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A MODA SUSTENTÁVEL É MAIS DO QUE O PRODUTO: ESTUDO DE CASO DA MARCA INSIDER STORE

Karen de Souza do Prado, Insider Store, karen.prado@insiderstore.com.br Augusto Oliveira Korukian, Insider Store, augusto@insiderstore.com.br Uiara Costa de Andrade, Insider Store, bonjour@agenciacatu.com

Resumo: Construir uma marca sustentável se baseia em fazer escolhas e ter um plano de negócio orientado para a sustentabilidade desde o começo. Nesse sentido, é imprescindível fazer uso de tecnologia e saber como a marca se posiciona e o que ela oferece de valor. Este estudo visa analisar como a marca Insider Store usa esse conhecimento e legitimidade como alavanca para atrair investidores e clientes.

Palavras-chave: Moda sustentável, Tecnologia, Inovação, Indústria brasileira.

INTRODUÇÃO: A MARCA

A Insider Store é uma das startups de moda que mais crescem no Brasil. Foi fundada em 2016, mas já possui mais de 300 mil clientes. É pioneira como Digitally Native Vertical Brands (DNVB) do Brasil, e utiliza tecnologia para tornar as roupas do dia a dia mais funcionais, confortáveis e duráveis. Considerando a produção sustentável central em seu ethos, a marca foi criada para atender a escolhas mais conscientes, qualidade acima da quantidade e estética atemporal, se contrapondo ao modelo de consumo fast fashion. Começou com a categoria underwear para depois desenvolver uma linha concisa de roupas funcionais para qualquer gênero.

A empresa tem como seus principais pilares tecnologia, inovação, funcionalidade e sustentabilidade. Como referência no ramo de tecnologia têxtil e roupas inteligentes no Brasil, a marca fundada por Carolina Matsuse e Yuri Gricheno é descrita como minimalista e inspirada no esporte e lifestyle contemporâneo sem excessos.

SUSTENTABILIDADE COMO PILAR

De acordo com o Future Brand (2021), a sustentabilidade é um assunto na vanguarda da consciência pública e com o qual as marcas continuam se engajando como um conceito. No entanto, a sustentabilidade evoluiu além das preocupações ambientais para algo muito maior, um tema que exige mais do que simples sentimentos: trata-se de uma nova mentalidade sustentável.

Além da busca constante por inovação, a Insider tem a sustentabilidade como pilar norteador de todas as suas práticas, desde a escolha dos materiais e tecnologias usados nos tecidos à concepção de produtos duráveis que possam ser usados em todas as estações do ano, reforçando a importância ambiental de peças minimalistas. Com isso, contribui com uma revolução sistêmica da indústria da moda, uma das mais poluidoras do mundo. De acordo com dados da Conferência das Nações Unidas de Comércio e Desenvolvimento, a indústria da moda consome anualmente uma quantidade de água capaz de suprir as necessidades de cinco milhões de pessoas, e libera uma quantidade de microfibras no mar equivalente ao derramamento de três milhões de barris de petróleo por ano (UNCTAD, 2019). Visando diminuir o impacto desta indústria, a Insider adota hoje uma série de práticas sustentáveis que minimizem a superprodução e o descarte de resíduos e possibilitem uma economia verdadeiramente circular, com respeito ao meio ambiente e às pessoas. Para isso, os materiais são selecionados de forma a reduzir o consumo de recursos e energia. Por isso, a empresa não faz uso do algodão como matéria-prima e opta por utilizar materiais certificados como o modal. Os tecidos são desenvolvidos com o uso da tecnologia têxtil, e utilizam nanotecnologia para trazer novas funcionalidades e ir de encontro à economia circular (HANSEN et al., 2022).

Além disso, os processos são pensados em todas as suas etapas, e a produção dos artigos é nacional de forma a gerar empregos locais e minimizar impactos ambientais da cadeia de transportes (STAHEL, 2016). Enquanto as matérias-primas possuem certificações ambientais, os produtos são concebidos para serem duráveis, além de serem recicláveis ou biodegradáveis. Assim, a empresa demonstra que a moda sustentável vai além do produto em si: envolve também a sua concepção, produção e descarte.

NANOTECNOLOGIA A FAVOR DA SAÚDE E DO MEIO AMBIENTE

Considerada a quinta revolução tecnológica (RAI & RAI, 2016), a nanotecnologia envolve a manipulação e o uso de partículas com pelo menos uma das dimensões em escala nanométrica (1-100 nm). Para se ter uma ideia, um nanômetro (1 nm = 10-9 m) equivale à espessura de um fio de cabelo humano dividido em 75.000 partes (SADIKU et al., 2021).

