FELLIPE DECRESCENZO
Imagem 01 - Foto de capa: MucugĂŞ vista do loteamento Alpina. Foto de acervo do autor. 2017
O CENTRO CULTURAL DE MUCUGÊ FELLIPE DECRESCENZO
SUMÁRIO
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AGRADECIMENTOS RESUMO ABSTRACT 1. CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA
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1.1 EXPLORAÇÃO PORTUGUESA
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1.2 SESMARIAS
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1.3 OURO E DIAMANTE - RIQUEZAS NACIONAIS
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1.4 CHAPADA DIAMANTINA E SUAS RIQUEZAS NATURAIS
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1.5 MUCUGÊ E SUA ORIGEM DIAMANTÍFERA
25
1.6 A FORMAÇÃO DA CIDADE E O SEU AUGE ECONÔMICO
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1.7 O DECLÍNIO DO GARIMPO E DA CIDADE
33
1.8 O AGRONEGÓCIO E A SEMPRE-VIVA
37
1.9 A NOVA CIDADE MONUMENTO DA BAHIA
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1.10 A VIRADA DE JOGO
43
1.11 PANORAMA ATUAL
53
1.12 POLO CULTURAL DA REGIÃO
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2. PROBLEMÁTICA
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2.1 BIBLIOTECA PÚBLICA
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2.2 ARQUIVO PÚBLICO
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2.3 EVENTOS
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2.4 CENTRO CULTURAL
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3. PROJETOS DE REFERÊNCIA
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3.1 PARQUE NATURAL DO FOGO
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3.2 TIRPITZ
79
3.3 YALUNTZANGPU RIVER BOAT TERMINAL
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4. O PROJETO
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4.1 ESTUDOS DE INSERÇÃO URBANÍSTICA E PAISAGÍSTICA
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DADOS GERAIS
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IMPLANTAÇÃO
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USO DO SOLO
99
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ALTURA DAS EDIFICAÇÕES
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EQUIPAMENTOS URBANOS
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ESPAÇOS PÚBLICOS E DE LAZER
107
SISTEMA VIÁRIO
109
RELEVO E MASSAS VEGETAIS
111
PONTOS VISUAIS
115
EVENTOS E EDIFÍCIOS RELEVANTES
123
LEGISLAÇÕES PERTINENTES 4.2
127
CONDICIONANTES AMBIENTAIS 4.3
129
REFERENCIAL TEÓRICO 4.4
132
CONCEITO 4.5
137
PARTIDO 4.6
141
PROGRAMA 4.7
143
O CENTRO CULTURAL 4.8
153
O CENTRO CULTURAL DE MUCUGÊ
BIBLIOGRAFIA | ILUSTRAÇÕES E FOTOS
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BIBLIOGRAFIA
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ILUSTRAÇÕES E FOTOS
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Imagem 02 - CemitĂŠrio de Santa Isabel. Foto de acervo do autor.
AGRADECIMENTOS
Acredito cegamente que nós somos um restultado fiel das nossas experiências. Cada lugar que visitei, cada livro que li, cada conversa que tive e cada pessoa que cruzou o meu caminho, contríbuiram para me tornar a pessoa que sou hoje. Portanto, agradeço imensamente a cada um de vocês. Aos meus pais, Susane e Francisco, o agradecimento maior. À vocês devo tudo. Jamais poderei retribuir o esforço e o sacríficio que fazem constantemente em prol da minha felicidade e do meu desenvolvimento. Sem vocês, nada seria. Agradeço à Deus e à toda a minha família pelo apoio e pelo amor incondicional de sempre. Às minhas avós Angélica e Iracema, às minhas tias Sueli, Sinara, Janete, Joice e Giseli, ao meu tio e segundo pai, Ruy, às minhas primas Ticianne, Andressa, Ludy, Letícia, Analu, Larissa e Sabrina, à Zelinho, Iure, Iagno, Ralf, Fred e à todos os meus familiares que a cada recepção calorosa e a cada palavra de incentivo me ajudaram a superar a distância e as dificuldades de viver longe da família, agradeço imensamente. Aos meus amigos e irmãos, em especial à Israel e Matheus, e à todos os outros não citados mas não menos importantes, agradeço pelo companheirismo e pela parceria de vida. Aos meus amigos da Urban Recycle, pelo apoio constante e ensinamentos diários. Agradeço à todas as pessoas que tornaram este trabalho possível, em especial à minha orientadora, Ana Carolina, que, com seu jeito meigo e tranquilo de ser, me estruturou e direcionou da melhor maneira possível durante este trabalho, sempre me enchendo de conhecimento a cada dúvida tirada, à Sayonara Trindade, pela solicitude de sempre, à família Oliveira Nunes por todo o suporte dado durante o processo, e à Bia, Diego, Lucca, e Tarcísio pela indispensável ajuda. Não, eu não me esqueci de vocês. Por mais que a nossa vida dependa da maneira com que encaramos as situações, ela gosta de nos pregar muitas peças, daquelas difíceis e inimagináveis. Perder vocês durante esse processo foi perder parte de mim. Perdi os meus dois extremos. De um lado, o conforto e a sabedoria de quem já passou por quase tudo nessa vida, e que sabe a melhor maneira de agir em cada situação. Do outro lado, aquela inteligência e curiosidade que a faziam única, e aquela bondade extrema, que despertava-me uma vontade imensa de querer ser uma pessoa melhor a cada dia. O brilho do teu olhar, eu jamais esquecerei. O meu eterno agradecimento ao meu avô, Gilberto, e à minha prima, Amanda. Sei que na verdade vocês nunca se desgrudaram do meu lado, e nunca o farão. Muito obrigado por tudo! O CENTRO CULTURAL DE MUCUGÊ
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Trabalho apresentado junto ao curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Salvador, como requisito parcial para a obtenção de graduação do curso.
Fellipe Decrescenzo Andrade Amaral Autor Ana Carolina Lima Valverde Orientadora
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RESUMO
O enorme potencial das terras brasileiras fora logo percebido pelos portugueses quando de sua chegada, tanto que disputaram com afinco a sua posse desde os primeiros momentos. O território rico, de uma diversidade ambiental ímpar, foi palco de inúmeras disputas durante os primeiros séculos de sua existência. As riquezas brasileiras, ilimitadamente exploradas, enriqueceram diversos países durante séculos de exploração portuguesa. O dinheiro da extração de metais preciosos, como ouro e diamante, por exemplo, ajudaram a financiar a revolução industrial pela qual passava a Europa, principalmente Inglaterra. O retorno desse lucro sempre foi quase nulo para o país. Contudo, algumas heranças dessa época nos foram deixadas e, com muita luta, são preservadas como patrimônio histórico, arquitetônico e cultural do nosso país. Mucugê é um exemplo dessas heranças. Fruto da corrida desenfreada gerada pela extração de diamantes na região, a cidade, como bem definiu Teodoro Sampaio, é como um pouso de garimpeiro à beira das lavras. Mucugê está sutilmente encravada entre os vales montanhosos da Chapada Diamantina. Sua paisagem natural, aliada à intervenção humana expressa através do casario de estilo colonial português nos proporciona um cenário ímpar. Mucugê e região respiram cultura. Seja para conhecer suas belezas naturais, ou para conhecer os exemplares arquitetônicos dos séculos XVIII e XIX, a região vem se tornando cada vez mais um destino procurado pelos turistas, seja através do turismo ecológico, ou do turismo cultural. Devido a isso, a cidade tem se tornado palco de importantes eventos da região. É neste contexto que está inserido a proposta para O Centro Cultural de Mucugê. Pretendo com este projeto fornecer a estrutura necessária para continuar impulsionando a difusão cultural e o crescimento do turismo na região. Este trabalho é resultado de profunda pesquisa e vivência local, com um olhar bastante cuidadoso sobre o patrimônio e sobre a paisagem cultural do bem. Tive o cuidado em buscar, nas origens e no desenvolvimento da cidade, as diretrizes para o desenvolvimento do projeto, respeitando ao máximo a importância do patrimônio existente e causando o menor impacto possível.
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ABSTRACT
The enormous potential of Brazilian lands was soon noticed by the Portuguese upon their arrival, so much that they fought for its possession since the first moments. The rich territory, of a unique environmental diversity, was the scene of innumerable disputes during the first centuries of its existence. Brazil’s wealth, unlimitedly exploited, enriched several countries during centuries of Portuguese exploration. Extraction of precious metals, such as gold and diamonds, for example, helped to finance the industrial revolution that Europe was experiencing, notably England. The return of this profit has always been almost nil for the country. However, some legacies of that time were left to us and, with much struggle, some of them are preserved as historical, architectural and cultural heritage of our country. Mucugê is an example of these legacies. Fruit of the rampant race generated by the extraction of diamonds in the region, the city, as defined by Teodoro Sampaio, is like a gold miner’s landing on the edge of the minings. Mucugê is subtly embedded in Chapada Diamantina’s mountainous valleys. Its natural landscape, allied to the human intervention expressed through the Portuguese colonial-style house, gives us a unique setting. Mucugê and region breathe culture. Whether it is to know its natural beauties, or to get to know the architectural examples of the 18th and 19th centuries, the region has become a destination very sought by tourists, whether through eco-tourism or cultural tourism. Due to this, the city has become the stage of important events of the region. It is in this context that the proposal for The Mucugê’s Cultural Center is inserted. I intend with this project to provide the necessary structure to continue driving the cultural diffusion and tourism growth in the region. This work is the result of deep research and local experience, with a very careful look at the heritage and its cultural landscape. I was careful to seek, in the origins and development of the city, the guidelines for the development of the project, respecting the maximum the importance of the existing patrimony and causing the least possible impact.
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CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA O CENTRO CULTURAL DE MUCUGÊ
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1.1
EXPLORAÇÃO PORTUGUESA
Por mais rica que fossem as terras brasileiras, o entusiasmo da “descoberta” por parte dos portugueses não teve a mesma proporção da viagem de Vasco da Gama às Índias, terra rica em especiarias e artefatos de luxo. Até 1530, o Brasil serviu a Portugal apenas como abastecimento para os navios que seguiam para as Índias e era composto praticamente apenas por parte do seu litoral, que estava num processo gradativo de ocupação. Neste mesmo momento, outros países europeus começaram a expandir as suas fronteiras ultramarinas e passaram a questionar o Tratado de Tordesilhas, que dividia o mundo entre Portugueses e Espanhóis (BRAICK e MOTA, 2007). Numa tentativa de assegurar o domínio sobre o novo território, acabar com a concorrência e explorar a região, os portugueses deram início a expedições para a Colônia, que no fim foram incapazes de repelir as constantes ameaças (BANDEIRA, 1997). Com isso, em 1530, a Coroa decidiu a iniciar efetivamente a colonização enviando a expedição de Martim Afonso de Sousa com o objetivo de fundar vilas e fortificações para proteger e desenvolver a Colônia.
“O governo português não punha no negócio o seu capital, ao tempo escasso e comprometido em outras aventuras. Servia-se dos particulares - nobres e ricos, com suas clientelas e parentes sem cabedal acenando-lhe com a opulência e o lucro fácil, móveis de ação tipicamente capitalista”. FAORO, Raymundo. O CENTRO CULTURAL DE MUCUGÊ
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1.2
Imagem 03 - Mapa das capitanias hereditárias feito por Luís Teixeira. Fonte: https://www.scielo.br.
SESMARIAS
Em 1534, dois anos após a fundação do primeiro núcleo colonial (vila de São Vicente) a Coroa instituiu o sistema de capitanias hereditárias, buscando transferir para terceiros os custos com a colonização do Brasil. As terras foram divididas em lotes e concedidas através da Carta de Doação aos capitães donatários - gente da pequena nobreza ligada à Coroa que agora tinham a posse da terra, não podendo, entretanto, vender nem doar (direito exclusivo do Rei). Os capitães tinham o direito de fundar vilas e doar sesmarias (lotes de terra ainda não cultivados) (BRAICK e MOTA, 2007). Tomé de Souza, 1° Governador Geral do Brasil, ao desembarcar na Bahia, em 1549, trouxe ordens expressas do Rei D. João III para que se criassem expedições no intuito de explorar o interior das capitanias, principalmente em busca de minas de ouro, prata e outros materiais (BANDEIRA, 1997). Na segunda metade desse século houve a proliferação de sesmarias através do cultivo do solo e do pastoreio, e foram destes assentamentos que foram surgindo as primeiras fazendas no interior do país.
“Cada curral avançado no deserto é uma vendeta contra a selvageria. Cada sesmaria, um futuro campo de luta. Cada engenho, uma fortaleza improvisada”. VIANNA, Oliveira. O CENTRO CULTURAL DE MUCUGÊ
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1.3
OURO E DIAMANTE - RIQUEZAS NACIONAIS
Imagem 04 - Diamante bruto. Fonte: https://www.geologyforinvestors.com
“Vendiam-se por preços fabulosos os escravos africanos para as minas; desertavam soldados, fugiam negros e as próprias tripulações das naus que aportavam na Bahia, ouvindo as histórias do ouro, abandonavam-nas e enveredavam pelo
Na segunda metade do século seguinte, com o declínio do comércio de açúcar, a Coroa passou a estimular mais ainda a procura de metais e pedras preciosas através das entradas e bandeiras (BRAICK E MOTA, 2007). Essas expedições, apesar de terem a captura dos índios visando a utilização da sua mão de obra como seu objetivo principal, não esqueciam em nenhum momento dos metais preciosos. E foi na serra do Espinhaço, em 1695, que descobriu-se ouro na região do rio das Velhas e em 1696, deu-se início a ocupação do vale de Ouro Preto com a descoberta de novas jazidas (BANDEIRA, 1997). O ouro, incialmente encontrado nos leitos dos rios, também foi encontrado nas encostas das montanhas e no subsolo, onde a exploração era feita por meio de poços e galerias. Com a descoberta, milhares de aventureiros atraídos por riqueza fácil, vindos de Portugal e de outras regiões do país, se deslocaram para a região. Esse fluxo interno contínuo para as minas prejudicavam as lavouras de cana na Bahia, retirando-lhes a mão-de-obra escrava, ao mesmo tempo em que contribuíam com o florescimento dos povoados mineiros. Em 1729, nas lavras do Tijuco (atual Diamantina), deu-se o primeiro registro documental da descoberta de diamantes no Brasil (BANDEIRA, 1997). Até 1739, salvo o período de suspensão da mineração para evitar a queda nos preços, era possível a livre extração da pedra com o pagamento do quinto para a Coroa. Após esse período, a extração continuou sob contratos de monopólio até a Coroa assumir o monopólio direto em 1771.
sertão a dentro em busca da fortuna”. JÚNIOR, Augusto Lima. O CENTRO CULTURAL DE MUCUGÊ
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1.4 CHAPADA DIAMANTINA E SUAS RIQUEZAS NATURAIS
Imagem 05 - Mapa da cadeia do Espinhaço. Fonte: https://www.researchgate.net. Editado pelo autor. Imagem 06 (páginas 22 e 23) - Chapada Diamantina. Foto de acervo do autor. 2017
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A Chapada Diamantina, nada mais é do que um prolongamento na Bahia da cadeia do Espinhaço, onde se localiza quase integralmente a serra do Sincorá, sítio de imensa beleza paisagística onde se expõem amplas chapadas e vales profundos de encostas íngremes. A Chapada é o berço de metade dos rios que banham o estado da Bahia, tendo como principal o rio Paraguaçu, e é conhecida pela grande diversidade biológica e complexidade de ecossistemas. Com uma geomorfologia privilegiada, é repleta de cânions, montanhas, cachoeiras, cavernas e as chapadas, propriamente ditas. O primeiro registro documental de atividade aurífera na região data de 1718, em Rio de Contas, porém acredita-se que a Coroa já tinha conhecimento da ocorrência deste metal na região de Jacobina desde o início do século (BANDEIRA, 1997). Contudo, somente no século seguinte, mais precisamente a partir de 1844, que o diamante viverá seus tempos áureos na região.
