VIVER-SÓ
Viver - Só
“Quando a vida é reduzida a uma
C O N C R E T O M O RT O
tal Vida Besta em escala planetária nesse estado hipnótico-consumista do Homo otarius ou do Cyber-Zumbi, quando a dissolução das formas institucionais ou identitárias que antes asseguravam alguma consistência ao laço social, apenas reitera a gregarie-
Como Viver - Só Peter Pál Pelbart
dade atomizada, cabe indagar o que
1. Mersault 2. Servil 3 . A b e s ta d e v e m o rr e r
poderia ainda sacudir-nos de tal estado
4 . À b a s e d e c o n v u l s õ e s pr é v i a s , e rr ô n e a s
de letargia. Seria de se perguntar, que modalidades de êxodo, de escape, de
mas também experiências instituídas,
exílio voluntário ou involuntário, que
que lhes fazem eco, reivindicam uma
modalidades de curto-circuito silen-
distribuição outra, entre o que está
cioso ou ruidoso, denunciam um tal
vivo e o que está morto, entre viver e
contexto de sobrevivencialismo maciço
sobreviver, entre aquilo que é desejável
por mais místicas, psicóticas ou suici-
e aquilo que é intolerável, tentam re-
das que pareçam essas formas de êx-
inventar a relação entre solidão e vida
odo; quais e quantos gestos solitários,
coletiva?”
5. S.M.H. 6 . 書を捨てよ, 町へ出よう 7 . A l ta s d o s e s d e c a f e í n a n o s s u i c í d i o s s e m a n a i s 8 . A a b o l i ç ã o d o t ra b a l h o
( p o r E x c ri a R e v e r b e r a )
9 . 人間失格 10. gasolina
1. MERSAULT Misantropo numa cidade letárgica. Buscando escapar da engrenagem que move a existência de maneira absurda e que transforma a linha do tempo em uma espiral.
“Como se essa grande cólera tivesse lavado de mim o mal, esvaziado de esperança, diante dessa noite carregada de signos e estrelas, eu me abria pela primeira vez à terna indiferença do mundo. Ao percebê-la tão parecida a mim mesmo, tão fraternal, enfim, eu senti que havia sido feliz e que eu era feliz mais uma vez. Para que tudo fosse consumado, para que eu me sentisse menos só, restava-me apenas desejar que houvesse muitos espectadores no dia de minha execução e que eles me recebessem com gritos de ódio.” - “O Estrangeiro”, Albert Camus
2. SERVIL Todo mundo que deixou pra trás tornou-se um membro arrancado de seu corpo pela Besta que é a vida. Alguns, ainda coçam. Outros, ainda doem. Os que já não sente mais foram devorados por si mesmo.
3. A BESTA DEVE MORRER A lição tirada de tudo que foi dito até agora é a de que a Besta que é a vida deve morrer.
“O que me envolve sufoca, o cinza das paisagens e o silêncio do pensar O que me é dado, a vida tira Imagino se aquilo o que me lembro é realmente o que apreendi ou é fruto de sonhos Ou ilusão.” - “O inconstante ir e vir, o constante permanecer”, A Besta Deve Morrer
“A besta reviveu, esta é uma homenagem a todos que já tocaram e construíram alguma coisa comigo, espero que nunca se esqueçam e que deixem a Besta Vida morrer.”
-Yuri
4. À base de convulsões prévias, errôneas A todo o tempo, os fatos nos confundem. (“Quem está sempre assistindo, esperando o que vem depois, nunca age”). O que nos impede de lutar rasteja, ao longo de gerações. Com os pensamentos em chamas, nos deparamos com a desmotivação. E então, nos damos conta de que o que guia nossas vidas não passa de ilusão.
5. S.M.H
“Os capitalistas têm de produzir além de seus custos para ter lucro; este, por seu lado, deve ser reinvestido para gerar mais lucro. A perpétua necessidade de encontrar territórios férteis
A cidade capital
para a geração do lucro e para seu reinvestimento é o que
não convive com a
molda a política do capitalismo. Mas os capitalistas enfrentam
cidade marginal.
uma série de barreiras à expansão contínua e desimpedida. Se a mão de obra é escassa e os salários são altos, a mão de obra
Se morar é um luxo,
existente tem de ser disciplinada, ou então é preciso encontrar
ocupar é um direito!
mão de obra nova através da imigração e investimentos no exterior. O capitalista também deve descobrir novos recursos naturais, o que exerce uma pressão crescente sobre o meio ambiente.” -”O direito à cidade”, David Harvey
A Torre: Rompimento das formas aprisionadoras, liberação para um novo início. Desafios dos momentos de transição. Destruição da rigidez. Abertura. Conhecimento. Desmoronamento e queda. Alterações, subversões, mudanças, debilidades. Libertação da alma aprisionada; quebras. Mental: Indica o perigo que pode haver em perseverar em certa direção, em manter uma ideia fixa. Advertência para evitar tropeços e total aniquilamento dos planos em andamento. Emocional: Domínio sobre os seres, mas sem caridade nem amor, já que se exerce com despotismo. Tarde ou cedo, sofrerá uma rejeição afetiva.
