apart

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editorial é tempo de insensatez esta edição foi concluída sem dramas e sem traumas, fluiu daqueles que escrevem com deleite sobre a arte. 7 324769 411410 felipe ohno

cada uma destas páginas tem as mãos - cotovelos, nucas, gengivas e vesículas - dos seus colaboradores. a apart renovou e reviveu parceiros de temporadas, das que foram, das que são e das que estão por vir. não a entenda como um trabalho de conclusão, mas de inícios. unimos a arte ao jornalismo, o senior ao junior e a vanguarda ao contemporâneo. apartamos, por fim, a arte dos paradigmas e o jornalismo cultural do cinismo conservador das galerias. é tempo de escutar, criar, estudar e viver uma nova realidade, renovar as ideias e enlouquecer esta normalidade pertubadora. amigos, obrigado.


colaboradores

índice in process

restauração in live

márcio carvalho emiliano favacho é palhaço, performer e psicólogo. integrou o núcleo uhuu de pesquisa da performance de 2006 a 2009.

gerrah tenfuss é ator, diretor e performer. formado em artes cênicas pela universidade de londrina.

márcia vasconcelos é cirurgiã-dentista, professora universitária e fotógrafa amadora “literalmente, amo a Fotografia”.

a protagonista

mostra festival de apartamento

fernanda stein é socióloga e bailarina. formada no martha graham school of contemporary dance (ny) e no instituto internacional da marionete - charlesville – mèziére (france). coordenadora pedagógica do espaço meme e membro do grupo de estudos geperformancepoa de porto alegre.

letícia missurini é estudante de design gráfico da unesp bauru e se aventura pela área da ilustração

rosemary fritsch brum é socióloga, historiadora e performer. doutora em história pela puc/rs. mestre em sociologia pela ufrgs. pesquisadora e vice-líder do grupo interartes: processos e sistemas interartísticos e estudos de performance. socióloga do nph (ufrgs). trabalha com estudos de história oral e migração.

08 12 16

UHUU

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apart miúdos

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pesquisa leandro caetano é designer e diagramador. estudante da unesp de bauru

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pós-drama

sexualidade e fetiche

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canal contemporâneo

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ensaios

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a performance e as redes sociais

fly adicional de insalubridade Expediente

niura borges é vídeoartista, documentarista e pesquisadora cnpq. mestre em artes visuais pela ufrgs e especialista em artes visuais pela feevale/rs. integrante do geperformancepoa. trabalha com arte e tecnologia, videoarte, audiovisual documental, experimental e performance.

patrícia soso é performer e atriz formada pela scuola di teatro arsenale de milão. integrante do geperformancepoa. pesquisadora cnpq interartes: processos e sistemas interartísticos e estudos de performance. formada também em ciências jurídicas e sociais pela unisinos.

rosa maria simões é interartista, capoeirista, performer e doutora em ciências sociais pela ufscar. professora do departamento de artes e representação gráfica da faac/unesp onde ministra as disciplinas artes corporais, antropologia das culturas populares e expressão musical.

Direção: Felipe Ohno

agenda

calendário

Edição, redação e fotografia: Felipe Ohno

livros

estante

Diagramação e Arte: Leandro Caetano Orientação: Luciano Guimarães Revisão: Cristiane Barbieri

artigos

corpos heterotopos tambor

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in process

Restauração in LIVE A conversão de São Paulo a caminho de Damasco,

novo espaço no cenário artístico: a live art, ou seja,

pintura do realismo brasileiro, acaba de dar um passo

a elevação do processo de trabalho ao status de

para a contemporaneidade. A restauração da obra

objeto de arte.

de 1889 poderá ser vista ao vivo por quem visitar o Museu Paulista em São Paulo ainda este ano.

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Restauração in LIVE Revista APART Dezembro 2010

A Conversão de São Paulo a Caminho de Damasco. Óleo sobre tela. São Paulo, 1888 Imagem: Acervo do Museu Paulista/USP

Por Felipe Ohno

Para o performer e pesquisador Renato Cohen, a arte da performance é antes de tudo uma expressão cênica. “Um quadro sendo exibido para uma plateia não caracteriza uma performance; alguém pintando esse quadro, ao vivo, já poderia caracterizá-la”,

A pintura de Almeida Júnior está no museu desde 1912, mas há 15 anos estava guardada e não era exposta. Agora, a tela que ficava originalmente no teto da antiga Igreja da Sé passa por uma recuperação assistida. Saindo dos intocáveis ateliês de restauração, este método passa a ocupar um

afirma em seu livro Performance como Linguagem. Levando em conta essa definição de Cohen, podemos considerar este evento um ato performático. Assim, os restauradores desta obra realista performarão durante os 18 meses previstos para a restauração. Segundo Heloísa Barbuy, curadora do evento e vice-diretora do Museu, o restauro ao vivo é uma forma de atender ao interesse que o público sempre demonstrou pelas atividades de restauração. “Nós não pensamos nada em termos de performance, mas nossa proposta certamente se enriquece com esse ponto de vista”, completa a curadora. Como a tela de 4,25m x 3,745m é muito grande e cabe em poucas salas do museu, o trabalho será feito em um salão que normalmente é área de exposição. “Em vez de fecharmos a sala, pensamos em torná-la um espaço interessante para visitação”, conclui Heloísa. Aqueles que visitarem o museu, além de presenciarem o trabalho dos artistas, poderão acompanhar uma exposição sobre a obra e seu contexto original, o Largo e a Igreja da Sé. Também haverá um painel com o “dia a dia da restauração” atualizado com fotos e informações do processo.

Abertura ao público: Dezembro de 2010 Onde: Museu Paulista da USP - 1º andar, Ala Oeste Mais informações: www.mp.usp.br


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Restauração in LIVE Revista APART Dezembro 2010

Profissional faz restauro assistido no Museu do Ipiranga

Exposição com o “Dia a dia da Restauração” Foto: Divulgação/Assessoria


Márcio

Carvalho

A nova geração e o novo boom europeu Texto_Felipe Ohno

Foto_Laura Gianetti

A Europa volta a viver uma forte produção na performance art, a exemplo do que acontecia nos anos de 1970. Márcio Carvalho é artista e pesquisador, formado em Artes Visuais pela Escola Superior de Arte e Design (ESAD) em Caldas da Rainha – Portugal. Atualmente, é curador do Programa de Residência Artística de Berlim, diretor e curador do Festival de Performance PLOT in situ e produtor do programa de televisão alemão The powers of art. Em setembro deste ano, realizou a Extension Series 5, projeto de residência artística em parceria com Elisa Haug, performer e amiga, no Grimmuseum de Berlim. Nascido em 1981, inclui-se na nova geração de artistas europeus.


Extesion Series 5, seu último trabalho no Grimmuseum, nasceu de uma parceria com sua amiga Elisa Haug. Como desenvolveu-se essa ação? Elisa e eu decidimos fazer uma colaboração depois de encontrar alguns pontos em comum em nossos trabalhos. O espaço físico onde a ação desenvolveu-se foi muito importante para essa colaboração. Havia uma parede no meio da sala na qual nos concentra-

“A PERFORMANCE AO VIVO ABRANGE UM PEQUENO PÚBLICO, SENDO, O PENSAMENTO ACERCA DO REGISTRO, UM MEIO DE DESENVOLVER A DISCIPLINA DE MODO QUE AS POSSIBILIDADES DE SUA AÇÃO E POESIA PERMANEÇAM PARA SEREM SONHADAS POR AQUELES QUE NÃO PUDERAM ESTAR PRESENTES.”

mos. De um lado, projetamos as costas da Elisa e, do outro, a parte da frente do meu corpo. Com isso, trabalhamos metaforicamente um híbrido entre os dois, que simbolizava o nosso envolvimento neste trabalho. Todo o desenrolar do trabalho foi feito por meio de ações em ambos os lados, ao mesmo tempo, “obrigando” o público a movimentar-se constantemente para ver a performance. Todas as ações eram projeções de sentimentos de um sobre o outro, num processo que intitulamos “Learning you”.

Essa será certamente a primeira forma de registro.

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Outras formas de registro como o vídeo, a fotografia,

Márcio Carvalho

o texto e a entrevista, tanto para o público como

Revista APART Dezembro 2010

para os performers, têm uma enorme importância porque traz outro conhecimento da obra, que não é a sua totalidade, que só poderemos ter ao vivo, mas que abre portas ao discurso da disciplina e põe a responsabilidade de a compreender e de a pensar a vários orgãos institucionais, como os Museus.

Dado à natureza da performance, tivemos que tra-

Em que nível o registro é tão relevante quanto a

balhar um registro específico. Por aqui, existe uma

própria ação?

grande discussão em relação a como registrar performance art e a importância desse mesmo registro no pós-performance.

Quantas pessoas já viram um picasso ao vivo? E mesmo as que o viram, quantas não estavam perante uma réplica? A performance ao vivo abrange um pequeno

“A PERFORMANCE ART É DEDICADA AO MOMENTO, A UMA CONDIÇÃO QUE TORNA PERFORMER E PÚBLICO UM MEIO DE CONSTRUÇÃO DE REALIDADES SOCIAIS.”

público, sendo, o pensamento acerca do registro, um meio de desenvolver a disciplina de modo que as possibilidades de sua ação e poesia permaneçam para serem sonhadas por aqueles que não puderam estar presentes.

