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Biografia de Feliciano Amaral
“Envolvido em densas trevas, almejava a luz do céu Bem sentindo meus pecados, minha condição de réu...”
Feliciano Amaral recém-nascido, cantando no rádio, sendo ordenado ao ministério e ao lado da mãe
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Nascido em Miradouro, no estado de Minas Gerais, em 20 de outubro de 1920, Feliciano Amaral era filho de Júlio Augusto do Amaral e de Palmira Maria da Conceição. O gosto pela música foi incentivado pela mãe e começou ainda na infância, quando o menino subia numa goiabeira no quintal de casa e cantava sambas e outras músicas populares. Ainda jovem, o talento o levou para cantar em circos, bailes e no rádio, quando se tornou cantor popular numa banda de jazz. Mas havia um vazio em seu coração e uma tristeza, que não poderiam ser preenchidos no mundo. O contato com o Evangelho se deu aos 20 anos, quando trabalhava nas obras de construção da estrada Rio-Bahia, hoje BR 101. Durante o intervalo do almoço, o colega de trabalho Osvaldo Viana (que depois se tornou pastor) costumava ler a Bíblia, e isso chamou sua atenção, sendo uma semente plantada por Deus. Depois de outras experiências de evangelização, como o pastor Antônio Bispo da Luz e sua esposa, Feliciano Amaral se entregou a Cristo em 1942, na 1ª Igreja Batista da cidade vizinha de Muriaé, vindo a ser batizado em 7 de março de 1943. Era de se esperar que a oposição foi grande no rádio, por ter um fã-clube e certa popularidade na cidade com jazz, e dentro de casa, pois a mãe era muito católica e o pai tinha uma simpatia pelo espiritismo, mesmo não sendo religioso praticante. Mas Feliciano não desanimou, e a querida mãe também foi alcançada por Cristo, sendo até batizada nas águas por ele.
Uma vez convertido, veio o chamado para o ministério pastoral, precisando se deslocar para a cidade de Belo Horizonte, e depois para o Seminário Teológico Betel, no Rio de Janeiro. Neste período, conheceu a jovem Elza Rocha, que desejava ir ao campo missionário na região atualmente no estado do Tocantins. Como presente para a viagem, Feliciano presenteou a noiva com um disco de acetato, contendo a música romântica “Adeus” e o hino “A Voz de Jesus”, nº 384 do Cantor Cristão. Mas o raro presente acabou se perdendo em um naufrágio no Rio Tocantins. A carreira como cantor evangélico iniciou em 1948, com o 1º disco de 78 rpm do catálogo da gravadora Atlas, ligada à Convenção Batista Brasileira. Esta é uma das primeiras gravações de música evangélica do País para distribuição comercial, pois até então não havia gravadora evangélica, e as poucas gravações eram instrumentais, corais, pregações, programas de rádio e outras sob encomenda. Além do ministério como cantor, Feliciano Amaral também atuava como missionário e plantador de igrejas, levando o Evangelho a localidades distantes, como a cidade de Cristália/ MG. Em 1953, foi organizada a Primeira Igreja Batista de Croslândia, comunidade que recebeu esse nome em homenagem ao missionário Daniel Frank Crosland. O pr. Feliciano e sua esposa Elza desenvolveram um ministério abençoado até 1967, quando
retornaram a Belo Horizonte, mas ali ficaram frutos e filhos na fé que foram a base para organizar outras igrejas na região. O belo templo, situado num campo aberto que serve de pasto para o gado, é rodeado de casas construídas pelos moradores da comunidade junto com o pr. Feliciano, que comprou madeira e fabricou tijolos da melhor qualidade, para suprir a carência da população exposta ao ataque dos insetos barbeiros, nas casas de taipa. A igreja foi reformada em 2008 pelo pr. Cláudio Pereira da Costa, com recursos do patrimônio histórico. O pr. Feliciano Amaral e Elza Rocha do Amaral até hoje são lembrados pelo admirável trabalho que fizeram por Cristália e região, uma obra missionária que incluía ações de saúde, vacinação e até partos, realizados pela irmã Elza e pelo próprio Feliciano. A gravadora Atlas, onde permaneceu por 8 anos e meio, produzia e distribuía os discos, retribuindo o trabalho do cantor apenas com pequenas ofertas. A maior delas deu para comprar uma cortina para a janela e uma panela de pressão, e com isso surgiu a proposta para fundar uma gravadora, a Favoritos Evangélicos, onde se tornou sócio e diretor artístico por cerca de vinte anos, mas o engano e o interesse financeiro do sócio falou mais alto. O fim da empresa trouxe prejuízos financeiros, mas o pr. Feliciano considerava como maior legado o louvor a Deus e a transformação do Evangelho na vida das pessoas. Todos os discos que gravou foram feitos com sacrifício, mas nunca faltou a dedicação à Obra de Deus, o rigor no estilo sacro, nos instrumentos e nas letras das músicas. Piano e órgão acompanhados por um vocal ou um coral eram o suficiente nas gravações do pr. Feliciano Amaral, que raras vezes aceitou a inserção de bateria, guitarra e outros instrumentos eletrônicos. No ano de 1999, depois de quase 60 anos de casados, sua esposa Elza veio a falecer, a sua companheira, sua parceira de caminhada. Em 2003, Feliciano Amaral recebeu um reconhecimento público, quando completou 83 anos, uma Moção de Aplausos e Congratulações da Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj). A homenagem foi um reconhecimento pela dedicação à obra de Deus e à música cristã.
