Jornal Mestrado DCNM

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Mestrado em Design de Comunicação e Novos Média índice na capa? (como nos jornais)



Pág ina Mestrado em Design de Comunicação e Novos Média Mafalda Sequeira curadora do núcleo de mestrado / mestranda

Páginas. Impressas, digitais. Com texto, sem texto. Com imagens, sem imagens. Brancas. Intemporais, efémeras. Estáticas, dinâmicas. Estáveis, instáveis. Unidades ou partes de um todo.

Os trabalhos que aqui se apresentam são o resultado de várias reflexões em torno do tema da Página. As publicações do núcleo de mestrado em Design de Comunicação e Novos Média distinguem-se pelo seu carácter mais conceptual e experimental, motivo pelo qual existe uma separação entre os dois ciclos de estudo. As investigações, que neste ano lectivo irão prosseguir no desenvolvimento das dissertações individuais, mostram um discurso que se afigura pertinente para o Design de Comunicação, não fosse a página um suporte essencial na área. Neste jornal figuram as várias fases do processo de trabalho, que culminou com a apresentação de uma ou várias publicações individuais, e com a sua apresentação no Open Day do mestrado, que decorreu a 30 de Junho do corrente ano. Deste evento aproveitam-se alguns textos, modificam-se outros e acrescentam--se os demais. Os objectos que ficaram por mostrar são agora expostos ao público, os que já tinham sido dispostos voltam a sê-lo para o que se espera ser uma audiência mais alargada. A parede branca estabelece um paralelismo com a página na sua configuração com a grelha tipográfica.

Como aluna do mestrado, posso afirmar que a dinâmica da turma foi uma das principais condições que proporcionou o desenvolvimento destes eventos e a produção dos objectos que aqui se apresentam. A troca de referências foi uma prática comum entre colegas, o que incentivou a um maior aprofundamento do tema, bem como à produção criativa. A orientação dos professores revelou-se também essencial, não apenas a dos dois professores das disciplinas nucleares – Laboratório II e Projecto II –, Sofia Gonçalves e Victor M Almeida, como também das disciplinas optativas ou com uma menor carga horária. São eles António Silveira Gomes, Aurelindo Jaime Ceia, José Gomes Pinto, Maria Teresa Cruz, Mário Moura, Miguel Cardoso, e Pedro Almeida. Espero que apreciem a exposição, que ambiciono que volte a decorrer na Faculdade de Belas-Artes. © Mafalda Sequeira 2011


Pág ina: lóg icas de negociação entre cultura impressa e cultura digital Sof ia Gonçalves + Victor M A lmeida docentes de Laboratório I + II e Projecto I + II

Eu escrevo… Eu escrevo: Eu escrevo… Eu escrevo: “Eu escrevo…” Eu escrevo que eu escrevo… etc. 1 George Perec, no curto ensaio “A Página”, descreve as operações da escrita para a definição de um espaço – entre acção e registo desenha assim um documento. Ambíguo e laboratorial, programático e poético, o autor ensaia um meta-texto que joga literalmente com todas as macro e microestruturas da escrita no seu espaço preferencial – a Página. Durante o 2º semestre, nas disciplinas de Projecto II e Laboratório II, assumimos a Página, a sua semântica, sintaxe, morfologia, paratextualidade, história, como espaço preferencial para a “escrita” do Design. Partimos da marginalia como lugar ainda marcadamente referencial; através da interpretação e da função activa da leitura equacionámos os papéis do autor e do leitor. Das notas à margem passámos à “escrita”—ao utilizar a edição como operação e o reconhecimento intuitivo do livro como modelo para o conhecimento, a Página transforma-se no espaço primordial de legitimação do discurso em design, um lugar (ainda assim problemático) para a “autoridade” do designer. Entre a página física ou material e a página digital, acompanhamos toda a história e imaginário do design. A página surge como paradigma, como objecto mitificado que se presta às lógicas de transformação, mas também de continuidade do universo ou léxico do Design de Comunicação. Afirma-se como elemento representativo da ligação do design aos media—com a prensa de Gutenberg, os vários processos de impressão gráfica, fotocomposição, fotocópia, desktop publishing revolution, Internet, assistimos simultaneamente à evolução dos valores expressivos em design. Em síntese, à história das várias configurações da escrita sobrepõem-se as várias experiências da formatação gráfica da página.