A performance art sempre se preocupou com o registro de suas ações. Você ressaltou essa característica ao dizer que na Europa há “uma grande discussão” em relação a como registrá-las. Como isso se dá? O termo de comparação entre a ação e o seu registro, penso não ser o ponto mais interessante ou mesmo importante desta discussão. Ambos são relevantes `a sua maneira, ambos fazem parte da mesma coisa. A performance art é dedicada ao momento, a uma condição que torna performer e público um meio de construção de realidades sociais. Vive dessa efemeridade e fica registrada em cada elemento do público.

A performance integra muitas linguagens artísticas, que vão desde as artes plásticas até o vídeo. Como você trabalha este hibridismo? Projeções de Márcio e Elisa Haug na performance Learning you


Este processo híbrido da performance é o que mais me interessa nesta prática. Ele é um gênero de liberdade, de uso de qualquer forma. Entretanto, ao mesmo tempo, esta liberadade tem que ser encarada com responsabilidade e amor à tarefa, visto que

“AS INSTITUIÇÕES DE ARTE SÓ AGORA ESTÃO ACEITANDO A PERFORMANCE. ISSO SE DÁ PELO FATO DE ELA ESTAR VIVENDO UM NOVO BOOM.”

cada mídia tem as suas características particulares e poderá invocar uma narrativa histórica específica.

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Márcio Carvalho Revista APART Dezembro 2010

Como isso se dá no seu trabalho?

PLOT in situ vem da minha vontade de estudar Performance art ativamente, de trabalho de campo, by doing. É uma oportunidade de refletir sobre

O uso do vídeo é consequência de uma necessidade. O vídeo traz algo que não poderá ser feito in live, que reporta a outro tempo. Em vários trabalhos, usei o vídeo para reportar à memória, para criar correspondências espaciais ou, mesmo, para amplificar pequenas ações que trabalho em cena.

a performance art como disciplina, ritual, ação transformadora e criadora de realidades sociais e meio de expressão que recria artista e público, em um diálogo frontal capaz de ser didático, poético e contemplativo.Em Agosto de 2011, produzirei a segunda edição do festival, que visa criar diálogos

E qual é o procedimento ou método para a constru-

entre performance art e variadas disciplinas como a

ção de suas ações?

Antropologia, a Filosofia, Política e Ciência. Esta segunda edição pretende entender até que ponto estas

Cada trabalho tem a sua especificidade, o seu contexto ou a sua intenção. Em cada um deles, existem variadas premissas que vão mudando e gerando novos pontos de vista acerca do mesmo.

“ACHO QUE É DEVER DE UMA GERAÇÃO MAIS JOVEM, NA QUAL ME SINTO INCLUÍDO, SE RESPONSABILIZAR PELOS CONTEÚDOS E FORMAS A SEREM PRODUZIDOS NO FUTURO.” Existem etapas a serem seguidas?

disciplinas estão presentes dentro da Performance art e vice-versa, tanto na nossa contemporaneidade como dentro de um todo de narrativas históricas. Para este efeito, o PLOT in situ será apresentado dentro de vários Museus em Berlim, tirando proveito de suas coleções para a construção de diálogos. Na sua opinião, a curadoria combina com a performance? Acho que a curadoria combina de uma forma especial com a Performance art. Tendo em conta

Antes do início de um trabalho, é certo que exista um estudo acerca do tema que me preocupa. Há a necessidade de um conhecimento detalhado sobre o mesmo. Passo então a modelar e construir as minhas ações por meio de objetos e mecanismos poéticos que acionam, numa narrativa ambígua, as ações performativas. Depois, aparecem outras necessidades, como métodos e afetos, que contribuem para a especificidade de cada projeto.

que a maior parte dos festivais de Performance são organizados por artistas/performers e que muitos deles estão em vias de desaparecer, visto que requerem muita energia, e alguns destes organizadores/artistas estão ficando mais velhos, acho que é dever de uma geração mais jovem, na qual me sinto incluído, se responsabilizar pelos conteúdos e formas a serem produzidos no futuro. Creio que o termo artista-curador se aplica melhor a mim, pois

Além de performer, você é criador, diretor e curador

o meu intuito é o de estudar, fomentar e criar, de

de um Festival de Performance, o “PLOT in situ”.

uma forma sensível aos artistas e seus trabalhos,

Como surgiu este Festival?

formas de discutir a disciplina da performance.


E como o festival é subsidiado?

Elisa Haug no Grimmuseum em Berlim

A primeira edição foi subsidiada por um fundo que recebi como artista, ou seja, não especificamente para produzir o festival. Esta segunda edição, em 2011, está a concorrer a fundos para que a qualidade da sua produção possa ser mais elevada. No Brasil, apesar de existir muitos núcleos dentro das

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universidades que pesquisam a Performance art, ela ainda é excluída de muitos editais ligados à cultura. Como isso se dá na Alemanha e na Europa em geral? Na Europa, a performance sofre uma síndrome parecida. Existem inúmeros festivais que começam a criar interessantes formas de subsidiar os artistas e de lhes dar oportunidade de apresen-

Abramovic no MOMA em Nova Iorque. O que ela

Márcio Carvalho Revista APART Dezembro 2010

fez foi um testemonial. Há como sobreviver de performance fora dos ambientes acadêmicos?

tarem seus trabalhos. Mas as instituições de arte

Como sobreviver da performance ainda é uma questão

só agora estão aceitando a Performance. Isso

para a qual não tenho uma resposta. O importante

se dá pelo fato da Performance viver um novo

será tirar partido deste boom para construir a disci-

boom. Numa época de crise monetária que lide-

plina e dar formas de subsistência para aqueles que

ra uma crise do objeto, a performance vem de

a praticam e que fazem dela um meio de expressão,

novo trazer outros valores que se distanciam da

com responsabilidade e amor `a tarefa. O importante

comercialização da arte. Um bom exemplo é a

será não deixar ela desvanecer como aconteceu nos

performance feita, há pouco tempo, por Marina

anos 80 e 90, depois do boom dos anos 70. Learnig you fez parte do projeto de residência artística Extension Series 5


Do silêncio à vociferação Texto e foto_Felipe Ohno Ilustração_Letícia Missurini

O local era uma sala fechada. Um microfone ligado a um pequeno amplificador adiantava-se à menina. A regra era pronunciada pela assistente, e irmã, a cada espectador que entrava no local: “todos devem ficar em pé”. Ao fundo, uma cadeira virada de costas no canto direito da sala compunha o environment.

A

Protagonista


A experiência Chegamos ao Instituto Janela Aberta com duas

vocalizações. As glossolálias evoluíam lenta e or-

horas de antecedência para preparar o local

ganicamente. Cada som emitido dava passagem

onde iríamos apresentar. O início das ações ainda

a um diferente, e os sentimentos saltavam do

estava previsto para as oito da noite.

choro à gargalhada, do suave ao agressivo, até o despertar da histeria junto ao gozo.

Em meio ao movimento dos preparativos das 17 performances que habitariam aquele local e ao

Horas em silêncio ansiavam em sôfrego rebentar

frenesi das conversas dos dispostos a se conhe-

por aquela tímida boca que agora se dilatava

cer, uma menina em silêncio e com olhar meigo

em êxtase. O som evoluía, mas o grito que pa-

se destacava. Infatigável, circulava pela casa e enfrentava todos que a miravam.

recia eminente não vi-

“HORAS EM SILÊNCIO ANSIAVAM EM SÔFREGO REBENTAR POR AQUELA TÍMIDA BOCA QUE AGORA SE DILATAVA EM ÊXTASE”

nha. E a minha agonia postergava. Neste momento, fui incapaz de desligar-me do transe

Os mais atentos já percebiam que a quietude e a

para observar os demais e, agora, responder por

compenetração da menina integravam sua ação,

suas condições psicológicas: a audiência evitava

que mais tarde os motivos seriam evidenciados.

piscar.

Mas só às 23h que compreenderíamos a razão de sua introspecção.

E seu olhar me seguia, sem exclusividade, é claro. Todos sentiam-se privilegiados. Mas o grito que

Luísa Nóbrega então desabotoa o sobretudo que

eu tanto ansiava não vinha para fora. E não veio,

lhe cobria desde as 18h e, com um batom escarla-

nem se libertou. Seria esse um desejo particular

te, divide o corpo, do nariz ao umbigo, em duas

meu? Ou um desfecho muito óbvio para uma

partes similares. Ainda com o batom, risca o chão

obra primorosa?

a sua frente e a do pedestal. Marca esta que a protegeria da invasão do público. Sua assistente

A menina despe-se e senta-se na cadeira de cos-

imposta mais uma vez em bom tom: “ninguém

tas para nós. A irmã toma o microfone e autoriza

poderá ultrapassar este risco a partir de agora”.

os presentes a verbalizar seus devaneios para a protagonista.

Porta fechada, cena composta e clima denso, ora pelo calor da sala e pela aglomeração de corpos, ora pela tensão daquela voz que ainda não tinha sido ouvida por ninguém, exceto pela assistente, e irmã. Seu clamor há horas permanecia guardado. Um desafio e um rito necessários.

Alguns dizem então verbos soltos, levando ao pé da letra o convite da assistente. Outros conseguem sentenciar genuinamente o que aquela voz em lava tinha nos provocado. Mesmo assim, não consigo permanecer muito tempo na sala. Saio antes que aquelas racionalizações me fizes-

Pulando de olhos em olhos, as pupilas da menina

sem esquecer da ação mais orgânica que assisti

vociferavam enquanto sua boca iniciava tímidas

naquela noite.

