Roteiro-piloto da série televisiva "Os Almentes"

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Série Rubi - Novo produto televisivo

SÉRIE CÔMICA Clip de apresentação da Primeira Série Cômica do Interior

Paulista

Autor-Roteirista: Felipe Moreno

Emissão: 12 de Julho de 2005 Público: Agências de Publicidade e Mercado Empresarial Duração: 07 min Função: Apresentação \ Programação Verão 2005 Série de 25 episódios \ 3 inserções comerciais\ 4 partes de história Direção:

Roteiro Piloto

Copyright: Série Registrada na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro sob o nº 147.761


CENA 1 – EXT/ PEDRA ROCHOSA ALTO DE ROCHAS MARÍTIMAS

Áudio do ruído das ondas. O mar está calmo. A imagem abre sobre um lenço branco de seda que está sobre a rocha, perdido. Um golpe de vento o levanta e ele voa. A imagem percorre o lenço esvoaçando com muita leveza e suavidade acima do mar. A imagem do lenço vai desaparecendo à medida que se afasta da câmera. Instantes. Duas mãos masculinas entram em quadro e mostram uma tabuleta onde se lê: OS ALMENTES. Instantes. O lenço branco de seda esvoaça por cima da tabuleta e pousa na mão masculina. Slow motion (Essa imagem será repetida outra vez). Detalhar.

APRESENTADOR (OFF) A passagem da vida de uma alma por esse mundo segue ao sabor do vento. A tempestade se forma de acordo com as escolhas e os feitos que a própria alma decide sobre suas opções de vida. O resultado disso recebe nomes diferentes pelos homens mas que podem ter o mesmo significado: carma, caminho, missão, lei de Deus. Tudo isso pode representar a trajetória de uma alma neste mundo... Mas e num suposto outro mundo? O que é que a alma leva para lá? A imagem sobe até o rosto do APRESENTADOR.

APRESENTADOR Status, amores, paixões, lembranças, vícios... Tudo isso faz parte do conteúdo de uma alma. Não a vemos, mas necessariamente ela precisa existir para registrar sua própria cultura no mundo em que viveu. Apresentador pega o lenço de sua mão e o atira para cima. O lenço começa a erguer-se cada vez mais na direção do céu. Tempo. Apresentador olha o lenço se perder no alto. Imagem do céu azul, profundamente azul engolindo o lenço. Instantes. Ele volta a olhar para a câmera.

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APRESENTADOR E para lá vai a alma... Vai se misturar com o azul do céu. E, talvez, viver outra vida. (T) Talvez? Acho que desta vez esta palavrinha será desmistificada. Porque, depois de hoje, o talvez vai também querer assistir à prova, como Tomé que tanto insistiu que um dia pôde constatar que toda a sua dúvida ou incerteza era verdade. Portanto hoje é o dia D da prova material com a qual diremos que existe vida após a vida. Num passe de mágica e com um lenço em volta de uma cartola, podemos brincar de fazer aparecer... Apresentador ergue o braço para cima e pega de volta o lenço de seda. É como se ele o pegasse do céu. Com outra mão pega uma cartola e cobre-a com o lenço. Música. O suspense está no ar. Instantes. Ele descobre a cartola e aparece um lindo e branco coelhinho. A imagem sobe até o Apresentador.

APRESENTADOR Fazer mágica é simples prestidigitação. Fácil. Muito fácil. Com habilidade de mágico, faço aparecer e desaparecer coisas. Quaisquer coisas que possam iludir a quem vê. Já lá no céu existe o mágico do destino. Aquele que dá a cada alma a oportunidade de continuar vivendo... E se descobrindo... A luz do sol invade a imagem. A imagem explode em branco total.

CENA 2 – INSERT / VINHETA ELETRÔNICA

Pontuação musical. Entra logotipo da série: OS ALMENTES Instantes. Corte.

CENA 03. INSERT / ESPAÇO SIDERAL. Noite aberta de céu estrelado. Estrelas caem e se misturam a outras estrelas e galáxias. Sobre essa imagem, ouvimos ruídos diversos: carro derrapando e batendo violentamente; tiros, grito desesperado de mulher; suspiros de súplica. As estrelas continuam caindo e se misturando umas nas outras. Um redemoinho vai se formando, depois dois, três.

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Três bolas brancas vão se desenrolando pela tela até virarem três formatos de crânio. Fusão.

CENA 04. PRAIA ROCHOSA / EXT / NOITE. VEMOS as cabeças de JÓIA SALUTAR, VERÍSSIMA E JONAS. A imagem se aproxima deles. Eles estão sentados numa rocha com os olhos fechados e apoiados uns nas costas do outro. Jóia e Jonas são jovens na casa dos 20-25 anos, enquanto Veríssima tem uns 37-40 anos. Ao fundo deles alguns pontos esbranquiçados simulando estrelas e planetas do sistema solar. De repente alguma coisa cai sobre eles - uma lasca de fogo. Um ruído se faz. Os três abrem os olhos simultaneamente, saltando cada qual para um lado.

