11 minute read
ENTREVISTA COM OS DIRETORES: “VALORIZAMOS A DIVERSIDADE INTERNA QUE CARACTERIZA A FACULDADE
Os Professores Álvaro de Oliveira D’Antona e Márcio Alberto Torsoni assumiram a Diretoria da Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA) no dia 11 de abril de 2017, ocupando respectivamente os cargos de Diretor e Diretor Associado por um período de quatro anos, até abril de 2021. No decorrer da gestão, a Faculdade completou 10 anos de existência em Limeira.
Advertisement
O plano apresentado pelos docentes no início da gestão teve o tema “Identidade e Diversidade”, como forma de valorizar a diversidade interna que caracteriza a FCA – Unidade não-departamental da Unicamp, com quatro programas de pós-graduação e seis cursos de graduação em diferentes áreas do saber: saúde, engenharias e administração e o Núcleo Geral Comum, conjunto de disciplinas de caráter humanístico comum a todos eles. Nesta entrevista eles falam sobre conquistas e desafios enfrentados ao longo destes quatro anos, bem como sobre o futuro da instituição e a importância da universidade pública brasileira:
Qual a relevância da Faculdade de Ciências Aplicadas para a Unicamp?
Prof. Álvaro e Prof. Márcio
Há várias formas de pensar sobre esta questão. A primeira delas está relacionada ao contexto de criação da Faculdade, quando a Universidade estava dialogando com a política estadual e expandindo as vagas na graduação através da criação de uma unidade que seria diferente das demais. Esta é a importância do ponto de vista histórico – somos responsáveis por oferecer aproximadamente 15% das vagas no vestibular da Unicamp.
Agora, pensando na sucessão de gestões da Diretoria, a importância da FCA para a Unicamp, do ponto de vista administrativo, é a demonstração de que é possível institucionalizar uma Unidade com gestão distinta em uma
Professores durante a posse, em abril/2017
Universidade que não está preparada para isso – ou seja, a Unicamp é disciplinar, departamental e pensada com uma certa hierarquia. A FCA é, de certo modo, um corpo estranho nesta estrutura, pois o modo como ela se organiza é bem distinto do resto da Universidade. Neste sentido, ela mostra que é possível fazer uma Universidade diferente do ponto de vista da gestão.
Ao longo da nossa história de 11 anos, conseguiu-se também criar as condições para que os indicadores acadêmicos que importam não sejam destoantes do resto da Universidade, muito pelo contrário. Na gestão do Mário [Prof. Mário Saad, atualmente na Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp] com o começo da pós-graduação; a gestão do Sérgio [Prof. Sérgio Salles, atualmente Diretor do Instituto de Geociências da Unicamp] que possibilitou trazer recursos e combinar parcerias que foram gerando os outros programas de pós e laboratórios de pesquisa; com o Peter [Prof. Peter Schulz, atualmente Secretário de Comunicação da Unicamp], a institucionalização das principais instâncias da Faculdade; e na atual, o reconhecimento e respeito aos fazeres e saberes acadêmicos presente na Faculdade, inclusive no que se refere ao uso dos recursos, o que nos levou a ter indicadores bons, iguais ou
melhores do que a média da Unicamp. Portanto, existe uma relação entre diversidade e identidade e a relevância da FCA para a Unicamp – nós conseguimos produzir bem com uma estrutura e forma distintas de organizar a instituição.
Outro aprendizado possível está relacionado à questão do orçamento descentralizado, embrionário nas gestões anteriores e que conseguimos operacionalizar – cada Diretoria de Serviço e cada Coordenação refinou o conjunto de regras e procedimentos para utilizar os recursos e esse processo também deixou claro para todos que há áreas mais caras que outras e que conseguimos gerir isso com crescente entendimento e tranquilidade.
Por que a gestão 2017-2021 teve o mote Diversidade e Identidade?