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A Protagonista Revista APART Dezembro 2010


A Protagonista desvelada Assim que terminou sua ação no VIII Festival de Apartamento, sediado no Instituto Janela Aberta em São Carlos, Luisa Nóbrega, atriz e performer, conversou sobre seu trabalho com nossa equipe.

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Luisa resolveu arriscar-se pelos campos da perfor-

A Protagonista Revista APART Dezembro 2010

mance depois de descobrir uma ligeira deficiência auditiva que a fazia falar diferentemente das outras pessoas, quase como se tivesse um sotaque particular. Até então, não sabia como as pessoas a ouviam: “Quando eu descobri, foi um choque para mim”. A partir dessa descoberta, começou a pesquisar e escrever sobre ruídos de comunicação. “Isso gerava uma série de questões que eu queria investigar, principalmente o contato com a dor. Desenvolvi este trabalho para responder perguntas como estas: O que é a voz? O que é a palavra? Como elas se interferem, e como uma desmonta a outra?”

“Há alguns anos, eu trabalhava com distorsões e improvisação vocal em um grupo de música experimental. Quando o grupo acabou, fiquei muito tempo trabalhando a voz apenas nas aulas de teatro, até que voltei a pesquisar sozinha utilizando meu gravador.”

O estudo do silêncio, da voz e da interpalavra guiaram a preparação de seu trabalho, como exercício, experimentou ficar um dia inteiro sem

Carolina Nóbrega, a irmã

Foi então que Luisa descobriu algumas referências como Meredith Monk, Diamanda Gálas e Artaud.

falar. Seu trabalho foi muito intuitivo e suas raí-

“Meredith Monk tem uma pesquisa muito interes-

zes estão além de sua deficiência, encontram-se

sante. Ela veio da dança e migrou para a música

também na música.

e faz trabalhos que integram as duas artes. Há pouco, descobri Diamanda Gálas, uma cantora hipermetal. Mas quando você a vê apresentando, ela é uma performer, não está só cantando, tem uma presença muito forte. Fiquei louca com ela também. Outra coisa que ouvi e gosto também são as gravações do Artaud e as glossolálias que fazia.” Segundo Luisa, seu percurso dentro do campo das artes cênicas é meio louco. Fez curso de teatro no Célia Helena, Unicamp até o terceiro ano, entrou em crise, fez EAD/USP - Escola de Arte Dramática - e passou pelo Teatro da Vertigem. “Agora, eu estou muito apaixonada pela performance. Estudando!”


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A Protagonista Revista APART Dezembro 2010

Luísa Nóbrega, “A Protagonista”


mostra

Festival de apartamento 16

Jovens artistas promovem a performance art entre suas

em ir, nossa ideia era pegá-las de surpresa. Fizemos um

atividades profissionais

evento e o resultado foi satisfatório, resolvemos então

Festival de Apartamento

Por Felipe Ohno

Revista APART Dezembro 2010

fazer o segundo e dar sequência. A partir daí, mudou a organização, pessoas entraram e outras saíram, e ele

As artes performativas conquistaram seu espaço e passam por um período fértil no Brasil. As universidades e os editais de cultura já estão abertos a este segmento artístico. Belo Horizonte, Vitória, São Paulo e outras cidades do país já entraram no circuito de festivais e mostras do gênero e é nesse cenário que um grupo se destaca. Quatro jovens artistas promovem um misto de festa e mostra, assemelhando-se ao que os neoístas faziam nos anos de 1980.

foi pulando de cidade em cidade. E desde quando estão juntos? Rodrigo: No quarto festival, fechamos um grupo de organizadores. Eu, Ludmila e a Thaíse. Ficou um grupo mais estável, antes era meio flutuante, não se sabia nem o que isso era exatamente. Era um evento? Queríamos que aquilo virasse uma instituição? Não sabíamos. A gente estava surpreso de saber que, além de nós, outras pessoas se interessavam. No começo, o foco era a gente

O Festival de Apartamento foi criado, em 2007, pelos

ter um espaço para poder apresentar nosso trabalho,

artistas Rodrigo Emanuel Fernandes, Ludmila Cas-

do quarto festival em diante, o foco começou a mudar.

tanheira e amigos. Tempos depois, Thaíse Nardim e Alexandre Sanches vieram para consolidar o grupo.

Da criação para a produção?

Para os jovens, um local, uma intenção e pessoas

Rodrigo: O foco começou a ser o próprio festival em si,

interessadas em apresentar ou assistir performances

mas ainda apresentávamos trabalhos dentro dele. Eu,

bastam para a existência de um festival.

a partir do sétimo festival, parei de performar e não

A apart trocou uma ideia com o grupo na última edição (VIII) do festival, realizada em agosto de 2010 no Instituto Janela Aberta em São Carlos.

Como surgiu o Festival de Apartamento? Rodrigo: O primeiro festival não era de apartamento, queríamos apenas um lugar para apresentar nossas próprias performances. Então usamos a casa de amigo, onde era comum ter festas e pequenas exposições de artistas independentes. Como a gente sabia que neste espaço as pessoas estavam interessadas Rodrigo Emanoel Fernandes, um dos organizadores do festival

senti falta. A Lud e a Tha fazem questão de continuar. O ponto de prazer se deslocou. Para mim, ele agora está nessa coisa de espalhar e atrair pessoas inesperadas. A gente não imaginou que iria atrair tantas pessoas.


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Festival de Apartamento Revista APART Dezembro 2010

E qual é o público do festival? Ludmila: Quem tem algum interesse ou alguma ligação

Será que não é vantajoso se institucionalizar e virar uma organização que tenha verba?

com o circuito da performance. Quando a gente recebe

Thaíse: Na verdade, temos uma diversidade de casos

as inscrições, a gente não sabe direito quem são as

de pessoas que voltam. Isso é bom, mas não precisa

pessoas. Só depois que elas estão no lugar, descobrimos

ser a tônica da questão, porque também é interes-

que é fulano que conhece fulano. Existe uma rede que

sante a pessoa que nunca teve a oportunidade de

se estabelece. No festival anterior, essa rede chegou a

mostrar seu trabalho, que nem sabe se é performance

Alagoas e a Minas, o que foi totalmente inesperado.

ou não, tenha esse espaço para poder apresentar

Então foi a primeira vez que houve esta expansão para o Brasil?

e dialogar com os demais. O iniciante é tão bem-recebido quanto a pessoa que tem um trabalho de performance conhecido e estabelecido.

Ludmila: Foi, mas imagino também que foi a primeira

Rodrigo: A gente não diferencia. Na verdade, isso nem

vez que as pessoas puderam vir. Porque já se alastra.

é importante para nós.

Rodrigo: Como ele é feito só na base da colaboração, as

Thaíse: Isso faz parte do fundamento das nossas ba-

pessoas vêm por conta própria. Sempre pressupomos

ses, que é a não-curadoria. A gente lhe aceita desde

que quem vem são os moradores da própria cidade onde

que você afirme: meu trabalho é de performance

o evento vai acontecer. Depois do sétimo Festival, nós

art. Não vamos lhe perguntar o que você acha que

percebemos que não. Depende, na verdade, do interesse

é performance. Você falou que é, então a gente vai

das pessoas nesse tipo de circuito. Elas estão dispostas a

lhe receber até o limite do nosso espaço.

gastar dinheiro, se deslocar e vir se apresentar enquanto o festival está acontecendo, assim, sem nem mesmo tentar ser patrocinado e institucionalizado. Chegou a um ponto que a gente não tenta fazer isso.

E qual objetivo disso tudo? Ludmila: As trocas. Por isso dizemos que o festival é um misto de mostra e festa. Tivemos a experiência de um festival que ficou muito grande e que as pessoas foram

Mas as pessoas voltam? A impressão que tenho é que

com o seu próprio público, se apresentaram e voltaram

o público se renova muito rápido em eventos como

para casa. Para nós, foi chato, porque o legal é a troca.

esse, porque o artista que vem por conta própria

E não é uma coisa programada: “Agora, vamos todos

não está a fim de se bancar no festival seguinte.

sentar e conversar sobre nosso trabalho”, ela acontece


Rodrigo: Voltando à questão que você tinha feito sobre

Antúrio, performance de Malu Martins

a institucionalização. Se a gente consegue um financiamento para bancar a vinda dos artistas, criamos um problema, não dá para bancar a vinda de todo mundo. E aí? Quem a gente seleciona pra vir? Cria-se um critério não interessante. Do jeito que ele é feito, quem vem está interessado em apresentar e gosta daquilo. Se tiver dinheiro envolvido, entram outros fatores, como

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currículo e tirar uma grana. Tudo isso se mistura. Fica difícil separar as coisas depois que entrou dinheiro.

Festival de Apartamento

Ludmila: Além disso, provavelmente teríamos que

Revista APART Dezembro 2010

trabalhar com prazos, o que faria disso uma profissão. na própria dinâmica. A gente até tem uma estruturação mínima de ordem que não é tão rígida, mesmo porque, o que interessa é essa diluição e a troca que pode vir disso.

