5 minute read

> O QUE DIZEM OS ESPECIALISTAS

FÁTIMA CARDOSO Diretora da Unidade de Mama do Centro Clínico Champalimaud

«O RASTREIO E O DIAGNÓSTICO PRECOCE SALVAM VIDAS»

Advertisement

Por ano existem seis mil novos casos de cancro da mama em Portugal. Prevenir é fundamental e, por isso, a oncologista Fátima Cardoso deixa o alerta: Procure o médico ao menor sinal de que algo não está bem.

REVISTA H – QUAL É O RETRATO DO CANCRO DA MAMA EM PORTUGAL? FÁTIMA CARDOSO (FC) – A situação portuguesa é semelhante à europeia e aos chamados países desenvolvidos. Em Portugal há cerca de 6 mil novos casos por ano e morrem cerca de 1500 pessoas anualmente por cancro da mama. A incidência deste tipo de cancro continua a aumentar, apesar da mortalidade ter vindo a baixar desde os anos 90. Estima-se que esta queda na taxa de mortalidade (30%) se deve, em primeiro lugar, ao rastreio e ao diagnóstico precoce, mas também ao desenvolvimento de novos e melhores tratamentos. H – OS CASOS DE CANCRO DE MAMA TÊM AUMENTADO MUITO? FC – Em todo o mundo ocidental há mais casos novos, mas não há mais mortes, o que é uma boa notícia. No entanto, é indispensável que as mulheres estejam sempre atentas. As taxas de cura são de 70% nos casos de cancro precoce, ou seja, diagnosticado sem metástases, sem ramificações noutros órgãos que não a mama. O cancro de mama avançado, já com ramificações, é incurável.

H – O DIAGNÓSTICO PRECOCE É FUNDAMENTAL PARA SE “ATACAR” O PROBLEMA ATEMPADAMENTE? FC – O diagnóstico precoce é o facto mais importante. Quando é diagnosticado atempadamente, o cancro da mama tem uma taxa de cura elevada, cerca de 65 a 70%. Mas para isso é preciso que se faça o rastreio – ter em conta fatores como a idade, a história familiar, entre outros -, mas nunca esquecendo a importância de se estar atento a qualquer sinal ou sintoma que apareça. O rastreio e o diagnóstico precoce salvam vidas! H – QUAIS SÃO OS SINAIS QUE PODEM INDICIAR A PRESENÇA DESTE CANCRO? FC – O aparecimento de nódulos na mama, uma escorrência mamilar (corrimento), uma assimetria entre as duas mamas que não existia. Saliento a importância de se estar atento ao corpo, de conhecê-lo bem e procurar imediatamente o médico se for detetada qualquer anomalia. H – A PALPAÇÃO MAMÁRIA DEVE SER DIÁRIA? FC – Não é necessário. A mulher deve fazer a palpação mensal, logo a seguir ao término do período. H – É POSSÍVEL PREVENIR OU REDUZIR A INCIDÊNCIA DESTE TIPO DE CANCRO? FC – Não há como preveni-lo. O que se pode é ter um estilo de vida mais saudável, com uma alimentação mais cuidada, praticar exercício físico e não fumar. Especialmente nas idades mais jovens é muito importante não fumar e não beber (álcool), pois estes hábitos provocam alterações importantes na estrutura da mama e aumentam o risco de cancro. Somente nos casos de cancro hereditário, que correspondem a 10% de todos os cancros da mama, se poderá fazer alguma prevenção com as cirurgias profiláticas como, por exemplo, as mastectomias profiláticas ou a remoção dos ovários. H – QUAIS OS PRINCIPAIS FATORES DE RISCO PARA O SEU DESENVOLVIMENTO? FC – Os dois principais fatores de risco não são modificáveis: Ser mulher e a idade, porque a incidência do cancro da mama aumenta com o avanço da idade. Contra estes dois fatores de risco, não podemos fazer nada. Se houver uma incidência do cancro da mama na história familiar, também não podemos modificar este fator de risco. Mas há outros que podem potenciar o aparecimento deste cancro e que são modificáveis, como a obesidade, o tabaco e o álcool. H – PERANTE O DIAGNÓSTICO POSITIVO, O QUE DEVERÁ SER FEITO? FC – Os doentes diagnosticados com cancro da mama ficam angustiados e querem rapidamente tratar do problema, mas importa haver tranquilidade e decidir com segurança onde ser tratado. Devem procurar Unidades da Mama, que são altamente especializadas e que contam com equipas de oncologistas e cirurgiões especializados no cancro da mama. Está provado que o tratamento em unidades multidisciplinares e especializadas aumenta a sobrevida. H – QUE NOVIDADES EXISTEM NO TRATAMENTO NESTA ÁREA? FC – Pese embora ainda não se ter descoberto a cura para esta doença, há novos tratamentos eficazes. Na última década começámos a entender melhor a biologia do cancro da mama, o que trouxe grandes avanços nas terapias. A quimioterapia mata boas e más células, semelhantemente a uma bomba numa guerra. Os novos medicamentos agem como mísseis, ou seja, atuam de forma precisa e localizada e matam menos células normais. Na cirurgia e na radioterapia, os avanços também têm sido muitos, no sentido de melhorar a eficácia e reduzir os efeitos laterais. H – OS HOMENS TAMBÉM DESENVOLVEM CANCRO DA MAMA, EMBORA SEJA MAIS RARO. FC – Nos homens, o cancro da mama é considerado uma doença rara. Corresponde a 1% de todos os tipos do cancro da mama e também a 1% de todo o tipo de cancro no homem. H – A QUE SE DEVE O SEU APARECIMENTO, A ALGUM DESEQUILÍBRIO HORMONAL? FC – O homem também tem glândula mamária, que pode desenvolver malignidade. O cancro da mama no homem é quase sempre do tipo hormonodependente e tende a ser desvalorizado porque os homens não pensam que um determinado nódulo que apareça esteja relacionado com a mama. No entanto, é muito importante estar atento e sempre que surja algum sinal ir rapidamente ao médico. Os médicos, por sua vez, devem ter atenção a este tipo de ocorrências e não desvalorizar. H – QUE IDEIAS PRECONCEBIDAS DEVEM SER DESMISTIFICADAS? FC – Atualmente, o diagnóstico de cancro da mama já não é uma sentença de morte. A taxa de sucesso, nos casos em que há um diagnóstico atempado, é bastante alta. Por outro lado, há mulheres que evitam fazer mamografias para “evitar as radiações”, mas estas, hoje, são perfeitamente residuais e praticamente inócuas para a saúde.

This article is from: