálawo (Sacerdote de Òrúnmìlà) coornamental conhecida como Kalan- mo uma folha de Ifá e bastante

24


utilizada dentro do culto ao ritualísticos das divindades, para asmesmo. sentar “Èsù do Mercado”, para lavar os búzios (owó eyo) do oráculo e em Os Olóòsanyìn (Sacerdote de muitas outras magias para prosperiÒsanyìn) utilizam-se da mesma em dade. oògùn (magias) para prosperidade, afastar a inveja e a obtenção de reaMedicinalmente a folha da forlizações. tuna (àbámodá) funciona como diurético, combate encefalias, nevralgiJá os Onísegùn (Médicos her- as, dores de dente, coqueluche e abalistas) a usam para a cura de do- fecções das vias respiratórias. E enças de pele, como feridas, furún- também é bastante utilizada no comculos, úlceras e dermatoses em ge- bate a diabetes. ral. No Candomblé (Religião afrobrasileira), ela é utilizada em rituais de iniciação, através do Àgbo (preparado utilizado para banhar ou beber), na sacralização de objetos

̣ Àbámọdá ọfò Encantamento da Folha da Fortuna Em Ejìogbè:

Àbámọdá àbá mi kò ṣe àìṣẹ Àbá ti alágẹmọ bá dá, l'Òrìṣà Òkè ngbà Mo dá àbá owó Àbámọdá, que a minha aspiração será realizada. Òrìṣà Òkè aceita o aspiração do camaleão. Que eu aspire o dinheiro. Para receber dinheiro.

25

Por Hérick Lechinski (Ejòtolà T’Òsùmàrè)


Os Ciganos na Umbanda

Falar sobre o denso universo cigano é tratar de um assunto bastante complexo. Talvez muitos ainda não conheçam a fundo esse povo que prima pela inteligência, pela luz, inspiração, magia, energia, o amor e a força que cada um tem dentro de si. O grande universo cigano é riquíssimo em magias de todas as finalidades, principalmente na Grande Magia de viver. Irmãos do Sol e da Lua, utilizam a natureza para fazer seus feitiços e magias, filhos dos ventos e das estrelas são um povo sofrido, sem nenhum apoio governamental, estão espalhados pelo mundo inteiro, levam uma vida sofrida e dura sem nenhum conforto ou moleza. Trabalham intensamente a cada dia, enfrentam preconceitos, dificuldades de todo o tipo, mas ainda assim são um povo que onde passam deixam alegria, religiosidade, ética, conhecimentos esotéricos e deixam sobre tudo o grande valor do amor e da vida como ela simplesmente é. Existe uma legião de espíritos ciganos que viveram entre nós, que ainda em sua vida terrena, já eram mestres, de grande entendimento sobre o mundo espiritual. Já buscavam luz como forma de atenuar os problemas de ordem física, moral e astral. Fazendo desta forma um trabalho que emana amor. Os Espíritos Ciganos são como todos os outros espíritos e também dispõe da liberdade do livre arbítrio. Hoje existe uma discussão muito grande sobre o trabalho destes amigos astrais em linhas não apropriadas para Ciganos, como a Umbanda, por exemplo, torno a dizer que o livre arbítrio é dádiva de Deus, e assim sendo, podem estes espíritos entrar em qualquer linha espiritual que lhe convenha. 26