Nós temos um diletantismo saudável, realizamos o festival entre as nossas tarefas que vão pagar água, luz e telefone. Não queremos nos tornar profissionais do Festival de Apartamento. O festival não é o nosso

Thaíse: E como é um acontecimento de interesse

ganha pão, ele é diletante mesmo, temos muito prazer

comum, mesmo tendo esta flexibilidade e essa

em fazê-lo. E, talvez, esta entrada de fomento venha

abertura, acaba sempre dando certo. Todo mundo

industrializar, para usar um termo mais radical.

aqui tem interesse em se apresentar e, na maioria

Thaíse: E eu acho que a gente não precisa de mais

das vezes, assistir o trabalho dos outros.

um festival de performance industrializado. Estão

O interessante também é saber o que as pessoas estão pensando que é performance? Porque é muito difícil definir isso.

surgindo vários, já existem alguns e em breve vão pipocar outros. Eu também sou muito rígida com essa questão de fomento. Está dando certo assim e, estou muito tranquila em relação a questões éticas

Alexandre: Não chegamos ao ponto de dizer isso é per-

e acho que é assim que tem que ser.

formance e isso não é. As pessoas vêm e apresentam

Acesse: festivaldepartamento.blogspot.com

suas propostas e aí a discussão acontece. Por isso a não Thaíse Nardim em mel-o-drama

curadoria é um aspecto legal do festival. Ele abre possibilidades de encontrarmos alguma definição.

Cabelódromo, performance de Grasiele Souza


pesquisa

O QUE É O

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Núcleo UHUU Revista APART Dezembro 2010

?

Núcleo de Pesquisa da Performance:

Interartes e Multimídia da Unesp de Bauru O ambiente propício para nossos transes coletivos era a madrugada. A lua, a conivente dos devaneios e de nossas autoliberações. Pouco a pouco, bramia-se o UHUU como código de acesso àqueles rituais que não eram secretos, mas enigmáticos. As janelas e as portas nunca estiveram fechadas, aqueles que entravam iniciados estavam e só assistir não bastava. Foi o fascínio por uma arte obscura e inovadora que aquele grupo foi tomando forma e criando raízes. O UHUU foi fundado em 2006 por jovens estudantes da UNESP de Bauru embuídos na tarefa de promover a arte dentro da universidade. Depois de uma visita do artista performático Márcio Pimentel ao campus, o grupo – que logo se tornou um projeto de extensão acadêmica - resolveu dedicar sua pesquisa à arte da performance.

sentadas em ruas, casas e festivais fora da cidade. Fizeram e construíram parte desta história, Andréa Martins, Camila Vieira, David Calleja, Emiliano Favacho, Fernanda Vasconcelos, Marília Marton, Marília Cavalheiro, Sarah Carvalho, Thaís Luquesi, entre outros. Além de Márcio Pimentel, os professores doutores Márcio Pizzarro e Rosa

Desde então, os alunos de diversos cursos – Rá-

Maria Araújo Simões também coordenaram e con-

dio e Televisão, Jornalismo, Psicologia e Artes

tribuiram com suas pesquisas.

– juntaram suas habilidades e realizaram experimentações no campo da body art, ritual, corpo, cotidiano, criatura e videoinstalação. Suas ações ultrapassaram os limites da Unesp e foram apre-

Nas próximas páginas, Rosa, Emiliano e eu, relatamos memórias e deduções desses 4 anos de pesquisa. Retalhe-nos!

Felipe Ohno


BAURU ZOO PERFORMANCE outro, é possível perceber a tristeza de uma vida presa e as limitações,

cores, sons; uma diversidade de vidas: animais, vegetais e humanas. De

um sentido, é preciso que essa fuga se opere a partir de

alguma coisa estável. Para ultrapassar o limite, é preciso

que ele exista. (...) Trata-se no caso de uma bipolaridade,

especificando da melhor forma o antagonismo paradoxal

visitar, não só porque meu filho tinha quatro anos e o

Assim, ele foi o primeiro local que tive interesse em

era o Zoológico de Bauru.

um dos locais de maior orgulho para seus moradores

de campo. Mas, logo que cheguei, pude perceber que

doutorado na UFSCar e as viagens para a minha pesquisa

trabalho na Unesp - onde quase não há bauruenses -, o

de conhecê-la e vivê-la. Dividia-me entre o intenso

aproximadamente quatro anos não tive oportunidade

Quando me mudei para esta cidade, em 2002, durante

preta, uma blusa e uma toca amarela e preta, ia me sentindo um pouco ele.

Fui sorteada com a bolsa do Márcio. Enquanto eu vestia uma bermuda

meio de sorteio.

para ler em frente a uma jaula. As bolsas, então, foram trocadas por

No zoológico, cada um escolheu um animal e um trecho de seu livro

conteúdo dela deveria ser mantido em segredo até o momento da ação.

uma bolsa com roupas e acessórios que mais nos representavam. O

Marília Marton e Juliana Brandt - levamos, cada um, para o zoológico

Márcio e outros integrantes do UHUU - Fer Vasconselos, David Calleja,

e o público; a palavra sussurrada e o ato de contar histórias, eu, o prof.

Partindo, portanto, de uma imersão que explorava o íntimo, o privado

para o UHUU em 2009, deram origem à BAURU ZOO PERFORMANCE.

O eixo dos sonhos, histórias contadas e a arte da performance, ministrado

público foi ficando muito quieto e prestando atenção,

sintonia com aquele animal. Percebi também que o

grimas não paravam de cair, sentia-me em completa

deste quadro que acabei de descrever; as minhas lá-

Enquanto ocorria a minha ação, vinham as imagens

tudo isso, sem saber como interferir.

foto. Sentia-me indignada e impotente ao observar

que rugisse, para que fizesse determinada pose para

com ele de uma maneira desrespeitosa, gritando para

vezes, presenciei os humanos tentando se comunicar

referência Maffesoli. Em frente à sua jaula, em diversas

uma metáfora do “enraizamento dinâmico” a que fazia

um canto a outro incessantemente. Isso me soava como

Em todas as visitas, deparava-me com o leão andando de

de toda a existência. (...) O espaço pode ser um território

zoológico é um local onde costuma-se levar as crianças,

O leão, que andava de um lado ao outro da cela, parou em minha frente

apesar de não saberem o que de fato acontecia ali.

O exercício

mas porque, de alguma maneira, ele era necessário para

e encarou-me enquanto eu me vestia. Olho no olho, o leão me emo-

Seria eu louca? Estavam levando a sério, senti que

stricto senso, mas também pode dar-se que seja o espaço

mim. Eu queria me relacionar com os animais e promo-

cionava ao transmitir sua tristeza. Com o novo visual, sentindo-me um

compartilhavam emoções.

Este contexto ora apresentado, somado aos vários exercícios propostos

ver uma experiência estética: compartilhar emoções

pouco mais “o outro”, abri o livro Sobre o Nomadismo: Vagabundagens

Despeço-me aqui com este exercício de estetizar a vida,

cercado de um indivíduo fechado sobre si mesmo.”

(recorro ao termo estético no seu sentido primeiro: o

pós-modernas de Michel Maffesoli, e li alguns trechos, dos quais destaco:

com esta obra aberta, em processo, e com o desejo de

por Márcio Pizarro (Universidade Federal de Goiás), ocasião de seu curso

fragilidades e perversidades “humanas”.

e o exercício obsessivo diário de uma leoa Rosa Maria Araújo Simões

Um exercício de “errância psicogeográfica”, uma tentativa de relacionamento com os bauruenses ou, talvez, uma

das “emoções compartilhadas” - Maffesoli1).

“Eis precisamente o problema que a errância traz consigo: a fuga é neces-

tentativa de relacionamento com os animais em Bauru.

Há de um lado, numa visita ao zoológico, a oportunidade

1 Michel Maffesoli é um sociólogo francês, um dos fundadores da sociologia do cotidiano. Famoso por suas análises sobre a pós-modernidade, o imaginário e por seu conceito de tribo urbana.

Foto: Fer Vasconcelos

continuar compartilhando emoções.

Revista APART Dezembro 2010

sária, ela exprime uma nostalgia, ela lembra a fundação. Mas, porque tem

Núcleo UHUU

de vislumbrar a beleza de uma diversidade de formas,

20



Muitos dos integrantes que passaram pelo Núcleo tinham

ser mais ampla. Vejamos o caso do UHUU.

fundamental a interdisciplinaridade, esta razão pode

grupo de performance, que tem como característica

de rock se dá na identificação pela música. Em um

o mote responsável pela constituição de uma banda

zão pela qual aquele grupo se reuniu. Dessa forma,

integrantes se identificam, normalmente, com a ra-

segue sempre uma sistemática particular. Os futuros

O processo de formação de um grupo voluntário

Em um trabalho em grupo, o processo que segue da criação até a

ser mostrado.

lhe aflige particularmente e que poderá ser de interesse alheio ao

Assim, o performer que trabalha sozinho leva em conta aquilo que

o pensamento do próprio artista acerca de sua conceitualização.

alemão, motivo condutor - particular que é levada ao público após

geral, uma performance individual surge a partir do leitmotive - do

sua própria metodologia, mesmo que não a respeite sempre. Em

a elaboração de uma performance, cada artista desenvolve e segue

Não podemos considerar a existência de uma receita modelo para

performáticas ao lado de outros artistas-pesquisadores.

em grupo. Isso nos permite uma reflexão sobre a criação de ações

nome” do performer - notoriamente individual - com o trabalho

quais participamos é como conciliar o conceito de “falar em próprio

A questão que costuma ser levantada nos encontros e eventos dos

anseios particulares.

por apresentarem o artista sem a máscara da dramaticidade e seus

na maioria das vezes, as performances tornam-se ações individuais

elementos cênicos suas impressões sobre determinado assunto. Assim,

é o artista como instrumento de sua obra, que expressa por meio de

Entretanto, outra forte característica da pesquisa em performance

mance autorizava este intercâmbio entre todos os segmentos da arte.

corpo, enquanto outros faziam suas experiências em vídeo. A perfor-

as ações; alguns membros direcionavam sua pesquisa para as artes do

pinturas corporais; os músicos realizavam estudos em trilhas sonoras para

e respeitaram nossa individualidade. Em cada obra,

produzidas coletivamente tiveram resultados notórios

rativo é evidentemente possível e muito rico. As obras

UHUU, pude constatar que o processo criativo colabo-

Durante os quatro anos de pesquisa dentro do Núcleo

grupo naquele momento.

