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MODA, PESSOA COM DEFICIÊNCIA E ENVELHECIMENTO
Geraldo Coelho Lima Júnior; Universidade Anhembi Morumbi; glimadesign58@gmail.com Resumo: O presente texto busca trazer uma revisão da literatura inicial tendo em vista as possíveis relações entre a Moda e a Pessoa com Deficiência (PCD) com recorte para esse estudo no corpo envelhecendo / envelhecido, dada a importância de se refletir acerca de modos de pensar e desenvolver pesquisas e projetos em moda considerando possibilidades de ampliar a discussão dentro do tema.
A MODA E O CORPO ENVELHECENDO/ENVELHECIDO
A Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) 2019, divulgada hoje (26/08/2021*) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revela que havia no Brasil, naquele ano, 17,3 milhões de pessoas de 2 anos ou mais de idade com deficiência em pelo menos uma de suas funções. O número correspondia a 8,4% da população nessa faixa etária (GANDRA, 2021) (*grifo nosso)
O recorte dos resultados da pesquisa disposto acima pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a partir de Gandra (2021), voltado a informar o número de pessoas com deficiência no Brasil revela ainda outros pontos que merecem atenção o que inclui o grau de escolaridade, a faixa etária, condições socioeconômicas, dentre outros. Nesse âmbito, vale considerar que os números registrados apontam 8,5 milhões de pessoas acima de 60 anos. Nesse texto propõe-se uma reflexão necessária que caminha por duas questões, ou seja, a moda e suas relações com os corpos da pessoa com deficiência (PCD), de um lado, e de outro da pessoa considerada idosa.
É possível também tratar de outro modo o que aponta o parágrafo anterior, ou seja, do corpo envelhecendo/envelhecido da pessoa com deficiência e sua relação com a moda. Assim, as então duas questões elencadas anteriormente abrem espaço para uma reflexão ainda não habitual e que as une. “A busca de identificação dos indivíduos com ícones mediáticos vai se tornando lugar comum no contemporâneo” (VILLAÇA, 2007, p. 148), porém observa-se que essa parcela de indivíduos com alguma deficiência encontra pouca ou quase nenhuma representatividade.
O relatório Envelhecimento no Século XXI: Celebração e Desafio, publicado em 2012 pelo Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), aponta que “No mundo todo, a cada segundo 2 pessoas celebram seu sexagésimo aniversário – em um total anual de quase 58 milhões de aniversários de 60 anos”. Nesse amplo grupo populacional encontram-se pessoas com deficiência. A pergunta que propõe esse texto é: como pessoas com mais de 60 anos e com deficiência são contempladas com peças de roupas lançadas pelas coleções de moda?
Em busca de elaborar uma definição para o que é a moda, Svendsen (2010) propõe duas categorias principais, a primeira como algo relativo ao vestuário e como segunda possibilidade “um mecanismo, uma lógica ou uma ideologia geral que, entre outras coisas, se aplica à área do vestuário” (SVENDSEN, 2010, p.7). A moda também traria uma ligação com a “inserção social como de diferenciação de classes e por outro pela identificação da individualidade própria de cada indivíduo” (NORONHA; CORREIA, 2021, p. 5). Nesse sentido, vestir-se é um modo de expressão do indivíduo, o modo como ele se apresenta na sociedade.
Mas, o que significa o ato de se vestir em uma relação com o tempo gasto para essa atividade por parte de um corpo envelhecendo/envelhecido? Para Schemes e Schuch (2021), de acordo com entrevistas realizadas junto a mulheres nessa faixa etária, o tempo médio se encontra entre 5 e 7 minutos, considerando a versatilidade das peças de roupa, ou seja, que não contemplem dificuldade ao vestir. Na pesquisa das autoras considera-se as restrições apresentadas para esses corpos, porém não está contemplado o público com deficiências, sejam elas sensoriais, físicas, motoras, ou intelectuais, fatores que precisam ser considerados para o estudo que se inicia com a proposta do presente texto. Tonarque (2012, p. 49) aponta em sua pesquisa que “inexiste ou aparece ‘camuflada’” a relação entre velhice e moda na sociedade brasileira. A literatura que trata esse tema ainda se apresenta escassa, segundo a autora, sendo possível encontrar alguma ponderação a esse respeito em sites ou blogs que versam sobre o assunto,
dentre eles o Nova Maturidade (https://www.novamaturidade.com.br/a-moda-e-os-desafios-do-envelhecimento/), o Portal do Envelhecimento e Longeviver (https://www.
portaldoenvelhecimento.com.br/qual-o-lugar-da-velhice-na-moda/). Zulli (2012, p. 32) contribui com essa reflexão quando destaca a necessidade “de uma moda que privilegie o aspecto funcional do idoso”, tendo em vista que os produtos de moda disponíveis no mercado, de maneira ampla não estão adequados e não atendem “as eventuais limitações desse público específico”. Do mesmo com que a relação entre moda e pessoa idosa apresenta-se em um estágio de poucas investigações, no que tange, ou se amplia, para a pessoa idosa com deficiência a literatura mostra-se, ainda mais, em fase de parcos estudos. Desse modo, esse texto busca trazer uma revisão primária dessa literatura, com vistas a contribuir com estudos voltados a essa temática.
A MODA E O CORPO ENVELHECENDO/ENVELHECIDO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA
Oliveira et al (2015) posicionam-se em relação a um dos aspectos que dizem respeito ao desenvolvimento de produtos de moda destinados à pessoa idosa com deficiência, inicialmente referindo-se ao fato de que peças do vestuário voltadas a esse público trazem detalhes que facilitam o ato de vestir, mas ponderam que em muitos casos a funcionalidade e a usabilidade em grande parte é observada em relação a pessoas cadeirantes, ou que fazem uso de sondas, porém não são eficientes para pessoas com deficiência fora dessas condições, o que torna essas peças inadequadas e desconfortáveis para pessoas andantes.
Por sua vez, Almeida et al (2018, p. 160) dispõem que já existem estudos que contemplam “preocupações com idosos em projetos de ambientes, embalagens e no design gráfico, porém, no design de moda não se observa ainda parâmetros que atendam à essa faixa da população de forma plena e eficiente”. “Envelhecer é para todos: cartilha gratuita sobre direitos do idoso com deficiência” foi publicada em 2021 e poderá agregar contribuições para o presente estudo em fase inicial. Foram também identificadas outras fontes, ainda em análise, que se dedicam a tratar a moda e a pessoa com deficiência idosa, relacionando a especificidades do envelhecimento como a perda de massa magra, a deficiência intelectual, a mobilidade reduzida, dentre outras.
Entende-se que o tema central desse texto poderá ser ampliado com o objetivo de trazer tanto questionamentos quanto indicação de possibilidade de desenvolvimento de produtos e de serviços de moda que se voltem para a pessoa idosa com deficiência. Para além dos produtos, vale ressaltar que, em uma sociedade em que as tecnologias de comunicação se expandem em velocidade acelerada e os meios de acesso e consumo de produtos de moda se diferenciam, torna-se evidente a necessidade de contemplar recursos assistivos em um horizonte mais amplo de ofertas de atendimento a todos os públicos, aqui especialmente incluídas as pessoas idosas com deficiência. Com base nesses levantamentos iniciais propõe-se a continuidade dessa pesquisa por meio de entrevistas semiestruturadas e ampliação da revisão literária, primeiramente junto a pessoas com deficiência visual (etapa 1) e o cruzamento de dados estatísticos referentes à população idosa com e sem deficiência visual (etapa 2) com vistas a trazer perspectivas para projetos em moda, no âmbito de desenvolvimento de produtos e no tocante à gestão da acessibilidade (etapa 3).
Essa direção é dada tendo em vista os estudos já realizados por esse autor desde 2002 (LIMA JÚNIOR, 2005, 2008, 2016) junto a pessoas com essa deficiência, em específico, de modo a contemplar a identificação das necessidades, dos hábitos, dos costumes desta população e a partir do contexto presente nesse artigo, composta por pessoas idosas com deficiência visual.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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LIMA JÚNIOR, Geraldo Coelho. Sentidos paralelos: percepção e sensorialidade na moda. Monografia, Especialização em Moda e Comunicação on-line em Arte e Cultura, 2005. __________________________. Conexões táteis: sensorialidade no design de moda no segmento do vestuário masculino. Dissertação. Mestrado em Design, 2008. __________________________. Meio segundo...: a geração z e o processo de ensino-aprendizagem no ensino superior. Monografia. Especialização em Neurociência aplicada à educação, 2016. __________________________. Design de moda e neuroeducação: o desenvolvimento de uma metodologia de desenvolvimento projetual aplicado a pessoas com deficiência visual. Tese. Doutorado em Design, 2016. NORONHA, Izabella Araújo; CORREIA, Claudia de Castro. A relação da moda com a terceira idade: as vovós fashionistas. Disponível em: https://repositorio.ufc.br/bitstream/riufc/61419/3/2021_tcc_ianoronha.pdf Acesso em: 01 de julho de 2022.
OLIVEIRA, Driélli Valério de; FAGANELLO, Laís Regina; ROSSI, Andressa; MEDOLA, Fausto Orsi; PASCHOARELLI, Luis Carlos. Aspectos Inclusivos da Moda com Foco nas Pessoas com Deficiência Visual. Disponível em: inclusivosmodadeficinciavisual.pdf (utfpr.edu.br) Acesso em: 16 de junho de 2022. SCHEMES Claudia; SCHUCH Malusa Fernanda. Moda, conforto e inovação no vestuário de mulheres idosas. Disponível em: https://periodicos.feevale.br/seer/index.php/revistaconhecimentoonline/article/view/2234 Acesso em 01 de julho de 2022.
TONARQUE, Suely Aparecida. Velhice e moda: incursões históricas e realidade atual. Disponível em: https://sapientia.pucsp.br/handle/handle/12404 Acesso em: 16 de junho de 2022. UNFPA / Fundo de População das Nações Unidas. Envelhecimento no Século XXI: Celebração e Desafio. 2012. Disponível em: https://unfpa.org/sites/default/files/pub-pdf/Portuguese-Exec-Summary_0.pdf Acesso em: 18 de junho de 2022. VILLAÇA, Nízia. A edição do corpo: tecnociência, artes e moda. Barueri, SP: Estação das Letras Editora, 2007.