Apresentação aline gomes qualificação final

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12/08/2013

Narrar a experiência e reescrever a prática: professoras alfabetizadoras em processo de formação continuada Orientanda: Aline Gomes da Silva Orientadora: Jacqueline de Fátima dos Santos Morais


MEMORIAL DE FORMAÇÃO Todo conhecimento é autoconhecimento (Boaventura Santos) •

Escrever meu memorial de formação (PRADO; SOLIGO, 2007) me permitiu perceber que as questões que me instigam a produzir esta investigação no mestrado, atravessaram meu percurso formativo;

A escrita em primeira pessoa tem possibilitado uma escrita mais autoral ao longo da dissertação tentando fugir de modelos hegemônicos de escrita acadêmica;

Compreensão de que a minha história não é uma história individual, mas singular e coletiva.

Narrar a minha história é preservá-la do esquecimento;

É uma possibilidade de vivenciar o lugar de escritora/narradora/personagem da minha própria história;

Ao resgatar a nossa história podemos reviver, refletir e ressignificar o vivido.


MEU PERCURSO DE FORMAÇÃO DOCENTE

Curso Normal (1999)

Grupo de Estudos e Pesquisa: Professoras Alfabetizadoras e Narradoras – GEPPAN (2008)

Curso de Pedagogia (2003)

Iniciação Científica o projeto Fórum de Alfabetização Leitura e Escrita (2007)

Magistério – Itaboraí e São Gonçalo Mestrado em Educação na Faculdade (2011) de Formação de Professores/UERJ (2012).


Grupo de Estudos e Pesquisa Professoras Alfabetizadoras e Narradoras (GEPPAN)


Contextualizando o GEPPAN... Como surge?

Pós-graduação: Alfabetização das crianças das classes populares (UFF)

Onde acontece?

UNIRIO

Quem participa?

ISERJ


Como surgiu? O GEPPAN surgiu fruto da nossa necessidade de estar terminando um grupo de pósgraduação que é uma coisa que o pessoal busca para se aprofundar e discutir mesmo. (...) Nós havíamos buscado o curso de pós porque a gente queria poder conversar com alguém sobre aquilo que a gente fazia na escola. E como a pós estava acabando surgiu a ideia do GEPPAN e a Carmen e a Jacqueline aceitam o nosso convite para dinamizar esse grupo. O GEPPAN na verdade é esse espaço que nós fomos construindo, a gente se juntou e foi vendo qual era a característica que ia ter. E nosso foco foi a narrativa das práticas do que estava acontecendo em sala de aula. (KÁTIA FERREIRA, 19/04/2013) A ideia de criação do grupo de pesquisa surgiu na aula da Carmen, porque ela traz as questões de alfabetização bem fortes que vai tocando mesmo nas pessoas. Foi quando foi feita a proposta, mas foi feita a proposta da turma de continuidade de discussão e estudo. Foi quando surgiu o GEPPAN. A Carmen também vê ali um modo de ter uma continuidade também, de estar conversando e a gente de continuar estudando trabalhando em uma perspectiva de estudo e pesquisa. (ANA PAULA VENÂNCIO, 26/03/2013).

A criação do grupo era para discutir essas crianças que embora não tenham nenhum comprometimento não conseguem aprender a ler e escrever. O que é que eu faço e que dá muito certo com tantas crianças e por que ainda têm algumas que a gente não consegue alfabetizar? (...) Esse grupo foi constituído por professoras alfabetizadoras que queriam ter um espaço para falar e partilhar as suas práticas e estudar textos múltiplos e variados para tentar ir refletindo sobre suas práticas. Os textos iam ser a lente para a gente ver melhor a prática. (DINA PINHO, 28/03/2013)


QUESTÕES DE PESQUISA

professoras

Que interações (Vygotsky,1984) e

alfabetizadoras do GEPPAN

interlocuções (Bakhtin, 2003) são

O

que

as

narram sobre sua própria prática no grupo?