Transportamos para o surreal aquilo que afligia o

mais significativos de minha carreira como artista.

uma semana de trabalho intenso, um dos trabalhos

e o encenador Márcio Pimentel. Criamos juntos, em

no Favacho, Fernanda Vasconcelos, Sarah Carvalho

Éramos sete: eu, Thaís Luquesi, Camila Vieira, Emilia-

por conta da mudança.

tema em um cômodo diferente de minha casa, vazia

cada performer desenvolveu sua ação relacionada ao

pesquisa teórico-prática. Estabelecido o leitmotive,

nos apresentaríamos depois de quase dois anos de

era o “nascimento”. Aquela seria a primeira vez que

cleo em 2008, o tema escolhido e comum a todos

No Casca, primeiro espetáculo apresentado pelo Nú-

mas entremeadas pelo tema refletido.

ações independentes a partir de suas referências,

compartilhar do mesmo leitmotive, construindo

que dividirão a mesma cena. Assim, todos poderão

refletir em um tema representativo para os demais

apenas um integrante do grupo, este impulso deverá

O trabalho performático em grupo. Como ele é possível?

interesses e linhas de pesquisa diferentes no campo das

apresentação de um espetáculo torna-se um pouco mais tortuoso.

a favor da mistura.” Maria Beatriz de Medeiros em seu livro Aisthesis

especificidade, e aceita a promiscuidade. Promíscuo:

seio de um grupo, onde cada individualidade traz sua

interdisciplinar. Sendo assim, ela só pode ocorrer no

complexidade técnica) é trabalho pluridisciplinar,

“Quase toda obra (fisicamente grande ou grande em

Felipe Ohno

artes, contribuíram então com habilidades específicas e

Foto: Arquivo pessoal

havia impregnado um signo de cada artista.

Revista APART Dezembro 2010

Se o impulso que levará à geração de uma performance surge de

Núcleo UHUU

singulares. Os artistas plásticos eram responsáveis pelas

22



a partir de sua Dança Kleinesca

Devaneios de um jovem psicólogo, performer e palhaço

Existirmos: a que será que se destina? sensações em quem estivesse presente. Para nos ajudar, convidamos

de por mito pessoal e poder de contágio - e emaná-lo, despertando

Queríamos encontrar o divino em nós - algo próximo do que se enten-

ativa e passiva - de cada um, fazendo-as interagir na performance.

Despertamos também as energias masculina e feminina - yin e yang,

nada mais é do que o encontro entre a realidade interna

repetição e outra, quando se apreende a realidade. Esta

da repetição, está na brecha, no curto intervalo entre uma

sozinhos avançamos para o futuro. Tal criação, ao contrário

estamos presentes, pois paramos sozinhos no passado ou

um encontro com a criação ocorre à nossa revelia e não

Enquanto estamos afundados nesse conflito interno,

sempre mutável, sempre em fluxo, sempre criativo.

despertar o mundo para o extracotidiano, para o divino

trabalho, criar poder de contágio e sentido. Acordar e

e posicionar meu corpo no presente, para fortalecer o

repetir-se. Tenho trabalhado para focar minha mente

o artista não pode ser hermético, fazer algo só para si,

e libertadora, servir a todo e qualquer propósito, mas

transmitir apenas isso ou aquilo. Ela deve ser libertária

Não creio em arte pura, com propósito único, que visa

car, alterar as pessoas e, consequentemente, o mundo.

Por isso, acredito que a obra deve afetar, intervir, provo-

mentar o campo dos devires e o pulsar das potências.

que a realidade do encontro é vislumbrada, de experi-

-espaço (quântico) presente. De criar um momento em

repetição e criar a oportunidade de vivência do tempo-

brecha. Penetrá-la é a chance de sair do círculo vicioso da

Assim, Dança Kleinesca é uma chave, uma busca pela

compartilhamento acontece.

do sujeito e a realidade externa, o mundo. É quando o

João Alexandre e Gutão - GTO, músicos e amigos muito queridos, que

Emiliano Favacho

o foco no momento presente, no fluxo do tempo e nos fenômenos

imenso trabalho e dedicação contínua. Trabalho que começa com

Por que digo isso? Pois, desenvolver uma intenção forte, demanda

meio de deuses diversos, mas o que vale é a intenção de alcançá-la.

que o guia. Muitas religiões, por exemplo, buscam a mesma paz por

isso, pouco importa a forma do ritual, o mais relevante é a intenção

mas é o que muitos rituais, de uma forma ou de outra, buscam. Por

sutil e uma expressão não são tarefas fáceis de conseguir e conciliar,

Perceber o ambiente em sua totalidade, desenvolver uma percepção

servação superficial não é suficiente. Assim também acontece na arte.

desperta no observador e, por fim, expressar essa afetação, uma ob-

e já a desejamos. Mas, para apreender a proposta, o sentimento que

tdoor de um produto, arrastamos brevemente os olhos pela imagem

algumas análises antes despercebidas. Por exemplo, ao vermos o ou-

Depois da Dança Kleinesca e de outras experiências, consigo fazer

Insights

tocaram didjeridoo durante as duas horas de ação.

A ação Em novembro de 2008, Marília Marton e eu realizamos a performance Dança Kleinesca no campus da UNESP na cidade de Bauru. Estávamos muito interessados em pesquisar vida e obra de Yves Klein, meditação ruming e mito pessoal. O trabalho misturava ritual, dança, música, meditação e tinta, muita tinta azul. Fomos guiados pelo desejo de atingir por meio da dança um estado de consciência extracotidiano e meditativo. Queríamos a expressão de algo maior do que já havíamos vivenciado, até então, na moldura de nosso corpo. Livre de preocupação com formas ou coreografias, a dança nos possibilitou sentir o ambiente à nossa volta com intensidade e amplitude extraordinárias para, então registrarmos, com tinta azul, nosso estado de consciência em uma tela de 4 x 2m. Usufruímos do corpo como instrumento de pintura.

ocorridos aqui e agora. Ao longo de nossa existência, repetimos padrões de comportamento

Foto: Marília Cavalheiro

e nos desesperamos na tentativa de convencer o mundo e nós mesmos do que somos e do que queremos. A maior parte do tempo que temos, gastamos nesse desgastante conflito interno para mostrar a

Revista APART Dezembro 2010

veracidade das características do Eu.

Núcleo UHUU

24







pós-drama

Sexualidade e fetiche no teatro pós-dramático Texto_Gerrah Tenfuss Ilustração_Letícia Missurini

30

Sexualidade e fetiche no teatro pós-dramático Revista APART Dezembro 2010

“Todos os grandes atores são mulheres. Pela consciência aguda que têm de seu corpo interno. Porque sabem que seu sexo está dentro. Todos os atores sabem disso. E querem impedi-los disso. De serem mulheres e de vaginarem. Querem que indiquem, mostrem uma coisa depois da outra, fálus com sentido.” Valère Novarina


Temas oceânicos, o sexo, a sexualidade e seus

batizou de teatro pós-dramático2. Nesse momen-

múltiplos desdobramentos no teatro sempre fo-

to, instala-se o que a filósofa Butler chamou de

ram aspectos intrínsecos a esta forma de arte, vis-

confusão de gêneros. Estes se apresentam não

to que toda criação – no sentido mais objetivo da

naturais, mas sim artificiais, virtuais, configura-

palavra - tem origem sexual. Desde os antigos cul-

dos. Expressar é construir; os atores/performa-

tos gregos a Dionísio, e antes até, no teatro místi-

dores começam por meio de seus atos perfor-

co e iniciático realizado em pirâmides egípcias, no

máticos e artísticos a gerar seu papel sexual, sua

teatro ritualístico pré-colombiano realizado pelos

identificação (sexual) é derivada de atos repeti-

astecas, toltecas, etc, as questões que tangem o

tivos na performance. O sexo então transforma-

sexo foram exploradas e discutidas. O teatro litúr-

-se em eixo temático e critica as normas sexuais

gico, como seu próprio nome indicia, centrava-se

vigentes por meio dos desvios e delírios. O jogo

no trabalho sobre a pedra (litus e urgia). A hu-

teatral se translada para o jogo com os gêneros.

