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Falo com Você

O adulto LGBTQIAPN+ e a criança “des”viada

Aceitar que a infância e adolescência foram da forma que foram e que não há o que mudar daquela época é um desafio complexo. Mas ficar preso na ideia de um passado que poderia ter sido diferente, ou de pais que poderiam ter agido de outra forma, por exemplo, arrasta um sofrimento que paralisa o sujeito na relação consigo mesmo e com o outro no tempo atual. Sabe-se que a infância e a adolescência LGBTQIAPN+ é um período em que muitas pessoas acabam não experimentado a possibilidade de serem elas mesmas e vivenciarem romances como fazem boa parte dos casais heterossexuais. Sendo assim, é comum a concretização de desejos juvenis em idades mais avançadas. Assim, a vida de alguém que já passou dos seus 30 anos fica em desacordo e acaba prejudicada se ela não se situar de forma mais realística com as demandas do presente, que, volta e meia, sempre acabam nos teletransportando para a criança que um dia fomos, para as leituras e sentimentos bons ou ruins que um dia tivemos. Conseguimos jogar fora do velho baú muita coisa que não serve, mas nunca nos desfazemos totalmente dele. Ele sempre estará lá. A cada ação, emoção ou revelação do presente, é na infância ou adolescência que encontramos as principais peças do quebra-cabeças.

O processo de amadurecimento não é igual para todas as pessoas. A gente tem alguns marcadores que vão se consolidando na caminhada: completar 18 anos e poder responder juridicamente pelas próprias ações, sair da casa dos pais, ter independência financeira... Porém, esses marcadores não exatamente evitam que algumas pessoas continuem agindo de forma imatura, infantil e, por vezes, inconsequente consigo e com o outro.

Aceitar que a realidade da vida não é exatamente como a gente sonha. É preciso identificar os padrões de comportamentos repetitivos expressos em nossas atitudes e nos conflitos na relação com o outro, e se responsabilizar ao menos por boa parte das coisas que nos acontecem sem justificar que é sempre culpa de alguém ou de algum agente externo.

Esses são fatores que contribuem para entenderse como alguém adulto, mas eles só conseguem se cristalizar se a gente revisitar a antiga criança, às vezes, machucada e ressentida, às vezes, culpada ou frustrada.

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