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Falo de História: Patrick Angus

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Alejandro Zenha

Alejandro Zenha

por Filipe Chagas

Oartista realista californiano Patrick Morton Angus (1953-1992) era um menino tímido que queria ser artista, mas, sem orientação, não sabia como começar. Até que um gentil professor de arte do ensino médio o orientou e permitiu que ele usasse seu estúdio. No entanto, tinha algo mais: nascido em uma família religiosa e conservadora, Angus tinha medo de abordar sua angústia sexual.

Autorretrato
acrílica sobre tela, s.d.

Excelente desenhista, cresceu numa época em que a pintura figurativa era uma “maldição” para a elite artística que se encontrava na arte minimalista e conceitual. Em 1974, uma bolsa do Santa Barbara Art Institute o levou a conhecer outros artistas “realistas” e, assim, fortaleceu sua visão artística, especialmente, a partir da obra de David Hockney (1937-), artista que celebrava sua personalidade sexual e a “boa vida gay” em Los Angeles. No ano seguinte, então, Angus se mudou para Hollywood e descobriu que a tal “boa vida gay” era somente para os ricos e bonitos.

Excelente desenhista, cresceu numa época em que a pintura figurativa era uma “maldição” para a elite artística que se encontrava na arte minimalista e conceitual. Em 1974, uma bolsa do Santa Barbara Art Institute o levou a conhecer outros artistas “realistas” e, assim, fortaleceu sua visão artística, especialmente, a partir da obra de David Hockney (1937-), artista que celebrava sua personalidade sexual e a “boa vida gay” em Los Angeles. No ano seguinte, então, Angus se mudou para Hollywood e descobriu que a tal “boa vida gay” era somente para os ricos e bonitos.

Angus era descrito como um homem educado, tímido, de aparência agradável, estatura mediana, pele clara bem pálida com olhos escuros e gentis. Acreditando que não era sexualmente atraente, sentia-se desesperadamente solitário e carente. Fazia naturezas-mortas, cenários, retratos de amigos e pintava a cidade com a mesma sagacidade de Hockney, porém, ainda evitando temas abertamente gays.

Quando o foco pode ser desviado de sua baixa auto-estima, Patrick pode ser o mais encantador dos companheiros de conversa. Ninguém que eu conheci tinha um julgamento estético tão objetivo nem estava tão ansioso pelos insights estéticos dos outros... mas quando o assunto voltava ao seu trabalho, novamente a nuvem de autoaversão turvava e envenenava a conversa… Ele viu tudo tão claramente, exceto ele mesmo. – Robert Patrick
Desenhos em grafite e lápis de cor da década de 1980.
Sem título
aquarela sobre papel, c.1980.

Em 1980, visitou uma retrospectiva de Picasso no Museu de Arte Moderna de Nova York e declarou que “Picasso demonstrou que qualquer coisa [incluindo o orgasmo] pode ser retratada. Picasso é o realista máximo”. Trabalhando no museu durante o dia, primeiro como guarda e depois na loja de presentes, ele costumava passar as noites no Gaiety Theatre, no The Prince (dois famosos teatros gays na Times Square) e em outros locais gays, onde encontrou as cenas e os homens que fariam parte de sua obsessão pessoal pela solidão erótica. Três pinturas principais definem seu meio: Boys do fall in love (1984), que retrata um show de striptease; Flame Steaks (1985), que se passa em um bar agitado; e The Mysterious Baths (1985), que retrata uma sauna gay.

Autorretrato como Picasso
acrílica sobre tela, 1980.
Sem título
aquarela sobre papel, 1982.
Flame Steaks
acrílica sobre tela, 1985.

Com base nesses trabalhos, o dramaturgo Robert Patrick (1937-2023) descreveu Angus como o Toulouse-Lautrec da Times Square. Contudo, o mercado comercial de arte se fechou para ele. A elite gay burguesa desaprovava as suas representações da “má vida gay” politicamente incorreta, cheia de agitação e solidão. Todas as tentativas de expor o trabalho de Angus foram rejeitadas*.