Quais acontecimentos vividos no

GEPPAN

se

constituem

como experiências formativas para essas professoras?

produzidas pelas professoras ao narrarem

suas

práticas

encontros do GEPPAN?

nos


SUJEITOS DA PESQUISA


OBJETIVOS

Investigar quais acontecimentos vividos

Investigar, a partir das narrativas

no Grupo de Estudos e Pesquisa

docentes,

Professoras Alfabetizadoras Narradoras

participação neste grupo de formação

(GEPPAN)

como

continuada implica na construção de

experiências (Larrosa, 2005) formativas

práticas alfabetizadoras centradas na

para essas professoras;

palavramundo (FREIRE, 1992).

se

constituem

em

que

medida

a


AUTORES COM OS QUAIS DIALOGO •

Paulo Freire, Jacqueline Morais, Mairce Araújo e Carmen Sanches Sampaio, para

refletir acerca das concepções de alfabetização, leitura e escrita; • Miguel Arroyo, Bernadete Gatti e Elba Barreto para complexificar as concepções de formação de professores; • Walter Benjamin, Célia Linhares, Inês Bragança e Jorge Larrosa, para discutir os conceitos de experiência, narrativa e memória;

Regina Leite Garcia, Nilda Alves, Carlos Skliar e Michel de Certeau para

problematizar a construção de conhecimentos no cotidiano escolar e a conversa como metodologia.


METODOLOGIA DE PESQUISA •

Pesquisa com abordagem qualitativa;

Investigação narrativa;

Entendemos que la narrativa es tanto el fenómeno que se investiga como el método de la investigación [grifo dos autores]. ‘Narrativa’ es el nombre de esa cualidad que estructura la experiencia que va a ser estudiada, y es también el nombre de los patrones de investigación que van a ser utilizados para su estudio. (CONNELLY; CLANDININ, 2008, p. 12). (...) quem narra e reflete sobre sua trajetória abre possibilidades de teorização de sua própria experiência e amplia sua formação através da investigação/formação de si. Por outro lado, o pesquisador que trabalha com narrativas interroga-se sobre suas trajetórias e seu percurso de desenvolvimento pessoal e profissional, mediante a escuta e a leitura da narrativa do outro. (SOUZA, 2004, p.168). • Conversa como possibilidade de narrar e compartilhar o vivido Necessitamos de uma linguagem para a conversa. Não para o debate ou para a discussão, ou para o diálogo, mas para a conversa. Não para participar legitimamente nessas enormes redes de comunicação e intercâmbio cuja linguagem não pode ser a nossa, mas para ver até que ponto ainda somos capazes de falar-nos, de compartilhar o que pensamos ou o que nos faz pensar, de elaborar com outros o sentido ou o sem sentido do que nos acontece, de tratar de dizer o que ainda não sabemos dizer e de tratar de escutar o que ainda não compreendemos.(LARROSA, 2005 apud SKLIAR, 2011, p.29). • Registro em áudio, vídeo e fotografia; Transcrições das conversas; Transcrições dos encontros do GEPPAN (2012/2013) e Investigação das narrativas.


Ao assumir a conversa como metodologia... Contraponho a determinadas concepções de entrevista que: •

Separa os papéis dos sujeitos: o que responde (entrevistado) e o que pergunta e interpreta (entrevistador);

Crê na imparcialidade e neutralidade do entrevistador para não influenciar na resposta do entrevistado;

Concebe o entrevistador como detentor do controle sobre o roteiro de perguntas (inteligentes e eficazes) que devem conduzir o entrevistado, rumo “a” verdade;

Pretende ter controle sobre as expressões corporais evitando os gestos de aprovação, rejeição, desconfiança, dúvida, entre outros;

Pressupõe tempo e lugar propício como forma de garantir a legitimidade da coleta dos dados...


Investir na conversa como metodologia possibilita: •

Tentativa de construir uma relação mais horizontal entre os sujeitos;

Os sujeitos envolvidos interagirem produzindo diálogo onde todos possam levantar questões, provocações, discordâncias e reflexões;

Os sujeitos tecem juntos os caminhos por onde a conversa segue, sem se limitar a questões pré-estabelecidas;

As respostas não terminam em um ponto, mas em reticências;

Aproveitar ocasiões;

Embora não haja questões fechadas, há sempre um interesse sobre o que o outro tem a dizer;

Reconhecer a possibilidade de construir conhecimentos de modo compartilhado...