Os ditos Exú Wladimir, Exú Cigano, Pombagira Cigana, Ciganinha da Estrada, e muitos outros, são espíritos que por vezes assim se apresentam para a melhor identificação de seus médiuns e clientes, trabalhando com o mesmo padrão apresentado e conhecido. A denominação destes espíritos para os próprios pouco importa, se é para fazer o trabalho para o qual se tem permissão de Deus, não irá fazer diferença. Os Espíritos Ciganos de outras linhas, são espíritos tão ciganos quanto os de linha mais pura, somente ainda não tiveram oportunidade de integrar seu protegido para que os trabalhos sejam feitos numa linha Romaí (Cigana). A influência destes espíritos em distintos setores de nossa vida terrena e espiritual é permitida por Duvéli (Deus), e conforme o problema que passamos, podemos evocar os Ciganos e pedir por sua ajuda. Estes grandes amigos são bastante conhecidos e vibram geralmente pelo domínio do Mestre do Clã que pertencem, no entanto cada um deles tem as suas próprias especialidades mágicas, e características próprias advindas de sua vida terrena. São inúmeros os espíritos ciganos, sendo impossível citar todos. Saudação: Salve os Ciganos! A corrente astral de Umbanda é aberta a todos os espíritos que queiram praticar a caridade, independentemente de suas origens terrenas e encarnações, e que os acolhe em suas linhas de ação. Houve época em que dirigentes umbandistas não aceitavam ciganos em seus trabalhos. Eles incorporavam, então, disfarçados, nas linhas dos Baianos, dos Exus e Pombogiras.

27


O Oriente luminoso que organizou a Umbanda, antes das décadas de 1950 e 1960, integrou os espíritos ciganos à Linha do Oriente. A Umbanda acolhe todos os filhos de Deus em suas linhas, e tamanha foi a simpatia do povo umbandista por essas entidades e a seriedade de seu trabalho, orientando com sabedoria, ensinando a beleza da criação e a alegria de viver, que foi criada uma linha ou corrente independente, específica para eles, com sua própria hierarquia, magia e ensinamentos. Seus trabalhos estão voltados para as necessidades mais terrenas dos consulentes, e hoje, a influência do povo cigano na Umbanda cresce cada vez mais. Na linha dos Ciganos, encontramos espíritos que tiveram encarnações como ciganos e também os que foram atraídos para essa linha por afinidade a magia cigana. Por isso, os ciganos na umbanda não têm a obrigatoriedade de falar espanhol ou romanês (Dialeto Cigano), ler cartas ou fazer adivinhações. Há os espíritos ciganos que fazem isso porque já o faziam quando encarnados e outros não. A linha dos Ciganos tem seus rituais e fundamentos adaptados à Umbanda. É uma linha espiritual especial, hoje em expansão, cujas entidades trabalham na irradiação dos Orixás, mas louvam sua Padroeira Santa Sara Kali. A influencia das entidades ciganas se fez presente desde a metade do século XX, no culto Jurema ou Catimbó, com o determinado chefe Kalon, Mestre João Cigano. Ponto do Mestre João Cigano:

28

“Sou eu rei dos ciganos, Sou eu rei dos ciganos, Trabalho em poço fundo, Vim procurar meus mestres, Que curam no outro mundo!”


Os ciganos são desprendidos das coisas materiais e exemplo de liberdade, de amor à natureza e a Deus. São monoteístas, conhecem o livre-arbítrio, a lei de causa e efeito, acreditam na reencarnação e são austeros e severos do ponto de vista religioso. São profundos conhecedores das magias e das essências e dos elementos água, terra, fogo e ar, das ervas e das pedras, reconhecendo todas as dádivas da natureza como bens divinos. Na Umbanda, atuam como guias espirituais de maneira extremamente respeitosa e sempre procuram mostrar o caráter fraterno do povo cigano, seu respeito com o alimento e a capacidade de repartir o pão. Aceitam o ritual umbandista, como meio evolucionista, e retribuem com suas ricas orientações e com a alegria de seus cantos e danças. São bastante conhecidos na Umbanda os ciganos Wladimir, Juan, Igor, Iago, Ramiro, Pablo, Juanito, entre outros e as ciganas Sara, Najara, Carmem, Sulamita, Sunakana, Sarita, Ilarim, Madalena, Rosita, Esmeralda e muitas outras. As entidades ciganas atuam nas irradiações dos diversos Orixás. Quando estamos em processo de desenvolvimento da incorporação para receber em nossa aura os Mestres Ciganos Astrais, teremos pontos comuns a serem observados no trabalho astral destes espíritos, levando em consideração o Grupo ao qual pertencem, e também pontos comuns a todos os espíritos ciganos. Quanto maior for o abandono e a concentração nesta hora, os sentidos ficarão mais aguçados e o trabalho astral fluirá com mais facilidade. Pontos comuns a todos os espíritos ciganos são: Sensação de frio e calor ao mesmo tempo na altura do umbigo, sensação de peso na nuca, alegria, sensação de ser outra pessoa, incomodo na garganta/laringe, desequilibro, sensação de flutuação, formicação em todo o corpo, pontas dos dedos sensíveis, olhos pesados, sensação de energia sobre posta, região lombar sensível em toda extensão (coluna).

