3 Diáconos ao serviço da Igreja Diocesana

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quinta-feira • 26 de abril de 2012

Diário do Minho Este suplemento faz parte da edição n.º 29569 de 26 de abril de 2012, do jornal Diário do Minho, não podendo ser vendido separadamente.

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3 diáconos

ao serviço da igreja arquidiocesana

@ Rui Ferreira


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IGREJA VIVA

reportagem

Quinta-FEIRA, 26 de abril de 2012

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A Celebração Eucarística de Ordenação Diaconal vai decorrer no próximo domingo, dia 29 de abril, pelas 15h30, na Sé Primaz. Preside a esta celebração o Bispo Auxiliar de Braga, D. Manuel Linda.

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Diário do Minho

O rito essencial do sacramento da Ordem consta, para os três graus, da imposição das mãos pelo Bispo sobre a cabeça do ordenando e da oração consagratória específica, que pede a Deus a efusão do Espírito Santo e de seus dons apropriados ao ministério para o qual o candidato é ordenado.

3 diÁconos, ao serviço da Igreja arquidiocesana

Texto e Fotos Rui Ferreira

O diácono, sinónimo de servidor, é o menor entre os que se oferecem ao serviço da Igreja de Cristo. Para alguém que se prepara para o sacerdócio é uma etapa fundamental para alimentar o desejo profundo de serviço e a humildade requerida a um pastor. Na véspera das ordenações diaconais da Arquidiocese bracarense, fomos falar com os três candidatos, perceber o que sentem relativamente a este sacramento e quais são as suas expetativas sobre a Igreja que se desvela no seu horizonte. Uma graça “muito grande” se aproxima...

NOME: Nuno Oliveira

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NOME: Abílio Brito

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NOME: Dayakar Thumma

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NATURALIDADE: Anjos, Vieira do Minho

NATURALIDADE: Caxinas, Vila do Conde

NATURALIDADE: Cherial, Índia

IDADE: 26 anos

IDADE: 47 anos

IDADE: 34 anos

Diakonos, Diakonia A palavra “diácono” provém de uma palavra grega (diakonos) que encontra cerca de três dezenas de referências no Novo Testamento, particularmente nos Atos dos Apóstolos e nas Cartas Paulinas. Palavras semelhantes são “diakonia”, que significa ministério ou serviço e “diakoneo”, que etimologicamente quer dizer “servir” ou “ministrar”. O Diácono é, por isso mesmo, o “atendente” ou “servente”, o “ministro”, o mínimo servo entre os servos. A mesma palavra descreve escravos, empregados e obreiros voluntários. Segundo aponta o Catecismo da Igreja Católica, «os diáconos participam de

modo especial na missão e graça de Cristo», desenvolvendo tarefas como «assistir o Bispo e os padres na celebração dos divinos mistérios, sobretudo a Eucaristia, distribuir a Comunhão, assistir ao Matrimónio e abençoá-lo, proclamar o Evangelho e pregar, presidir a funerais e consagrar-se aos diversos serviços da caridade». Trata-se de uma vocação adormecida na vida da Igreja, até que o Concílio Vaticano II decide reabilitar o seu papel no seio da vida eclesial, nomeadamente no que concerne ao empenho e dedicação dos leigos na missão. Existem dois tipos de diáconos. O diácono transitório é aquele que recebe o Sacramento da Ordem no

grau do diaconado para depois receber o segundo grau e tornar-se presbítero (padre). O diácono permanente, sendo casado, não pode ascender ao grau superior, ficando permanentemente como diácono.