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1.5
MUCUGÊ E SUA ORIGEM DIAMANTÍFERA
Imagem 07 - Mapa da região diamantina. Fonte: Chapada diamantina, história, riquezas e encantos. 1997. Editado pelo autor. Imagem 08 (páginas 26 e 27) - Rio Mucugê, afluente do rio Cumbuca, onde foram encontrados os primeiros diamantes da região. Foto de acervo do autor. 2017
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A Coroa portuguesa doou como sesmaria ao sargento-mor Francisco José da Rocha Medrado, um vasto território que compreende a região dos atuais municípios de Mucugê, Andaraí, Lençóis e Palmeiras, e que mais tarde passou a ser conhecido como Lavras Diamantinas (IPAC, 1980). Passando por este território, em 1821, os naturalistas alemães Johann Baptist von Spix e Carl Friedrich Philipp von Martius reconheceram os terrenos diamantíferos da serra do Sincorá como semelhantes aos do Arraial do Tijuco e levaram ao conhecimento do sargento-mor a possível existência destes materiais (SALES, 1994). Entretanto, só em 1844 as descobertas vieram à tona. José Pereira do Prado era morador da Fazenda Cascavel na região da Chapada Velha (atual Brotas de Macaúbas), onde já haviam descoberto os primeiros diamantes desde 1840. Em uma de suas viagens, José Pereira do Prado, que era conhecido como Cazuzinha do Prado, ao passar pelas margens do rio Cumbuca percebeu a semelhança entre o cascalho dali e o cascalho da região da Chapada Velha, onde já existia garimpo (SALES, 1994). Cazuzinha do Prado resolveu então fazer algumas experiências, colheu duas belas pedras de brilho inconfundível e descobriu, naquele dia 24 de junho de 1844, os primeiros diamantes daquela região. Cerca de um mês depois, Cazuzinha do Prado reuniu 14 homens de sua inteira confiança e partiu para uma nova expedição sigilosa que obteve bastante êxito. Contudo, um dos homens resolveu voltar à Chapada Velha para vender as pedras encontradas, foi preso sob acusação de ter assassinado algum pedrista nas estradas e teve que assim revelar o local onde aqueles diamantes foram lavrados (MEDRADO, 1998). 25
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1.6 A FORMAÇÃO DA CIDADE E O SEU AUGE ECONÔMICO
Imagem 09 - Casa de garimpeiros sob a abóbada das pedras em Mucugê. Foto de acervo do IPHAN. Sem data. Editado pelo autor.
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Após a revelação sobre o local da descoberta deuse início a uma corrida desenfreada em busca dos diamantes. As margens do rio se transformaram numa multidão de abrigos feitos de palha por garimpeiros de vários cantos do país e do mundo em busca de riqueza rápida. Estima-se que em poucos meses, cerca de 25.000 pessoas tenham chegado à região, dando início a um povoado que chamaram de Mucugê (nome indígena de uma fruta encontrada na região, que também batiza o rio afluente do rio Cumbuca que passa pela cidade). Após apenas três anos de existência, a Lei Provincial n° 271, de 17 de maio de 1847, criou a Freguesia de São João do Paraguaçu e elevou o povoado à categoria de Vila sob o nome de Santa Isabel do Paraguaçu (IPAC, 1980). As primeiras casas do povoado eram, em sua maioria, feitas com adobe ou pedra. Quando elevada à Vila, algumas construções começaram a se destacar como a casa do major Cândido Leão, a primeira de alvenaria e coberta de telha, a casa do comendador Francisco José Landulfo da Rocha Medrado (filho do sargento-mor), onde hoje funciona a prefeitura municipal, e a do seu irmão coronel Reginaldo Landulfo da Rocha Medrado, onde já funcionaram o Snooker Bar, o Centro de Cultura e Lazer e onde hoje sedia o Bar do Zeca e o Museu e Arquivo Público Municipal (MEDRADO, 1998). As casas, em sua maioria, de um só pavimento com porta e até duas janelas, reuniam as salas de visita e jantar em um só cômodo e possuíam dois ou três quartos e cozinha. Os mais abastados possuíam três ou até quatro janelas e um corredor interno que distribuía o acesso aos cômodos. A paisagem foi sendo transf ormada de maneira muito rápida.
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O antigo cenário bucólico daquela região de vales, cercada por íngremes encostas deu lugar a movimentação da Vila que crescia desordenadamente. Como uma forma de se ajustar ao vale, a Vila foi se desenvolvendo em formato de “L”, com duas avenidas principais que convergiam na praça central, hoje conhecido como Centro Histórico. A rua Direita do Comércio, que deve ter sido o núcleo inicial da povoação, se encontra com a rua Dr. Rodrigues Lima na Praça Coronel Propércio. Nas extremidades de cada uma das duas avenidas principais se localizam duas igrejas: a Igreja Matriz de Santa Isabel do Paraguaçu e a Igreja de Santo Antônio. Santa Isabel do Paraguaçu contou com uma sociedade das mais diversificadas possíveis. Veteranos garimpeiros do Tijuco se juntaram ainda a estrangeiros como franceses, árabes, judeus e principalmente africanos que chegavam como escravos. O dinheiro oriundo das lavras e do mercado de pedras preciosas aliado a pessoas das mais
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Imagem 10 - Casa de garimpeiros em Mucugê. Foto de acervo do IPHAN. Sem data. Editado pelo autor.
distintas culturas e de questionáveis condições morais gerou um período de insegurança e violência no início da povoação, até que foi constituída a primeira Câmara para criar normas e governar a região. A Câmara criou nesses primeiros anos um Código de Postura, o que mostra certa preocupação com o desenvolvimento e com a arquitetura da cidade à medida que casas melhores estavam sendo construídas e haviam constantes desobediências às normas. Nele existiam normas para as edificações como altura das portas e janelas, fachadas, proibição de coberturas de palha no perímetro urbano, alinhamento das ruas e limpeza das vias públicas (MEDRADO, 1998).
Imagem 11 - Praça Coronel Propercio. Foto de acervo de Sayonara Trindade. Sem data. Editado pelo autor.
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O DECLÍNIO DO GARIMPO E DA CIDADE
Imagem 12 - Cemitério ”Bizantino”, concluído em 1886. Foto de acervo do IPHAN. Editado pelo autor. 1978
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O Brasil era o maior exportador mundial de diamantes e a Vila de Santa Isabel do Paraguaçu vivia o seu auge. Naquela época houve uma assembléia para estudar a possibilidade de mudança da capital para o interior do Brasil, e a região foi classificada como propícia depois de minuciosos estudos. Segundo estatística oficial, entre 1852 a 1862, foram exportadas cerca de 50.071 oitavas, correspondentes à quinze milhões e vinte e um mil contos de reis. Foram criadas cadeiras de primeiras letras para meninos e meninas e se iniciou, em 1852, a construção da Igreja Matriz. A feira livre, sempre movimentada, recebia tropas e tropeiros de toda a região. A paisagem ia se transformando rapidamente à medida que cada vez mais pessoas iam chegando à cidade. Dessa maneira, novas ruas iam sendo criadas para acomodar essas residências, ocupando antigas áreas verdes e retirando a vegetação original. A importância de Santa Isabel do Paraguaçu para a região era tão grande que foi de lá que saíram alguns dos garimpeiros que mais tarde povoariam núcleos como Andaraí, Lençois e Palmeiras - municípios desmembrados do seu território. Entretanto, o auge da vila durou apenas um quarto de século. Em 1871, a descoberta de jazidas diamantíferas na África coincidiram com o declínio na produção e a queda de preço dos diamantes baianos, fazendo com que o comércio de escravos passasse a ter prioridade (MEDRADO, 1998). Como se pode ver na imagem 14, o Arquivo Público Municipal ainda guarda registros das negociações de compra e venda de escravos.
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Imagem 13 - Título de eleitor de garimpeiro do acervo do Arquivo Público Municipal de Mucugê. Foto de acervo do autor. 2017 Imagem 14 - Livro de registro da compra e venda de escravos do acervo do Arquivo Público Municipal de Mucugê. Foto de acervo do autor. 2017
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Contudo, com a criação da Lei do Ventre Livre (1871), que libertava os filhos de escravos, da Lei do Sexagenários (1885), que libertava os escravos com mais de 65 anos, e da Lei Áurea (1888), que abolia a escravatura, houve um abalo econômico muito forte na Vila, visto que a mão-de-obra mais usada era a escrava. Soma-se a isso a epidemia de 1886 (época da conclusão do cemitério de Santa Isabel, ou cemitério “Bizantino”), a seca de 1877 e a proclamação da República, em 1889 (MEDRADO, 1998). Em 1890, a Vila foi elevada à categoria de cidade com o nome de São João do Paraguaçu, porém o estrago já estava feito. A população, que já tinha encolhido para cerca de 15.100 pessoas nesta época (IPAC, 1980), continuou diminuindo com a saída de milhares de pessoas para outros cantos do país. O colapso só não foi maior por conta do carbonato, ou carbonado, usado na indústria para a perfuração de rochas. O “diamante negro” chegou a ser desprezado pelos garimpeiros até 1871, quando se descobriu que se tratava de uma pedra de extrema resistência que acabou sendo muito utilizada na construção do Canal de Suez, no Panamá, e em grandes obras pela Europa, em plena revolução industrial. Nesse meio tempo, em 1917, a cidade retoma o seu nome inicial e passa novamente a se chamar Mucugê. A região concentrava grande parte da produção mundial do carbonato, mas as descobertas de materiais igualmente resistentes e mais baratos na primeira metade do século XX, logo fez a produção diminuir e a economia cair em declínio novamente (BANDEIRA, 1997). Este foi um período confuso para o município, que não contava mais com a garimpagem nem com a comercialização de escravos, e via a constante evasão de seus comerciantes e famílias para outros municípios.
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O AGRONEGÓCIO E A SEMPRE-VIVA
Imagem 15 - Exemplares de Sempre-Viva expostas no Projeto Sempre Viva. Foto de acervo do autor. 2017
A partir do início do declínio do garimpo na segunda metade do século XIX, se desenvolveu na região as lavouras de cana, cereais e principalmente de café e a pecuária. Novas localidades surgiram na Chapada Diamantina sob a influência do café, que naquele momento era a maior riqueza da região da Chapada e do Brasil. Todavia, esta região foi regida durante muitas décadas pelo coronelismo ¹ . A era dos coronéis é marcada por grande disputa pelo poder pelas famílias mais abastadas e pela perseguição à Coluna Prestes, na década de 1920. Toda essa disputa de poder gerou conseqüências gravíssimas que, somadas à queda da atividade do garimpo, deixou a região da Chapada Diamantina economicamente aniquilada. Aliado a isso, a falta de incentivos públicos para a agricultura e criação de gado contribuíram para que o município entrasse em decadência na segunda metade do século XX (BANDEIRA, 1997). Grande parte da população começa a deixar a cidade, que foi ficando esvaziada. Em 1970, apenas 540 pessoas residiam na cidade (IPAC, 1980). Com a decadência do garimpo e do agronegócio, os poucos habitantes que continuam em Mucugê passam a se dedicar à colheita e venda da sempre-viva, espécie endêmica da região, dizimando-a em muitos campos e colocando-a em risco de extinção. ¹ Forma de organização sócio-política que consistia na manutenção do poder político e social nas mãos de uma minoria proprietária de terras e controladora do comércio através da venda de patentes. Quem detinha o poder era o coronel, normalmente um oligarca, que através dos jagunços colocava a sua lei e ordem (BRAICK E MOTA, 2007).
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A NOVA CIDADE MONUMENTO DA BAHIA
Imagem 16 - Proposta de delimitação do Centro Histórico de Mucugê. Mapa de acervo do IPAC. Editado pelo autor. 1980
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Mucugê é uma das cidades mais antigas da Chapada Diamantina, e deu início à chamada civilização do diamante na Bahia. O seu conjunto arquitetônico e paisagístico foi tombado pelo IPHAN em 1980. O Centro Histórico ainda conta com casas térreas e sobrados coloniais de estilo português, característicos da segunda metade do século XIX, e duas Igrejas. O status social das residências da oligarquia mineradora se afirma pela decoração e pelo material de revestimento como pisos assoalhados, forro de tábuas, janelas guarnecidas de treliças, vidros ou venezianas, e fachadas emolduradas por cunhais e frisos decorados, simbolizando poder polarizado e ostentado (PLANO DE MANEJO, 2007). Segundo o Inventário de Proteção do Acervo Cultural vol. IV - Serra Geral e Diamantina, compilado em 1978 e publicado em 1980, a cidade foi integralmente classificada com grau de proteção 1 (GP-1), ocupando uma área de 25,64 hectares, onde se localizam 328 edificações. A consciência sobre a preservação do patrimônio arquitetônico e cultural da cidade aliado à proteção e preservação do patrimônio natural contribuíram, indiretamente, para o desenvolvimento do turismo ecológico e cultural, dando um novo suspiro de desenvolvimento para uma região que atravessava, talvez, o seu pior momento econômico.
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Imagem 17 - Edificaçþes com a paisagem montanhosa ao fundo. Foto de acervo do IPHAN. Editado pelo autor. 1978 Imagem 18 - Casas com a paisagem montanhosa ao fundo. Foto de acervo do IPHAN. Editado pelo autor. 1978
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Imagem 19 - Praça Coronel Propercio. Foto de acervo do IPHAN. Editado pelo autor. 1978 Imagem 20 - Sobrado do Comendador Francisco José Landulfo da Rocha Medrado, onde hoje funciona a Prefeitura Municipal. Foto de acervo do IPHAN. Editado pelo autor. 1978.
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Imagem 21 - Impacto dos novos loteamentos na paisagem. Foto de acervo de Rui Resende.