29

Por Jéssycka Rayanna (Lhaer Kalinata ki Ritj Shuvanji em Kumpania Kaló de Ramona Torres) Fonte: O aprendizado a mim passado por minha Bibi, Shuvani Ramona Torres e o Livro “A linha do Oriente na Umbanda” de Alberto Marsicano e Lurdes de Campos


Casa onde foi fundada a Umbanda é demolida, Intolerância Religiosa?

Falando de Axé este mês publica dois artigos, artigos esses já publicados em outros meios de comunicação, para que nossos leitores possam tirar suas próprias conclusões a respeito da demolição da Casa, onde foi fundado o primeiro TEMPLO de UMBANDA do BRASIL - A Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade (1908). Com o acontecido, podemos concluir com certeza, a necessidade da União por parte dos adeptos da Umbanda e a necessidade de darmos o nosso melhor em prol dessa religião tão magnífica, que a cada dia cresce mais, mas que ainda está em busca do respeito que deve ser dado à mesma por direito. 30


―Umbandistas pedem tombamento de imóvel para barrar demolição de berço da religião‖ Fabíola Ortiz Especial para o UOL Notícias No Rio de Janeiro Com o berço da umbanda prestes a ser demolido, lideranças religiosas entraram com pedido de tombamento para salvar a primeira casa da religião no Estado do Rio de Janeiro. A casa onde viveu o fundador da umbanda, Zélio de Moraes, onde foi fundada a Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade, fica na rua Floriano Peixoto de número 30, localizada no bairro de Neves, no município de São Gonçalo (RJ). Já muito desgastada pelo tempo e sem preservação, o imóvel dará lugar a um galpão. ―Estamos fazendo agora um movimento para ver se conseguimos tombar a casa, impedir que seja destruída e recuperá-la. A obra é particular de uma pessoa que comprou o imóvel e lá existe a casa muito antiga que ele pretende demolir. Queremos primeiro tentar conversar com o comprador do terreno onde está o imóvel para chegarmos a uma solução amigável e conciliar os interesses‖, disse ao UOL Notícias Pedro Miranda, presidente da União Espiritista de Umbanda do Brasil. A casa pertencia aos familiares do fundador da religião de matriz afrobrasileira e a sua venda é recente, estima a liderança religiosa, pois só agora a notícia da provável demolição veio a público. Segundo Pedro Miranda, a comunidade umbandista foi ―pega de surpresa‖ quando soube da venda do imóvel. A demolição está prevista para esta semana, mas ainda não está definida a data. Mas as lideranças umbandistas já se articularam numa reunião marcada para esta quinta-feira (dia 06/10/11) em frente à casa em Neves para liderar um movimento de proteção e preservação ao berço da umbanda. ―Naquela casa, em 15 de novembro de 1908, um jovem de 17 anos chamado Zélio de Moraes teve uma manifestação espiritual que lhe teria revelado o início de um movimento espiritualista chamado umbanda. Ali nasceu a primeira tenda Nossa Senhora da Piedade. A casa era de propriedade da família do Zélio, mas parte dos descendentes não seguiu a linha da umbanda e resolveu vender o imóvel‖, conta Miranda. 31


