Fanzine Mosh Vol. 19

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EDITORIAL Sobrevivemos Moshersss!!! ANNO XXXIII VOL. XIX APRILIS.MMXXI Editor: Andre Smirnoff Copy Desk/Revisão: Bruno Buys & Leon Manssur Moshers: (Ordem Alfabética) Andrea Ariani Alexander Vasquez Bruno Buys Carlos Bueno Deborah Torre Emerson Mello Fellipe CDC Giovani Marcello Henrique de Paula Jacqueline Sales João Calixto Leon Manssur Marcelo Souza Marco Donida Marcos Hermes Renato Jacob Design Revista: Thiago Boller FUG Design Fotos da capa: Dorsal - Luciana Sendyk Quadrinhos: Carlos Lopes Advertising/Contacts Office: +55 (41) 3319.1600 Whatsapp: +55 (41) 9600 5985 Mosher@FanzineMosh.com Comercial: Aponte seu celular para o QR Code abaixo e fale direto com a gente.

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Parece uma mera afirmação ligada à atualidade, mas para nós tem um sentido muito forte de vitória, pois chegando aos 34 anos e podemos dizer que já passamos por ditadura, por nova democracia, lutas das minorias, polarização, ameaças de boicote e agora COVID... E ainda assim estamos mais uma vez nos reinventando e nos adaptando a cada dia às novas realidades do mercado. Entramos em uma nova era do Fanzine Mosh, uma versão 4.0 da revista, onde temos como principais características a gratuidade das edições e os brindes que irão acompanhar a cada publicação, além do aumento de nossa tiragem para 2.000 exemplares. Nossa linha editorial segue “imexível”, como dizia o filósofo: é de fã pra fã, e assim continuará com todo amor às bandas e a dedicação com profissionalismo que vocês merecem! Mas vamos falar do conteúdo desta edição que nos orgulha muito por trazer o exato retrato atual do nosso cenário metálico. Com grandes nomes na capa, onde temos o destaque do mainstream internacional (Epica) lado a lado com um dos maiores nomes do Brasil (Dorsal Atlântica). Temos duas matérias sensacionais, com o Mosh 4 Death fazendo um raio x da banda Immolation e no Mosh Forever com um texto totalmente diferente do que você já leu sobre Eddie Van Halen. E entrevistas com os alemães do Accept e nossos orgulhos Tuatha de Danann, Sculptor, Necromancer, Leprosy, San La Muerte e Vazio. * O Fanzine Mosh é contra toda ou qualquer forma de violência, contra ou entre qualquer animal ou ser humano. Assim como também é contra o sexismo, racismo, xenofobia, homofobia, antissemitismo ou qualquer outra forma de separação e segregação. ** A opinião pessoal de qualquer participante da revista em qualquer rede social é de sua única e exclusiva responsabilidade e ainda pode não representar a opinião do Fanzine Mosh.



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Yonkers é uma pequena cidade que se estende ao longo do Rio Hudson, ao norte do Bronx, vindo de Nova Iorque. Lá ensaiava uma banda chamada Rigor Mortis, formada por Andrew Sakowicz no baixo e vocal e os irmãos Tom e Dave Wilkinson, guitarra e bateria respectivamente. Eles já contavam com uma primeira demo (Peace Through Tiranny) de agosto de 1986, então convidam como segundo guitarrista Robert Vigna. Em julho de 1987 lançam uma segunda demo, “Decomposed”, com três músicas: Relentless Torment, Holocaust e Rigor Mortis.

por Marco Donida Em 1988 acontecem mudanças estruturais: Sakowicz deixa a banda e é substituído por Ross Dolan. Neal Boback assume a bateria e o nome Rigor Mortis é trocado para Immolation. Essa formação lança em junho de 1989 a demo auto intitulada “Immolation”, também com três sons: Internal Decadence, Burial Ground e Despondent Souls. Esse é um momento interessante, porque apesar de Nova Iorque ser conhecida como o berço de culturas underground emergentes, como o glam ou o punk rock, não era lá muito fértil para o death metal. As coisas nessa época estavam acontecendo bem longe dali, na Flórida: Bandas como Death, Morbid Angel, Obituary, Autopsy colocaram Tampa em destaque. A cena de Nova Iorque teria de ser construída por nomes como Incantation, Suffocation, Mortician, mas nada tão rápido. A entusiasmada recepção da demo de 89 colocou o Immolation na luz, tanto que já no ano seguinte chega o contrato para gravação do primeiro álbum. E também um novo baterista: Craig Smilowski. Gravado em Berlim e lançado pela Road Runner, “Dawn of Possession” já trazia os alicerces do trabalho da banda. Música extrema em sua atmosfera, com riffs de guitarra insanos, arranjos complexos alternando andamentos lentos e rápidos, entranhados por vocais emitidos do fundo de uma caverna. Tudo muito denso, muito pesado e neuroticamente executado. A precisão sempre foi uma necessidade do Immolation, no sentido de dar clareza ao contorcionismo das partes rítmicas e harmônicas, e fazer soar extremo. Como todo primeiro álbum, “Dawn of Possession” deve ser considerado único na discografia. Não só porque documenta o primeiro estágio da banda, a primeira lapidada na pedra bruta, mas também porque ele capta muito apropriadamente a energia da época, a euforia da juventude e a urgência em registrar as músicas já aclamadas das demos. Contudo, o que se ouve em “Those Left Behind” ou “Into Everlasting Fire” são verdadeiros hinos que justificam todo o

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destaque que a banda recebeu em sua estréia. Talvez a peculiaridade desse primeiro álbum fique mesmo evidenciada pelo intervalo que se deu até o álbum seguinte, “Here in After”, lançado cinco anos mais tarde, em 1996. A demora se devia ao fato de que a Road Runner estava na época mais interessada no emergente estilo Nu-Metal, e pronta pra deixar de lado bandas que seriam comercialmente menos atraentes. Gravado perto de casa, em Hoboken, Nova Jersey, “Here in After” representou um passo definitivo na criação de um estilo próprio, e foi considerado como um dos álbuns mais relevantes à época em que o death metal de NY ainda buscava consolidação. Há de fato uma notável solidez na forma como a banda experimenta formas de tornar sua música sombria e perturbadora, e ao mesmo tempo frenética e violenta. Essa busca se consolida definitivamente em 1999 com “Failures of Gods”, o primeiro álbum lançado pela Metal Blade. Se a dupla Robert Vigna e Tom Wilkinson se mostra incrivelmente entrosada e a voz de Dolan tenha chegado a um registro quase definitivo, é a bateria de Alex Hernandez que dá o tom e acerta o conjunto. Substituindo Craig Smilowski, Hernandez tem técnica para demolir uma casa com seus blasting beats, mas equilibra a agressividade sendo interpretativo seguindo as nuances das composições. O álbum foi gravado em Milbrook Studio em Nova Iorque, com a produção de Paul Orofino, que viria a produzir todos os demais discos da banda até o presente momento. Há controvérsias em relação à qualidade das gravações em todas as épocas da carreira da banda, e em especial a desse álbum, mas se há um jeito certo de registrar o som do Immolation, é algo que precisou ser desenvolvido ao longo dos anos. Novembro do ano 2000 chega ao mercado “Close to a World Below”, álbum que se estabelece como o início de uma nova fase da banda. Se nos três primeiros o aço foi martelado, agora a espada estava pronta. Isso fica nítido

nas duas primeiras faixas (Higher Coward e Father, You are not a Father) onde se ouve a dissonância, a estranheza, e todos os elementos de intensidade combinados primorosamente. E não só no som, mas poeticamente vai se redefinindo. O imaginário das primeiras capas poderia sugerir uma abordagem anti-religião mais direta e belicosa, mas agora a banda adotaria mais claramente um viés questionador e reflexivo, ainda que contundente e chocante como exibir a imagem de um Cristo em meio às chamas. Durante uma tour pela Europa com Destroyer 666, Deranged e Soul Demise, a banda assina com o selo francês Listenable Records para lançamento do álbum seguinte na Europa, juntamente com a Olympic Records nos EUA. Lançado em 2002 “Unholy Cult” traz o guitarrista Bill Taylor, oriundo do Angel Corpse, substituindo Tom Wilkinson. Dando sequência ao movimento do trabalho anterior, esse então sexto álbum da carreira reforça uma visão mais adulta . Mesmo nas músicas de alto impacto como “Wolf Among the Flock” ou “Of Martyrs and Men” a palavra é sofisticação e a genialidade está em tirar coesão de som por natureza caótico. Terceiro e último álbum com Hernandez à bateria, “Unholy Cult” é considerado por muitos como o auge da banda de acordo com parâmetros mais ortodoxos do death metal. De fato, a busca por uma identidade musical mais ampla, além do contexto de gênero, seria inevitável depois de certo tempo. Com o novo álbum “Harnessing Ruin” o Immolation chega a um momento delicado. Se a evolução natural da banda vinha indicando uma tendência de refinamento do som, aqui isso fica bem nítido. Talvez não haja outro trabalho da banda em que as músicas sejam tão legíveis; em que momentos atmosféricos sejam cuidadosamente costurados e que tantas passagens inspiradíssimas sobressaiam com facilidade. Um dos responsáveis por isso é o novo baterista Steve Shalaty. Dono de uma técnica muito apurada, ele não poupa notas nem se


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intimida com a velocidade de certas passagens, mas a mixagem deixou a bateria numa posição em que ela preenche todos os espaços mas não agride como poderia. Esse é precedente que será criticado por muitos e louvado por outros tantos. O álbum seguinte, “Shadows in the Light”, teria a missão de reequilibrar os lados da Força, mas ela é cumprida apenas em parte. Nota-se claramente um reforço na brutalidade, maior destaque para os elementos típicos death metal, mas a verdade é que não se pode voltar no tempo. A insanidade desenfreada do começo de carreira não poderia ser retomada sem prejuízo para uma de suas maiores conquistas: a originalidade, capaz de criar momentos tão sinistros, fortes e desconcertantes . A voz de Dolan não é algo diferente de tudo, mas também não é igual à nenhuma outra. A mesma coisa pode-se dizer do trabalho de guitarras de Vigna, que é de uma precisão cirúrgica e de uma frieza assustadora. Nenhuma música é óbvia e nenhuma nota sobra. A Olympic é comprada pela Nuclear Blast e em 2010 é lançado “Majesty and Decay”. Esse é o momento em que as coisas parecem encontrar um equilíbrio. Por um lado, não há mais dúvidas ou restrições quanto à radicalidade do som, se por outro lado uma produção limpa e transparente vier a garantir que tudo soe apropriadamente. O quanto há de interesse nisso por parte de uma gravadora com alcance mundial e uma visão pragmática de marketing, fica a questão. O fato é que muitas bandas começaram a lançar mão de uma produção mais aprimorada, uma vez em que atingiam patamares mais altos em suas carreiras. Com duas décadas de existência, o Immolation já ocupava espaço inquestionável entre as maiores bandas de death metal. Somado a isso, a evolução da tecnologia vem se dando aos saltos e não é raro que álbuns acabem datados não pelo teor da obra mas por influência de um determinado método de gravação. À despeito de toda polêmica, o resultado de “Majesty and Decay” é onde o melhor dos dois mundos da banda se encontra. Músicas como “A Glorious Epoch” ou a própria faixa título estão um nível acima em termos de refinamento de composição. O EP “Providence”, foi lançado para download gratuito durante a tour pelos EUA de 2011, numa interessante associação com a montadora de carros Scion. Os Cds e compactos 7’ seriam vendidos apenas nos shows da banda e nas concessionárias da marca. As músicas mostram a banda revigorada, e se algumas soam como ex-

tensões do Majesty, outras surpreendem, como a devastadora “What They Bring”. A excelente repercussão de Providence trouxe uma grande expectativa em relação ao lançamento de “Kingdom of Conspiracy” em 2013. A banda havia atingido um patamar de excelência que não sugeria dúvidas quanto à qualidade do material. Com efeito, o disco traz os riffs inconfundíveis de Vigna, vocais monolíticos de Dolan e a bateria multibraços de Shalaty, em músicas ora hiper rápidas e violentíssimas, ora cadenciadas e extremamente pesadas. A grande novidade aqui está na parte lírica porque Kingdom é um disco conceitual, que trata das grandes corporações e seus métodos de dominação do mundo. Então, em 2017 o Immolation chega ao seu décimo álbum de estúdio: “Atonement”. Mas não foi exatamente fácil o caminho até que ele ficasse pronto. Bob e Ross aproveitam um intervalo das atividades da banda e se ocupam com o Gospel of the Witches, um projeto da cantora americana Karyn Crisis. Na sequência, Shalaty sofre um acidente, precisa se submeter a uma série de cirurgias e demanda algum tempo para se recuperar. Não bastasse, Bill deixa a banda por motivos pessoais. Pra seu lugar é recrutado Alex Bouks, ex-guitarrista do Goreaphobia e Incantation. O tempo até que tudo estivesse acertado fez com que “Atonement” ficasse um disco muito apurado. Em entrevista, Dolan conta que os trabalhos de composição de um novo álbum começam seis meses antes de entrar em estúdio. Com isso, muita coisa precisa ser resolvida em pouquíssimo tempo, principalmente as partes de bateria. Dessa vez foi diferente e o resultado foi um álbum preciso, extremamente inspirado e bem arranjado. Não faltam resenhas apontando esse como um momento áureo da banda. O Immolation precisa ser reconhecido por alguns méritos inquestionáveis. Primeiro: são raras as bandas que conseguem chegar aos 30 anos de carreira sem nenhuma mácula, nenhum disco “ruim”, sem nenhum desvio de rota ou lapso criativo. Segundo: ainda mais raras são as bandas que conseguiram imprimir um estilo próprio, uma identidade musical única, um jeito realmente singular de fazer death metal. Terceiro: a sinergia que há entre Vigna e Dolan é algo extraordinário, porque une dois gênios da música extrema em um fluxo criativo forte o suficiente pra durar uma vida. Conceito genial, carreira brilhante, atitude nota dez... Esse é o Immolation!

