Crise de padres e a crise do país | António Cândido de Oliveira

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Público • Quarta-feira 18 Janeiro 2012 • 35 Contribuinte n.º 502265094 Depósito legal n.º 45458/91 Registo ERC n.º 114410 Conselho de Administração Presidente: Ângelo Paupério Vogais: António Lobo Xavier, Cláudia Azevedo, Cristina Soares, Luís Filipe Reis, Miguel Almeida, Pedro Nunes Pedro E-mail publico@publico.pt Lisboa Rua de Viriato, 13 – 1069-315 Lisboa; Telef.:210111000 (PPCA);

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Debate A língua portuguesa e o Euronews

25 razões para defender o Euronews em português

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Euronews é uma história de sucesso à europeia. E nós, portugueses, fazemos parte dela. 1. Está em crescimento contínuo desde o começo em 1993, com serviços em cinco línguas: inglês, espanhol, francês, alemão e italiano. 2. A língua portuguesa juntou-se em 1999. Foi a sexta língua e tornou-se um sólido pilar. A emissão em português é já recebida em 100 milhões de lares em todo o mundo. E está também no portal www.euronews.net e na distribuição permanente da emissão televisiva nos tablets e telemóveis – em português, na linha da frente da tecnologia na informação internacional. 3. Ao fim dos primeiros dez anos, em 2002, o Euronews já chegava a 125 milhões de lares em 78 países. Nos últimos cinco anos, duplicou a sua distribuição a nível mundial: hoje, está em 350 milhões de lares de 155 países nos cinco continentes. 4. É distribuído 24 horas por dia, 7 dias por semana, em 11 línguas diferentes em simultâneo em todo o mundo, incluindo em árabe, russo, turco, ucraniano e persa. E tem ainda emissões locais, em tempo parcial, em romeno, sérvio e lituano. 5. É acessível directamente, nas respectivas línguas, a 3,5 mil milhões de pessoas em todo o mundo, mais de metade da população mundial, por via hertziana, cabo, satélite e meios electrónicos. 6. É recebido em hotéis, nos aviões de grandes companhias, em ADSL, pela Internet e várias plataformas, nos computadores de mesa e portáteis, nos telemóveis, smartphones e tablets. 7. A emissão portuguesa é vista em Portugal por 800.000 telespectadores por dia, mais do que a CNN, a Sky, a BBC. É ainda seguida em todo o mundo nos países da CPLP, nas diásporas portuguesa e lusófona e por todos os que querem seguir o português como língua estrangeira. 8. Transmite permanentemente para Portugal informação europeia de grande diversidade e de primeira qualidade. É instrumento importante para superar e vencer a nossa “periferia mental” relativamente à Europa e sua actualidade. Ajuda-nos a não sermos “euro-analfabetos”. 9. O multilinguismo do Euronews, incluindo em português, é uma importante vantagem comparativa do canal face a outros canais noticiosos internacionais monolingues. 10. A equipa editorial integra 400 jornalistas de 20 nacionalidades, que comparam, analisam e debatem constantemente, evitando pontos de vista pessoais ou estritamente nacionais. Mas tem uma visão compreensiva, aberta a diferentes agendas e sensibilidades e de múltiplas fontes directas, e não um olhar apenas ame-

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ricano, ou apenas inglês, ou apenas francês. 11. Tem uma parceria de trocas com a Eurovisão, televisões nacionais accionistas (como a RTP) e com as agências de imprensa e de TV. 12. Na Europa, o Euronews é seguido, todos os dias, por 7 milhões de telespectadores, quatro vezes mais que a CNN e 8 vezes mais que a BBC World. José 13. É o canal internacional de informação preferido na Ribeiro e Europa, na África e no Médio Oriente – o n.º 1. 14. É a cara da Europa para o resto do mundo. E nós Castro viajamos nela e com ela. Deputado 15. É recebido em 181 milhões de lares na Europa, 68 do CDS-PP; milhões na América do Norte, 57 milhões na África e Médio presidente Oriente, 27 milhões na Rússia, 8 milhões na Ásia/Pacífico da Comissão e 2,5 milhões na América Central e do Sul. Parlamentar 16. É o canal de informação preferido das elites. Através de Educação, dos diferentes meios de distribuição, é seguido todos os Ciência e meses por 14 milhões de quadros de alto rendimento, de Cultura que milhão e meio vêem todos os dias os seus noticiários televisivos. O multilinguismo do canal é chave deste sucesso – segundo inquéritos internacionais, e ao contrário das ideias feitas, apenas 39% das elites seguem programas informativos em inglês. 17. É uma referência de organização e gestão, com um orçamento modesto para tudo isto: gasta somente 60 milhões de euros/ano, um décimo do orçamento da CNN, cerca de 1/5 do da RTP. Viu reconhecida pela Comissão Europeia a excepcional relação custo/eficácia. 18. O custo suportado por Portugal com o serviço em língua portuguesa é inferior a 2 milhões de euros/ano. O custo para os novos membros é de 6 milhões de euros anuais, o triplo. 19. O investimento feito por Portugal para ter o serviço de língua portuguesa em todo o mundo equivale a menos de 2 cêntimos/ano por cada lar que o recebe nos cinco continentes. 20. A equipa de língua portuguesa, que assegura mais de 8.700 horas de emissão anuais e os conteúO Euronews é barato dos do portal Internet, é composta por 33 jornalistas, dos quais 16 residentes. Além da emissão geral, a equipa produz peças noticiosas de foco e está a crescer. português e lusófono, com conteúdos de políPorque é europeu tica, economia, desporto, sociedade, cultura, ciência ou informação geral, que são simultae global. Porque leva neamente difundidas para todo o mundo em a nossa língua, de todas as diferentes línguas do canal: isto é, em 11 línguas, para 155 países em todos os continentes, um país que quer ser chegando a 350 milhões de lares e podendo ser entendida na própria língua por mais de metade europeu e global

