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MODA E EDUCAÇÃO - PARCERIA NA CAMINHADA PARA A SUSTENTABILIDADE: UM RELATO DA EXPERIÊNCIA DO FR 2022 NO IFGO

Elisãngela Tavares da Silva; IFG; @elisangela.silva@ifg.edu.br Márcio Soares Lima; IFMA; marcio.lima@ifma.edu.br Regis Pupim, IFG; regis.puppim@ifg.edu.br Yane Ondina de Almeida; IFG; yane.almeida@ifg.edu.br

Resumo: Com os temas - Direitos, Relacionamentos e Revolução, os relacionamentos individuais e coletivos com a natureza, precisam ser reconhecidos. Na Semana Fashion Revolution no IFG, entendemos que as discussões apontaram para conscientizar a todos sobre os impactos socioambientais do setor, apoiar e reconhecer o valor das pessoas, incentivar a transparência e fomentar a sustentabilidade.

Palavras-chave: Sustentabilidade; Revolução da moda; Educação e Relacionamentos

INTRODUÇÃO

Com a proposta de discussão: Direitos, Relacionamentos e Revolução, no qual os direitos da natureza e os direitos humanos, os relacionamentos individuais e coletivos com a natureza, precisam ser reconhecidos e, o modelo econômico adotado ( superprodução e descarte desordenado), precisa ser repensado a fim de buscarmos outras alternativas de modelos econômicos viáveis, trouxemos para o IFG a edição do Fashion Revolution em formato digital, em 2021, que ocorreu dessa forma por conta da pandemia de Covid-19.

Esse foi o pontapé para que a comunidade fosse inserida nas discussões do movimento, que é global e, busca a adesão da indústria de moda para que ela seja limpa, segura, justa, transparente e responsável, de forma que a pesquisa, a informação, educação, colaboração e mobilização da sociedade possa trazer o poder de transformação da cadeia de moda de forma positiva, a fim de conscientizar a todos sobre os impactos socioambientais do setor, apoiar e reconhecer o valor das pessoas por trás das roupas, incentivar a transparência e fomentar a sustentabilidade.

Em 2022 demos continuidade às discussões no campus do IFG conta com atividades promovidas por voluntários, desenvolvendo ações mobilizadoras de incentivo aos consumidores a questionarem suas marcas favoritas: #QuemFezMinhasRoupas; #aCorDeQuemFezMinhasRoupas; #DoqueSaoFeitasMinhasRoupas.

Uma reflexão que traz à tona a necessidade de conscientização sobre o verdadeiro custo que a cadeia produtiva tem desde o processo de produção ao consumo e, seu impacto social e ambiental.

DESENVOLVIMENTO

Em 2022 o Fashion Revolution propôs discussões acerca do tema: DINHEIRO, MODA e PODER e para o qual propusemos a participação engajada do IFG neste movimento por meio de ações que ocorreram de forma digital e presencial, garantindo também a ampliação e o fortalecimento da relação entre a escola e a sociedade, através da adesão à campanha, em ambiente digital que mostra ao mundo que é possível mudar a cadeia de moda através da educação e do processo de conscientização da comunidade para que as transformações sejam concretizadas na indústria da moda.

Figura 1: Semana FR 2022 no IFG.

Fonte: AUTORES, 2022.

Acreditando no poder da educação o Fashion Revolution estabelece ações articuladas com as instituições de ensino, unindo trabalhadores da educação, docentes e discentes que acreditam em uma moda para a sustentabilidade.

A programação contou com palestras, roda de conversa, onde discutimos possíveis caminhos para a conscientização sobre a sustentabilidade e a moda, assim como a exibição e discussão do documentário: A História das Coisas: os impactos causado por esse sistema na natureza, na sociedade e nos seres humanos e seus custos reais.

Abrimos espaço para uma mesa aberta para a sustentabilidade e moda: diálogo com a comunidade, espaço para falas, críticas, questionamentos e contribuições, repensando o zero waste – alternativas na geração de resíduos têxteis, além de várias contribuições de discentes, e profissionais que atuam na cadeia produtiva de moda em diversos lugares do Brasil.