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A VIRADA DE JOGO
Os últimos trinta anos representam uma verdadeira reviravolta para o triste declínio de Mucugê, sendo o início da década de 80 o começo do surgimento de uma nova fase para a cidade. De início, destaca-se o tombamento do seu conjunto arquitetônico e paisagístico pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), em 1980. Em seguida, com a chegada dos bancos do Brasil e Econômico e com a revisão política por parte do Instituto Brasileiro do Café (IPAC, 1980), a agricultura volta a ganhar força com incentivos oriundos de financiamentos através do cultivo de grãos como milho, soja e feijão além da batata. Além disso, com recursos do Programa de Redistribuição de Terras e de Estímulo à Agroindústria do Norte e do Nordeste (PROTERRA), foram plantados, em meados da década de 1970, cerca de oito milhões de pés de café no município (MEDRADO, 1998). Entretanto, o ressurgimento econômico de Mucugê não trouxe somente bons frutos. A cidade foi novamente se expandindo, principalmente para abrigar os trabalhadores da região, e transformando a paisagem de forma muito rápida. Como se pode ver na imagem ao lado, novos bairros e loteamentos surgiram, principalmente a Sul da cidade.
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Estes locais, apesar de constituírem uma ocupação contemporânea, possuem lotes muito pequenos, onde, por motivos políticos ou não, prevaleceu a máxima da quantidade sobre a qualidade. Seja por conta do tamanho dos lotes ou por uma influência meio que intuitiva do casario do centro, as casas dessas novas ocupações surgiram, em sua maioria, alinhadas aos lotes e com apenas alguns poucos sobrados. Sem recuos e sem quintais, os novos bairros vão formando uma massa edificada desprovida de área verde, e que descaracteriza a paisagem local. Já se pode ver, inclusive, um novo loteamento às margens da rodovia, fora do cinturão definido pela BA-142. O próprio plano diretor classifica algumas áreas como de urbanização prioritária e prevê no zoneamento uma Zona Satélite (ZSA), às margens da rodovia. Esse crescimento territorial, muito atrelado ao crescimento da agricultura, vêm causando um impacto muito negativo na paisagem da cidade.
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Imagem 22 - Impacto da massa edificada na paisagem de Mucugê. Foto de acervo de Sayonara Trindade.
Imagem 23 - Comparação da evolução da ocupação no eixo do Centro Histórico e arredores. Foto de acervo do IPHAN. Imagem 24 - Comparação da evolução da ocupação. Fonte: blog Salmar-tur. Foto de acervo de Euvaldo Ribeiro.
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Com o objetivo de proteger amostra dos ecossistemas da Serra do Sincorá, assegurando a preservação de seus recursos naturais e proporcionando oportunidades controladas para uso pelo público, educação, pesquisa científica e também contribuindo para a preservação de sítios e estruturas de interesse histórico-cultural existentes na área, em 1985, foi criado o Parque Nacional da Chapada Diamantina (PNCD). O Parque, pertencente ao bioma da Caatinga, tem uma área aproximada de 152 mil hectares, estendendo-se por cinco municípios no estado da Bahia: Andaraí, Ibicoara, Lençóis, Mucugê e Palmeiras. O PNCD pode ser considerado um ícone das unidades de conservação do país, pois sua criação resultou da mobilização, no início da década de 1980, de ambientalistas e da sociedade dos municípios do entorno, conscientes da importância de preservar seu patrimônio natural e suas belezas cênicas. Imagem 25 - Parque Nacional da Chapada Diamantina. Foto de acervo do autor. 2017
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Esse espírito sustentável desencadeou dois eventos importantes. Primeiro, a criação do Parque Municipal de Mucugê, em 1999, que conta com 270 hectares e abriga um alto grau de endemismo e diversos registros históricos do período diamantífero, além do Projeto Sempre-Viva, que busca cuidar da criação, manutenção e consolidação de áreas a serem utilizadas para o manejo sustentável da planta, e do Museu Vivo do Garimpo. Tenha sido este desenvolvido de forma proposital ou não, o segundo evento decorrente da criação do parque nacional que destaco é o desenvolvimento do ecoturismo. A região tem uma generosa situação geográfica, repleta de cânions, montanhas, cavernas e cachoeiras. O destino ideal para os amantes da natureza.
Imagem 26 - Parque Municipal de Mucugê. Foto de acervo do autor. 2017
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Imagem 27 - MucugĂŞ vista do loteamento Alpina. Foto de acervo do autor. 2017
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“Mucugê é um pouso de garimpeiros à beira das lavras”. SAMPAIO, Teodoro. O CENTRO CULTURAL DE MUCUGÊ
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Imagem 28 - Região tomada pelo agronegócio. Foto de satélite de acervo do Google. 2017
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PANORAMA ATUAL
Se Mucugê demorou apenas poucos anos para ser povoada e atingir o seu auge econômico, foi com similar rapidez que o povo mucugeense viu a cidade enfrentar um forte declínio. Foi através dessa nova guinada no fim do século XX que Mucugê vem recuperando a importância que lhe é de direito. Localizado na microrregião de Seabra e tendo como principal fonte hídrica o rio Paraguaçu, o município possui área de 2.462,153 km², ocupando 54,47% do território do PNCD (PLANO DE MANEJO, 2007). A cidade apresentou contínuo crescimento durante estas últimas décadas e, segundo o censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), possuía, em 2010, 10.548 habitantes, sendo 60,34% (6.365) residentes na zona rural e 39,66% (4.183) residentes na área urbana. Mucugê despontou como um dos maiores produtores de hortifrutigranjeiros do país e se tornou referência nacional no cultivo do café e da batata, gerando aproximadamente 5.000 empregos diretos e indiretos na região (PLANO MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO, 2015). A economia da cidade hoje se baseia quase que integralmente no agronegócio e no turismo. Segundo dados do IBGE sobre a Produção Agrícola Municipal, em 2015, o município produziu 7.470 toneladas de café (em grão, gerando um valor de aproximadamente R$ 26.145.000,00. Já com relação à batata (inglesa), no mesmo ano, o município produziu 184.140 toneladas, com valor total de produção de R$ 222.689.000,00. De acordo com o IBGE, em 2014, o município possuía PIB per capita de R$ 34.606,90. Além disso, o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM), que chegou a ser de 0,401, em 2000 - número considerado baixo-, chegou, em 2010, à marca média de 0,606. 53
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Imagem 29 - Coreto. Foto de acervo do autor. 2017 Imagem 30 - Coreto enfeitado no São João. Foto de acervo de Sayonara Trindade. Imagem 31 - Casa no Centro Histórico de Mucugê. Foto de acervo do autor. 2017
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Imagem 32 - Estrutura montada para a Feira Literária de Mucugê - Fligê. Foto de acervo da Fligê. 2017
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POLO CULTURAL DA REGIÃO
Diz um ditado popular que a maneira com que nos valorizamos é como ensinamos aos outros o nosso valor. Nesse quesito, Mucugê sempre deixou claro que não é uma cidade qualquer. Em se tratando de arquitetura, lá no início da sua história os códigos de postura contribuíram para a formação do Centro Histórico como conhecemos hoje, salvo algumas poucas perdas irrecuperáveis. Após o tombamento em 1980, o IPHAN desempenha o importante papel de fiscalizar a preservação do patrimônio arquitetônico e cultural da cidade, incluindo a ocupação desordenado da mesma, evitando a desconfiguração desse conjunto. Por conta da forte relação com a paisagem, por exemplo, o gabarito das edificações não pode exceder 7,5 metros, mantendo o caráter horizontal da cidade e evitando o bloqueio das belas paisagens que podem ser vistas ao se caminhar por suas ruas. Mucugê mantém até hoje seus costumes, tradições, manifestações histórico-culturais e belezas naturais bem preservadas. A centenária Filarmônica 23 de Dezembro se junta aos festejos de carnaval, desfiles cívicos, aos folclóricos “Macutum Zezé” e Reis de Boi, e principalmente aos festejos do mês de junho, quando, no dia 13, é comemorado o dia de Santo Antônio e, no dia 24, a comemoração dupla fica por conta da descoberta do diamante que deu início à povoação de Mucugê e do padroeiro da cidade São João Batista (MEDRADO, 1998). Em grande parte por conta do desenvolvimento da economia na região após a criação do Parque Nacional e o crescente investimento no turismo cultural por parte das prefeituras, o calendário anual da Chapada Diamantina ganhou dezenas de novos eventos. Festival de Inverno, de Jazz e de música eletrônica são alguns dos eventos que têm datas 57
fixas todos os anos nas cidades da região. Em Mucugê, não é diferente. Soma-se aos festejos tradicionais eventos como a Mostra Cine Diamantina. Uma mostra itinerante que leva ao público da Chapada uma programação rica em atividades arte-educativas e promove o acesso à mais recente produção cinematográfica baiana e nacional, realizada em Maio deste ano. Em julho, ocorre o festival gastronômico com o objetivo de transformar Mucugê na capital da gastronomia da Chapada. O festival conta com barracas de comida, festival da cerveja artesanal, mostra dos cafés, shows musicais, dentre outros. Em agosto, é a vez da feira literária de Mucugê, da qual tive a felicidade de poder participar e notar a sua importância para a cidade. A feira tem o objetivo de difundir, valorizar e preservar a obra, provocando o encontro da literatura com diferentes formas de manifestação artística. Em outubro, acontecerá o Festival de Forró, com o intuito de estimular a produção, criação, inovação e renovação musical. A cidade conta com eventos cada vez mais renomados, frequentados tanto pela própria população como por moradores da região, além de turistas que se programam para passarem suas férias na calma e bela cidade de Mucugê.
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Imagem 33 - Cidade enfeitada para o São João. Foto de acervo de Sayonara Pinto.
Imagem 34 - Ação durante a Fligê. Foto de acervo da Fligê. 2017 Imagem 35 - Fanfarra Fanmarli durante desfile de 7 de Setembro. Foto de acero da ASCOM Mucugê. 2017
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PROBLEMÁTICA O CENTRO CULTURAL DE MUCUGÊ
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Ao longo dos seus 173 anos de existência, o município de Mucugê alternou momentos de grande esplendor econômico com momentos de tensão e declínio da produção das suas principais riquezas. Diamante, carbonato, café e sempre-viva declinaram de maneira quase tão rápida como de quando surgiram, sendo o café o único que conseguiu se reerguer. Mesmo assim, tudo isso serve para reforçar o caráter único da região. Encravada em um vale cercado por cadeias montanhosas, a cidade possui belas paisagens e atrativos naturais que, aliados à sua rica história e ao seu preservado conjunto arquitetônico, formam uma combinação que impressiona e cada vez mais serve de atrativo para viajantes de todo o país e estrangeiros. Contudo, como a maioria das cidades interioranas do Brasil, Mucugê carece de alguns equipamentos que poderiam impulsionar, não somente o turismo cultural, mas também o desenvolvimento e disseminação da cultura entre os próprios habitantes da cidade. Em 1996, ao criar o Centro de Cultura e Lazer no sobrado onde antigamente funcionava o Snooker Bar, a prefeitura deu um importante passo para alicerçar a cultura do município (MEDRADO, 1998). Porém, com a desativação do Centro poucos anos depois, não foi isso o que aconteceu.
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Imagem 36 - Centro de Cultura e Lazer. Fonte: Mucugê e Sua História.
2.1 BIBLIOTECA PÚBLICA
Imagem 37- Edificação rosa onde hoje funciona a Biblioteca Municipal. Foto de acervo do autor. 2017
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No século XIX, com o constante crescimento da alfabetização, a leitura atinge um novo patamar perante à sociedade. O conhecimento, que chegou a ser controlado pela igreja durante muito tempo, passa a ser disseminado de maneira mais fluida e veloz. As bibliotecas públicas se tornam a porta de entrada para conteúdos pouco conhecidos anteriormente, e se difundem pelo país abrigadas em imponentes edificações. Em 1984, é criada a Biblioteca Pública Municipal Castro Alves em Mucugê (MEDRADO, 1998). Um ano após a criação, a biblioteca firmou convênios com o Instituto Nacional do Livro e a Fundação Nacional Pró-Memória. Com a criação do Centro de Cultura e Lazer, em 1996, passou a funcionar no sobrado da Praça Coronel Propércio, até a sua desativação. Atualmente, a Biblioteca Municipal não dispõe da estrutura necessária e funciona em uma pequena edificação típica de comércio do século XIX, na rua Dr. Rodrigues Lima.
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2.2 ARQUIVO PÚBLICO
Os arquivos públicos, muito mais do que salas cheias de documentos empoeirados, são fontes inesgotáveis da história de grupos sociais. Ali se armazenam fatos, notícias e relatos que contam a história da humanidade pela tinta de caneta gravada no papel. Em Mucugê, aliam-se aos documentos pequenos objetos da época, vestimentas e painéis explicativos para ajudar na difícil tarefa de contar a história dessa cidade tão rica. O Museu e Arquivo Público Municipal ainda funciona no sobrado da Praça Coronel Propércio (na lateral do edifício), mas de forma precária. Em conversa com Letícia, a única servidora do Arquivo atualmente, descobri que vazamentos de um banheiro no andar superior constantemente danificam os riquíssimos arquivos que remontam a história da cidade desde à época da escravidão. Existe em andamento um projeto em parceria com o IPHAN para digitalização destes documentos, mas, enquanto este não sai do papel, os registros físicos vão correndo sérios riscos de extinção.
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Imagem 38 - Museu e Arquivo Público de Mucugê. Fonte: blog depois da curva.
2.3 EVENTOS
A relação entre cultura e turismo pode ser notada quando o turismo toma para si as manifestações de arte, música, artesanato, gastronomia (IGNARRA, 1999), entre outras. A partir daí, surge o turismo voltado para a cultura, que é nada menos que o acesso a esse patrimônio cultural. É um turismo que não busca apenas lazer e descanso, mas que se caracteriza pela determinação do turista em conhecer a história, tradições e manifestações culturais de um determinado povo (PINTO, PAULO, SILVA, 2012). O turismo cultural surge com o intuito de estimular os fatores culturais dentro de uma localidade e de levantar recursos para o desenvolvimento da economia local. O resgate da memória e a criação da identidade de um determinado povo ou local é determinante para o desenvolvimento desta atividade. O forte crescimento do turismo ecológico e cultural vem colocando Mucugê como o cenário ideal para a realização de importantes eventos na região que atraem participantes de todo o país. Todavia, a cidade carece de um espaço de qualidade para a realização de eventos desse porte. Em entrevista com Thiago, engenheiro da prefeitura, ficou clara a necessidade da cidade por um espaço para acomodar esses eventos, pois o mesmo relatou que existem planos para a possível construção de uma estrutura em um terreno vazio da prefeitura na praça Coronel Propercio. Vários destes eventos já acontecem neste terreno vazio, que não dispõe de nenhuma infraestrutura para receber os visitantes. Eventos como a Feira Literária, por exemplo, têm que se dividir entre colocar os stands na estrutura montada no terreno da prefeitura e realizar as conferências em um grande salão onde hoje funciona o “Clube”. É nesse contexto, buscando atender essas demandas existentes e continuar impulsionando o desenvolvimento da cultura e do conhecimento na região, que surge a proposta do novo Centro Cultural de Mucugê.