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MOSH REVIEW

A PANDEMIA DO METAL Por Alexander Vasquez

Como a quarentena aqueceu o mercado editorial de livros e HQs voltados para o Metal No meio da pandemia de 2020 uma notícia que deixou muitos espantados foi o aumentos das compras online de livros e quadrinhos. A informação virou até matéria no jornal Bom Dia Brasil, do dia 13/07/2020. Mas aí você pode se perguntar: o que isso tem a ver com o nosso querido metal? É que ultimamente mais livros e quadrinhos com temáticas heavy metal podem ser encontrados nas prateleiras físicas e virtuais, desde biografias (nacionais e internacionais), histórias sobre turnês, gibis baseados em discos, enfim, tem para todos os gostos. E aí por tabela podemos nos aproveitar desse crescimento, afinal quanto maior a procura, maior a oferta. Fica até difícil listar aqui todos os lançamentos, mas vamos aos destaques: a editora Belas Artes sai na frente com vários livros dedicados não só à musica pesada mas ao rock em geral. No ano de 2020 eles lançaram “Rust in Peace: A História da Obra-Prima do Megadeth”, escrito pelo mastermind Dave Mustaine. O livro conta como foi o processo de criação e gravação deste icônico álbum e quais foram suas consequências: sucesso, pressão, brigas internas, álcool e drogas, chegando a separação do grupo. Para quem gosta de saber sobre bastidores e perrengues de grupos famosos é uma ótima pedida. Outro livro da editora Belas Artes que merece uma atenção é a tão falada biografia do Mötley Crüe “The Dirt” (que recebeu uma versão cinematográfica pela Netflix), aonde a banda expõe todos os causos que a deixou famosa. É escândalo em cima de escândalo, que deixaria qualquer “cidadão de bem” corado. E falando deles o livro “Diários da Heroína”, relata a luta contra o vício do carismático baixista Nikki Sixx, que chegou a ser considerado morto por causa de uma overdose, assim como os milhões que o astro gastou com drogas. É um relato emocionante e impactante que mostra como a força de vontade e superação fazem parte do ser humano. E para fã do rock progressivo temos Rush na parada: Neil Peart (1952-2020), baterista magistral do grupo, mostra que além de ser o mestre das baquetas, manda muito bem na escrita. São quatro livros ao total: “Kit para Viagem” (dividido em duas partes) aonde ele relata quais foram as músicas que fizeram parte da sua formação musical e como ele acabou entrando para a banda. “O Ciclista Mascarado”, livro que narra desde suas pedaladas pela África Ocidental e seu encontros com milícias armadas, até problemas estomacais. Como uma forma de desabafo temos o “Ghost Rider: A Estrada da Cura”, que mostra um músico devastado pela morte da única filha e de sua esposa, dentro de uma casa cheia de lembranças, e que decide combater esse vazio fazendo uma viagem de motocicleta na procura de respostas para sua vida. Emocionante do início ao fim. Por último temos uma mistura de fantasia steampunk e das letras do Rush: “Os Anjos do Tempo”. Esse foi escrito com ajuda do autor de ficção científica Kevin J. Anderson, que juntos criaram uma fábula estranha, nostálgica e encantadora, como

descrito no site da editora. E no rock nacional? Temos as biografias das bandas Ultraje a Rigor, Planet Hemp, Engenheiros do Hawaii, Nenhum de Nós... dá para montar uma bela biblioteca só da editora Belas Artes. Caindo agora para o metal pesado a editora Estética Torta vem com os dois pés na porta. Começando o ano de 2020 com o lançamento do polêmico livro “Lord of Chaos”, dos autores Michael Moynihan e Didrik Sordelin, que destrincham o início da cena norueguesa de black metal e todas as suas polêmicas, sangue, lágrimas e fogo! Infelizmente, o livro se encontra esgotado (e só foram publicados 666 exemplares). Quem sabe se os leitores do fanzine Mosh resolvessem escrever para a editora (contato@esteticatorta.com.br), isso os convencessem a publicar mais 666 livros? Mas não se preocupem que a editora tem muito mais livros a disposição dos bangers: “Death by Metal: A História de Chuck Schuldiner”, que está na segunda edição, conta a história do criador da banda Death e toda sua trajetória até sua derradeira morte em decorrência de um câncer no cérebro. “Heavy Duty: Minha Vida no Judas Priest”, conta a história do lendário guitarrista K.K. Downing à frente da máquina metálica Judas Priest. E para quem pegar na pré-venda pode conseguir um bookplate autografado pelo própria lenda! E para os fãs devotos de Iron Maiden temos três livros dedicados à Donzela de Ferro: “Somewhere in Time: Um Clássico do Iron Maiden”, “The Number of the Beast: Um Clássico do Iron Maiden” e “Powerslave: Um Clássico do Iron Maiden”. Os livros contam sobre os bastidores da gravação desses três albuns icônicos da banda. Para os papais metaleiros temos o “Iron Maiden para Crianças”, que é para a molecadinha começar a bater cabeça desde cedo. Ainda na linha das bandas de Heavy Metal temos as biografias das bandas Paradise Lost (com bookplate autografado por Nick Holmes e Greg Mackintosh), Pantera, Moonspell, Whitesnake, André Matos, Mortification, Cannibal Corpse… Ufa! Tem para todos os gostos. Se você é fã de Sepultura e adora uma lavação de roupa suja (ratinhoooooo), temos o “Max Cavalera: My Bloody Roots”. O livro conta toda a história do ex-vocalista do Sepultura antes, durante e depois de sua saída da banda. É uma verdadeira aula de como vencer no underground. Para quem já leu “Sepultura: Toda História”, é um ótimo complemento. A banda Korzus também colocou no papel sua história “Korzus: Guerreiros do Metal”, aonde o jornalista Mauricio Panzone fez quase 70 entrevistas exclusivas com mebros e ex-membros da banda, para fazer um relato dos mais de 30 anos de estrada da clássica banda de thrash

metal paulista. Lançado de forma independente, “Aqui é New York Against the Belzebu, Porra!”, é a biografia da icônica banda de grind/noise NxYxAxBx, escrita pelo seu criador, Nelson Santos. Quem quiser adquirir esse pedaço de “nojeira”, é só mandar um e-mail para nyabnoise@ gmail.com, ajudando a manter acessa a chama do “undigrundi”. Cansado de tantos livros ? Calma pueblito, ainda temos os quadrinhos (que vão muito bem, obrigado). Seguindo os lançamentos da editora Estética Torta temos para os fãs de tiro porrada e bomba “Slayer: Repentless”, que complementa a história já contada nos clips “The Repentless Trilogy’s” do último disco do Slayer. Chega a escorrer sangue das páginas (chora Datena). E eles também tem o lançamento da HQ “Templo das Sombras”, escrito por Felipe Castilho em conjunto com Rafael Bittencourt, gibi baseado no álbum do Angra, “Temple of Shadows” e mais uma vez, quem pegar na pré-venda, pode conseguir um box especial. Sem contar que a indústria de HQs autorais vai de vento em popa. Para quem não acha mais o livro “Guerrilha: A história da Dorsal Atlântica”, pode comprar no site da mesma a versão em quadrinhos feita pelo próprio Carlos Lopes. (https://dorsalatlantica.minestore. com.br). No mercado brazuca temos muitas HQs bem legais. Uma delas é chamada “Helldang” do Airton Marinho e Samuel Sajo. A HQ conta a história da banda Helldang que faz um pacto com o demônio goético Amduscias para conseguir dinheiro e fama, mas o resultado do pacto não sai como combinado. “Notas do Underground” do Pedro D’Apremont fala da cena em si. Ir a shows, beber, brigar, coisa que muitos de nós fizemos bastante. A trilogia “Xampu”, do aclamado desenhista Roger Cruz (X-Men, Homem-Aranha, Hulk), num tom quase biográfico mostra os perrengues dos fãs da música pesada. Ainda temos as reimpressões dos gibis do Marcatti em parceria com o João Gordo, uma homenagem ao RxDxPx. Revistas essas que estavam esgotadas e sendo vendidas a preço de ouro. Já a editora NFL, lançou umas HQs dos Beatles, Iron Maiden, Kiss, King Diamond, e isso tudo no underground. Para quem quiser mais dicas de leitura, recomendo os vídeos: Biografia do Rock (editora Belas Artes) do canal Kazagastão e Listão: Livros de Hardcore e Metal do Canal Scena, dedicados somente a esse tema. Agora que você já sabe aonde encontrar mais diversão para a sua quarentena, nada de sair na rua lambendo corrimão. Bora deixar essa estante da sua sala mais “metálica”! Stay Grind!

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INTERVIEW E nesta edição, Mosh apresenta... MASTER! Paul Speckmann é uma lenda absoluta do underground, e quem não gosta de Master é estranho! A entrevista abaixo foi realizada em 2019, quando mudou a formação que vinha desde 2003. E em 2020 já lançaram um split com Nunslaughter e um Alive in Athens...

Por Leon Manssur Krabathor surgiu, eu a peguei. Eu tenho feito turnês e tocado em festivais com sucesso desde minha ida para a Europa. FM – Tenho notado ao longo dos anos uma forte mensagem anti-guerra e anti política externa dos Estados Unidos em seus discos, desde Unknown Soldier até Blood for Oil no Abomination e Let’s Start a War. Eu acredito que não existe isso de banda apolítica. A expressão por si só já é política. Conte-nos de suas visões e discordâncias com os governos de seu país.

FM – Olá Paul, nós aqui do Mosh começamos o Fanzine em 1987. Então vamos lá para o início… O que você pode nos contar dos primeiros dias? Paul – Os primeiros dias foram uma explosão, claro. Foram quando surgiu uma nova música, antes dos chamados gêneros de Metal que se expandiram até hoje. No início nós só tocávamos Metal e o Black Sabbath eram os fundadores de tudo. Depois de ouvir bandas como Sabbath, Motörhead e a nova banda matadora chamada Venom, a música mudou para sempre! Nós tocávamos agressivamente do fundo dos nossos corações e isso podia ser ouvido nas demos originais do Master, assim como na demo Fuckin’ Death da minha outra banda, o Deathstrike! Nos primeiros dias muitas bandas estavam tentando se encontrar, e por assim dizer, reinventar a roda. Foi muito legal fazer parte dessa nova geração de Metalheads dessa época! Infelizmente hoje as coisas estão mais difíceis pois a cena está saturada de clones uns dos outros e é mais difícil desfrutar dessa cena atual. Mas essa é só minha opinião, claro.

FM – Você acredita que garotos de escola ensaiando e ouvindo discos em uma garagem depois da escola todo dia é um valor universal para a formação de um underground? Paul – Sim, foi assim que todas as bandas legais começaram, ensaiando em alguma garagem, esses foram os melhores dias. Claro, eu espero que isso ainda esteja acontecendo, pois precisamos continuar mantendo o Metal vivo e esse é o caminho para o futuro. Minha vida não teria sido nada sem o Metal, esse tem sido meu meio de vida por tanto tempo que eu realmente não me lembro de nada mais, sério!

FM – Então havia a cena de Chicago… Devo dizer que eu prefiro a cena de Chicago à da Florida (mais tarde), ou à da Costa Oeste… Bandas como Devastation, Sindrome, Macabre e é claro, Master, Deathstrike, Abomination, que chegaram tão longe através de troca de demos pelos fãs. Você ainda tem contato com estes caras? Eu reparei que existem nomes comuns a mais de uma banda. Paul – Chris Mittelbrun esteve no Master, e depois Sindrome, claro, então isso é verdade, meu amigo. Mas parece que ele perdeu seu caminho no Metal anos atrás. Tem outros caras que eu respeito e ainda chamo de irmãos, no Macabre, nós nos vemos eventualmente em alguma festa, tour, e as memórias sempre

retornam, claro. Respeito as bandas que ainda lutam a boa luta, muitas desistiram ao longo dos anos. Sindrome teve alguns relançamentos legais uns anos atrás, na Century Media, acho, mas uma reunião nunca aconteceu, porque os membros originais desistiram de tocar Metal anos atrás! Você está correto em dizer que havia uma ótima cena no início, mas inseguranças e inveja mataram a cena para muitos!

FM – O Master teve algumas instabilidades que fizeram vocês lançarem um disco mais tarde do que o Possessed e o Death, mesmo que nós fãs tape traders esperássemos isso havia anos... Estou certo? Conte-nos sobre isso. Paul – Claro, alguns erros foram cometidos com decisões que vieram do baterista original, porque no começo ele era o líder, antes de eu criar o Deathstrike com o Mittelbrun e eventualmente liderar o Master também. Drogas e álcool são a ruína de muitos músicos, antes e também agora. Desde então eu substituí o lineup do Master nos últimos dezesseis anos.

BÔNUS! Breve discografia de full albums do Master: 1990 Master 1991 On the Seventh Day God Created... Master

Paul – É óbvio que todos os governos são corruptos e infelizmente em muitos casos nada pode ser feito. O poder deve retornar ao povo, mas em muitos casos o exército é muito poderoso e a resistência é difícil. Cabe realmente aos jovens se organizar e remover esses porcos de seus cargos, mas eu estou muito velho para isso. Então o que posso fazer é escrever músicas sobre isso, na esperança de que alguém leve a luta para as ruas. Algumas bandas somente tocam nonsense e não têm nenhum conteúdo lírico. Isso está ok, mas eu escolho expressar meus pensamentos livremente nas músicas e ter esperança em um mundo melhor. Ficção é para os livros, e filmes de horror são para o cinema! A vida é um horror constante para muitos!

1993 Collection of Souls

FM – Você curte o estilo escandinavo/britânico de bandas hardcore/ Crust e sua mensagem?

2018 Vindictive Miscreant

Paul - Bandas como GBH, The Exploited e o MDC tinham coisas ótimas quando eu era mais jovem, mas não sigo a onda atual de clones!

1998 Faith Is in Season 2002 Let’s Start a War 2003 Unreleased 1985 Album 2004 The Spirit of the West 2005 Four More Years of Terror 2007 Slaves to Society 2010 The Human Machine 2012 The New Elite 2013 The Witchhunt 2016 An Epiphany of Hate

Faça sua pesquisa e ache as demos, eps, live, e Deathstrike, Abomination, Speckmann project...

FM – Você tem tido uma lineup estável nos últimos anos, não? O que houve agora? Paul – Mudanças, claro. Ruston Grosse assumiu a bateria, e temos tocando shows nos EUA juntos desde 2008 e o guitarrista Pat Shea fez a última turnê EUA alguns anos atrás!

FM – O que você projeta para o futuro? Viver como o Lemmy, morrer como o Lemmy?

FM – E sobre o Abomination e os álbuns do projeto Speckmann? Acho que todas as bandas refletem a sua personalidade, pegada direta e humor, aquele humor estilo Venom, seja você zoando o juramento à bandeira ou a oração ao pai nosso… Como você distinguiria as bandas e projetos em que tocou?

Paul – Não dá para prever o futuro, nem mesmo meu ídolo Houdini poderia fazer fazer isso! Eu vou tocar minha música e levar minha mensagem às pessoas até quando puder, e depois me aposentar quando não puder mais tocar! Eu tive uma ótima vida na cena musical, curti várias noites excelentes, e continuarei fazendo isso enquanto puder, meu amigo!

Paul – Claro, todas as bandas em que toquei serviram para manter a marca Speckmann viva! Por exemplo, o disco Speckmann Project foi uma regravação dos clássicos do primeiro álbum de forma mais Thrash, com mais pegada. No fim a Nuclear Blast decidiu que não gostou, e colocou a gravação com a lineup original remixada e remasterizada na Florida com Scott Burns no Morrisound. Burns também trabalhou no Speckmann Project e também no On the Seventh Day! Nós sentimos que após todo o esforço que foi colocado na gravação do Speckmann Project, não podíamos desperdiçá-lo, então ambas as gravações foram lançadas na mesma época, pela Nuclear Blast!

FM – Suas palavras finais nessa entrevista? Paul – Obrigado pelas ótimas perguntas e siga o Master no twitter, e veja também o website que está cheio de informações sobre os muitos projetos, speckmetal.net

FM – Então você se muda para a Europa. Como foi isso? Paul – Eu me mudei para a Europa em 2000, e isso foi a melhor coisa que podia ter feito. Nada estava acontecendo para mim nos EUA, todos os clones estavam tendo sucesso, e o Master não. Quando a oportunidade para me unir ao

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INTERVIEW

Diante de um mundo mergulhado em uma pandemia, a humanidade clama pela voz daqueles que são os verdadeiros baluartes modernosos poetas. Essa poesia pode ser encarnada em diversas formas e aquela que nós, amantes dessa arte conhecemos, somos a música pesada e dentro desse parâmetro, ninguém seria mais indicado para nos mostrar uma visão tão abrangente de tudo, do que a entidade suprema do Metal nacional, a Dorsal Atlântica. Conversamos com o nosso querido Carlos Lopes, que nos trouxe todas as novidades sobre o novíssimo trabalho “Pandemia” e toda aquela panorâmica sobre a atualidade do mundo e suas vertentes.

Por João Calixto FM: O lançamento do último álbum da Dorsal Atlântica, o magnífico Canudos, nos apresentou uma obra inovadora, com uma temática bem brasileira, pouco utilizada pela maioria das bandas nacionais. Você considera esse trabalho de vocês, o mais icônico e porque não dizer, influenciador da trajetória de vocês? Sim, é uma trajetória de luta. Não tenho selos, empresários e nem agentes porque, acima de tudo, não sou comercial. É patético quando me pedem para ser o Carlos de 1985 e ser comercial. Mas ao contrário do dito popular, isso mostra que não sou eu que não regula “bem das ideias...” Quando comecei a tocar em 1981 ouvi “Você nunca vai chegar a lugar algum com isso” e em 2012 durante a primeira campanha de financiamento coletivo li e ouvi “Você nunca vai chegar a lugar algum com isso”. Eu amo o Canudos, mas o jogo ainda não terminou, por assim dizer... A minha reinvenção constante, e da banda, é uma postura que tanto causou problemas comerciais à Dorsal como criou uma legião de fãs, de todas as idades. Tanto que em 1998 tocamos no festival Monsters of Rock com Slayer, Manowar, Megadeth, e Saxon graças a um abaixo-assinado com 35 mil assinaturas. E tendo isso em mente e consciente desse apoio, dei a cara à tapa ao entrar no financiamento coletivo em 2012. Canudos e Pandemia foram gravados com a Matadeira, a guitarra baiana de

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6 cordas que desenhei para Canudos – e confeccionada pelo luthier baiano Fábio Batanj. Tocar com uma guitarra com afinação diferente da “guitarrona” tem me desafiado e me estimulado a voltar a tocar. Ainda neste ano disponibilizarei aulas de guitarra baiana na rede para que mais e mais músicos de rock – e músicos – se afeiçoem ao instrumento. A baiana é uma declaração de amor a um país musical e mestiço, não colonizado. Pode não ser o país da maioria, de 57 milhões, mas é o meu país. É o país que ainda acredito que possa me dar espaço para, como artista, criar sem ódios e sem continências à bandeira estadunidense. A Dorsal Atlântica ganhou o seu lugar na história por nunca ter cedido dessa premissa.

FM: Acredita que a missão foi cumprida? Meu filho Gael é minha missão cumprida neste plano como indivíduo e como artista é tudo o que fiz, compus, desenhei e escrevi, mesmo que ninguém veja, ninguém saiba...

FM: Logo após o lançamento de Canudos, vocês divulgaram que não haveria nenhum projeto para um novo álbum. O que fez vocês mudarem de idéia e trazer à tona o projeto “Pandemia”? Como todos sabem, a banda não

toca ao vivo desde 2001. Foram 2 décadas, durante as quais a Dorsal nunca mais se reuniu para tocar, mas eu me mantinha ativo, criativo, gravando discos e tocando com as bandas Mustang e Usina Le Blond, além de escrever livros, e ilustrar. Não escolho conscientemente quando e por que um disco pode ser escrito. Ele surge, a depender do momento, necessidade e de estímulos externos. E havia chegado a hora do Pandemia “graças” a uma doença que colocou o mundo de joelhos. Um vírus que expôs nossas chagas. Pandemia não é uma continuação ou sequência de Canudos, mas um passo adiante. Mantem a nossa tradição de som cru e pesado, mas é fiel às conquistas dos últimos anos, como ter incorporado elementos da música armorial, de terreiro, e sacra.

FM: Em algumas entrevistas, você adiantou que o álbum seria baseado parcialmente na obra de George Orwell, escritor renomado, autor de obras como “1984” e “Revolução dos Bichos”. Quais pontos da obra de Orwell você citaria como determinantes para a concepção de “Pandemia”? Pandemia é uma distopia sobre um país desconhecido, sobre o qual “nunca ouvimos falar”, inspirada em Revolução dos Bichos e 1984 do escritor inglês George Orwell.

Orwell lutou na Guerra Civil Espanhola ao lado dos Republicanos e em certa fase da vida, foi mendigo... A vida dele é fantástica: o pai supervisionava indianos que plantavam ópio; Orwell ou Eric Blair foi policial na Birmânia onde conheceu de fato o imperialismo inglês; foi pobre em Paris e mendigo em Londres; criou um filho adotivo sozinho e somente graças aos amigos pode ser enterrado no solo de uma igreja, o que não era permitido aos ateus. Uma das várias interpretações desses livros – além de Pandemia - pode ser encontrada no filme Brazil (1985) de Terry Gilliam do grupo Monty Python. Mesmo que o diretor afirme que o título não se refere ao nosso país, está na cara que foi uma declaração de “jogar para a galera”. Assistam e me digam. E Chico Buarque baseou o seu Fazenda Modelo em Orwell...

FM: Certamente você se inspirou em todo o momento mundial para a criação de “Pandemia”. Fale-nos sobre as inspirações que o levaram à elaboração das músicas, principalmente das letras. Do que se trata Pandemia? Em Brazilândia, uma sociedade dividida entre os reis equinos, o povo canino e os símios militares, um jumento ignorante é eleito como primeiro-ministro através de um golpe que contou com o apoio da imprensa e do judiciário. A partir de então, o eleito põe o seu plano em prática: infectar a população com o vírus da ignorância.


Então, os seus fanáticos seguidores destroem terreiros de candomblé e incendeiam laboratórios, faculdades e livrarias em nome do santo deus Sumé. As pessoas más, só aguardavam que o seu messias chegasse à terra para implantar uma ignorância que já estava na escuridão dos corações, das almas da população e não apenas dos políticos. A verdade da qual se fugia até a posse da maldade encarnada. Pandemia é uma construção de anos, décadas. O conceito básico, de equinos, símios e caninos veio de um álbum solo que gravei há uma década, nascido de um projeto chamado História Cantada. Vários clipes dessas composições estão na rede (Presidente do Brasil; Gorilas; Cuidado, Cão!; Princesa Equuina; Canudos-Rocinha). Por isso, a Covid favoreceu o nascimento do álbum Pandemia mas o conceito estava lá, adormecido, esperando a hora para “atacar”... E os péssimos exemplos de conduta da humanidade não são apenas recentes. Tenho lido algumas atrocidades e desumanidades ditas por músicos e bandas... Mas na verdade, o que se fala hoje, de racista e preconceituoso no ambiente de rock pesado, ouvi da boca de muitos participantes da contracultura em todo o país de 1985 a 2015. Na década de 1980, o vice presidente do partido nazista brasileiro era produtor de shows de heavy metal. E casado com uma mulher negra! Em uma de suas tardias crises existenciais, ele me chamou para uma conversa pois queria entrar para o espiritismo e eu, mesmo da minha falta de maturidade, lhe disse que não adiantaria nada. Por isso, parece não haver “nada de novo no front”, mas hoje há orgulho em ser ignorante e egoísta. Está mais explícito. E para o que digo ser mais preciso, juntamente com Pandemia foi lançada a revista em quadrinhos Tupinbambah 2, cuja única história, Estado de Exceção, complementa o entendimento de toda a história, de todas as letras do álbum.

Talvez, Pandemia seja o trabalho com as letras mais desesperançadas que já escrevi. Infelizmente... “O país caminha dividido rumo ao precipício”, “escarra no focinho que te beija” e “todos somos culpados” são alguns dos exemplos. Por causa disso, precisaríamos de uma nova entrevista para falar sobre cada uma das composições e das letras, mas para adiantar e em ordem: 1 – PANDEMIA, 2 – BURRO, 3 - CÂES, 4 – POBRE DE DIREITA, 5– COMBATEREI, 6 – GORILAS (NO PÁSARAN), 7 - INFECTADOS (TEOCRACIA e NARCO-ESTADO), 8 - POVO, INOCENTE OU CULPADO?, 9 – A RESISTÊNCIA NÃO RESISTE, 10 - TERRA ARRASADA (TREVA QUE NUNCA ACABA) e 11- NÚMERO 28.

