SOB[RE] O ELEVADO

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Universidade Presbiteriana Mackenzie | Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Trabalho Final de Graduação | Felipe Figueiredo Fernandes Orientador | Professor Doutor Lucas Fehr São Paulo | Dezembro 2015


Aos meus pais e familiares por sempre me apoiarem e incentivarem; aos amigos que em muito contribuíram para a minha formação; aos professores Guilherme Motta e Lucas Fehr que propiciaram a realização deste trabalho e à Marília Costa pelo carinho e companheirismo.


SUMÁRIO RESUMO

01

INTRODUÇÃO

02

PRÉ-ELEVADO/PÓS-CICATRIZ

04

CAPÍTULO 01

PROPOSTAS SOB[RE] O ELEVADO

24

CAPÍTULO 02

42

OUTRAS EXPERIÊNCIAS CAPÍTULO 03

O MINHOCÃO E INTERPRETAÇÕES

SUAS

MÚLTIPLAS

58

CAPÍTULO 04

PROJETO

82

CAPÍTULO 05

CONCLUSÃO

139

BIBLIOGRAFIA

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ICONOGRAFIA

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RESUMO O trabalho apresenta diversas interpretações sobre o Elevado Costa e Silva, conhecido popularmente como Minhocão, através de relatos a favor de seu desmanche e também de sua transformação em parque, resultando em um experimento urbano envolvendo a parte superior e inferior do elevado. Palavras chave: Minhocão, intervenção urbana, praça, identidade e memória.

ABSTRACT The essay presents many interpretations about Elevado Costa e Silva, also know as Minhocão, through accounts in favor of his demolition and also of it`s transformation into a park, resulting in an urban experiment involving the upper and lower of the high track. Key words: Minhocão, urban intervention, square, identity and memory.

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INTRODUÇÃO O questionamento sobre o futuro do Elevado Costa e Silva é tema de discussões urbanas, políticas e sociais desde sua construção, quando este era apontado como símbolo do avanço. Seu projeto foi espelhado em modelos internacionais, e inaugurou uma solução ao sistema viário de São Paulo, uma via elevada sem cruzamentos e segregada do tecido urbano da cidade. A notoriedade dos problemas originados pela construção de 3,5km em concreto armado se deram logo após o término das obras, o que culminou na degradação de uma das áreas mais nobres de São Paulo. As propostas de melhoria urbana para a região baseiam-se em discussões sobre a melhor alternativa de revitalizar a área, tendo como base dois ideais opostos: transformar o tabuleiro em parque ou removêlo por completo. Apesar de compreensões divergentes, ambas as propostas possuem como objetivo recuperar a área central a partir de suas ideologias. Este trabalho apresenta os princípios abordados pelos dois grupos, além de outras referências de projetos urbanos envolvendo viadutos. No entanto, o experimento realizado é resultante destes estudos e experimentações, além da interpretação da minha própria identidade com o elevado, considerando outras pesquisas antes realizadas na universidade sobre o mesmo, e a vivência particular diária com este. 2



PRÉ-ELEVADO/PÓS-CICATRIZ CAPÍTULO 01


Figura 01 | Edifício Martinelli em construção no ano de 1928.

Figura 02 | Fotografia de 1939 com o Edifício Martinelli já concluído.

Figura 03 | Avenida São João na década de 30.

1 CAMPOS, Cândido Malta. Caminhos do Elevado Memórias e Projetos.

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Nas décadas de 30 e 40, a região onde posteriormente foi implantado o Elevado Costa e Silva, correspondente aos bairros da Vila Buarque, Bela Vista, e Santa Cecília era denominada de ‘’Centro Novo’’. Estas localidades sofreram intensas intervenções no início do século XX, transformando-as em uma das áreas mais nobres da cidade através do alargamento das vias, substituição de seu casario de aspecto colonial por edifícios que embora não possuíssem gabarito fixo, asseguravam certa homogeneidade volumétrica, além de obras nos arredores destes bairros que valorizaram a área central da cidade, como a construção do Teatro Municipal (1903-1911), a reforma do Viaduto do Chá, e o ajardinamento da Praça da República. A Avenida São João tornava-se a avenida central paulistana, com caráter parisiense de bulevar de vias largas e arborizadas. Com seu extenso prolongamento, em 1923 iniciava-se o trecho referente à Praça Antonio Prado, na qual viria receber a implantação do edifício Martinelli, marcando visualmente o início da avenida. Havia uma crescente vocação noturna, gerada pelo Cassino Antarctica, cinemas luxuosos, bares e restaurantes que a região abrigava, sendo apelidada de Cinelândia Paulista.1 O Plano de Avenidas realizado por Francisco Prestes Maia em 1930, antes mesmo de ser nomeado prefeito da cidade de São Paulo, ainda quando postulava o cargo de engenheiro da Secretaria de Obras e Viação


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Figura 04 | Avenida São João em 1953.

da Prefeitura de São Paulo, já esboçava o intuito de realizar uma ligação direta entre as zonas leste e oeste da cidade. Empreendida futuramente entre os anos de 1970 e 1971 através da construção do Elevado Costa e Silva. ‘’Maia pensava em duas conexões diametrais: a conexão Norte-Sul e Leste-Oeste. A primeira, conhecida como Sistema Y, é hoje composta pelas avenidas Tiradentes e Nove de Julho, antiga Av. Anhangabaú, e Av. 23 de Maio, interligando os rios Tietê e Pinheiros. Já a segunda, nunca inteiramente implantada, ligava a Avenida São João ao Parque Dom Pedro II, passando em túnel sob o Largo São Bento. Se no primeiro caso a própria topografia resolvia a questão da transposição da área central, na ligação LesteOeste seria necessária uma solução de engenharia. ’’ 2

2 ANELLI, Renato Luiz Sobral; SEIXAS, Alexandre Rodrigues. Caminhos do Elevado Memória e Projetos. 7

A concepção de anéis perimetrais para a cidade era no que se constituía o embasamento da proposta. Denominado de ‘’Perímetro de Irradiação’’, o primeiro


Figura 05 | Avenida São João na década de 50.

destes se baseava na expansão da região central e

elaboração da área de abrangência do segundo anel,

em seu descongestionamento por meio da construção

Maia desejava interligar o centro à Zona Leste, através

de pontes e viadutos, transpondo obstáculos físicos

da Avenida Duque de Caxias e a Rua Amaral Gurgel,

como o Vale do Anhangabaú e a Várzea do Carmo,

estendendo-a até a baixada do Glicério, passando sob

conectando o centro as periferias. A partir da

a Rua da Consolação onde a partir desta seguiria pelo 8


Figura 06 | Plano de Avenidas proposto por Prestes Maia.

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traçado hoje reconhecido como Radial Leste. Contudo, somente na gestão do prefeito José Vicente de Faria Lima (1965-1969) a prefeitura retoma um grande conjunto de obras viárias, como a realização da Avenida 23 de Maio. Apesar da construção do elevado só ter sido iniciada na gestão seguinte, a elaboração do PUB, plano urbanístico básico, realizado por este propôs uma nova estrutura viária formada por malhas ortogonais de vias expressas. Sendo estas separadas da malha urbana para alcançar uma velocidade de percurso de aproximadamente 115km/h, o que dá início ao projeto de extensão da Rua Amaral Gurgel até a Avenida São João e a sua conexão em direção à Avenida Francisco Matarazzo. Já era previsto que este trajeto seria uma via expressa que em determinado trecho o fluxo seria segregado de forma elevada. O próximo prefeito a ser nomeado, Paulo Maluf, foi quem de fato modificou parte do traçado estabelecido na segunda perimetral incluindo a construção do Elevado Costa e Silva, batizado em homenagem ao marechal presidente entre 1967 e 1969.3 A apologia à construção da via elevada ocorreu devido a possibilidade de liberar a parte encoberta para o tráfego local. No entanto, apesar do elevado conectar às direções leste-oeste conforme a intenção de Maia, cruzando a Rua da Consolação sob a Praça Roosevelt,

3 CAMPOS, Cândido Malta. Caminhos do Elevado Memórias e Projetos.

10


como resultado desta macroestrutura viária, o centro histórico passou a ser interpretado apenas como um nó de articulação e passagem, priorizando a circulação em grande escala, o que era exatamente o oposto ao ideal proposto pelo Perímetro de Irradiação. Concomitantemente com a realização da Avenida Faria Lima, 1968, e a Nova Paulista, 1974, novas centralidades se formaram e passaram a atrair sedes administrativas de alto padrão. A verticalização no setor Sudoeste, no qual o acesso para o automóvel era mais fácil, também resultou na mudança de grandes empresas antes situadas no centro histórico para estas novas áreas de interesse.

4 ANELLI, Renato Luiz Sobral; SEIXAS, Alexandre Rodrigues. Caminhos do Elevado Memória e Projetos.

‘’ À época do projeto, o elevado já podia ser considerado uma tipologia consagrada. Seu desenvolvimento durou aproximadamente 50 anos e procurou resolver uma das questões fundamentais da mobilidade no século XX: o conflito entre trajetórias diferentes de veículos e pedestres, tendo em vista o vertiginoso aumento nos volumes de tráfego urbano. ’’ 4 O empreendimento considerado por Maluf

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‘’milagre da engenharia’’ pelo rápido período de execução, além ser a maior obra em concreto armado da América Latina vêm de encontro ao raciocínio de que uma cidade desenvolvida urbanisticamente introduz vias expressas elevadas em seu tecido, conforme difundido na Exposição Internacional de Nova Iorque de 1939, na qual a General Motors, projetou sob coordenação do urbanista Robert Moses um plano de cidade intensamente verticalizada e repleta de vias expressas, viadutos e trevos elevados. Este protótipo de cidade desenvolvido por uma fábrica de automóveis exibe a ambição em ampliar o mercado consumidor intervindo também nas reformas políticas através do rodoviarismo. Movimento no qual incentivava a locomoção urbana e interurbana através do transporte individual, reivindicando que as vias de tráfego se modificassem fisicamente para comportar mais automóveis e velocidades mais elevadas, diminuindo os períodos de percurso entre o local de saída e chegada.

Figuras 07 e 08 | Proposta desenvolvida por Moses para Mid Manhattan.

Figura 09 | Maquete exibida em 1939 pela GM separando vias de automóveis e pedestres.

Moses exerceu forte incentivo à adoção deste sistema para a cidade de São Paulo ao ser responsável pela elaboração do ‘’Plano de Melhoramentos Públicos para São Paulo’’ em 1949. Deste modo, o modelo ‘’ Highway Reserch Board’’ foi analisado com o intuito de expandir a cidade perifericamente em subúrbios residenciais de classe média motorizada, acompanhando o desenvolvimento da indústria automobilística. 12


Figura 10 | Convite de inauguração do Elevado Costa e Silva.

Suas intervenções em Nova Iorque devastaram grandes setores consagrados da cidade através de vias expressas e pontes desenvolvidas dentro de seu centro urbano. O urbanista visava implantar o rodoviarismo através de um sistema onde não houvessem cruzamentos entre as vias de maior velocidade, segregando-as da cota térrea, sem a interferência de saídas e entradas de veículos em edifícios, para que assim fosse possível atingir uma maior eficiência. O Elevado Costa e Silva sintetiza, em uma única intervenção, princípios complementares sobre o papel do sistema viário na cidade. Dentre os quais o conceito de via expressa, idealizado para eliminar interferências, melhorando a fluidez ao aumentar a velocidade dos veículos e teoricamente encurtando o tempo dos deslocamentos. Além de sua elevação sobre o tecido urbano, o que faz com que este não sofra influências dos acontecimentos no nível térreo da cidade, exibindo assim total ruptura e independência conforme desejado pelas práticas de Moses.5

5 ANELLI, Renato Luiz Sobral. Redes de Mobilidade e Urbanismo em São Paulo: das radiais/ perimetrais do Plano de Avenidas à malha direcional PUB.

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A construção de 3,5km de vias elevadas referentes ao Elevado Costa e Silva produziu uma ocultação da cidade sob este, criou-se uma zona de sombras, parte da Avenida São João, a Rua Amaral Gurgel e General Olímpio da Silveira passaram a ser semienterradas, uma vez que se estabeleceu quase um subsolo, fazendo menção ao seu apelido popular: Minhocão.


Figuras 11, 12 e 13 | As empresas que participaram da obra do Elevado fazem propaganda deste como um fator positivo Ă cidade.

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Figura 14 | Perspectiva do Minhocão exibida na apresentação do projeto.

Figuras 15, 16 e 17 | Construção do elevado entre 1970 e 1971.

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Figuras 18, 19 e 20 | Construção do elevado.

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Figura 21 | Primeiro dia de Minhocão.

Como consequência da forma de governo ditatorial presente no Brasil entre 1964 e 1985, a concepção do elevado também foi realizada deste modo, sem participação popular, desprezando as questões sociais e urbanas, com o propósito de beneficiar uma minoria com poder aquisitivo maior, conforme João Sette.6

6 Graduado em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de São Paulo (1990) e em Economia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1993), Mestre em Ciência Política pela Universidade de São Paulo (1998), Doutor em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de São Paulo (2003) e LivreDocente também pela FAUUSP (2013).

