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Bibliófalo
from Falo Magazine #35
Meu corpo, minhas pregas: um ensaio proctográfico
de Fabio Lopez (2024)
Não é à toa que escolhi criar uma revista e assinar o projeto gráfico: sou designer de formação e de mestrado. Hoje sei que minha escolha acadêmico-profissional foi apenas um caminho, uma ponte para me levar para onde eu sempre quis estar. E, nesse caminho, de idas e vindas, poucas conexões se mantiveram. Entre elas, o autor deste projeto “proctográfico”, que, para mim, para o meu gosto visual, é um dos melhores designers em atividade. Rio 2016, Clube de Regatas do Flamengo, Puc, IPHAN, War in Rio... São tantos projetos espetaculares que fica fácil comprovar minha afirmação. Mas esse não é o objetivo desta coluna. Aqui é pra resenhas de livros, então, é uma resenha de livro que vou fazer.
Fui surpreendido por imagens nas redes sociais do Fabio Lopez que versavam sobre o cu. Isso mesmo, o ânus, furico, rosca, anel, olho cego e por aí vai. Primeiro, entendi como brincadeira. Só que a constante produção de imagens sobre o tema me deram a entender que era mais do que uma brincadeira e sim um projeto. De repente, um livro! Como assim, o mega designer de grandes marcas fazendo um livro sobre o cu? Juro que a primeira coisa que passou pela minha cabeça foi “finalmente, um aliado de peso”.
Trabalhar – seja em texto ou imagens – com tabu é muitas vezes uma sentença de morte ou de chacota profissional. Veja o caso dos urologistas: quando falam que são médicos, todos aplaudem, mas quando revelam a especialidade, a profissão e a sexualidade são imediatamente colocadas em dúvida. Porém, em conversa com o autor, percebi que Fabio – que sempre foi de fazer o que tinha vontade, especialmente quando era pra ser subversivo – chegou em um momento que precisava ressignificar inúmeros pontos pessoais e profissionais na sua vida. Nesse processo de “colocar pra fora”, o cu virou um símbolo. E para designers, símbolos são inspiração.
O pequeno livro “Meu corpo, minhas pregas” é exatamente o que ele diz ser, ou seja, um ensaio pictográfico... Quer dizer... Proctográfico sobre o cu. Cada página possui uma imagem minimalista no traço e carregada de significados para um “sinônimo anal”. Para além das risadas e das sacadas geniais, esse projeto leva o cu para a conversa, tirando-o do seu lugar proibido / prazeroso.
Eu costumo dizer que o cu é um tabu maior do que o falo nas Artes. Afinal, a gente vê pinto até na arte rupestre, mas cu? Essa é a razão de eu ter lançado a edição ANuAL (2020) e a artesANAL (2023) com bastante cu nas artes e nos textos acadêmicos. Agora temos essa pequenina jóia gráfica sendo lançado às vésperas do Novembro Azul, lembrando que, sim, todos temos cu* independente de gênero ou orientação sexual, e devemos cuidar dele, mas cada um cuida do seu.
Vale dizer que nem todos tem cu. Existe uma doença congênita chamada “ânus imperfurado” no qual a pessoa nasce sem o orifício. Isso é até citado no destemido posfácio do livro.