FM: O álbum será distribuído a partir de abril de 2021. Por que tanta demora para o seu lançamento? E como você analisa o sucesso de mais uma campanha bem sucedida de crowdfunding? Em primeiro lugar, as composições não estavam prontas em agosto de 2020. Seria preciso um bom tempo para que eu pudesse me dedicar, buscar inspiração e me sentir satisfeito com a obra. Os arranjos e as demos ficaram prontas em Novembro, 3 meses após a campanha ter sido ganha. A primeira etapa estava cumprida, mas houve uma série de problemas. O país está em uma enorme crise financeira. E moral... O estúdio de gravação em que iríamos gravar pediu mais 100% após a vitória da campanha. E aí quebrou a firma, mas demos o nosso jeito, mas é claro, que afetou o orçamento. A estamparia das camisetas tentou aumentar os valores, o custo da prensagem dos CDs e LPs subiu, o que nos obrigou a tirar de cá para tapar o buraco dali... Tivemos que economizar, cortar despesas entre trancos e barrancos, mas o disco está pronto. Lindo e revolucionário. Pandemia contou com o suporte financeiro de mais de 500 apoiadores, mas assim mesmo, não teria sido possível lançar este trabalho sem o envolvimento de um grupo de 20 pessoas que incluem músicos, amigos, engenheiros, e estúdios que aceitaram trabalhar de graça. Pode parecer incrível, mas 65 mil arrecadados não cobriram todas as despesas e sem essas pessoas tudo teria sido infinitamente mais difícil.

FM: Houve muita expectativa em relação aos outros membros que gravariam o álbum. Como foi para você, realizar esse trabalho, sem o seu grande parceiro de “Canudos”, o baterista Américo Mortágua, falecido em 2018? E em janeiro de 2021 faleceu Roberto “Tatá”, o nosso primeiro baterista que tocou em nosso primeiro show em 1981. Estranho ver as pessoas se despedirem, mas assim é a vida... e a morte. Nada é para sempre. São como lições que teimamos em não aprender. Américo era um grande baterista e tínhamos aquela conexão especial que não se explica. Mas ele teve que ir, para nossa tristeza, mas eu ainda estou aqui e a vida continua. Ou pelo menos, essa ilusão de vida... Quando ganhamos a campanha, pesei os prós e contras e encontrei o baterista ideal em Braulio Drumond, meu amigo de longa data, que havia tocado e gravado com o Mustang. Hoje, nós três da banda moramos em Estados diferentes, Rio, Brasília e São Paulo, mas mesmo assim, demos o nosso jeito para nos reunirmos. A internet ajuda. E como em Canudos pedi aos músicos que tocassem ao vivo no estúdio sem ensaios. E expliquei que não haveria edições. Tocou “errado” ficaria “errado”! Braulio, além de ter desenvolvido uma técnica espetacular, cumpriu essa missão sem pestanejar. Esse método de produção que comparo ao Cinema Novo, é um método semelhante à vivência de emoções autênticas do diretor de teatro, Stanislavski. Somente a emoção, a verdade e nada mais do que a verdade. E é claro, meu querido irmão Cláudio Lopes aceitou gravar mais um disco. Fiquei honrado.

FM: Vocês ficaram satisfeitos com o resultado final? Ficou dentro do esperado? Não teria como te dizer o quanto ficamos satisfeitos em todos os níveis. A gravação e a mixagem fabulosas. As composições, a interpretação emocionantes. E é sempre bom lembrar que apesar de estarmos aqui pela música, também estamos na labuta para difundir uma filosofia de vida e política. Música para mim não é apenas diversão. E o disco preenche todas essas necessidades. É musical, radical, brasileiro, poético, improvisado, pensado, refletido, histórico e mais um divisor de águas em nossa carreira e na história do rock pesado. Considero Pandemia o mais melódico de nossos trabalhos, porém com uma estrutura simples, vinda de cantigas de roda, e do baião, sem descartar toda uma tradição que inclui o hardcore e o metal tradicional. Também é um trabalho autorreferencial, que tanto fala sobre a nossa carreira, que reconta a nossa história, como remete a quem nos influenciou - e o que escutávamos em nossa fase de formação, até os primeiros anos da década de 1980. É um disco foda, no bom sentido!

FM: E falando em formação, como você analisa a Dorsal Atlântica? Seria uma banda ativa, que realiza uma campanha de crowdfunding e hiberna novamente? Acredito que os fãs esperavam um pouco mais de “presença física” de vocês, principalmente em relação de possíveis shows. Em 1998, assim que acabamos de tocar no festival Monsters Of Rock em São Paulo disse aos músicos que estava cansado do cenário de heavy metal que pouco me estimulava a criar. As gravadoras não nos queriam porque nunca fomos bons de vendas e eu me recusava, como me recuso até hoje a me tornar comercial para agradar a quem quer que seja. E quando digo comercial é entregar ao público de heavy metal o que pretensamente ele quer ou o que é induzido a querer, a acreditar que quer... A partir de então, desde 2001, a banda é como um urso que - como você citou - hiberna, e só deixa a toca, quando a temperatura externa está agradável, quando há comida e água, quando não há caçadores...

FM: As campanhas de crowndfunding bem sucedidas em que a Dorsal convoca os seus fãs para a sua adesão, são de conhecimento de todos que o resultado é extremamente positivo. Qual seria a possibilidade dessa mobilização, para um possível show de vocês no futuro ou até em um relançamento de seus títulos, que estão há vários anos, fora de catálogo?

as áreas e dezenas de milhares de reais. Se as pessoas quiserem elas investirão para verem o sonho se tornar realidade mais uma vez.

FM: Vocês em entrevistas recentes, revelaram que há uma possibilidade da disponibilidade de todo o catálogo da Dorsal Atlântica no formato Streaming. Isso seria uma redenção a um formato mais moderno de consumo de material fonográfico? E qual seria a posição da banda em relação a esse novo formato? Até hoje sou eu mesmo o único responsável por todo o meu catálogo não estar disponível. Mas a partir de 2021 quase todos os trabalhos estarão online. Tenho explicado em entrevistas, e tive que voltar a esse assunto durante a campanha, que vivo da minha arte. Sobrevivo com a venda de material físico, que é a minha prioridade. Mas sei que há pelo menos, 15 anos o público ouve mais música digital do que física e na maior parte não remunera os compositores e os artistas. E sem o apoio de quem te admira e de quem quer te ver trabalhando, compor e gravar música, que tem um custo muito alto, tornasse inviável. Vira brincadeira de menino rico, o que está distante de minha realidade... E mesmo que digam que o CD está morto, o Pandemia vendeu mil cópias antes de ser lançado. Se alguns artistas foram afetados com a mudança de paradigmas, certamente eles viviam de venda de centenas de milhares de cópias, o que nunca foi o meu caso.

FM: Agradecemos imensamente à Dorsal, por nos atender tão prontamente e pedimos que deixem uma mensagem final aos nossos leitores. Infelizmente, estou bastante pessimista em relação ao país e ao momento. Nem em meus piores pesadelos eu poderia imaginar que chegaríamos a este ponto. Por mais que os sinais indicassem… Sempre acreditei no desabrochar de uma consciência coletiva, mas não é assim que a história é feita. Por isso, o que escrevo e crio vem do meu coração artístico, militante e muitas vezes, ingênuo... E continuarei assim até o último dos meus dias neste plano. Mas para que a arte sobreviva é preciso o retorno de cada um de vocês.

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O Pandemia ainda tomará muito do meu tempo até pelo menos quase o final de 2021, mas temos dois planos e duas campanhas a caminho: uma delas é reeditar a biografia Guerrilha atualizada e em cores e a outra, a que mais me estimula, é captar recursos para gravarmos um show do Pandemia com uma grande equipe, cenários e mais músicos. Mas para disponibilizamos este show editado e consagrado para todos na rede, é preciso financiamento porque os custos são muito altos, envolvem profissionais de todas

“Talvez, Pandemia seja o trabalho com as letras mais desesperançadas que já escrevi. Infelizmente...“ DORSAL ATLÂNTICA (2021). CAIXA POSTAL 2160, Eqs 104/304, Brasília, DF, Brasil, CEP 70343-970 instagram.com/dorsalatlanticaoficial | instagram.com/carloslopesartista/ | dorsalatlantica.com.br/ facebook.com/dorsalatlantica/ | tupinambah.com.br/ | facebook.com/carloslopestupinambah/

FANZINE MOSH 15


INTERVIEW

Um verdadeiro ícone do metal carioca e nacional invade as páginas do Fanzine Mosh para nos contar tudo sobre seu mais novo lançamento! Estamos falando do Necromancer, que está na divulgação do seu mais recente álbum “Pattern of Repulse”. O vocalista Marcelo Coutinho e o baixista Gustavo Fernandez conversaram com a equipe do Mosh e nos trouxeram todas as informações sobre esse grande lançamento, além das novidades que irão surgir para a banda nesse ano que se inicia.

Por João Calixto FM - Após o lançamento de “Forbidden Art” em 2014, vocês demoraram praticamente 6 anos até o lançamento do seu mais recente álbum, o sensacional “Pattern of Repulse’. Porque tanto tempo para lançarem um novo play, com material inédito? Fala galera do Fanzine Mosh, João Calixto e André. Agradecemos a oportunidade de participar desta entrevista e relembrar os velhos tempos. Com o retorno da banda em 2014, primeiramente com o Marcelo Coutinho (vocal), Luiz Fernando (guitarra), Alex Kaffer (bateria) e Gustavo Fernandez (baixo), as metas seriam a divulgação do álbum e composição de músicas novas. Devido à troca constante de integrantes e outros problemas externos, atrasamos muito a finalização das músicas e do lançamento. Iniciamos a gravação no Estúdio Hanoi com o Fernando Perazzo em abril de 2019 e só finalizamos em setembro de 2020, também devido à pandemia, que atrapalhou muito. Agora com a formação mais estável da banda, com o Vinicius (bateria) e o Eduardo Dek (guitarra), acreditamos que levaremos menos tempo em um próximo lançamento. FM - Como foi a concepção de “Pattern of Repulse”? Depois de um longo tempo afastado das gravações, achamos que estava mais do que na hora de entrarmos no estúdio novamente, para darmos prosseguimento do primeiro álbum lançado. A ideia para lançarmos este álbum veio em especial do Vinicius (batera) que desejava lançar material o mais breve possível. Estávamos devagar, compondo pouco material e não ensaiando com muita frequência. Isso porque não conseguíamos de jeito nenhum arrumar outro guitarrista. Então tivemos que fazer uns ajustes nas composições para que estas se encaixassem melhor com apenas uma guitarra. Ou seja, para quando fôssemos dar show com apenas um na guitarra, as

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músicas não soassem muito diferentes do que na gravação, quando podemos usar uma porrada de guitarras. Então colocamos a mão na massa e o produto pronto está aí. Ficamos muito contentes com o resultado final. FM - As primeiras impressões mostram um trabalho extremamente técnico, com uma produção de altíssimo nível. Fale-nos sobre como foi produzir esse play, praticamente dentro de um cenário mundial mergulhado em uma pandemia, que afetou todos os setores de produção mundiais. Procuramos trabalhar n os detalhes e buscar um som pesado e de impacto. Diferente do primeiro álbum, buscamos não ter músicas muito longas. Foi realmente muito complicado todo o processo de gravação por causa da pandemia, por isso fizemos com a calma e a cautela que o momento exige. FM - O que vocês poderiam citar como as principais evoluções desse novo trabalho, em relação ao debut “Forbidden Art”? Procuramos pegar novas influências para esse novo projeto, tipo death metal, em especial o escandinavo, mas não perdendo a pegada dos anos 80, e acreditamos que deu certo. FM - As letras são um destaque desse álbum, principalmente pela variedade de temas que são abordados em todas as faixas. Fale-nos um pouco desse trabalho de escolha dos assuntos escolhidos como tema das músicas. As letras trazem abordagens nas mais diversas áreas, como personagens históricos e mitológicos, temas de corrupção política e religiosa. Não existe uma linha definida para a escolha dos temas das músicas na concepção de um álbum. Pelo menos até agora. FM - Durante o trabalho de produção do álbum, vocês tiveram um reforço na formação, que foi a adição

do guitarrista Eduardo “Dek”. Conte nos como foi a sua entrada e o que ele trouxe de contribuição para o trabalho de concepção do álbum. A banda estava só com um guitarrista, o Luiz Fernando. A estrutura da banda sempre foi com dois guitarristas. O Eduardo “Dek” é amigo das antigas e sempre tocou em outras bandas/projetos com o baixista Gustavo e o baterista Vinicius. Tivemos uma oportunidade de fazer um show e o chamamos para participar. Em algum momento, ele gostou da parada e entrou na banda. É um guitarrista muito bom tecnicamente e fez solos marcantes na “Necrobiosis” e na “Blood Countess”, apesar de não participar das composições do álbum. FM - A fantástica arte de capa, feita pelo renomado Marcelo Vasco, é de uma qualidade impressionante. Fale como foi a escolha dela e se vocês acham que ela representou bem a proposta do álbum. Com certeza, o Marcelo Vasco é excelente no que faz. Além de grande amigo da banda, ele também fez o primeiro álbum, que ficou sensacional. Não tinha como ser diferente a escolha dele para fazer a arte. Deixamos ele criar as ideias e depois escolhemos entre duas. A capa escolhida ficou foda e representa bem o que queríamos como proposta de capa do álbum. Um clima de repulsão e com uma atmosfera sombria.

com a Tocaia Produções Artísticas através do Filipe Duarte para divulgação nas mídias sociais. FM - Falando em divulgação, vocês participaram de vários festivais virtuais, visando uma divulgação da banda, em tempos de total paralização de eventos presenciais. Como foi participar desses eventos? Acredito ter sido uma experiência nova para vocês. Até o momento, fomos chamados para participar do festival “Heavy Metal Rock – Online Festival” em comemoração ao aniversário do selo/loja em setembro de 2020. O selo HMR foi responsável pelo lançamento dos dois álbuns. Foi bem divertido, mas ainda gostamos mais dos shows presenciais, com o público interagindo. Com certeza uma novidade para todos nós, mas acreditamos que estamos nos habituando a essa nova realidade. FM - Gostaria de agradecer a todos do Necromancer, por nos atender tão prontamente e pedimos que deixem uma mensagem final a todos os nossos leitores. A banda deixa um forte abraço a todos os leitores do zine, agradecemos a força e desejamos que tudo isso passe rápido para podermos trabalhar ao vivo esse novo álbum.

