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Sascha Schneider

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Eberson Theodoro

Eberson Theodoro

por Filipe Chagas

Rudolph Karl Alexander Schneider, comumente conhecido como Sascha Schneider (1870-1927), foi um artista gráfico, gravurista, pintor e escultor. Alguns estudiosos o colocam como um dos primeiros artistas assumidamente homossexuais* da História, tendo utilizado uma sensualidade onírica e a fisicalidade masculina dentro da poética simbolista.

* Schneider se considerava um “estranho social”.

Autorretrato, grafite e carvão, 1927.

Schneider nasceu em São Petersburgo, na Rússia, em 1870. Durante sua infância, sua família se mudou para Zurique, mas após a morte de seu pai, foram para Blasewitz, um bairro de Dresden. O talento artístico de Sascha já era evidente durante os seus anos de escola. Um professor notou o grande talento do rapaz e preparou seu caminho para frequentar a Academia de Belas Artes de Dresden depois do ensino médio.

Anarquista, 1894. (detalhe)

Nu de costas

grafite, 1895.

O jovem e esperançoso artista mudou-se para um ateliê em 1889 e participou de suas primeiras exposições, inclusive em Berlim, com gravuras alegóricas, literárias e bíblicas. O pintor e artista gráfico Max Klinger tornou-se um importante amigo e apoiador, ajudando Schneider a estabelecer seu nome na cena artística alemã.

Coral masculino

xilogravura de 1895.

Os gênios da história.

xilogravura de 1895.

Mammon e seu escravo

xilogravura de 1895.

Está terminado.

xilogravura de 1895.

Em 1903, ele conheceu Karl May, um dos mais famosos romancistas alemães da época, que havia ficado impressionado com as gravuras do artista em uma exposição. May o contratou para criar capas de livros para seus romances populares e histórias de viagens, levando a obra de Schneider a um vasto público. A parceria criativa única que os dois formaram permitiu que Schneider interpretasse os romances de May como uma obra de arte completa e, assim, sua produção dificilmente tinha qualquer relação com o conteúdo das histórias. O editor dos livros ficou descontente com a natureza ambivalente das imagens e as substituiu em edições posteriores. Schneider fez também um enorme mural para a residência do escritor. Aliás, ao longo de sua carreira, concebeu vários murais, como na Villa Florentine Colombaia, no hall de entrada do Teatro Estatal em Weimar e na Casa de Comércio de Livros (Buchgewerbehaus) em Leipzig.

capa do livro Am Rio de la Plata (1903).

Caim e Abel (Fraticídio)

Ilustração para outras edições do livro Winnetou, 1904.

O anjo de Deus lamenta sobre os campos de combate

Ilustração para outras edições do livro Winnetou, 1904.

Foto de Karl May e Sascha Schneider em 1904.

Hipnose

gravura de 1904.

Cena do filme O Farol (2019), inspirada na obra de Schneider.

Klinger indicou Schneider para ser professor na Escola de Arte Grão-Ducal Saxônica (Großherzoglich-Sächsische Kunstschule) de Weimar a partir de 1904 – vaga recusada por Gustav Klimt. Durante este período, o artista morou com o pintor Hellmuth Jahn, que começou a chantageá-lo*, ameaçando expor sua homossexualidade, punível pelo código penal alemão. Em 1908, Schneider se sentiu forçado ao exílio e, entre uma viagem pelo Cáucaso com o pintor Robert Spies e seis meses de residência em Leipzig, fugiu para a Itália – onde a homossexualidade não era criminalizada na época. Fixou-se em Florença até 1914 e só retornou à Alemanha por ocasião da Primeira Guerra Mundial.

* Schneider chegou a pagar uma viagem para o Egito na intenção de terminar com a chantagem de Jahn. Porém, em 1909, Jahn decide encontrar Schneider em Florença para pedir mais dinheiro e ainda pagar a conta de seu hotel. O pintor Daniel Stepanoff, amigo de Schneider, mandou prendê-lo e Jahn teve de deixar a Itália pouco depois.

Sátiro nu

estudo em grafite e carvão, 1906.

Tomando como referência a Antiguidade greco-romana, teve maior liberdade para colocar seus desejos em suas criações pictóricas e escultóricas, fosse em representações de nus masculinos atléticos ou em figuras mais delicadas, que incorporavam o espírito simbolista da época. Por vezes provido de asas, o corpo nu do homem – que, para ele, era o arquétipo da beleza em si – simbolizava sua esperança de libertação social da opressão que acabou ecoando outros grupos marginalizados, como dissidentes políticos e artistas de vanguarda.

Ícaro

óleo sobre tela, 1906.

Noite de lua

óleo sobre tela, 1906.

O sentimento de dependência

óleo sobre tela, 1920.

O sentimento de dependência

xilogravura de 1895.

Judas

óleo sobre tela, 1923.

Judas

xilogravura de 1896.

Vencedor

grafite em pergaminho, 1913

Chamado de Guerra

carvão, 1915.

Guerreiro com duas espadas

óleo sobre tela, 1915.

Atleta em posição básica

giz em papel entelado, 1907.

Como escultor, Schneider não queria se limitar ao barro e ao bronze. Ele queria moldar o próprio corpo humano por meio de treinamento de força e musculação. Então, em 1919, ele convenceu o proprietário de uma loja de departamentos de Dresden a deixá-lo ficar com o último andar para fundar o Kraft-Kunst Institut (literalmente, Instituto de Arte da Força), que era basicamente um ateliê com esculturas e pinturas de Schneider combinado a um estúdio de musculação com equipamentos de ginástica e espelhos. Os fisiculturistas frequentadores tornaramse seus modelos. A criação do instituto correspondeu ao surgimento de uma nova abordagem do corpo humano e novas interpretações da beleza física. Chegou a organizar apresentações de “corpos ideais” no Dresden Albert Theatre, que incluía coreografias com títulos como “Antigas Lutas Livres” e “Exercícios e Jogos da Antiga Cultura Física”, mostrando o quanto seguia inspirado pela imagética clássica.

Estudo nu

grafite e lápis branco, 1925.

Postal de divulgação do Kraft-Kunst Institut

Ganhando força

(óleo sobre tela, 1904) Apresenta um homem barbudo – cujo rosto e pose provavelmente foram desenhados a partir de antigas esculturas babilônicas em relevo escavadas pelos alemães no final do século 19 e transferidas para a Alemanha – encorajando um jovem nu a ficar fortes e competir pela glória. A imagem teria sido vista como um exemplo do ideal clássico do ginásio e o paternalismo evocado era uma celebração da conquista masculina, sem qualquer controvérsia homoafetiva por conta da cultura do corpo livre no país.

Nu de costas com toalha

óleo sobre tela, 1920.

Juventude com manto azul

óleo sobre tela, 1921.

Mosaico para decoração do local da urna funerária de Georg Clages.

Schneider sofreu uma convulsão diabética durante uma viagem de navio nas proximidades de Swinemünde, em 1927, e veio a óbito. Foi enterrado no cemitério de Loschwitz, na Alemanha. Embora altamente bem-sucedido, ele nunca recebeu o devido reconhecimento do estabelecimento de arte (uma de suas esculturas foi rejeitada por “incitamento à fornicação antinatural”) por ser homossexual. Através dos esforços do colecionador alemão Hans-Gerd Röder, que ficou fascinado por Schneider e começou a comprar tudo que encontrava do artista, uma reputação esfarrapada na história da arte moderna foi restaurada. 8=D

Busto do túmulo de Schneider próximo à escultura que ele fez para o túmulo do pintor Oskar Zwintscher, em 1916.

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