SÍNTESE Estrutura externa e interna da obra Frei Luís de Sousa Atos Ato I
Estrutura externa Cenas I-IV
Estrutura interna Informações sobre o passado das personagens.
Cenas V-VIII
Decisão de incendiar o palácio.
Ato II
Cenas IX-XII
Ação: incêndio do palácio
Cenas I-III
Informações sobre o que se passou depois do incêndio.
Cenas IV-VIII
Preparação da ação: ida de Manuel de Sousa Coutinho a Lisboa.
Cenas IX-XV Ato III
Cena I
Ação: chegada do romeiro Informações sobre a solução adotada: o casal professa.
Cenas II-IX
Preparação do desenlace.
Cenas X-XII
Desenlace: morte de Maria e tomada do hábito dos pais.
1. ESPAÇO / CENÁRIOS ATO I
a) Salão com decoração nobre, confortável e luxuosa. Há duas grandes janelas ao fundo. b) Percebe-se que naquela casa vive uma família de classe social elevada. As janelas possibilitam vistas amplas para o exterior e entrada de luz – símbolo de liberdade (incluindo a interior de cada personagem) e felicidade dos moradores.
ATO II a) Salão melancólico, de gosto pesado e antigo. b) Repleto de antigos retratos de família. c) Dominado por três retratos principais: Camões (símbolo da cultura grandiosa e épica), D. Sebastião (representando ainda a esperança num Portugal maior) e D. João de Portugal (representante da nobreza patriótica e corajosa. É o dono do palácio). Desaparece a felicidade das gradualmente o clima de tragédia.
personagens
e
adensa-se
ATO III a) Não há decoração. Os elementos presentes são próprios da igreja católica: uma cruz grande e negra (símbolo do sofrimento padecido por Cristo), uma toalha branca (para limpar a alma dos pecados cometidos), o hábito religioso (simboliza a morte para o mundo profano e a entrada no mundo espiritual). b) Ambiente muito pouco iluminado – propicia a introspeção e anuncia a realização da tragédia. É um espaço completamente fechado, que simboliza a morte.
2. PERSONAGENS 2.1.Personagens principais Nome Manuel de Sousa Coutinho
Madalena de Vilhena
Maria
Nome D. João de Portugal
Caraterísticas Patriota, honrado, decidido, reto, racional, prático, culto. No Ato III perde a serenidade e o equilíbrio mantidos até aí e demonstra um estado de espírito muito contraditório (luta entre a razão e o sentimento); contudo, prevalece a noção do dever e a razão. É possuidor de fortes valores morais de que não se afasta. «Vosso pai, D. Maria, é um português às direitas.» (Ato II, cena 1). Protótipo do ideal feminino da época: sentimental, frágil, supersticiosa, centrada em si e na família; revela desinteresse pela política. Apaixonada, (por vezes é mais visível o amor de mulher que o de mãe), virtuosa, digna, com grande nobreza de caráter. «(…) a mais honrada e virtuosa dama que tem Portugal.» (Ato III, cena 5). Meiga, sensível, bondosa, precoce, extremamente inteligente e culta, perspicaz, idealista, patriota, propensa a agouros. Não tem uma “dimensão psicológica” normal, porque é excessivamente perfeita e, simultaneamente, criança e adulta.
Caraterísticas Patriota, honrado, corajoso, com caráter nobre, apaixonado.
Evolução - Disfarçado de Romeiro (Ato II, cena XIV): inflexível e vingativo. - Diálogo com Telmo (Ato III, cena V): infeliz, desprotegido, solitário, arrependido, justo.
Função Provoca a tragédia na família e a morte de Maria.
D. João de Portugal é, simultaneamente, uma personagem: Abstrata (evocação de um homem dado como morto, motivo de presságios, símbolo da Fatalidade e do Destino): Concreta (surge na figura do Romeiro. Interfere voluntariamente na ação dramática – revelando quem é e, posteriormente, tentando evitar a separação da família).
D. João de Portugal é uma personagem permanentemente em cena.
2.2.Personagens secundárias Nome Telmo
Características Fiel escudeiro, bom amigo, sincero, confidente.
Frei Jorge
Calmo, prudente, equilibrado, racional, confidente, conselheiro.
Função - Provocar as confidências das personagens (Maria, Madalena, D. João). - Predizer o desfecho trágico da peça (não acredita na morte de D. João de Portugal). - Provocar as confidências das personagens (Maria, Madalena, Manuel de Sousa Coutinho). - Moderar o sentimento trágico das personagens. - Predizer o desfecho trágico da peça («Eu faço por estar alegre (…) E eu quase que também já se me pega o mal» (Ato II, cena 9).
3. TEMPO a) Aproximadamente uma semana. b) Há uma grande amplitude temporal em relação ao tempo que antecede a ação. Caraterística romântica (falta de unidade de tempo, em relação à tragédia clássica – 24 horas). 4. CARACTERÍSTICAS DA TRAGÉDIA GREGA Frei Luís de Sousa apresenta, a par com as caraterísticas românticas, características da tragédia clássica: Número reduzido de personagens. Hybris (“crime” – desafio) a) Crime de amor – D. Madalena apaixona-se por Manuel de Sousa antes da morte de D. João de Portugal. Casam-se sem terem provas da morte do primeiro marido. b) Crime / desafio político – Manuel de Sousa Coutinho incendeia o seu palácio, afrontando e enfrentando os governadores. Clímax a) O Romeiro informa que D. João de Portugal está vivo. Anagnórise (reconhecimento) a) O Romeiro revela a Frei Jorge e Telmo a sua verdadeira identidade. Catástrofe (desenlace final) a) Morte: física (de Maria) e para a vida terrena (Madalena e Manuel). Ananké (destino) a) Comanda o destino das personagens. Pathos a) O sofrimento de todas as personagens aumenta (evolui em crescendo) ao longo da ação. Ágon (conflito) a) O conflito interior agita todas as personagens ao longo da ação. Coro a) Tem a função de comentar a ação, dar opiniões ou sugestões, criticar valores de ordem moral e social (papel representado por Telmo e Frei Jorge). b) O coro da Igreja – anuncia o início da cerimónia religiosa.