FM - Com a retomada gradativa das atividades no mundo, vocês têm planos para a divulgação de “Pattern of Repulse”? E como seria essa divulgação? A divulgação já está sendo feita em todas as mídias sociais e agora é só esperar a pandemia passar para começarmos a dar shows. Temos uma parceria com a ASE Press através do Ricardo Batalha para assessoria de imprensa e uma parceria

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INTERVIEW

Make way for Tuatha de Danann!! Os consagrados pioneiros do folk metal lançaram nova bolacha em 2020. O “In Nomine Éireann” celebra a música irlandesa, influência fundamental dos mineiros, mesclando sonoridades tradicionais celtas e instrumentos acústicos com guitarras pesadas e melodias vibrantes.

Por Bruno Buys Financiado através de crowdfunding, popular vaquinha, o disco foi apoiado por 475 fãs. A banda colocou à disposição dos apoiadores diversos produtos, como lives exclusivas, vídeos da gravação e produção, depoimentos dos músicos sobre como se organizavam para tocar suas partes durante o isolamento social, e quais equipamentos e instrumentos usavam. No fim do ano fizeram também uma live acústica para mostrar as novas composições aos fans. O sucesso da vaquinha do “In Nomine Éireann” talvez tenha empolgado tanto o Bruno Maia (cantor, compositor e multi-instrumentista do Tuatha de Danann) que ele já fechou também uma nova vaquinha para o segundo disco de seu projeto solo “Braia”, que se chamará “...e o mundo de cá” (o primeiro saiu em 2007 como “E o mundo de lá”) e se aventurará por praias menos pesadas e mais progressivas. Terá de tudo: influências de música brasileira, MPB, world music, e a onipresente sonoridade celta. Este segundo disco vem carregado de cultura mineira, da qual ele é um fã e divulgador. Confira abaixo o papo que batemos com o Bruno. FM - O ano de 2020 foi excepcional e muito difícil para todos, devido à pandemia. O setor de eventos ao vivo sofreu especialmente, por motivos óbvios. Não obstante, foi um ano produtivo para o Tuatha de Danann, certo? Crowdfunding bem-sucedido e lançamento do “In Nomine Éireann”, com a entrega de diversos produtos relacionados, como apresentações em live e vídeos do processo de gravação e produção. Foi muito difícil para se reinventar? Bruno - Pois é, por incrível que pareça conseguimos fazer com que nosso 2020 fosse desafiador e produtivo. O disco acabou nos ajudando psicologica e artisticamente, sabe? O lance de tanta gente apoiando, entrando em contato e participando, mostrando o quanto fazem questão da banda existir nos serviu de tônico. O lance acho que nem foi se reinventar, foi ter cabeça e foco pra fazer um disco em circunstâncias tão diferentes e isolados um do outro, mas o resultado foi fabuloso. FM - O “In Nomine Éireann” é uma produção bem complexa. Conta com a participação de diversos músicos de fora da banda em faixas variadas. Gravado por você, mixado pelo Thiago Okamura e Cello Oliveira. Mesmo neste ano atípico, a banda conseguiu se organizar para entregar um trabalho tão bem elaborado. Este modelo de organização e trabalho veio para ficar? Bruno - Muito complexa, nem te falo! Nossos discos, todos, já tem por característica essa complexidade, pois imagine, além da bateria, baixo, guitarras e vocal, tem teclados com timbres diversos, flautas, violinos, banjos, gaitas de fole, violões, bouzoukis, percussões e muitas vocalizações

cruzadas. O trabalho real começa em como arranjar isso tudo dentro de uma música sem ficar aleatório... depois, produzir isso, em estúdio e coordenar tudo trabalhando para que todas as frases soem bem e funcionem é um trampo lazarento! Quando se tem essa penca de convidados tem este trabalho extra de agenda, o contato e conversa com cada um, tem o ‘explicar’ de cada nuance a cada um deles e os problemas com arquivos enviados que às vezes vêm em extensões diferentes, que se perdem, não abrem.… hahahaha. Não é fácil! Mas nunca foi, sabe!? O legal disso tudo para mim, na esfera pessoal, foi que eu me aprimorei em muitas funções dentro do estúdio além da produção artística que eu já desenvolvia, e isso foi ótimo! FM - Espero que vocês estejam tão ansiosos para dar shows ao vivo quanto nós estamos para assistir! Vocês pensam em turnê e shows para divulgação do “In Nomine Éireann”, ou ainda é cedo para falar nisso? Já existem convites ou propostas? Caso já pensem, como planejam a execução ao vivo de músicas que envolvem tantos outros músicos? Bruno - Estamos doidos pra tocar, imagina! Não pretendemos tocar o álbum inteiro, até porque tá todo mundo tão carente de show que acho que quando voltarmos à estrada o natural será fazermos um show com sons já consagrados de nossa carreira e incluir umas quatro músicas do ‘In Nomine Éireann’. Claro que se aparecer propostas de fazermos um show temático do novo álbum a gente faz. Precisaríamos chamar, pelo menos, uma mulher pra fazer os vocais femininos, o resto a gente faz normal. Só não temos mais a gaita de fole na formação regular da banda, mas podemos substituí-la no show por uma flauta, violino ou banjo. Na verdade, já tocamos muitos destes sons com uma banda que temos de música irlandesa (eu, Giovani, Nathan e Rafinha, todos do Tuatha), o Terror Celta. FM - Na faixa “King” a banda teve colaboração de um fã nas letras. Como foi esse processo de criação? Bruno - Foi muito legal! Já que já estávamos em contato direto com estes apoiadores da banda via vídeos, e-mails, redes sociais etc… pensamos que poderíamos incluir quem está no barco conosco no processo criativo. Achamos isso fantástico! Daí eu escrevi as duas primeiras estrofes, a ponte e o refrão e precisava de uma terceira estrofe... mostramos nos vídeos privados da campanha a letra e sua métrica e convocamos estes apoiadores a escreverem com a gente, seguindo a métrica dos exemplos. Chegaram muitas ideias legais, muitas mesmo, mas acabamos escolhendo uma que tinha o inglês perfeitinho e que as imagens tinham mais a ver com o que buscávamos, que no caso era a coisa da cegueira, da manipulação etc... FM - “King” é a única música do disco que está fora da temática

irlandesa. Ela tem a pegada consagrada do Tuatha, pesada e com belas guitarras e teclados, além dos instrumentos acústicos, e remete aos grandes sucessos anteriores da banda. É correto pensar nessa música como um elo entre o disco novo e os trabalhos anteriores? O que ela pode nos apontar sobre o futuro da banda? Bruno - Realmente, ela remete a um tipo de som que é típico nosso e soa muito bem dentro do cancioneiro Tuatha. Sobre o próximo disco, pelo que tem aparecido de criação, creio que será um disco mais progressivo, pelo menos é o que parece. Deve ser porque os últimos discos do Tuatha acabaram sendo um pouco mais diretos, o Dawn, o Tribes e mesmo este In Nomine. Não foi nada planejado, mas talvez por ter vindo, principalmente eu, de alguns discos bem mais complexos desde o Trova di Danú, depois o Braia e o Kernunna, com muita coisa progressiva, inconscientemente as musas da inspiração têm me mandado uns temas e sons mais complexos, tão legais, acho que o próximo disco será bem diferente dos últimos. FM - Em “The Calling” e “The Wind That Shakes the Barley” temos as vozes de duas cantoras, a Manu Saggioro e a Daísa Munhoz. Como foi o trabalho com as duas? Já haviam trabalhado juntos antes? Bruno - Olha, estas canções soaram maravilhosas pra mim! Essas mulheres cantam divinamente e são pessoas maravilhosas, somos fãs das duas. A Daísa já tinha cantado a “Warrior Queen” com a gente no disco anterior, a Manu foi a primeira participação e ela fez mágica, as duas. FM - Em “The Calling” e “King” as letras deixam explícito um posicionamento crítico e de oposição ao governo atual. Este posicionamento é consensual na banda? Bruno - Tem de ser, né? Na verdade, no atual patamar não se trata mais de política e sim de humanidade e evolução enquanto sociedade. Política, discutíamos até antes da pandemia, com a alta dos preços de tudo, o congelamento de salários e de investimento em setores essenciais, o descaso com o meio ambiente, a venda do patrimônio nacional e por aí vai. Mas vimos neste ano atos e enunciados que transcendem a política, né? Uma avalanche de negacionismo, de negligência quanto à vida e morte das pessoas, de ameaças ditatoriais e o que parece ser uma sabotagem ao combate à pandemia por parte do governo federal. Não somos uma banda militante e panfletária, mas podemos e devemos, sim, denunciar o que temos como ameaçador e retrógrado em algo que afeta a vida de todos, querendo ou não, que é a política. FM - Não existem vocais guturais no In Nomine Éireann. Não houve espaço para eles devido à temática do disco, de celebração da

música irlandesa, ou os vocais guturais não estão mais no horizonte do Tuatha? Bruno - Olha, o metal extremo é um dos pilares de nossas influências, por incrível que pareça! Ouvíamos e ouvimos muitas bandas com vocal gutural como Obituary, Benediction, Amorphis antigo, Paradise Lost, Hypocrisy, Unleashed, Samael etc... Hoje curto Gojira, os novos do Rotting Christ, o último do Benediction (que foi o melhor disco de 2020 para mim) entre outros. Falo isso tudo pra dizer que não temos nada contra vocal gutural, mas a banda trilha outros rumos hoje em dia e incluiremos este tipo de vocalização quando a música pedir. Você pode notar que o uso do gutural foi caindo de disco a disco. FM - Como parte das entregas para os fãs que participaram do crowdfunding do disco, a banda disponibilizou diversos vídeos com o dia-a-dia da gravação e da produção. Isso trouxe um clima de intimidade e familiaridade para nós que assistimos. Literalmente, estávamos na sala de gravação do disco! Como foi o feedback dos fãs que vocês receberam destes vídeos? Bruno - Foi muito doido para nós porque a gente é meio jacú com tecnologia e não temos os equipamentos mais indicados, a expertise para editar e tratar e nem mesmo o dom da palavra, mas tudo foi feito com muito carinho e com o intuito de ser bem real, sem ceninha, sem dar uma de artista fabricado, foi tudo na unha, com a roupa velha, zuada, do jeito que é. O retorno que tivemos do pessoal foi muito legal, nos motivou muito e nos deu muita força e vontade… é até difícil de explicar isso, mas esta campanha nos deu uma nova dimensionada em relação à banda e nossas ações. Foi importantíssimo! FM - O que o futuro reserva para o Tuatha de Danann? A gente espera virar jacaré e poder tocar ao vivo o quanto antes, isso faz muita falta em nossas vidas – na de muita gente, né? E queremos ainda trabalhar um pouco mais o In Nomine e o mais breve que pudermos já iniciar um novo álbum e uma nova campanha. Tuatha de Danann é: Bruno Maia – vocais, guitarra, bouzouki, banjo, flautas Edgard Brito – Teclados e escaleta Giovani Gomes – Baixo Raphael Wagner - Guitarra Nathan Viana – Violino Rafael Delfino – Bateria e percussão

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FANZINE MOSH 21


INTERVIEW

Simone Simons é uma mulher versátil. Num momento posta, especialmente em seu perfil no Instagram, ensaios fotográficos, tutoriais de maquiagem, fotos descontraídas da vida longe dos holofotes e do palco, mas também, é claro, atualizações sobre a sua banda, o Epica, da qual é a vocalista há quase duas décadas. Fazer a junção de temas tão diferentes é parte do motivo de ser tão adorada pelos fãs e seguidores. Para não fugir dessa regra, nessa entrevista ao Fanzine Mosh, ela fala como conseguiu se adaptar à rotina do isolamento e sobre o novo disco gravado em plena pandemia de COVID-19. Os holandeses já tinham planos e haviam se programado para dar um tempo dos shows para gravar, em fevereiro do ano passado, o sucessor de “The Holographic Principle” (2016), antes mesmo de o coronavírus se espalhar e paralisar os planos de todo mundo

por Andrea Ariani Encarando o desafio do novo normal de protocolos de higiene e isolamento, mas também mantendo os planos de gravação na ativa, as músicas foram gravadas e o primeiro single, “Abyss of Time – Countdown to Singularity”, foi divulgado em outubro de 2020. Depois de mais de um ano de produção, o lançamento oficial das doze faixas de “Omega”, ou melhor, “Ωmega” será em 26 de fevereiro de 2021, via Nuclear Blast. O aguardado disco traz algumas das surpresas que a banda sempre prepara para presentear seus fãs - como as versões acústicas e algumas faixas conceituais. Confira nesse bate papo as novidades desse lançamento e a perspectiva dela e da banda para o retorno aos palcos.