manidade bíblica aponta o sexo como rocha de

Sobre os atores/performadores pós-dramáticos

escândalo e pedra de tropeço, diante do mesmo

Lehmann indica:

existe a possibilidade de duas veredas: vergonha ou dissímulo. Lembremos que, ainda pelo viés genésico, quando Adão e Eva (Adan=nada, Eva=ave) foram expulsos de sua condição conscientiva paradisíaca cubriram com uma folha de parreira seus sexos, que passaram a ser suas vergonhas. Após um salto quântico, nos encontramos no ano de 1962, mais precisamente entre as 14 e 15 horas do dia 4 de Fevereiro, momento no qual se inicia astrologicamente a Era de Aquário. A partir de então, de forma mais intensa iniciou-se um desejo de liberdade que foi reverberado nas questões sexuais. As artes, entre elas o teatro, sentiram o poder desta nova onda dionisíaca e o olhar sobre o sexo neste momento privilegiava os corpos nus como símbolos de libertação, transgressão e arma de expansão do horizonte de moralidade vigente neste momento: estamos de maneira geral inseridos num tempo moderno e num teatro dramático1. Neste momento, o corpo é o eixo central de exposição da sexualidade – não que ele deixe sig-

feminilidade. Ele é um homem que sabe que é uma mulher, mas não quer ser mulher, logo pega seu feminino e transforma em fetiche de sua arte.” Os fetiches, ou seja os objetos que adquirem um poder persuasivo, ou caráter divino povoam o imaginário do novo teatro. O artista passa a colocar, como ato político sua própria identidade em jogo para se aproximar da loucura. O sadomasoquismo se impõe por seu caráter encenado de alta teatralidade - vide escritos psicanalíticos de Theodor Reik, as pesquisas corpóreas baseadas nos textos de Sade realizadas por Hijikata. A natureza ambígua e libidinosa dos atores passa a ser articulada e esteticizada num panorama fragmentado e flutuante. Além destes elementos, questões relacionadas a moda, a cultura das celebridades, as mídias digitais, robótica e nanotecnologia passam a hibridizar-se ao sexo; porém, esses aspectos necessitam de mais tempo-espaço.

analisar a seguir a perspectiva é outra.

ticalidade seria impossível. Apenas buscamos le-

nidade se impõe e começa a delinear-se o que o teórico alemão Hans-Thies Lehmann

Revista APART Dezembro 2010

“O artista tem um acesso particular à sua própria

nificar no teatro pós-dramático, mas como iremos

Com o fim das utopias aquarianas, a pós-moder-

31

Sexualidade e fetiche no teatro pós-dramático

Pretender concluir um tema desta ver-

vantar um breve teia de imagens que pode iluminar as inquietudes e ânsias de entendimento de um tema tão pertinente e multifacetado dentro do panorama atual.

1 Hans-Thies Lehmann, autor do livro Teatro Pós Dramático nos elucida que a divisão dramático e pós-dramático não é estática nem categórica, e sim indicial e permissiva. Devemos nos lembrar que o teatro é uma arte impura, e que elementos de um e outro por vezes se confluem.

2 O termo pós-dramático, como sua grafia indica, não assinala o fim do drama, mesmo porque o admite como núcleo central do próprio termo. Tenta abarcar as diferentes manifestações teatrais realizadas a partir dos anos 80, principalmente, nos EUA e Europa.


canal contemporâneo

A Performance e as Redes Sociais 32

A Performance e as Redes Sociais Revista APART Dezembro 2010

Texto e foto_Felipe Ohno

Os performers, desde seus primórdios, aproveitam-se de todas as plataformas existentes para sustentar sua vocação contemporânea. Hoje, as redes sociais já estabelecidas ou criadas pelos próprios artistas são os canais mais eficientes para difundir uma proposta, angariar boas ideias e ganhar novos colaboradores. Confira abaixo dois projetos que aproveitaram a internet para realizar suas ações.

Azulejos de papel

de amigos, muros e locais abandonados. Mas todo

Recebi, em um festival, pelas mãos de um amigo, um

distribuem envelopes, contendo “azulejos”, para

envelope com as seguintes instruções: 1. Instale onde

que outras pessoas possam instalar onde quiserem.

quiser/ 2. Fotografe/ 3. Envie as imagens, nome do

Depois, é só enviar para o e-mail do Poro, visitar

bairro e cidade onde a instalação foi feita. Assim, fiz.

o site, esperar que seu azulejo apareça e também

mundo pode brincar de pedreiro. Os dois também

acompanhar as instalações dos outros.

Azulejos de Papel é um projeto realizado pelo Poro – intervenções urbanas e ações efêmeras, formado por Marcelo Terça-Nada! e Brígida Campbell. Eles criaram uma série de imagens de azulejos impressas em papel jornal 15 x 15cm, que são colados pela dupla em casas

Parede com “azulejos de papel” instalados

Os azulejos de papel já compõem paredes de muitas cidades do Brasil e do mundo. É uma ótima forma de integrar e promover uma ação coletiva em diversos lugares e circunstâncias do mundo. Acesse: poro.redezero.org/azulejos


One day on Earth Se você tivesse apenas um dia para documentar o

espalhados pelos quatro ventos do planeta parti-

mundo, que história você contaria?

ciparam da abertura do festival via internet. Esse momento inspirou Kyle a transportá-lo para o universo do cinema.

Essa foi a pergunta realizada pelo projeto One day on Earth a milhares de participantes ao redor do mundo. Imagine um casamento na Índia, simultâneo ao jogo Palmeiras e Corinthians no Brasil e no mesmo dia de uma erupção vulcânica na Islândia. Essas poderiam ser as cenas do primeiro filme de

Impulsionado pelo interesse das Nações Unidas, One day on Earth ganhou uma plataforma de rede social que funciona como um ambiente para o compartilhamento de arquivos e vídeos entre os participantes.

Revista APART Dezembro 2010

One Day on Earth e, o melhor, você poderia fazer

Segundo Kyle, o projeto cresceu muito nos últimos

parte dele.

dois anos e ganhou a colaboração de muitos profis-

A proposta do projeto era reunir vídeos documentados nas 24 horas no dia 10 de outubro deste ano e, quem tivesse uma câmera em mãos, estaria apto a participar do evento. Além de um documentário, One day on Earth é um projeto multiplataforma colaborativo. Seu objetivo é captar a diversidade da cultura e da vida, os conflitos, as tragédias e os triunfos no planeta.

33

A Performance e as Redes Sociais

sionais. “Juntos, estamos criando o primeiro filme verdadeiramente mundial, onde cada colaborador pode ser reconhecido publicamente em um fórum aberto. Todos estão convidados a participar. Quanto maior a qualidade e o número de participantes, maior o impacto na sociedade”, afirma. O primeiro filme terá 2 horas de duração e será apresentado nos cinemas. Agora, resta-nos aguardar até a edição dos milhares de vídeos enviados.

Kyle Ruddick, fundador do projeto, disse que a ideia de uma performance colaborativa surgiu

Acesse: ondayonearth.org

pela primeira vez no Festival Mundial de Música

Trailer original: vimeo.com/15383279 (What is One

Sacra em 2008. Na ocasião, milhares de músicos

Day on Earth?)

Imagem: Divulgação/ONE





ensaios

Fly fez parte do show Primavera da contracultura e foi elaborada a partir da ideia central desse movimento, a liberdade. A ação trabalhava com elementos de interação, acaso, dança, movimentos aéreos e criatura. As projeções ao vivo e o discurso visual da artista Lu Capossi também sustentavam a performance. Aprecie este ensaio e sinta a identificação com sua própria vida. Fer Vasconcelos, a performer

Ação_Fly Ensaio_Márcia F. Vasconcelos




ensaios

Sou insalubre por tentar mostrar o quão nocivas são as pessoas a si mesmas. Por isso, pago antecipadamente um adicional de insalubridade artística. A atividade laboral (moral ou social) do artista, agente nocivo da sociedade, é algo doentio, que pode causar doenças ao trabalhador/interator. David Calleja, o performer

Ação_Adicional de Insalubridade Ensaio_Felipe Ohno





agenda

Nohista, arte visual de Bruno Robeiro/Live Cinema 2010 Foto: Divulgação

III MOSTRA LIVE CINEMA Live cinema é a execução ao vivo e simultânea de sons

FESTIVAL DE ARTE CONTEMPORÂNEA Inscrições Abertas

e imagens por artistas visuais em suas obras. A mostra

O 17º Festival Internacional de Arte Contemporâ-

é uma exposição de trabalhos de live cinema, live ima-

nea SESC - Videobrasil está com inscrições abertas

ges e performances audiovisuais. Sua terceira edição

para obras de diversas naturezas: vídeos, instala-

contará com 16 trabalhos nacionais e internacionais.

ções, performances, objetos impressos e outras

44 Calendário

Onde: Tetro do Oi Futuro em Ipanema na cidade do Rio

Revista APART Dezembro 2010

Acesse: livecinema.com.br

Quando: 2 a 5 de dezembro de 2010.