Prof. Álvaro e Prof. Márcio
Esta questão da identidade e diversidade da FCA, no sentido histórico, se desdobrou a partir dos desafios superados ou encaminhados nas gestões anteriores. Ou seja, há aí uma continuidade, que se coloca através da institucionalização e pelo amadurecimento da própria comunidade de docentes e funcionários. O plano de gestão que apresentamos teve o tema “Diversidade, Identidade” como motivador; uma forma de valorizar a diversidade interna que caracteriza a FCA. O documento incluiu proposições orientadas internamente e também uma postura firme nas instâncias superiores da Unicamp para o reconhecimento das nossas especificidades e o direcionamento de recursos compatíveis para a unidade. Assim levamos em conta as seguintes especificidades ou singularidades da Faculdade: papel estratégico para a universidade, com proposta multi/interdisciplinar, estrutura acadêmico-administrativa não departamental, enxuta e alunos em cursos noturnos; graduação e pós-graduação em distintas áreas do saber; jovem corpo docente com formação diversificada, acarretando reflexos na pesquisa e extensão; institucionalização da instituição e busca por novos caminhos para a realização de suas tarefas; interdisciplinaridade como um componente integrador e construção coletiva também na organização por processos administrativos e acadêmicos; gestão por comissões e conselhos; corpo de funcionários não-docentes enxuto e jovem; estrutura mais horizontal que a observada em unidades marcadas por instâncias departamentais; responsabilidades e carga de trabalho (de docentes e não-docentes) acima da média da Unicamp; expressivo engajamento estudantil, com força importante, ativa e motivadora da integração entre ensino-pesquisa-extensão. O forte da nossa identidade é conseguir respeitar a diversidade e acomodar as diferentes demandas das diferentes áreas, fazendo com que os recursos fluam na medida das necessidades, independentemente se resultará em um artigo ou um projeto com a comunidade. Para um Diretor de uma unidade convencional, departamental, isso é mais fácil, porque a maioria dos docentes olha para o mesmo norte, para a mesma direção. Então fica mais fácil ponderar os recursos, distribuir as verbas. No nosso caso, temos que pensar e
Diretores, ex-Diretores e Reitor Marcelo Knobel durante Quarta Interdisciplinar Especial, em 2019
priorizar tanto os laboratórios de ponta quanto os projetos sociais que beneficiam a sociedade, como o cursinho popular. Temos que lidar com essa diversidade e mostrar para a comunidade interna e externa que estas diversidades fazem a nossa especificidade. Outro elemento importante que mantivemos e valorizamos nesta gestão é o papel central que os alunos exercem para nossa identidade e diversidade – não só na execução das missões de ensino, pesquisa e extensão, mas através do engajamento nas organizações estudantis.
Quais foram as principais conquistas da gestão?
Prof. Álvaro e Prof. Márcio
Uma das missões que assumimos é que íamos fazer valer, nas discussões com a administração central, o papel da FCA para a Unicamp. Parte da nossa proposta implicava em ter uma postura de comunicação mais contundente com a administração superior da Universidade. E isso resultou em melhor coordenação nossa com as instâncias fora de Barão Geraldo (Cotil e FT), já que temos interesses em comum.
Essa foi uma ação direta e política pensada e executada pela nossa gestão, assim como a comunicação assertiva e pró-ativa nas instâncias superiores. Em toda oportunidade que tivemos no Conselho Universitário e nas outras câmaras ligadas a ele, tivemos uma posição incisiva, defendendo nossas especificidades, mostrando nossos desafios e conquistas enquanto instituição. Participamos também em muitos Grupos de Trabalho e Comissões importantes para a Universidade, ou seja, tivemos uma significativa atuação externa à Faculdade – isso se traduziu em visibilidade para a FCA, compatível com a importância que ela tem para a Universidade.
Internamente, destacamos a certificação elaborada coletivamente e que reflete as especificidades da FCA e o conjunto de regulamentações compatíveis. Não foi fácil vendê-la externamente e consideramos sua aprovação uma vitória. Conseguimos recurso para progressão e conseguimos também estabelecer os Conselhos Acadêmico, Administrativo e as Diretorias de Serviço, que chegaram em um ponto de maturidade no qual estão bem menos dependentes da Diretoria – veja depoimentos dos funcionários Danilo Queiroz Barbosa (Coordenador de Serviço da Diretoria de Apoio) e Evandro José Pereira (Coordenador de Serviço da Diretoria de Pesquisa e Extensão) sobre o assunto na página 13. Conseguimos também caminhar com algumas conquistas na infraestrutura física da Faculdade – o laboratório de práticas didáticas, a sala das organizações estudantis, corredores, forros nos tetos, melhoramentos na biblioteca, plantio das árvores, a sala de convivência, etc. Também criamos a organização dos egressos e reconhecemos, do ponto de vista prático, a importância das organizações estudantis para a Faculdade, mesmo que a Universidade ainda coloque algumas barreiras para o reconhecimento formal.
Quais os principais desafios que identificam para o futuro da instituição?
Prof. Álvaro e Prof. Márcio
Nosso grande desafio está em colher os frutos deste esforço dos últimos 10, 12 anos. Agora, nós docentes, começamos a ter condições e maturidade para dar o passo além no cruzamento de nossas várias expertises. Qualquer gestão que venha deveria ter a sensibilidade de continuar mantendo esforços para promover estas interações e diálogos – é um desafio eterno, de qualquer gestão passada e futura. É preciso manter e ampliar as condições para que estas interações existam. Além disso, precisamos ampliar o conhecimento das pessoas sobre a Faculdade e trazer a comunidade externa para dentro do campus mais frequentemente – mais eventos, o Profis Limeira, fazer mais encontros em escolas, mais divulgação científica, etc. Precisamos continuar valorizando nossa diversidade, reconhecendo e respeitando nossas diferenças.