6. 書を捨てよ, 町へ出よう s h o w o s u t e yo m a c h i h e d e yo u jo g u e f o r a s e u s l i v r o s , t o m e a s r u a s d e a s s a l t o
Jogue fora seus livros, esqueça os nomes “importantes” que forçou-se a decorar. Rasgue as citações, apague os trechos que sublinhou. Jogue fora seus livros, tome as ruas de assalto!
“Por comodismo acabamos por deixar deconhecido o que poderia colocar em chamas nossos corações. Como uma parte de mim que ganhou vida, uma outra vida, que não a minha. Acabamos por deixar desconhecidas as coisas mais bonitas que poderíamos sentir em nossas vidas.” - “Roto”, Pés Descalços
7. Altas doses de cafeína nos suicídios semanais Sem perspectiva de alcançar qualquer tipo de melhora, a cabeça morre próxima ao concreto, maldito, presente e infinito. Alterado para produzir, treinado para odiar.
8. A abolição do trabalho ( p o r E x c ri a R e v e r b e r a ) “...mas o trabalho moderno tem implicações piores. As pessoas não só apenas trabalham, elas têm“empregos”. Uma pessoa desempenha uma única tarefa produtiva o tempo todo sob a ameaça de um “ou senão...”. Mesmo quando a tarefa tem algo de intrinsecamente interessante, a monotonia de sua exclusividade obrigatória drena todo o potencial lúdico.” -”A abolição do trabalho”, Bob Black
9. 人間失格 ningen shikkaku fa l h a n d o c o m o s e r h u m a n o
“Na tentativa de encontrar-se em tudo que o cercava, descobriu-se estrangeiro em si mesmo.” Reflexo de nada, ningen shikkaku, falha como humano. “As pessoas falam sobre os “exilados da sociedade”. As palavras aparentemente denotam os miseráveis, os perdedores, os viciados, mas eu sinto como se eu tivesse sido um “exilado da sociedade” desde o momento em que nasci. Sempre que conheço alguém que a sociedade tenha designado como um exilado, eu inevitavelmente sinto afeição por esta pessoa, uma emoção que faz com que eu me derreta em ternura.” - ”Ningen shikakku”, de Osamu Dazai
10. GASOLINA P o e s i a ( r u i m ) e s c ri ta c o m g a s o l i n a Assim como Gramsci, nutria o ódio pelos indiferentes. A corda quebrou seu pescoço e ficou o arrependimento de ter deixado para trás a gasolina, a garrafa e o pedaço de pano.
“A arma do povo contra o estado é o próprio povo. Um novo homem, nova sociedade baseada em liberdade. Gasolina, garrafa, pedaço de pano! Estão nos matando, por que não mata-los? Estamos apenas nos defendendo. Extinção de classes, apenas igualdade, é isso que estamos querendo.” - ”Gasolina”, Kusta Päsää
O Pendurado: Abnegação. Aceitação do destino ou do sacrifício. Desinteresse, esquecimento de si mesmo. Submissão ao dever, sacrifício pessoal, impotência. Perdas. Auto renúncia, passividade. Os bons sentimentos serão desviados para empreendimentos condenáveis. Resoluções acertadas, mas que não se executam; projetos abortados; plano bem concebido que fica na teoria. Promessas não cumpridas, amor não correspondido.
Gravado no estúdio Passagem de Som - Agosto de 2014 concretomorto.bandcamp.com
Concreto Morto
Faixa 8
Diagramação
Ilustrações
Mixagem/ masterização
Foto
Daniel, Felipe, Vinicius e Yuri
Excria Reverbera meia-vida.bandcamp.com
Thaís Bianca nuvvem.tumblr.com
Lucian Januário facebook.com/lucian.januario
Diego Poloni
Elaine Momiz flickr.com/photos/momysmomys
c o n c r e t o m o rt o