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2.4 CENTRO CULTURAL
Centros culturais são espaços que visam a difusão e conservação da arte, dos materiais produzidos pelo homem e da cultura em geral, promovendo esta entre os habitantes de uma comunidade e se tornando verdadeiros pontos de encontro. Estes equipamentos começaram a ganhar espaço nas cidades mundiais a partir da segunda metade do século XX, principalmente em países como França e Inglaterra. A cultura está intrinsecamente ligada ao lazer - reivindicação característica da sociedade industrial -, pois é através dele que os cidadãos consomem os bens e serviços culturais. (RAMOS, 2007). Na Espanha, por exemplo, as casas de cultura têm sua origem nas bibliotecas públicas, surgindo para renovar o sistema bibliotecário e dotar o país de um sistema mais amplo e dinâmico. (PEREZ-RIOJA, 1971). No Brasil, a partir da década de 1940, a política cultural praticamente cortou as relações das bibliotecas públicas com o tecido cultural, as colocando apenas a serviço das escolas, sem o papel devido no campo das atividades culturais. A biblioteca passou a ser por muito tempo apenas o local físico que abriga a coleção de livros, servindo de acesso ao conhecimento, e os centros culturais o local de atividades menos convencionais, servindo como o local da criação de um conhecimento novo (RAMOS, 2007). O museu, que geralmente é associado a algo estático e/ou ultrapassado, hoje também se assemelha bastante com o dinamismo dos centros culturais. Na segunda metade do século XX, muitos museus ao redor do mundo passaram a assumir uma função mais próxima de centros comunitários, se tornando “centros de arte” e integrando à arte visual atividades mais amplas voltadas para história, ciência e, inclusive, fazendo intenso uso da tecnologia como forma de exposição (RAMOS, 2007). A aproximação entre esses equipamentos, faz que com que, na prática, eles ocupem espaços semelhantes adotando nomes diferentes. As funções destes equipamentos se sobrepõe, em partes, e estes não podem mais seguir caminhos distintos, necessitando espaços polivalentes, que democratizem o acesso à cultura, criem espaços para debates e sirvam como difusores de informação e criadores de novos conhecimentos. Mesmo com uma história recente no que diz respeito aos centros de cultura, o Brasil conta, atualmente, com cerca de 2.500 centros culturais, entre museus, teatros e bibliotecas. O novo edifício, servirá como nova sede da Biblioteca Municipal e do Arquivo Público Municipal. Abrigará também as exposições fixas existentes no atual Museu, além de abrir espaço para exposições temporárias. Aliado a isso, possuirá a infraestrutura necessária para 66
abrigar os mais variados tipos de eventos dispondo de equipamentos como auditório, salas de aula, laboratório, café-bar, loja e amplos espaços de convivência. O Centro Cultural busca trazer uma maior compreensão da história cultural e econômica da região, causando um impacto local, através das parcerias com as instituições de ensino para realização de eventos e utilização das instalações, como também se tornando um centro atrativo de interesse cultural, contribuindo com o desenvolvimento do turismo na região. A capacidade de atração desta cidade de rica história e belezas naturais, aliada a este novo ponto de interesse turístico e cultural, servirão como uma alavanca para o desenvolvimento local através da atração de novos consumidores, prolongamento do tempo de permanência dos turistas e do desenvolvimento de atividades acadêmicas e culturais.
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PROJETOS DE REFERÊNCIA O CENTRO CULTURAL DE MUCUGÊ
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Imagem 39 - Parque Natural do Fogo. Foto de acervo pessoal de Fernando Guerra. Imagem 40 (páginas 72 e 73) - Parque Natural do Fogo. Foto de acervo pessoal de Fernando Guerra.
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PARQUE NATURAL DO FOGO OTO
Em Cabo Verde, Portugal, o povoado de Chã das Caldeiras se formou de maneira ilegal e ocupa terrenos do Estado onde desenvolvem suas atividades agrícolas para garantir a própria sobrevivência. Com a criação do estatuto de área protegida, as zonas de cultivo foram delimitadas, com normas e limites para as construções, indo de encontro à livre ocupação. É neste contexto, em meio a frequentes choques de interesse, que surge o projeto da sede do Parque Nacional do Fogo, com o objetivo de consolidar a identidade da área protegida e melhorar a relação do povo com a nova gestão do Parque. Lidando com um entorno paisagístico de rara beleza, semelhante em sua essência às encostas montanhosas do terreno do Centro Cultural, o edifício foi projetado de modo que se encaixe na paisagem, fundindo a sua “carcaça” escura com o vulcão que compõe a paisagem ao fundo. O edifício se insere na paisagem de maneira tão sutil, que muitas vezes se confunde com as formações rochosas da topografia local. Devido à dificuldade de acesso a recursos externos, o edifício foi feito em grande parte utilizando técnicas e materiais locais e inclusive contou com a ajuda da população na sua construção. Além disso, tem autonomia energética através da energia solar e do aproveitamento das águas da chuva pela cobertura. O seu paisagismo conta com espécies locais do Parque Natural. A parte mais cultural conta com dois auditórios (um coberto e um aberto), biblioteca e bar que podem ser utilizados tanto pelos habitantes como por visitantes. Também foram criados espaços mais técnicos para servir de base aos pesquisadores e responsáveis pela proteção da área, como 71
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salas de reuniões e laboratórios. A interação da sede com a paisagem desperta uma forte valorização ao espaço. Nota-se que o Parque Natural do Fogo e o Centro Cultural de Mucugê possuem objetivos muito próximos. Os programas se assemelham bastante, e visam, acima de tudo, trazer a população para dentro da edificação. Além disso, ambas as edificações possuem um entorno paisagístico belíssimo e único, cada um com suas características específicas. O edifício português, mesmo que suavemente, alterou a paisagem cultural da região vulcânica de Cabo Verde. Este talvez seja o grande desafio do Centro Cultural de Mucugê. Infelizmente, sete meses após a inauguração, uma erupção vulcânica destruiu o Parque Natural do Fogo, cuja beleza agora só pode ser apreciada por meio de fotografias.
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Imagem 41 - Parque Natural do Fogo. Foto de acervo pessoal de Fernando Guerra.
Imagem 42 - Parque Natural do Fogo. Foto de acervo pessoal de Fernando Guerra. Imagem 43 - Parque Natural do Fogo. Foto de acervo pessoal de Fernando Guerra. Imagem 44 (pรกginas 76 e 77)- Parque Natural do Fogo. Foto de acervo pessoal de Fernando Guerra.
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Imagem 45 - Tirpitz. Fonte: big.dk.
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TIRPITZ BIG
O local onde está inserido o Tirpitz conta com um bunker da época da guerra de Blåvand, na Dinamarca. Funcionando como um “museu invisível”, o Tirpitz, projeto do escritório Bjarke Ingels Group (BIG), transforma o local em um complexo cultural. A nova edificação conta com três museus e uma galeria de exibições especiais, porém cada um funciona como uma unidade independente. Assim como o novo Centro Cultural de Mucugê conta com equipamentos distintos como biblioteca, arquivo, auditório, café, galeria de exposições e área para eventos e conferências, o projeto dinamarquês funciona como sede do Bunker museum, do Amber museum, do Histolarium e de uma galeria de exibições especiais, além de possuir um café. Ao mesmo tempo em que o complexo é visto como uma única única entidade, ele permite contínua circulação e comunicação entre os museus. Essa configuração é imprescindível para que os equipamentos possam trocar suas exposições, sediar eventos especiais e possuir seu próprio horário de funcionamento. Essa organização espacial é fundamental para que equipamentos como a biblioteca, o museu, o café ou o auditório, por exemplo, que possuem horários de funcionamento distintos, possam funcionar e se comunicar facilmente durante o dia, e encerrar suas atividades em seus respectivos horários.
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Imagem 46 - Tirpitz. Fonte: big.dk. Imagem 47 - Tirpitz. Fonte: big.dk. Imagem 48 - Organização espacial do Tirpitz. Fonte: big.dk. Imagem 49 (páginas 82 e 83) - Tirpitz. Fonte: big.dk. Imagem 50 (páginas 84 e 85) - Tirpitz. Fonte: big.dk.
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YALUNTZANGPU RIVER BOAT TERMINAL ZAO/standardarchitecture
Imagem 51 - Yaluntzangpu River Terminal. Fonte: http://www.standardarchitecture.cn. Imagem 52 - Yaluntzangpu River Terminal. Fonte: http://www.standardarchitecture.cn. Imagem 53 (páginas 88 e 89) Yaluntzangpu River Terminal. Fonte: http://www.standardarchitecture.cn. Imagem 54 (páginas 90 e 91) Yaluntzangpu River Terminal. Fonte: http://www.standardarchitecture.cn.
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O terminal de barcos Yaluntzangpu está localizado na pequena vila Pai Town, no Tibet. Ele é a parada mais remota ao longo do rio Yaluntzangpu e permite que moradores locais e visitantes se locomovam pelo vale através da água. O programa do edifício é bem básico, contando apenas com um lounge de espera, bilheteria, sala para as pessoas passarem a noite e sanitários. O terminal é coberto por rampas que surgem do nível do rio e se distribui entre as árvores do local, o que concede fluidez ao edifício e faz com que ele, visto a distância, pareça completamente encaixado na topografia do local. Além da sua implantação única, a principal referência deste edifício para o Centro Cultural de Mucugê é a sua materialidade. Os materiais de construção utilizados são em sua maioria locais. Todas as paredes e a cobertura são feitas por pedras coletadas no local, e foram constrídas no padrão dos construtores tibetanos. Além disso, as esquadrias das portas e janelas foram feitas com madeira local. O Centro Cultural de Mucugê também segue essas mesmas diretrizes, tendo a pedra como o seu principal material.
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4.1 ESTUDOS DE INSERÇÃO URBANÍSTICA E PAISAGÍSTICA DADOS GERAIS
Imagem 55 - Terreno entre a rua da Ponte e a BA-142. Foto de acervo do autor. 2017
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Ao longo do século XX, a cidade foi se desenvolvendo ao redor do centro de maneira mais ortogonal, como a área de grandes quadras predominantemente residenciais ao sul, e com avenidas mais largas, como a avenida Antônio Pina Medrado e a rua da Várzea. O terreno escolhido para o projeto, de topografia pouco acidentada, se localiza nessa área de urbanização tardia, em frente ao Cemitério Bizantino. A escolha deste terreno se deu por conta da sua posição privilegiada, pois o mesmo está localizado em frente ao cemitério bizantino, em uma área pouco edificada que, por conta disso, ainda conta com belas vistas para todas as direções. O terreno está localizado à margem da BA-142, fazendo com que o primeiro contato com a edificação por parte dos turistas desperte o interesse para uma rápida parada na cidade. Além disso, o terreno está localizado a menos de 400m de três escolas e ao lado da quadra e do campo de futebol, o que impulsionará o desenvolvimento de atividades culturais com as crianças locais. O entorno imediato do terreno, que está situado no cruzamento entre a BA-142 e a Rua da Ponte, não segue a tônica de edificações residenciais térreas da cidade, possuindo pouquíssimas casas ao redor à norte. Num raio de apenas 350 metros à leste, encontram-se dois edifícios escolares, cujos alunos poderão regularmente fazer uso das salas e laboratórios do centro através de parcerias educacionais com as instituições. Seguindo 250 metros na direção sul pela avenida Antônio Pina Medrado, localizam-se duas pousadas de boa infraestrutura e conhecidas por receber grande número de turistas. Já a 400 metros pelo contorno da rodovia BA-142 na direção sul, um campo e a quadra de esportes da cidade. À Oeste, como se brotasse das fissuras entre as rochas, os mausoléus caiados do cemitério bizantino. 95
N
Terreno
Ruína/Vazio
3 Recuos
No alinhamento
Frontal/direito
Frontal/esquerdo
Ilustração 01 - Mapa de implantação. Produzido pelo autor.
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Frontal
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IMPLANTAÇÃO
A partir da análise dos dados coletados referente à implantação das edificações em seus respectivos lotes, as mesmas foram classificadas nas seguintes categorias: no alinhamento; recuo frontal; recuo frontal/ lateral direito; recuo frontal/lateral esquerdo; três recuos; ruína/vazio. Com base nesse levantamento percebe-se no centro histórico a predominância de edificações no alinhamento, ou seja, sem qualquer tipo de recuo a não ser o de fundo. Por conta do desenvolvimento desordenado da cidade, os lotes e suas edificações foram surgindo quase que de maneira natural ao longo do eixo em “L”, com exceção da parte final do eixo próximo à Igreja de Santa Isabel, que conta com edificações mais recentes com recuo frontal e/ou lateral. Este tipo de implantação alinhada também acontece com enorme frequência à Sul do centro em uma área predominantemente residencial, pois esta conta com lotes muito pequenos e o plano diretor não prevê nenhum valor mínimo de recuo frontal. Entre essas duas áreas, principalmente às margens da Av. Antônio Pina Medrado, é onde se localizam a maior parte das edificações mais novas que contam com os três tipos de recuos. O entorno do terreno, que faz parte da Zona De Consolidação Urbana (ZCU), é resultado de uma urbanização mais tardia, e o plano diretor prevê para esta área o dobro de área permeável do centro e lotes maiores. Por conta disso, possui em sua maior parte edificações com algum tipo de recuo (na maioria dos casos com os três) produzindo espaços mais abertos e uma paisagem mais leve se comparada com as edificações “geminadas” do centro histórico. Desta forma, buscando manter a configuração e produção de espaços mais abertos, respeitando a paisagem e se inserindo de forma leve no contexto urbano, a edificação do Centro Cultural foi projetada de modo a se manter recuada de todos os limites do lote, mesmo quando não previstos pelo plano diretor.
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USO DO SOLO
Por fazer parte da zona de consolidação urbana, que possui áreas de urbanização prioritária, o terreno está cercado por edificações de caráter residencial. Entretanto, em seu entorno imediato estão localizadas três escolas e duas pousadas, fato que foi de grande relevância para a escolha do terreno. Tanto à norte quanto à sul do terreno (ao longo da Av. Antônio Pina Medrado) o que se pode ver são áreas predominantemente residenciais, com exceção de alguns poucos equipamentos comerciais e de serviços, como pousadas. As partes finais dos dois eixos do centro também são áreas com predominância de residências. Já no miolo do centro histórico é onde se localizam a maior parte dos equipamentos de comércio, serviços e mistos, desde bares, lanchonetes, restaurantes, pousadas e farmácia, até equipamentos turísticos e culturais. Os dois principais equipamentos religiosos se localizam nas extremidades do eixo histórico, porém nota-se a existência de mais dois destes equipamentos (um na Rua da Ponte e um na Rua da Várzea).
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Terreno
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1 Pavimento
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Ilustração 03 - Mapa de altura das edificações. Produzido pelo autor.