‘’ No auge de uma política de concentração de renda, não existia nenhuma medida com o intuito de se atender a população mais pobre da periferia, na verdade para a grande maioria, do ponto de vista da mobilidade em nada foi afetado. Mas para a minoria, que utiliza do automóvel, a elite econômica que possuía acesso ao carro, mesmo porque ainda não havia uma popularização do automóvel, houve uma grande melhora, pois o sistema viário não era colapsado como hoje em dia devido ao número muito menor de automóveis. ’’ 7

7 SETTE, Desativação Minhocão. 17

João. do

Sette também destaca os efeitos negativos do ponto de vista urbano, como a barreira urbana ocasionada


pelo Minhocão, que ao sombrear toda a parte térrea ao longo de seu traçado, extinguiu praticamente todo o comércio existente, dando lugar a novos voltados para o uso do automóvel, como estacionamentos e oficinas mecânicas, além de afirmar que a ausência de luz solar foi um dos grandes causadores de sua degradação.

Figura 22 | Matéria do Jornal ‘‘O Estado de São Paulo’’, 26/01/1971.

‘’O local perdeu o seu caráter urbano, se tornou permanente escuro, permanentemente frio e cinza, o Minhocão que passa em cima da cidade matou o que acontece embaixo...’’.8 Segundo Rosa Artigas9 , a grande deterioração provocada pelo Elevado Costa e Silva em seu entorno o transformou em ‘’cicatriz urbana’’, por ferir de maneira impetuosa o tecido da cidade. ‘’Com largura variável entre 15,5 e 23 metros, situado a 5,5 metros acima da via que a sobrepõe, chega a distar 5 metros das janelas e quartos, terraços e salas dos apartamentos e escritórios que se encontram ao longo do traçado que o descreve.’’10

8 SETTE, Desativação Minhocão.

João. do

9 Historiadora, professora de História Teoria e Crítica de Arquitetura e Urbanismo na Escola da Cidade, e doutoranda em história social no Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo – FFLCH/USP. 10 ARTIGAS, Rosa. Caminhos do Elevado Memória e Projetos.

Contudo, a exposição da vida particular das 18


Figuras 23 e 24 | Projeto Árvore que Sente realizado no Minhocão.

residências que se encontram às margens desta calha viária também é um grande impacto na vida doméstica dos moradores de seu entorno, além de introduzir níveis extremamente altos de poluição a estas moradias.11

11 ANELLI, Renato Luiz Sobral; SEIXAS, Alexandre Rodrigues. Caminhos do Elevado Memória e Projetos.

A má qualidade do ar na região já foi inclusive alvo do projeto ‘’Árvore que Sente’’ em 2014, realizada pelo IPE, Instituto de Pesquisas Ecológicas. Sua meta era retomar a discussão sobre a situação do meio ambiente por meio de projeções de rostos 3D sob a copa de uma árvore, as quais indicavam a qualidade do ar através de expressões humanas, assinalando um alto nível de poluentes causados em grande parte pelos 80.000 veículos que se deslocam diariamente sobre a via expressa.12

12 Fonte: Instituto de Pesquisas Ecológicas.

A poluição sonora também é uma das problemáticas apontada pelo Programa de Silêncio Urbano da Prefeitura de São Paulo (PSIU). Foi constatado que o nível de ruído proveniente do tráfego alcança até 92 decibéis durante o período diurno, uma vez que desde 1976 o elevado permanece fechado para veículos entre às 21h30 e 6h00. Contudo, o barulho proveniente das vias locais também é um incomodo durante a noite, devido a reverberação do som causado por este.13

13 ARTIGAS, Rosa; MELLO, Joana; CASTRO, Ana. Caminhos do Elevado Memória e Projetos.

Um grande número de praças também foi envolto por tamanha estrutura em concreto, como o Largo do Arouche, Largo Santa Cecília, e a Praça Marechal

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Deodoro, o que as transformou em locais subutilizados pela sociedade devido à ausência de luz natural, os altos índices de poluição sonora, e o processo de degradação da região. Sua implantação ainda foi responsável por elevar os custos da linha Vermelha do metrô, iniciada em 1972, a qual disporia de apenas 7km de trilhos na proposta inicial. Mas com o aproveitamento do leito da antiga Rede Ferroviária Nacional, foram adicionados mais 30 km a este trajeto, estabelecendo ligação entre a Barra Funda e Itaquera. Na época de sua construção a demolição do elevado era vista como obrigatória para a realização o percurso República-Barra Funda, devido as enormes fundações dos pilares do elevado, como aponta o arquiteto Roberto Mac Fadden14 - ‘’A linha do metrô precisou seguir um caminho tortuoso e mais caro devido ao Minhocão.’’ - O que atesta a falta de planejamento em seu desenvolvimento. Dentre tantos aspectos negativos, pode-se citar um fator positivo não intencional de sua construção: tamanha negligência com a cidade fez com que as classes mais altas, os escritórios de grande porte se mudassem para os novos centros econômicos emergentes, e a repulsa desta camada social com a zona central tornou real a possibilidade de compra de moradia na região a um baixo custo, o que segundo João Sette sempre foi impossibilitado pelas elites, pois quanto maior o nível de interessados, proporcionalmente maior era o preço

14 Arquiteto formado pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Mackenzie (1968), com curso de Extensão Universitária em Planejamento de Transportes MIT/ EBTU/Geipot (1980). E atuou entre 1989 e 1992 como VicePresidente da EMURB.

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Figura 25 | Fotografia sob o elevado.

do imóvel. Embora o centro seja uma zona da cidade também caracterizada pelo trabalho popular e devesse ser local de moradia desta. Isto é comprovado por pesquisas realizadas por alunos da FAU-USP, os quais confirmam o alto número de ambulantes do comércio informal no centro que residem nestes apartamentos voltados para o Minhocão.15

15 SETTE, João. Cidades para Que(m)?

Deste modo, fica explicito que só se foi possível dar a possibilidade de moradia a um baixo custo quando todos que tinham condições de se mudar para outras regiões com uma qualidade de vida superior a apresentada perderam total interesse no centro. É controverso, no entanto, afirmar que o houve uma melhoria na qualidade de vida da classe mais baixa que saiu da periferia para residir próximo ao seu local de trabalho, uma vez que são tantos os pontos negativos gerados pela via elevada.

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PROPOSTAS SO[BRE] O ELEVADO CAPÍTULO 02


Figuras 26 e 27 | Perspectivas do projeto vencedor do Concurso Prestes Maia de 2006.

Criado em 1998, o Prêmio Prestes Maia de Urbanismo teve como primeiro tema a elaboração de planos que solucionassem ou amenizassem os problemas ocasionados por enchentes na Zona Leste. Parte da proposta vencedora na qual constituía em construir piscinões foi realizada. Com o objetivo de ser quadrienal, o segundo prêmio Prestes Maia de Urbanismo foi lançado apenas em 2006 durante a gestão do então prefeito José Serra. O concurso de abrangência nacional teve como pretensão discutir os problemas da cidade relacionados ao Minhocão, reduzindo os impactos negativos por ele causados, com o objetivo de elevar a qualidade de vida dos moradores dos bairros cortados por este.

16 LUNA, Francisco Vidal; MAGALHÃES, Manuelito Pereira. Caminhos do Elevado Memória e Projetos.

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‘’ O Minhocão representou a principal causa da deterioração de parte expressiva do centro da cidade, contribuindo decisivamente para a forte desvalorização dos imóveis no seu entorno... além de ser fruto de uma época em que a relação entre governo e população era pautada pelo arbítrio e pelo autoritarismo.’’16 Cerca de 80% dos concorrentes optaram por manter a estrutura existente propondo a transformação


Figura 28 | Perspectiva noturna do projeto realizado por José Alves e Juliana Corradini.

de trechos do elevado em parque. Tanto os vencedores quanto as menções honrosas concedidas mantiveram o Elevado Costa e Silva. Contudo, ao analisar as propostas vencedoras, fica claro que há uma predileção ao automóvel por mais que ofereçam condições de transporte público.

Figura 29 | Corte da proposta.

A 1 ª equipe colocada, formada pelos arquitetos José Alves e Juliana Corradini, manteve o Minhocão como eixo viário para a cidade, transformando-o em um túnel suspenso através do fechamento de suas laterais e a elaboração de outra superfície sobre o tabuleiro existente. Este nível seria destinado à um parque linear com conexões aos novos edifícios propostos com fins culturais, como escolas e biblioteca. No entanto, 26


ao aumentar a altura do elevado implantando mais um pavimento, a cota térrea receberia ainda menos iluminação natural, e haveriam mais apartamentos encobertos pela estrutura, o que seria ainda mais prejudicial aos residentes das edificações de seu entorno. O 2 º lugar, desenvolvido por Fernando Ventura Gutierrez, propôs 4 etapas de projeto para o prêmio. As etapas 1 e 2 correspondem à remoção da estrutura entre o Largo Santa Cecília e a Praça Roosevelt, eliminando toda a via elevada sobre a Rua Amaral Gurgel, mas mantendo o segmento referente à Avenida São João e Rua General Olímpio da Silveira. O fragmento mantido seria transformado em um corredor de ônibus híbrido, para diminuir a poluição sonora, além de que o tráfego de automóveis seria transferido para uma via expressa desenvolvida no leito da Companhia de Trens Metropolitanos (CPTM), contudo, ainda seriam mantidas as três faixas de rolamento por sentido no térreo. As fases 3 e 4 pretendiam alargar o canteiro central sob toda a área antes encoberta pelo Minhocão, diminuindo para 4 faixas de rolamento em ambos os sentidos, revitalizando o trecho descoberto da Rua Amaral Gurgel, transformando-a em bulevar, e propondo a criação de um pólo gastronômico e cultural. Já a fase final pressupõe a remoção do 27


restante até então mantido do Elevado Costa e Silva, equivalente aos trechos da Avenida São João e Rua General Olímpio da Silveira, transformando todo este traçado em bulevar. O deslocamento expresso de veículos ocorreria por um túnel abaixo destas vias com o intuito de desviar o trânsito proveniente da Radial Leste. O arquiteto Marcel Alex Fredy Monaccelli, 3º colocado no concurso, transformou a parte elevada em corredor de ônibus e através da remoção das vigas de borda do Minhocão estreitou o tabuleiro, aumentando a insolação ao nível do solo na cidade. No entanto, o canteiro central e as calçadas seriam comprimidas para possibilitar a inclusão de mais uma faixa para automóveis em cada sentido da rua, totalizando 8 eixos de rolamento no térreo, e 2 destinados aos ônibus na cota do elevado.

Figura 30 | Imagem da proposta realizada por Marcel Alex Fredy Monaccellli.

Figura 31 | Projeto realizado pelo escritório FGMF.

Entre as menções honrosas, a proposta concebida pelo escritório FGMF propôs a demolição quase completa do elevado, mantendo apenas quatro trechos de sua estrutura próximos às praças e entroncamentos já existentes. Estes fragmentos seriam mantidos e reformulados com o objetivo de conectá-los a equipamentos públicos como cinema e biblioteca, além de manter presente a memória do Minhocão. Após a análise destes projetos, nota-se que 28


há uma década a valorização do automóvel era uma propensão utilizada inclusive para diminuir os espaços de passeio na cidade, como as calçadas. Outro fator de destaque dos projetos é a transferência do tráfego de veículos do Minhocão para a incorporação de uma nova via expressa ao leito da via férrea, a qual seria caracterizada como outra barreira na cidade do ponto de vista do pedestre. De acordo com Rosa Artigas, a não inserção de habitações sociais como questões de urbanismo nos projetos também foi uma das dificuldades conceituais das propostas apresentadas. O novo Plano Diretor, em vigor desde 31 de julho de 2014, estabeleceu como diretriz a desativação do Minhocão como via de tráfego de automóveis até o 2030. Aprovado na Câmara Municipal e sancionado pelo Prefeito Fernando Hadddad, há um artigo que visa estabelecer uma lei exclusiva para o elevado:

17 Fonte: Prefeitura de São Paulo. 29

‘’ Lei específica deverá ser elaborada determinando a gradual restrição ao transporte individual motorizado no Elevado Costa e Silva, definindo prazos até sua completa desativação como via de tráfego, sua demolição ou transformação, parcial ou integral, em parque.’’ 17


O que intensificou o debate sobre o seu futuro, pois uma vez previsto o desuso de automóveis neste, são consideradas duas hipóteses como fundamentos para melhorias urbanas na região: transformação em parque linear, ou desmanche total.

Figura 32 | Avenida São João atualmente.

A favor da total remoção do elevado, o ‘’Movimento Desmanche Minhocão’’ se baseia em outros exemplos similares nos quais o viaduto foi completamente demolido para valorizar o térreo, antes encoberto. Yara Goes, diretora do MDM, defende que os problemas de poluição do ar, sonora e a falta de segurança estão relacionados à estrutura deste, e sua transformação em parque, segundo o movimento não resolveriam tais questões, assim como a ausência de luz natural no térreo. ‘’Antes também éramos a favor de um parque, aliás, quem em sã consciência é contra um parque? Mas, a partir do momento em que fomos nos conscientizando dos problemas, vimos que o desmonte é a única solução sob todos os aspectos, humano, de saúde, e ambiental... desativar o trânsito no elevado e não desmontar sua estrutura, só iria agravar os problemas

Figura 33 | Montagem da Avenida São João com a remoção do elevado.