Em 2004, conheceu a pessoa que seria sua companheira até o fim dos seus dias, Rubenita Araújo, casando com ela. A irmã Rubenita foi o bálsamo para os seus últimos 14 anos aqui na terra. Além de ser esposa, ela organizava as suas finanças, sua agenda, era amiga, empresária, tudo para ele. Com seu jeito bondoso e amigo, cativou logo toda sua família. Feliciano Amaral também está no Guiness Book como o cantor evangélico com mais tempo em atividade no mundo (quase 70 anos). Pioneiro na música evangélica, depois dele vieram Luiz de Carvalho, Edgar Martins, Josué Barbosa Lira, Victorino Silva, dentre muitos outros. Em 2007, o cantor gravou o primeiro DVD ao vivo de sua carreira, em Recife, na Igreja Missionária Canaã, liderada pelo pr. Geziel Gomes, alcançando ao longo de quase 70 anos de carreira musical todas as mídias: 78, 45 e 33 rotações, discos compactos, LPs, fitas k-7, CDs, DVDs e mídias digitais. Por conta das perdas ao longo da carreira, os últimos 8 CDs foram produzidos e vendidos por conta própria, em visitas às igrejas. Em 2010, foi agraciado com a Medalha do Mérito Pedro Ernesto, a maior comenda da Cidade do Rio de Janeiro, pelo transcurso de seus 90 anos, foi uma linda homenagem com a presença de mais de 500 pessoas em solenidade coordenada pelo Pastor Marcos Rodrigues Martins. Residiu em Recife, onde foi membro da Igreja Batista da Capunga. Mesmo com a idade avançada, o pr. Feliciano Amaral ainda tinha forças e alegria para cumprir os convites e louvar a Deus com agenda sempre cheia, em igrejas da capital e interior de Pernambuco, e de todo o Brasil. As apresentações sempre contaram com a calorosa recepção do público.
Pr. Feliciano Amaral recebendo homenagens como cidadão pernambucano e pela Convenção Batista Mineira
No dia 28 de setembro de 2016, a pedido do deputado estadual Cleiton Collins, recebeu na Assembléia Legislativa de Pernambuco o título de cidadão pernambucano. Por causa da velhice e precisando de cuidados médicos, se mudou com sua esposa para Porto Velho /RO no início de 2017, passando a desfrutar um momento muito especial junto aos filhos, netos e bisnetos, ainda conseguindo participar de cultos e eventos, mesmo com a saúde debilitada. Em maio de 2018, ainda recebeu sua última homenagem na terra, promovida pela Igreja Batista de Miradouro (sua terra natal) e a Convenção Batista Mineira, sendo realizada na Primeira Igreja Batista de Rondônia, onde já tinha sido pastor. Depois de um breve momento de sofrimento no hospital, às 07 horas da manhã do dia 07.07.2018, o Senhor o levou para a Glória. Pastor Feliciano Amaral foi o cantor mais conhecido do Brasil, porém o mais pobre. Ele cumpriu o que diz o hino 485 do Cantor Cristão: “As riquezas do mundo, nada valem pra mim.” Foi um homem desapegado das riquezas, com um coração grande que sabia perdoar, não guardando em toda sua vida um rancor sequer. Feliciano Amaral levou uma vida santamente. Nele podíamos ver o rosto de Cristo. A seguir, uma discografia do pr. Feliciano Amaral ainda incompleta, pois muito de sua produção acabou não sendo recuperada ao longo dos anos e das mudanças de gravadoras. Por isto, muito material ainda precisa ser organizado e catalogado.