FM - O lançamento do oitavo disco foi frustrado em 2020 devido a todas as mudanças que a COVID-19 trouxe para o mundo. Vocês lançaram o primeiro single dez meses depois do anúncio da pré-produção. Como foi fazer esse disco em meio à pandemia? O que foi mais diferente além de uso de máscaras, distanciamento, protocolos de higiene e todo o cuidado que esse período ainda exige?

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Simone - Nós tivemos sorte de tudo ter sido gravado com exceção dos vocais. Os coros e a orquestra foram feitos no final de fevereiro. Nós realmente tivemos sorte. Quando fomos gravar os vocais no meio de março, a pandemia estourou e entramos no primeiro lockdown. Mark gravou no seu home estúdio na Sicília e eu tive que procurar por um estúdio de gravação próximo de Stuttgart. Joost se juntou a mim pelo Zoom e enviamos as faixas no final de cada sessão de gravação. Foi quase como se ele tivesse mesmo comigo. Nós trabalhamos bem. Foi a primeira vez que trabalhei de manhã e voltei pra casa no final do dia.

FM - Aliás, como passaram por essa pandemia, além das gravações, lives e adiamento de shows? Simone - Eu sinto muita falta dos shows ao vivo. Antes de começarmos a escrever o novo álbum, nós fizemos uma pausa nas apresentações. É como se voltássemos naquele tempo que estávamos no palco e estamos muito ansiosos para voltar. Algo vital foi perdido. Nós estamos ainda muito ocupados cuidando dos negócios da banda, nos bastidores, assim

como estamos tentando ficar em casa, levando os nossos filhos para escola.

FM - A chegada da pandemia também adiou os shows comemorativos de dez anos da Design Your Universe tour na America do Sul (Chile, Equador e Peru). Esses shows tem possibilidades de acontecer mesmo com o disco novo saindo em fevereiro de 2021? Simone - Eles foram remarcados para este ano. Nós esperamos que eles aconteçam e, como disse antes, nós realmente queremos voltar a fazer shows.

FM - A tour europeia com o Apocalyptica, que também aconteceria em 2020, já tem datas previstas para 2022. O nome Epic Apocalypse Tour ganhou um novo sentido após os acontecimentos do fatídico 2020 e a COVID-19? Simone - Nós só tentamos combinar os nossos nomes para nominar a tour. Eu não vejo o momento atual como um fim do mundo. Tudo foi posto em espera, mas não é um apocalipse.


FM - Essa inspiração do sábio Cherokee e a luta entre dois lobos é tema de uma das faixas. Não sei se já havia essa ideia antes dos acontecimentos de 2020, mas ganha um novo sentido essa luta pela vida, sobrevivência e aprendizado num momento como esse, não? Simone - Estamos vivendo tempos desafiadores em que estamos tendo que nos conhecer melhor. É uma situação nova e muito incomum em que estamos. Mas o desafio entre os dois lobos sempre estará lá, não importa em que circunstâncias. Tentar manter o equilíbrio entre os dois é um desafio para a vida.

FM - A música “Freedom - The wolves within”, segundo single do Omega, tem um propósito maior além da lenda dos dois lobos que a letra conta. Como surgiu essa iniciativa de se juntar a WWF para adoção dos lobos cinzentos que são animais ameaçados de extinção? Simone - Foi uma ideia incrível a nossa gravadora fazer isso. Nós amamos a ideia desde que tivemos o contato com o WWF. Como uma banda que tem tanto alcance, nós amamos inspirar os outros e espalhar amor e positividade.

FM - Como foi a ideia de fazer as versões acústicas de quatro faixas do Omega e como os fãs tem reagido a essa iniciativa? Abyss of Time na versão original já passou de 1 milhão de views. Como vocês têm sentido esse retorno em relação às músicas novas com os fãs mais conectados e consumindo mais streaming e as redes sociais? Simone - Nós começamos a gravar as versões acústicas de algumas das faixas do álbum, desde “The Quantum Enigma” (disco de 2014). É um jeito muito legal de celebrar um novo disco e de nos divertir ao mesmo tempo. Os fãs adoram e minha mãe também ;). “Abyss of Time” foi uma grande escolha como primeiro single. Nós gravamos um vídeo com o G13 (uma produtora) na Polônia. O visual do vídeo também contribuiu em como os fãs percebem a música. Quando pudermos tocar ao vivo novamente, as músicas vão realmente brilhar.

FM - Vocês também fizeram um documentário do processo de criação do Omega e soltaram alguns trechos no youtube e perfis da banda como o Instagram. Há intenção de liberar uma versão completa desse registro? Não, não no momento. Elas foram todas lançadas separadamente e estão disponíveis online. Não há uma razão real para fazer isso como algo só já que elas já estão online ;) FM - Agora que os países iniciaram processo de vacinação já dá para pensar em voltar a reunir o público nas arenas e casas de shows novamente. Há alguma previsão de o Epica fazer esse lançamento, um disco tão aguardado pelos fãs, aqui na América do sul, especialmente no Brasil? Infelizmente, shows e especialmente shows maiores serão os últimos acontecimentos que serão liberados. Todos nós esperamos que não demore muito.

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NEW BAND

A alegria de descobrirmos uma banda com a qualidade dos curitibanos do Sculptor é a certeza que o Metal brasileiro ainda possui muitos frutos a serem colhidos. Com o lançamento do excelente álbum “Untold Secrets”, o nome do Sculptor figura como um dos grandes destaques entre os lançamentos desse ano que passou. Conversamos com o vocalista Rick Eraser, que nos fala sobre esse excelente trabalho e tudo sobre essa grande revelação do metal extremo nacional.

Por João Calixto FM - A trajetória do Sculptor não se inicia com o lançamento de “Untold Secrets”. Aqueles que acompanham o trabalho da banda sabem do trabalho que envolve toda essa repercussão positiva do trabalho de vocês. Vocês apontariam que tudo que o Sculptor está colhendo é fruto desse trabalho? Rick - Sim, o Sculptor é uma banda que foi formada em 2015. Lançamos nosso primeiro single em 2018 e de lá para cá estamos trabalhando exaustivamente, tentando fazer materiais de qualidade. Realmente todos esses frutos que estamos colhendo foram por algo que estamos trabalhando a muito tempo. FM - A divulgação de “Untold Secrets” começou no início da pandemia, e essa nova realidade poderia ter atrapalhado todo esse processo de divulgar o álbum. Vocês tiveram dificuldades em mostrar “Untold Secrets”? Rick - Realmente não era algo que esperávamos. Todo o mercado do entretenimento ficou parado devido a essa pandemia, mas tivemos algo super positivo porque as pessoas estão em casa para poder escutar o disco com calma o que é super legal. Mas não pudemos fazer nossa turnê de lançamento do disco, o que é realmente muito triste. FM - Após esse tempo, desde o lançamento, como vocês avaliam a repercussão do álbum? Rick - Tivemos um ótimo feedback mundial, com certeza atingimos nosso objetivo nesse álbum e conseguimos entrar muito bem no mercado dos Estados Unidos e da Europa. Conseguimos abrir várias portas por lá. Nosso álbum obteve ótimos reviews nas principais revistas de metal do mundo todo, foi algo fora da realidade pensar que uma banda saindo de Curitiba iria ter um espaço tão grande no metal internacional foi algo que não esperavamos.

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FM - A entrada de vocês para o cast da Frontiers Records repercutiu bastante pela escolha de uma banda que faz um Death Metal melódico, entraram para uma gravadora especializada em Hard Rock. Vocês acham que com isso, houve uma abertura de oportunidades para as bandas do estilo em conseguir algo semelhante? Rick - Ser a primeira banda de metal extremo dentro de uma gravadora especializada em Hard Rock é algo muito desafiador mas gratificante ao mesmo tempo. Tenho certeza que isso vai ajudar muitas outras bandas, pois houve uma quebra de paradigmas dentro da gravadora, e hoje eles querem atingir um novo patamar agregando outros estilos. Isso é ótimo para outras bandas que desejam entrar no cast da Frontiers. FM - Vocês produziram vídeos de divulgação para algumas músicas do álbum. Conte como foi a escolha das músicas e toda a experiência em fazê-los. Rick - Quando fechamos contrato com a Frontiers já tínhamos o primeiro videoclipe. As demais foram uma escolha mútua com a gravadora, mas eles deram muita abertura para escolhermos os singles. A escolha foi realmente nas músicas que mais gostamos, aquela música que fica sempre no modo repeat. FM - Durante esse período de recesso vocês já trabalham em algum material novo? Rick - Estamos começando agora a trabalhar no novo material, pois devido ao lançamento do álbum houve muito trabalho a ser feito. Agora que estamos em um ritmo mais tranquilo estamos começando a compor o novo material, para um futuro álbum ou mesmo um EP, mas ainda não temos nada decidido sobre isso.

rências que tínhamos de bandas era da Suécia, foi uma escolha fácil. O resultado foi algo que surpreendeu a todos, pois conseguimos fazer uma banda brasileira soar igualmente como as bandas suecas. O mais engraçado é que recebemos vários feedbacks do mundo todo sobre o álbum e quando as pessoas descobrem que a banda é brasileira ninguém acredita. FM - Com a retomada das atividades, quais os planos do Sculptor para esse ano que se inicia?

FM - A capa de “Untold Secrets” foi uma das que mais se destacaram entre os lançamentos recentes. Como foi a escolha de Marcelo Vasco para essa missão? A ideia utilizada ficou dentro do esperado por vocês? Rick - Tivemos a honra de trabalhar com o Vasco, a sinergia foi incrível. O Marcelo Vasco tem uma visão muito próxima da que tínhamos para o álbum, e com isso ele conseguiu materializar todas as nossas ideias para a capa do álbum. Houve um reconhecimento incrível relacionado a capa e conseguimos ser considerados umas das melhores capas de 2020 e saímos no livro “Heavy Metal Artwork” que junta as melhores capas de álbum de metal do ano em formato de livro com as ilustrações. É um livro lindo e que possui capas incriveis. FM - A experiência de gravar em um estúdio renomado como o Fascination Street Recording na Suécia fez toda a diferença no resultado final de “Untold Secrets”, não? Rick - Quando criamos o conceito do álbum, nós tínhamos em mente que gostaríamos de soar como as bandas que gostamos. Como a maior parte das refe-

Rick - Estamos ansiosos para poder tocar ao vivo. Em maio teremos nosso primeiro show agendado no Armageddon Metal Fest. Estamos ansiosos para voltar a tocar ao vivo. FM - Agradecemos a todos do Sculptor. Deixem uma mensagem final para nossos leitores. Rick - Agradeço a você e toda a equipe da Mosh por essa oportunidade, e convido nossos leitores a nos seguir nas redes sociais e nas plataformas digitais como Spotify, Youtube e Deezer e acessar nosso site www.sculptorofficial. com onde, em breve, teremos novidades. Stay safe!

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NEW BAND

Goiânia sempre teve uma cena underground muito forte e pulsante. A capital de Goiás sempre foi um ótimo celeiro de bandas de metal, punk e hardcore, além de possuir produtores de shows bastante competentes e gravadoras independentes que escoam um pouco da constante produção underground goiana. Um destes muitos frutos é a banda de death metal Leprosy, que será representada aqui pelo seu guitarrista Rinaldo Macedo. Vamos ao papo...

Por Fellipe CDC FM - Primeiramente, bem-vindo ao Fanzine Mosh e obrigado por ter aceito o convite para essa conversa. Fora os quilos extras, a montanha de cabelos brancos e as idades avançadas, o que difere a Leprosy de hoje daquela banda iniciada no ano de 1989 por adolescentes goianos? Rinaldo - Além de tudo que já disse (risos), o que mais difere é a maturidade que temos agora. FM - Tive o privilégio de ir em alguns ensaios da Leprosy lá onde o baterista Biula morava, isso em 1989 e 1990, ou seja, há alguns anos. Vocês continuam ensaiando na casa de algum dos integrantes ou agora estão tendo que ensaiar em estúdio pago? Pergunto porque quando se ensaia em estúdio o tempo fica mais escasso e a hora parece passar mais depressa. Rinaldo - Desde que voltamos, tivemos que locar estúdio para ensaiar, mas já tem 4 meses que estamos ensaiando em estúdio próprio com ar condicionado e frigobar Leprosy personalizado (risos). Esse estúdio é na casa do Lord Biula e foi construído por volta de 92/93. Estúdio próprio é uma maravilha. O processo criativo da banda está a todo vapor, com ensaios extensos, das 16 até as 23 horas, com pequenos intervalos para recompor as energias, pois não temos mais 18 anos (risos). FM - Quais foram os motivos que levaram ao fim da banda em 1995? O que a banda já tinha lançado nesse espaço de tempo de 89 a 95? Rinaldo - A ultima fase do Leprosy antes do término, só tinha o Allan Paulino como um dos fundadores da banda, os outros integrantes eram de uma geração mais nova e que tocavam muito, mas logo desanimaram e a banda parou. Em 1991 a Leprosy lançou a primeira demo-tape e em 1994 a segunda demo-tape com a nova formação. FM - Mesmo com o término da Leprosy, os 4 integrantes originais não deixaram de contribuir com música underground. Você formou a Tsavo

(que era um excelente banda de thrash metal) e também tocou na Refine, Tragedy e Defaced, enquanto os outros músicos também passaram por outras bandas goianas. Fale um pouco sobre isso, por favor.

agendado. Tive a ideia de chamar o Biula e ele aceitou. Ao chegar no estúdio foi uma festa, amigos de 30 anos reunídos novamente, quando iniciamos o ensaio eu parei e disse “Isso não tem nada a ver com a Tsavo. Isso é Leprosy”! E voltamos!