Uma Igreja imensa... desde Braga até à Índia «Uma graça muito grande», foi a expressão mais escutada entre os três futuros diáconos, que se preparam para a ordenação deste ministério na Arquidiocese bracarense. Nuno, Abílio e Dayakar vão ser os nomes escutados nas naves da Sé Primaz na


Diário do Minho

reportagem

IGREJA VIVA

Quinta-FEIRA, 26 de abril de 2012

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Um dos diáconos mais célebres é Santo Estêvão, que foi o primeiro mártir do Cristianismo. É citado no livro dos Atos dos Apóstolos como tendo sido um dos sete primeiros diáconos da Igreja nascente.

tarde do próximo domingo. Encontrámolos serenos e confiantes, certos de mais um passo que pretendem dar rumo à ordenação sacerdotal, a meta por todos ambicionada. Abílio é natural da “cristianíssima” paróquia das Caxinas, um dos baluartes da fé no Arciprestado da Póvoa de Varzim e Vila do Conde. Lá, onde a vida e a morte se digladiam nas ondas bravias do Atlântico, foi nascendo uma vocação que, mais do que sacerdotal, é um chamamento à Igreja de Cristo. Após uma adolescência povoada de dúvidas de fé, alimentadas por alguns dos seus professores, «que detinham um superior poder de argumentação», Abílio assume uma crença madura através da participação no grupo de jovens. Mais tarde surgiu na sua vida o movimento dos Focolares, no qual se envolveria profundamente, até aceitar tornar-se leigo consagrado desta “fogueira” (em italiano “focolare”) ecuménica, fundada em 1943 pela italiana Chiara Lubich. Nuno Oliveira, natural da paróquia de Anjos, Arciprestado de Vieira do Minho, é o mais novo entre os neodiáconos. Proveniente de um ambiente familiar «muito religioso», agradece à sua família o dom da fé em Jesus Cristo.

«É na Igreja local que eu sou chamado a ser missionário» Nuno

Onde Nuno se sentia mais próximo de Deus era no serviço do altar. Tudo pareceu, contudo, esmorecer, após ter derrubado um cálice enquanto acolitava uma Eucaristia. O terramoto que se instalara devido a este acontecimento, daria lugar a um cada vez maior aprofundamento das ideias e do desejo crescentemente afirmativo de se tornar sacerdote. «Na escola gozavam comigo por causa disto, e eu acabava por não comentar muito este tema», confessa Nuno, garantindo que a sua vontade nunca se desviou deste intento. Disse ao Reitor: «Eu quero entrar para o seminário. Quero ser padre!».

Em setembro de 2006 entrava no Seminário Maior de Braga. «Apesar dos medos, nunca faltou uma alegria imensa», acrescenta, quando se refere aos últimos seis anos de vida, correspondentes à sua formação como seminarista.

«Aqui no Minho a principal tarefa é de reenvangelização» Dayakar

Dayakar, indiano de nascença, chegou a Portugal como Missionário do Verbo Divino e por cá quis continuar. Após deixar os verbitas, foi professor no Colégio D. Diogo de Sousa em Braga, período da sua vida em que foi sentindo um crescente sentimento de incompletude que o conduziu até ao Seminário bracarense. «Aparentemente tudo corria bem na minha vida, mas faltava algo», refere. Recordando os primórdios da sua vocação, Dayakar recorda o difícil momento em que decidiu entrar no colégio do Verbo Divino, deixando o ambiente familiar para trás. Os missionários do Verbo Divino impressionaram sobremaneira a sua experiência de Deus e foram alimentando o desejo do sacerdócio. «No meio do nada viviam felizes», completa, afirmando-se fascinado pelas missões “ad gentes” em África ou no Brasil.

Prioridades da Igreja «Precisamos de comunidades, não cristãs por tradição, mas que vivam autenticamente mergulhadas na Palavra e na oração», refere Abílio quando confrontado com as prioridades da Igreja. Já Dayakar pensa que o grande desafio de um futuro padre é «ser bom samaritano», partindo de uma vida de profundidade e oração. «Tudo parte daqui!», garante, acrescentando que não é a intelectualidade que transforma o mundo, mas a ação concreta junto dos fiéis. Relativamente à especificidade da Arquidiocese de Braga, os três neodiáconos concordam que a vida religiosa minhota é “demasiado” ritualista e pouco vivencial.