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Figuras 34 e 35 | Registros da última casa existente da Avenida São João na década de 20 e atualmente.

de saúde, com o aumento de carros abaixo da via, consequentemente o acúmulo de gases tóxicos ejetados pelos veículos, e altamente nocivos para a saúde humana. ’’ – José Geraldo dos Santos Oliveira. 18

18 Formado em advocacia, VicePresidente do CONSEG Santa Cecília e Campos Elíseos, e diretor do MDM.

A circulação de pessoas sem nenhum controle, e a realização de festas também preocupa os moradores, ‘’ Qual a vantagem de tirar o ruído dos carros e colocar o ruído de festas ensurdecedoras, com amplificadores de som de 120decibéis? ’’, questiona Yara, além de relatarem problemas no qual o Hospital Santa Cecília, localizado de frente para o Minhocão, possui frequentemente aos domingos devido ao som elevado gerado pelos seus usuários.

19 SOUZA, Felipe. Ferrugem e umidade afetam estrutura do Minhocão, segundo especialistas. 31

O movimento também aponta de que a estrutura de quase 50 anos do Minhocão está comprometida, e conforme a doutora em engenharia pela USP, Karen Nicolli Ramirez, em entrevista concedida ao jornal Folha de São Paulo19 , o crescimento de dezenas de árvores ao longo da estrutura demonstra que há problemas de infiltrações, o que exibe que há danos no local por haver um descaso em relação a manutenção, inspeção e limpeza adequadas. Segundo o jornal, o botânico Ricardo Cardim


identificou as espécies de árvores presentes como figueiras, efetuando um alerta sobre o seu rápido crescimento e a capacidade de mover toneladas ao se desenvolverem, lembrando o ocorrido com a Ponte dos Remédios em 2011, onde o desenvolvimento de uma árvore, aliado à negligência com a manutenção causou o desmoronamento de parte da estrutura da ponte, interditando a Marginal Tietê.

Figura 36 | Árvore que cresce sobre a estrutura do Minhocão.

Ramirez também afirma que a armadura apresenta ferrugem, resultado das infiltrações, e caso se prolongue, existe o risco de a estrutura sucumbir por não aguentar o peso que deveria. A reportagem percorreu toda a extensão do elevado, e revelou que 1/3 dos postes de luz estavam com os fios expostos ou danificadas, ao menos 198 telas de proteção estavam quebradas, e nos pontos de ônibus, são dezenas as placas de forro ausentes por terem se soltado. Do ponto de vista financeiro o MDM justifica que o valor de investimento para que ocorra a manutenção do elevado é muito alto, sendo que em sua última reforma foram gastos mais de R$ 900.000. Para a Associação é incoerente despender tanto dinheiro em um equipamento indesejado e visto como um antiexemplo. Há uma parcela de moradores dos edifícios que 32


o margeiam preocupados com sua privacidade em uma possível conversão em área pública, pois a proximidade entre as janelas e o elevado em alguns edifícios chega a menos de 5m de distância, e torna possível ao pedestre enxergar o interior das residências. A arquiteta Raquel Rolnik20 também vai contra a sua transformação em parque por defender que esta mudança: 20 Possui graduação em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de São Paulo (1978), mestrado em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de São Paulo (1981) e doutorado em Graduate School Of Arts And Science History Department New York University (1995).

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‘’ ...não resolve o impacto que aquela estrutura monstruosa causa nas ruas que percorre - que viraram uma espécie de subsolo - nem nos prédios em volta. Enfim, não soluciona o problema urbanístico daquele lugar. O elevado atravessa bairros residenciais e mistos da cidade, que se degradaram com sua presença; e mais: ajudou a promover o esvaziamento residencial desses bairros. Sua desativação coloca, então, antes de mais nada, a necessidade de retomar a função residencial da região, lembrando que hoje moradores de menor renda vivem nessa área graças à sua


desvalorização. Aliás, a notícia do parque elevado já fez subir as expectativas de preços de imóveis no entorno...’’21

Figura 37 | Fotografia do elevado sobrepondo a Avenida São João.

O também arquiteto, Angelo Bucci22 acredita que a comoção por um parque suspenso vem da ausência de espaços públicos de qualidade na cidade; no entanto, em um futuro com áreas públicas de qualidade, Bucci questiona qual a razão de se criar um parque justamente ali, além de defender que apenas um desmanche completo conseguiria modificar de fato a região.

21 ROLNIK, Raquel. Sobre Minhocão e Parques.

Anne Marie Summer23 acredita que naturalmente uma cidade comete erros, e que ‘’ O Minhocão é uma cicatriz urbana e um problema infra estrutural de porte fundante de São Paulo.’’ Para a arquiteta, a não demolição do elevado seria apenas uma solução paliativa.

23 Arquiteta formada na Universidade de São Paulo, com graduação na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (1978), mestre em Filosofia pela Universidade de São Paulo (2001). Professora adjunta da disciplina de projeto da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Mackenzie.

Opinião compartilhada por Valter Caldana.24 “Tirar o Minhocão só vai fazer bem à cidade.” Para Caldana, a demolição deve ser feita sem receio. “São três milhões de metros quadrados de chão que estão cobertos e sacrificados pela via. E é no chão que vamos resolver nossos problemas como cidade.’’ Referenciando-se ao total desmonte como forma de valorizar o térreo e a região.25

22 Graduação entre (1983-1987), mestrado (1998) e doutorado (2005) em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de São Paulo. Desde 2003 dirige o escritório SPBR arquitetos.

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24 Possui graduação em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de São Paulo (1985), mestrado em Planejamento Urbano e Regional FAUUSP (1994) e doutorado em Projeto de Arquitetura FAUUSP (2005). Atualmente é professor adjunto da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie, e é o atual Diretor. 25 MEKARI, Danilo; NOGUEIRA, Pedro. Viaduto, Parque ou Demolição? O que São Paulo fará com o Minhocão?

26 Engenheiro civil e mestre em Engenharia de Transportes pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP).

27 BONDUKI, Nabil. Minhocão é um desastre urbanístico, mas é impossível fechá-lo agora. 35

Seu desmanche revitalizaria a Praça Marechal Deodoro, o Largo Santa Cecília e do Arouche, possibilitando duas hipóteses para canteiro central onde hoje estão locados seus pilares. Pode-se utilizá-lo como um grande calçadão de 6m de largura mantendo as atuais 3 faixas de veículos em cada sentido, e através do plantio de árvores transforma-lo, em bulevar. Já para Sérgio Ejzenberg,26 em entrevista concedida ao jornal SPTV, com a remoção do Minhocão deveria aproveitar-se do canteiro central para implantar uma ciclovia, e ainda mais uma faixa para automóveis em cada sentido para melhorar as condições de trânsito, priorizando o transporte de automóveis. Em oposição a ideologia de desmanche do Elevado Costa e Silva, existe a possibilidade de mantêlo com o objetivo de transformar sua superfície em parque linear. O paulistano tem a oportunidade de utilizar tamanha estrutura como parque a partir das 21h30 às 6h00, ou então aos sábados a partir das 15h e aos domingos e feriados onde este permanece fechado aos veículos inclusive durante o dia desde 1989, por iniciativa da prefeita Luiza Erundina com o objetivo de melhorar a qualidade de vida dos residentes dos edifícios ao longo deste.27 Apesar de não possuir equipamentos destinados


às pessoas, como bancos, árvores, ou locais de permanência, aos domingos, de acordo com a Associação Amigos do Parque Minhocão, seus frequentadores chegam aos milhares, o que exibe a ausência de espaços públicos na cidade, uma vez que mesmo sem nenhum grande atrativo além da inexistência de conflitos entre pedestres e automóveis, a população o utiliza como área de lazer. Com o intuito de transformá-lo em parque, o grupo visa através do recolhimento de assinaturas levar este projeto à prefeitura, com a intenção de após a inativação do viaduto, este se interligue com a cidade através de ciclovias e se torne um parque linear, ‘’ ...criando um espaço público de lazer que reafirme e impulsione ainda mais a apropriação e ressignificação do lugar pela população, a partir da convicção de que devemos viver em cidades para pessoas.’’ – de acordo com a própria associação.

Figuras 38, 39 e 40 | Montagens da possível transformação do Minhocão em Parque.

Figura 41 | Montagem do resultado previsto após instalação da parede verde nos edifícios que margeiam o elevado.

‘’O Parque Minhocão favorece uma série de dimensões esquecidas da cidade: os espaços de contemplação da paisagem, os espaços de redescoberta do afeto, através da relação e do encontro com o outro desconhecido (alteridade), os espaços em que o tempo é significado não pelas 36


demandas do exterior, como o mundo do trabalho. Tudo isso somado à recuperação urbanística dos bairros hoje degradados pelo Minhocão. Esses elementos intangíveis são fundamentais para a vida em sociedade, por reduzir a ênfase no uso do espaço urbano como área de circulação (de preferência, do carro), ênfase essa que prejudica a noção de pertencimento e de agregação social.’’ - Athos Comolatti, presidente da Associação Parque Minhocão.28 28|29 COMOLATTI, Athos; POSER, Paulo Von, LEVY, Wilson. Cidade e Democracia.

30 Formado em Arquitetura e Urbanismo (FAUUSP, 1998), Mestre em História Social (FFLCH-USP, 2004), é Doutor pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo. 37

A ideia do Parque Minhocão já era apontada como um método de compensação aos moradores de seu entorno durante o governo de Jânio Quadros em 1987, conforme proposto pelo arquiteto Pitanga do Amparo.29 Esta medida é defendida pelo arquiteto e urbanista Guilherme Wisnik,30 que afirma já ter sido a favor da demolição total deste: ‘’Mas nos últimos anos muita coisa mudou. De 2010 para cá, principalmente, começou a ocorrer um movimento muito


grande em prol dos espaços públicos, identificado na Virada Cultural, nas discussões geradas em torno da disputa pela Praça Roosevelt e no uso intenso do elevado como espaço de lazer aos domingos. Por isso hoje defendo o parque, não necessariamente em toda a extensão da via, mas talvez em uma solução mista.’’31 É fato que sua transformação em um local destinado aos pedestres revitalizaria a parte superior, mas também é preciso lembrar da cota térrea. Com sua manutenção a inutilização do canteiro central para mais vias de tráfego é um dos pontos citados por quem defende sua remoção, em decorrência do aumento do trânsito. Contudo, de acordo com Vicente Petrocelli, gerente da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), estudos sobre os impactos de sua desativação no trânsito não apontam ‘’nenhuma tragédia’’, além de afirmar que os trabalhos devem ser feitos para focar a mobilidade urbana, não apenas em função do automóvel.32 O arquiteto João Sette também compartilha da ideia de que o sistema viário está em colapso, e com a inutilização do elevado como via de tráfego, este se dispersaria pelas vias locais já

31 WISNIK, Guilherme. Veia aberta de São Paulo.

32 MELO, Débora. SP: criação de parque divide moradores da região do Minhocão. 38


existentes. Sua transmutação em parque é defendida por uma parcela maior da população ao compararmos com os que desejam sua demolição, segundo Datafolha, em pesquisa realizada em 23 de setembro de 2014, apenas 7% da população apoia o desmanche, enquanto 27% se diz a favor do parque. No entanto, a maior parcela de votos equivalente a 53% se posiciona em prol da manutenção da via expressa conforme ocorre até hoje.33 33 RODRIGUES, Artur; MACHADO, Leandro.Apenas 7% dos paulistanos apoiam demolir o Minhocão, diz Datafolha.

Figura 42 | Passeio no elevado.

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Ainda que seu futuro seja indefinido, sua função ventura será distinta da atual. Diferentemente de quando este foi construído, sem participação popular, esta se torna essencial por ser uma decisão que afeta grande parte da cidade, além de que é dada a possibilidade dos moradores do entorno se manifestarem sobre o que consideram melhor para o seu futuro. Baseados neste argumento muitos defendem a sua transmutação em parque, pois quando fechado este já é usufruído pelas pessoas, o que gera a sensação de pertencimento destas com o Minhocão. Todavia, caso este não seja o seu futuro, qual espaço público seria ofertado aos seus milhares de usuários?