Rinaldo - Sempre estivemos envolvidos no cénario do metal goiano. O Allan teve o In Bleeding, também participou do início da Tsavo. O Remus tocou no Old Label, AC/DC Cover e na Defaced. O Lord Biula tocou no CFC, DSM entre outras. Já eu, ainda tive a honra de fazer parte por menos de 1 ano na Death Slam, além das outras que você já havia comentado.

FM - Fale um pouco sobre o compacto “F.A.E.P”, do processo de gravação até o lançamento e como se deu a participação do Bacural, vocalista da banda de hardcore Ímpeto.

FM - Hoje em dia os músicos da Leprosy possuem bandas paralelas ou estão totalmente concentrados na Leprosy? Rinaldo - Eu ainda tento revitalizar a Tsavo, mas sem pressa, pois estou totalmente concentrado na Leprosy. Os outros músicos estão se dedicando totalmente a Leprosy. FM - O método de composição continua o mesmo de antigamente ou foi modificado em decorrência das experiências vividas com as outras bandas que os integrantes passaram após o fim da Leprosy? Rinaldo - O modo de composição é o mesmo, eu e o Allan sempre chegamos aos ensaios com ideias e até esqueletos de músicas prontos. Aí então passamos para o Lord Biula e o Remus, a banda toda agrega os arranjos. E com a maturidade que fomos adquirindo ao longo dos anos, o processo acaba ficando mais fácil. FM - De quem foi a idéia de voltar com a Leprosy no ano de 2018 e, por mais difícil que possa parecer, com a mesma formação inicial? Como está sendo este recomeço? Rinaldo - Fato engraçado, foi por acidente. Eu estava voltando à Tsavo, tinha arrumado um baterista novo e chamei o Remus para tocar baixo. Estávamos sem vocalista, aí chamei o Allan. Seguimos com os ensaios até que o baterista abandonou o barco e estávamos com ensaio

Rinaldo - A música F.A.E.P. foi composta em 1990 e gravada no mesmo ano. Decidimos regravá-la e convidar o nosso ilustre amigo Juarez Távora da banda Cirrhosis para fazer uma participação especial, pois sempre fomos muito ligados. Quanto ao Bacural da Ímpeto, somos amigos a mais de 30 anos, além de gostarmos muito de hardcore também. FM - No final de 2020 saiu o primeiro CD da Leprosy, o “Death”. Conte um pouco sobre esse lançamento e de como foi o contato com a gravadora. Rinaldo - A Blackhearth, o nosso selo, depois do lançamento do EP nos incentivou a lançar esse CD com todo o material que a banda possui desde o seu surgimento. Esse CD tem a história da Leprosy, a história nova que estamos escrevendo desde a nossa volta e a história antiga que escrevemos a vários anos. FM - Aliás, o disco de vocês é uma apaixonada homenagem à banda norte americana Death. De quem foi essa ideia e como tem sido as reações dos fãs do Chuck? Rinaldo - Realmente, somos apaixonados pela banda Death e resolvemos homenageá-la da nossa maneira e para nossa surpresa, o feedback tem sido muito positivo.

FM - A Leprosy tinha muita coisa agendada para este pandêmico ano de 2020. Muitos planos foram desfeitos e refeitos em função da pandemia. Por outro lado, a Leprosy acabou participando de muitos festivais on line e mantendo-se bastante ativa durante esse assustador período da história que todo o mundo está enfrentando. Sobre isso, duas perguntas: se essa pandemia se abatesse sobre a população no começo dos anos 90, época sem as facilidades da internet, você acha que metade da classe artística enlouqueceria? A arte nos ajuda a manter a sanidade? Rinaldo - Realmente, essa pandemia fez com que cancelasse vários eventos nos quais iríamos tocar. Ficamos um mês sem ensaiar e sentimos muita falta dos ensaios. Nos organizamos para tomar todas as medidas de segurança necessárias e voltamos a ensaiar, gravar e produzir. Produzimos muito nesse período. Penso que se a pandemia tivesse ocorrido na década de 90 seria um caos total, principalmente pela falta de informação (hoje a internet facilita muito). A classe artística precisou se adaptar e aderiu às lives, por exemplo, e naquela época não teria essa possibilidade. Entraria em colapso total. A arte é terapêutica. FM - Algo que queira acrescentar antes do tradicional recado aos leitores? Outra vez mais, obrigado por dispor do seu tempo para batermos esse papo. Rinaldo - Quero agradecer ao Fellipe pela oportunidade, ao Fanzine Mosh e dizer aos nobres leitores que apoiem veementemente o Metal Nacional. Grande abraço a todos.

FM - Como está sendo a repercussão do clipe para a música “Justice”? Rinaldo - Não é bem um clipe. Gravamos uma live com 8 músicas e a Justice é uma delas. Resolvemos lançar as músicas dessa live uma a uma. A repercursão tem sido satisfatória.

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San La Muerte: em entrevista, a nova banda fala sobre seu projeto para a América do Sul San La Muerte é uma banda de thrash metal que alia o old school e o moderno, europeus e ameríndios, religioso e mundano numa saga sonora e cultural pela América do Sul. A banda é formada por Karim Serri (guitarra), Fabiano Menon(baixo), Markos Franzmann (bateria) e André Nisgoski (vocal e guitarra). Quatro nomes de peso e com muita história na cena do sul do país. Em entrevista, eles falaram sobre a nova proposta San La Muerte.

Por: Daniela Farah* FM: O que podemos esperar do San La Muerte? KARIM SERRI: Autenticidade, pelo menos eu quando componho algo para o SLM não preciso de muito esforço pra criar, os riffs saem meio que naturalmente as bases se unem sem muito esforço. Compor para o Legacy, pra mim dá muito trabalho, pois tudo tem que soar atual e moderno e isso ta bem fora da minha zona de conforto, pro SLM não, teve música que saiu inteira em 1 hora. ANDRÉ NISGOSKI: O interessante sobre o SLM é que os sons que fizemos até agora tem uma agressividade única e visceral, nada extremamente enfeitado, ou algo para parecer difícil, acho que podem esperar agressividade e honestidade. FABIANO MENON: Algo feito com muita alma, com legitimidade. O que fazemos tem uma carga muito grande de anos de experiência, de batalhas individuais de quatro caras que se encontraram para formar o SLM. MARKOS FRANZMANN: Algo diferente do que o mercado nacional já ofereceu. Um Thrash agressivo com refrões marcantes, nada moderno demais, ao mesmo tempo, uma novidade para os ouvidos de quem está acostumado a ouvir metal somente cantado em inglês. O espanhol é uma língua muito linda e expressiva, e as pessoas verão isso nas músicas do SLM.

FM: Todos os músicos são conhecidos no cenário curitibano e há quem chame a nova banda de superprojeto. Como vocês se reuniram para este projeto? KARIM: Foi por acaso mesmo, a gente nunca pensou “porra vamos formar

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um time fudido” não, foi muito mais pela empatia e admiração que temos pelo trabalho um do outro do que qualquer outra coisa. ANDRÉ: Eu fui o último a entrar, vi o Karim comentar que estava procurando um vocal na pegada agressiva, perguntei o que ele tava precisando, o papo fluiu, e o resto é história, hahahaha. MENON: As coisas foram acontecendo de forma gradativa, porém, natural. Não tivemos algo do tipo ir testando lá e cá pra ver o que poderia rolar. Bateu a química entre os quatro logo de primeira. Digo, tanto pessoal como musical. MARKOS: Eu acredito que nada é por acaso. Ninguém em momento nenhum pensou em formar uma super banda, até porque o que esse projeto precisa muito antes de grandes músicos, são pessoas que se disponham a fazer o rolê acontecer, e isso não é algo tão fácil de se encontrar hoje em dia. As pessoas certas entraram na hora certa.

FM: Vocês buscam trazer a influência de cada um na hora da composição ou ela tem uma linha autoral já definida? KARIM: “Tem que soar Thrash” pelo menos é o que eu falo quando estamos falando sobre composições. (risos) ANDRÉ: Cara, ele fala isso mesmo!!!! MENON: Sempre..... (risos) MARKOS: É inevitável que as ideias e influências de cada um apareçam na hora de compor as músicas, eu mesmo tenho muita influência do moderno e isso acaba encaixando legal em algumas músicas. Mas essa frase “Tem que soar Thrash” é lei na hora de compor as músicas. (risos)

FM: O que motiva a produção de letras em espanhol? Vocês enxergam a América Latina como um mercado só, mesmo que com línguas maternas diferentes? KARIM:Cantar em espanhol é a locomotiva desse trabalho. O Menon tava me cutucando há anos pra gente montar um trampo juntos e qdo ele falou “vamos fazer em espanhol” eu não pensei nem 2 segundos, topei na hora. Nunca escondi minha admiração e paixão pela América Latina, sua cultura, seus costumes, seu idioma, a comida, as pessoas e tudo mais. Quando eu ouço o San La Muerte eu penso “puta que pariu isso ficou um tesão”. Não, a América Latina não é um mercado só... são 2 mercados totalmente separados e imiscíveis. O Mercado Sulamericano é enorme e próspero e é o dos países de língua hispânica e o mercado Brasileiro que sobrevive nem sei como é outro, totalmente ilhado e separado do resto do continente, e por que não dizer ... do mundo. ANDRÉ: Para mim a motivação foi o desafio de sair da área de conforto em partes. Por mais que eu já consumisse algum metal em espanhol, criar em espanhol é completamente diferente! O Menon é parte vital nesse processo de levar o que quero dizer com as letras para uma realidade mais próxima do espanhol. MENON: Na verdade, sem a competência e sentimento de um vocalista GIGANTE como o André, minha parte seria jogada pela janela. Tudo foi muito natural no jeito com o qual ele interpretou em espanhol. Parecia que ele sempre fez isso. Portanto, dá pra sentir que nada saiu forçado nem artificial. Quando falei com o Karim com respeito a compor em

espanhol, todos nós entendemos de primeira que quebraríamos a barreira de estar ilhados de um mercado tão fértil como o da América Latina. MARKOS: Nós percebemos que existe um mercado gigante do lado do nosso país e que cantar as nossas músicas na língua espanhola, além de ser esteticamente muito bonito, abriria as portas para o San La Muerte e facilitaria o entendimento das músicas para o público.

FM: Quais os planos para o futuro? KARIM: Vou falar por mim. Lançar o disco, o que deve acontecer em maio, fazer o material de apoio promocional tipo clipe, lyric video e etc .. e sair pela América Latina para tocar, tocar, tocar e... tocar e depois tocar. MENON: Levar o “Calavera” (como alguns amigos de fora nos chamam) ao máximo de países possível e, cada vez mais, integrar o Brasil ao grande mundo underground dos nossos vizinhos. ANDRÉ: Acho que trabalho é a palavra que define os planos futuros. *Repórter gentilmente cedida pela Roadie to Metal

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A cena Black Metal brasileira sempre revelou excelentes bandas para o mundo e mesmo com nomes de extrema qualidade, por diversas vezes, se discutia a falta de criatividade e originalidade dentro do estilo. Mostrando como essa visão é totalmente errônea, os paulistas do Vazio lançaram o seu mais recente trabalho, o poderoso “Eternal Aeon Obscuro” e conquistaram uma legião de admiradores de seu trabalho diferenciado. Conversamos com Renato Gimenez (vocal/guitarra), que nos contou tudo sobre esse trabalho e as novidades do Vazio.

Por João Calixto Antes do lançamento do primeiro full lenght do Vazio, o poderoso “Eternal Aeon Obscuro”, vocês foram apontados. Como uma referência de inovação no já saturado cenário Black Metal nacional. Como vocês poderiam definir essa inovação, percebida pelo público e crítica ao trabalho de vocês? Olá todos os leitores do Fanzine Mosh, Renato Gimenez por aqui. O Vazio nasceu de uma vontade verdadeira de estabelecer um laço entre o metal extremo e as artes mortuárias e tem esse caminho abençoado pelo próprio inferno, assim me foi revelado e assim acredito. . É satisfatório ver um aumento considerável do interesse da cena pelo caminho do Vazio, é o resultado de um trabalho duro.