A liderança ainda desconhece quem foi o comprador do terreno e disse ser um comerciante de origem portuguesa. ―O que se pretende é a preservação histórica desse patrimônio espiritual e também do imóvel onde esse fenômeno ocorreu. Ali nasceu a tenda de umbanda sob a orientação de Caboclo das Sete Encruzilhadas‖, explicou. A União Espiritista de Umbanda do Brasil já enviou, nesta segunda-feira (03/10/11), ao Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) um pedido de tombamento da casa e também está em contato com a prefeitura de São Gonçalo em busca de apoio para impedir que ocorra a demolição. Para ganhar tempo, as lideranças religiosas estudam ainda entrar com uma ação na Justiça para pedir a suspensão das obras no terreno até que o tombamento seja avaliado pelo Iphan. ―Mas primeiro queremos ter uma conversa direta com o proprietário‖, diz Miranda. http://noticias.uol.com.br/cotidiano/2011/10/04/umbandistas-pedemtombamento-de-imovel-para-barrar-demolicao-de-berco-da-religiao-no-rio.jhtm

―Casa onde nasceu a umbanda, em São Gonçalo, começa a ser demolida‖ A história do surgimento da umbanda, que começou a ser escrita numa casa centenária na Rua Floriano Peixoto, em Neves, São Gonçalo, está reduzida a escombros. O antigo terreiro de Zélio de Moraes, que abrigou as primeiras sessões da única manifestação religiosa 100% brasileira, em 1908, começou a ser destruído nesta segunda-feira. O berço da religião poderia ter sido salvo por um decreto da prefeita Aparecida Panisset — que é evangélica. Mas a prefeitura deixou que o imóvel fosse degradado pelo tempo, vendido e, finalmente, posto abaixo. A fachada e a parte lateral do imóvel já foram derrubadas. A casa deve ser totalmente demolida até sexta-feira, segundo o mestre de obras Gilson Derbui, de 54 anos. Ele coordena a equipe de oito trabalhadores, entre pedreiros e ajudantes, que trabalha há quatro meses na obra. — Essa casa está em ruínas. A madeira está cheia de cupim, e poderia ocorrer um desabamento a qualquer momento — afirma. O terreno, que pertencia à família do fundador da umbanda, foi vendido no fim de 2010 ao militar Wanderley da Silva, de 65 anos, que irá transformar o lo32cal numa loja de alumínio. O novo proprietário não foi encontrado.


As paredes da sala, que já serviram de abrigo às manifestações religiosas, exibem contas de material de construção, rabiscadas a lápis pelos pedreiros que trabalham lá. Um dos quartos virou depósito, com sacos de cimento empilhados. Na área, um fogão aquece a marmita, o café e a comida para o cachorro Leão, que protege a obra nas madrugadas. Até a reportagem do último domingo do EXTRA, o berço da umbanda era um patrimônio desconhecido por moradores e pedreiros. — Fui criado aqui e nunca ouvi falar disso — garante o comerciante Antonio Almeida Ferreira, de 43 anos, que mora em frente ao local desde a infância. O pedreiro Edno Correia da Silva, o Neneco, de 48 anos, é umbandista. E se surpreende quando é informado que estava colocando abaixo o local onde a sua religião foi criada: — Cheguei a me arrepiar http://extra.globo.com/noticias/religiao-e-fe/casa-onde-nasceu-umbanda-em-sao -goncalo-comeca-ser-demolida-2722887.html

Intolerância Religiosa ou Não?