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OUTRAS EXPERIÊNCIAS CAPÍTULO 03


A requalificação de áreas urbanas realizadas a partir de projetos desenvolvidos sob ou sobre viadutos já foi praticada em diversos locais onde estes, assim como o Minhocão, causavam problemas urbanos como a degradação do local, e geravam áreas subutilizadas, vistas como grande potencial de transformação de seu entorno. O High Line Park, Nova Iorque, originou-se a partir de uma linha férrea elevada construída em 1930 como medida de infraestrutura, abastecendo o distrito industrial de Chelsea e Manhattan. A opção por realizála de forma elevada, aproximadamente 9 metros de altura, consiste no número de acidentes envolvendo pedestres, automóveis e trens, o que inclusive tornou a 10th Avenue conhecida como Death Avenue (Avenida da Morte). Projetada para permear os quarteirões já existentes e transpassar os edifícios, sua utilização como linha de transporte de cargas pretendia uma alta velocidade nos serviços de entrega. Seu projeto compreendia em aproximadamente 21km de trilhos elevados. Contudo, a partir da década de 50, com a alta propagação do automóvel e consequentemente do desenvolvimento rodoviário, sua dimensão nunca se aproximou de seu intuito inicial. Portanto, houve uma redução na expansão ferroviária, e aproximadamente nos anos 60 foram demolidas seções do trecho Sul, o que o deixou com a extensão atual, cerca de 2,4km. Já na década de 80 43


este acabou sendo desativado por inteiro, e a partir deste momento os moradores dos bairros cruzados pelo elevado solicitavam seu total desmanche, uma vez que a estrutura se degradava em conjunto com seu entorno. Assim como seus trilhos foram cobertos por uma vegetação local e diversificada, expondo ainda mais seu estado de abandono.

Figuras 43, 44 e 45 | High Line Nova Iorque quando a ferrovia ainda estava ativa.

A fundação Friends of High Line, responsável por levar a ideia de transformação do elevado à prefeitura, foi fundada em 1999 a partir do encontro de dois moradores da comunidade local que dispunham de interesse em revitalizá-lo, transformando-o em espaço público. ‘’Queríamos salvar a High Line para inventar algo extraordinário para a cidade de Nova Iorque. Não seria suficiente apenas construir escadas e acrescentar bancos e vasos de plantas. O design para a High Line teria que ser tão interessante e incomum quanto a estrutura em si.’’34 Em 2002 receberam o primeiro suporte da prefeitura sobre a viabilidade estrutural e econômica para sua concretização. Então lançaram um concurso de ideias para a revitalização deste, no qual participaram

34 Fonte: Highline. org. Texto original em inglês: We wanted to save the High Line to make something extraordinary for New York City. It wouldn’t be enough to build stairs and add a few planters and benches. The design for High Line had to be as interesting and unusual as the structure itself. 44


Figuras 46, 47, 48 e 49 | Estado de abandono da linha férrea com entulho acumulado e a vegetação natural que cresceu sobre os trilhos.

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720 equipes de 36 diferentes nacionalidades. O resultado foi exposto na estação Grand Central Terminal, em conjunto de um vídeo explicativo sobre a proposta de reuso e sua respectiva história.

Figuras 50 e 51 | High Line convertida em High-Line Park.

A equipe dos arquitetos Diller Scofidio + Renfro obteve a proposta mais votada, e assim juntamente do escritório paisagístico James Corner Field Operation realizaram o projeto no qual teve início em 2005 após a prefeitura adquirir a High Line de sua até então portadora, CSX Corporation. O período de obras foi dividido em três etapas, a primeira foi entregue à população em junho de 2009, já a segunda parte foi concluída em 2011, e por fim a terceira em 2014. ‘’Inspirado pela melancólica e indisciplinada beleza dessa ruína pós-industrial onde a natureza envolveu o que um dia fora uma peça vital da infraestrutura urbana, o novo parque será um instrumento de lazer, um lugar para se refletir sobre o verdadeiro significado de “natureza” e “cultura” no nosso tempo. Através de uma estratégia de “agri-tetura” que combina materiais orgânicos 46


Figura 52 | A imagem exibe a proximidade entre as edificações do entorno e o parque, além de que este também corta os edifícios.

e de construção em uma mistura vegetal / mineral, o parque acomoda o selvagem, o cultivado, o íntimo e o social.’’ – Scofidio.35

35 Fonte: Highline. org. Texto original em inglês: Inspired by the melancholic, unruly beauty of this postindustrial ruin where nature has reclaimed a oncevital piece of urban infrastructure, the new park will be an instrument of leisure, a place to reflect about the very categories of’’nature’ and ‘culture’ in our time. Through a strategy of agri-tecture that combines organic and building materials into a vegetal/mineral blend, the park accommodates the wild, the cultivated, the intimate, and the social.

A equipe responsável pelo projeto optou pela manutenção da estrutura existente como uma medida de se preservar a memória local, uma vez que este caracteriza o período industrial antes presente neste território. Outros elementos como os guardacorpos com desenhos Art Déco e os trilhos nos quais consistiam a linha férrea foram restaurados e implantados novamente, o que também remete ao estado de abandono no qual este se encontrava.

Figuras 53 e 54 | População usufruindo da High Line Park realizando interações sociais. 47

Foi determinado que o projeto paisagístico seria direcionado as espécies já antes ali presentes, exigindo pouca manutenção e assegurando sua capacidade de adaptabilidade ao clima. O que evitaria altos custos e remeteria a High Line abandonada de tantas décadas. Os acessos ao parque são realizados por 9 escadarias e um total de quatro elevadores, o que permite o alcance inclusive a pessoas com locomoção reduzida. O High Line Park mostrou-se eficaz não só em relação às questões remetentes a arquitetura neste realizadas, como a sustentabilidade, materialidade, e a história preservada, mas também na tentativa de gerar um espaço que promovesse a diversidade


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de grupos sociais, através de workshops, palestras, visitas guiadas e exposições, mostrando-se um projeto bem-sucedido e inclusivo, justamente devido a clara participação da população no projeto.36 36 High Line convertida em High Line Park.

No entanto, apesar do parque não possuir um perfil excludente social de seus frequentadores, a revitalização da área provocou um processo gentrificatório na região. Não houve nenhum propósito que assegurasse moradia aos seus antigos residentes, uma vez que devido ao desenvolvimento não só do parque, mas sim da reurbanização de seu entorno, composta por projetos de centros comerciais, hotelaria e museus, as proximidades do High Line Park tornaramse cobiçadas não só do ponto de vista turístico, mas também das classes sociais mais altas e investidores que elevam os preços estipulados pelo mercado imobiliário. Ao relacionar o processo ocorrido em Nova Iorque com o Minhocão, nota-se que as problemáticas são diferentes, uma vez que a High Line foi construída para o transpasse do transporte ferroviário, e quando optado pela construção do parque, esta já estava inoperante. Dessa forma, não havia nenhuma hesitação relacionada ao trânsito que devesse ser solucionado, o que demonstra uma grande diferença entre a High Line, antes da intervenção, e o Elevado Costa e Silva: seus atuais usos. A via férrea estava abandonada, e não possuía nenhuma função para a

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cidade, enquanto o Minhocão além de ser uma via importante de tráfego, já é utilizado pela população quando lhe és dada a oportunidade. Portanto, apesar de não fornecer nenhum equipamento público aos seus frequentadores, este já possui função social, e caso seja transformado em parque, a população usufruiria ainda mais deste espaço, enquanto uma das superações a serem exercidas pela equipe de arquitetos da High Line era a necessidade de atrair pessoas para a área, posto que os bairros no qual este se insere não eram convidativos a sociedade por

serem industriais e repletos de galpões, carecendo assim de equipamentos públicos. Já ao nível da cota térrea intervenção realizada em Nova Iorque é totalmente excludente, uma vez que não são propostos novos usos, o que não pode ser negligenciado em qualquer eventual proposta para o Elevado Costa e Silva, pois em decorrência da poluição sonora, visual e da ausência de luz este chega a ser inclusive evitado pelos pedestres. Figura 55 | High Line Park.

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Figura 56 | Uso do rio Zaan para lazer sobre a rodovia A8.

O projeto A8ERNA, realizado pelo escritório NL Architects foi vencedor do Prêmio Europeu do Espaço Público Urbano de 2000, no qual o grupo de arquitetos propôs reurbanizar e unificar o tecido urbano da cidade de Koog and Zaan, Holanda, que no fim da década de 70 rompeu-se espacialmente em duas devido a construção da rodovia elevada A8. Como consequência da concepção do elevado, formou-se um grande vazio urbano, o qual se pode classificar como ‘’Terrain Vague’’, expressão francesa utilizada por Ignasi de Solá-Morales, para se referir a espaços urbanos que não oferecem significado à cidade, nem à população, por serem locais abandonados, onde não ocorrem relações sociais entre pessoas, ou entre estas com a cidade.37

37 SEBASTIÁN, Álvaro Castro. Projeto Urbano A8ERNA: ativar o ‘’terrainvague’’

Figura 57 | Área esportiva com pistas de skate realizadas na proposta. 51

O partido projetual estabelecido pelo grupo de arquitetos visou através da inserção de novos usos reunificar a malha urbana rompida pelo viaduto usufruindo da cobertura gerada por este. Seu programa parte de requisitos apresentados pelos cidadãos locais, como floricultura, mercado, estacionamento, área esportiva, pistas de skate, e inclusive um redesenho da orla do rio, o qual havia se deteriorado em decorrência da ausência de planejamento e do recente adensamento. Assim, a partir da participação popular, foi adquirida a sensação de posse entre as pessoas e o projeto, o que colabora


na manutenção dos novos usos criados e evita a sua deterioração, beneficiando encontros sociais de diferentes classes. Deste modo, há uma total transformação que passa de uma cicatriz urbana a um elemento conector de uma área que fora um dia conectada e volta a ser reintegrada através da reunião de divergentes atividades em um único espaço. Sob o viaduto transformado em uma grande marquise, além das atividades projetadas para o local, também se desfrutou da situação natural, onde rio Zaan, antes degradado passou a oferecer passeios de caiaque. Porém, diferentemente do Elevado Costa e

Silva, o passeio sob a construção é bem iluminado naturalmente devido à uma grande distância que a separa das outras edificações em seu entorno, o que já não ocorre no Minhocão, além de que o canteiro central que hoje divide os dois sentidos das três faixas pertencentes a Avenida São João, Avenida General Olímpio da Silveira, e Rua Amaral Gurgel, é relativamente estreito ao compararmos com o A8ERNA, o que impossibilita a implantação de alguns usos realizados neste projeto, como as pistas de skate, por gerar uma maior sensação de insegurança do pedestre ao permanecer neste local devido a velocidade dos automóveis que se deslocam por estas vias. Figura 58 | Iluminação noturna do projeto A8erna em conjunto com seu uso comercial.

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Figura 59 | Viaduc des Arts visto do nível da rua.

Parte de um complexo urbano, denominado Promenade Plantée, em Paris, o Viaduc des Arts corresponde a um parque elevado realizado sobre um viaduto onde antes havia uma linha férrea inaugurada em 1859, conectando a região leste à Place de la Bastilé, estação terminal. Após um século de uso, esta foi desativada devido ao desenvolvimento de um novo traçado de ferrovias fora do centro urbano da cidade, o que proporcionou um debate sobre as possíveis funções oferecidas por estes equipamentos. Foi proposto o desmanche da estação terminal com o objetivo de empreender novas edificações neste local, entre estas, a Ópera de la Bastille.

Figura 60 | Parte superior do Viaduc des Arts.

Já para o viaduto, se refletiu a respeito de duas possibilidades: sua manutenção com intuito de transformá-lo em parque e utilizar seus arcos dispostos no térreo com destino a áreas comerciais, ou sua demolição para dar espaço a novas construções conforme ocorrido com a estação final. Ao considera-lo monumento histórico por carregar traços de uma Paris industrial, além de que a revitalização do viaduto conseguiria acolher diversas atividades sem a necessidade de se construir novos edifícios, a prefeitura parisiense optou por sua manutenção.

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Em 1987 foi concedida a posse do Viaduc à prefeitura que até então pertencia à SNFC, empresa gestora da rede ferroviária no país. A reurbanização do viaduto foi dividida em parte superior e inferior. Patrick Berger foi designado ao trabalho sob os arcos, e Philippe Mathieux e Jacques Vergely elegidos para a parte paisagística superior.

Figura 61 | Imagem do parque suspenso atravessando a edificação.

A revitalização foi concluída em etapas, e após 10 anos do início, em 1997 foram inauguradas as últimas arcadas restantes nas quais grande parte se destina ao comércio de artesanatos.38 Visto que o Viaduc des Arts serviu de inspiração para o High Line Park, e que ambos possuem semelhanças como a inserção em grandes centros urbanos, além de seu histórico correspondente a uma via férrea elevada, o projeto realizado em Nova Iorque se beneficiou de algumas situações nas quais poderiam ser melhor resolvidas em Paris, como as circulações verticais, uma vez que estas são escassas e pouco aparentes ao longo do parque.39

38 MELLO, Cristina de. Viaduc des Arts – Promenade Plantéé – as lojas e cafés.

Outro fator diferencial entre ambos está na participação popular: em Paris a população pouco participou de reflexões sobre o melhor a ser feito com a antiga ferrovia, o que pode ter influenciado o fato deste ser pouco frequentado por turistas e cidadãos que residem em locais mais distantes, o que em Nova Iorque ocorreu de forma contrária.

39 Promenade Plantée como inspiração.

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Viaduc des Arts é um projeto no qual abrange tanto as problemáticas do nível térreo quanto o que ocorre sobre ele, portanto, é a referência que mais se assemelha as necessidades do Elevado Costa e Silva, uma vez que qualquer proposta urbana para o Minhocão deva considerar ambos os níveis para realizar melhorias consideráveis na região. Figura 62 | Trecho elevado que comporta espelhos d’água e árvores de médio porte.