A trajetória do Vazio tem em seu currículo, turnês europeias, dividindo o palco com grandes nomes do underground. Como seu deu esse intercâmbio para a realização dessas apresentações? Como disse acima, somos velhos de guerra no underground com diversos aliados espalhados pelos quatro cantos. Já produzi dezenas de turnês de gente de fora aqui junto a alguns amigos e fui motorista de varias bandas que vieram para cá, então surgiram vários contatos. Também fui tocar pra fora do Brasil centenas de vezes, pra Europa seja com o Social Chaos, Armageddon, Autoboneco ou RG Noise City isso me deu um know-how de como funcionam as coisas. Além disso, temos no Vazio músicos que passaram por muitas bandas e com vasta experiência em diversas situações em estúdio, turnês nacionais, pela América Latina, Europa e outros vários buracos... Então se trata se um time que se juntou pra desenvolver um trabalho específico e bem claro. A experimentação se dá no campo da arte e do som e não no modo como conduzimos a banda. O som do Vazio, é um Black Me-

tal sem firulas, com letras que abordam vários temas dentro do ocultismo e do satanismo. Acredita que a junção desses elementos tornou a banda tão procurada e elogiada pelo público e mídia? Acredito que quando a parada é verdadeira, fica explícito para o público. Já sobre firulas, eu até acho que tem, e fazem parte do clima que vamos propondo mediante os desdobramentos dos arranjos. A banda foi citada por algumas mídias pela soma da ritualística nacional com o Black metal extremo, esses foram fatores que algumas pessoas apontaram como “de qualidade” no nosso processo, mas eu posso citar que pessoalmente eu acredito que a parada mesmo do Vazio é a criação de uma egrégora, uma atmosfera espiritual de introspecção e trazer isso para um concerto de metal extremo; com música boa em primeiro lugar né, fruto de pesquisa e desenvolvimento. O domínio sobre a explosão na entrega durante uma performance somado ao processo ritualístico interno.

O lançamento de “Eternal Aeon Obscuro” se deu durante a pandemia, onde não foi possível uma divulgação mais abrangente dele. Porém, ele foi muito bem aceito por todos que tiveram contato e o adquiriram. Pretendem continuar essa divulgação, através dos shows, assim que normalizarem as atividades no mundo? Não acredito que vamos voltar a se apresentar esse ano, mas apenas em 2022. Mas seguimos fortes compondo e mantendo a chama do nosso trabalho acessa. Temos alguns lançamentos já agendados para esse ano.

E falando em divulgação, vocês lançaram o split “Penumbra do Lamento”, junto com a banda Xico Picadinho. Conte nos como foi a concepção desse trabalho e dessa união para a realização desse split.

Conheço os integrantes do Xico Picadinho desde o começo dos 2000, pois éramos da mesma área, da zona norte de São Paulo, e desde então estamos sempre em contato com nossos projetos musicais, fruto de amizade e admiração recíproca.

O material utilizado nele, já estava pronto, ou foi especialmente composto para esse trabalho? E o resultado final, ficou de acordo com o que a banda esperava? Esse material foi composto exclusivamente para esse Split. Porém segue dentro do que nós fizemos anteriormente. A música “Fúria dos Olhos Mortos” eu gostei bastante, pois veio de uns riffs compostos pelo Nilson e acho essas colaborações sempre enriquecedoras nas composições da banda. O split é simples, curto né, mas feito de música extrema de qualidade, a arte de Rafael Frattini pra capa é uma obra maravilhosa. .

Apesar de vocês terem formado o Vazio em 2016, a experiência de vocês na cena já é indiscutível. Vocês foram literalmente forjados dentro do underground. Isso faz toda a diferença quando se produz um material voltado para um público que busca bandas com uma identificação com a cena, não? Sim, a experiência que carregamos que fazem a diferença quando vamos compor música e dirigir nossa carreira. São mais de vinte e cinco anos de underground, histórias demais, e isso ninguém nunca poderá nos tirar, são ensinamentos preciosos, um modo de vida que não há como voltar atrás. Com certeza passaremos nossa vida nesse sentido. E isso se confirma com a quantidade de splits que vocês possuem. Eles ajudaram a moldar toda a estrutura musical e lírica do Vazio? A cultura de fazer splits não é muito

característica do metal, mas sim do punk. O metal tende a ser mais individualizado e o punk mais colaborativo, isso devido a diversos dogmas e parâmetros sociais questionáveis. Mas com o Vazio foi bem natural realizar os splits com as bandas que nós admiramos e somos próximos como o Velho do Rio, o Bad Luck Rides on Wheels da Alemanha e os nossos vizinhos do Death by Starvation que são uma puta banda. Tem mais um split com o Vulcano vindo em DVD e um com os mexicanos do Skid Raid em CD. .

Vocês anunciaram o lançamento de um DVD, juntamente com o Vulcano, ainda para esse ano. Como estão os preparativos desse lançamento? Será lançado em 2021 pela Heavy Metal Rock e Sinfonia de Cães, junto a parceiros. Já em fase final de negociação.

Em nome de toda a equipe do Fanzine Mosh, agradeço á todos do Vazio e peço que deixem uma mensagem final para nossos leitores. Galera do jornalismo underground nacional, vocês são foda. Agradecemos a oportunidade de falar sobre nosso trabalho aqui e desejamos muita força pra todos vocês guerreiros do underground brazuca! Que as Chamas Negras te guiem na trajetória pelo abismo!

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MOSH 4 EVER

Edward Lodewijk Van Halen, para nós simplesmente Eddie Van Halen, ou EVH. Nascido no dia 26/01/1955 e falecido em 06/10/2020. Foram mais de 40 anos de pura dedicação à música e ao instrumento que lhe deu projeção: a guitarra. No dia em que Eddie Van Halen partiu deste mundo o guitarrista Steve Vai declarou “Vamos parar um minuto e tentar imaginar nosso mundo se ele nunca aparecesse. É impensável.” Acho que esta frase sintetiza todo o sentimento de orfandade que assolou o mundo da guitarra. O mundo da música e principalmente da guitarra realmente é impensável sem ele. Sinceramente acho que não iremos conseguir mensurar o tamanho desta perda. Pelo menos não de imediato. Levaremos alguns anos pra isso.

por Emerson Mello As manifestações a cerca da morte dele foram diversas e intensas, desde fãs simples mortais como nós, até mesmo a ícones da guitarra como John Sykes e até mesmo Ritchie Blackmore, que chegou a declarar que Eddie foi o “último guitar hero”. Frank Zappa disse que Eddie reinventou a guitarra, ao passo que Sykes disse que Eddie foi o “melhor dos melhores”. Um cara que tem em sua fileira de admiradores nomes como estes e ainda somados a Randy Rhoads, Yngiwe Malmsteen e outros que nem caberiam aqui por falta de espaço, merece sim toda nossa admiração e respeito. O fato curioso é que a principio a guitarra não foi escolha de Eddie e nem seu primeiro instrumento. Por influencia do pai que era músico, ele e o irmão Alex tiveram aulas de música e Eddie tocava piano. Posteriormente ele ganhou uma bateria e Alex uma guitarra. Alex vivia tocando a bateria dele escondido e quando Eddie descobriu ficou furioso e esbravejou “já que é assim vou tocar sua guitarra!”. Por inocência ou instinto, Alex fez com que ambos encontrassem o instrumento certo. Tendo Eric Clapton como uma das suas principais influencias, Eddie sempre declarou que gostava dele pela simplicidade na abordagem musical. Isso somado à falta de grana para comprar instrumentos e equipamentos caros fez com que Eddie fosse aos poucos moldando e forjando seu próprio estilo e também desenvolvendo gosto por ‘fuçar’ nos equipamentos para adaptá-los a chegar no som que ele queria. Ele disse uma vez que não era muito fã de Hendrix e “que não tinha grana pra comprar um wah-wah” então de forma natural e até instintiva seguiu por outro caminho, criou seu próprio mundo da guitarra e que anos mais tarde se tornou ‘O’ próprio mundo da guitarra. Eddie declarava que não se via como guitarrista e sim como um luthier e estava sempre experimentando e criando coisas novas. Foi assim até mesmo antes da sua morte. Uma declaração bem modesta para alguém que foi um gênio da guitarra, e este espirito inovador e de constante evolução talvez fosse uma

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coisa natural, de tentar fazer ‘suas coisas’ e ele mesmo não tinha dimensão de que aquilo iria transformar totalmente os rumos da história da guitarra. Além do seu estilo único e inconfundível com seus solos maravilhosos, ele foi o responsável pela (r)evolução e criação da Super Strat. Como guitarrista ele nunca gostou das tradicionais Les Paul e Fender Strato, então sua ideia básica consistiu em pegar o melhor de cada uma delas e criar algo novo, daí nasceu a famosa Frankenstein(ou Frankenstrat). De forma simples, o conceito da Frankenstrat basicamente se consistia numa guitarra com corpo de Strato mas também combinar a captação single da strato com captação de hambucker(bobina dupla) que era característica da Les Paul. Assim ao mesmo tempo ele conseguia um som mais encorpado do que as Stratos comuns e por outro lado um som mais ‘aberto’ e agressivo do que a Les Paul. O timbre peculiar da distorção da guitarra também era obtida através de umas das ‘engenharias’ do Eddie: utilizar um transformar Variac pra abaixar a tensão, então ele conseguia saturação sem precisar colocar o amplificador em volumes absurdos e um timbre totalmente diferente e original. Uma ideia genial. Podemos conferir este resultado no álbum de estreia do Van Halen lançado em 1978. Falando em amplificadores, isto era outra coisa que Eddie gostava de fuçar e fazer alterações, sempre à procura do seu som único. Existem lendas e comentários de bastidores de que EVH tinha um ouvido absurdamente apurado para reconhecer timbres de madeira e captadores diferentes. Interessante como a Frankenstrat não só passou a integrar o imaginário coletivo do mundo dos guitarristas, mas sim virou um ícone visual do Rock: era impossível não ver uma foto desta guitarra e não associá-la ao Eddie Van Halen. Confesso que quando ele apareceu usando uma nova guitarra, a Music Man, com um design totalmente ‘normal’ e ‘careta’ custei muito tempo pra assimilar, pra mim simplesmente aquele modelo de guitarra ‘não combinava’ com ele! Coisas de memória afetiva...


A genialidade de EVH está não só na questão de luthieria, aonde ele criou e inventou bastante coisa (nem todas citadas aqui), mas também musicalmente aonde ao longo da sua carreira criou riffs sensacionais, solos incomparáveis e compôs músicas inesquecíveis, sem contar que a banda Van Halen se tornou um dos maiores nomes do Rock de todos os tempos vendendo mais de 90 milhões de álbuns em todo o mundo. Em tese o Van Halen era uma banda de Hard Rock, ou simplesmente uma banda de Rock, mas suas músicas conseguiam extrapolar as fronteiras do estilo e agradar qualquer tipo de público que não fosse necessariamente roqueiro. E o mais interessante e curioso é que os solos altamente técnicos e complexos estavam lá em todas as músicas, mas encaixavam tão bem dentro da música que soavam muito bem aos ouvidos de qualquer um. Isto se chama genialidade. Atingir este nível é pra um grupo bem seleto de músicos:transformar algo tecnicamente complexo em algo agradável de se ouvir. A prova clara disso é o antológico solo que ele fez para o mega hit ‘Beat it” de Michael Jackson. Coisa que ele fez de forma despretensiosa num período de férias do Van Halen e se tornou um dos maiores solos de guitarra de todos os tempos. Reza a lenda que ele levou pouco mais de 20 minutos pra gravar este solo, sendo que o terceiro take foi o que valeu. A história deste gravação é bem curiosa e muitos já devem conhecer. O Van Halen estava de férias e Eddie estava em casa. Steve Lukather,

grande amigo pessoal de EVH estava participando das gravações do álbum e Michael disse que queria um guitarrista que desse ‘toque diferente’ pro álbum. Lukather disse que sabia exatamente quem eles estavam procurando e indicou o amigo. A principio quando recebeu a ligação de Quincy Jones ele achou que era trote e desligou na cara do produtor. Depois que o mesmo insistiu e ligou novamente Eddie levou a sério e topou gravar. Em entrevistas Eddie já confessou que a princípio nem tinha gostado da música, mas achava que o disco não daria em nada e que ninguém ficaria sabendo. Bem, o resultado todos já sabemos: um dos álbuns mais vendidos da história e um dos solos de guitarra mais famosos de todos os tempos. Tão difícil quanto reproduzir seus complexos solos é tentar encontrar uma foto do EVH em que ele não esteja sorrindo. Esta alegria contagiante era uma das características marcantes da personalidade dele. Quando víamos os caras do Van Halen no palco, era nítido que eles estavam se divertindo e isto era contagiante. Principalmente nos dias de hoje é raro vermos esta entrega, esta alegria em estar no palco, parece que tudo simplesmente virou trabalho de escritório com um horário a ser cumprido. Talvez isto nos ajude a entender um pouco da genialidade de EVH e entender porque ele se tornou o que ele é. No presente do indicativo mesmo, porque o legado de EVH é imortal.

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