33


SANTO DO DO MÊS SANTO MÊS Nossa Senhora de Aparecida, A Mãe Padroeira do Brasil

Convocado pela Câmara de Guaratinguetá, os pescadores Domingos Garcia, Filipe Pedroso e João Alves saíram a procura de peixes no Rio Paraíba. Desceram o rio e nada conseguiram. Depois de muitas tentativas sem sucesso, chegaram ao Porto Itaguaçu. João Alves lançou a rede nas águas e apanhou o corpo de uma imagem de Nossa Senhora da Conceição sem a cabeça. Lançou novamente a rede e apanhou a cabeça da mesma imagem. Daí em diante os peixes chegaram em abundância para os três humildes pescadores. Durante 15 anos seguidos, a imagem ficou com a família de Felipe Pedroso, que a levou para casa, onde as pessoas da vizinhança se reuniam para rezar. A devoção foi crescendo no meio do povo e muitas graças foram alcançadas por aqueles que rezavam diante a imagem. A fama dos poderes extraordinários de Nossa Senhora foi se espalhando pelas regiões do Brasil. A família construiu um oratório, que logo tornou-se pequeno. Por volta de 1734, o Vigário de Guaratinguetá construiu uma Capela no alto do Morro dos Coqueiros, aberta à visitação pública em 26 de julho de 1745. Mas o número de fiéis aumentava, e, em 1834 foi iniciada a construção de uma igreja maior (atual Basílica Velha). No ano de 1894, chegou a Aparecida um grupo de padres e irmãos da Congregação dos Missionários Redentoristas, para trabalhar no atendimento aos romeiros que acorriam aos pés da Virgem Maria para rezar com a Senhora "Aparecida" das águas.

A Falando de Axé esse mês, através da coluna Santo do Mês, homenageia Nossa Senhora da Conceição Aparecida, a Santa Padroeira do nosso Brasil, sincretizada com a Orixá Oxum em alguns Templos de Umbanda, é a protetora das A 8 de setembro de 1904, a Imagem de Crianças e também padroeira de todos Nossa Senhora da Conceição Aparecida foi coos Ciganos Brasileiros. roada, solenemente, por D. José Camargo A história de Nossa Senhora da Concei- Barros. No dia 29 de Abril de 1908, a igreja ção Aparecida tem seu início pelos meados de recebeu o título de Basílica Menor. 1717, quando chegou a notícia de que o Conde de Assumar, D.Pedro de Almeida e Portugal , Governador da Província de São Paulo e Minas Gerais, iria passar pela Vila de Guaratinguetá, a caminho de Vila Rica, hoje cidade de Ouro Preto - MG.

34

Vinte anos depois, a 17 de dezembro de 1928, a vila que se formara ao redor da igreja no alto do Morro dos Coqueiros tornou-se Município. E, em 1929, nossa Senhora foi proclamada:


RAINHA DO BRASIL E SUA PADROEIRA magem. OFICIAL, por determinação do Papa Pio XI. Numa noite, durante a reza do terço, as Com o passar do tempo, a devoção a velas apagaram-se repentinamente e sem moNossa Senhora da Conceição Aparecida foi tivo, pois não ventava na ocasião. Houve escrescendo e o número de romeiros foi aumen- panto entre os devotos e, quando Silvana da tando cada vez mais. A primeira Basílica tor- Rocha procurou acendê-las novamente, elas nou-se pequena. se acenderam por si, prodigiosamente. Era necessário a construção de outro templo, bem maior, que pudesse acomodar tantos romeiros. Por iniciativa dos missionários Redentoristas e dos Senhores Bispos, teve início em 11 de Novembro de 1955 a construção de uma outra igreja, atual Basílica Nova.