CONVERSAS DA PESQUISA CONVERSANDO COM PROFESSORAS ALFABETIZADORAS MATERIAL PRODUZIDO Gravação com 95 min. de conversa TRANSCRITA

DESCRIÇÃO Conversando com: Ana Paula de Souza Venâncio Pereira Renata Alves da Silva Martins Data: 26/03/2013 Local: Instituto Superior de Educação do Rio de Janeiro/ ISERJ

Gravação com 131 min. de conversa TRANSCRITA

Conversando com: Flávia Ferreira de Castilho Data: 27/03/2013 Local: Residência de Flávia

Gravação com 95 min. de conversa TRANSCRITA

Conversando com: Dina Maria Vieira Pinho Data: 28/03/2013 Local: Universidade do Estado do Rio de Janeiro /UERJ

Gravação com 84 min. de conversa PARTE 1

Conversando com: Denise Lima Tardan Data: 06/04/2013 Local: Instituto Superior de Educação do Rio de Janeiro /ISERJ

Gravação com 81 min. de conversa TRANSCRITA

Conversando com: Elaine Matias Data: 08/04/2013 Local: Livraria/ UERJ

Gravação com 65 min. de conversa PARTE 2

Conversando com: Denise Lima Tardan Data: 12/04/2013 Local: Livraria/ UERJ

Gravação com 16 min. de conversa PARTE 1 TRANSCRITA

Conversando com: Kátia Ferreira Moreira Data: 26/04/2013 Local: Faculdade de Formação de Professores/ UERJ

OBS: As transcrições necessitam de uma revisão ortográfica e gramatical antes de ser enviada aos sujeitos da pesquisa.


SOBRE O PERTENCIMENTO A UM COLETIVO DOCENTE Você precisa de um espaço que te possibilite falar da sua prática, porque quando você fala da sua prática e escuta a prática do seu amigo, são professores atuando e aquilo dilui sua preocupação. (FLÁVIA CASTILHO, 27/03/13) Eu fico pensando assim: eu pertenço ao grupo porque eu acho que é extremamente importante para mim... Estar sempre me fortalecendo; sempre em contato com outras ideias de outras pessoas, isso vai me constituindo, eu vou trocando, vou aprendendo e vou ensinando nesses grupos e vou transformando coisas dentro de mim a partir dessas vivências e permanências. Esses grupos são importantes para mim porque me fortalecem, e hoje eu falo mais... Eu vi que eu fazia coisas, mas eu não sabia porquê eu fazia. Hoje eu consigo defender porque eu faço certas coisas e o porque não faço outras. (RENATA ALVES, 26/03/2013). Dentro da escola você vive algo assim: você apaga fogo, você se desespera, você chora, você se solidariza com a colega que esta passando por questões com alunos, ou seja, por questões pessoais que acabam afetando o trabalho da escola. As próprias políticas que vem de modo vertical, atrapalham o trabalho chateando o trabalho da professora. O GEPPAN é um lugar em que você encontra pessoas que pensam como você e outras que pensam coisas que você nunca pensou e isso vai te constituindo. (KÁTIA FERREIRA, 19/04/2013)


O GEPPAN é um grupo grande, um grupo maior, que já está mais constituído e a gente também já construiu ali essa coisa do vínculo. (...)Talvez eu esconda muitas coisas, mas para expor coisas muito íntimas é preciso que se tenha um laço de confiança para confiar num grupo grande. Para mim, o vínculo de confiança que existe nesses grupos é talvez – eu boto no campo do “talvez” porque é tudo muito complexo – talvez seja algo que também cria liga para as pessoas pertencerem a um grupo, entre outros sentimentos, entre gostar de estar ali naquele momento, mil outras coisas; mas, principalmente confiar. (ANA PAULA VENÂNCIO, 26/03/2013)). O GEPPAN para mim é a continuação da pós-graduação. Pelo menos no meu movimento de estudo. Quando eu te falei que ir para lá, para mim, era estar com os meus, era ver que eu não estava sozinha nesta luta. Então esse é o meu motivo forte para estar no grupo. (...) E isso é tudo para uma professora que quer ser pesquisadora. Eu acho que sozinha não dá. Não digo que seja impossível porque eu acho que deve ter até alguém que faz, eu não sei, mas para mim é. (DENISE TARDAN, 06/04/2013).