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Figura 63 | Galerias comerciais no tĂŠrreo.

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O MINHOCÃO E SUAS MÚLTIPLAS INTERPRETAÇÕES CAPÍTULO 04


O Elevado Costa e Silva é um elemento na cidade associado a diversas funções e usos estabelecidos pela sociedade, desde via expressa a parque, o que faz com que este possua identidades múltiplas referentes a diferentes períodos de tempo. Pode-se assim interpretá-lo de variados modos a partir de relações coletivas e individuais. A identidade é adquirida de acordo com Denise Jodelet a partir de experiências individuais. São relações que cada cidadão possui com o elevado através da interpretação de memórias geradoras de sensações, podendo estas ser negativas ou fontes de bem-estar. Para muitos, o próprio nome que este recebe, Elevado Costa e Silva, já remete ao período governado por ditadores, de modo que o Minhocão é associado a memórias ruins. Grande parcela da população que vivenciou a deterioração da área central o enxerga como um dos principais agentes do ocorrido, assim, o elevado remete a consequências repulsivas devido aos danos que este causou no tecido da cidade e principalmente aos residentes do entorno imediato, o que o torna antisímbolo de São Paulo.40 40 CAMPOS, Cândido Malta. Caminhos do Elevado Memórias e Projetos.

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No entanto, para quem o usufrui como parque, as memórias singulares o expressam como um ponto de lazer na cidade, o que gera afeto a partir do momento em que a sociedade alterou o seu uso e a


maneira de se relacionar com o Minhocão, modificando também a memória coletiva. A identificação com este ocorre devido à ausência de equipamentos públicos de qualidade na cidade de São Paulo, pois apesar de não possuir mobiliário urbano, ou ser uma construção desenvolvida para exercer relações com o pedestre, como a permanência, são milhares seus usuários quando este encontra-se fechado para os automóveis.

Figura 64 | Vista aérea do elevado.

O impedimento do tráfego de veículos o transforma em uma grande calçada convidativa ao pedestre, o asfalto sem buracos torna o caminhar muito mais fácil do que em diversas calçadas paulistas, as crianças podem correr sem que haja o perigo de serem atropeladas, o que também acontece com ciclistas e skatistas; são realizadas apresentações teatrais que entretém os passantes, o guard-rail construído para separar as pistas de rolamento se transforma em bancos, o comércio informal realiza feiras de venda e troca de produtos usados. Deste modo os encontros entre as pessoas estabelecem as relações de vizinhança, vistos como essenciais para uma cidade praticada, o que modifica a identidade do Minhocão. ‘’...são as relações de vizinhança, o ato de ir às compras, o caminhar, o encontro, os jogos, as brincadeiras, o percurso reconhecido de uma prática 60


Figuras 65, 66 e 67 | Atividades realizadas pela população ao usufruir do elevado como uma área de lazer. Respectivamente da esquerda para a direita: projeção do filme ‘‘Elevado 3.5’’, Festa Junina no Minhocão, projeto da Bienal de Arquitetura de São Paulo ao levar uma piscina para o elevado.

Figuras 68 e 69 | Imagens de práticas esportivas realizadas no Minhocão juntamente com o comércio informal.

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vivida/reconhecida em pequenos atos corriqueiros e aparentemente sem sentido que criam laços profundos de identidades habitantehabitante e habitante-lugar. ‘’41

Figura 70 | Peça de teatro realizada da janela de um dos edifícios que margeiam o elevado pelo grupo Esparrama.

A busca por espaços de lazer na cidade é o foco de trabalho de grupos empenhados em elevar a qualidade de vida de quem mora ou circula nas redondezas do elevado. Dentre estes, há os dois extremos: associações a favor da manutenção total do tabuleiro para transformação em parque, como a‘’Associação Amigos do Parque Minhocão’’, e grupos que defendem a remoção total, como o ‘’Movimento Desmanche Minhocão’’ e ‘’Santa Cecília sem Minhocão’’.

41 JACOBS, Jane, A Morte e Vida das Grandes Cidades.

Fora estes, que exercem sua ideologia a partir de transformações cujo o foco consiste na parte elevada e na erradicação total do Minhocão como uma via de automóveis, o coletivo ‘’Marquise Minhocão’’ visa a partir de encontros com a comunidade apresentar uma proposta à Prefeitura de São Paulo com o intuito de beneficiar a área e seus residentes através de reflexões realizadas pelos próprios e por quem se predispôs a sugerir melhorias. Contudo, a proposta mantém o elevado como via de automóveis e foca em intervenções que resultem em benefícios auferidos na cota térrea. 62


Figuras 71 e 72 | Perspectivas do projeto realizado pelo pelo escritório Triptyque.

Figura 73 | Corte do elevado exibindo a insolação direta recebida no térreo com o projeto. 63

Em parceria com o escritório de arquitetura Triptyque o grupo desenvolveu um projeto para o elevado com o partido de remover uma das vigas existentes do tabuleiro com o intuito de aumentar os índices de iluminação natural nas ruas General Olímpio da Silveira, Amaral Gurgel e Avenida São João, além de arborizar o viaduto com espécies que necessitem de pouca insolação e incluir módulos com comércios, áreas de estar e espaços destinados à música e cultura. Além destas organizações voltadas principalmente para o Elevado Costa e Silva, a área central abrange associações com pretensões de fornecer a cidade mais espaços culturais, como o Aliados do Parque Augusta, cujo objetivo é manter existente uma das poucas áreas remanescentes de Mata Atlântica na cidade e preservá-lo como local público, uma vez que já está previsto a construção de


Figura 74 | Encontro realizado pelo grupo Marquise Minhocão.

torres residenciais no local. O que exemplifica a busca por novos espaços públicos na área central. Com uma possível transformação do Minhocão em parque, o elevado seria um conector do Parque Augusta, caso este seja mantido, e Parque da Água Branca, produzindo um eixo destinado ao lazer. Situado na Rua da Consolação, o ‘’Movimento de Ocupação de Espaços Ociosos’’ é composto principalmente por artistas de teatro e visa fornecer ateliês compartilhados com foco em abrir diálogos com a população e seu entorno, com o objetivo de implantar uma política cultural que recoloca o cidadão no centro das preocupações do Estado através do apoio do poder público juntamente com a Secretaria

da Cultura; entre outros coletivos atuantes na região central. Resultante da situação onde há uma carência de espaços públicos de qualidade na área, o projeto realizado no TFG, Trabalho Final de Graduação, propõe remover trechos do Minhocão e transformar outros três segmentos elevados em áreas de lazer. Este se desenvolveu a partir da análise das praças públicas encobertas que perderam sua vivacidade principalmente pela ausência de luz, o que as transformou em equipamentos subutilizados. Deste modo, o intuito deste experimento além de manter ocupações de entretenimento já usufruídas pela população, também pretende recuperar áreas 64


Figura 75 | Praça Marechal Deodoro antes da construção do Elevado Costa e Silva.

42 JACOBS, Jane, A Morte e Vida das Grandes Cidades.

Figuras 76 e 77 | Praça Marechal Deodoro respectivamente em: 1956 e 1987.

43 JODELET, Denise, Projeto do Lugar – Colaboração entre Psicologia, Arquitetura e Urbanismo 65

potenciais que foram degradadas ao longo do tempo. Apesar de transformar a área, sua memória monumental42 seria preservada, pois esta refere-se as construções que guardam em si os vestígios do passado e estabelecem uma ligação com ele. O que ocorrerá a partir da manutenção de três trechos elevados, mas que em conjunto com a cota térrea, considerando o Largo Santa Cecília, Praça Marechal Deodoro e Largo do Arouche, podem ser interpretados com linearidade, pois apesar de estarem em cotas verticais distintas, forma-se um grande corredor de espaços públicos e de permanência uma vez que há conexão entre o trecho elevado e as praças térreas. Assim, não somente a memória, mas a história permanece presente no território, mesmo que estes relacionem-se com períodos marcados por atividades negativas, como a ditadura. Contudo, apesar de ter o passado preservado, a identidade formada com a transfiguração do local remetente aos seus novos usos sobrepõe-se a anterior. O que é um fator determinante no desenvolvimento das cidades para Marc Augé, pois a atribuição de um novo sentido a um elemento urbano é vista como releitura da identidade atual deste, assim, o que é significativo não é o significado inicial ter sido alterado, mas sim o fator de que este sempre estará dotado de significado para a população.43 Os fatos urbanos44 são caracterizados por


serem elementos urbanísticos como ruas, avenidas, ou edificações que se destacam como elemento referencial dentro do contexto de cidade, e adquirem memória através da sociedade.

44 ROSSI, Aldo. Arquitetura da Cidade.

Justamente por estarem atrelados a memória são considerados permanências nas cidades, pois são resultados de um fato coletivo, nunca são de natureza individual, e influenciam a maneira como a cidade se desenvolve. Desta forma, apesar de ocorrerem transformações na cidade e com os próprios elementos, como com o Minhocão, seu significado original estará sempre atrelado ao significado atual, da mesma forma como se realiza com elementos históricos onde perdeu-se a função original, mas este caráter continua presente, congruente ao que ocorre com os palácios hoje abertos a visitações por seu valor histórico que é mantido.

Figura 78 | Acesso ao Minhocão pela Praça Marechal Deodoro em 2015.

Visto como um elemento primário45 na cidade por ser a representação concreta da ligação Leste-Oeste já desejada no Plano de Avenidas em 1930, o elevado se tornou ponto de referência paulistano. No entanto, seu simbolismo perante a cidade ocorreu devido a degradação de toda uma região e seu entorno.

45 CAMPOS, Cândido Malta. Caminhos do Elevado, Memória e Projetos.

Augé também descreve os locais de passagem, e áreas nas cidades que possuem apenas a função entre conectar um ponto ao outro de ‘’não-lugar’’46. Durante a maior parte do tempo o Minhocão é usufruído apenas

46 AUGÉ, Marc. NãoLugares Introdução a uma antropologia da supermodernidade.

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Figura 79 | Sobre o Minhocão, 1986.

por veículos, e neste momento sua única função é servir como interligação, sendo apenas uma área de passagem, onde não há nenhum vínculo com a sociedade, pois neste horário, o pedestre é totalmente excluído de circular por este, o que o suprime de qualquer relação afetiva. Entretanto, nesta situação de tempo onde o elevado encontra-se fechado para pedestres, ao analisar concomitantemente a parte elevada com a cota térrea, este não exerce vínculos sociais na parte superior ao mesmo período que estes são praticados na cota inferior, ainda que tais relações sejam ignoradas pela maior parcela dos cidadãos. O ‘’lugar’’ é o espaço praticado, e é quem se desloca por este que o transforma de simples passagem ao espaço usufruído, transfiguram a rua traçada geometricamente em urbanismo praticado. Quando aberto aos pedestres, facilmente nota-se que estes passam a usufrui-lo como via de passeio, há famílias caminhando, crianças brincando, praticantes de atividades esportivas, e por vezes são marcados eventos como: festa junina, ocupações teatrais, vendas informais de objetos e concentrações de food-trucks. Já para quem pratica o grafite, o ‘’lugar’’ se constitui na cota térrea, os pilares são os painéis expositores de sua arte e pensamento, sendo suas obras relacionadas com o local ou não, atingindo quem

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Figura 80 | Sobre o Minhocão, 2015.

aprecia e quem denigre esta forma de se expressar. Seus pilares são utilizados desta forma desde 1971, quando Flávio Motta pintou todos os pilares no sentido Leste-Oeste com formas geométricas que remetessem a imagens que através da velocidade adquirida pelos automóveis se assemelhassem a uma sequência cinematográfica.47

47 NASCIMENTO, Ana Paula; MOTTA, Renata. Caminhos do Elevado Memória e Projetos.

O Minhocão e as vias abaixo deste exercem centenas de relações e microssituações que constituem diferentes suportes e suplementos. Derrida relaciona o suplemento às atividades não previstas em sua intenção original, adicionando outro sentido a obra, que inclusive supere sua base ideológica, descrita como suporte, através da adição de novos sentidos e significados. Estas relações entre suporte e suplemento são percepções individuais, pois dependem da identidade pessoal e a relação estabelecida com o objeto.48

48 BERNARD, Tschumi. Architecture and Disjunction.

Não se pode estabelecer um determinado suporte para o Elevado Costa e Silva devido sua ambiguidade. O suporte se converte em suplemento e vice-versa devido as variáveis percepções de espaço e função. Em 1971, quando construído, seu suporte era claro, uma via de tráfego intenso conectora das Zonas Leste e Oeste. Mas para o grafiteiro, o elevado é apenas suplemento para a sua arte, dado que o suporte consiste em seus pilares nos quais são a tela de sua expressão; para os moradores de rua que habitam sob o Minhocão, o elevado também consiste no suporte,

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Figura 81 | Exposição da fotógrafa Raquel Brust retratando rostos de pessoas que possuem relações diversas com o local.

pois é este que estabelece a sensação de proteção e abrigo, já o fluxo de veículos que ocorre tanto abaixo quanto acima da estrutura e até mesmo os grafites tornam-se suplementos. E mesmo que ao realizar funções opostas como utilizá-lo como via de lazer, ou como eixo viário, o suporte consiste exclusivamente na via elevada, e todas as relações com o térreo passam a ser suplemento. O alargamento do canteiro central realizado pela Prefeitura para a implantação de uma ciclovia fez com que aumentasse o número de pessoas que se deslocam sob este. No entanto, ciclistas e pedestres agora competem por espaço. Pois com a extensão da calçada o caminhar se tornou mais cômodo para o passante apressado pois há menos interrupções de cruzamentos, o que diminui a quantidade de vezes que é preciso esperar pelo semáforo fechar para se conseguir atravessar uma rua, além de que em dias de chuva o tabuleiro abrange a função de abrigo. Contudo, com apenas 1,5m livres para pedestres e ciclistas dividirem o espaço nos pontos onde situam-se os pilares, o deslocamento de ambos ao mesmo tempo é irrealizável. Jan Gehl declara que conforme os carros deixam de ser as prioridades de melhorias urbanas nas cidades, o tráfego de pedestres e a vida urbana crescem na mesma proporção. O fato pode ser constatado em estudos realizados desde 1962 em Copenhague, onde

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através de uma reestruturação da rede viária os automóveis e estacionamentos perderam espaço para dar lugar a calçadas mais largas e ciclovias. Portanto quanto mais espaço é ofertado, mais vida urbana a cidade ganha. ‘’ A conclusão é inequívoca: se as pessoas e não os carros são convidados para a cidade, o tráfego de pedestres e a vida urbana aumentam na mesma proporção.’’49 49 GEHL, Jan. Cidade para Pessoas.