SEMANA DE ARTES DO CORPO

experiências artísticas. O festival acontece em setembro de 2011. As obras selecionadas concorrem a um prêmio em dinheiro e a oito prêmios de residência artística. Quando: Inscrições até 10 de março de 2011 Onde: O candidato deve preencher o formulário no

Organizada pelos próprios alunos do curso de artes

site e enviar para a Associação Cultural Videobrasil:

do corpo da PUC-São Paulo, a Semana é o ambiente

Av. Imperatriz Leopoldina, 1150 - Vila Leopoldina, São

propício para quem quer assistir e discutir performance

Paulo - SP - Brasil, CEP 05305-002

e outras artes ligadas ao corpo. A Semana acontece no

Dúvidas: 17Festival@videobrasil.org.br

meio do ano letivo e conta também com a colaboração

Acesse: http://bit.ly/98p6ZE

de alunos e professores de outras instituições. Quando: Junho de 2011 Onde: Tuca Arena /PUC – na cidade de São Paulo Acesse: comunicacaoeartesdocorpo.net

MARINA ABRAMOVIC - BACK TO SIMPLICITY Exposição Além da exposição de registros em fotos e vídeos das performances realizadas pela artista a partir de

Calendário

1970, Marina apresentará trabalhos das séries The Kitchen (2009) e Back to Simplicity (2010). Abramovic nasceu na Iuguslávia em 1946 e tem contribuído de maneira fundamental para a consolidação da performance como forma de expressão artística. Quando: até 29 de janeiro de 2011 Semana Artes do Corpo 2008

Terça a sexta, 10 – 19h. Sábados, 11-17h Onde: Luciana Brito Galeria, Rua Gomes de Carvalho 842 - Vila Olímpia Acesse: lucianabritogaleria.com.br

Abramovic em Portrait with white lamb


livros

45

Estante

Almoço Nu (Naked Lunch)

Revista APART Dezembro 2010

Mad trip cronologicamente irregular e turbilhada de imagens e situações inesperadas. Nesta obra enigmática, Burroughs transporta o leitor, de uma caverna urbana infestada de viciados, para o seio de uma floresta e a insensatez de uma sobreposição de metrópoles. Uma narrativa ficcionalexperimentalista, fragmentada e surreal.

Performance como linguagem

Monstrutivismo: Reta e curvas das vanguardas É o resultado de uma pesquisa intensa das vanguardas européias e seus prolongamentos na arte brasileira. Lucio Agra leva o leitor a visitar Kurt Schwitters, Nosferato, Zé do Caixão,

É uma leitura obrigatória para os iniciados nesta arte. Renato

Hélio Oiticica, entre muitos outros nomes. Uma aglutinação de

Cohen investiga as características dessa manifestação, con-

referências não preocupada com a ordem temporal das apari-

fronta suas especificidades com as artes cênicas e discute os

ções destes monstros, mas por suas sintonias de transgressão.

problemas de criação e encenação. Joseph Beyus, Laurie Anderson e o grupo Fluxus ajudam o autor a analisar as inúmeras

Aisthesis

vertentes da nova linguagem, do ritual à arte conceitual. Um

O livro procura entender a arte – subjetiva e sentida - além

collage de ícones, propostas e influências.

de seu conceito. Bia Medeiros não dá respostas, mas propõe uma surpreendente reflexão com pensamentos e experiências particulares. Faz uma viagem pelos nossos sentidos e por aquilo

Estante

que intriga e traz controvérsias, a arte.


artigos

Corpos heterotopos

ação, projeção, ocupação O presente texto apresenta reflexões sobre as produções artísticas Alice, Hapt, Paragem, desenvolvidas no projeto Corpos Heterotopos: ação, projeção, ocupação, concebido pelo Grupo de Pesquisa de Performance de Porto Alegre/RS, GEPERFORMANCEPOA. Texto e imagem_Niura Borges Texto_Patricia Soso Texto_Rosemary Brum


Corpos heterotopos: ação, projeção, ocupação nasceu de um intenso processo de pesquisa e criação do coletivo no ano de 2009, configurando-se em uma série de proposições artísticas que alcançam situações performáticas distintas e conceitos operatórios aproximativos. As produções, aqui analisadas, exploram situações dos corpos em performance entre espaço físico e virtual, em presença e não presença, proximidades e distanciamentos, manifestos em experiência heterotópica (o termo é utilizado a partir da acepção de Michel Foucault: a heterotopia como uma organização espacial com certa propriedade de estar em relação com todas as outras organizações espaciais e com uma certa sinergia capaz de produzir um campo espacial nômade). O projeto foi concebido inicialmente para ocupação do espaço de exposição do Museu de Arte Contemporânea de Jataí/GO, Brasil, no Programa de Exposições do edital 2009, sob a curadoria do Prof. Dr. Marcia Pizarro, com o tema “Como você ocuparia/desocuparia este lugar? – ou ainda “Qualquer um poderia ter nascido Sophie Calle...”

Niura), com a câmera de vídeo acoplada, caminha sobre folhas secas com estalar quebradiço. Em seguida, outro corpo (performer Patricia), parado no meio de pequenas gramíneas verdes, está à sua espera. Neste momento, em busca do encontro com o inesperado, com o acaso, inicia-se o jogo entre os dois corpos e

Corpos heterotopos

gravando toda a ação em plano de filmagem de

Revista APART Dezembro 2010

ação contínua, plano-sequência. Ora se detém sobre as atuações da performer Patricia, ora experimenta seus atos na imagem-vídeo. Em atuações conjuntas, os dois corpos desvendam os espaços. Na segunda performance, Hapt, o corpo é tomado como medida das coisas. Um corpo (performer Patricia) adere à parede externa da casa Museu de Porto Alegre - originalmente, residência da família Lopo Gonçalves construída em meados do século

Nas discussões acerca do tema ocupação, a distância

XIX - e a percorre deslizando, contornando toda sua

geográfica entre espaços territoriais, Porto Alegre/

extensão. A ação é simultaneamente acompanhada

RS e Jataí/GO, tornou-se elemento de destaque e

por um outro corpo (videoperformer Niura) que

motivador, provocando a pesquisa e criação artística

registra as ações, conjugando e alternando planos

em torno de dispositivos e formatos de ocupação

de câmera, angulações e enquadramentos.

que pudessem ultrapassar a experiência do corpo em performance em território localizado.

47

dois espaços. A videoperformer Niura acompanha

Em Paragem, a atuação do corpo em exercício de “paragem” no torreão do Museu de Porto Alegre pode

O projeto expandiu-se, atravessou as paredes fe-

ser fruído simultaneamente em espaços públicos e

chadas do Museu e alcançou formas de ocupação

privados. O evento foi divulgado com dia e hora do

extramuros, atingindo espaços urbanos, públicos

acontecimento, a ser acessado pelo site www.niurabor-

e privados, vindo constituir-se em ações nas quais

ges.com.br, através de link aberto, por trinta minutos,

corpos e espaços atingem dimensões físicas e virtuais,

pela empresa Pública de Processamento de Dados de

com atuações simultâneas, em ações realizadas em

Porto Alegre/RS - PROCEMPA. O sistema telemático

Porto Alegre, no Museu Joaquim José Felizardo, no

possibilitou a toda e qualquer pessoa, de qualquer parte

Museu de Porto Alegre, no Museu de Arte Contem-

do mundo, situada em local distante, acompanhar “ao

porânea de Jataí, e em espaço urbano e privado.

vivo” a atuação da performer Patricia em Paragem.

Em Alice, dois corpos lançam-se na aventura da des-

Alice, Hapt e Paragem instituem o desenvolvimento da

coberta do espaço em performances interligados ao

ação performática em dois domínios simultaneamente,

vídeo. A ação inicia quando um corpo (videoperformer

o espaço-tempo real e espaço virtual da tecnologia.


outro à percepção, aproximando a visão do tato. Como considera Hubermann, constitui-se do derrame pulsional, no qual dos abismos do olhar se passa ao ser do corpo. O sentido tátil do olhar, sua dimensão háptica, fazenEm Alice e Hapt os corpos-vídeo existindo em presençatele atingiram o processo de ocupação por suas virtua-

48

Corpor heteretopos Revista APART Dezembro 2010

do grudar o visível na dimensão da carne, do sensível, presentificando o delírio da pele na imagem.

lidades - o acontecer aqui e o acontecer acolá, com as

Se a percepção tem a função de “trazer o mundo aqui”,

gravações projetadas no Museu de Arte Contemporânea

ou seja, dar existência à coisa, a tecnologia vídeo, ima-

de Jataí. O dar-se a ver no exercício de performance em

gem-tempo-movimento, intensifica esta função. O

tempo diferido, em presença-tele projetada e atualizada.

espaço virtual da tecnologia abre formas de presenti-

Com modo singular de telepresença, - aquele em que a fruição da imagem pelo espectador ocorre

ficação para o corpo. “Os sistemas de realidade virtual transmitem mais que imagens: uma quase-presença.”

simultaneamente ao exercício do aqui-agora da per-

Os corpos tangíveis desdobram-se “estamos, ao mesmo

formance, Paragem abriu a relação entre o espectador

tempo, aqui e lá” - Pierre Lévy. O que nos faz refletir

e a performance na dimensão específica da tempora-

sobre as interdependências, intercruzamentos da

lidade - inaugurando atos em estado “paragem” do

tecnologia-corpo, e vice-versa, e, aqui, sobre os limites

espectador e do performer. Relação aproximativa,

que constituem a espacialidade. “Nós não podemos

em ato de parada, entre olhante e olhado.

mais confinar a corporificação ao corpo, não podemos

O momento de atuação da performer na resistência ao movimento do corpo, unindo a “paragem” do espectador, pelo momento do ver, o corte no

mais contê-la dentro da pele orgânica, porque as técnicas contemporâneas facilitam a dissolução da distinção mundo-corpo (uma não divisão)…” - Mark Hansen.