As discussões trouxeram a comunidade acadêmica no IFG, o despertar para alguns temas, tais como: não gerar resíduos ou o mínimo possível; o que deve prevalecer no processo: o melhor aproveitamento ou menor custo; o que você pode fazer para melhorar para o futuro; como parte da cadeia produtiva de moda? Essas indagações suscitaram o despertar da comunidade para o consumo desregrado que vivemos, assim como os direitos humanos e da natureza que não são respeitados e para o impacto que a indústria de moda causa nas pessoas e no meio ambiente. Nesse sentido, a sustentabilidade tem sido um tema recorrente no contexto atual. Ele é debatido e disseminado desde as mídias de massa atingindo uma população mista até nos eventos institucionais e políticos mundiais. Contudo, embora amplamente difundido, seu significado, em uma lógica inversa torna-se cada vez menos claro. (KAZAZIAN, 2005).

Diversas áreas do conhecimento já têm incorporado, ou pelo menos iniciado, a noção de sustentabilidade já que tais ameaças que pesam sobre o mundo recaem em cada indivíduo. Em meio a campos tão diversos há uma constatação unânime: a quebra dos paradigmas atuais, sendo eles o ambiental, econômico, sociocultural e político que articulam como as relações são consolidadas na contemporaneidade entre produção, consumo e descarte de produtos, pós-revolução industrial. O Fashion Revolution nos chama a reflexão sobre os direitos humanos e os direitos da natureza que são conectados e interdependentes.

“Nós somos parte de algo maior da vida na Terra, nós somos natureza. Se o meio ambiente não estiver saudável, nós também não estaremos. Assim, precisamos revolucionar a forma como nos relacionamos, tanto na esfera individual, como na coletiva, considerando todas as pessoas da cadeia produtiva da moda e a Natureza, para então alcançar a saúde, o bem-estar e a prosperidade para todas as pessoas e para o Planeta” (FASHION REVOLUTION 2021).

Para haver sustentabilidade é importante não perder de vista a visão holística de toda atividade humana no ecossistema. Esta, por sua vez, quando mal planejada pode ser sentida em maior ou menor escala, para além dos limites imagináveis. Dessa forma, o esforço para se aproximar da sustentabilidade depende da articulação entre diversos setores da sociedade.

“É preciso a formação de uma convergência de todas as forças da sociedade, veiculadas por meio das ciências e técnicas, da educação e da comunicação e, inevitavelmente, da ética privada e pública fundada nos princípios da justiça e da compaixão” (DANSEREAX, 1998, p.23-25).

Padrões de segurança e saúde ainda não existem para muitas das pessoas que trabalham na cadeia produtiva de moda e, veem seus direitos humanos violados diariamente. Enquanto isso, heranças culturais e trabalhos artesanais estão sendo engolidos por produções em massa. Corremos o risco de perder técnicas antigas que são passadas de geração em geração em comunidades ao redor do mundo. Isso quer dizer que os modelos de negócios precisarão mudar e soluções precisarão ser criadas.

CONSIDERAÇÕES E REFLEXÕES FINAIS

É isso que buscamos instigar na comunidade do IFG e adjacências, se as pessoas sabem de onde vêm suas roupas, ou se elas podem ser despertadas para um consumo consciente, pois ele incentiva que tenhamos mais consciência dos produtos que consumimos de onde eles vêm e qual a responsabilidade social o fabricante possui e até mesmo a valorização de produtos regionalizados. Fomentar o debate sobre moda e raça na moda bem como, a indagação de qual é a cor das pessoas que fazem as nossas roupas, e quais os cargos essas pessoas ocupam na moda. O modelo econômico em uso alicerça-se na superprodução e consumismo e descarte sem responsabilidade, se faz necessário identificar e fomentar alternativas de modelo econômico.

Os direitos da natureza precisam ser reconhecidos e os direitos humanos garantidos para todos, na perspectiva de gênero e raça, buscando reparação e justiça social, bem como o resgate da ancestralidade e o colonialismo estruturante dos nossos relacionamentos.

“Na Semana Fashion Revolution 2021, queremos mobilizar pessoas para além da nossa comunidade, amplificar vozes não ouvidas ou marginalizadas, e trabalhar juntos em prol de soluções inovadoras e interconectadas. Agora é a hora da revolução na moda” (FASHION REVOLUTION 2021).