Significativo também é o prodígio das correntes que se soltaram das mãos de um escravo, quando este implorava a proteção da Senhora Aparecida. Existem muitas versões orais sobre o fato. Algumas são ricas em pormenores. O primeiro a mencioná-lo por escrito foi o Padre Claro Francisco de Vasconcelos, Em 1980, ainda em construção, foi con- em 1828. sagrada pelo Papa João Paulo ll e recebeu o título de Basílica Menor. Em 1984, a ConferênA Pesca Milagrosa cia Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) declarou oficialmente a Basílica de Aparecida: Santuário Nacional; "maior Santuário Mariano do mundo". O Padre Francisco da Silveira, que escreveu a crônica de uma Missão realizada em Aparecida em 1748, qualificou a imagem da Virgem Aparecida como ―famosa pelos muitos milagres realizados‖. E acrescentava que numerosos eram os peregrinos que vinham de longas distâncias para agradecer os favores recebidos. Mencionamos aqui três grandes A Câmara Administrativa de Guaratinprodígios ocorridos por intercessão de Nossa guetá decidiu e pronto. A época não era favoSenhora Aparecida. rável à pescaria, mas os pescadores que se virassem. O Conde tinha que provar do peixe O primeiro prodígio, sem dúvida algu- do rio Paraíba. ma, foi a pesca abundante que se seguiu ao encontro da imagem. Não há outras referênE a convocação foi lida em toda a recias sobre o fato a não ser aquela da narrativa dondeza. João Alves, Domingos Garcia e Felido achado da imagem: ―E, continuando a pes- pe Pedroso, moradores de Itaguaçu, pegaram caria, não tendo até então pego peixe algum, seus barcos, suas redes e se lançaram na difídali por diante foi tão abundante a pesca, que cil tarefa. Remaram a noite toda sem nada receosos de naufragarem pelo muito peixe pescar. que tinham nas canoas, os pescadores se retiraram as suas casas, admirados com o que No Porto de Itaguaçu, lançaram mais ocorrera.‖ uma vez as redes. João Alves sentiu que a sua rede pesava. Serão peixes? Puxou-a. Não. Não Entretanto, o mais simbólico e rico de eram peixes. Era o corpo de uma imagem. significativo, sem dúvida, foi o milagre das ve- Mas e a cabeça, onde estava? Guardou o alas pela sua íntima relação com a fé. Aconte- chado no fundo do barco. Continuaram tenceu no primitivo oratório do Itaguaçu, quando tando achar peixes. o povo se encontrava em oração diante da i-

35


De repente, na rede do mesmo pescador, uma cabeça enegrecida de imagem. João Alves pegou o corpo do fundo do barco e aproximou-o da cabeça. Justinhos. Aquilo só podia ser milagre. Benzeram-se e enrolaram os pedaços num pano. Continuaram a pescaria. Agora os peixes sabiam direitinho o endereço de suas redes. E foram tantos que temeram pela fragilidade dos barcos...

Eles chegam de ônibus, de carro, de trem (em tempo passado), de moto, de bicicleta, a cavalo e a pé. São pobres e ricos; são cultos e ignorantes; são homens públicos e cidadãos comuns. Aqui estiveram o Papa, príncipes, princesas, presidentes, poetas, padres, bispos, prioras, patrões e empregados. Vieram os pescadores.

Muitos cumprem um ritual que começou O milagre das velas com seus avós e persiste até hoje. Outros vêm pela primeira vez. Ficam perplexos diante do Depois que chegaram da pescaria onde tamanho do Santuário e de sua beleza. A Imaencontraram a Senhora, Felipe Pedroso levou gem os extasia. a imagem para sua casa conservando-a durante 5 anos. A fé traz o romeiro a Aparecida leva-o a comportamentos de pincéis famosos, câmaras Quando de sua mudança para o bairro e versos imortais. Olhos que buscam, vascuda Ponte Alta deu a imagem a seu filho Atha- lham ou se fecham para ler as mensagens senásio Pedroso que morava no Porto de Itagua- cretas que trazem na alma. Lábios que balbuçu bem perto de onde seu pai Felipe Pedroso, ciam ave-marias, atropeladas pela pressa das João Alves e Domingos Garcia haviam encon- muitas intenções. trado a imagem. Mãos que seguram as contas do rosáAthanásio fez um altar de madeira e rio, a vela, o retrato, as flores, o chapéu. Joecolocou a Imagem Milagrosa da Senhora Apa- lho que se dobram e se arrastam, em atitude recida. Aos sábados seus vizinhos se reuniam de total despojamento. Pés cansados pela propara rezar um terço em sua devoção. Em cer- cura de suas certezas. Coração nas mãos em ta ocasião, ao rezar o terço, 2 velas se apaga- forma de oferenda. Na alma, profundo senso ram no altar de Nossa Senhora, o que era do sagrado. muito estranho, pois aquela noite estava muito calma e não havia motivo para o aconteciO chão que pisam, a porta que transmento. põem, as pessoas que aqui residem, tudo tem para eles significado transcendente. Este é o Silvana da Rocha, que no dia acompa- romeiro de Nossa Senhora Aparecida. Alma nhava o terço, quiz acender as velas, porém, pura, simples, do devoto que acredita, que se as mesmas se acenderam sem que ninguém entrega à proteção dos céus, sem dúvidas ou as tocasse, como um perfeito milagre. Desta restrições. data em diante a Imagem Milagrosa de Nossa Senhora Aparecida deixou de pertencer à família de Felipe Pedroso para ficar pertencendo a todos nós, devotos da Santa Milagrosa. Romeiros de Nossa Senhora Aparecida Dos milhões de romeiros que visitam o Santuário Nacional de Aparecida, muitos são portadores de angústia, outros tantos, da esperança. Esperança de cura, de emprego, de melhores dias, de paz. 36