da população mundial. É Portugal no mundo inteiro. 21. Na competição linguística internacional, o Euronews multilingue, ao incluir a nossa língua, serve permanentemente a compreensão de que o português é uma grande língua de comunicação internacional. Desaparecer é perder. Estar é crescer. 22. No quadro simples de uma parceria informativa multilingue à escala mundial, é um instrumento natural de divulgação directa e de afirmação evidente do português enquanto terceira língua europeia global e a sétima língua mais falada no mundo. 23. A língua portuguesa, que é um instrumento importante de internacionalização da nossa economia e de afirmação do país e da lusofonia, tem no Euronews um meio que, sendo já potente, tem virtualidades ainda maiores, à espera de serem aproveitadas e exploradas, não de serem deitadas ao lixo. É missão clara de serviço público. 24. O Euronews tem potencial de forte crescimento próximo, em todos os continentes e, em especial, na América Latina e na Ásia/Pacífico, onde o atraso comparativo de penetração é visível. Ambas são regiões mundiais relevantes para a língua portuguesa e a internacionalização da nossa economia. 25. Há mais línguas prontas a juntar-se a este grande canal internacional multilingue. A nova sede mundial do Euronews, em 2014, vai permitir novo salto em frente. Acabar com o Euronews em português seria um facto absolutamente incompreensível — apenas por inadvertência. Ou, o que seria pior, por capricho desastroso. Porque o Euronews é barato e está a crescer. Porque é europeu e global. Porque leva a nossa língua, de um país que quer ser europeu e global. Porque já lá estamos, a construir e a afirmar. Porque é um comboio a ganhar penetração e velocidade. Não podemos apear-nos. Não podemos deitarnos a perder. Há até várias alternativas para assegurar e porventura repartir o financiamento, além do Orçamento de Estado e da própria RTP, a saber: o próprio valor para o Euronews, a Comissão Europeia, a lusofonia, os distribuidores por cabo. Não podemos desistir.

Debate Competitividade em Portugal

A crise da produção de padres em Braga e a crise do país

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omecei a ler um livro do actual ministro da Economia porque um colega da Universidade me disse que estava a gostar de ler um deles (o Prof. Álvaro Santos Pereira tem pelo menos três no mercado) e porque encontrei, na Livraria Bertrand-Cruz, o livro com o título O Medo do Insucesso Nacional, com mais de trezentas páginas, editado em 2009, pelo preço “muito competitivo” de pouco mais de três euros. É um livro que vale a pena ler (é bom apreciar a opinião de quem pensa diferente e expõe bem) mas não esperava encontrar a certa altura esta passagem que diz muito de quem parece viver obcecado pela produtividade, criatividade e competitividade. Depois de elogiar vivamente uma empresa nacional pelo sucesso que resultou da introdução no mercado do papel higiénico preto, uma ideia inovadora merecedora pelo au-

António Cândido de Oliveira

Professor da Universidade do Minho

tor dos maiores elogios (p. 132) apresenta logo na página seguinte, com a entrada “Braga já não produz só padres”, este texto para o qual pedimos a atenção do leitor: “Durante séculos, a majestosa cidade de Braga especializou-se na produção de um produto: padres. Basta percorrer as monumentais ruas da cidade para perceber a importância que a religião e a Igreja Católica têm para a região. São edifícios e mais edifícios (muitos deles de grande dimensão) dedicados à produção e formação de sacerdotes. Hoje em dia, a indústria de produção de sacerdotes bracarenses está em declínio”. E, depois de breves considerações sobre tal facto, pergunta: “Porquê?”. Dá, para além de referir outras secundárias, a seguinte resposta, para ele principal: “A grande causa do declínio da Igreja Católica em Portugal é simplesmente a falta de competitividade. A indústria de produção de padres perdeu competitividade, pois os custos de produção de novos sacerdotes são demasiado

altos e o preço do sacerdócio é extremamente elevado.” E, com muita rapidez, passa para outro assunto deste modo: “Ora, se a indústria de produção de padres bracarenses (e nacional) está em crise, o mesmo não se poderá dizer da indústria da tecnologia da informação”, enaltecendo a transformação de Braga numa “cidade do conhecimento e da inovação tecnológica”, estimulada por uma das “universidades mais dinâmicas do país”. Basta de mais citações. O desafio já está devidamente lançado à Igreja de Braga. Senhores bispos, senhores cónegos, senhores padres formadores, toca a produzir, competir e inovar! O actual senhor ministro da Economia não diz como, mas isso não é problema dele. É, sim, segundo o ministro, problema dos empresários da indústria eclesiástica de Braga, que devem agir sem perda de tempo, pois o país está em crise e é preciso fazer crescer o PIB, diminuir o desemprego e aumentar as exportações...


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