OS 3 JUNTOS (Gritando de espanto) Eles ficam se limpando. Uma fumacinha sai do corpo deles; queimadura leve. Suas vestes ficam meio que esgarçadas.

JÓIA Já esperava isso delas. Ciúme, claro. Encontraram uma rival a altura. Que falta de caráter... VERÍSSIMA Se você tá pensando que é uma estrela, sinto dizer que foi uma lasca de cometa que caiu sobre a gente. JONAS Não sou e não tenho vocação para ser alguém como o Anakin Skywalker. Sabe, aquele babacão que pensou ser um herói de cinema... JÓIA (Jocosa, a Jonas) Cê tava na nave, fala a verdade. Tenho certeza. Pelo seu jeito. Falando como gente que mora lá em cima... JONAS La nave foi, eu não...

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JÓIA A tua cara... Eu já vi. Tenho certeza. No meu show, é isso. Ginásio do Ibira. Lotado, lembra? Cê tava dando um amasso num rola... Diz aí. JONAS A doida varreu o cérebro olha só. (T) Posso te dizer uma coisa? O dia que tiver que gastar uma grana num show com uma cantora igual a você, pô aí vai ser a decadência. Geral. Você já pensou em cantar o Fígaro? Ia ser espantoso. De espantar... (Acha graça) VERÍSSIMA Ei, meninos. Tudo verdade, viu. Estamos fora de órbita, olhem só. Vejam o céu. Parece que ele tá de olho em nós. Vejam quantos olhos brilhantes.... Desconfio que se trata de um reality show escondido. Com alguém muito espertinho espionando... JÓIA (Muito surpresa) Reality show? Hum, mas que maravilha. O céu de olho em nós com uma câmera interestelar é algo puramente tecnológico. JONAS Fala aí, quem são vocês? VERÍSSIMA Veríssima, muito prazer. E você? JONAS Jonas. Estudo Filosofia. (A Jóia) E a doída aí? JÓIA Cê sabe que eu dou shows pelo país né, gato filô. Não precisa dar uma de Migué. VERÍSSIMA (Empolga-se) Uau. Uma show-woman. Tudo verdade. Já que estamos num show de realidade, nada como uma cantora pra dar aquela colherzinha pra gente...

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JONAS (Reage) Qualé. Manda a doida cantar em outras paradas. Meu ouvido escuta The Who, Yes, Nirvana... Som que lava a alma e purifica o cérebro. JÓIA (Canta alto bem perto de Jonas) Jonas se incomoda e põe as mãos nos ouvidos. Veríssima gosta e acompanha a música dançando. Um estouro interrompe-os. Parece um novo fogo que caiu de algum lugar. Eles param e ficam atentos. Música. Instantes.

JONAS (Num rompante) Estupidez. Marcação. Cabecinha de jerico. Nos prenderam aqui, pô. Tá na cara. Não perceberam ainda? Jonas volta-se e vê as estrelas ao alto no fundo. Mostra medo, interesse e perplexidade. Tudo junto. Aproxima-se devagar pela rocha.

JONAS (Impressionado) As plêiades. Ali. São elas. Não é que verdade. É pura jornada nas estrelas. Uma viagem real. Estão vendo? Veríssima e Jóia se aproximam de Jonas. Estão muito admiradas com aquele enxame de estrelas. Veríssima aponta para uma delas.

VERÍSSIMA Ei, a Terra. Olhem ela aqui. Estamos longe pakas. JONAS Pakas que língua é hein? JÓIA (Contente) Então significa que fomos raptados. Etês na parada. Shows nas estrelas. Duende isto, fala sério.

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JONAS Vou descer aqui em Júpiter, onde ficam os carinhas mais inteligentes... (Aponta uma estrela) JÓIA Etês não são inteligentes. Senão eles se ligariam no meu som. Só têm cabeção. Não vai na onda do Spielberg. JONAS E o que tem o teu som de inteligente? JÓIA O fato da maioria curtir ele. Logo, como você e os etês não fazem parte da maioria... Novos “Cometas” caem sobre eles. Ficam nervosos e se juntam numa defesa. Olham para todos os lados. O barulho de onda estourando na rocha. Eles se abraçam com medo e angustiados. Instantes. Música.

VERÍSSIMA Tudo verdade viu, Jonas; fomos feitos prisioneiros. JONAS Me intriga não lembrar de nada, como viemos pra cá. Por que estou aqui pra encontrar vocês? Ninguém aqui pra explicar. JÓIA (Espirituosa) A gente caiu do céu, bonitinho. JONAS (Sério) Que tal me esquecer hein, cantorazinha de bordel? JÓIA (Proposital) Não posso, quer dizer, não devo esquecer meus fãs... Jonas se afasta das duas, aborrecido. Novos “cometas” caem sobre ele, que corre de volta para abraçá-las. 6


Tempo. Eles vão se sentando na rocha devagar. É como esperassem pelo pior porém indefesos. Uma estrela cai ali perto deles. No meio dela tem a inscrição: SOLAR. Eles olham a estrela admirados e voltam a se recostar um no outro. Instantes. Começam a falar de forma entrecruzada.