O caminhar é visto por Gehl como elemento fundamental para a existência da vida urbana, pois há um contato direto entre as pessoas, o entorno, e as trocas de informações pessoais ao compartilhar do mesmo espaço público. Jane Jacobs cita a importância das calçadas como elemento básico sobre a vivência das pessoas na cidade, pois quando estas consideram determinada área perigosa, o que está implícito é a falta de segurança nas calçadas.50

50 JACOBS, Jane, A Morte e Vida das Grandes Cidades.

Com a remoção de parte do vigamento do Minhocão na proposta ora introduzida, o intuito foi conectar a cota elevada à térrea visualmente e diminuir a sombra gerada por este, com o objetivo de tornar o ambiente convidativo ao pedestre, pois a área muitas vezes é evitada por sentirem-se inseguros. Jane Jacobs relaciona à insegurança nas calçadas com os casos de

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violência. ‘’Não é preciso haver muitos casos de violência numa rua ou num distrito para que as pessoas temam as ruas. E, quando temem as ruas, as pessoas as usam menos, o que torna as ruas ainda mais perigosas.’’ Um maior número de pessoas caminhando torna o local mais seguro, pois há mais gente na rua, o que inibe os assaltos, além de que um volume maior de pedestres também é favorável ao comércio, pois um atrai o outro em um processo cíclico. Com a transmutação do Minhocão, o sob elevado passaria a estabelecer uma relação maior com a cidade e a sociedade uma vez que o automóvel perde espaço para a implantação de áreas de convivência através das três praças suspensas, as quais se conectam com edifícios culturais, e às praças já existentes como o Largo do Arouche, Santa Cecília e Marechal Deodoro. Estas voltariam a receber luz como objetivo de revitalizá-las devido à completa ausência do tabuleiro nestes trechos. Onde não houvesse uma praça suspensa o canteiro central seria preservado e com a remoção dos pilares este seria arborizado e possuiria 6m de largura destinados ao passeio dos pedestres. 74


Para Jacobs a vivacidade de espaços públicos depende muito da variedade dos usos dos edifícios de sua área de atuação, de modo que a diversidade de seus usuários seja sinônimo de múltiplos horários de uso, porque seus compromissos diários ocorrem em diferentes partes do dia. Assim, a vivacidade do projeto realizado estaria assegurada pela alta concentração de usos presentes na região central. Como as estações de metrô, o terminal de ônibus Amaral Gurgel, as praças, escolas, faculdades e equipamentos culturais como teatro e biblioteca, o que assegura os diversificados horários de uso. Gehl enfatiza a importância dos espaços de permanência na cidade, pois estes são destinados aos cidadãos e elevam sua qualidade de vida, mas o arquiteto afirma o descuido com a vivência urbana nas grandes cidades como resultado direto da prioridade dada ao tráfego. ‘’Aos poucos, quase todas as cidades estabeleceram departamentos de tráfego que, a cada ano, calculam o tráfego e avaliam as condições de estacionamento. Coletam dados e fazem prognósticos, modelos de trafego e análises de impacto, e no processo os carros foram ficando cada vez 75


mais visíveis e onipresentes no planejamento urbano. Contrariamente, era raro que alguém observasse o que acontecia com a vida na cidade e dos pedestres. Durante décadas, a vida na cidade, tida como natural, não recebia a devida atenção, era algo sempre presente e pouquíssimo se estudava o impacto de sua constante deterioração.’’51 A supremacia do automóvel no desenvolvimento da cidade fez com que esta sofresse um processo de erosão, o que para Jacobs ocorre devido a dependência excessiva dos veículos particulares, o que consequentemente incentiva o desenvolvimento de artérias viárias, estacionamentos e postos de gasolina, o que transforma a cidade em um complexo de ‘’nãolugares’’. O Minhocão de fato é um grande agente da erosão da cidade52, sua construção inutilizou o canteiro central onde antes haviam bulevares, diminuiu as áreas de permanência encobrindo as praças existentes e dobrou a superfície destinada aos automóveis exclusivamente individuais, pois nunca foi possibilitada a circulação de veículos coletivos.

51 GEHL, Jan. Cidade para Pessoas.

52 JACOBS, Jane, A Morte e Vida das Grandes Cidades. 76


‘’ Seu tamanho assusta ao relevar a enormidade do problema que busca resolver: uma cidade que não cabe em si mesma, um trafego duplamente engarrafado, uma distância que quanto mais aumenta, mais é preciso encurtar. Grau máximo de tudo que é incomodo, ofensivo e barulhento na vida dos paulistanos, tornou-se um ícone às avessas...’’53 53 CAMPOS, Cândido Malta. Caminhos do Elevado Memórias e Projetos.

A proposta realizada visa não só interligar as praças suspensas às já existentes, mas também reconectar o tecido urbano que fora rompido com a construção do elevado, através da implantação de equipamentos públicos conectores entre a cidade e o Minhocão. O que ocorreria de modo rizomático. ‘’ Projeto rizomático parte do princípio que cada experimento é um meio que se autocondiciona e gera sua proposta a partir do imediatismo com o que está em contato. Deve associar heterogeneidade das atmosferas em que se insere,

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mas também das culturas que estão relacionadas.’’54 O conceito de rizoma desenvolvido pelos filósofos franceses Gilles Deleuze e Félix Guattari consiste na correlação entre a botânica e o desenvolvimento das cidades. Diferentemente das raízes axiais, o rizoma tende a se desenvolver horizontalmente, se espalhando no território a partir de ramificações.55 Não há uma hierarquia em seu processo de crescimento, seu sistema é baseado na multiplicidade, sendo sempre modificável e assimétrico, preenchendo os vazios existentes. As conexões realizadas interligam o antigo ao novo reciprocamente, não há supremacia entre as praças térreas e suspensas. Os novos edifícios projetados ocupam não só os vazios físicos, mas os vazios em significado. Os miolos de quadra são justamente resquícios da cidade não planejada, onde cada lote é edificado de maneira singular e em muitas vezes as relações com o entorno são desconsideradas, formando assim um conjunto heterogêneo.

54 GAUSA, Manuel. Diccionário Metápolis.

55 SILVA, Ricardo Luis. Uma Odisseia Paulistana: Uma Documentação Retroativa Sobre o São Vito.

A implantação das edificações em miolos de quadra simboliza a adequação do projeto ao espaço e entorno existentes, de modo que a construção do passado predispõe a construção futura, condicionando as aberturas e gabaritos, articulando novas conexões na cidade. 78


Figura 82 | Grafite de erva daninha realizado em uma empena cega pela artista Mona Caron.

56 Descrição dada pelo escritório Nitsche Arquitetos.

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O entorno do Minhocão possui como característica o alto índice de empenas cegas: ‘’laterais dos edifícios junto aos limites do terreno que não tiveram a continuidade de outro prédio anexo.’’56 O projetar dos novos edifícios com alturas equivalentes a estas empenas transforma os paredões de concreto em empenas vivas, uma vez que o limitante de gabarito se fundamentou nos edifícios existentes. Como uma hera, em um processo rizomático, que adquire altura e se amplifica a partir do toque com a superfície dos corpos em contato.


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PROJETO CAPÍTULO 05


A proposta de intervenção no Elevado Costa e Silva não partiu de uma ideia fixa e engessada que envolvesse uma forma de pensar como correta ou equivocada. Todavia, foi desenvolvida a partir de experimentos, interpretações e identidades absorvidas não só durante o ano de 2015, corresponde ao período concreto de realização do Trabalho Final de Graduação, TFG, mas também ao longo de 20 anos residindo muito próximo ao elevado. A compreensão do Minhocão apenas como via de veículos e meio de interligação na cidade era a única relação pessoal estabelecida com o elemento urbano até 2014. Quando através de outra disciplina realizada na FAU-MACKENZIE os alunos deveriam realizar um projeto de jardim vertical nas empenas cegas existentes. O objetivo do trabalho consistia em aplicar paredes verdes com o intuito modificar a paisagem urbana da região, abaixar a temperatura interior dos edifícios, além de aumentar a umidificação do ar, uma vez que a cada 100m² de parede verde os níveis de evapotranspiração diários correspondem aos de uma Tipuana, árvore de grande porte bastante presente nos bairros de Higienópolis e Santa Cecília. Algumas conexões com os edifícios existentes também foram propostas, gerando interligações entre o elevado e a cidade. Apesar de modificar a percepção dos edifícios no campo visual e a princípio melhorar a qualidade do ar, não seria somente esta ação isolada 83


que transformaria a região cortada pelo Minhocão. A partir de então foram realizadas visitas ao elevado com o objetivo de efetuar o trabalho para disciplina do 8º semestre, mas comecei a enxergálo como ponto de lazer na cidade e a usufruí-lo deste modo. Contudo, o ensaio realizado em 2015 não deveria apenas considerar a cota elevada, mas era fundamental intervir de modo que o nível térreo sofresse alterações, pois conforme já citado, a região é evitada por muitos devido à sensação de insegurança gerada pela ocorrência de assaltos na área. O que inclusive também me fazia evitar o caminhar sob o Minhocão. Entre a proposta vencedora do Concurso Prestes Maia, que visa atribuir um novo patamar ao elevado destinado ao uso público, e a Operação Urbana Lapa Brás, concebida na gestão do então prefeito Gilberto Kassab, cujo o intuito consistia em enterrar parte da malha ferroviária de São Paulo para tornar possível a construção de novos eixos viários sobre a ferrovia e então demolir o Elevado Costa e Silva; apenas em 2014 por meio do Novo Plano Diretor da cidade de São Paulo estipulou-se um prazo máximo para o uso deste como uma via destinada aos automóveis, tornando enfim próximas as possíveis transformações do elevado que consequentemente revitalizariam região central. ‘’De acordo com a Operação Urbana, a superação da 84


barreira ferroviária se dará por meio de seu rebaixamento, transformando-a num sistema subterrâneo desde a Lapa até o Brás - numa extensão aproximada de 12 Km. Na superfície, a proposta prevê uma via de porte estrutural, mas com características urbanísticas diferenciadas de uso lindeiro intenso, com parques e ciclovias - promoverá melhorias na acessibilidade e permitirá que os eixos transversais de ambos os lados, hoje interrompidos pela presença dos trilhos, possam se conectar. A implantação dessa via criará condições para a demolição do Elevado Costa e Silva e a revitalização de seu entorno.’’57 57 Termo de referência – Operação Urbana Lapa Brás – fornececido pela prefeitura.

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A busca pela metodologia de uma possível proposição no Minhocão teve como princípio visitas ao local, tanto através do viaduto quanto sob este, e a procura pela compreensão do que de fato o elevado representa para a cidade, para as pessoas que o usufruem, e para quem foi obrigado a habituar-se com a situação do barulho, trânsito, e ausência de luz natural.


O total desmonte do elevado foi classificado como uma medida antidemocrática, pois apenas 7% da população58 é a favor deste fim para tal. Caso o Minhocão fosse totalmente demolido, a opinião majoritária não seria respeitada, conforme ocorreu quando este foi construído, sem participação popular, sendo assim uma decisão imposta a sociedade de maneira ditatorial. A transformação em parque institui em tempo integral uma nova identidade já adquirida ao viaduto quando este encontra-se aberto à população. Portanto, a manutenção do tabuleiro implica também em não apagar a história e a memória da região central, além de que é notável o reconhecimento do Minhocão como parque pelo paulistano. Fora as análises realizadas sobre o High Line Park, Viaduc des Arts e A8ERNA que exemplificam a importância do posicionamento da população para um projeto bem-sucedido.