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Desde o Concílio Vaticano II, a Igreja latina restabeleceu o diaconado «como grau próprio e permanente da hierarquia», porém as Igrejas do Oriente sempre o mantiveram. O diaconado permanente pode ser conferido a homens casados. Trata-se de um ministério que pretende que alguns fiéis «sejam corroborados e mais intimamente ligados ao altar pela graça sacramental do diaconato».

«É na Igreja local que eu sou chamado a ser missionário», acrescenta Nuno, sublinhando que enquanto houver pessoas não faltarão motivos para a missão. «No meu ministério terei sempre presente essa missão da presença», sublinha, lembrando que um sacerdote é um servo que sofre com os outros, com as suas angústias, problemas e desafios. «Os paroquianos esperam uma palavra de esperança do seu pastor» Já Dayakar acredita que «aqui no Minho a tarefa é de reenvangelização», dado que «todos já conhecem Cristo, mas faz falta vivenciar esse conhecimento». «Através das “festas” e dos “foguetes”, é importante levar a Boa Nova», refere. Para Abílio, «Deus chama primeiro a servir a Igreja universal». Essa missão, porém, revela-se no serviço «à Igreja local».

Precisamos de comunidades, não cristãs por tradição, mas que vivam mergulhadas na Palavra Abílio

E depois de Domingo? Domingo, a partir das 15h30, uma nova realidade se vai abrir na vida de Nuno, Abílio e Dayakar, porém não assim tanto como se possa pensar. À tradicional questão sobre o que vai mudar a partir de domingo, todos concordam em dizer que aumenta a responsabilidade a partir deste “sim”, dado que existe um compromisso que vai ser aprofundado. «Cada “sim” é uma missão», refere Dayakar, abordando o exemplo de Maria. Para Nuno muito vai mudar. «É um compromisso eclesial e pessoal que assumimos diante da comunidade cristã», acrescenta, aludindo à necessidade de cada vez mais estar atento aos “sinais” que Deus faz questão de enviar para a sua vida. «A vida é um caminho que se faz em direção a Deus», acrescenta, dizendo que o diaconado é um ato formal que confirma o caminho para o sacerdócio. Segundo Abílio Brito, «é muito importante que a Igreja dos nossos tempos dê um passo no sentido do compromisso da vida com a Palavra». «Não podemos ficar apenas num nível de reflexão, mas a Palavra deve implicar a vida e ter consequências na conduta e forma de agir», acrescenta, garantindo que se trata de um autêntico “desafio” na vida de um sacerdote.

DIÁCONOS: A OPINIÃO DE SÃO PAULO

«Semelhantemente, quanto a diáconos, é necessário que sejam respeitáveis, de uma só palavra, não inclinados a muito vinho, não cobiçosos de sórdida ganância, conservando o mistério da fé com a consciência limpa. Também sejam estes primeiramente experimentados; e, se se mostrarem irrepreensíveis, exerçam o diaconato. Da mesma sorte, quanto a mulheres, é necessário que sejam elas respeitáveis, não maldizentes, temperantes e fiéis em tudo. O diácono seja marido de uma só mulher e governe bem seus filhos e a própria casa. Pois os que desempenharem bem o diaconato alcançam para si mesmos justa preeminência e muita intrepidez na fé em Cristo Jesus» Primeira Epístola de São Paulo a Timóteo (Cap. 3, 8-13)

3 Palavras, 3 Visões

SERVIÇO •

Abílio: Vocação segundo as Palavras de Jesus “eu não vim para ser servido, mas para servir”.

Nuno: autenticidade de vida no espírito de Jesus Cristo.

Dayakar: Dar-se incondicionalmente.

SACERDÓCIO •

Abílio: ser um homem de Deus e que transparece essa relação para os outros.

Nuno: vida segundo o Espírito.

Dayakar: não é especialista em Deus, mas homem de Deus, profeta e bom pastor.

COMUNIDADE •

Dayakar: Viver sem preconceitos.

Nuno: experiência eclesial com gestos de amor.

Abílio: Relacionamento autêntico de amor, pondo em comum o que se tem de melhor.


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