O tamanho reduzido das nanopartículas confere propriedades únicas e que podem ser aplicadas em diferentes áreas. Um exemplo bem conhecido disso é a prata: seu poder antibacteriano é conhecido há séculos e é atribuído aos íons Ag+, que atuam de diferentes formas inibindo o crescimento bacteriano. Em escala nanométrica, as nanopartículas de prata além de possuírem propriedades antibacterianas superiores devido à liberação contínua de íons Ag+, também apresentam propriedades an-

tivirais (GALDIERO et al., 2011). Aplicando esse conhecimento, a Insider foi pioneira durante a pandemia de COVID-19 na produção nacional e em larga escala de camisetas e máscaras antibacterianas e antivirais usando tecidos impregnados com as nanopartículas de prata. Com isso, tornou acessível aos brasileiros uma tecnologia avançada e em prol de um bem comum.

O uso da nanotecnologia para produzir fibras e tecidos funcionais tem vantagens em relação à produção têxtil convencional, como o desenvolvimento de processos mais ambientalmente amigáveis e com redução no uso de água e energia. Além disso, traz inúmeras possibilidades, como a liberação controlada de substâncias ativas e a produção de roupas inteligentes e duráveis, dentre outras funcionalidades (RAI & RAI, 2016). Neste aspecto, a Insider tem investido esforços crescentes em pesquisa e desenvolvimento para produzir artigos funcionais que sejam cada vez mais acessíveis aos brasileiros.

O NÃO-USO DO ALGODÃO COMO PRÁTICA SUSTENTÁVEL

A área total de terra dedicada ao cultivo do algodão não mudou significativamente nos últimos 80 anos. No entanto, sua produção triplicou. Enquanto apenas 2,4% das terras cultiváveis do mundo são dedicadas ao algodão, o seu cultivo é responsável por 24% das vendas globais de inseticidas e 11% das vendas globais de pesticidas. Estes produtos químicos são conhecidos por contaminar amplamente os solos e cursos de água, bem como trazer danos aos trabalhadores que os manipulam (KOOISTRA et al. 2006, TURNER, 2019). Outro fator que torna o não-uso do algodão uma prática sustentável é que o algodão é a fibra mais sedenta de água do mundo. São necessários mais de 20.000 litros de água para produzir 1kg de algodão, equivalente a uma única camiseta e jeans. Para se ter uma ideia do que esta quantidade representa, um ser humano médio consome cerca de 50.000 litros durante a vida (KOOISTRA et al. 2006, TURNER, 2019).

Tendo em vista esses dados, a Insider atua ativamente na busca por matérias-primas sustentáveis e evita o uso do algodão em suas roupas, priorizando o uso de materiais certificados e mais sustentáveis como o modal. O modal é uma fibra semissintética respirável, absorvente, e uma alternativa ecológica ao algodão. Isso porque o processo de fabricação envolve a fiação da celulose reconstituída das faias, que são árvores que não necessitam de cultivo ou sistemas de irrigação, além de serem muito resistentes a pestes e dispensarem o uso de pesticidas. Assim, os bosques de faia são recursos sustentáveis em termos ambientais.

ESTUDO COMPARATIVO DE CAMISETA DE ALGODÃO VS TECH T-SHIRT INSIDER COM MODAL

Um estudo realizado por uma empresa independente fez uma estimativa das emissões de carbono de uma camiseta modelo Tech T-shirt da Insider, composta por 92% de modal certificado e 8% de elastano. Foram utilizadas premissas e dados secundários para estimar a emissão de carbono durante parte do ciclo de vida, “cradle-to-gate”, de uma unidade de camiseta. Este estudo não representa uma certificação formal de acordo com as normas ISO 14.040:2006, ISO 14.044:2006 e ISO 14.067:2013, portanto, não é uma Pegada de Carbono e sim uma estimativa de emissão. Os cálculos foram baseados em uma unidade de camiseta do modelo Tech T-shirt da Insider, comparada com a pegada de carbono calculada em um estudo desenvolvido pela FGV EAESP para uma camiseta 100% algodão (APPUGLIESE et al. 2015).