fluxo temporal, a inversão dos ritmos corporais

Se “presença”, nos remete ao conceito do “estar jun-

preestabelecidos, abrindo a porta da sensibilidade

tos” em proximidade, em tempo e espaço simultâneo,

a percepção, com gesto, pensamento e sentimento.

lançamos o corpo sobre espaços abrindo a presença

Pensando como Deleuze , a imagem-movimento, vídeo, com a qualidade de imagem-tempo, nos permite retirar a imagem da planitude que a trata como representação, como duplo, imagem especular.

multiplicada, aqui e lá simultaneamente, em deslizamento contínuo, no vaivém, para dentro e para fora e vice-versa, inventando e reinvintando um outro modo de experienciar o corpo em performance. “Redimensionando a interatividade dos corpos, misturando uni-

A imagem-vídeo oferece o tempo e abre qualidades à

presença física e pluri-presença”, conforme Weissberg

experiência performática, uma possibilidade da vivência

em seu livro Présences à distance.

em um mundo singular, não o duplo do mundo real, mas um mundo em que o corpo se expande, se ramifica, se faz presente por ações e projeções. “As imagens - as coisas visuais - são sempre já lugares: elas só aparecem como paradoxos em atos nos quais as coordenadas espaciais se rompem, se abrem a nós e acabam por se abrir em nós e com isso nos incorporar” - Didi Humberman. A imagem-tempo, pelo movimento, abre um sentido

Atingimos formas de presença em que o corpo se desgarra de sua fisicalidade e voa para além de uma extensão dada. Presença força, presença projetada, presença encarnada, desdobrando-se aqui e lá, visível, sensível e tangível, habitando interior e exterior, dentro e fora, manifestando-se na experiência em sua dimensão heterotópica. Corpos e espaços atravessados pelos investimentos afetivos e emocionais do coletivo.


artigos

Tambor Tambor trata da questão das africanidades, enfocando a vinda do trabalho escravo ao Brasil e sua busca pela liberdade. Tambor é uma dance-performance que encerra um desafio: como três mulheres brasileiras e brancas, descendentes de europeus, poderiam tratar desta questão. O músico convidado foi Paulo Romeu.

A performance Tambor começa com o soar do djambê e, aos poucos, surgem as três performers vindas de pontos distintos. O público é convocado a criar o espaço da ação, sendo imediatamente envolvido nela. O pesado saco de areia que carregamos cria trajetórias aleatórias em torno do público que, em pé, assiste à ação. O conceito de uma psicogeografia afetiva se estabelece. Forma-se um círculo em torno das performers e do músico. A intensidade emocional acelera-se à medida que a ação provocada é instalada no público. Fazemos agir um conceito quando produzimos esse estado de ética no qual as artistas testemunham como arquivos vivos, o processo, a ação e seus efeitos. Há zonas de desconforto e de tensão, há espessamento no presente. Quer-se fugir ao drama, mas, ao mesmo tempo, a atenção é toda solicitada na agoridade. Há um estado de plena atenção e flutuação. Areia, aqui, sugere os oceanos e os caminhos da África, as trilhas de mercadores e de mercadorias até o Brasil. Areia/ cotidiano; areia/alimento. A areia que é símbolo, a areia que foi trazida nos porões dos navios negreiros, a areia que vem junto com mar que nos separa e que nos une. A areia como símbolo de passagem de tempo, de escoamento de tempo. A areia carregada pelos ombros e lombos de homens-mulas. A areia começa a deixar um rastro, os sacos se esvaziam. Descrevemos uma trajetória no chão, seja no piso de mármore do Memorial do

Texto_Fernanda Stein _Niura Borges _Patricia Soso _Rosemary Brum Ilustração_Letícia Missurini


RS, seja no calçamento irregular do Odomodê, causando sacrifício ao tato. A cartografia experimental realiza corpos alargados, em conexão com a plateia. O espaço visto criticamente finca a escravidão na formação do povo brasileiro; é o nosso embodied transportado. Corpos em transporte, jornadas afetivas que engendraram historicamente esse mapa cultural, questionado hoje. Nicolas Bourriaud (2010), para além de sua Estética Relacional (1998), fala-nos de uma altermodern - quando alter, que significa o outro, evoca, igualmente, a multitude. Seria a atitude política na qual a alter-globalização é uma constelação de lutas locais que visam combater a homogeneidade mundial e cultural. Na cena, a batida do tambor aumenta em ritmo e as performers formam um círculo em torno do homem-tambor, que funciona como catalisador magnético, constituindo uma espécie de sistema solar. Com a exaustão, as performers pausam. Importante aqui é o som do djambé a comandar a ação. Como um lugar da palavra, do lamento. Lentamente, a batida do tambor recomeça, o espaço já é outro, está reconfigurado pelos desenhos deixados pela areia. Uma nova geografia se estabeleceu. O som não está mais no seu lugar de origem. É o estrangeiro. Inicia-se, então, o carregamento de corpos. O corpo da performer, ao ser carregado com violência de um lado a outro do espaço, perde sua característica humana, simbolizando o homem que oprimiu, desbravou, colonizou e impôs a sua vontade em detrimento de quaisquer outras. O corpo carregado simboliza o homem-mercadoria, o homem negro que foi visto como mão de obra para construir um mundo pensado pelo branco. O homem que era visto somente como mãos e pés, um elemento desconectado de vontade, sem identidade, servindo ao homem-conquistador. Quando o ritmo do tambor cresce em intensidade e provoca no corpo carregado uma mudança de atitude, acreditamos estar diante de um movimento emancipador. A performer começa a reagir e, de “mercadoria” passiva, passa a


rebelar-se contra esta condição, criando uma atmos-

que o local de apresentação requereu rearranjos

fera vibrante na qual caça e caçadores se misturam

cenográficos. A intensa emoção que o trabalho

neste universo criado pela areia e pelo som inebriante.

convoca, da parte das performers e do público,

Premeditamos que estes elementos - movimento, corrida, som, corpos no espaço, música cada vez mais intensa - conduzam à sensibilidade, na qual a

potencializa o espaço urbano-social. A recuperação da ação convoca o outro à presença, estabelecendo experiência compartilhada.

ação atinge o seu ápice, quando o corpo perseguido

Indicamos o “novo efêmero que quer ser memória” -

escapa e busca sua liberdade em um novo local, fora

abrindo a discussão sobre o registro da performance

deste território previamente criado.

e sua validade enquanto arte do efêmero.

Abre-se uma brecha para o novo, o inusitado, a

Trata-se da busca de ferramentas para os nosso

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pausa. Não há mais som, movimento, caçada. As três

conceitos artísticos diante de uma lógica criativa

Revista APART Dezembro 2010

performers abrem-se para o momento presente. O

(construção e desconstrução) para a performance.

final permite ao público penetrar nesta suspensão

Não se pretende que essas imagens sejam já operado-

da ação, não se pré-determina o que vai acontecer.

ras – isto é, que relacionem entre o todo e as partes,

Em Tambor, discutimos desde outras perspectivas até as concepções de corpo/espaço/tempo/presença pesquisadas pelo coletivo. Também, geramos documentos no deslocamento hoptic to hapitc e vice-versa. Nas duas apresentações em lugares distintos, embaralhamos nossas próprias referências sensoriais em novas cartografias afetivas.

entre uma visibilidade e um poder de significação, entre expectativas e o que acontece para satisfazê-la, como um filme de Bresson (no sentido de Rancière). Apenas é um caminho onde as formas visíveis carregam um significado a ser construído ou subtraído em nossa pesquisa doravante. O movimento de câmera antecipa o espetáculo Tambor e nos revela outro diferente, que ainda temos que colocar como

Exploramos as percepções ambientais, o “dar a

imagens artísticas ou não, e mais ainda, enfrentar

ver” de Didi-Huberman, que nos ajuda a perceber

o regime de imagens e sua alteridade identitária.

a discussão sobre a aura benjaminiana e a imagem

Como nos diz Rancière (2007), “a imagem é tripla:

dialética, como toda visão efetua-se algures no

imagem, semelhança e hiper-semelhança.”

espaço tátil.

A performance Tambor nos coloca diante do con-

Se “dar a ver” é “inquietar o ver”, tivemos extremo

ceito de corpo-presença ao vivo, entre conceitos

cuidado para que Tambor mantivesse sua proposta

das artes visuais (corpo imaginarizado) e as artes

enquanto uma performance, não uma represen-

cênicas (corpo treinado). Para nós, esses registros

tação. Na sua carga histórica-social-política, os

nos auxiliam também no processo de pesquisa de

deslocamentos humanos apontados, tais como as

uma performance da memória das lacunas.

diásporas históricas e contemporâneas, interagem

Body, live e performance (ação) - ao vivo, traduzem

com a experiência de ação. Geramos, no Tambor,

os conceitos operacionais de um gênero, é uma ação

movimentos da emoção no terreno das novas sensi-

política e visa um destinatário. Enfim, Tambor fala

bilidades, que nos permite “navegar” pelos diversos

de um tema atual e discute trajetórias entre conti-

sentidos da função da pele, entre nós e o ambiente,

nentes, as imigrações e seus variados motivos, tendo

estendendo nossos corpos para sentir seu próprio

como ponto de partida a questão das africanidades

movimento no espaço. Tivemos a experiência direta

contida em cada cidadão brasileiro, sendo de origem

da reconfiguração do espaço de recepção, uma vez

africana ou não.

Tambor





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