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ALTURA DAS EDIFICAÇÕES
Mucugê está implantada no vale do rio Mucugê, cercada por encostas íngremes de morros rochosos do Parque Nacional da Chapada Diamantina. Por conta desse conjunto paisagístico, a cidade preserva desde os tempos da sua criação um caráter horizontalizado, evitando o bloqueio da vista do observador. O plano diretor prevê para toda a cidade um limite de gabarito de dois pavimentos e limita a altura dos edifícios em 7,5 metros, cujo resultado prático pode ser notado no mapa a seguir. A quase totalidade das edificações da cidade possuem apenas um pavimento, salvo alguns sobrados no centro histórico e na zona de consolidação urbana. As duas raras exceções de edificações com três pavimentos ficam por conta do edifício da prefeitura e da antiga casa do Coronel Douca Medrado, que contam com um pequeno mirante na cobertura. Essa horizontalidade confere um ambiente único à cidade, valorizando a escala humana e tornando a vida urbana mais agradável. A nova edificação, também como forma de preservar essa horizontalidade, foi projetada semi-enterrada, de modo que se sobressaia apenas um dos seus dois pavimentos, reduzindo o impacto visual da edificação.
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Cultura
Religião
Circ. e Transporte
Esporte e lazer
Educação
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Adm. Pública
Ilustração 04 - Mapa de equipamentos urbanos. Produzido pelo autor.
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EQUIPAMENTOS URBANOS
A NBR 9284 define equipamento urbano como “todos os bens públicos ou privados de utilidade pública, necessários para o funcionamento da cidade”. Adaptando a divisão estabelecida por esta norma para a realidade de Mucugê, foram consideradas as seguintes categorias: esporte e lazer, cultura, educação, religião, saúde, circulação e transporte e administração pública . Além de contar com as duas igrejas que formam o eixo do centro histórico - Igreja de Santo Antônio e Igreja de Santa Isabel, Mucugê também conta com duas outras instituições religiosas de cunho evangélico. Os equipamentos culturais ficam por conta apenas do Museu e Arquivo Público, Biblioteca Municipal e do Clube. Próximo a uma das saídas para a BR-142 fica o hospital da cidade. Em se tratando da administração municipal, na rua Dr. Rodrigues Lima, se localizam o Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) e a previdência social ao lado da prefeitura, e mais a frente um pouco se localiza a Secretaria de Cultura, Turismo e Meio Ambiente. Além disso, Mucugê conta com um fórum, que está localizado na rua da várzea, com a câmara de vereadores, que está localizada logo a frente do fórum, e com o detran, localizado na rua prof. Honório Pina, próximo à ponte. Mucugê conta com um “terminal rodoviário” que funciona em uma casa na Av. Antônio Pina Medrado, com pouquíssimos horários de ônibus. Os equipamentos de educação pública - Escolas Reunidas Dr. Rodrigues Lima, Grupo Escolar Anatalino Medrado e Colégio Estadual Horácio de Matos - e de educação privada Colégio Lapidar - se localizam próximas ao terreno, em um raio de apenas 300m, assim como os equipamentos de esporte e lazer, o que proporcionará uma integração da edificação com as escolas, inserindo as atividades culturais desde cedo na vida das crianças mucugeenses.
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4 Praça Coronel Propercio
8 Campo de Futebol
1 Praça Igreja de Santo Antônio
5 Museu e Arquivo Público Municipal
9 Ginásio
2 Praça Santa Isabel
6 Clube
3 Praça Coronel Douca Medrado
7 Praça dos Garimpeiros
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Ilustração 05 - Mapa de espaços públicos e de lazer. Produzido pelo autor.
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ESPAÇOS PÚBLICOS E DE LAZER
Os espaços públicos, muitas vezes desvalorizados pela própria população, têm influência direta na qualidade de vida das pessoas. As grandes cidades, depois de praticamente abdicarem dos seus espaços em detrimento do uso do automóvel, vêm cada vez mais percebendo a importância de se planejar as cidades voltadas para as pessoas. E é na qualidade de vida das áreas menos urbanizadas que elas se inspiram. Nas cidades menores os espaços públicos e de lazer não são menos importantes, pelo contrário, servem como ponto de encontro diário e muitas vezes são a única forma de lazer das pessoas, principalmente dos idosos. Mucugê é muito bem servida nesse quesito e possui quatro praças ao longo do eixo histórico: duas praças nas extremidades que levam o nome das respectivas igrejas (Santo Antônio e Santa Isabel); a Praça Coronel Propercio no ponto de encontro dos dois eixos do centro histórico; a Praça Coronel Douca Medrado, em frente à prefeitura. Recentemente, foi inaugurada a Praça dos Garimpeiros, que conta com palco e um amplo espaço para shows. Entre esta última e a Praça Coronel Propercio se localizam o Clube da cidade e o Museu e Arquivo Público Municipal. Complementando os espaços de lazer da cidade, encontra-se no entorno imediato ao terreno uma quadra de esportes, um campo de futebol e um ginásio esportivo. Com a visível predominância de praças no eixo histórico da cidade, o Centro Cultural surge com o intuito de se tornar um novo ponto de encontro nesta área mais afastada do centro, com a sua cobertura verde transitável e suas amplas e abertas áreas de convivência. Além destes espaços de lazer urbanos, a cidade de Mucugê é uma das mais privilegiadas do Parque Nacional no que diz respeito à riquezas naturais, sendo cercada por belas trilhas, poços, vales, morros e cachoeiras.
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Rodovia BA-142
Ilustração 06 - Mapa de sistema viário. Produzido pelo autor.
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Vias Coletoras
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SISTEMA VIÁRIO
As vias da cidade são todas em calçamento de pedra, os estacionamentos geralmente são nas próprias vias, o sistema é caracterizado por um baixo fluxo de veículos e não conta com nenhum tipo de ciclovia. As pessoas se locomovem a pé na maior parte das vezes, visto que a distância entre dois pontos geralmente é muito curta. Para se ter idéia, uma caminhada de uma igreja à outra percorre cerca de 900 metros e dura aproximadamente 11 minutos. Outros meios de locomoção bastante utilizados são bicicletas e motos. Por ser uma cidade de pequeno porte, Mucugê possui um sistema viário simples e bem definido. A rodovia BA-142 entra em contato com a cidade à noroeste, faz a volta à sul em todo o núcleo urbano e se encontra com a última saída no sentido Andaraí à sudeste. A cidade não conta com nenhuma via arterial ou de trânsito rápido. Vias coletoras são responsáveis por coletar e distribuir os fluxos de veículos vindos da rodovia para as vias locais e vice versa. O terreno se localiza no cruzamento da rodovia com uma via coletora, sendo um dos primeiros contatos que os visitantes que chegam a Noroeste têm com a cidade de Mucugê.
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Ilustração 07 - Mapa de tempo de caminhada. Produzido pelo autor.
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Ilustração 08 - Mapa de massas vegetais. Produzido pelo autor.
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RELEVO E MASSAS VEGETAIS
Cercada por encostas rochosas íngremes, Mucugê está situada em um vale com uma conformação relativamente plana. Do ponto mais alto do núcleo urbano (chegada da rodovia BA-142 à noroeste) até o ponto mais baixo (à cerca de 400m da saída à sudoeste) são apenas cerca de 24 metros de desnível, que vão se desenvolvendo de maneira bem suave ao longo da cidade. O terreno apresenta um desnível de cerca de 4 metros. Com exceção da área predominantemente residencial na parte sul da cidade, as ruas e praças de Mucugê contam com canteiros e arborização em diversos pontos. Entretanto, a maior parte das massas vegetais da cidade se encontram ao fundo das residências do centro histórico, tanto à sul quanto à norte, como se pode ver no mapa. A nova edificação, visando causar o menor impacto possível na cobertura vegetal do sítio, conta com uma cobertura verde e áreas de convivência arborizadas, além de manter todas as árvores existentes no terreno e se adequar à topografia existente. 994
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Ilustração 10 - Mapa de pontos visuais. Produzido pelo autor.
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PONTOS VISUAIS
Ao chegar em Mucugê pela BA-142, vindo de Barra da Estiva e continuando sentido Andaraí, o primeiro impacto visual é o Cemitério Bizantino perfeitamente encaixado na encosta montanhosa, como pode-se perceber através da imagem 1. Nota-se, nessa área, ausência de edificações no seu entorno imediato e grandes áreas verdes.
Imagem 56 - Vista da rodovia. Foto do Google Stree View.
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Na imagem 2, ao chegar mais próximo do terreno, nota-se o aparecimento de edificações ao redor, sendo estas uma mescla de edificações térreas e sobrados. (Foto de acervo do autor).
Imagem 57 - Vista do terreno. Foto de acervo do autor. 2017
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É possível notar, através da imagem 3, o conjunto residencial localizado atrás do terreno, composto em sua maioria por edificações térreas. (Foto de acervo do autor).
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Imagem 58 - Vista do terreno. Foto de acervo do autor. 2017
Fazendo o percurso para se chegar ao terreno pela rua da ponte, o único percurso possível advindo do centro da cidade, nota-se através da imagem 4, o caráter predominantemente térreo das edificações desta área, com destaque para os colégios. Além disso, percebe-se a falta de calçadas para o deslocamento dos pedestres. (Imagem do google street view).
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Imagem 59 - Vista da Rua da Ponte. Foto do Google Street View.
Ao se chegar mais próximo do terreno por este percurso da rua da ponte, percebe-se a ausência de edificações no entorno imediato ao terreno, e o surgimento de uma estreita “calçada”, como se pode ver na imagem 5. (Foto de acervo do autor).
Imagem 60 - Vista do terreno. Foto de acervo do autor. 2017
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Fazendo-se o percurso pela rodovia, desta vez no sentido contrário, vindo de Andaraí com direção a Barra da Estiva, nota-se o grande espaço aberto que é o entorno do terreno. Como se vê na imagem 6, à esquerda está a área protegida do morro do cemitério, e à direita, um grande campo de futebol. (Imagem do google street view).
Imagem 61 - Vista da rodovia. Foto do Google Street View.
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4 Prefeitura Municipal
Feira Literária - Fligê
1 Cemitério de Santa Isabel
5 Sob. do Cel. Douca Medrado
Festival de Forró
2 Igreja de Santo Antônio
6 Sob. do Cel. Reginaldo Landulfo
Circo do Capão
3 Igreja de Santa Isabel
7 Coreto
Feira Gastronômica
Ilustração 11 - Mapa de eventos e edifícios relevantes. Produzido pelo autor.
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EVENTOS E EDIFÍCIOS RELEVANTES
A proposta de delimitação do Centro Histórico de Mucugê, publicada em 1980, documenta e visa a proteção de 328 edificações. Baseado na importância história, técnicas construtivas e registros documentais, mapeio aqui sete edificações de grande valor arquitetônico presente neste conjunto. Com exceção do Coreto, por falta de material e informações suficientes, destaco e caracterizo nas páginas seguintes, seis destas edificações. Três edificações são de cunho religioso: o Cemitério de Santa Isabel, a Igreja de Santa Isabel e a Igreja de Santo Antônio. As outras três edificações, são sobrados que hoje abrigam diferentes usos. O sobrado da Praça Coronel Douca Medrado possui função administrativa e abriga atualmente a Prefeitura Municipal. O antigo sobrado do Coronel Douca Medrado, localizado na Praça Coronel Propercio, continua com seu uso residencial. Já o antigo sobrado do Coronel Reginaldo Landulfo da Rocha Medrado, atualmente abriga o Bar do Zeca, e na lateral, abriga o Museu e Arquivo Público Municipal. Mucugê, como dito anteriormente, vem se tornando palco de importantes eventos da região. O mais importante deles talvez seja a Feira Literária - Fligê. Com o propósito de difundir, valorizar e preservar a obra, a fligê provoca o encontro da literatura com diferentes formas de manifestação artística. Sua estrutura principal é montada no terreno vazio da prefeitura na praça Coronel Propércio, e algumas conferências e/ou apresentações ocorrem na sede do Clube. Neste ano de 2017, a fligê homenageou o autor Euclides da Cunha (1866-1909), rememorando os 120 anos da Guerra de Canudos. Tive a felicidade de poder acompanhar de perto esta edição da feira, estando presente em algumas apresentações e pude perceber a importância do evento para a cidade. A programação é variada, contando com conferências, oficinas, leituras guiadas, palestras, café com o autor, mesas de conversa, dentre outros. A fligê possibilitou o surgimento de um espaço de difusão cultural, respaldado pela população que participa ativamente das atividades culturais, desde os mais jovens até os mais velhos. Além disso, o evento é capaz de atrair turistas de regiões próximas, como de Vitória da Conquista, além de chamar a atenção dos turistas que estão de passagem pela região. Outro importante evento que ocorre na cidade é a Feira Gastronômica, que surgiu com o objetivo de transformar Mucugê, que é conhecida por seus bons restaurantes, na capital gastronômica da Chapada Diamantina. Participam deste evento diversos restaurantes da cidade, que montam seus stands tanto na rua Direita do Comércio como na Praça dos Garimpeiros. A Praça dos Garimpeiros também serve de local para a estrutura do Circo do Capão e para o Festival de Forró. Este último, além de contar com shows na Praça dos Garimpeiros, também conta com aulas de dança na Praça Coronel Propércio e oficinas da sede da Filarmônica 23 de Dezembro. O Centro Cultural contará com salas de oficinas, salas multiuso, auditório e áreas de convivência abertas para melhor acomodar o programa dos eventos, além de continuar impulsionando a difusão da cultura e da arte, tanto na cidade quanto na região.
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CEMITÉRIO DE SANTA ISABEL
Encontra-se entre a rodovia e a encosta com uma área plana murada onde ficam as covas rasas e uma área especial com um conjunto de mausoléus reproduzindo igrejas e capelas no “estilo bizantino” apoiadas na encosta rochosa. Os mausoléus foram feitos em alvenaria de pedra e/ou tijolos, posteriormente revestidos de reboco e caiados. O contraste entre o branco das sepulturas e a encosta montanhosa ao fundo resulta em um arranjo paisagístico belíssimo. A sua construção se iniciou por conta de uma epidemia que assolou a vila, e foi concluída em 1886 (IPAC,1980).
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Imagem 62 - Mausoléus ”bizantinos” do cemitério de Santa Isabel. Foto de acervo do autor. 2017
PREFEITURA MUNICIPAL
Imagem 63 - Prefeitura Municipal. Fonte: blog Salmar-tur. Foto de acervo pessoal de Salvador Martins.
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O sobrado onde hoje funciona a Prefeitura Municipal de Mucugê localiza-se na praça Coronel Douca Medrado. A edificação está “encravada” no meio de uma fileira de casas, mas uma passagem de serviço a separa de um dos prédios vizinhos e quebra essa identidade visual. O pavimento térreo possui uma tipologia tipicamente comercial, diferente do pavimento superior que é residencial. Acima do pavimento superior, encaixado no telhado de quatro águas, está um mirante. As seis portas e seis janelas da fachada do sobrado, além das três janelas da fachada do mirante, possuem vãos com vergas retas. Não existem documentos que comprovam a época da construção, mas as suas características levam a crer que este sobrado data do final do século XIX (IPAC,1980).
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IGREJA MATRIZ DE SANTA ISABEL DE SANTA ISABEL
Foi erguida em meados do século XIX, com grande auxílio da população. Apresenta três naves internas estruturadas por alvenaria e pilares em pedra, cobertura de madeira em duas águas e fachada neoclássica. Essa tipologia de três naves é uma influência mineira, constante nas regiões diamantíferas. A primeira deste tipo na Chapada Diamantina é a da Igreja de Santana de Rio de Contas. No interior da Igreja destaca-se o coro em formato de “U”. Em 1952, teve o piso de pedra substituído por ladrilho hidráulico, e em 1978, teve o telhado recuperado. Foi restaurada pelo IPHAN, em 2014, com obras de conservação da edificação e de restauração do acervo (IPAC,1980).
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Imagem 64 - Igreja Matriz de Santa Isabel Foto de acervo do autor. 2017
IGREJA MATRIZ DE SANTO ANTÔNIO
Imagem 65 - Igreja de Santo Antônio. Foto de acervo do IPHAN. 1978
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Construída na segunda metade do século XIX também com ajuda da população, inclusive financeira. A Igreja é composta por três alas interligadas por grandes arcadas. As imagens vieram de Portugal, a pedido do Coronel Reginaldo Landulfo da Rocha Medrado, que também doou o terreno para a construção (IPAC,1980).
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SOBRADO DO CORONEL “DOUCA” MEDRADO
Localizado na Praça Coronel Propércio, composta praticamente apenas por edificações térreas, a edificação se destaca por, além de ser um sobrado, possuir um mirante para as belas paisagens da região. Esta é edificação é um raro caso de mirante implantado em um telhado de duas águas. O térreo tem uma tipologia característica de comércio, enquanto o pavimento superior possui tipologia residencial. O sobrado e o mirante são cobertos por um telhado em duas águas. Na fachada, quatro portas e quatro janelas com vãos em arco pleno conferem imponência à edificação. Este sobrado foi residência do Coronel “Douca” Medrado, conhecido por dominar a política de Mucugê e da região. Não existem documentos que comprovam a época da construção, mas as suas características levam a crer que este sobrado data do final do século XIX (IPAC,1980). 120
SOBRADO DO CORONEL REGINAL LANDULFO DA ROCHA MEDRADO
Imagem 66 - Sobrado da praça Coronel Propercio. Fonte: Chapada diamantina, história, riquezas e encantos. 1997 Imagem 67 - Atual bar do Zeca. Fonte: blog Salmar-tur. Foto de acervo de Salvador Martins.
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O sobrado imponente que se destaca na Praça Coronel Propércio pela sua volumetria de maiores dimensões que as construções vizinhas possui uma planta retangular coberta com telhado de três águas e uma fachada principal com sete portas e sete janelas. Antiga residência do coronel Reginaldo Landulfo da Rocha Medrado, foi por muito tempo sede do Snooker Bar, ponto de encontro dos moradores da cidade. Em 1996, o sobrado foi restaurado pelo IPAC e deu lugar à um Centro de Cultura e Lazer, abrigando o Museu e Arquivo Público Municipal e a Biblioteca Pública Municipal. O Centro foi posteriormente desativado. Atualmente funciona no edifício o Bar do Zeca, que também serve de moradia para o proprietário do estabelecimento, e na lateral, o Museu e Arquivo Público Municipal. (IPAC,1980).
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4.2 LEGISLAÇÕES PERTINENTES
A atual Constituição da República Federativa do Brasil, promulgada em 1988, define em seu artigo 216 que constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico. Por conta da falta de regulamentação e proteção, o rico acervo histórico e cultural do Brasil foi se arruinando e se perdendo aos poucos, até o surgimento do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN), atual IPHAN, sancionado pela Lei n° 378 de 13 de Janeiro de 1937, e criado com a finalidade de promover, em todo o país e de modo permanente, o tombamento, a conservação, o enriquecimento e o conhecimento do patrimônio histórico e artístico nacional. Em 30 de Novembro do mesmo ano, o decreto-lei n° 25 define como patrimônio histórico e artístico nacional o conjunto dos bens móveis e imóveis existentes no país e cuja conservação seja de interesse público, quer por sua vinculação a fatos memoráveis da história do Brasil, quer por seu excepcional valor arqueológico ou etnográfico, bibliográfico ou artístico. Alguns documentos internacionais da mesma época e dos anos subsequentes também tratam e norteiam as questões relativas à preservação e ao entorno do patrimônio histórico. Em 1931, a Carta de Atenas recomenda, em uma de suas conclusões, “respeitar, na construção dos edifícios, o caráter e a fisionomia das cidades, sobretudo na vizinhança dos monumentos antigos, cuja proximidade deve ser objeto de cuidados especiais. Em certos conjuntos, algumas perspectivas particularmente pitorescas devem ser preservadas. Devese também estudar as plantações e ornamentações vegetais convenientes a determinados conjuntos de monumentos para lhes conservar o caráter antigo. Recomenda-se, sobretudo, a supressão de toda publicidade, de toda presença abusiva de postes ou fios telegráficos, de toda indústria ruidosa, mesmo de altas chaminés, na vizinhança ou na proximidade dos monumentos de arte ou de história.” Em 1964, a Carta de Veneza trata sobre o entorno e define que “a noção de monumento histórico compreende a criação arquitetônica isolada, bem como o sítio urbano ou rural que dá testemunho de uma civilização particular, de uma evolução significativa ou de um acontecimento histórico. Entende-se não só às grandes criações, mas tambem às obras O CENTRO CULTURAL DE MUCUGÊ
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modestas, que tenham adquirido, com o tempo uma significação cultural”. Além disso, duas recomendações da UNESCO, de 1962 e 1968, demonstram preocupação com o entorno dos monumentos, concluindo que “uma proteção especial deveria ser assegurada às proximidades dos monumentos”; a construção de novos edifícios “deveria estar em harmonia com a ambiência” e que “terrenos e imóveis que cercam um monumento notável” devem receber proteção legal; e a proibição legal de “qualquer publicidade (...) nos monumentos, como também, em suas imediações”. Mais recentemente, em 2005, a Declaração de Xi´an reforça a importância do entorno das edificações, afirmando que ”além dos aspectos físicos e visuais, o entorno supõe uma interação com o ambiente natural; práticas sociais ou espirituais passadas ou presentes, costumes, conhecimentos tradicionais, usos ou atividades, e outros aspectos do patrimônio cultural intangível que criaram e formaram o espaço, assim como o contexto atual e dinâmico de natureza cultural, social e econômico”. Contudo, apenas em 1980 o conjunto arquitetônico e paisagístico de Mucugê foi tombado pelo IPHAN. Muitos dos seus casarões coloniais, construídos em adobe ou pedra, se encontram preservados e mantém o caráter histórico da cidade. Com o advento do Estatuto das Cidades, Lei n° 10.257 sancionada em 10 de Julho de 2001, os municípios com mais de 20.000 habitantes; os integrantes de regiões metropolitanas e aglomerações urbanas; os inseridos em área de especial interesse turístico; os integrantes de área de influência de empreendimentos ou atividades de significativo impacto ambiental se encontram obrigados a adequar sua estrutura administrativa aos princípios erigidos pelo novo Código Urbano, se tornando, por exemplo, obrigadas a criar um Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano. O plano diretor serve para demarcar tanto as zonas de uso urbanístico como as zonas de planejamento urbano, devendo servir como um instrumento base que vai nortear e direcionar da melhor maneira possível o desenvolvimento dos núcleos urbanos. O plano diretor de Mucugê divide a cidade em três zonas: Zona Centro Histórico (ZCH), Zona de Consolidação Urbana (ZCU) e Zona Satélite (ZSA). A ZCH é uma zona de grande valor histórico e cultural, caracterizada pelo uso misto (comércio, serviços, residência e equipamentos) e é onde se nota uma estrutura urbana mais sólida, com áreas arborizadas e vias pavimentadas. Esta zona corresponde ao Centro Histórico tombado pelo IPHAN. A ZCU, zona onde está localizada o terreno deste projeto, corresponde à área de uso predominantemente residencial com presença de alguns equipamentos e comércios de apoio, além de abrigar áreas de urbanização prioritária na região da Av. Antônio Pina Medrado. Já a ZSA se localiza às margens da rodovia e foi proposta devido à falta de áreas para a expansão urbana. O terreno se localiza no cruzamento entre a BA-142, que liga Mucugê aos distritos de Guiné e João Correia, e a Rua da Ponte, que faz a ligação com o centro histórico. Essa área foi definida como integrante da Zona de Consolidação Urbana, área com possibilidades de adensamento e pequena expansão controlada. Por pertencer à ZCU, os equipamentos a serem edificados nessa área devem obedecer aos parâmetros urbanísticos específicos defini-
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dos pelo plano diretor. O valor mínimo dos recuos laterais é 2 metros e do recuo de fundo é 5 metros. As edificações não possuem um valor mínimo de recuo frontal, porém devem contar com uma testada mínima de 12 metros. O altura da edificação é controlada com um limites de gabarito de dois pavimentos e os índices de ocupação (i.o.), utilização (i.u.) e permeabilização (i.p.) são 0,5, 1 e 0,4, respectivamente. Além de orientar as ações de desenvolvimento e expansão urbana, nas cidades históricas, o plano tem a importante função de coibir a descaracterização do patrimônio por conta do crescimento descontrolado.
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4.3 CONDICIONANTES AMBIENTAIS
Ilustração 12 - Diagrama de estudo de condicionantes ambientais. Produzido pelo autor.
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O município de Mucugê se localiza a uma altitude de cerca de 984 metros acima do nível do mar. Parte do município possui clima semi-úmido e a outra parte possui clima semi-árido, gerando temperaturas amenas durante todo ano. A temperatura média anual gira em torno de 19°C, variando-se geralmente a mínima e máxima em torno de 14°C e 23°C, respectivamente. A própria localização, encravada entre vales montanhosos, contribui para essas temperaturas mais baixas. Essa configuração de implantação da cidade também reflete na incidência solar. O seu céu é desenhado pelas montanhas a sua volta, que fazem um jogo de luz e sombra único na cidade. O próprio morro do cemitério de Santa Isabel que fica ao lado do terreno na direção oeste, ameniza o sol poente que, antes do final da tarde, já não mais incide sobre o local. A precipitação média anual gira em torno de 1.000 a 1.200 mm, sendo o período mais chuvoso aquele entre novembro e janeiro (PLANO MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO, 2015). No inverno a precipitação é bem reduzida e durante a primavera o frio dá lugar a um tempo seco com sol forte. Os ventos predominantes da cidade vêm da direção da região do Capa Bode (NE) e da região do Gobira (SE). Na parte montanhosa do município o relevo é bastante acidentado. Já na parte plana, onde está localizado o terreno, o solo é considerado arenoso - solo “leve” muito presente na região nordeste do país. A vegetação do terreno já foi modificada pelo homem e hoje se caracteriza por um gramado baixo e ralo, diferente da vegetação rupestre que ainda está preservada, do outro lado da rodovia.
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4.4 REFERENCIAL TEÓRICO
Imagem 68 - Cidade “encaixada” no
vale. Foto de acervo de Rui Resende.
entes maneiras pelas mais diversas disciplinas, e o estabelecimento
Paisagem, é um termo apropriado e abordado de difer-
de um único conceito tem se mostrado uma tarefa árdua e impossível de ser alcançada. Disciplinas tradicionais como a geografia, a arquitetura, e a arqueologia, com suas distintas correntes de pensamento internas, deram importantes contribuições para a noção de paisagem como conhecemos hoje.
Muitos historiadores da geografia atribuem ao explora-
dor Alexander von Humboldt, o início da tradição paisagística na geografia (RIBEIRO, 2007). Humboldt definiu, no início do século XIX, a paisagem como sendo a “imagem da natureza”.
Após esse momento, a paisagem passa a ser vista com
maior atenção pelos estudiosos e, entre o final do século XIX e início do século XX, é que a sua definição surge como um conceito formal da geografia moderna, com o trabalhos dos alemães Otto Schlüter e Siegfried Passarge. A partir dos conceitos de geografia cultural, Schlüter cria o termo paisagem cultural, que designa a paisagem transformada pelo homem.
Com a base conceitual criada pelos geógrafos alemães,
é o americano Carl Ortwin Sauer que desenvolve um dos trabalhos mais bem sucedidos da área no início do século XX, transformando a geografia cultural em um subcampo independente dentro da geografia. Sauer se apropria do conceito do amigo e antropólogo, Alfred Kroeber, de que “é através da cultura que as sociedades desenvolvem meios de adaptação aos diferentes ambientes, e não a natureza ou a genética que determinariam o tipo de sociedade que ocupa determinado espaço”, e rompe de vez com o determinismo ambiental (RIBEIRO, 2007).
Segundo os conceitos de Sauer, a paisagem não é estáti-
ca, mas sim mutável, tanto pelo desenvolvimento da cultura como pela substituição desta, se tornando assim a expressão do trabalho do homem sobre o espaço. Além disso, com a decadência de certa
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cultura, é possível que haja a imposição de uma nova cultura sobre o local e a paisagem cultural seja construída novamente de uma outra forma, seja passando por um rejuvenescimento ou sendo construída sobre os remanescentes da antiga.
Na segunda metade do século XX, houve uma ruptura com o movimento positivista desenvolvi-
do por Sauer, e deu-se início à uma nova corrente intitulada “geografia humanista”. Essa nova corrente acreditava que a paisagem representava mais do que simplesmente o visível, formando relacionamentos complexos entre o homem e o meio. Para eles as impressões deixadas pelo homem refletiam o pensamento de um povo sobre o mundo.
Contudo, na década de 1980, a geografia cultural passa por um processo de renovação, com
influências da geografia humanista, incorporando a simbologia da paisagem e valorizando um caráter subjetivo sobre o assunto. Os autores dessa nova corrente denominam os estudos de Sauer de “Geografia Cultural Tradicional” e o seu trabalho de “Nova Geografia Cultural” (RIBEIRO, 2007). Essa nova corrente questiona conceitos utilizados por Sauer, como o conceito de cultura, e valoriza uma abordagem mais subjetiva sobre a paisagem, defendendo possíveis diferentes interpretações por diferentes grupos. Para se entender a paisagem, é necessário que se amplie os conhecimentos históricos sobre o local, inclusive sobre a economia e a sociedade.
Foi através do trabalho destes e de outros estudiosos que a paisagem foi transformada em um
conceito científico, e que o conceito de paisagem cultural começou a ganhar força. Trabalhos e estudos sobre a preservação do patrimônio em todo o mundo passaram a utilizar este conceito como forte referência, desde os trabalhos iniciais que Sauer, até o movimento de renovação que trouxe a subjetividade que faltava no seu precursor.