58 RODRIGUES, Artur; MACHADO, Leandro.Apenas 7% dos paulistanos apoiam demolir o Minhocão, diz Datafolha.

O processo de investigação da região onde o Elevado Costa e Silva se insere teve como objetivos registrar encontramentos, pontos de maior relevância social, equipamentos existentes, e compreender sua estrutura e o modo como foi construído. Como recurso de investigação da área, foram realizados mapas de principais vias, ciclovias, pontos de ônibus, cheios e vazios, áreas verdes, terminais de ônibus, linhas de metrô, e até mesmo pontuado as áreas em que o elevado se encontra mais afastado e mais próximo do 86


Figura 83 | Implantação de situação exibindo em vermelho os trechos mantidos pela proposta.

seu entorno. Compreender estes sistemas me fizeram notar os espaços residuais e degradados ocasionados por sua construção. As Praças Marechal Deodoro, Largo do Arouche e Largo Santa Cecília foram de fato cortadas pelo elevado, e transformadas em equipamentos subutilizados. A revitalização destas áreas verdes se tornou um dos propósitos deste trabalho, correlacionando os espaços públicos já existentes aos novos criados a partir da conversão do Minhocão em área de lazer. As praças citadas acima também foram categorizadas como potenciais devido ao sistema de transportes públicos já instalado. A praça Marechal Deodoro situase em frente à estação do metrô que recebe o mesmo nome, o Largo Santa Cecília engloba a estação de metrô nomeada em função do largo, enquanto o Largo do Arouche faz divisa com o Terminal Amaral Gurgel. O que torna fácil o acesso a estes locais por transportes coletivos. Com a transformação do Minhocão, é incoerente manter uma estrutura elevada destinada a um parque que encubra uma praça térrea, uma vez que não foi o seu uso inicial, uma via expressa, que deteriorou as praças existentes, mas sim o seu rompimento com o tecido urbano e a sombra ocasionada pelo tabuleiro.

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Portanto, o projeto adotou como solução o desmonte total do elevado sobre estas três praças existentes. Isto se torna possível devido sua característica estrutural composta por pilares e vigas pré-moldados. Deste modo, são formadas três praças suspensas, as quais conectam-se as já existentes, ramificando os diferentes níveis da cidade. A decisão de remover totalmente o Minhocão sobre estas áreas apesar de quebrar a continuidade do que poderia vir a ser denominado parque linear, não interfere na qualidade do espaço público proposto, pois a recuperação das praças no térreo substitui a necessidade de uma continuação elevada. Para Gehl, a praça significa ‘’pare’’’, o que cria permanências na cidade, locais onde as pessoas podem se relacionar e fazer uma pausa. A escolha por várias praças ao invés de um único corredor constante se desenvolveu com o escopo de recuperar o espaço ocioso no nível térreo da cidade, formando uma malha conectora a qual o projeto estabelece vínculos. A escolha pelas praças está relacionada ao espaço praticado, e as permanências estabelecidas, enquanto o parque linear pode ser interpretado apenas como um corredor, atrelado a ideia de fluxo, uma vez que a população poderia utilizálo somente como um elemento de passagem na cidade, segregando a cota térrea ao evitar se deslocar pelo nível da rua. Todavia, na proposta realizada o fluxo se 89


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50m

destina justamente no térreo, separando as funções de deslocamento, relacionada às ruas e estadia, às praças.

Figura 84 | Master Plan proposto para um dos trechos mantidos do elevado.

‘’A praça é simultaneamente uma construção e um vazio, a praça não é apenas um espaço físico aberto, mas também um centro social integrado ao tecido urbano. Sua importância refere-se a seu valor histórico, bem como a sua participação contínua na vida da cidade. Kevin Lynch apresenta com clareza a definição de que a praça é um lugar de convívio social inserido na cidade e relacionando as ruas, arquitetura e pessoas: A praça pretende ser um foco de atividades no coração de alguma área intensamente urbana. Tipicamente, ela será pavimentada e definida por edificações de alta densidade e circundada por ruas. Ela contém elementos que atraem grupos de pessoas e facilitam encontros: fontes, bancos e abrigos.’’

59 ALEX, Sun. Projeto da Praça. Convívio e Exclusão. 90


Os trechos mantidos seriam submetidos a alterações para receber os instrumentos necessários para caracterizá-los como equipamentos urbanos. A camada de asfalto seria removida e daria lugar ao piso elevado, possibilitando a realização de canteiros gramados, incluindo árvores de médio porte e vegetações rasteiras, enquanto o passeio ocorreria sobre as placas de concreto. O piso elevado também permitiria instalar as tubulações de drenagem e água pluvial sem que houvesse alterações na estrutura. O elevado seria estreitado com a remoção de suas vigas laterais, além de que em certos pontos suas vigas centrais também seriam removidas aumentando os índices de iluminação natural do térreo. O mobiliário urbano propiciaria a permanência, e novos guarda corpos em chapas metálicas seriam instalados enquanto os mesmos referentes aos vazios centrais

Figura 85 | Esquemas gráficos do projeto exibindo a remoção total do tabuleiro sobre as praças já existentes e o desmonte parcial da estrutura para aumentar a insolação no térreo. 91


seriam de vidro, ocasionando o contato visual entre a cota elevada e o térreo. Os beneficiários da constrição do elevado não são apenas os comerciantes e as pessoas que se deslocam pelas ruas sob o viaduto, mas também os moradores dos edifícios que margeiam o Minhocão. A área pública elevada estará mais distante de suas janelas do que atualmente, melhorando a questão da privacidade e também a insolação dos apartamentos situados na cota do primeiro pavimento, correspondentes em média a altura do próprio viaduto. Em quantitativos de área, a intervenção removeria no total 70% da estrutura existente. Sob o elevado também foram previstos módulos de containers implantados em locais pontuais, selecionados por já possuírem atualmente uma maior

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concentração de pessoas no canteiro central, como pontos de ônibus e o Terminal Amaral Gurgel. Estes módulos seriam destinados aos comércios e serviços, visando uma maior convivência nestas áreas, uma vez que a maior parte dos estabelecimentos existentes sob o elevado destina-se ao reparo de automóveis.

Figura 86 | Corte perspectivado do elevado nos locais identificados por já possuírem uma maior concentração de pessoas.

Além das intervenções no elevado, o projeto também considerou o possível processo de gentrificação com a eventual recuperação desta região. O que determinou a presença de habitações sociais no experimento desenvolvido, possibilitando que as camadas sociais mais baixas continuem a residir no centro, próximas de seu de trabalho. A busca pelo local de inserção desses edifícios teve como premissa encontrar espaços que não oferecessem vínculos afetivos com as pessoas, e pudessem estabelecer conexão direta com elevado, dispostos preferencialmente nas margens opostas do Minhocão, fortalecendo a ideia de interligar a cidade. Foram escolhidas duas áreas para a implantação do projeto, uma à leste outra à oeste do elevado. A proximidade com a Praça Rotary, a qual está inserida uma das maiores bibliotecas infantis da América Latina, a Biblioteca Monteiro Lobato, foi reconhecida como um dos potenciais destas áreas de atuação. A

biblioteca

foi

interpretada

como

uma 94


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20m


preexistência para a concepção do projeto, uma vez que foi o fundamento para a escolha do equipamento cultural a ser idealizado. A partir desta análise, foi optado por incluir no programa uma midiateca a qual seria um complemento ao equipamento existente, visto que a Biblioteca Monteiro Lobato atende apenas o público infantil. A proximidade com escolas e universidades, além das estações de metrô determinam o fácil acesso e um possível grande número de usuários, sustentando a propensão por uma midiateca.

Figura 87 Implantação projeto.

| do

Seu programa foi dividido em dois blocos, um à Oeste do elevado, no qual contém a área de acesso ao acervo, e o segundo, à Leste, que comporta área de exposição, auditório e administração. Apesar de estarem em terrenos diferentes, a ligação entre estes ocorre através do Minhocão, cujo uma vez transformado seu leito superior em área de lazer, este se reconfigura também como eixo conector de áreas culturais. O bloco destinado ao acervo teve como partido o alinhamento da Biblioteca Monteiro Lobato, situado no quarteirão oposto a este, o que cria visualmente um eixo conector entre a praça Rotary e o Elevado Costa e Silva. Este encontra-se em um miolo de quadra e possui 5 possíveis alternativas de adentrar no território, o que de fato conecta os edifícios com a cidade, apesar de não ter nenhuma esquina. Também foram inseridos neste terreno 5 edifícios habitacionais destinados às classes sociais mais baixas, e um edifício comercial. 96


O partido deste setor se desenvolveu diante da idealização de fazer do próprio edifício uma grande rampa, criando um percurso sem barreiras físicas, e totalmente acessível, respeitando as inclinações relativas com os parâmetros de acessibilidade. A rampa possibilita que a edificação se relacione com a cidade como sua continuação, sem que ocorra distinção do espaço entre o projeto e a calçada. Ao percorrer as rampas, também é possível acessar uma das praças suspensas, transformando o projeto em elemento conector entre a cidade e o Minhocão. A partir da inclinação das rampas internas, correspondentes à menos de 5% de inclinação, criou-se a sensação de que o projeto possui vários mezaninos, pois o campo visual é amplificado, permitindo ao visitante enxergar outros pavimentos, relacionando

Figura 88 | Esquemas gráficos do projeto exibindo o partido projetual do bloco à oeste do Minhocão. 97


visualmente seus diferentes níveis. A cobertura deste bloco à oeste do Minhocão foi projetada para ser acessada sem a necessidade de transitar pelo edifício, através de um elevador com este uso exclusivo. O que permite que este pavimento permaneça aberto à população mesmo após o encerramento das atividades da midiateca, propiciando a realização de eventos públicos nesta área. Como o projeto está inserido em um miolo de quadra a impossibilidade do visitante enxergar o fundo dos edifícios de seu entorno devido ao mal estado de conservação destes era um dos intuitos da materialidade de suas fachadas. No entanto, por também se tratar de uma área destinada à leitura, a iluminação natural era um fator relevante ao projeto.

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Deste modo, foi proposto um grande vazio central para permitir a entrada de luz, além de utilizar o U-glass como pele externa, vidro translúcido o qual permite a entrada de luz mas impossibilita ao visitante enxergar com lucidez o entorno da midiateca. Já o bloco à leste do elevado está inserido em uma esquina, portanto, um dos objetivos constituía em evidencia-la a partir de um recorte inclinado no edifício para ampliar o eixo visual do pedestre, criando uma pequena praça em frente ao café estabelecido no térreo. Por este edifício estar em frente à uma das praças elevadas, esta fachada teve como revestimento o vidro transparente, pois assim permite tanto ao usuário da praça visualizar o que ocorre dentro do edifício e vice-

Figura 89 | Esquemas gráficos do projeto exibindo o partido projetual do bloco à leste do Minhocão. 99


versa, no entanto o edifício também possui quebrasóis para bloquear a insolação direta em determinados horários. Apesar de possuir um auditório em seu programa, o que obrigatoriamente exige um espaço fechado, aproveitou-se da empena criada por este como tela de projeção ao ar livre para os usuários das praças, criando assim um uso para esta parede cega. Este bloco é marcado visualmente pela quebra angular de sua fachada, e pelos diferentes pés direitos formados a partir de mezaninos que marcam a entrada do projeto e a passarela conectora da midiateca ao Minhocão.

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Figura 90 | Planta do TĂŠrreo. 101


Figura 91 | Planta do 1 ยบ pavimento. 102


Figura 92 | Planta do 2 ยบ pavimento. 103


Figura 93 | Planta do 3 ยบ pavimento. 0

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Figura 94 | Planta do 4 ยบ pavimento. 105


Figura 95 | Planta do 5 ยบ pavimento. 0

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Figura 96 | Planta do 6 ยบ pavimento. 107


Figura 97 | Planta de cobertura. 0

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Figura 98 | Planta do TĂŠrreo. 109


Figura 99 | Planta do 1 ยบ pavimento. 0

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Figura 100 | Planta do 2 ยบ pavimento. 111


Figura 101 | Planta do 3 ยบ pavimento. 0

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Figura 103 | Detalhe do Minhoc達o. 114


Figura 104 | Elevação 01.

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Figura 105 | Elevação 02.

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Figura 106 | Corte A-A.

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Figura 107 | Corte B-B.

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Figura 108 | Corte C-C.

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Figura 109 | Elevação 03.

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Figura 110 | Corte D-D.

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Figura 111 | Corte E-E.

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Figura 112 | Corte perspectivado do bloco destinado ao acervo.

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Figuras 113 e 114 | Perspectivas externa e interna do bloco Ă oeste do MinhocĂŁo.

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Figuras 115 e 116 | Perspectivas externa e interna do bloco Ă leste do MinhocĂŁo.

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Figuras 117 e 118 | Perspectivas sob[re] o Minhoc達o.