E para dar continuidade ao debate que justificamos a adesão e realização da segunda participação na Semana Fashion Revolution do IFG, pois temos eixos articulados que podem trabalhar tais questões para além da sala de aula e problematizarem o consumo de modo geral alertando a sociedade e sua parcela para a construção de uma moda para a sustentabilidade.

“Trazer à tona conceitos de sustentabilidade para os profissionais de moda em formação parece ser uma estratégia oportuna para a mudança do cenário dessa indústria pois, é no momento de projetar e desenvolver um produto que se pode investigar e inserir conceitos de sustentabilidade com maior eficiência; além de minimizar possíveis problemas desse setor tão essencial para a sociedade contemporânea” ( GONZAGA e SANTOS, 2020, p.56/57).

Com as discussões podemos apontar que moda e sustentabilidade são antagônicas com o sistema de produção vigente e, que a moda não é sustentável, ela deverá caminhar para a sustentabilidade, instaurando processos no quais leve os consumidores a serem mais racionais ou suficientes. Levar-nos a refletir sobre qual a origem dos materiais utilizados nos processos, questionando se é reciclado ou orgânico, de onde vem e quais os impactos causarão. Para além, deverá instigar um novo comportamento de consumo, para que o mesmo seja mais racionalizado. Há que se atentar para o fim da vida do ciclo do produto, se há possibilidades de ser reciclado, como vai ser descartado e pensar na transparência do produto e na comercialização do mesmo.

Trazer para o ambiente educacional a discussão sobre a cadeia produtiva de moda, ajuda na formação do discente para que ele volte o olhar para ser mais consciente e humanizado e, para além o profissional do mercado de trabalho com uma postura diferente, com o despertar da consciência para que a moda seja justa, limpa, transparente, que valorize pessoas e a natureza.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

DANSEREAX, Pierre. In Ecologia Humana, ética e educação: a mensagem de Pierre Dansereau. Florianópolis, Palloti,1998. FASHION REVOLUTION. A Semana da Revolução da moda. Disponível em: https://www. fashionrevolution.org/ Acesso em 18 de julho de 2022. FASHION REVOLUTION. Educar para revolucionar: um manual para fomentar e disseminar práticas sustentáveis em sala de aula do Brasil. Disponível em: Disponível em: https://www. fashionrevolution.org/south-america/brazil/ Acesso em 18 de julho de 2022.

FASHION REVOLUTION. [website]. Fashion Revolution Brazil. Disponível em: < https://www. fashionrevolution.org/south-america/brazil/>. Acesso em: 18 de julho de 2022. FLETCHER, Kate e GROSE, Linda. Moda e Sustentabilidade – Design para Mudança São Paulo: Senac, 2012.

GONZAGA, Liliane da Silva. SANTOS, Maria Cecília Loschiavo dos. O consumo dos arti-

gos de vestuário e o ensino de sustentabilidade nos cursos superiores de moda no

Brasil. Fórum Fashion Revolution, 2020. Disponível em: Ebook 2020 anais.pdf

KAZAZIAN, Thierry. Haverá a idade das coisas leves: design e desenvolvimento sustentável/ organizado por Thierry Kazazian; traduçãoo de Eric Roland Rene Heneault. – São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2005.

LIPOVETSKY, Gilles. O império do efêmero: a moda e o seu destino nas sociedades modernas. São Paulo: Cia. das Letras, 2009.

SACHS, Ignacy. Estratégias de transição para o século XXI: desenvolvimento e meio ambiente. São Paulo: Nobel, 1993.

STELZER, Joana e WELTER, Leonardo de Melo. A relevância dos princípios do comércio justo para a consolidação da sustentabilidade mundial. Centro Universitário Estácio: Revista Estação Científica, N. 21, JAN/JUN 2019 . Juiz de Fora, 2019. Disponível em: https://portal.estacio.br/media/3733733/a-relev%C3%A2ncia-dos-princ%C3%ADpios-do-com%C3%A9rcio-justo-para-a-consolida%C3%A7%C3%A3o-da-sustentabilidade-mundial.pdf Acesso em 18 de julho de 2022.

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