Por Pe. Antonio Queiroz dos Santos, C.Ss.R. Fonte: http:// www.santuarionacional.com


Oração à Nossa Senhora de Aparecida, A Padroeira do Brasil (12 de outubro)

Ó incomparável Senhora da Conceição Aparecida. Mãe de meu Deus, Rainha dos Anjos, Advogada dos pecadores, Refúgio e Consolação dos aflitos e atribulados, ó Virgem Santíssima; cheia de poder e bondade, lançai sobre nós um olhar favorável, para que sejamos socorridos em todas as necessidades. Lembrai-vos, clementíssima Mãe Aparecida, que não se consta que de todos os que têm a vós recorrido, invocado vosso santíssimo nome e implorado vossa singular proteção, fosse por vós algum abandonado. Animado com esta confiança a vós recorro: tomo-vos de hoje para sempre por minha mãe, minha protetora, minha consolação e guia, minha esperança e minha luz na hora da morte. Assim pois, Senhora, livrai-me de tudo o que possa ofender-vos e a vosso Filho meu Redentor e Senhor Jesus Cristo. Virgem bendita, preservai este vosso indigno servo, esta casa e seus habitantes, da peste, fome, guerra, raios, tempestades e outros perigos e males que nos possam flagelar. Soberana Senhora, dignai-vos dirigirnos em todos os negócios espirituais e temporais; livrai-nos da tentação do demônio, para que, trilhando o caminho da virtude, pelos merecimentos da vossa puríssima Virgindade e do preciosíssimo Sangue de vosso Filho, vos possamos ver, amar e gozar na eterna glória, por todos os séculos dos séculos. Amém. 37


PERSONALINADES NEGRAS Lima Barreto Afonso Henriques de Lima Barreto era mestiço, filho de um tipógrafo e de uma professora, que morreu quando ele tinha apenas sete anos. Estudou no Colégio Pedro 2o e depois cursou engenharia na Escola Politécnica. Ainda estudante, começou a publicar seus textos em pequenos jornais e revistas estudantis. Com o agravamento do estado de saúde de seu pai, que sofria de problemas mentais, abandonou a faculdade e passou a trabalhar na Secretaria de Guerra, ocupando um cargo burocrático. Grande cronista de costumes do Rio de Janeiro, Lima Barreto passou a colaborar para diversas revistas literárias como "Careta", "Fon-Fon" e "O Malho". Seu primeiro romance, "Recordações do Escrivão Isaías Caminha", foi parcialmente publicado em 1907, na Revista Floreal, que ele mesmo havia fundado. Dois anos depois, o romance foi editado pela Livraria Clássica Editora. Em 1911, Lima Barreto publicou um de seus melhores romances, "Triste Fim de Policarpo Quaresma", e em 1915, a sátira política "Numa e a Ninfa". Lima Barreto militou na imprensa, durante este período, lutando contra as injustiças sociais e os preconceitos de raça, de que ele próprio era vítima. Em 1914 passou dois meses internado no Hospício Nacional, para tratamento do alcoolismo. Neste mesmo ano foi aposentado do serviço público por um decreto presidencial. Em 1919 o escritor foi internado novamente num sanatório. As experiências deste período foram narradas pelo próprio Lima Barreto no livro "Cemitério dos Vivos". Nesse mesmo ano publicou a sátira "Vida e Morte de M. J. Gonzaga de Sá", inspirada no Barão do Rio Branco, e ambientada no Rio de Janeiro. 38