A aproximação à página faz-se recorrentemente a partir do legado de alguns autores de vanguarda como Tschichold ou El Lissitzky, do trabalho da racionalidade modernista e dos autores do Estilo Internacional, ou na definição da grelha tipográfica, como agente legitimador do espaço da página. Hoje, deixando de lado os princípios de negação de todo e qualquer sistema de ordem pelos pós-modernistas, a recuperação do valor da grelha faz-se na procura de princípios de expansão dos sistemas físicos em páginas temporais digitais, procurando um novo sentido para uma aproximação à noção de sistema. Negando a simples coincidência semântica, a nomeação “página” dada ao espaço preferencial de suporte da comunicação digital (a página web) transporta este elemento ontológico do Design de Comunicação, do seu enquadramento tradicional ao contemporâneo. Como elemento transversal à cultura impressa e à cultura digital, a página assume um carácter de normalização paradigmático: sugere uma iconografia, estrutura, léxico e imaginário próprios, de extrema relevância na cultura do design e surge, ao mesmo tempo, como o seu “suporte clássico” (à semelhança da “tela” na pintura). Contrária à distopia do “fim do livro”, a página digital não contradiz totalmente o formato do códice; reorganiza-o tirando partido da especificidade da apresentação electrónica. Aliás, a ordem do livro reconfigura-se perante as novas situações pragmáticas da rede. O portal web ou as janelas ainda são pensadas como páginas ao partilharem muitos dos seus aspectos tradicionais, sendo recorrentes as aproximações às estruturas clássicas e à organização da página impressa (com o reforço evidente da grelha tipográfica). As páginas web utilizam igualmente a metáfora do portal, como o início de “viagem” ou ponto de partida (transposto para a homepage). A composição


Para além destas aproximações, as páginas analógica e digital assumem também a inevitável dicotomia. A página impressa impõe a sua estrutura hierárquica, fechada através de uma grelha estática (o sistema cartesiano de organização do desenho da página em design) e é o lugar da escrita. A página digital, por seu lado, desdobra-se nas infindáveis ligações da rede, prefere o rizoma à linha de texto e oferece a possibilidade da reescrita. Ao tornar-se independente da matéria, a possibilidade de construção de “páginas sem papel” (um dos tópicos de Books without pages de Nicolas Negroponte), anuncia a hipótese de mutação, a ideia de personalização ou reconfiguração do espaço de informação através de mecanismos de reconhecimento das características do utilizador. Em oposição à fixidez ou conclusão da página impressa, hoje, o computador abraça a possibilidade do incompleto, como qualidade positiva e desejável ao abrir um espaço que nenhuma obra completa parece oferecer. A celebração do incompleto sublinha a importância do processo em vez do objecto; mais do que a apresentação da solução prefere o estado de suspensão. O conceito de página leva-nos ainda da unidade à fragmentação. Como unidade ou matriz sólida, disponível à multiplicação que origina o livro, é agora também elemento fundamental das estratégias de fragmentação tipificadoras e estruturantes dos artefactos digitais. A sua multiplicação já não dá apenas origem a um e mesmo objecto (o livro), mas constrói um sistema de relações que não se encerra em si próprio. Mais do que a autoridade ou volume do objecto livro, sublinhase o sistema, regulado pelos seus princípios internos (o “sítio”) e externos (o ciberespaço). Deste modo, a página web parece tornar exequível o conceito de livro digital. A versatilidade de adaptação de uma unidade menor, a página, parece adequar-se preferencialmente aos princípios hipertextuais da rede. Enquanto a produção de livros electrónicos luta por um mercado e aplicação (porque se tornam menos evidentes as vantagens deste modelo, face ao livro tradicional), o número de páginas web aumenta drasticamente. Em síntese, a Página oferece-se como paradigma

da passagem das lógicas projectuais, de objecto ou produto, a sistema ou processo. Os trabalhos apresentados resultam da aferição de cada aluno à(s) problemática(s) enunciada(s). Tomando a página como espaço permanente de continuidade negociada, como “zona de contacto” entre analógico e digital, encontramos nestes projectos outros modos de representação do fenómeno. Da página como espaço primordial da narrativa que, perante as possibilidades do digital se afirma “lugar instável” (Ana Malheiro), à digitalização, fragmentação ou cópia como processos de virtualização da página impressa e desmistificação da ilusão do digital (Madalena Guerra). Da página como lugar onde o virtual é cada vez mais real, uma camada que se transfere para o espaço urbano (Micael Figueiredo), às hipóteses de exodus—movimento de saída onde se constroem novos territórios, do centro para as margens, do papel para o pixel (Diogo Ramalho). O inventário da morfologia da página, a sua paratextualidade, como exercício de aferição das estruturas comuns entre impresso e digital (Célia Castelo) ou a importação da física dos dispositivos ópticos e dos códigos e linguagens das artes do tempo para o espaço (aparentemente fixo) da página (Rafaela Coelho). Do retorno às afirmações desmesuradas da verticalidade do rolo (scroll) e das operações exclusivas do livro digital “push, pop, press” (Andreia dos Reis), à destabilização dos modelos tradicionais do livro, mesmo os de função mais segura, como os dicionários (Rute de Morais). Da Página como cartografia de uma biblioteca pessoal (Sónia Reis), à interface como possível modelo museológico—o “plano branco”—permeável ou vulnerável à acção do leitor e das intervenções ocasionais das redes sociais (Tiago Machado). A Página, espaço de reunião de fragmentos dispersos, sistema de representação do invisível (Jaime Ferraz) ou espaço de sedimentação dos diálogos ocasionais, entre pessoas, entre autores ou entre livros (Mariana Araújo). Como território permeável à mentira e à inconsistência, lugar de manutenção da eterna intriga de validação imediata do autor pelo códice (Mafalda Sequeira). A leitura como espaço tridimensional prismático, disponível à distorção, reflexão e fragmentação da informação (Renato Amaral). Por último, a edição como operação de autoria (Ricardo Bonacho). Em conjunto, esperamos que estes trabalhos se ofereçam como momentos de avaliação da vitalidade da Página, espaço privilegiado para o discurso do design. © Sofia Gonçalves e Victor M Almeida 2011