  • Uma cena do documentário Resident Alien, de Jonathan Nossiter, mostra Robert Patrick arrastando um relutante Angus para mostrar suas pinturas a um negociante de arte do East Village, que recua horrorizado com o tema explicitamente homossexual.

The Mysterious Baths
acrílica sobre tela, 1985.
Vinto tinto vermelho: Uma cena no Gaiety
crayon sobre papel, c.1980 (detalhe).

Desesperado porque seu trabalho nunca seria aceito, Angus resignou-se à obscuridade e à pobreza. Encontrou um quarto em um hotel social de Nova York, onde poderia pintar, mas se recusou a arriscar mais humilhação ao tentar expor seu trabalho. Essa relutância levou Robert Patrick a apresentar o trabalho de Angus na revista Christopher Street, a mais elitizada publicação gay da década de 1980, colocando sua importante contribuição para o legado do realismo social americano, incorporado no trabalho de artistas como Thomas Eakins, Winslow Homer, Edward Hopper, Reginald Marsh e Paul Cadmus. Como resultado, o trabalho de Angus começou a vender.

Mais de vinte anos depois de Stonewall, os gays ainda têm poucas imagens honestas de si mesmos, e a maioria delas ocorre em nossa literatura. Os gays desejam ver a si mesmos em filmes, peças de teatro, televisão, pinturas, mas raramente o fazem. Obviamente, nós devemos nos retratar. Estas são minhas pinturas.
Meu coração faz bang bang bang
acrílica sobre tela, s.d.
Bandeira arco-íris na mesa de sinuca
crayon sobre papel, 1987.
Nu sentado com colcha de retalhos
acrílica sobre tela, 1989.
Nu perto da lareira
acrílica sobre tela, 1987.
É minha prerrogativa
acrílica sobre tela, 1988.
Retrato de Robert Stuart
acrílica sobre tela, 1990.
O sonhador
acrílica sobre tela, 1988.
Perco as forças
óleo e acrílica sobre tela, 1991.
Escravo do ritmo
acrílica sobre tela, 1986.

No início da década de 1990, Angus desmaiou e foi diagnosticado com AIDS. Ainda pobre e sem condições de pagar um médico (contava para os amigos que estava seguindo ordens médicas), não temia a morte, mas sim que seu trabalho fosse jogado fora. Ficou extremamente surpreso com a organização de três exposições individuais (uma na Universidade da Califórnia em Santa Bárbara e nas galerias Leslie-Lohman e Ganymede na cidade de Nova York) e com a venda de seis pinturas para David Hockney. Aos 38 anos, em seu leito de morte, quando seu amigo Douglas Blair Turnbaugh mostrou as provas de um livro com suas pinturas (Strip Show), sussurrou: “Este é o dia mais feliz da minha vida”.

Hot Numbers
acrílica sobre tela adquirida por David Hockney, 1989.
Dois dançarinos no vestiário nos bastidores do Teatro Gaiety
acrílica sobre tela, 1991.

Seu olhar incisivo registrava com empatia, compreensão e inteligência, a saudade e a solidão presente na cena marginal gay da década de 1980. Com pleno domínio de seu talento para o drama narrativo urbano, Angus dedicou-se a documentar bares, banheiros, burlescos, espaços onde homens gays se reuniam para se divertir, sem julgamento ou sentimentalismo – mesmo que muitos preferissem não serem vistos – em composições “deliberadamente desavergonhadas”, como disse o escritor inglês Quentin Crisp (1908-1999). Entretanto, o artista defendia que não pintava sexo, mesmo quando mostrava sexo: o destaque era a intimidade, a troca humana, o compartilhamento do desejo, do prazer, através do olhar, do gesto ou do segredo. Embora o mercado ainda negligencie o retrato da vida gay e mantenha sua obra desconhecida, Angus elevou as experiências coletivas gays ao status de arte. 8=D

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