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CONCLUSÃO A conclusão deste trabalho não expõe certo ou errado, nem ao menos identifica um projeto bemsucedido ou infeliz, uma vez que isso só seria possível através de sua realização. No entanto, apresenta uma experimentação entre as já conhecidas propostas de demolição completa e transformação em parque, exibindo uma possível solução mista concebida a partir de interpretações vinculadas a uma cidade para pessoas, atrelando o espaço público e interações sociais a requalificações de áreas urbanas. A proposta discerniu por preservar identidades consideradas potenciais no Minhocão, uma vez que este exerce funções ambíguas e opostas: simboliza um parque e uma via expressa, propiciou a deterioração da região central mas possibilitou moradia há um baixo custo. Apesar de todos os aspectos degradantes ocasionados pela construção do elevado, este exerce significados sociais para a cidade. A população já exercita relações pessoais e o utiliza como equipamento urbano destinado ao lazer quando lhe és concedida a oportunidade, o que simboliza uma nova identidade e significado das pessoas com o Minhocão. Esta correlação entre o elevado e os espaços públicos serviu como base para a proposta de revitalizar as praças já existentes e transformar o elevado em áreas de lazer em período integral. O caráter social do projeto não parte apenas da óptica das habitações para 139


classes econômicas mais baixas, mas também no modo conceber os equipamentos culturais. Por definição uma midiateca possui a maior parte de seu programa destinado ao acervo, como uma biblioteca. Considera-se que espacialmente e funcionalmente este setor possa ser exclusivo a seus funcionários, uma vez que o visitante solicite o livro desejado no balcão de atendimento, e então o exemplar lhe é entregue sem que haja a possibilidade deste se deslocar pela biblioteca, como ocorre em tantas outras. No entanto, essa concepção foi desconsiderada no projeto pois minimiza as relações afetivas estabelecidas entre as pessoas, pois ao invés de praticar o espaço, e se relacionar com ele, o equipamento seria minimizado há um possível edifício galpão que armazenasse os exemplares. Ideal oposto ao projetado, o qual a base consiste na circulação de pessoas por um percurso onde o campo visual seja amplificado conectando todo o edifício não apenas opticamente, mas também com a cidade, através da concepção em rampa, estabelecendo interações sociais. Enfim, o trabalho expressa o desejo comum por uma cidade praticada, com mais espaços a serem vivenciados com base no processo de desenvolvimento ora citado, expondo e as interpretações tomadas ao longo do tempo em que resido nas imediações do elevado, mas principalmente nesses últimos 5 anos 140


Figura 119 | Família no Minhocão.

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propiciados pela faculdade de arquitetura e urbanismo a qual sou grato não apenas pela formação acadêmica, mas como formação para a vida, através de percepções de cidade, espaço e pessoas antes inexistentes.


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Figura 31 | Projeto realizado pelo escritório FGMF. Disponível em: http://www.arqbacana.com.br/internal/arquitetura/read/12487/ fgmf. Acesso em 14 de novembro de 2015. Figura 32 | Avenida São João atualmente. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/infograficos/2014/09/117249-como-ee-como-pode-ser.shtml. Acesso em 14 de novembro de 2015. Figura 33 | Montagem da Avenida São João com a remoção do elevado. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/ infograficos/2014/09/117249-como-e-e-como-pode-ser.shtml. Acesso em 14 de novembro de 2015. Figuras 34 e 35 | Registros da última casa existente da Avenida São João na década de 20 e atualmente. Disponível em: http:// www.saopauloantiga.com.br/residencia-familiaferrara/. Acervo São Paulo Antiga. Acesso em 14 de novembro de 2015. Figura 36 | Árvore que cresce sobre a estrutura do Minhocão. FERNANDES, Felipe Figueiredo. Figura 37 | Fotografia do elevado sobrepondo a Avenida São João. VIEIRA, Tuca. Figuras 38 e 39 | Montagens da possível transformação do Minhocão em Parque. Disponível em: http://ultimosegundo.ig.com.br/ brasil/sp/2014-04-06/vereadores-de-seis-partidos-se-unem-para-transformar-minhocao-em-parque-suspenso.html. Acesso em 14 de novembro de 2015. Figura 40 | Montagens da possível transformação do Minhocão em Parque. Disponível em: https://catracalivre.com.br/sp/agenda/ gratis/minhocao-se-transforma-em-centro-cultural-no-aniversario-de-sao-paulo/#.Acesso em 14 de novembro de 2015. Figura 41 | Montagem do resultado previsto após instalação da parede verde nos edifícios que margeiam o elevado. Disponível em: http://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/2015/08/primeiro-jardim-vertical-do-minhocao-fica-pronto-em-setembro-dizprefeitura.html. Acesso em 14 de novembro de 2015. Figuras 42 | Passeio no elevado. FERNANDES, Felipe Figueiredo. Figura 43, 44 e 45 | High Line Nova Iorque quando a ferrovia ainda estava ativa. http://www.zipcar.com/ziptopia/future-metropolis/ 150


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Figura 57 | Área esportiva com pistas de skate realizadas na proposta. Disponível em: http://www.publicspace.org/es/obras/ d046-a8erna. Acesso em 15 de novembro de 2015. Figura 58 | Iluminação noturna do projeto A8erna em conjunto com seu uso comercial. Disponível em: http://www.archdaily. com.br/br/01-135024/projeto-urbano-a8erna-ativar-o-terrain-vague. Acesso em 15 de novembro de 2015. Figura 59 | Viaduc des Arts visto do nível da rua. Disponível em: http://www.leviaducdesarts.com/uploads/images/ b998bb5370bb81d2829c0a762a81ea79c40ca6e8.jpg. Acesso em 15 de novembro de 2015. Figura 60 | Parte superior do Viaduc des Arts. Disponível em: http://www.rur.it/portfolio/parigi-promenade-plantee/. Acesso em 15 de novembro de 2015. Figura 61 | Imagem do parque suspenso atravessando a edificação. Disponível em: http://www.jmichaelmioux.com/photo-2/. MIOUX, Michael. Acesso em 15 de novembro de 2015. Figura 62 | Trecho elevado que comporta espelhos d’água e árvores de médio porte. Disponível em: http://www.whitingswritings.com/images/promenade_plantee.jpg. Acesso em 15 de novembro de 2015. Figura 63 | Galerias comerciais no térreo. Disponível em: https://parisinspired.files.wordpress.com/2013/06/used-2013-0516-paris-inspired-paris-paul-prescott-p5120001c-01.jpg. Acesso em 15 de novembro de 2015. Figura 64 | Vista aérea do elevado. KON, Nelson. Figura 65,| Atividades realizadas pela população ao usufruir do elevado como uma área de lazer. Projeção do filme ‘‘Elevado 3.5’’. Disponível em: http://www.elevadotrespontocinco.com.br/wp-content/uploads/2010/06/IMG_0550.jpg. Acesso em 15 de novembro de 2015. Figuras 66 | Atividades realizadas pela população ao usufruir do elevado como uma área de lazer. Festa Junina no Minhocão. Disponível em: https://galeriadetudo1pouco.files.wordpress.com/2015/07/juninaminhoca.png. Acesso em 15 de novembro de 2015. 152


Figura 67 | Atividades realizadas pela população ao usufruir do elevado como uma área de lazer. Projeto da Bienal de Arquitetura de São Paulo ao levar uma piscina para o elevado. Disponível em: http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/direitos_ humanos/promocao_do_direito_a_cidade/noticias/?p=168381. Acesso em 15 de novembro de 2015. Figura 68 | Imagens de práticas esportivas realizadas no Minhocão. FERNANDES, Felipe Figueiredo. Figura 69 | Comércio informal realizado no Minhocão. Disponível em: https://estilo.catracalivre.com.br/wp-content/uploads/ sites/5/2015/09/mercado_da_minhoca_-_reproducao_facebook.jpg. Acesso em 15 de novembro de 2015. Figura 70 | Peça de teatro realizada da janela de um dos edifícios que margeiam o elevado pelo grupo Esparrama. FERNANDES, Felipe Figueiredo. Figuras 71 e 72 | Perspectivas do projeto realizado pelo pelo escritório Triptyque. Disponível em: http://fotos.estadao.com.br/ galerias/cidades,marquise-minhocao,16169?startSlide=0&f=0. Acervo Triptyque. Acesso em 15 de novembro de 2015. Figura 72 | Corte do elevado exibindo a insolação direta recebida no térreo com o projeto. Disponível em: http://triptyque.com/ the-minhocao-marquise-2/. Acervo Triptyque. Acesso em 15 de novembro de 2015. Figura 74 | Encontro realizado pelo grupo Marquise Minhocão. Disponível em: http://triptyque.com/the-minhocao-marquise-2/. Acervo Triptyque. Acesso em 15 de novembro de 2015. Figura 75 | Praça Marechal Deodoro antes da construção do Elevado Costa e Silva. Disponível em: http://planetasustentavel.abril. com.br/blog/urbanidades/files/2014/08/marechal.jpg. Acervo Casa da Imagem. Acesso em 15 de novembro de 2015. Figuras 76 e 77 | Praça Marechal Deodoro respectivamente em: 1956 e 1987. Disponível em: http://guia.folha.uol.com.br/ passeios/2013/11/1377945-minhocao-ganha-piscina-por-um-dia-djs-pecas-e-filme-saiba-como-aproveita-lo.shtml. Acervo Minhocão – Elevado Costa e Silva. Acesso em 10 de novembro de 2015. Figura 78 | Acesso ao Minhocão pela Praça Marechal Deodoro em 2015. FERNANDES, Felipe Figueiredo.Figura 79 | Sobre o Minhocão, 1986. MASCARO, Cristiano. 153


Figura 80 | Sobre o Minhocão, 2015. FERNANDES, Felipe Figueiredo. Figura 81 | Exposição da fotógrafa Raquel Brust retratando rostos de pessoas que possuem relações diversas com o local. Disponível em: http://triptyque.com/the-minhocao-marquise-2/. Acervo Triptyque. Acesso em 15 de novembro de 2015. Figura 82 | Grafite de erva daninha realizado em uma empena cega pela artista Mona Caron. FERNANDES, Felipe Figueiredo. Figura 83 | Implantação de situação exibindo em vermelho os trechos mantidos pela proposta. FERNANDES, Felipe Figueiredo. Figura 84 | Master Plan proposto para um dos trechos mantidos do elevado. FERNANDES, Felipe Figueiredo. Figura 85 | Esquemas gráficos do projeto exibindo a remoção total do tabuleiro sobre as praças já existentes e o desmonte parcial da estrutura para aumentar a insolação no térreo. FERNANDES, Felipe Figueiredo. Figura 86 | Corte perspectivado do elevado nos locais identificados por já possuírem uma maior concentração de pessoas. FERNANDES, Felipe Figueiredo. Figura 87 | Implantação do projeto. FERNANDES, Felipe Figueiredo. Figura 88 | Esquemas gráficos do projeto exibindo o partido projetual do bloco à oeste do Minhocão. FERNANDES, Felipe Figueiredo. Figura 89 | Esquemas gráficos do projeto exibindo o partido projetual do bloco à leste do Minhocão. FERNANDES, Felipe Figueiredo. Figura 90 | Planta do Térreo. FERNANDES, Felipe Figueiredo. Figura 91 | Planta do 1 º pavimento. FERNANDES, Felipe Figueiredo. Figura 92 | Planta do 2 º pavimento. FERNANDES, Felipe Figueiredo. Figura 93 | Planta do 3 º pavimento. FERNANDES, Felipe Figueiredo. 154


Figura 94 | Planta do 4 º pavimento. FERNANDES, Felipe Figueiredo. Figura 95 | Planta do 5 º pavimento. FERNANDES, Felipe Figueiredo. Figura 96 | Planta do 6 º pavimento. FERNANDES, Felipe Figueiredo. Figura 97 | Planta de cobertura. FERNANDES, Felipe Figueiredo. Figura 98 | Planta do Térreo. FERNANDES, Felipe Figueiredo. Figura 99 | Planta do 1 º pavimento. FERNANDES, Felipe Figueiredo. Figura 100 | Planta do 2 º pavimento. FERNANDES, Felipe Figueiredo. Figura 101 | Planta do 3 º pavimento. FERNANDES, Felipe Figueiredo. Figura 102 | Planta de cobertura. FERNANDES, Felipe Figueiredo. Figura 103 | Detalhe do Minhocão. FERNANDES, Felipe Figueiredo. Figura 104 | Elevação 01. FERNANDES, Felipe Figueiredo. Figura 105 | Elevação 02. FERNANDES, Felipe Figueiredo. Figura 106 | Corte A-A. FERNANDES, Felipe Figueiredo. Figura 107 | Corte B-B. FERNANDES, Felipe Figueiredo. Figura 108 | Corte C-C. FERNANDES, Felipe Figueiredo.

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Figura 109 | Elevação 03. FERNANDES, Felipe Figueiredo. Figura 110 | Corte D-D. FERNANDES, Felipe Figueiredo. Figura 111 | Corte E-E. FERNANDES, Felipe Figueiredo. Figura 112 | Corte perspectivado do bloco destinado ao acervo. FERNANDES, Felipe Figueiredo. Figuras 113 e 114 | Perspectivas externa e interna do bloco à oeste do Minhocão. FERNANDES, Felipe Figueiredo. Figuras 115 e 116 | Perspectivas externa e interna do bloco à leste do Minhocão. FERNANDES, Felipe Figueiredo. Figuras 117 e 118 | Perspectivas sob[re] o Minhocão. FERNANDES, Felipe Figueiredo. Figura 119 | Família no Minhocão. FERNANDES, Felipe Figueiredo.

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