Qual é a importância da universidade pública brasileira?
São várias as importâncias, seja dentro ou fora da própria Universidade. Do ponto de vista macro, a importância é justamente ela ser pública e atuar de forma distinta do mercado, mesmo que o beneficie com a formação de quadros
profissionais altamente qualificados, com formação pluralista e crítica, não somente técnica. A importância da universidade pública é que sua atuação não está subordinada ao mercado e nem aos interesses de governos. A universidade pública brasileira tem uma importância política que transcende governos – é uma instituição que deve cumprir os princípios, necessidades e interesses do Estado, produzindo ciência e promovendo transformação social através do conhecimento e, por exemplo, da política de cotas, que melhora vidas de famílias inteiras.
“A institucionalização do Conselho Administrativo e Conselho Acadêmico permitiu às Diretorias de Serviço e Comissões atuarem de forma articulada e transversal. Tais instâncias proporcionaram melhoria na comunicação entre todos, ao serem canais de diálogo, debate e proposição de ações. Através das reuniões foi possível desenvolver mecanismos, critérios, estratégias e diretrizes para ações necessárias na unidade, além de proporcionar uma gestão mais participativa. Isso é fundamental em uma Unidade não-departamental como a nossa, na qual a Diretoria não centraliza todas as decisões, pelo contrário. É um processo mais participativo de debates e trocas que acaba capacitando os próprios funcionários e docentes para a resolução de várias questões, ainda que haja diretrizes da Diretoria. São reuniões produtivas de trabalho, das quais saímos com clareza sobre o que fazer”
Evandro José Pereira Coordenador de Serviço da Diretoria de Pesquisa e Extensão
Sobre o Conselho Administrativo
“Através das reuniões do Conselho Administrativo conseguimos ficar sabendo o que está sendo realizado e enfrentado por cada Diretoria de Serviço (Diretoria de Ensino; Diretoria de Pesquisa e Extensão; Diretoria de Apoio; Diretoria Administrativa; Diretoria da Biblioteca e Diretoria da Unidade) e assim ampliamos o olhar para questões gerais da instituição e não somente da nossa área de atuação específica. Os problemas são resolvidos através de conversas entre os Diretores de Serviço, sempre levando em conta o planejamento estratégico da Unidade – muitas vezes chegamos na reunião do Conselho para informar a Diretoria sobre as soluções já encontradas e então validarmos juntos o curso das ações”
Danilo Queiroz Barbosa Coordenador de Serviço da Diretoria de Apoio
Sobre Infraestrutura
“Após a criação da Secretaria de Administração Regional (SAR Unicamp), iniciaram-se as conversas entre a Diretoria da Faculdade e a Coordenadoria da SAR para estabelecer quais são as responsabilidades de manutenção e infraestrutura da Unidade FCA e, por outro lado, de todo o Campus II. Tivemos um trabalho intenso para definir os papéis de cada um e é importante dizer que a Diretoria conseguiu buscar recursos (juntamente com a SAR e DEPI – Diretoria Executiva de Planejamento Integrado) para obras necessárias que foram além da manutenção predial da FCA, por exemplo: consertar problemas estruturais do prédio de ensino II, arrumar telhados dos laboratórios, melhorar o sistema de ar-condicionado; pavimentação de certas vias dentro do campus, etc. Através da porcentagem de recursos vinda do Fundo de Extensão, conseguimos (Diretoria e Conselho Administrativo) promover melhorias como transformação dos nichos dos prédios de ensino em locais de estudo, criação da sala de reuniões das organizações estudantis, desenvolvimento de sala para gravação de vídeos, instalação de mesas e cadeiras no espaço da horta comunitária, realização de melhorias estéticas, etc.”
$ ORÇAMENTÁRIO ANUAL (2019) = R$ 30.207.044
Campus visto de janela de prédio no Morro Azul
(fonte: AEPLAN)
ÁREA CONSTRUÍDA = 29.428 m²
(fonte AEPLAN - Filipeta 2019)
EQUIPE DA DIRETORIA GESTÃO 2017 - 2021
Prof. Álvaro de Oliveira D’Antona
Diretor
Funcionários e Docentes da Faculdade de Ciências Aplicadas da Unicamp se reúnem para Planejamento Estratégico em fevereiro de 2020
Prof. Márcio Alberto Torsoni
Diretor Associado
Thaís Souza
Secretária da Diretoria Flávio Batista Ferreira
Assistente Técnico de Unidade
Cristiane Kämpf
Assessoria de Comunicação
10 ANOS
Momentos especiais de mais um dia de comemorações dos 10 anos da Faculdade, em 2019: evento organizado pela funcionária Thaís Souza, com Prof. Leandro Karnal e apresentação da Orquestra Sinfônica Jovem de Limeira