A gente acredita na aprendizagem com o outro, na discussão com outro e nos encontros e na hora de eu fazer e pensar a minha prática eu vou fazer de forma solitária, por quê? (DINA PINHO, 28/03/2013).


ALGUMAS LIÇÕES APRENDIDAS NA PESQUISA...

• Importância do diálogo entre universidade e a escola básica; • Os coletivos docentes como lócus de autoformação e de formação compartilhada; • A assunção da professora como pesquisadora da própria prática; • Escola como lugar de acontecimentos, experiências, narrativas e de formação; •

Os movimentos instituintes como possibilidade ações contra-hegemônicas de formação;

• Os coletivos docentes como possibilidade de encontro entre pares e o fortalecimento de concepções e práticas alfabetizadoras; • Compartilhar experiências com os outros implica criar vínculos de confiança;


REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA ALVES, Nilda. Decifrando o pergaminho: o cotidiano das escolas nas lógicas das redes cotidianas. In: ALVES, N. e OLIVEIRA, I.B. Pesquisa no/do cotidiano das escolas: sobre redes de saberes. Rio de Janeiro: DP&A, 2001. BENJAMIN, Walter. Obras Escolhidas I – magia e técnica, arte e política. São Paulo: Brasiliense, 1996. BRAGANÇA, Inês Ferreira de Souza. Histórias de vida e formação de professores: diálogos entre Brasil e Portugal. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2012. CERTEAU, Michel. A Invenção do Cotidiano. 13ª ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2007. CONNELLY, Michael ; CLANDININ, Jean. Narrativa y investigación educativa. In: LARROSA, J. (org.). Déjame que te cuente: ensayos sobre narrativa y educación. Buenos Aires: Laertes, 2008. FERRAÇO, Carlos Eduardo. Eu, caçador de mim. In: GARCIA, R. L. (org.). Método: pesquisa com o cotidiano. Rio de Janeiro: DP&A, 2003. FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. São Paulo, Cortez, 2003. GARCIA, Regina Leite ; ALVES, Nilda. Sobre formação de professores e professoras: questões curriculares. In: LIBÂNEO, J. C; ALVES, N. Temas de Pedagogia: diálogos entre didática e currículo. São Paulo: Cortez, 2012. GATTI, Bernardete; BARRETTO, Elba Siqueira de Sá. Professores no Brasil: impasses e desafios. Brasília: Unesco, 2009. LARROSA, Jorge. Pedagogia profana, dança, pirueta e mascaradas. Belo Horizonte: Autêntica , 2005.


LINHARES, Célia. Experiências instituintes. Disponível em: <www//aleph.org.br> Acessado em: 04 de maio 2013. MORAIS, Jacqueline de Fátima dos Santos. Percursos de uma experiência de Formação continuada: narrativas e acontecimentos. 2006. 310 p. Tese (Doutorado em Educação). Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2006. PRADO, Guilherme do Val Toledo; SOLIGO, Rosaura. Porque escrever é fazer história – Revelações, Subversões, Superações. São Paulo: Editora Alínea, 2007 SAMPAIO, Carmen Sanches. Alfabetização e Formação de Professores: Aprendi a ler (...) quando eu misturei todas aquelas letras ali... Rio de Janeiro: WAK, 2008. SKLIAR, Carlos. Conversar e Conviver com os Desconhecidos. IN: FONTOURA, Helena Amaral da (org). Políticas Públicas, Movimentos Sociais: desafios à Pós-graduação em Educação em suas múltiplas dimensões. Rio de Janeiro: ANPEd Nacional, p. 27-37, 2011. SOUZA, Elizeu Clementino. O conhecimento de si: narrativas do itinerário escolar e formação de professores. 2004. 442 p. Tese (Doutorado em Educação). Nome da Instituição, cidade, 2004. VYGOTSKY, Lev. A formação Social da Mente. São Paulo: Martins Fontes, 1984.


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