Lima Barreto candidatou-se em duas ocasiões à Academia Brasileira de Letras. Não obteve a vaga, mas chegou a receber uma menção honrosa. Em 1922 o estado de saúde de Lima Barreto deteriorou-se rapidamente, culminando com um ataque cardíaco. O escritor morreu aos 41 anos, deixando uma obra de dezessete volumes, entre contos, crônicas e ensaios, além de crítica literária, memórias e uma vasta correspondência. Grande parte de seus escritos foi publicada postumamente.

39


Altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, modificada pela Lei . 10.639, de 9 de janeiro de 2003, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura AfroBrasileira e Indígena”.

Livro do Mês Dr. Wande Àbímbolá é Phd e ocupa a posição de Àwíse Awo Àgbàyé of Ilé Ifè – Òsun state/Nigéria ("porta-voz e embaixador do Ifá e da cultura Yorubá no mundo"), um Olóyè Ifá de Ilé Ifè. Dr Àbímbolá é conselheiro especial do presidente da República da Nigéria sobre assuntos culturais e questões tradicionais.

Ifá Divination Poetry

Profº Dr. Wande Àbímbolá 40

Sabemos da importância de uma orientação, para uma melhor compreensão dos poemas de Ifá. É através dos Versos que sabemos o que deve e o que não se deve ser feito e dito. Portanto, saber interpretar é fundamental. E é este o objetivo de Wande Àbímbolá neste livro: ensinar a interpretar os versos de Ifá. Boa Leitura. Wúre fún à.


A Revista Falando de Axé está fazendo uma promoção de divulgação, faça suas divulgações na Revista, nos próximos meses: Outubro, Novembro e Dezembro, GRATUITAMENTE!!! É só entrar em contato conosco, mandando sua divulgação pelo e-mail: falandodeaxe@live.com Ou nos contatando pelos telefones: 41 8469-1985 (OI) – 41 9805-9770(TIM), Hérick Lechinski. Aguardamos seu contato...

41


Contatos Revista E-mail: falandodeaxé@live.com Orkut: Revista Online — Falando de Axé http://www.orkut.com.br/Main#Profile?uid=10758619178602102938

Editor: Hérick Lechinski (Ejòtolà T’Òsùmàrè)

E-mail: ejotola@hotmail.com Orkut: Awòrìsà Ejòtolà http://www.orkut.com.br/Main#Profile?rl=fpp&uid=1113546347591436131 Facebook: Hérick Lechinski (Awòrìsà Ejòtolà) http://www.facebook.com/profile.php?id=100002002470785 MSN: ejotola@hotmail.com Fone: 041 8469-1985 ou 041 9805-9770

Co-Editor: Wemerson Elias T’Sàngó E-mail: wemerson@awure.com.br Orkut: Wemerson T’Sàngó http://www.orkut.com.br/Main#Profile?uid=11341634315712989773 Facebook: Wemerson T’Sàngó http://www.facebook.com/profile.php?id=100002002470785#!/profile.php? id=1815319103 MSN: oba_sango@hotmail.com Fone: 034 9179-7335

Agradecimentos aos nossos Colaboradores. Qualquer sugestão, crítica ou reclamação, entre em contato conosco... Axé!!!

42


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.