Levando em conta que uma camiseta Tech T-shirt tem a duração 3 vezes maior do que uma camiseta comum de algodão, seriam necessárias 3 camisetas de algodão para cumprir o tempo de vida de 9 anos, utilizado nesta estimativa. Além disso, as Tech T- shirts, por contarem com uma tecnologia avançada anti suor e antiodor, exigem metade do número de lavagens quando comparadas à uma camiseta comum de algodão. Sendo assim, o estudo mostrou que quando considerada apenas a produção das camisetas, a Tech T-shirt emite apenas 0,91 kg de CO2, enquanto, para obter as camisetas de algodão, seria gerado mais de 4 kg de CO2 (Figura 1). Comparando os produtos durante toda sua vida útil, observa-se que com a Tech T-shirt se evita a emissão de 5,73 kg de gás carbônico para a atmosfera, que seria o mesmo que andar aproximadamente 23 km em um carro movido à gasolina.

CERTIFICAÇÕES AMBIENTAIS E DE RESPONSABILIDADE SOCIAL

Além da atenção à seleção de matérias-primas e à concepção dos produtos, a Insider busca também por certificações ambientais e de responsabilidade social de seus fornecedores e processos. Dentre as certificações, estão o certificado Oeko-Tex®, CO2control®, o selo Eureciclo, o sistema B Brasil e a certificação de fornecedores ABVTEX. Elas reforçam a busca pela sustentabilidade no setor têxtil, como por exemplo: compostabilidade; biodegradabilidade no descarte; isenção de modificações genéticas; ciclos fechados de produção; não utilização de produtos tóxicos ou danosos à saúde humana e a rastreabilidade de produção. Além disso, certificações como a do Sistema B Brasil e ABVTEX reiteram o compromisso social da empresa.

CONCLUSÃO

Neste estudo, foram apresentadas algumas práticas sustentáveis adotadas pela marca Insider Store. Verifica-se que o fato de a sustentabilidade ser um pilar da marca é um diferencial, e reforça que a moda sustentável vai muito além do produto.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

APPUGLIESE, G. A., LUCCAS, F. G., BETIOL, L. S., SILVA, M. B., DINATO, R. M., BRANCO, P. D., ARMELIN, R. S. Iniciativa compras sustentáveis & grandes eventos: estudo de pegada de carbono: camisa 100% de algodão. FGV EAESP - Centro de Estudos em Sustentabilidade (FGVces), 2015. Disponível em: http://hdl.handle.net/10438/18509. Acesso em: 05 set. 2022. DEEP ESG. Dashboard: Deep Value Insider. [S.l.] 2022. FUTURE BRAND. Beyond Sustainability: why the future must be built by Super-Sustainable Business, 2021. Disponível em: https://www.futurebrand.com/news/2021/beyond-sustainability-why-the-future-must-be-built-by-super-sustainable-businesses. Acesso em: 04 jul. 2022.

GALDIERO, S., FALANGA, A., VITIELLO, M., CANTISANI, M., MARRA, V., GALDIERO, M. Silver Nanoparticles as Potential Antiviral Agents. Molecules, vol. 16, n. 10, pp. 8894–8918, 2011. HANSEN, S.F., ARVIDSSON, R., NIELSEN, M.B., HANSEN, O. F. H., CLAUSEN, L. P. W., BAUN, A., BOLDRIN, A.. Nanotechnology meets circular economy. Nature Nanotechnology, vol. 17, pp. 682-685, 2022. KOOISTRA, K. J., TERMORSHUIZEN, A. J., PYBURN, R. The sustainability of cotton: Consequences for man and environment. Report 223. Wageningen: Science Shop Wageningen UR, 2006. RAI, S., RAI, A. Review: Nanotechnology - The secret of fifth industrial revolution and the future of next generation. Nusantra Bioscience, vol. 7, n. 2, pp. 61-66, 2015.

SADIKU, M. N. O., ASHAOLU, T. J., AJAYI-MAJEBI, A., MUSA, S. M. Future of Nanotechnology. International Journal of Scientific Advances, vol. 2, n. 2, pp.131-134, 2021.

STAHEL, W. S. Circular economy. Nature, vol. 531, n. 7595, pp.435-438, 2016. TURNER, J. The ethics of cotton production, 2019. Disponível em. https://www.ethicalconsumer.org/fashion-clothing/ethics-cotton-production. Acesso em: 01 jul. 2022.

UNCTAD – United Nations Conference on Trade and Development. “UN launches drive to highlight environmental cost of staying fashionable”, 2019. Disponível em: https://news. un.org/en/story/2019/03/1035161. Acesso em: 01 jul. 2022.

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