Ambos os conceitos devem sempre serem levados em consideração, pois o valor do patrimônio,
além de estar relacionado com os valores simbólicos atribuídos a um bem, também está estritamente ligado à organização do espaço e às manifestações físicas da paisagem (RIBEIRO, 2007).
Teodoro Sampaio definiu Mucugê como “um pouso de garimpeiros à beira das lavras” (SALES,
1994). E é com essa mesma leveza descrita por ele que a cidade se encaixa em meio ao vale montanhoso da Chapada Diamantina. A cidade, teve seu núcleo inicial em formato de “L” para melhor se encaixar ao fundo quase plano do vale.
Desde o início da sua formação, houve uma preocupação com o desenvolvimento das cidades,
e ,até hoje, não é permitido que as edificações ultrapassem a altura de dois pavimentos ou 7,5 metros. Esse caráter horizontal das edificações, aliado ao plano de fundo montanhoso da região, resulta em cenários belíssimos e únicos, formando diferentes imagens em diferentes pontos da cidade.
Essa preocupação com os aspectos da visibilidade, começou a tomar uma proporção maior
na Carta de Atenas, em 1931. Este documento conferiu grande importância à ambientação dos bens culturais, afirmando que “em certos conjuntos, algumas perspectivas pitorescas devem ser preservadas. Deve-se também estudar as plantações e ornamentações vegetais convenientes a determinados conjuntos de monumentos para lhes conservar o caráter antigo.” Posteriormente, em 1986, a Carta de Washington ressalta a importância da preservação das relações da cidade com seu entorno, seja ele natural ou criado pelo homem.
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No Brasil, o projeto de criação do SPHAN, em 1936, não deixou de lado qualquer preocupação
com o meio natural e seu valor, ficando por conta do Decreto-lei 25, de 1937, incluir a possibilidade de se considerar a natureza como um bem patrimonial.
O primeiro conjunto urbano a também ser caracterizado como paisagístico foi o Conjunto Ar-
quitetônico e Paisagístico de Pilar de Goiás (RIBEIRO, 2007), em 1954, 26 anos antes do tombamento do Conjunto Arquitetônico e Paisagístico de Mucugê. Foi justamente no fim dos anos 70, que deu-se início aos “estudos de entorno”, responsáveis por analisar a “ambiência” histórica e sociocultural dos bens tombados e que instituiu a noção de visibilidade do bem tomado.
Em 1992, a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), deu
ainda mais força ao discurso e adotou a categoria de paisagem cultural, porém dessa vez adotando a própria paisagem como um bem. Dessa forma, a UNESCO passa a valorizar todas as relações e entende a paisagem como uma ilustração da sociedade humana e suas interferências ao longo do tempo (RIBEIRO, 2007).
Através da Portaria N° 127, de 30 de Abril de 2009, o IPHAN estabeleceu a chancela da paisagem
cultural brasileira, a definindo, em seu Art. 1°, como “uma porção peculiar do território nacional, representativa do processo de interação do homem com o meio natural, à qual a vida e a ciência humana imprimiram marcas ou atribuíram valores”.
A paisagem cultural de Mucugê é resultado de manifestações sociais, econômicas, administra-
tivas, religiosas e, tem sua forma atual como uma resultante das associações feitas com o meio natural inserido e em resposta à ele. Por ter um papel ativo na sociedade contemporânea, com processos evolutivos em andamento e evidências da sua evolução através do tempo, a paisagem cultural de Mucugê está em constante movimento e necessita de todos os cuidados para evitar a sua descaracterização. A paisagem cultural não deve ser percebida como o entorno ou ambiência, mas como o bem em si.
Cesare Brandi, em sua “Teoria da Restauração”, faz algumas reflexões acerca das práticas de
restauro, e condiciona o ato de restauração à compreensão e experimentação da obra de arte como tal, prevalecendo sempre o estético sobre o histórico. Brandi faz severas críticas às restaurações baseadas em suposições sobre o estado original da obra, o que ele chama de “falso histórico”. Para Brandi, o restauro deve sempre “visar ao restabelecimento da unidade potencial da obra de arte, desde que isso seja possível sem cometer um falso artístico ou um falso histórico”.
Com relação à inserção de edifícios em um contexto preexistente, Álvaro Siza, em entrevista ao
colunista Vladimir Belogolovsky, é categórico ao afirmar que “tradição não significa fechamento, imobilidade. Muito pelo contrário, o valor das tradições é estar aberto a inovações. A tradição não é o oposto da inovação, ela é complementar. A tradição vem de intercâmbios sucessivos”.
O projeto do Centro Cultural deve, acima de tudo, conferir máximo respeito ao existente, seja ele
a paisagem natural, o conjunto arquitetônico edificado, ou, o resultado dessa união - a paisagem cultural de Mucugê. O que se pretende neste projeto é realizar uma intervenção contemporânea, própria da época à qual está sendo edificada, enaltecendo, contudo, as tradições locais, principalmente através da materialidade do edifício.
“A cultura é o agente, a área natural é o meio e a paisagem cultural é o resultado.” SAUER, Carl Ortwin. O CENTRO CULTURAL DE MUCUGÊ
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4.5 CONCEITO
O centro é o local para o qual as pessoas convergem, seja este o centro de uma cidade ou de um espaço qualquer. A idéia da centralidade esteve presente desde as concepções projetuais iniciais. A relação da área de convivência central com os dois blocos edificados é semelhante à relação de Mucugê com o relevo montanhoso - ambas se desenvolvem “encravadas” no centro desses grandes volumes de pedra, como que sendo “abraçadas” por estes. Assim como Mucugê ocupa e desempenha um papel importante no centro dessa região de vale, o centro do edifício surge como o elemento estruturante do projeto e ocupa um local de destaque, onde ocorrem atividades espontâneas e/ou pré estabelecidas e para onde convergem todos os usuários. Tomou-se muito cuidado para que não se criasse uma competição entre o novo edifício e o cemitério, e para que a arquitetura que está surgindo, apesar de contemporânea, respeite ao máximo o conjunto arquitetônico e paisagístico em que está inserida. Desta forma, percebe-se através das diretrizes projetuais, que a nova edificação se desenvolve reverenciando o cemitério e a paisagem formada por este, resignificando as vistas principalmente através de sua cobertura. Um dos objetivos do projeto foi conceber o edifício de modo que este faça parte da paisagem, e que a paisagem faça parte do edifício, com leveza semelhante à que Mucugê se insere no vale, buscando, através da arquitetura, a valorização da paisagem e do ambiente como reflexo do potencial cultural local. A edificação busca reinterpretar o existente, valorizando-o, acrescentando-o e não apagando o seu valor histórico.
Ilustração 13 - Croqui de concepção conceitual. Produzido pelo autor. Imagem 69 (páginas 134 e 135) - Fachada frontal do edifício se “abrindo” para o cemitério. Produzido pelo autor.
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O edifício do Centro Cultural também busca no diamante suas idéias e conceitos projetuais. A dureza da estrutura cristalina do diamante, se deve ao fato de que cada átomo de carbono está ligado de maneira covalente a quatro outros. A ligação covalente, nada mais é que um tipo de ligação química onde os átomos compartilham os elétrons entre si, de forma que ambos se tornem estáveis, e não há transferência de elétrons. Dessa maneira se desenvolve a organização funcional do Centro Cultural, cujo programa é composto por quatro eixos principais (arquivo/biblioteca/museu, auditório, café e salas de conferência), que estão conectados por uma grande área de convivência, mas são independentes entre si. Outra referência refletida no desenho da edificação diz respeito à lapidação deste metal. A lapidação serve para destacar as propriedades e qualidades de cada gema. O brilhante, por exemplo, é um tipo de lapidação com as proporções adequadas para ressaltar o brilho e o espectro, composta de 57 facetas. É neste desenho facetado, que o edifício busca as suas linhas de referência, refletidos tanto na composição formal como no desenvolvimento das fachadas. Além disso, o índice de refração, que mede a variação de propagação da luz quando esta muda de meio, e está relacionado diretamente com a transparência, é a propriedade que mais influencia no valor estético do diamante. Desta forma, as grandes aberturas nas fachadas e na estrutura buscam dar a transparência necessária ao edifício, evitando que este se torne uma barreira para as belas vistas compostas pelo cemitério e pela cadeia montanhosa.
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Concepção em dois volumes, sendo um
Adequação do volume á topografia
Prolongamento da cobertura
Expansão angular para enlarguecimento do centro
dos pavimentos semi enterrado
Rampas conectando a cobertura ao
Instalação de cobertura verde e valori-
terreno
zação da árvore existente
N
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4.6 PARTIDO
Ilustração 14 - Diagramas de implan-
tação e processo projetual. Produzido
do em dois níveis. Um nível, semi enterrado, está 1 metro abaixo do
pelo autor.
O Centro Cultural tira partido da topografia e é implanta-
nível da rua da ponte. A partir do auditório, o edifício acompanha a
Ilustração 15 - Perspectiva isométrica
inclinação do terreno, e chega ao nível superior, cujo acesso se dá
com estudo de insolejamento e venti-
pelo nível da BA-142. Uma cobertura vegetal se estende por toda a
lação. Produzido pelo autor.
edificação, com um acesso por cada rua, deixando toda a super-
Imagem 70 (páginas 138 e 139) - Co-
fície de sua cobertura transitável, re-significando as vistas para o
bertura verde e relação de níveis do
cemitério e para o vale, e a própria circulação da edificação.
edifício. Produzido pelo autor.
Devido ao clima semi-árido, com oscilações térmicas
diárias, com sol forte e tempo seco durante a primavera e o verão, decidiu-se, da mesma maneira que na arquitetura ancestral dos povos pré hispânicos, semi enterrar a edificação para assim poder aproveitar as qualidades naturais do terreno, a partir da inércia térmica, onde o calor acumulado durante o dia se libera no período noturno, gerando uma estabilidade térmica, tanto de dia como de noite, aproveitando a temperatura constante da terra. Por conta disso, as principais alvenarias das edificações são feitas com xisto, pedra característica da região, e de bom potencial térmico. Aliado a isso, a edificação possui grandes aberturas para as direções nordeste e sudeste, de onde chegam os ventos predominantes, potencializando a ventilação cruzada e auxiliando no controle do calor durante o dia.
O projeto ainda reinterpreta códigos culturais locais
como a pedra, principal material das primeiras edificações dos garimpeiros, através das suas espessas alvenarias autoportantes de pedra, ao mesmo tempo em que insere conceitos contemporâneos, como a utilização da sua cobertura como área comum.
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Auditório
Oficinas
Sanitários
Museu, Arquivo e Biblioteca
Setor Técnico/Administrativo
Circulação
Salas Multiuso
Café
Cobertura Verde
4.7 PROGRAMA
Ilustração 16 - Programa da edifi-
cação em perspectiva explodida.
principal de suprir as atuais demandas existentes na cidade. O ed-
Produzido pelo autor.
O novo Centro Cultural de Mucugê surge com o objetivo
ifício servirá como a nova sede do Museu e Arquivo Público Munici-
Ilustração 17 - Croqui organização
pal, e da Biblioteca Municipal que, como visto anteriormente, funcio-
funcional. Produzido pelo autor.
nam sem a estrutura adequada e necessária. Contará também com um auditório com capacidade para 325 pessoas e três salas mul-
Museu/Arquivo/Biblioteca Salas Multiuso (3) Foyer Auditório Apoio de Áudio e Vídeo Depósito Café Oficinas (4) Administração Sala de Reunião Copa Depósito Almoxarifado Sala de Medidores Sanitários Sanitários PCD
O CENTRO CULTURAL DE MUCUGÊ
600 m² 95 m² 220 m² 550 m² 15 m² 12 m² 240 m² 130 m² 42 m² 22 m² 20 m² 35 m² 15 m² 15 m² 25 m² 7 m²
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tiuso flexíveis, que serão responsáveis por receber as conferências, debates e demais usos demandados pelos eventos que ocorrem em Mucugê. Buscando servir como uma extensão das escolas da cidade, que se localizam próximas ao novo edifício, inserindo desde cedo a cultura na vida das crianças, e edificação contará com espaços para oficinas de música, dança, artes plásticas e de estudos da natureza. Além disso, o edifício conta com um amplo café, visando estimular a permanência no prédio e em suas áreas de convivência, tanto por parte dos turistas como dos moradores locais. A cobertura verde, totalmente transitável, surge como um ambiente inovador no edifício, a única deste tipo na cidade. Também fazem parte do programa áreas administrativas como curadoria, gerência geral, sala de reunião, almoxarifados e depósitos.
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Ilustração 18 - Perspectiva isométrica com simulação do festival de forró. Produzido pelo autor.
Ilustração 19 - Perspectiva isométrica com simulação da feira gastronômica. Produzido pelo autor.
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4.8 O CENTRO CULTURAL
A edificação gira em torno de uma grande área de convivência, localizada no eixo central da
edificação, com uma estrutura de palco fixa e duas arquibancadas em madeira. Este espaço, apesar de contar com uma estrutura fixa, é bastante versátil quanto à sua utilização. Esta área foi projetada tanto para atender à demanda de eventos pré definidos, como as feiras literária e gastronômica e o festival de forró, como para ser utilizada de forma espontânea, seja funcionando como uma sala de aula a céu aberto para os jovens, ou como um espaço de descanso e contemplação para as pessoas que vão à Mucugê usufruir do seu turismo cultural e ecológico. Além disso, busca atrair e aumentar o tempo de permanência do visitante, e pode ser acessada pelos dois níveis através de duas arquibancadas-rampas, o que confere grande fluidez ao edifício, potencializa as relações entre interior e exterior e proporciona curtas circulações. O visitante que chega pelo acesso sul, tanto pela BA-142 como pela rua da ponte, tem a opção de subir para a cobertura, podendo sair do outro lado do prédio, ou descer para a área de convivência, tendo como primeiro contato o café.
Ilustração 20 - Perspectiva isométrica com simulação da feira literária. Produzido pelo autor.
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No bloco leste, local-
izado no nível inferior, estão localizados o café, o auditório e sanitários. O bloco se desenvolveu tirando partido da árvore existente no local, apropriando-se da mesma através de um rasgo na cobertura e criando uma área permeável entre o café e o auditório. Este espaço, de uso espontâneo, se desenvolve como uma nova possibilidade ao programa e, por conta da grande porta camarão que se abre completamente e faz a comunicação entre o auditório e o meio externo, este espaço surge como uma confortável e natural opção para assistir às apresentações e palestras.
Já no nível inferior do
bloco oeste, que está semi enterrrado, estão localizadas as oficinas de dança, música, artes plásticas e laboratório de estudos da natureza. Completam o pavimento inferior as áreas técnicas e administrativas. A sala da administração, a sala de reunião, copa e os ambientes técnicos estão localizados ao redor de uma área de convivência interna.