(1) Perec, Georges (1974), “The Page” in Species of Spaces and Other Pieces, Londres: Penguin, 1997 (tradução livre).

organiza-se a partir de frames (molduras), o limite clássico da obra de arte na cultura ocidental. Cada página constrói, assim, um determinado ambiente; a navegação através do território virtual aproxima-se duma viagem pelo espaço arquitectónico.


fonte: wikipedia <http://pt.wikipedia.org/wiki/Margin%C3%A1lia>

Marginália (do latim marginalia, como também é usado - sem o acento) é o termo geral que designa as notas, escritos e comentários pessoais ou editoriais feitos na margem de um livro. O termo é também usado para designar desenhos e floreados nas iluminuras dos manuscritos medievos. As verdadeiras marginálias não se confundem com sinais de leitura, que são marcas ou rabiscos usados para assinalar uma passagem (e.g. estrelas, cruzes, carimbos com indicadores, etc.). O modo formal de adicionar notas descritivas num documento é chamado anotação.

Marginália



Statements 1 e 2 No statement 1 cada aluno converteu os conceitos abordados na Marginália numa declaração de intenções. Esta primeira declaração serviu como manifesto para a evolução e desenvolvimento do projecto. A acompanhá-la, surge uma primeira base de dados referencial. Pelo contrário, o statement 2 assume-se como um último momento de aferição e conclusão do conceito desenvolvido ao longo do projecto. Adaptado do briefing do exercício “Página: lógicas de negociação entre cultura impressa e cultura digital”





Work shop Cada aluno desenvolve a sua publicação e simultaneamente, num movimento pendular, à vez, analisa e critica o trabalho dos restantes colegas. Este processo deverá ver-se reflectido, idealmente, no processo e matéria(s) da(s) publicação(ões). Tutoria Mutualista: cada aluno é tutor do trabalho de um colega que, por sua vez, é tutor de quem o tutoria… Excertos do briefing do workshop


Página

experiências Configuração das primeiras experiências da publicação. Estrutura de conteúdos. Experiências no limite da página.


P á g i n a p u b l i c a ç õ e s f i n a i s


Negando a simples coincidência semântica, a nomeação “página” dada ao espaço preferencial de suporte da

comunicação digital (a página web) transporta este

elemento ontológico do Design de Comunicação, do seu enquadramento tradicional ao contemporâneo. Como elemento transversal à cultura impressa e à cultura

digital, a “página” assume um carácter de normalização

paradigmático: sugere uma iconografia, estrutura, léxico e imaginário próprios, de extrema relevância na cultura

do design e surge, ao mesmo tempo, como o seu “suporte clássico” (à semelhança da “tela” na pintura).

Tomando como ponto de partida os argumentos

apresentados no exercício Marginália e o modelo

operativo lançado no semestre anterior, cada aluno

deve desenvolver uma sub-dinâmica de investigação e

encontrar os modos de implementação para um projecto. Este projecto deverá tornar público o desenvolvimento

da investigação, encontrando nos princípios da edição os motores particulares para a sua concretização.

Excertos do briefing do exercício “Página: lógicas de negociação entre cultura impressa e cultura digital”






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Catálogo do núcleo de Mestrado em Design de Comunicação e Novos Media /Projecto de comunicação e

curadoria do núcleo do mestrado em

Design de Comunicação e Novos Media/ Mafalda Sequeira

/Exposição de Alunos de Design de Comunicação Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa/ /Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa © Grupo de Design de Comunicação/ Largo da Academia Nacional de Belas-Artes 1249-058 Lisboa – Portugal Telefone +351 213 252 100 Fax +351 213 471 689

/Coordenação de área de DC/ Emílio Távora Vilar /Cordenador de 1º e 2º Ciclos de DC/ Victor M Almeida /Comissão executiva da exposição/ António Nicolas Pedro Almeida Isabel Castro Sónia Rafael Victor M Almeida

/Projecto de Equipamento/ Ana Lia

/Impressão e acabamento/ SeriExpresso

/Apoio à exposição/

/Tiragem/ 500 exemplares Depósito legal Nº PVP 5€ ISBN: 978-989-8300-24-9 / Outubro de 2011

/Apoio do Serviço Educativo/

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