JÓIA (Séria) Que vontade de rir... VERÍSSIMA Cê tá achando o nosso destino engraçado, cantora...? JÓIA Jóia Salutar. Tenho nome. A Cantora. Letras grandes, em caixa alta, tá ligada. JONAS Essa doida aí deve cantar em mausoléus. Fúnebre. Rir da nossa desgraça é coisa de gente desalmada, como diz minha mãe. JÓIA (Risonha) Morrer enforcado, esbugalhado, ai que dó. JONAS A mina nem liga de embarcar numa canoa furada... VERÍSSIMA Tudo verdade, viu. Não tô a fim de acabar meus dias numa galáxia. E com gente desconhecida. Alguém deve ter uma explicação. JONAS A única explicação que tenho agora é que os cometas não gostam de gente. JÓIA Tem males que vem pra bem, gato filô. Minha mãe fala isso. JONAS Pra mim, tua mãe é contraditória.

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JÓIA O que cê acha melhor: morrer ou nascer? Pausa. Eles se encaram. Novo ruído se faz agora mais aterrador. Jóia se agarra a Jonas. Ambos estão amedrontados. Veríssima fica olhando para tudo com desconfiança. Instantes.

JÓIA (A Jonas, quebrando o gelo) Quase morri um dia. Overdose. Lembra disso, gato filô? JONAS (Se afasta dela demonstrando desprezo) Acho que pensa que todo mundo te conhece... Nunca te vi mais viva nem mais morta. Que porqueira. VERÍSSIMA Ei, conheço um manual que ensina a morrer. Tudo verdade, viu. Não sei se é hindu, belzebu, curuçu... JÓIA (A Jonas) Quando eu morrer vou te levar comigo, paixão. Tô a finzona de você. JONAS Sai fora. Você não tem conteúdo. Nem forma. Nem estepe. Nem calota... VERÍSSIMA acha graça. JÓIA mostra uma expressão sádica.

JÓIA Todo fã passa por uma crise de identidade... JONAS Essa pedra insalutar é um perigo. Uma pedra do mais baixo quilate. JÓIA Aproveite, gato filô. Me abrace antes de morrer...

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JONAS desfere uma cara de animal a JÓIA, que ri um riso sardônico.

JONAS Chega de tontice. Deve ter uma saída por aqui. VERÍSSIMA (Levantando-se) Vê daquele lado, que eu vejo deste. VERÍSSIMA vai por um lado e JONAS por outro. JÓIA fica parada ali no meio da rocha. Ela começa a cantar. Instantes.

CENA 5 – INSERT / CLAQUETE ELETRÔNICA

Duas mãos masculinas entram em quadro e batem uma claquete. Lê-se: OS ALMENTES ESTÃO CHEGANDO. Instantes. O Apresentador entra em quadro.

APRESENTADOR São almas novinhas em folha que estão chegando. Chegando ao lugar onde poderão evoluir ou involuir. Depende do uso que fizerem da inteligência emocional. Sim, porque nas emoções residem os gostos e os desgostos de cada alma. Se souberem usar as emoções para o bem, não ficarão muito tempo no Solar do Limbo. Caso contrário, farão história por aqui. Quem viver, verá. E quem morrer também, diga-se de passagem. O Apresentador sai de quadro. A imagem explode em branco. Grafismo eletrônico sobrepõe com a inscrição: ENCONTRO COM O ANJO Instantes. Corte.

CENA 6. PRAIA ROCHOSA / EXT / NOITE. O lenço branco de seda esvoaça pela rocha. Slow motion. Detalhar. Surgem em quadro Jóia, Veríssima e Jonas Eles olham parados o lenço voar. Aos poucos, o lenço vai se materializando e forma um ANJO-MULHER que sorri com doçura. Instantes. Os três estão impressionados e ao mesmo tempo fascinados. 9


O Anjo se dirige a eles.

ANJO Não se lembram da viagem que fizeram pelo céu... Vieram da Terra para o Solar. Ali, daquele pontinho ali no céu. Deixaram o envoltório físico mais ou menos no mesmo instante. E se juntaram aqui como se acordassem de um tranqüilo repouso... Quem morre para a vida terrena ressuscita neste plano. Aguardem até verem o filme de sua última existência. Tchauzinho... O ANJO desaparece e deixa o lenço no lugar. Jóia, Veríssima e Jonas olham-se espantados. Parados vão se sentando e se recostam uns nos outros. Parecem exaustos e fecham os olhos como que para um novo momento. E começam a chorar num lamento.

CENA 7 – INSERT / CLAQUETE ELETRÔNICA

Duas mãos masculinas entram em quadro e batem uma claquete. Lê-se: A VIDA CONTINUA SEM FIM Instantes. O lenço de seda voa para o céu. Pontinhos de luz vão enchendo a tela no lugar da claquete. Pontuação musical. Entra logotipo da série: OS ALMENTES BREVE NA TV Instantes. Estrelas caem da tela em forma de fantasminhas. Como se fossem pára-quedas. Instantes. Corte. Fade out.

FIM.

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