Imagem 71 - Apropriação de árvore existente. Produzido pelo autor.
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Ilustração 21 - Planta do pavimento superior. Produzido pelo autor.
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8
4
3 1
2
2
2
9
0
1 2 3
Museu/Arquivo/Biblioteca Salas Multiuso Sanitários
4 5 6
Foyer Foyer Auditório Apoio Áudio e Vídeo
7 8 9
Ilustração 22 - Planta do pavimento inferior. Produzido pelo autor.
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N 2
3 1
4
11
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12 9 13 14 14
1 2 3 4 5 6
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Café Auditório Sanitários Área Externa Lab. de Estudos da Natureza Oficina de Artes Plásticas
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8
7
6
5
0
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7 8 9 10 11 12
Oficina de Dança Oficina de Música Área de Convivência ADM Sala de Reunião Administração Almoxarifado
13 14 15 16 17
5
Depósito Área de Convivência Externa Hall de Entrada
5
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Medidores Sanitários Depósito Copa Estacionamento
10 15 20
Ilustração 23 - Corte AA. Produzido pelo autor.
0
5
10
0
5
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0
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0
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Ilustração 24 - Corte BB. Produzido pelo autor.
Ilustração 25 - Corte CC. Produzido pelo autor.
Ilustração 26 - Corte DD. Produzido pelo autor.
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No pavimento superior do bloco oeste, de frente para o ce-
mitério bizantino, estão localizadas 3 salas multiuso, que podem ser organizadas de diferentes maneiras de acordo com o evento, além
Imagem 72 (páginas 148 e 149) - Roda de leitura da Fligê no área externa do Centro Cultural.
de sanitários e um amplo espaço que servirá como a nova sede do
Imagem 73 - Utilização da arquiban-
Museu, Arquivo e Biblioteca Municipal.
cada-rampa pelos usuários.
Mucugê esteve por muito tempo sob o comando de coro-
néis. O poder político e social, e consequentemente o acesso à informação e conhecimento, era mantido por uma pequena minoria proprietária de terras. A união destes 3 programas em um único espaço visa valorizar a história da cidade, difundir a cultura da região e democratizar o acesso a informação.
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A edificação foi totalmente erguida sobre alvenarias de pe-
dra autoportantes. As lajes são feitas com placas de concreto protendido pré-moldadas in loco, apoiadas e engastadas na alvenaria de pedra. Desta maneira, o edifício do Centro Cultural de Mucugê propõe um diálogo entre o passado e o presente, buscando e evidenciando essa conexão entre o velho e o novo, reverenciando o antigo com o uso da pedra ao mesmo tempo em que suavemente destaca o contemporâneo com o uso do concreto.
As plantas e desenhos técnicos deste projeto seguem em
anexo.
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BIBLIOGRAFIA ILUSTRAÇÕES E FOTOS O CENTRO CULTURAL DE MUCUGÊ
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BIBLIOGRAFIA
BANDEIRA, Renato Luís Sapucaia. Chapada Diamantina, história, riquezas e encantos. Salvador: Onavlis Editora, 1997. 244 p. REZENDE, Rui. Chapada Diamantina: um paraíso desconhecido. Salvador: P55 Edições, 2012. 252 p. SALES, Fernando. Memória de Mucugê. 1994. 216 p. MEDRADO, Helena. Mucugê e sua história. Salvador: Littera, 1998. 109 p. RIBEIRO, Rafael Winter. Paisagem cultural e patrimônio. Rio de Janeiro: IPHAN/COPEDOC, 2007. 152p. BRAICK, Patrícia Ramos; MOTA, Myriam Becho. História: das cavernas ao terceiro milênio. São Paulo: Moderna, 2007. 752p. TERRA, Lygia; ARAUJO, Regina; GUIMARÃES, Raul Borges. Conexões: estudos de geografia geral e do Brasil. São Paulo: Moderna, 2008. 616p. BAHIA. Secretaria da indústria e comércio. IPAC-BA. inventário de proteção do acervo cultural; monumentos e sítios da Serra Geral e Chapada Diamantina. Salvador, 1980. PREFEITURA MUNICIPAL DE MUCUGÊ. Plano Municipal de Educação de Mucugê. 2015. Disponível em: <http://www.mucuge.ba.io.org.br/diarioOficial/download/527/120/0>. Acesso em: 11 de agosto de 2017. ICMBio. Plano de Manejo do Parque Nacional da Chapada Diamantina. Disponível em: <https://documentacao.socioambiental.org/ato_normativo/UC/1600_20140818_184314.pdf>. Acesso em: 11 de agosto de 2017. OTO Arquitectos. Parque Natural do Fogo. Disponível em: <http://oto.pt/work/#/pnf/>. Acesso em: 24 de agosto de 2017. BIG. Tirpitz. Disponível em: <http://www.big.dk/projects#projects-mcb>. Acesso em: 25 de agosto de 2017.
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ILUSTRAÇÕES E FOTOS
Imagem 01 - Foto de capa: Mucugê vista do loteamento Alpina. Foto de acervo do autor. 2017 Imagem 2 - Cemitério de Santa Isabel. Foto de acervo do autor. 2017 Imagem 03 - Mapa das capitanias hereditárias feito por Luís Teixeira. Fonte: https://www.scielo.br. Imagem 04 - Diamante bruto. Fonte: https://www.geologyforinvestors.com Imagem 05 - Mapa da cadeia do Espinhaço. Fonte: https://www.researchgate.net. Editado pelo autor. Imagem 06 (páginas 22 e 23) - Chapada Diamantina. Foto de acervo do autor. 2017 Imagem 07 - Mapa da região diamantina. Fonte: Chapada diamantina, história, riquezas e encantos. 1997. Editado pelo autor. Imagem 08 (páginas 26 e 27) - Rio Mucugê, afluente do rio Cumbuca, onde foram encontrados os primeiros diamantes da região. Foto de acervo do autor. 2017 Imagem 09 - Casa de garimpeiros sob a abóbada das pedras em Mucugê. Foto de acervo do IPHAN. Sem data. Editado pelo autor. Imagem 10 - Casa de garimpeiros em Mucugê. Foto de acervo do IPHAN. Sem data. Editado pelo autor. Imagem 11 - Praça Coronel Propercio. Foto de acervo de Sayonara Trindade. Sem data. Editado pelo autor. Imagem 12 - Cemitério ”Bizantino”, concluído em 1886. Foto de acervo do IPHAN. Editado pelo autor. 1978 Imagem 13 - Título de eleitor de garimpeiro do acervo do Arquivo Público Municipal de Mucugê. Foto de acervo do autor. 2017 Imagem 14 - Livro de registro da compra e venda de escravos do acervo do Arquivo Público Municipal de Mucugê. Foto de acervo do autor. 2017 Imagem 15 - Exemplares de Sempre-Viva expostas no Projeto Sempre Viva. Foto de acervo do autor. 2017 Imagem 16 - Proposta de delimitação do Centro Histórico de Mucugê. Mapa de acervo do IPAC. Editado pelo autor. 1980 Imagem 17 - Edificações com a paisagem montanhosa ao fundo. Foto de acervo do IPHAN. Editado pelo autor. 1978 Imagem 18 - Casas com a paisagem montanhosa ao fundo. Foto de acervo do IPHAN. Editado pelo autor. 1978 Imagem 19 - Praça Coronel Propercio. Foto de acervo do IPHAN. Editado pelo autor. 1978 Imagem 20 - Sobrado do Comendador Francisco José Landulfo da Rocha Medrado, onde hoje funciona a Prefeitura Municipal. Foto de acervo do IPHAN. Editado pelo autor. 1978. Imagem 21 - Impacto dos novos loteamentos na paisagem. Foto de acervo de Rui Resende. Imagem 22 - Impacto da massa edificada na paisagem de Mucugê. Foto de acervo de Sayonara Trin-
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dade. Imagem 23 - Comparação da evolução da ocupação no eixo do Centro Histórico e arredores. Foto de acervo do IPHAN. Imagem 24 - Comparação da evolução da ocupação. Fonte: blog Salmar-tur. Foto de acervo de Euvaldo Ribeiro. Imagem 25 - Parque Nacional da Chapada Diamantina. Foto de acervo do autor. 2017 Imagem 26 - Parque Municipal de Mucugê. Foto de acervo do autor. 2017 Imagem 27 - Mucugê vista do loteamento Alpina. Foto de acervo do autor. 2017 Imagem 28 - Região tomada pelo agronegócio. Foto de satélite de acervo do Google. 2017 Imagem 29 - Coreto. Foto de acervo do autor. 2017 Imagem 30 - Coreto enfeitado no São João. Foto de acervo de Sayonara Trindade. Imagem 31 - Casa no Centro Histórico de Mucugê. Foto de acervo do autor. 2017 Imagem 32 - Estrutura montada para a Feira Literária de Mucugê - Fligê. Foto de acervo da Fligê. 2017 Imagem 33 - Cidade enfeitada para o São João. Foto de acervo de Sayonara Pinto. Imagem 34 - Ação durante a Fligê. Foto de acervo da Fligê. 2017 Imagem 35 - Fanfarra Fanmarli durante desfile de 7 de Setembro. Foto de acero da ASCOM Mucugê. 2017 Imagem 36 - Centro de Cultura e Lazer. Fonte: Mucugê e Sua História. Imagem 37- Edificação rosa onde hoje funciona a Biblioteca Municipal. Foto de acervo do autor. 2017 Imagem 38 - Museu e Arquivo Público de Mucugê. Fonte: blog depois da curva. Imagem 39 - Parque Natural do Fogo. Foto de acervo pessoal de Fernando Guerra. Imagem 40 (páginas 72 e 73) - Parque Natural do Fogo. Foto de acervo pessoal de Fernando Guerra. Imagem 41 - Parque Natural do Fogo. Foto de acervo pessoal de Fernando Guerra. Imagem 42 - Parque Natural do Fogo. Foto de acervo pessoal de Fernando Guerra. Imagem 43 - Parque Natural do Fogo. Foto de acervo pessoal de Fernando Guerra. Imagem 44 (páginas 76 e 77)- Parque Natural do Fogo. Foto de acervo pessoal de Fernando Guerra. Imagem 45 - Tirpitz. Fonte: big.dk. Imagem 46 - Tirpitz. Fonte: big.dk. Imagem 47 - Tirpitz. Fonte: big.dk. Imagem 48 - Organização espacial do Tirpitz. Fonte: big.dk. Imagem 49 (páginas 82 e 83) - Tirpitz. Fonte: big.dk. Imagem 50 (páginas 84 e 85) - Tirpitz. Fonte: big.dk. Imagem 51 - Yaluntzangpu River Terminal. Fonte: http://www.standardarchitecture.cn. Imagem 52 - Yaluntzangpu River Terminal. Fonte: http://www.standardarchitecture.cn. Imagem 53 (páginas 88 e 89) - Yaluntzangpu River Terminal. Fonte: http://www.standardarchitecture.cn. Imagem 54 (páginas 90 e 91) - Yaluntzangpu River Terminal. Fonte: http://www.standardarchitecture.cn. Imagem 55 - Terreno entre a rua da Ponte e a BA-142. Foto de acervo do autor. 2017 Imagem 56 - Vista da rodovia. Foto do Google Stree View. Imagem 57 - Vista do terreno. Foto de acervo do autor. 2017 Imagem 58 - Vista do terreno. Foto de acervo do autor. 2017 Imagem 59 - Vista da Rua da Ponte. Foto do Google Street View. Imagem 60 - Vista do terreno. Foto de acervo do autor. 2017
Imagem 61 - Vista da rodovia. Foto do Google Street View. Imagem 62 - Mausoléus ”bizantinos” do cemitério de Santa Isabel. Foto de acervo do autor. 2017 Imagem 63 - Prefeitura Municipal. Fonte: blog Salmar-tur. Foto de acervo pessoal de Salvador Martins. Imagem 64 - Igreja Matriz de Santa Isabel Foto de acervo do autor. 2017 Imagem 65 - Igreja de Santo Antônio. Foto de acervo do IPHAN. 1978 Imagem 66 - Sobrado da praça Coronel Propercio. Fonte: Chapada diamantina, história, riquezas e encantos. 1997 Imagem 67 - Atual bar do Zeca. Fonte: blog Salmar-tur. Foto de acervo de Salvador Martins. Imagem 68 - Cidade “encaixada” no vale. Foto de acervo de Rui Resende. Imagem 69 (páginas 134 e 135) - Fachada frontal do edifício se “abrindo” para o cemitério. Produzido pelo autor. Imagem 70 (páginas 138 e 139) - Cobertura verde e relação de níveis do edifício. Produzido pelo autor. Imagem 71 - Apropriação de árvore existente. Produzido pelo autor. Imagem 72 (páginas 148 e 149) - Roda de leitura da Fligê no área externa do Centro Cultural. Imagem 73 - Utilização da arquibancada-rampa pelos usuários. Ilustração 01 - Mapa de implantação. Produzido pelo autor. Ilustração 02 - Mapa de uso do solo. Produzido pelo autor. Ilustração 03 - Mapa de altura das edificações. Produzido pelo autor. Ilustração 04 - Mapa de equipamentos urbanos. Produzido pelo autor. Ilustração 05 - Mapa de espaços públicos e de lazer. Produzido pelo autor. Ilustração 06 - Mapa de sistema viário. Produzido pelo autor. Ilustração 07 - Mapa de tempo de caminhada. Produzido pelo autor. Ilustração 08 - Mapa de massas vegetais. Produzido pelo autor. Ilustração 09 - Mapa de topografia. Produzido pelo autor. Ilustração 10 - Mapa de pontos visuais. Produzido pelo autor. Ilustração 11 - Mapa de eventos e edifícios relevantes. Produzido pelo autor. Ilustração 12 - Diagrama de estudo de condicionantes ambientais. Produzido pelo autor. Ilustração 13 - Croqui de concepção conceitual. Produzido pelo autor. Ilustração 14 - Diagramas de implantação e processo projetual. Produzido pelo autor. Ilustração 15 - Perspectiva isométrica com estudo de insolejamento e ventilação. Produzido pelo autor. Ilustração 16 - Programa da edificação em perspectiva explodida. Produzido pelo autor. Ilustração 17 - Croqui organização funcional. Produzido pelo autor. Ilustração 18 - Perspectiva isométrica com simulação do festival de forró. Produzido pelo autor. Ilustração 19 - Perspectiva isométrica com simulação da feira gastronômica. Produzido pelo autor. Ilustração 20 - Perspectiva isométrica com simulação da feira literária. Produzido pelo autor. Ilustração 21 - Planta do pavimento superior. Produzido pelo autor. Ilustração 22 - Planta do pavimento inferior. Produzido pelo autor. Ilustração 23 - Corte AA. Produzido pelo autor. Ilustração 24 - Corte BB. Produzido pelo autor. Ilustração 25 - Corte CC. Produzido pelo autor. Ilustração 26 - Corte DD. Produzido pelo autor.